CPT – Um pequeno grupo de índios do Tocantins, das etnias Xerente, Krahô e Krahô-Kanela, chegou ontem à tarde a Goiânia para acompanhar de perto a saúde de Dom Tomás Balduino. Hoje às 15h00, de acordo com os costumes de seus povos, vão realizar em frente ao Hospital Anis Rassi (Avenida José Alves, 453 – Setor Oeste, Goiânia – GO), onde Dom Tomás esta internado, um ritual pela recuperação de sua saúde. No final da manhã de hoje (09/11) Dom Tomás foi transferido da UTI para o quarto do Hospital.
Indígenas de todo o Brasil tem muito respeito e admiração por Dom Tomás, pois ele tem se mostrado um forte aliado das suas lutas e reivindicações. Dom Tomás é um dos fundadores do CIMI, Conselho Indigenista Missionário, que introduziu um novo modo de presença e atuação da igreja junto aos povos indígenas, com respeito às suas culturas, costumes e tradições.
Dom Tomás foi um dos mais fortes incentivadores e promotores dos primeiros encontros de caciques de diferentes povos indígenas do Brasil. Estes encontros estão na base das diferentes organizações indígenas hoje, que tem mostrado ao Brasil e ao mundo sua vitalidade e o espírito de luta destes povos.
Estado de saúde de Dom Tomás Balduino
Dom Tomás Balduino, hospitalizado desde o último dia 1º, em Ceres, interior de Goiás, foi transferido, no final da tarde de quinta-feira (07/11), para a UTI Cardiológica do Hospital Anis Rassi, em Goiânia, GO.
O que levou à internação urgente de Dom Tomás na UTI foi uma grave arritmia cardíaca,com diminuição acentuada da pressão arterial levando inclusive à inconsciência. Dom Tomás tem doença de chagas, fato do qual ele tem consciência, mas não revelava a ninguém e há alguns anos era portador de marca-passo.
Dr. Antonio José de Araújo, médico amigo de Ceres, e diretor do Hospital Pio X, da diocese de Goiás, diagnosticou que o problema estaria em falha do marca-passo. Por isso, quando houve estabilização das condições de saúde, Dom Tomás foi transferido para hospital especializado, em Goiânia. A equipe médica do hospital Anis Rassi tem elogiado muito os procedimentos adequados e corretos feitos em Ceres. Enquanto finalizávamos este release recebemos a informação de que Dom Tomás foi transferido, no final da manhã de hoje (09/11) para o quarto.
Dom Balduíno foi um dos homenageados por peritos em direitos humanos do governo federal, como Dilma Roussef, Eleonora Menicucci e Maria do Rosário, na 18ª edição do Prêmio Direitos Humanos de 2012.
O Popular – Bispo-emérito da cidade de Goiás, Dom Tomás Balduíno está internado desde sexta-feira (1) na cidade de Ceres, no Vale do São Patrício. Ele se sentiu mal em Goiânia e decidiu procurar cuidados no Hospital Pio X, que é vinculado à Diocese da cidade Goiás.
Portador de marca-passo, ele sofreu uma queda de pressão nesta segunda-feira (4) e foi internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Dr. Domingos, na mesma cidade. O estado do religioso, que completa 91 anos no dia 31 de dezembro deste ano, é considerado grave.
Dom Balduíno foi um dos homenageados por peritos em direitos humanos do governo federal, como Dilma Roussef, Eleonora Menicucci e Maria do Rosário, na 18ª edição do Prêmio Direitos Humanos em dezembro de 2012. Entre os agraciados também estavam Dom Pedro Casaldáliga e o deputado petista Padre Luiz Couto; Leonardo Boff recebeu o prêmio representando uma ONG.
Eis o quadro: o pequeno agricultor Juarez Vieira foi despejado de sua terra, em 2002, no município tocantinense de Campos Lindos, por 15 policiais em manutenção de posse acionada por Kátia Abreu. Juarez desfilou, sob a mira dos militares, com sua mulher e seus dez filhos, em direção à periferia de alguma cidade.
O caso acima não é isolado. O governador Siqueira Campos decretou de “utilidade pública”, em 1996, uma área de 105 mil hectares em Campos Lindos. Logo em 1999, uns fazendeiros foram aí contemplados com áreas de 1,2 mil hectares, por R$ 8 o hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu (PSD-TO), então deputada federal pelo ex-PFL.
O irmão dela Luiz Alfredo Abreu conseguiu uma área do mesmo tamanho. Emiliano Botelho, presidente da Companhia de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares. Juarez não foi o único injustiçado. Do outro lado da cerca, ficaram várias famílias expulsas das terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma descarada grilagem!
Campos Lindos, antes realmente lindos, viraram uma triste monocultura de soja, com total destruição do cerrado para o enriquecimento de uma pequena minoria. No Mapa da Pobreza e Desigualdade divulgado em 2007, o município apareceu como o mais pobre do país. Segundo o IBGE, 84% da população viviam na pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência.
Outro irmão da senadora Kátia Abreu, André Luiz Abreu, teve sua empresa envolvida na exploração de trabalho escravo. A Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins libertou, em áreas de eucaliptais e carvoarias de propriedade dele, 56 pessoas vivendo em condições degradantes, no trabalho exaustivo e na servidão por dívida.
Com os povos indígenas do Brasil, Kátia Abreu, senadora pelo Estado do Tocantins e presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), tem tido uma raivosa e nefasta atuação.
Com efeito, ela vem agindo junto ao governo federal para garantir que as condicionantes impostas pelo Supremo no julgamento da demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol sejam estendidas, de qualquer forma, aos demais procedimentos demarcatórios.
Com a bancada ruralista, ela pressionou a Advocacia-Geral da União (AGU), especialmente o ministro Luís Inácio Adams. Prova disso foi a audiência na AGU, em novembro de 2011, na qual entregou, ao lado do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), documento propondo a criação de norma sobre a demarcação de terras indígenas em todo o país.
O ministro Luís Adams se deixou levar e assinou a desastrosa portaria nº 303, de 16/7/12. Kátia Abreu, ao tomar conhecimento desse ato, desabafou exultante: “Com a nova portaria, o ministro Luís Adams mostrou sensibilidade e elevou o campo brasileiro a um novo patamar de segurança jurídica”.
Até mesmo com relação à terra de posse imemorial do povo xavante de Marãiwatsèdè, ao norte do Mato Grosso, que ganhou em todas as instâncias do Judiciário o reconhecimento de que são terras indígenas, Kátia Abreu assinou nota, como presidente da CNA, xingando os índios de “invasores”.
Concluindo, as lideranças camponesas e indígenas estão muito apreensivas com o estranho poder econômico, político, classista, concentracionista e cruel detido por essa mulher que, segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam: “Não é isso o Poder do Mal?” No Evangelho, Jesus ensinou aos discípulos a enfrentar o Poder do Mal, recomendando-lhes: “Esta espécie de Poder só se enfrenta pela oração e pelo jejum” (Cf. Mt 17,21).
PAULO BALDUINO DE SOUSA DÉCIO, o dom Tomás Balduino, 90, mestre em teologia, é bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra
Não é verdade que despejei um pequeno agricultor. Tratava-se de grileiro, cuja crônica de maldades qualquer morador da região atestará
Li, com surpresa, nesta Folha, um texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e caluniosa (“Apreensão no campo”, em 23/1), assinado pelo bispo emérito de Goiás Velho, dom Tomás Balduino, atribuindo-me pecados que não cometi.
Como católica praticante, jamais imaginei um dia polemizar com um representante da mais alta hierarquia da fé que professo. Mas a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As palavras que me dirigiu não foram de um cristão.
Minha fé não é a do ódio revolucionário, que incita o conflito e trata como pecadores os que dele divergem ideologicamente. É a fé que o papa Bento 16, em seu livro “Jesus de Nazaré, da Entrada em Jerusalém à Ressurreição”, proclama como sendo a da paz.
“A violência”, diz o papa, “não instaura o Reino de Deus, o Reino da Humanidade. É, ao contrário, instrumento preferido do Anticristo. Mesmo com motivação religiosa idealista, ela não serve à humanidade, mas à inumanidade”.
Não há mistura mais letal que a da política com a religião. O fundamentalismo é, em si, antirreligioso. Os católicos da Irlanda, em nome de sua fé -que seguramente não é a de Cristo-, usaram o terrorismo e o sangue de inocentes como arma política, em nome de Alguém que resumiu sua doutrina numa frase: “Amai-vos uns aos outros”.
Minha mais remota lembrança de dom Tomás é diametralmente oposta ao espírito de seu artigo. Remonta a um tempo anterior à criação do meu Tocantins, então integrado a Goiás.
Ele, ainda padre, ensinava, num Sermão das Sete Palavras, na Sexta-Feira da Paixão, que Jesus, ao pedir ao Pai que perdoasse seus algozes, “pois não sabiam o que faziam”, mostrava a importância de interceder não só pelos amigos, mas sobretudo pelos inimigos.
Ao que parece, algo mudou na transição de padre Tomás para o bispo dom Balduino. Invoco, pois, o espírito cristão do padre para responder ao bispo, com absoluta serenidade, as imputações que me faz -a mim e a meus irmãos Luiz Alfredo e André Luiz. Mesmo perdoando-o desde já, cumpro o dever de desmenti-lo.
Não é verdade, dom Balduino, que tenha perseguido, despejado e feito perseguir “por 15 policiais armados” um pequeno agricultor em Campos Lindos, Tocantins. Tratava-se do grileiro Juarez Vieira, cuja crônica de violências e maldades qualquer morador da região atestará. Obtive na Justiça reintegração de posse de terra de minha propriedade legítima.
Não é verdade também que a tenha recebido de “mão beijada”. Adquiri-a em moeda corrente e a preço justo, como os demais fazendeiros. Era área inóspita e desabitada; hoje, é a internacionalmente conhecida região do Mapito, referência de produtividade em soja, milho e algodão, com infraestrutura bancada pelos produtores pioneiros.
Outra injúria atinge meus dois irmãos. O bispo acusa Luiz Alfredo de grilagem e André Luiz, de promover trabalho escravo. Mas Alfredo adquiriu com recursos próprios as terras que possui, devidamente documentadas. E André jamais foi proprietário da fazenda citada pelo bispo.
Apenas alugou dois tratores, sem os tratoristas, para o proprietário, nada tendo a ver com as denúncias, que não o envolveram. É, inclusive, funcionário do Ministério Público do Trabalho, onde jamais foi questionado.
Esclareço também que não sou responsável pela decisão da Advocacia-Geral da União de estender as condicionantes da demarcação de Raposa Serra do Sol às demais terras indígenas. Foi o Supremo Tribunal Federal que assim o determinou.
Sem seu grau de santidade e sabedoria, não lhe devolvo as insolências. E se for o caso de terminar com uma citação, tomo, com respeito, a palavra do Senhor, no Antigo Testamento: “Não darás falso testemunho contra o seu próximo” (Êxodo, 20, 16).
KÁTIA ABREU, 50, é senadora (PSD-TO) e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)