Silvina Premat
LA NACION
O bispo lefevrista Richard Williamson foi removido de seu cargo a frente do seminário que a ultra-tradicionalista Fraternidade São Pio X tem em La Reja, Moreno. A expulsão dessa organização [sic] quiçá tenha sido reservada para o caso de que o prelado britânico não ceda ao pedido de tomar distância de suas afirmações sobre o Holocausto, feito pelo Papa na última quarta-feira.
A remoção do cargo que Williamson ocupadava desde 2003 se deu tal como havia antecipado LA NACION em 30 de janeiro, a poucos dias de ter se difundido quase simultaneamente as notícias sobre o levantamento das excomunhões que pesavam desde 1988 sobre quatro bispos, ordenados por Marcel Lefebvre, e as declarações de Williamson, um desses quatro, a um canal de televisão sueco, nas quais afirmou, entre outras coisas, que os nazistas não haviam assassinado prisioneiros na câmarada de gás.
Essas declarações são o motivo principal da medida comunicada ontem a LA NACION através de um correio eletrônico assinado pelo superior do Distrito para a América do Sul dessa fraternidade, o padre Christian Bouchacourt. O curto comunicado de Bouchacourt afirma que dias passados se substituiu Williamson do cargo que ocupava e repete as afirmações do sucessor de Lefebvre, monsenhor Bernard Fellay: “As afirmações de monsenhor Williamson não refletem de modo algum a posição de nossa congregação [?] . É evidente que um bispo católico não pode falar com autoridade eclesiástica senão sobre matérias concernentes à fé e à moral. Nossa Fraternidade não reivindica nenhuma autoridade sobre outras questões”.
Bouchacort, de férias até março em Paris, insiste em denunciar uma suposta manipulação da entrevista de Williamson para a televisão sueca, tendente a atrapalhar a aproximação dos lefebvristas com o Vaticano. “Até quando reconhecemos o inoportuno destes comentários, comprovamos com tristeza que as acusações permanentes sobre a nossa Fraternidade também têm o fim manifesto de desacreditá-la”, diz o comunicado.
Nada se diz sobre a reportagem que Williamson deu à revista alemã Der Spiegel, na qual, como resposta ao pedido de retratação do Vaticano, o bispo disse que se levará um tempo para “estudar as evidências históricas”.
Tomar distância
Numa nota assinada pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcísio Bertono, se pedia a Williamson que tomasse distância de modo absolutamente ineqüívoco e público de suas posições relativas ao Holocausto, desconhecidas pelo Santo Padre no momento do levantamento da excomunhão.
Nesse texto, o Vaticano afirmava que “a postura de monsenhor Williamson sobre a Shoá é absolutamente inaceitável e firmemente rechaçada pelo Santo Padre”.
Fontes da comunidade lefebvrista argentina admitiram a LA NACION que o afastamento do cargo de Williamson poderia ter sido fruto de uma dura negociação com o bispo. “A verdade é que é um homem bastante imaleável. Quiçá acordaram seu afastamento do seminário em troca de uma dilatação da retratação pedida pela Secretaria de Estado do Vaticano”, disse um dos membros dessa comunidade na Argentina.
Sem sucessor designado
Quem substituirá Williamson, de 68 anos, a frente do único seminário em que se estuda em castelhano e um dos seis que têm os lefevristas em todo o mundo, é uma incógnita. Como informou ontem LA NACION, se menciona Alfoso de Galarreta, que foi professor e diretori do seminário durante alguns meses e hoje é superior da Casa Autônoma de Espanha.
Na última noite, um porta-voz da fraternidade lefevrista no país se excusou de não ter nenhum nome do substituto: “Se se está queimando a casa, o importante é se colocar em alguma casinha. Com o tempo, verá onde viverá”. Do que se deduz que aqui sentem o calor do “fogo” que provocaram as afirmações de Williamson.
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