Polêmica: Boff, o neo-papista, massacrado publicamente por Vittorio Messori.

Apresentamos a seguir três artigos da recente polêmica, veiculada na imprensa italiana, entre Vittorio Messori, conhecido jornalista italiano, autor de livros-entrevistas com João Paulo II e Bento XVI e entusiasta de ambos, e o “teólogo” brasileiro neo-papista Leonardo Boff. 

Com o Cardeal Gerhard Müller cada vez mais isolado em sua defesa intransigente do matrimônio católico em uma Cúria adormecida, não surpreenderia se Leonardo Boff fosse chamado à chefia do Santo Ofício, de onde poderia aplicar sua misericórdia francisquista convidando Messori, ou quem sabe o próprio bispo emérito de Roma, a sentar-se naquela famosa “cadeira em que sentou Giordano Bruno”, como ele sempre fez questão de repetir acerca dos episódios de outrora em que ele, coitadinho, foi injustamente perseguido. Tempos obscuros aqueles! Agora temos Francisco, o libertador!

Tradução de Gercione Lima – Fratres in Unum.com

As dúvidas sobre a virada do Papa Francisco

http://www.vittoriomessori.it/blog/2014/12/24/i-dubbi-sulla-svolta-di-papa-francesco/

Corriere della Sera, 24 de dezembro de 2014, Vittorio Messori

Eu creio que seria honesto ter que admitir agora: abusando talvez do espaço que me foi concedido, o que proponho aqui, mais do que um simples artigo, é uma reflexão pessoal. Aliás, uma espécie de confissão que eu teria todo o prazer em adiar se não me fosse solicitado. Mas sim, adiada porque a minha (e não só minha) avaliação deste papado oscila continuamente entre adesão e perplexidade, é um julgamento mutável dependendo do momento, da ocasião, e dos temas. Um papa não imprevisto: por que no que me diz respeito, eu estava entre aqueles que esperavam um sul-americano, um homem de pastoral, de experiência cotidiana de governo, que nos proporcionaria quase um equilíbrio entre o admirável professor, um teólogo muito refinado para alguns paladares, tal qual é o nosso amado Joseph Ratzinger. Um papa não inesperado, portanto, mas que subitamente desde aquele seu primeiro “boa noite”, revelou-se imprevisível, a ponto de mudar gradualmente a mente até mesmo de alguns cardeais que estavam entre seus eleitores.

Uma imprevisibilidade que continua perturbando a tranquilidade do católico médio, habituado a não ter que pensar por conta própria no que diz respeito a fé e moral, e que sempre foi exortado a simplesmente “seguir o Papa”. Sim, mas qual Papa? Aquele de certas homilias matutinas em Santa Marta, dos sermões dos  párocos à moda antiga, com bons conselhos e provérbios sábios, chegando mesmo a nos advertir para não cairmos nas armadilhas que nos arma o demônio? Ou aquele que telefona a Giacinto Marco Pannella, o qual está empenhado novamente em mais uma enésima greve de fome e deseja-lhe “bom trabalho”, quando por décadas, o “trabalho” do líder radical consistiu e consiste apenas em pregar que a verdadeira caridade está na luta pelo divórcio, o aborto, a eutanásia, a homossexualidade para todos, a teoria de gênero e assim por diante? O Papa que no discurso destes dias à Cúria Romana, citou com convicção Pio XII (mas, na verdade, o próprio São Paulo), que define a Igreja “corpo místico de Cristo”? Ou aquele que na primeira entrevista a Eugenio Scalfari, ridicularizou aqueles que pensam que “Deus é católico”, como se a Igreja Una, Santa, Apostólica, Romana fosse um acessório opcional para vincular, de acordo com o gosto pessoal de cada um à Trindade divina? O Papa Argentino consciente por experiência direta do drama da América Latina que está prestes a se tornar um continente ex-católico devido à apostasia em massa desses povos para o protestantismo pentecostal? Ou o Papa que tomou um avião para abraçar e desejar bom sucesso a um querido amigo, um pastor protestante em uma das suas comunidades que está esvaziando a Igreja Católica precisamente com o proselitismo que ele duramente condenou entre os Católicos?

Poderíamos continuar, é claro, com esses aspectos que parecem – e talvez são de fato – contraditórios. Poderíamos, mas não seria certo para um crente. Estes sabem que não se pode olhar para um Pontífice como se olha para um presidente eleito da República ou como um rei, herdeiro aleatório de outro rei. Claro, no Conclave, esses instrumentos do Espírito Santo, de acordo com a fé, são os cardeais eleitores que compartilham dos limites, erros, talvez os pecados que marcam a humanidade inteira. Mas o chefe único e verdadeiro da Igreja é Cristo onipotente e onisciente, que sabe um pouco melhor do que nós o que é a melhor escolha no que diz respeito ao seu representante temporário na terra. Esta escolha pode parecer desconcertante para a visão limitada dos contemporâneos, mas, em seguida, na perspectiva histórica, revela as suas razões. Quem realmente conhece a história fica surpreso e pensativo ao descobrir que – na perspectiva da visão milenar, que é aquela Católica — todos os Papas, conscientes ou não, interpretaram o seu papel idoneamente, e que no final, pareceu ser o necessário. Precisamente por estar consciente disso é que eu escolhi, no que me diz respeito, apenas observar, ouvir, refletir sem me lançar em opiniões intempestivas ou até temerárias.

Parafraseando uma pergunta muito mencionada fora do seu contexto: “Quem sou eu para julgar?”. Eu, que – ao lado de muitos outros, excluindo apenas um — certamente não sou assistido pelo “carisma pontifício” da assistência prometida pelo Paráclito.

E para aqueles que querem julgar, será que não diz nada a aprovação plena, e várias vezes repetida – verbalmente e por escrito – da atividade de Francisco por parte do  “Papa Emérito”, apesar de serem tão diferentes em estilo, formação, e até mesmo programa de governo?

Terrível é a responsabilidade de quem hoje é chamado a responder à pergunta: “Como anunciar o Evangelho aos contemporâneos? Como mostrar que Cristo não é um fantasma desaparecido e remoto, mas o rosto humano do Deus criador e salvador que todos podem e querem para dar sentido à vida e à morte?”. Há muitas respostas, muitas vezes conflitantes.

Para aquele pouco que conta, depois de décadas de experiência eclesial, também eu teria as minhas respostas. Eu, por exemplo diria que a condicional é obrigatória porque nada e ninguém me assegura ter vislumbrado a via adequada. Não correria talvez a o risco de ser como o cego do Evangelho, aquele que quer guiar outros cegos, acabando todos no mesmo abismo? Assim, certas escolhas pastorais do “Bispo de Roma”, como ele prefere ser chamado, convencem-me; mas outras me deixam perplexo, pois me parecem pouco oportunas, talvez suspeitas de um populismo capaz de obter um interesse tão vasto como superficial e efêmero. Eu teria que observar algumas coisas sobre as prioridades e conteúdos, na esperança de um apostolado mais fecundo. Eu teria pensado no condicional, repito, como exige uma perspectiva de fé, onde qualquer pessoa, mesmo um leigo (como estabelece o código canônico), pode expressar seus pensamentos, desde que de modo pacato e motivado sobre as táticas de evangelização. Mas deixando ao homem que saiu vestido de branco do Conclave a estratégia geral e, acima de tudo, a custódia do “depósito da fé”.

Em qualquer caso, não esquecendo de que foi o próprio Francisco que lembrou em seu duro discurso à Cúria: é fácil, disse ele, criticar os sacerdotes, mas quantos estão orando por eles? Querendo também recordar que ele, na Terra, é o “primeiro” entre os sacerdotes. E, assim, pedindo, a quem critica, aquelas orações que o mundo zomba, mas que guiam em segredo o destino da Igreja e do mundo inteiro.

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Apoio ao Papa Francisco contra um nostálgico escritor

Leonardo Boff, teólogo brasileiro – 27 de dezembro de 2014

Um pouco por todas as partes surge forte oposição ao Papa Francisco, ao  seu modo pastoral, aberto, ecumênico e claramente posicionado ao lado dos pobres e sofredores deste mundo. Isso ocorre dentro da Cúria Romana, com cardeais e outros prelados, e em geral em certos grupos mais conservadores do catolicismo italiano e também brasileiro. Pressionado por esses grupos, o conhecido convertido e escritor Vittorio Messori publicou, exatamente na noite de Natal, um artigo critico sobre o modo do Papa exercer seu ministério. No meu modo de ver, não podemos deixar agredida uma fonte de esperança e de alegria que o Papa Francisco, bispo de Roma e Pastor universal, trouxe para uma Igreja altamente desmoralizada e para o mundo sem condução de líderes com envergadura moral e de liderança confiável. Aqui vai a minha resposta ao escritor, na esperança de que o diário Corriere della Sera a possa publicar. Brevemente o artigo aparecerá em português, pois o escrevi diretamente em italiano:

Eu li com um pouco de tristeza o artigo crítico de Vittorio Messori no Corriere della Sera, exatamente no dia menos adequado: a feliz noite de véspera de Natal, festa de alegria e de luz. Ele tentou estragar essa alegria para o bom pastor de Roma e do mundo, o Papa Francisco. Mas em vão, pois não sabe o significado da misericórdia e da espiritualidade deste Papa, virtude que seguramente não demonstra Messori. Por trás de palavras de compaixão e compreensão traz um veneno. E o faz em nome de tantos outros que se escondem por trás dele e não têm coragem de aparecer em público.

Eu quero propor uma outra leitura do papa Francisco, como um contraponto à de Messori, um convertido que, na minha opinião, ainda precisa completar sua conversão com a recepção do Espírito Santo, para não dizer mais as coisas que escreveu.

Messori demonstra três insuficiências: duas de natureza teológica e uma outra que diz respeito à compreensão da Igreja do Terceiro Mundo.

Messori ficou escandalizado com a “imprevisibilidade” deste pastor porque “continua perturbando a tranquilidade do católico médio”. É necessário perguntar-se sobre a qualidade de fé deste “católico médio” que tem dificuldade em aceitar um pastor que tem cheiro de ovelha e que anuncia a “alegria do Evangelho”. São geralmente “católicos culturais” habituados à figura faraônica de um Papa com todos os símbolos de poder dos imperadores romanos pagãos. Agora aparece um Papa “franciscano” que ama os pobres, que não “veste Prada”, que faz uma dura crítica ao sistema que produz a miséria em grande parte do mundo, que abre a Igreja não só aos católicos, mas a todos aqueles que carregam o nome de “homens e mulheres”, sem julgá-los, mas acolhendo-os no espírito da “revolução da ternura”, como ele pediu aos bispos da América Latina que se reuniram no ano passado no Rio.

Há uma grande lacuna no pensamento de Messori. Estas são as duas deficiências teologais: a quase ausência do Espírito Santo. Eu diria mais, ele incorre no erro teológico do cristomonismo, isto é, somente Cristo conta. Não há realmente um lugar para o Espírito Santo. Tudo na Igreja se resolve só com Cristo, algo que o Jesus dos Evangelhos exatamente não quer. Por que digo isso?  Porque o que ele deplora é a “imprevisibilidade” da ação pastoral deste Papa. Ou melhor, esta é a característica do Espírito, sua imprevisibilidade, como diz São João: “O espirito sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; “(3.8). A sua natureza é a irrupção repentina com os seus dons e carismas. Francisco de Roma seguindo os passos de São Francisco de Assis se deixa conduzir pelo Espírito.

Messori é refém de uma visão linear própria de seu ““amado Joseph Ratzinger” e de tantos outros papas anteriores. Infelizmente, foi esta visão linear que fez da Igreja uma fortaleza incapaz de compreender a complexidade do mundo moderno, isolada em meio a outras igrejas e caminhos espirituais, sem dialogar e  sem aprender com os outros que também são iluminados pelo Espírito. Significa blasfemar contra o Espírito Santo pensar que os outros pensam só de modo errado. Por isso é extremamente importante uma Igreja aberta como o quer Francisco de Roma. Para perceber as irrupções  do Espírito na história. Não é sem motivo que alguns teólogos o chamam a “ fantasia de Deus”,  por causa de sua criatividade e novidade na sociedade, no mundo, na história dos povos, nos indivíduos, nas igrejas e até mesmo na Igreja Católica.

Sem o Espírito Santo, a Igreja torna-se uma instituição pesada, sem graça, sem criatividade e, em certo ponto, que não tem nada a dizer ao mundo que não seja doutrina encima de doutrina, sem despertar a esperança e a alegria de viver.

É um dom do Espírito Santo que este Papa venha  de fora do velho cristianismo europeu. Não aparece como um teólogo sutil, mas como um pastor que realiza o que Jesus pediu a Pedro: “confirma seus irmãos na fé” (Lc 22:31). Traz consigo a experiência das igrejas do Terceiro Mundo, especialmente, as da América Latina.

Esta é uma outra falha de Messori: não ter a dimensão do fato de que hoje o cristianismo é uma religião do Terceiro Mundo, como enfatizou muitas vezes o teólogo alemão Johan Baptist Metz. Na Europa vivem apenas 25% dos católicos; o resto dos 72,56% vive no Terceiro Mundo (na América Latina 48,75%). Por que não poderia vir desta maioria um que o Espírito fez bispo de Roma e Papa universal? Por que não aceitar as inovações que derivam dessas igrejas, que já não são igrejas-imagens das velhas igrejas europeias, mas igrejas-emergentes com seus próprios mártires, confessores e teólogos?

Talvez no futuro, a sede do Primado não será mais Roma e a Cúria, com todas as suas contradições, denunciados pelo Papa Francisco na reunião de Cardeais e prelados da Cúria com palavras só ouvidas da boca de Lutero e com menos força em meu livro condenado por card. J. Ratzinger “Igreja: Carisma e Poder” (1984), mas sim lá onde vive a maioria dos católicos: na América, África ou Ásia. Seria um sinal próprio da verdadeira catolicidade da Igreja no processo de globalização do fenômeno humano.

Eu esperava uma maior inteligência e abertura por parte de Vittorio Messori com os seus méritos de católico, fiel a uma espécie de Igreja e renomado escritor. Este Papa Francisco trouxe esperança e alegria para tantos católicos e outros cristãos. Não percamos este dom do Espírito em função de uma mentalidade bastante negativa sobre ele.

Leonardo Boff

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A Boff e outros críticos que não leram

Tréplica de Vittorio Messori, Corriere della Sera, 05 de janeiro de 2015

Leonardo Boff,  líder da Teologia da libertação ao estilo brasileiro, aquela com uma referência mais explícita ao marxismo, depois dos confrontos como o então cardeal Joseph Ratzinger e depois das advertências de João Paulo II, declarou que a Igreja era inabitável e irreformável. Assim, ele abandonou o hábito franciscano e foi morar com um companheira. Mas a implosão do comunismo veio como uma surpresa e, como aconteceu com outros tantos, ele mudou do vermelho para o verde, passou para o ambientalismo mais dogmático, com aspectos de culto panteísta à mãe Terra. Continua, no entanto, celebrando sacramentos, com liturgias eucarísticas e batismais elaboradas por ele mesmo (onde não falta, como comenta-se, semelhanças à new age) com o conhecimento do episcopado brasileiro. Em uma entrevista que apareceu há um ano no Vatican Insider, ele afirmou não apenas ter um bom relacionamento com o Papa Francisco desde seus tempos na Argentina como arcebispo, mas de colaborar com ele em questões ambientalistas, tendo em vista a encíclica “verde” anunciada pelo Bispo de Roma e, ao que parece, sugerida por ele próprio.

Dizemos isto porque, neste firme admirador de Jorge Bergoglio, parece haver muito pouco da ternura, do acolhimento, do respeito pelos outros e da indulgente misericórdia pregada com tanta paixão pelo Papa Francisco. Seus comentários, publicados ontem por este jornal, sobre o meu artigo de 24 de dezembro, não têm nada das boas maneiras que Bergoglio exige no trato com todos, mesmo com os adversários. O ex-padre Leonardo me atribui “grandes lacunas no pensamento,” escassa inteligência, ignorância, chamando-me até mesmo de mal convertido, que ao atingir uma “respeitável idade, deveria finalmente completar o processo de conversão”. Ele chega ao ponto de me lançar na cara algo que para ele deve soar como uma pesada acusação, mas que pra mim é um grande elogio, ao me chamar de “cristomonista”. Eu não sei bem o que isso significa, mas pelo que dá pra intuir não me desagrada, pelo contrário, me deixa muito lisonjeado.

No entanto, nenhuma surpresa: ao escrever coisas que não agradam a todos, eu sei bem como reagem na prática esses edificantes intelectuais (muitas vezes religiosos) que, de fato, do diálogo gostariam de fazer uma espécie de religião. Mas não, não é isso que chama a atenção. O que me deixa amargurado é que Boff parece não ter lido direito tudo o que eu escrevi: talvez seja por causa do imperfeito conhecimento da língua italiana, talvez a pressa, talvez o preconceito ideológico, o fato é que a reação dele, tão veemente quanto confusa, pouco ou nada tem a ver com o que eu realmente disse. O exemplo mais marcante é a acusação de eu ter quase ignorado o Espírito Santo. Na verdade, a referência ao Paráclito é o elemento central do meu discurso, onde eu recordo que nada compreenderemos do Papado se não nos referirmos à ação livre e inescrutável do Espírito. Deixe-me dizer que no desconcertante debate suscitado por meu artigo, muitos outros críticos julgaram irrelevante centralizar-se no verdadeiro conteúdo: ao ler com os óculos da ideologia, atacaram um texto existente apenas em seus prévios esquemas, talvez mais políticos do que religiosos.

Mas, voltando a Leonardo Boff, acontece que em um desses sites mais frequentados pelos católicos, La Nuova Bussola Quotidiana, saiu a análise de um teólogo profissional justamente sobre o artigo publicado ontem pelo Corriere, depois de ter circulado por muitos dias na rede. O teólogo é Monsenhor Antonio Livi, que há muitos anos é professor na Universidade dos Papas, a Lateranense, conhecido internacionalmente por seus estudos, pela originalidade de seu pensamento e por suas iniciativas acadêmicas e editoriais. Este estudioso, muito respeitado no Vaticano, não hesitou em denunciar que “as críticas violentas e insanas contra Messori por parte de um ex-religioso que se apresenta como teólogo, representam a suma de todos os disparates dos ideólogos da teologia da libertação”. Esse especialista de autoridade reforça: “Boff se arroga o direito exclusivo de interpretar o que o Espírito quer da Igreja e atribui a si a infalibilidade que ele nega ao  Magistério”. O ex-franciscano – diz ainda Monsenhor Livi – parece ignorar que um verdadeiro teólogo nunca toma como verdade divina suas arbitrárias conjecturas” . E assim por diante.

Em suma, todos os críticos devem ser levados a sério, mas nem todos devem ser tomados ao pé da letra. Creio que esse último caso é o do eco-teólogo brasileiro.

Dilma + Boff + Betto = “As bruxas de Eastwick”.

Do post do blog de Reinaldo Azevedo, que merece ser lido na íntegra:

Ai, ai… Lá vamos nós. A presidente Dilma Rousseff decidiu receber nesta quarta dois representantes do próprio hospício mental para tratar, segundo entendi, de tema nenhum, numa evidência de que a suprema mandatária pode andar meio desocupada. Leonardo Boff, suspeito de ser teólogo, e Betto, suspeito de ser frei, estiveram com a governanta. O encontro acontece um dia depois de a dupla ter assinado um dito “manifesto de intelectuais petistas” contra a indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para, respectivamente, os ministérios da Fazenda e da Agricultura. Hein? […]

Dilma decidiu dar trela a essa gente. É bem provável que não tenha se aproximado da janela em nenhum momento, né? Não custa ser precavido. Ah, sim: Boff, o audacioso, disse não ter debatido nomes de ministros com a presidente. Que bom, né? Afinal, ninguém o elegeu para isso. Ainda que essas duas personagens tenham um apelo, digamos, momesco, ao recebê-las com certa solenidade, Dilma exibe sinais preocupantes, como se estivesse a purgar os pecados do realismo, ajoelhando-se no altar de heresias delirantes.

Teologia da Libertação e PT, união indissolúvel.

O esquerdismo da teologia da libertação é obstinado: sua perfídia em apoiar Dilma, quando toda a nação começa a se manifestar contra o escândalo de um governo ditatorial e corrupto, é imperdoável, sobretudo no impasse que estamos vivendo. Graças a esta confissão explícita de fé socialista-petista, Marina Silva, desgraçadamente, pode ganhar as eleições, quando a Igreja deveria se unir para derrubá-la, tratando o mal pela raiz!

Foi graças à Teologia da Libertação que o PT chegou ao poder, e é graças à ela que esta sua filha, Marina, está às portas de alcançá-lo. Esses senhores, ao invés de continuarem professando estes mesmos erros, deveriam fazer uma pública declaração de culpa e se arrependerem de sua dureza de coração. Não arrancando o mal pela raiz, estão ainda promovendo as duas filhas de Lula.

Não somos daqueles que crêem que uma vitória de Aécio traria uma reviravolta positiva para a nação. Contudo, tratando-se de uma eleição entre três candidatos péssimos, deveria-se escolher aquele que destruirá a nação menos rapidamente, e que nos possibilitará alguma margem de contorno.

Parece mesmo que Deus está castigando a Igreja do Brasil, primeiro, enviando pastores que entregam suas ovelhas aos lobos, e, segundo, permitindo que uma presidente socialista, eco-protestante-fundamentalista e auto-suficiente chegue ao mais alto posto de comando do país, sob uma áurea pseudo-mística.

Deus tenha misericórdia da Igreja, Deus salve o Brasil!

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Leonardo Boff avalia Dilma, Marina e eleições 2014

Para Leonardo Boff, “Dilma é ainda a melhor opção para o povo brasileiro”. O filósofo, que foi professor de Marina Silva, também avaliou as principais mudanças de sua ex-aluna desde que a conheceu, no Acre, até agora, candidata à Presidência da República

Líder religioso, intelectual e militante de causas sociais, Leonardo Boff acredita que a presidente Dilma Rousseff (PT) “é a melhor opção para o povo brasileiro”. Ao explicar sua resposta, ele afirma que “os fatos falam por si”. “Até hoje nenhum governo fez políticas públicas cuja centralidade era o povo marginalizado, os invisíveis, considerados óleo gasto e zeros econômicos”, avalia. Quem fez isso com sucesso deve poder continuar a fazê-lo e de forma mais profunda e abrangente”, acrescenta Boff.

Leonardo Boff, Dilma e Marina (Pragmatismo Político)
Leonardo Boff, Dilma e Marina (Pragmatismo Político)

Em entrevista concedida ao jornalista Paulo Moreira Leite (leia a íntegra aqui), ele constata haver “um mal estar generalizado no mundo”. “Todos têm a sensação de que assim como o mundo está não pode continuar. Tem que haver mudanças”, ressalta, reforçando o que diz as pesquisas, segundo as quais mais de 70% da população desejam mudanças no País, e justificando a causa das manifestações de junho, de que o brasileiro quer mais do que já consegue hoje.

“Há ainda um fator novo: as políticas públicas do PT que tiraram 36 milhões da pobreza foram incorporadas como coisa natural, um direito do cidadão. Ora, o cidadão não tem apenas fome de pão, de casa, de luz elétrica. Tem outras fomes: de ensino, de cultura, de transporte minimamente digno, de saúde razoável e de lazer. A falta de tais coisas suscita uma insatisfação generalizada que faz com que esta eleição de 2014 seja diferente de todas as anteriores e a mais difícil para o PT. Precisamos de mudança. Mas dentre os partidos que podem fazer mudanças na linha do povo, apenas vejo o PT, desde que consolide o que fez e avance e aprofunde as mudanças novas atendendo as demandas da rua. Dilma é ainda a melhor para o povo brasileiro”.

Questionado a avaliar a mudança de Marina Silva desde que a conheceu, no Acre, quando foi sua aluna, até 2014, quando se candidata à Presidência da República pelo PSB, Boff observa, como primeiro ponto, a mudança de religião. “De um cristianismo de libertação, ligado aos povos da floresta e aos pobres, passou para um cristianismo fundamentalista que tira o vigor do engajamento e se basta com orações e leituras literalistas da Bíblia”.

Para Boff, a candidatura da ex-senadora “representa uma volta ao velho e ao atrasado da política, ligada aos bancos e ao sistema financeiro. Seu discurso de sustentabilidade se tornou apenas retórico”. Em sua visão, Marina não possui a habilidade de articulação. “Se vencer, oxalá não tenha o mesmo destino político que teve Collor de Mello”, prevê. Na entrevista, ele comenta ainda sobre o pessimismo generalizado no País – “grande parte induzido por aqueles que querem a todo custo e por todos os meios tirar o PT do poder” – e dá sua opinião sobre a mídia: “hoje, com a oposição fraca, eles se constituíram a grande oposição ao governo do PT”.

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Bispo de Jales teme fundamentalismo de Marina.

No último sábado, Dilma Rousseff foi recebida pelo Bispo de Jales, Dom Demétrio Valentini. Ontem o bispo pagou a visita, em entrevista para o jornal Valor Econômico, atacando Marina Silva. O Brasil vivendo uma guerra religiosa. Pobre país!

Dilma e Dom Demétrio Valentini
Dilma e Dom Demétrio Valentini
A possível vitória na eleição presidencial da ex-ministra Marina Silva (PSB), uma evangélica da Assembleia de Deus, já reaproximou a presidente Dilma Rousseff (PT) da ala progressista da Igreja Católica. O clima, entretanto, é de pessimismo e a relação com a petista ainda é fria, como demonstra em entrevista ao Valor Pro o bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentini.
 
O prelado recebeu Dilma em sua diocese no último sábado, quando a presidente foi ao interior paulista para um encontro com o PMDB. Dom Demétrio é integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), instituído pela Presidência da República e que poucas vezes se reuniu no governo Dilma. O bispo se manifestou no mesmo dia em que outro expoente do pensamento progressista católico, o ex-frei Leonardo Boff, chamou Marina de “Jânio de saias”, em entrevista ao portal Brasil 247. A seguir, a entrevista concedida por dom Demétrio, por telefone, ao Valor:
 
Valor: Marina Silva é a primeira política pertencente a outra religião com chances concretas de se eleger presidente da República. Que tipo de efeito essa circunstância pode gerar para a Igreja Católica e para a sociedade brasileira?
Dom Demétrio Valentini: Caso ela seja eleita, a Marina também será a primeira governante egressa das antigas Comunidades Eclesiais de Base. Ela tem origem católica, ingressou na vida social pela sua origem católica. Agora, a gente tem medo do fundamentalismo que ela pode proporcionar. Existe na Marina uma tendência ao radicalismo, pela convicção exagerada ao defender seus valores e suas motivações, que pode derivar para o fundamentalismo.
 
Valor: O que seria este fundamentalismo?
Valentini: É o risco de fazer da religiosidade um instrumento de ação política. No Brasil, cada igreja evangélica tem seu candidato. No caso da Igreja Católica, isto é de um tempo anterior ao Concílio, isto acabou.
 
Valor: O que o senhor sente entre os fiéis da comunidade católica de Jales?
Valentini: Sinto um somatório de fatores favoráveis a Marina. A comoção pelo desastre que vitimou Eduardo Campos, a vontade de se ter algo diferente, o desejo de mudança. Estou intuindo que a situação é irreversível. A não ser que haja uma reviravolta em que comecem a pesar as fragilidades de Marina, que não estão no fato de ela não ser católica. Estão em ela ter pouca articulação política e portanto existirem dúvidas sobre como ela vai governar.
 
Valor: Surpreendeu ao senhor o fato da presidente Dilma o ter procurado?
Valentini: A você surpreendeu? Dilma foi bastante reticente com as instituições que fazem a intermediação política da sociedade. Ela não estabeleceu muitas pontes, mas comigo se sentiu acolhida, as portas para ela ficaram abertas. Em 2010 eu escrevi um artigo rebatendo posições dentro da Igreja contrárias à sua eleição. Aquilo foi importante, porque havia manifestações na hierarquia católica contra o voto em Dilma. Restaurou-se um ambiente de confiança no equilíbrio político da CNBB. Foi há quase quatro anos. Ela sabia que estava me devendo um gesto e lembrou aqui deste episódio. Para mim, todos os candidatos merecem apoio. Um candidato está sujeito a muitas ciladas, é uma posição extremamente difícil.
 
Valor: Por que o senhor diz que ela não estabeleceu pontes?
Valentini: A Dilma tem um estilo mais autoritário, ela pouco nos convocou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o fazia com muita frequência. Em 2005, quando estourou a crise do mensalão, ele convocou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o ‘Conselhão’. Era um momento em que a possibilidade de ‘impeachment’ era muito palpável. Pediram que eu abrisse a reunião, que fosse um dos três conselheiros a falar antes do presidente e eu fiz uma manifestação a favor da continuidade do governo. Dilma delegou a terceiros certas formalidades. Ela se sente muito segura em suas posições e acha que pode prescindir de certos contatos, tem um temperamento fechado. Quem se manteve firme no diálogo foi o ministro Gilberto Carvalho (da Secretaria Geral da Presidência).
 
Valor: A eleição de um novo papa no ano passado facilitou o diálogo do governo com a Igreja?
Valentini: Dilma ao chegar aqui viu o retrato do papa Francisco e falou: ‘Agora temos um papa que nos apoia”. Ela também viu o retrato do papa emérito Bento XVI. Nós tivemos no Brasil aquela circunstância dos protestos populares de junho e para Francisco foi um desafio vir ao Brasil logo depois. Ele esconjurou o temor de que iríamos para o caos e mostrou que existe uma juventude que está disposta a colaborar, a construir algo. Construiu-se um ambiente de respeito ao papa que vai muito além das fronteiras da Igreja.
 
Valor: Mas Dilma está certa em achar que Francisco a apoia e Bento XVI não o fazia?
Valentini: Não há porque fazer esta comparação e Dilma não a fez. Mas Francisco motivou a Igreja para ser mais aberta, a dialogar com setores que estão fora.

Boff está tristinho.

Encíclica Lumen Fidei não agradou ao pajé-mor da Teologia da Libertação. A seguir, publicamos a análise divulgada em seu blog. Os destaques são nossos; os erros de português, dele.

Primeiras impressões sobre a encíclica Lumen Fidei

A Carta Encíclica Lumen Fidei vem como autoria do Papa Francisco. Mas notoriamente foi escrita pelo Papa anterior, agora emérito, Bento XVI. Confessa-o claramente  o Papa Francisco: “assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto alguma nova contribuição”(n.7). E assim deveria ser, pois caso contrário não teria a nota do magistério papal. Seria apenas um texto teológico de alguém que, um dia, foi Papa.

Bento XVI queria escrever uma trilogia sobre as virtudes cardeais. Escreveu sobre a esperança e o amor. Mas faltava sobre a fé, o que fez agora com pequenos complementos do Papa Francisco.

A Encíclia não traz nenhuma novidade espetacular que chamasse a atenção da comunidade teológica, do conjunto dos fiéis e do grande publico. É um texto de alta teologia, rebuscado no estilo e carregado de citações bíblicas e dos Santos Padres. Curiosamente cita autores da cultura ocidental como Dante, Buber, Dostoiewsky, Nietzsche, Wittgensstein, Romano Guardini e o poeta Thomas Eliot. Vê-se claramente a mão de Bento XVI, especialmente, em discussões refinadas de difícil compreensão até para os teólogos, manejando expressões  gregas e hebraicas, com soe fazer um doutor e mestre.

É um texto dirigido para dentro da Igreja. Fala da luz da fé  para quem já se encontra dentro no mundo iluminado pela fé. Nesse sentido é uma reflexão intrasistêmica. Ademais possui uma diccção tipicamente ocidental e européia. No texto só falam autoridades européias. Não se toma em consideração o magistério das igrejas continentais com suas tradições, teologias, santos e testemunhos da fé. Cabe apontar esse solipsismo pois na Europa vivem apenas 24% dos católicos; o resto se encontra fora, 62% dos quais no assim chamado Terceiro e Quarto Mundo. Posso me imaginar um católico sulcoreano, ou indiano, ou angolano ou moçambicano ou mesmo um andino lendo esta Encíclica. Possivelmente todos estes entenderão muito pouco do que lá se escreve, nem se encontram espelhados naquele tipo de argumentação.

O fio teológico que perpassa a argumentação é típico do pensamento de Joseph Ratzinger como teólogo: a preponderância do tema da verdade, diria, de forma quase obsessiva. Em nome desta verdade, se contrapoõe frontalmente com a modernidade. Tem dificuldade em aceitar um dos temas mais caros do pensamento moderno: a autonomia do sujeito e o  uso que faz da luz da razão. J. Ratzinger a vê como uma forma de substituir a luz da fé.

Não demonstra aquela atitude tão aconselhada pelo Concílio Vaticano II que seria: nos confrontos com as tendências culturais, filosóficas e ideológicas contemporâneas, cabe primeiramente identificar a pepitas de verdade que nelas existem e a partir dai organizar o diálogo, a crítica e a complementariedade. Seria blasfemar contra o Espírito Santo imaginar que os modernos somente pensaram  falsidades e inverdades.

Para Ratzinger o próprio amor vem submetido à verdade, sem a qual não superaria o isolamento do “eu”(n.27). Contudo sabemos que o amor tem a suas próprias razões e obedece a outra lógica, diversa sem ser contrária, àquela da verdade. O amor pode não ver claramente, mas ve com mais profundidade  a realidade.  Já Agostinho na esteira de Platão dizia que só compreendemos verdadeiramente o que amamos. Para Ratzinger, o “amor é a experiência da verdade”(n.27) e “sem a verdade a fé não salva”(n.24).

Esta afirmação é problemática em termos teológicos pois toda a Tradição, especialmente, os Concílios tem afirmado que somente salva “aquela verdade, informada pela caridade”(fides caritate informata). Sem o amor a verdade é insuficiente para alcançar a salvação. Numa linguagem pedestre diria: o que salva não são prédicas verdadeiras mas práticas efetivas.

Todo documento do Magistério é feito por muitas mãos, tentando contemplar as várias tendências teológicas aceitáveis. No final o Papa confere o seu jeito e lhe dá o aval. Isso vale também para este documento. Na sua parte final, provavelmente, pela mão do Papa Francisco, nota-se uma notável abertura que se compagina mal com as partes anteriores, fortemente doutrinárias. Nelas se afirma enfaticamente que a luz da fé ilumina todas as dimensões da vida humana. Na parte final a atitude é mais modesta:”A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas é uma lâmpada que guia nossos passos na noite e isto basta para o caminho”(n.57). Com exatidão teológica se sustenta que “a profissão de fé não é prestar assentimento a um conjunto de verdades abstratas mas fazer a vida entrar em comunhão plena com o Deus vivo”(45).

A parte mais rica, no meu entender, se encontra no n. 45 quando se explana o Credo. Ai se faz uma afirmação que desborda a teologia e tangencia a filosofia:”o fiel afirma que o centro do ser, o coração mais profundo de todas as coisas é a comunhão divina”(n.45). E completa:”o Deus-comunhão é capaz de abraçar a história do homem e introduzi-lo no seu dinamismo de comunhão”(n. 45).

Mas se constata na Encíclia uma dolorosa lacuna que lhe subtrae grande parte da relevância: não aborda as crises da fé do homem de hoje, suas dúvidas, suas perguntas que nem a fé pode responder: Onde estava Deus no tsunami que dizimou milhares de vida ou  em Fukushima? Como crer depois dos massacres de milhares de indígenas feitos por cristãos ao longo de nossa história, dos milhares de torturados e assassinados pelas ditaduras militares dos anos 70-80? Como ainda ter fé depois dos milhões de mortos  nos campos nazistas de extermínio? A encíclica não oferece nenhum elemento para respondermos a estas angústias. Crer é sempre crer apesar de…A fé não elimina as dúvidas e as angústias de um Jesus que grita na cruz:”Pai, por que me abandonaste”? A fé tem que passar por este inferno e transformar-se em esperança de que para tudo existe um sentido,  mas escondido em Deus. Quando se revelará?

Boff e a sua obsessão por Lulas.

A notícia que publicamos a seguir foi divulgada em outubro último pelo grupo ACI. No entanto, a versão portuguesa da matéria omite uma informação interessante (que inserimos e destacamos em vermelho) que consta no artigo em espanhol. Não sabemos ao certo se o ser a que se refere Boff é aquele mesmo ídolo petista que se considera um “homem sem pecados”.

Leonardo Boff pede reinterpretação do cristianismo para salvar a “crucificada” Mãe Terra

boff[1]BRASILIA, 23 Out. 12 / 07:27 pm (ACI).- Leonardo Boff, considerado um dos principais impulsores da teologia marxista da libertação (TML), pediu reinterpretar o cristianismo para ajudar a “Mãe Terra” que “está crucificada” e é nossa tarefa tirá-la da cruz, como os teólogos da libertação “fizemos durante décadas com os pobres”.

Boff, que na década de 90 abandonou o sacerdócio, casou-se com uma mulher divorciada, e se afastou da Igreja Católica para converter-se no que ele chama um “ecoteólogo de matriz católica” dedicado a escrever livros sobre ecologia e temas alheios ou contrários à doutrina católica, afirmou em uma recente palestra que o grito da terra é o grito dos pobres e o grito dos pobres é o grito da terra, nossa Mãe Terra.

A reinvidicação do ex-franciscano ocorreu no marco do Congresso Continental de Teologia, realizado em São Leopoldo (RS) na universidade jesuíta UNISINOS entre os dias 7 a 11 deste mês com a intenção de equiparar o Concílio Vaticano II com a teologia marxista da libertação. Leonardo Boff assegurou que a “marca registrada” desta vertente de teologia, condenada em seguidas ocasiões pela Igreja, é “a opção pelos pobres, contra a miséria e a opressão”.

“Dentro dessa opção pelos pobres é preciso colocar o grande pobre que é a Mãe Terra, que é a Pachamama, a Magna Mater, a Tonantzin, a Gaia, é o grande pobre devastado e oprimido”, afirmou.

Para Boff, “este organismo que chamamos Terra e do qual formamos parte” pode, em qualquer momento, “expulsar-nos como se fôssemos células cancerígenas”.

Segundo o “ecoteólogo”, a “Mãe Terra” estaria preparando um novo ser capaz de “suportar o espírito” [que não seria outro que não uma lula gigante]. Citando outro conhecido promotor da teologia marxista da libertação, sancionado pela Congregação para a Doutrina da Fé, Jon Sobrino, Leonardo Boff sublinhou que “esta terra crucificada, deverá descer da Cruz, é preciso ressuscitá-la e esta é a tarefa de uma eco-teologia da libertação”.

“A teologia da libertação nasceu escutando e explicando o grito dos pobres, mas não só os pobres gritam, gritam as águas, gritam as árvores, gritam os animais, gritam os ventos, a terra grita”, disse. Segundo Boff, “o universo é autoconsciente”, tem um propósito, e a Terra “começou a pensar, sentir e amar”.

O autor disse ainda que a trindade deve ser entendida como “a grande energia fundamental”, e que trindade significa “comunhão e relações inclusivas de todos com todos”.

Boff pediu também que o conceito de Revelação seja revisado, afirmando que houve muitas manifestações de Deus na história, por isso deve-se deixar de buscar que outros se convertam ao cristianismo.

“Deus chega sempre antes dos missionários e sempre atua antes que os missionários”, assinalou.

Para o defensor da TML, o cristianismo, vai além das “margens estreitas do catolicismo atual” e que para sobreviver necessita reformular-se e entrar em harmonia com a “Mãe Terra”.

Entre os participantes no evento também se encontrava o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, considerando o pai da teologia marxista da libertação, Jon Sobrino, e o Bispo de Jales (SP), Luiz Demétrio Valentini, entre outros teólogos sancionados mais de uma vez pela Igreja.

Teologia da Libertação: o congresso no Brasil que preocupa o Vaticano.

Será de 7 a 11 de outubro, com o pretexto de recordar o Concílio Vaticano II. Embora, na realidade, será uma oportunidade para afinar a agenda do “progressismo católico”.

Por Andrés Beltramo Álvarez | Tradução: Fratres in Unum.com

O teólogo Leonardo Boff.
O teólogo Leonardo Boff.

A Teologia da Libertação de corte marxista não está morta na América Latina. Embora suas teses e slogans tenham evoluído, escondem os mesmos objetivos de sempre: demolir o “pensamento único romano” e propor “outra igreja possível”. Seus expoentes mais polêmicos se reunirão de 7 a 11 de outubro no Brasil com o pretexto de recordar o Concílio Vaticano II. Embora, na realidade, será uma oportunidade para afinar a agenda do “progressismo católico”.

Acendeu-se o sinal de alerta na Santa Sé, e não é para menos. O Congresso Continental de Teologia, que será acolhido pelo Instituto Humanitas Unisinos, da Companhia de Jesus, na cidade brasileira de São Leopoldo, pretende também celebrar os 40 anos do livro de Gustavo Gutiérrez “Teologia da Libertação. Perspectivas”. Um texto que foi corrigido em muitas passagens a pedido da Congregação para a Doutrina da Fé.

Entre os oradores se destacam Jon Sobrino e Leonardo Boff, sobre os quais se mantêm vigentes as sanções eclesiásticas por difundir doutrinas contrárias ao magistério da Igreja. Mas também outros teólogos de duvidosa ortodoxia como Andrés Torres Queiruga, quem — no último mês de março — foi convidado pelos bispos espanhóis a esclarecer o seu pensamento que, em vários aspectos, não pode ser considerado católico.

Embora os organizadores tenham se empenhado em afirmar que o congresso não busca provocar um “duelo teológico” com o Vaticano, na prática será assim. Porque ele terá início no mesmo dia da abertura do Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre a Nova Evangelização, durante o qual Bento XVI abrirá o Ano da Fé, em uma cerimônia pelos 50 anos do Concílio.

Neste contexto, o encontro da Unisinos reforçará ainda mais o seu caráter dissidente. Não só por uma questão de datas coincidentes, mas, especialmente, pelos assuntos sobre os quais girarão as discussões desses dias.

A Fundação Amerindia, entidade organizadora, incluiu na programação os temas mais defendidos pelos movimentos radicais da esquerda: desde a ideologia de gênero até os direitos humanos, da justiça à migração, da miscigenação até a “releitura libertadora da história latino-americana”, da economia e ecologia até os sistemas políticos emergentes.

Em que pese o discreto número de sacerdotes que assistirão aos trabalhos, não está programada nenhuma celebração religiosa. Não há previsão de missa, nem sequer ao domingo. Tampouco foi considerada uma cerimônia ecumênica. Apenas se reservou meia hora a um “momento de espiritualidade” dedicado, a cada dia, a uma situação distinta: a “entronização da Bíblia”, “o ecumenismo”, o “testemunho dos mártires”, e a “questão indígena”.

O movimento teológico que dará vida ao congresso continental é discreto em seus números e aguerrido em seus postulados. Nenhuma das quatro reuniões preparatórias ao congresso, realizadas em 2011 na Guatemala, México, Chile e Colombia superou a cifra de 300 assistentes. O resultado das mesmas é uma prova das idéias que irão se impor em São Leopoldo.

Por exemplo, na Guatemala, o sacerdote brasileiro Ermanno Alegri, coordenador da agência Adital, defendeu “a necessidade de elaborar uma agenda teológica para o futuro que leve a nos abrirmos a um Deus vivo e livre, contrário à visão de um Deus preso a dogmas, ritos, normas morais e patriarcalismos”. O jesuíta Sobrino esclareceu: “fora dos pobres não há salvação” e “a Igreja traiu Jesus Cristo”.

Em suma: o encontro do Brasil será uma mescla entre algumas idéias teológicas, pensamentos ecléticos diversos e propostas culturais heterogêneas com uma forte matriz política. Tudo acolhido por uma instituição católica, administrada por uma congregação religiosa cujo quarto voto é o de fidelidade ao Papa (os jesuítas).

Uma situação que preocupa a Cúria Romana. Como confirmou Boff através de sua conta no Twitter, em 14 de setembro: “Vejam a vontade persecutória do Vaticano: pressionam para queo Congresso sobre a Teol.da Lib.a se realizar em outubro no Sul não se realize. O Vaticano pensa que com os dois documentos(ruins)que escreveram sobre aTeol da Libertação a mataram e enterraram.Mas os oprimidos continuam. Enquanto houver um oprimido gritando vale se engajar por sua libertação,inspirados pelo Cristo Libertador.Só uma Igreja cínica se faz surda” [sic].

Extra, extra! Bom Velhinho condenado pela Igreja!

Corre o boato de que o senhor da foto, após se sentar na cadeira em que Galileu foi julgado e ter o seu livro « Igreja: Carisma e Poder » condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé, anda sentando em outras cadeiras, especificamente nos shoppings Brasil afora, como freelancer. Contam ainda que na fila para uma foto estão bispos, padres e religiosas (todos à paisana, claro), afinal, eles são os únicos que ainda acreditam em Papai Noel.

Aplaudido, Boff critica os últimos papas.

O professor e teólogo Leonardo Boff eletrizou o auditório do congresso ao relembrar a história da Teologia da Libertação, em uma palestra sobre os 40 anos de atuação do movimento de esquerda que revolucionou a Igreja Católica no Brasil e na América Latina.

Os 360 participantes aplaudiram de pé quando Boff e seu colega, padre João Batista Libânio, afirmaram que a Teologia da Libertação continua viva e presente nos movimentos sociais, apesar de ter sido “incompreendida, difamada, perseguida e condenada pelos poderes deste mundo”, civis e eclesiásticos.

A prova, segundo Boff, são o Partido dos Trabalhadores, o Movimento dos Sem-Terra, o Conselho Indigenista Missionário, a Comissão Pastoral da Terra e outras pastorais.

“Nunca, na história do cristianismo, os pobres ganharam tanta centralidade”, disse o ex-frade franciscano, que abandonou o convento e o ministério sacerdotal, mas não perdeu a fé nem deixou de ser teólogo, após ter sido punido pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, atualmente papa Bento XVI, após a publicação do livro Igreja, Carisma e Poder, de 1981.

Boff afirmou que João Paulo II e Bento XVI tentaram barrar a Teologia da Libertação. “Ratzinger entrará na história como inimigo dos pobres”, disse. “A teologia se inspira no Cristo libertador e não no marxismo, que já morreu”, advertiu. “Marx não foi pai nem padrinho da Teologia da Libertação.”