Imagens do funeral de Dom Rogelio Livieres, bispo deposto de Ciudad del Este.
Não só pai, o bispo é também filho. Na imagem, a idosa mãe vela aquele fruto de seu ventre que viu subir ao altar de Deus e chegar até o episcopado católico. Comovente são as flores com o pequeno bilhete depositado, no qual se lê: “Tu mamá” (Tua mamãe).
Por ocasião da brutal deposição, enquanto Dom Rogelio ainda estava em Roma, sua mãe foi retirada às pressas por seus familiares da residência episcopal de Ciudad del Este, onde vivia com o filho, sem ser avisada do que acabara de ocorrer, por conta de sua idade e saúde. Mais tarde, chegaria o Núncio Apostólico no Paraguai, com aparato policial, para tomar posse do bispado.
Dom Rogelio sempre dizia: “Cada ato deve ser precedido por uma invocação, uma jaculatória”. Expirou ao terminar a terceira Ave Maria do segundo mistério doloroso do Santo Rosário — contemplando a Sangrenta Flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antes, recebeu a absolvição com indulgência plenária.
Clérigo da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz , do Opus Dei, Dom Rogelio logrou uma notável renovação da Igreja local a ele confiada por São João Paulo II ao longo dos 10 anos em que permaneceu à sua frente. Conforme atestam os dados publicados em seu site oficial, houve:
Aumento de 14 para 83 sacerdotes diocesanos;
Aumento de 1 para 7 capelães hospitalares;
Aumento de 34 para 51 paróquias;
Aumento de 40% para 90% das paróquias com missas diárias;
Aumento de 4.679 para 14.665 crismas anuais;
Aumento de 1257 para 6277 matrimônios anuais.
Aumento de 0 para 5.814 membros de adoração perpétua;
Aumento de 203 para 1400 presidiários atendidos espiritualmente;
Como ratzingeriano convicto, Dom Rogelio promoveu o avanço da liturgia tradicional em sua diocese, sempre respeitando os limites da hermenêutica da reforma na continuidade em prol de uma Nova Evangelização, conforme preconizaram os últimos papas. Entre suas generosas ações nesse sentido, consta seu acolhimento ao então seminarista Edivaldo Oliveira, filho de consideração do Professor Orlando Fedeli e da atualmente viúva Sra. Ivone Fedeli, fundadores da Associação Cultural Montfort e do Colégio São Mauro.
Dom Rogelio foi a via de ordenação do Pe. Edivaldo, quando não lhe restavam mais esperanças. Uma história digna de ser relatada e que serve de exemplo a muitos, desesperançosos de chegar um dia ao sacerdócio em meio à crise pela qual passa a Igreja.
A trajetória até a ordenação
Edivaldo Oliveira nasceu em 1974 em São Paulo. Menino pobre do Parque Bristol, fez curso técnico em eletrônica na ETEC Getúlio Vargas, ocasião em que passou a frequentar a casa do Professor Fedeli no Cambuci, depois de ter sido convidado por alguns de seus colegas de curso.
Inicialmente relutante, após algumas aulas, o então jovem Edivaldo se rendeu aos argumentos do Professor Fedeli e tomou da decisão de se tornar um católico tradicionalista de linha TFPista, isto é, contrário ao Concílio Vaticano II e à reforma litúrgica pós-conciliar.
Humilde, após alguns anos trabalhando como reparador de fotocopiadoras, sentiu despertar dentro de si um grande desejo de fazer algo mais para Deus e se apresentou à Sra. Ivone Fedeli para trabalhar no então incipiente Colégio São Mauro.
Inicialmente se dedicou a serviços administrativos, mas em pouco tempo recebeu os cargos de professor de música e de catecismo, posto que assumiu por cerca de dez anos, quando, em 2009, foi tomado pelo desejo devorador da vocação sacerdotal.
O regente Edivaldo Oliveira e o Flammula Chorus, 2009
Naquele momento, esse desejo de se tornar um sacerdote do Altíssimo tinha uma única via de realização na Montfort. Essa via era o Instituto do Bom Pastor, considerado como o único instituto no mundo a combinar a regularização canônica com o direito de rejeitar o Vaticano II e o Novus Ordo.
Diferentemente de seus alunos, o então seminarista Edivaldo não foi enviado para Courtalain, mas para a escola Angelus, do IBP, onde, deixando os estudos de lado, passou um ano realizando árduos trabalhos manuais relacionados à reforma da escola.
Após esse um ano, o então seminarista Edivaldo foi dispensado do Bom Pastor por seu superior geral, o Pe. Philippe Laguérie. Atribui-se tal dispensa ao então reitor do seminário, responsável pelo fechamento da casa do IBP no Brasil em 2008. Sem apresentar qualquer problema disciplinar, o motivo residia na desconfiança do IBP em relação a ele, tido como próximo demais do Professor Fedeli e participante ativo na crise que abalaria as relações entre os dois grupos por algum (pouco) tempo.
Retornando ao Brasil, o seminarista Edivaldo teve de lidar com a dupla dor da dispensa e do falecimento de seu pai de consideração, o Professor Fedeli.
Resiliente, começou a travar contato com o Pe. Almir de Andrade, da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (hoje, na Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, de Campos, RJ). Esse fato causou desconforto em parte da Montfort, pois a Fraternidade São Pedro sempre tinha sido considerada pelo grupo como proscrita por não ter apoiado as sagrações episcopais de Dom Lefebvre, em 1988, e por sua não oposição ao novus ordo — fato que não impediu Pe. Almir de, à época, dar conferências em congressos da associação e celebrar Missa diversas vezes no Colégio São Mauro.
Por fim, com a ajuda do Pe. Almir e o apoio decidido da viúva Ivone Fedeli, Pe. Edivaldo partiu para o seminário de Wigratzbad, na Alemanha, onde, após o primeiro ano de espiritualidade, foi convidado a se retirar.
Dessa forma, em 2011, o seminarista Edivaldo estava de volta ao Colégio São Mauro, onde, sem deixar a batina, passou mais de um ano em amargura procurando alguma via de realizar seu chamado sacerdotal.
Quando parecia não haver mais esperanças, surgiu Dom Rogelio Livieres, indicado pelo carmelita Frei Tiago ao então seminarista Edivaldo. E esse bondoso e generoso bispo o acolheu em seu seminário em meados de 2012, depois das devidas conversações, em que Edivaldo solicitou exclusividade para apenas celebrar a Missa Tridentina depois de ordenado.
Visto que, até então, sua formação oficial como seminarista tinha se resumido a um ano de trabalhos manuais e um ano de espiritualidade, Edivaldo foi submetido a um semestre de estudos no seminário de Ciudad del Este, antes de ser ordenado diácono, em 8 dezembro de 2012.
Sua ordenação diaconal foi realizada segundo a forma extraordinária, o que não ocorria há quatro décadas na diocese de Ciudad del Este.
Na sequência, passados mais oito meses e com um pouco mais de estudos no seminário diocesano, o diácono Edivaldo Oliveira foi ordenado sacerdote, em 17 de agosto de 2013.
A cerimônia de ordenação também ocorreu segundo a forma extraordinária, mas teve a peculiaridade de ser realizada em uma Missa Tridentina versus populum, não se sabe por qual razão, no que ela se assemelhou à forma ordinária.
Apesar disso, esse foi um dia de grande alegria para os tradicionalistas brasileiros companheiros do Pe. Edivaldo, especialmente para a viúva Ivone Fedeli, que finalmente pôde ver seu filho ordenado depois de tantos sofrimentos.
Pe. Edivaldo é cumprimentado por sua mãe adotiva, Ivone Fedeli
Os então diáconos Renato Coelho e Luiz Fernando Pasquotto, assim como demais seminaristas brasileiros do IBP, auxiliaram na celebração da cerimônia.
Dois anos de apostolado do Pe. Edivaldo e sua volta ao Brasil
Uma vez ordenado, Pe. Edivaldo dividiu seu apostolado em duas frentes: uma em Ciudad del Este e outra no Brasil.
No Paraguai, graças à generosidade de amigos brasileiros, Pe. Edivaldo abriu o Centro de Estudos São Mauro, onde morava, dava cursos e celebrava a liturgia tradicional. Embora fosse padre diocesano, Dom Rogelio julgou prudente não instalar Pe. Edivaldo em uma paróquia, pois ele se recusava a participar das celebrações segundo a forma ordinária e não gozava de uma integração mais harmoniosa com o clero local devido a sua sensibilidade litúrgica — o que não foi motivo para o bispo tratá-lo mal, como fazem os ordinários atuais.
Ao mesmo tempo em que atuava no Centro São Mauro, Pe. Edivaldo procurou obter autorização para criar sua Fraternidade São Mauro, que pretendia ser um arcabouço canônico para preservação dos valores do Professor Orlando Fedeli e para o acolhimento de vocações masculinas e femininas voltadas exclusivamente para a liturgia tradicional, o que chegou a obter parcialmente, já que Dom Rogelio não preferia tal exclusividade.
É, entretanto, inegável o perseverante trabalho de integração realizado por Dom Rogelio Livieres, a fim de acomodar essa vocação sincera e verdadeira ao que a Santa Sé espera de um padre em nossos tempos, no contexto da Nova Evangelização desejada pelos Papas pós-conciliares.
Pe. Edivaldo com hábito branco da Fraternidade São Mauro e fiéis paraguaios
No Brasil, por sua vez, onde passava cerca de duas semanas por mês, Pe. Edivaldo desenvolveu viagens apostólicas para São Paulo e para o nordeste, notadamente em Fortaleza. Em São Paulo, atuava juntamente ao Colégio São Mauro, sua primeira casa. Em Fortaleza, Pe. Edivaldo se dedicou a celebrar a sagrada liturgia nas principais igrejas da cidade.
Após a triste deposição de Dom Rogelio Livieres, Pe. Edivaldo julgou mais conveniente deixar seus fiéis paraguaios e voltar ao Brasil, para, junto de sua mãe de consideração, prosseguir com o projeto da Fraternidade São Mauro.
Um mês de Fraternidade São Mauro
De volta ao Brasil, Pe. Edivaldo anunciou, há pouco mais de um mês, a fundação da Fraternidade São Mauro (FSM), confirmando as informações veiculadas por Fratres in Unum, cuja sede está localizada nas cercanias do Colégio São Mauro e da Associação Cultural Montfort.
Os membros do novo instituto religioso recebem formação espiritual dada pelo Pe. Edivaldo e em aulas na Montfort, ao mesmo tempo que a formação filosófica e teológica será fornecida pelo Mosteiro de São Bento, em São Paulo, com quem a FSM teria celebrado um convênio de cooperação. Essa cooperação também se manifesta pela atuação do Pe. Edivaldo como confessor durante as missas tridentinas celebradas aos domingos no mosteiro. Consta que a FSM já recebeu inclusive vocações de Manaus.
Pe. Edivaldo Oliveira celebra Missa no Mosteiro de São Bento, 26 de julho de 2015
Segundo membros da FSM, o Cardeal de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, teria dado seu aval à obra e permitido ao Pe. Edivaldo atuar recebendo vocações sob sua jurisdição. Pe. Edivaldo também estaria sob autorização de Dom Heinz Wilhelm Steckling, atual diocesano de Ciudad Del Este.
* * *
Por este e muitos outros casos, só temos a agradecer a Dom Rogelio por sua generosidade apostólica e que rezar para Deus todo poderoso o tenha em sua misericórdia.
Faleceu Dom Rogelio Livieres, antigo bispo de Ciudad del Este. A informação é de sua página no Facebook:
A saúde do bispo havia se deteriorado radicalmente após a perseguição brutal que ele sofreu de seus irmãos bispos do Paraguai e do bispo de Roma (ver aqui e aqui). Vale recordar seu escrito:
Com informações de ADN – Dom Rogelio Livieres Plano, por quem pedimos orações na semana passada, recebeu implante de um stent hepático. O procedimento foi concluído com sucesso, segundo os médicos que o assistem no Hospital Austral, província de Buenos Aires, Argentina. Porém, ele teve uma complicação respiratória durante a intervenção, razão pela qual deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permanece entubado.
Pedimos orações por Dom Rogelio Livieres, antigo bispo de Ciudad del Este, que está em estado grave de saúde. Um amigo relata:
Há uns 10 dias, estive com ele em Buenos Aires, onde está internado em um hospital da Opus Dei, e somente fomos informados de que existia uma complicação no fígado, entre outras coisas que não souberam precisar. Há mais ou menos uma hora informaram que entrou em trabalho cirúrgico e que seu quadro é grave.
Dom Rogelio Livieres, ex-bispo de Ciudad del Este.
Apesar de tudo, vimos em seu semblante uma paz e serenidade mui expressivas, posso mesmo dizer, de alguém que leva sua cruz com santidade e gratidão.
Rezemos por nosso Bispo para que aqui ou no céu continue conocoso na batalha rumo ao nosso objetivo final.
Por Dom Rogelio Livieres | Tradução: Airton Vieira de Souza – Fratres in Unum.com: Eu não assistirei à ordenação episcopal do novo Bispo de Ciudad del Este. Ainda que ele pessoalmente não tenha nada a ver com meus problemas com a Conferência Episcopal Paraguaia (CEP), não quero estar com os bispos da CEP como se aqui não tivesse ocorrido nada.
Dom Rogelio Livieres, ex-bispo de Ciudad del Este.
Havia decidido guardar silêncio sobre o ocorrido com a penosa Visita Apostólica à Diocese de Ciudad del Este e a minha posterior destituição como seu Bispo, ao ser declarada pelo Vaticano como “sede vacante”. Não obstante, o senhor Arcebispo de Assunção, Dom Edmundo Valenzuela, voltou a tema em uma entrevista brindada ao diário ABC Color, em sua edição de 8 de dezembro passado, expressando seus desejos de que neste domingo, dia fixado para a ordenação do novo Bispo de Ciudad del Este, os Bispos do Paraguai me abracem e eu a eles, como símbolo de comunhão. Também realiza uma série de considerações que reclamam meus agradecimentos, por um lado, assim como algumas precisões e reflexões, por outro.
Em primeiro lugar, me reconforta que o Arcebispo tenha deixado absolutamente claro que o problema suscitado, que teve ampla divulgação nos meios de imprensa, se deveu a um problema de «crise por comunhão interna», isto é, de relações entre minha pessoa e os outros Bispos do Paraguai. Com efeito, não houve outro fundamento, seja este de ordem financeira, sexual ou doutrinal, como falsamente alguns suspeitavam, senão exclusivamente à «falta de comunhão».
Agradeço também a Dom Valenzuela que tenha reconhecido o que tantas vezes havia afirmado: os problemas de «comunhão» começaram antes inclusive de que eu pusesse um pé na Diocese de Ciudad del Este, com o só fato de minha nomeação como Bispo por parte de são JoãoPaulo II. Claramente, isto indica que não se tratava de um mal relacionamento de caráter pessoal – começaram antes que me conhecessem.
Qual é, então, a causa dos conflitos que começaram há mais de 10 anos? Nesse momento, os Bispos queriam para a Ciudad del Este um Pastor que compartisse com eles sua mesma visão e modelo de Igreja. Como pensaram que eu não «encaixava» em seu paradigma, protestaram à Santa Sé, pedindo que revogasse minha nomeação. Mas Roma se manteve firme e me «impôs» contra o parecer da Conferência Episcopal.
De fato, e a pedido do Papa Bento, eu desenvolvi um modelo pastoral distinto, cujo eixo principal foi a criação de um novo Seminário diocesano. E abundância de sacramentos. Eis aí a raiz das desavenças.
Hoje, muitos, inclusive entre os mesmos Bispos, reconhecem o dinamismo e os bons frutos que se têm produzido em Ciudad del Este. Frutos mui grandes que têm mudado o perfil espiritual de nossa querida Diocese. Entretanto, aqui o juízo da árvore não se faz com base aos frutos, senão à importância que lhe dão à uniformidade monolítica entre os Bispos, a que erroneamente se define como «comunhão». As tradições e normas «dos homens» da Igreja são mais importantes que as surpresas de Deus e as normas da fé e da doutrina.
O senhor Arcebispo, em sua entrevista, reconheceu que o Bispo é a máxima autoridade pastoral na diocese que Deus mesmo lhe encomendou. No entanto, aqui seguindo a lógica da unidade monolítica, destacou que dita autoridade se deve exercer seguindo as orientações da Conferência Episcopal. Aos Bispos em comunhão com todo o colégio episcopal do mundo e ao Papa os estabeleceu Jesus Cristo, como fundamento de sua Igreja. As Conferências Episcopais, por sua parte, são somente criações humanas que se consolidaram recentemente, a meados do século passado – com todas as vantagens e desvantagens que as coisas humanas têm. A comunhão dos Bispos no colégio episcopal, portanto, não passa pela conformidade com as recomendações que tenha a bem uma Conferência Episcopal sugerir a seus membros. Mas, insisto, as tradições e normas humanas terminam impondo-se com mais força que as leis de Deus. Isto tecnicamente se chama farisaísmo, já Jesus Cristo havia assinalado este modo de ver as coisas como problemático, mas típico, dentro da religião. As únicas autoridades que Deus constituiu em sua Igreja, e sobre a que esta se edifica, são o Bispo de Roma, sucessor do Apóstolo Pedro, e os Bispos em suas dioceses, sucessores dos outros Apóstolos. As Conferências Episcopais, de si, não têm autoridade alguma sobre os Bispos. Só as delegadas pela autoridade da Santa Sé que, de fato, delegou mui pouco às mesmas.
O Concílio Vaticano II reafirmou a autoridade divina dos Bispos frente uma indevida centralização vaticana que vinha se impondo – como outra de tantas tradições humanas – especialmente depois do Concílio Vaticano I e sua proclamação da infalibilidade do Papa e sua suprema autoridade.
De outra parte, me entristeceu ver que o senhor Arcebispo manifestasse que eu deveria voltar a um estado de comunhão não somente com a Conferência Episcopal, senão também com o Papa Francisco. Sempre estive em comunhão com todos os Papas e sempre seguirei estando. Inclusive quando me coube assentir à decisão de minha destituição como Bispo. E isto apesar de que, pessoalmente e no juízo de minha consciência, considero esta decisão como injusta processualmente, infundada quanto à substância da causa, arbitrária e atentatória contra a legítima autoridade que Deus deu aos Bispos como sucessores dos Apóstolos e totalmente contrária ao ensinado pelo Concílio Vaticano II.
Em resumo, um abuso de autoridade, que em bom linguajar cristão se chama um ato tirânico e ditatorial. Mas como não há autoridade na terra superior a do Papa, acatei sem resistir, precisamente, como expressão extrema de minha comunhão com o sucessor de Pedro, apesar de me retirar o apoio que os Papas anteriores haviam dado nesta mesma causa.
Que o Papa tenha que render contas ante Deus por este ato que considero mau não tem nada de raro nem de polêmico. Como tantos Papas que condenaram ou mandaram à fogueira equivocadamente. É uma simples verdade de fé: teremos, todos, que dar contas de cada um de nossos atos a Deus. Especialmente os mais poderosos, os que mais autoridade têm exercido em nome de Deus. Não creio, portanto, ter sido desrespeitoso, mas franco e ao mesmo tempo um disciplinado filho da Igreja. Apesar do feito injusto, preferi submeter-me – sem renunciar – aos requerimentos pontifícios para evitar maiores males às obras que eu havia promovido, principalmente os seminários. Mas ao mesmo tempo lhe pedi desculpas se minhas expressões puderam ter sido consideradas como uma ofensa a seu supremo ofício ou pessoa sagrada.
Enquanto à «revisão» de meu caso a que Dom Valenzuela se refere, a única forma de mudar algo mal fundado e mal dito é, simplesmente, voltar atrás. Mas isso não é algo que aos homens nos é fácil, inclusive quando nos temos equivocado gravemente, como creio que foi em meu caso.
Eu colaborarei com o novo Bispo, se ele o deseja, na ajuda às instituições criadas por mim e também outras, se me parecer conveniente. Há que se ter em conta que duramente meu serviço à Diocese os batismos se triplicaram; os casamentos se duplicaram e ordenei 70 sacerdotes, coisa que não ocorreu em todo o Paraguai, somadas as Diocese, em letargia há décadas. Assim é o que tenho que dar.
Uma carta emotiva foi dirigida aos seminaristas pelo ex-bispo e fundador dos Seminários Maior São José e Menor Santo André, Mons. Rogelio Livieres; chamando-lhes a estar sempre muito próximos do bispo, tal como ele sempre lhes ensinou. Também lhes disse: “estejam contentes, amém a Deus, estudem apegados ao Magistério e à Tradição”.
Santos Cosme e Damião
Aos seminaristas de Ciudad del Este
Queridos seminaristas de Ciudad del Este
Recentemente, enviei-lhes algumas palavras de carinho e alento. Porém, quero dizer-lhes algumas outras coisas.
“É preciso que estejam sempre contentes”, diz São Paulo. E repito-lhes “Estejam contentes”. Tenham em seus pressupostos pessoais essas voltas que a vida dá, para que não se desconcertem. É evidente que embora não estejamos no céu e que todos, cada qual, tropeçará com dificuldades, “se amam a Deus, tudo concorrerá para o bem”, nos diz São Paulo. A alegria deve estar sempre presente.
Se quiserem perseverar, sejam muito sinceros com aqueles que dirigem suas almas. Transparentes. Assim desmascaram o diabo, que sempre quer turbar a claridade de nossas vidas.
Amem muitos uns aos outros, também quando forem sacerdotes. E também aos que dão trabalho para amar.
Estudem sempre apegados ao Magistério e à Tradição. Assim, serão bons santos e sacerdotes.
Levo-os todos na alma. Peço ao Senhor que sempre os fortaleça com a sua graça. E não se esqueçam de rezar por mim.
Você já devem ter percebido que, subitamente, deixei de ser o bispo de vocês. Isso poderia causar muita dor a uma pessoa pouco impregnada da doutrina de Cristo. Para nós “tudo concorre para o bem”, como escreve São Paulo. De modo que todos obteremos frutos abundantes de santidade própria e alheia, que é o que buscamos.
Rogo ao Senhor que continuem lutando para alcançar a santidade, a intimidade com Deus e com sua Santíssima Mãe, a Virgem Maria.
Obedeçam a legítima autoridade. Se não o fizerem, seria para mim uma desilusão e uma dor, já que acredito ter lhes ensinado sempre a estar muito próximos do bispo, que agora sou eu, dizia, porém, logo virão outros também necessitados das suas orações, de sua obediência e cordialidade.
Desejo-lhes tudo de melhor, no terreno espiritual e em todo o resto. Por outro lado, rezem por mim, para que eu seja bom e fiel até o fim.
Por Dom Rogélio Livieres | Tradução: Fratres in Unum.com* – A Igreja Católica é una. Não há várias Igrejas de Cristo. Mas, se a vemos humanamente, nos parecerá que hoje convivem dentro dela modos muito contraditórios de pensar e viver a fé. Não me refiro a modos distintos de pensar e viver uma mesma fé, o qual é perfeitamente legítimo. Melhor dizendo, vemos que dentro dela se encontram distintas classes de «fé». Insisto: humanamente falando. Porque a fé católica é uma: o que sempre, o que em todas as partes, o que todos os católicos hão crido e praticado, como já dizia São Vicente de Lérins. Que foi o que ensinou Jesus Cristo e transmitiu o Magistério vivo de sua única Igreja.
Dom Rogelio Livieres, ex-bispo de Ciudad del Este.
Há que reconhecer, não obstante, que no interior da Igreja Católica convivem há décadas modos de pensar incompatíveis. Já o Cardeal Ratzinger o havia assinalado em seu famoso livro Informe sobre a fé, publicado em 1985. Os grupos dissidentes, em vez de sair voluntariamente da Igreja ou de que se os declare fora de sua fé e disciplina, permanecem dentro dela, em que pese a negação mesma de seus princípios mais fundamentais. Alguém tão alheio a disputas teológicas como Jean-Marie Guénois, jornalista muito simpatizante de todo tipo de mudanças dentro da Igreja, reconheceu em um recente artigo publicado em Le Fígaro, da França, que «há na Igreja cismas de fato entre muitos sacerdotes e fieis que não aceitam já a fé católica sobre a Virgem Maria, a Eucaristia, por exemplo; e que se chamam católicos quando são, mais que cristãos, autênticos protestantes… O Sínodo abre uma crise na Igreja no sentido antigo da palavra, isto é, o de impor uma eleição ou decisão… O shock do Sínodo pode ser que abra os olhos de alguns.»
Isto que assinala Guénois é evidente. Acaso não parece hoje que a Igreja é um conglomerado de crenças contraditórias, em que um padre diz uma coisa e outro outra, como sucede, por exemplo, na Comunhão Anglicana? Convivem entre nós, junto à fé católica, cismas e heresias ao largo de todo o planeta. Quem os promove advertiram que é muito mais eficiente e lucrativo manter-se dentro da Igreja, não apartar-se dela. Trabalhar desde seu interior. Assumem inclusive postos importantes em seu governo e pretendem falar em seu nome, representá-la.
Nas últimas décadas, a hierarquia da Igreja soube ir encontrando modos de sortear divisões institucionais frente a esta heterodoxia difusa expandida em muitos países, ambientes e classes sociais. Logrou-o, algumas vezes, mediante a busca de consensos através de fórmulas doutrinais mais ou menos aceitáveis para todos, ainda que diluindo desta maneira verdades que pareciam «difíceis». O certo é que inclusive nestes casos em que se fizeram valentes contribuições e precisões doutrinais (pensemos na maravilha de tantos documentos papais destas décadas), com frequência faltou firmeza na implementação, na correção disciplinar e na prática pastoral. Uma mão apagava o que havia escrito a outra.
Por exemplo, contra a corrente e sob enormes pressões dos meios de comunicação, Paulo VI reafirmou com heroísmo a moral católica em sua encíclica Humanæ Vitæ. Não obstante isso, a quem se opôs a seu ensinamento publicamente se lhes permitiu seguir atuando e pregando «como se nada ocorresse». E quantos sacerdotes e mesmo Bispos, ainda que não o criticaram publicamente, simplesmente ignoraram o Magistério do Papa no confessionário e permitiram, ou inclusive recomendaram, o uso de métodos artificiais de contracepção, assim como outras graves desordens morais!
Após mais de meio século deste estilo de governo «suave», no que não faltou a convivência com o erro doutrinal e a desobediência pastoral e disciplinar, hoje podemos ver com muito mais clareza que então que esse não foi o bom caminho que as circunstâncias exigiam, senão que, pelo contrário, foi a causa de muitos desencaminhamentos que na atualidade, lamentavelmente, alcançaram alturas e dimensões insuspeitadas. Levamos décadas de má formação em muitos seminários e faculdades teológicas. Educados neste ambiente, alguns Bispos e Cardeais durante o recente Sínodo sobre a Família deixaram a descoberto em suas opiniões muitas destas confusões em temas tão fundamentais como a família, a imoralidade intrínseca dos atos homossexuais e o adultério.
«O Sínodo abre uma crise na Igreja no sentido antigo da palavra, isto é, o de impor uma eleição ou decisão…». Estou plenamente de acordo com esta reflexão do Sr. Guénois. Todos devemos eleger e decidir. Nenhum de nós pode «deixar passar a bola». Temos que assumir nossos compromissos de fé batismais. Sejamos Bispos, sacerdotes, religiosos ou leigos. Velhos ou jovens. Formados academicamente ou com uma fé simples. Devemos, como Jesus Cristo e os Apóstolos, pregar a fé «em tempo e fora de tempo». E defendê-la dos erros e desvios, seja a nível doutrinal ou pastoral. Colocamos nisto não só a nossa salvação, senão a de muitíssimos homens e mulheres que dependem de nossa modesta ação como «servos inúteis», ainda que fieis.
Com Pedro e sob Pedro, chegou a hora de que despontem e se façam presentes santas religiosas que, como novas santas Catarinas de Sena, advirtam a hierarquia da Igreja no cumprimento de seus deveres. E de Bispos dispostos a lançar-se inteiramente na defesa da fé como modernos santos Atanásios. E de Cardeais que imitem a são Paulo e não temam denunciar os desvios, os feitos e os gestos que semeiam confusão. E de leigos que, como novos santos Tomás Morus, estejam dispostos aos mais altos sacrifícios insistindo na indissolubilidade do matrimônio, não só a nível doutrinal, mas inclusive nos casos pastorais mais difíceis e politicamente custosos. E mesmo também de crianças que, como outros santos Tarcísios, estejam dispostos a imolar-se para manter o respeito à santa Comunhão, à que só podemos aceder quando não vivemos em pecado.
Com Pedro e sob Pedro, todos devemos renovar nossos compromissos batismais e defender a integridade (sem cair em fundamentalismos) da fé católica. Santo Tomás de Aquino nos recorda que, quando se trata de falhas no que à fé e à moral, a correção fraterna deve fazer-se publicamente, para que não se difundam erros que comprometam a salvação de gente desprevenida.
Tanto o Catecismo da Igreja Católica como seu maravilhoso Compêndio, que o resume e precisa, são verdadeiras joias que podem servir-nos a todos como «mapas da fé» – para que possamos saber onde devemos parar e por que caminhos devemos avançar. É bom que os apreciemos, estudemos e os conheçamos profundamente. Devemos defender o que eles nos ensinam e corrigir os erros que possam tergiversar essas verdades. Não só no campo do doutrinário. Também no pastoral. Porque ou vivemos como pensamos, ou terminaremos pensando como vivemos.
Ao Papa Francisco lhe toca hoje essa mesma hora heroica que afrontou Paulo VI quando, a contracorrente, publicou sua Humanæ Vitæ. Ele é o custódio e o guardião supremo da doutrina e da prática da fé. Como a todos os Papas, lhe toca ser o administrador fiel que deve confirmar na fé a seus irmãos. Unamo-nos a ele e rezemos encarecidamente por ele, para acompanhá-lo com nosso amor filial nesta dura prova ante tantas pressões e confusão.
Estejamos tranquilos. Um Papa não poderia ensinar formalmente o erro. O que sim pode ocorrer, e ocorreu algumas vezes ao longo da história da Igreja, é que por meio de silêncios e omissões, de nomeações e promoções, de atos e de gestos, a autoridade contribua a que se expanda a confusão e se desanimem os crentes que estão «batalhando» nas trincheiras missionárias das periferias humanas. Ocorreu ao mesmo são Pedro, o primeiro Papa, na Galácia. Depois de afirmar no Concílio de Jerusalém a verdadeira doutrina, semeou, entretanto, a confusão na Galácia por respeitos humanos. Mas o Senhor não o abandonou: teve a graça de contar com o apoio e a correção fraterna que lhe fez são Paulo.
Amemo-nos uns aos outros na verdade. Essa verdade que, segundo a promessa de Cristo, é a única que nos fará autenticamente livres a todos.
* Nosso agradecimento a um gentil leitor pela tradução.
Na Missa de Abertura do Sínodo Extraordinário sobre a Família, o Papa Francisco chamou os bispos a colaborar com o plano de Deus e a formar, assim, um povo santo. Ofereço estas reflexões com o desejo de servir ao Papa da melhor maneira que posso.
Por Dom Rogelio Livieres Plano, ex-bispo de Ciudad del Este | Tradução: Fratres in Unum.com– A Igreja, fundada sobre a rocha de Pedro, espera do Sínodo a promoção da família cristã. Porém, o que a Bíblia chama de “o mundo” tem uma expectativa muito distinta: os meios de comunicação vociferam a cada dia para que a Igreja “se atualize”. Um eufemismo para exigir que ela abençoe, e não condene, os desvios morais cada vez mais frequentes — entre outras razões, pela promoção sistemática pela imprensa e indústria do entretenimento.
A Igreja, todavia, não foi estabelecida para sancionar o que o mundo pretende, mas para nos ensinar o que Deus quer de nós e nos acompanhar no caminho da santidade. Porque é na vontade de Deus, que tudo sabe e não pode se enganar nem nos enganar, onde nós encontramos a verdadeira paz e felicidade. Nem a doutrina da fé, nem a prática pastoral — consequência desta doutrina — são resultado do consenso de padres, mesmo que cardeais ou bispos.
Já desde os primeiros tempos do cristianismo, os Apóstolos e seus sucessores foram pressionados por poderosas elites religiosas e políticas para que tergiversassem a verdade e a missão evangélica que haviam recebido de Cristo. Mas, em vez de se inclinarem perante outros deuses, deixaram-nos um testemunho de fidelidade incondicional à verdade, derramando seu sangue. Porque “há de se obedecer a Deus antes que aos homens” (Atos dos Apóstolos, 5:29). Nestes dias, consola-me pensar no exemplo de Santo Atanásio. Foi expulso de sua diocese não uma, mas cinco vezes, devido às maquinações de seus irmãos bispos arianos, com quem não estava “em comunhão”, precisamente porque queria promover a “fé católica e apostólica”, como diz a Oração Eucarística I, o Canon Romano.
Abençoar e aceitar “o que o mundo quer” não é nem misericórdia nem amor pastora. Antes, é preguiça e comodidade, porque estaríamos renunciando a evangelizar e educar. E respeito humano, porque nos importaria mais o que dirão do que repreender profeticamente na obediência a Deus. Já São Bento resumia, em outra época também marcada por muita confusão, o princípio de vida eterna da obediência: “Minhas palavras se dirigem agora a vós, quem quer que sejais, para que renuncieis à vossa própria vontade e tomeis as preclaras e fortíssimas armas da obediência…”, “… assim, voltareis pelo trabalho da obediência Àquele de quem vos haveis afastado pela desídia da desobediência”. (Regra, Prólogo).
Dentro da Igreja, e ultimamente desde algumas de suas mais altas esferas, “sopram ventos” que não são do Espírito Santo. O mesmíssimo Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, entre outros, criticaram a pretensão utópica de fazer mudanças substanciais na prática pastoral sem, com isso, afetar a doutrina católica sobre a família. Sem julgar intenções, que presumo serem as melhores, e com a tristeza de ter que mencioná-los por nome, já que são de público conhecimento, o Cardeal Kasper e a revista jesuíta Civiltà Cattolica são ativos propulsores que lideram esta confusão. O que antes estava proibido como uma grave desobediência contra a lei de Deus, agora poderia acabar abençoado em nome de sua misericórdia. Justificam o injustificável, por meio de sutis interpretações de textos e fatos históricos. Porém, os que realmente conhecem essas matérias reduziram a pó estes sofismas. Não nos esqueçamos do que nos assegurou o Senhor: “Céu e terra passarão, mas minhas palavras não passarão” (Mateus 24:35).
Aproveitemos a extraordinária oportunidade que nos oferecer o Sínodo para reafirmar, de modo positivo, o que a Igreja sempre e em todas as partes acreditou sobre a família e colocou em prática em sua disciplina. Isso nos exige, ao mesmo tempo, defender a verdade perante os que estão dividindo e confundindo o Povo de Deus. A situação é gravíssima e não sou eu o primeiro a advertir que desgraçadamente estamos diante do perigo de um grande cisma. Exatamente o que o Senhor e sua Santíssima Mãe nos preveniram em aparições reconhecidas e aprovadas pela autoridade da Igreja.
Frente aos que estão querendo “inventar” consensos e manipular estatísticas, como se o Povo de Deus estivesse pedindo o que na realidade se quer impôr pela força de uma autoridade abusiva, recordemos que a Igreja não vive nem se define a partir de opiniões dos homens e o mudar dos tempos, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. A histórica de como se terminou impondo a todo um povo católico o cisma da Igreja da Inglaterra, junto com o testemunho de martírio de São João Fisher e Santo Tomás Morus, são uma lição que hoje vale muito aprofundar.
Rezemos pelo Papa, pelos Cardeais e Bispos, para que todos estejamos dispostos inclusive a derramar o sangue em defesa e promoção da família contra as tormentas do engano e da idolatria da liberdade sexual do homem perante Deus. Não nos deixemos enganar nem afastar da fé e da prática moral que Jesus Cristo nos ensinou. Sabemos que o mundo odiou a Nosso Senhor. O servidor não pode ser maior que seu senhor. O mundo nos perseguirá, inclusive invocando falsamente o nome de Deus. E os eclesiásticos que falarem como o mundo quer, serão aplaudidos e amados, “porque são seus”, não de Deus.
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Após a divulgação do sóbrio e oportuno artigo acima no blog pessoal de Dom Livieres, o Opus Dei, ao qual ele é vinculado, emitiu a seguinte nota:
Comunicado do Departamento de Imprensa do Opus Dei em Roma – 11 de outubro de 2014
Este departamento esclarece que as palavras — muito desacertadas — do bispo Rogelio Livieres publicadas em seu blog, sobre o Sínodo da Família, são de sua inteira e exclusiva responsabilidade.
A atitude da prelazia do Opus Dei é e será sempre de união total com o Santo Padre, na comunhão de toda a Igreja.
Por Fratres in Unum.com – A imprensa secular alardeou aos quatro ventos: bispo ultraconservador no Paraguai é destituído por acobertar pedófilo.
O propósito se insere em uma campanha midiática e é claríssimo: associar os perversos conservadores a práticas desonrosas e incensar a figura mítica de um Bispo de Roma linha dura que inaugura a tolerância zero com erros do passado.
Assim, o fator Urrutigoity não foi decisivo, mas compôs um capítulo nessa triste novela paraguaia – como também a acusação de homossexualismo feita por Dom Livieres, em jornal de circulação nacional, contra o Arcebispo de Assunción, entre outros atritos.
Certamente, não devemos fechar os olhos à realidade e pensar que a nomeação para o cargo de Vigário Geral da Diocese de Ciudad del Este de um sacerdote com farto histórico de acusações seja algo prudente. Objetivamente falando, trata-se de uma atitude suicida, primária e um prato cheio para qualquer inimigo.
Fontes católicas dão conta que, após sua expulsão da FSSPX, Padre Carlos Urrutigoity conseguiu ser incardinado na Diocese de Scranton, Pensilvânia, apesar da advertência feita por Dom Fellay, seu antigo superior, ao então bispo daquela diocese. Lá, causou um dano imenso: foi acusado de comportamentos imorais com rapazes (e não pedofilia, palavra mágica com que a imprensa anti-católica adora atingir a Igreja) que gerou à diocese um prejuízo decorrente de um acordo judicial no valor de 400 mil dólares. Urrutigoity, mais tarde, foi enviado para tratamento psicológico e o parecer dos especialistas indicou a sua remoção imediata do exercício do ministério sacerdotal, devendo viver isoladamente.
Com toda razão, causa perplexidade que um bispo não só acolha (o que Dom Livieres declara ter feito a pedido da própria Santa Sé!), mas promova um sacerdote com tais precedentes, a despeito de tantas evidências desfavoráveis e admoestações de outros irmãos no episcopado (a própria diocese de Scranton lançou uma nota a esse respeito, em março deste ano). Urrutigoity, por sua vez, alega sofrer uma violenta perseguição — já divulgamos, anteriormente, artigo da Diocese de Ciudad del Este que o defende veementemente.
É necessário enfatizar que, na guerra encarniçada movida pelos filhos das trevas contra os filhos da luz, os verdadeiros Católicos devem ser, além de intrépidos promotores e defensores da fé, irrepreensíveis e astutos em todo proceder. “Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pomba” (Mt. 10, 16). Cabe a nós seguirmos o conselho do primeiro Papa: “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (I Pe 5, 8).
A imprensa, em lua de mel com Francisco, contrapõe sua suposta “faxina” à casa “encardida” que encontrou em março de 2013 – não devemos nos esquecer que os Vatileaks, com sua enxurrada de denúncias, desapareceram, como que em um passe de mágica, tão logo Bergoglio se tornou bispo de Roma.
Não é preciso dizer que se trata, desgraçadamente, de um factoide: basta citar os casos de Mons. Rica, que gerou o famoso “quem sou eu para julgar?”; ou do Cardeal Mahony, cuja participação no conclave causou alvoroço nos Estados Unidos e hoje concelebra alegremente com Francisco na Casa Santa Marta; ou, por último, o convite feito por Francisco ao Cardeal Danneels (modernista de carteirinha e ex-Arcebispo de Bruxelas, que em 2010 teve sua residência varrida pela polícia belga por sérias suspeitas de acobertamento) para participar do próximo Sínodo da família. Tudo sob o silêncio complacente da mídia.
Infelizmente, o pontificado de Francisco não apresenta, por ora, nada de excepcional em relação ao que vemos como atuação majoritária (há exceções!) dos homens da Igreja nos últimos 50 anos: a promoção de apaniguados que defendem o mesmo “jeito de ser Igreja”, mesmo que corruptos, e a destruição de opositores – se corruptos, bem… ao menos há uma desculpa para esconder as reais intenções. Com Dom Livieres, verdade seja dita, apesar da demora que permitiu à imprensa destruir sua reputação, houve honestidade em dizer que o fator Urrutigoity não foi determinante .
Rezemos e peçamos a intercessão de Nossa Senhora, para que interceda pela Igreja no mundo inteiro e, de modo particular, pela diocese de Ciudad del Este, por Dom Rogelio Livieres (que assumiu eventuais erros), seus sacerdotes, religiosos e leigos. Que o Bom Deus nos dê a todos a sabedoria, a humildade e todas as graças que precisamos para sermos bons católicos neste tempo de tribulação.