… alegra-me dizer que me opus desde o começo a um grande mal. Durante trinta, quarenta, cinquenta anos, resisti com o melhor de minhas forças ao espírito do liberalismo na religião. Nunca a Santa Igreja necessitou de defensores contra ele mais urgentemente que agora, quando infelizmente é um erro que se expande como uma armadilha por toda a terra! E nesta ocasião, em que é natural, para quem está em meu lugar, considerar o mundo e olhar a Santa Igreja tal como está, e seu futuro, espero que não seja considerado fora de lugar se renovar o protesto que fiz tão frequentemente.
O liberalismo religioso é a doutrina que afirma que não há nenhuma verdade positiva na religião, que um credo é tão bom quanto outro, e este é o ensinamento que vai ganhando solidez e força diariamente. É incongruente com qualquer reconhecimento de qualquer religião como verdadeira. Ensina que todas devem ser toleradas, pois todas são matéria de opinião. A religião revelada não é uma verdade, mas um sentimento ou gosto; não é um fato objetivo nem milagroso, e está no direito de cada indivíduo fazer dizer tão somente o que impressiona sua fantasia. A devoção não está necessariamente fundada na fé. Os homens podem ir a igrejas protestantes e católicas, podem aproveitar de ambas e não pertencer a nenhuma. Podem se confraternizar juntos com pensamentos e sentimentos espirituais sem ter nenhuma doutrina em comum, ou sem ver a necessidade de tê-la. Se, pois, a religião é uma peculiaridade tão pessoal e uma posse tão privada, devemos ignorá-la necessariamente nas inter-relações dos homens entre si. Se alguém sustenta uma nova religião a cada manhã, a ti o que importa? É tão impertinente pensar sobre a religião de um homem como sobre seus rendimentos ou o governo de sua família. A religião em nenhum esntido é o vínculo da sociedade.
O caráter geral desta grande apostasia é um e o mesmo em todas as partes, mas em detalhe, e em caráter, varia nos diferentes países…”
Liberalismo
Newman precursor do Concílio? Nem tanto.
(IHU) Na manhã deste domingo, Bento XVI esteve no Cofton Park (Birmingham), onde celebrou a missa pela beatificação do cardeal John Henry Newman.
A nota é de Paolo Rodari, publicada em seu blog Palazzo Apostolico, 19-09-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Às 12h, em Rendal, ele recitou o Ângelus. Depois, à tarde, o encontro com os bispos da Inglaterra e da Escócia e, por fim, a cerimônia de despedida no aeroporto de Birmingham.
Parece-me que no sábado o Papa disse as coisas mais importantes sobre Newman.
Há décadas, está em curso uma dura batalha sobre quem Newman é verdadeiramente para a Igreja. Um precursor do Concílio? Um seguidor da livre consciência e de um certo liberalismo eclesial? Um inspirador de um ecumenismo fundamentado no diálogo sem a meta última do retorno de todos os cristãos em plena comunhão com Roma? Ou foi outro? Ou foi um grande defensor de uma fé que encontra um fundamento seu na razão, de uma fé que, ainda na consciência corretamente inspirada, redescobre as verdades que pretende seguir?
No sábado, o Papa afugentou todo equívoco.
Disse Bento XVI: “Newman descreveu seu próprio trabalho como uma luta contra a tendência crescente a considerar a religião como um fato puramente privado e subjetivo, uma questão de opinião pessoal. Aqui, está a primeira lição que podemos apreender da sua vida: nos nossos dias, quando um relativismo intelectual e moral ameaça enfraquecer os próprios fundamentos da nossa sociedade, Newman nos lembra que, como homens e mulheres criados à imagem e semelhança de Deus, fomos criados para conhecer a verdade, para encontrar nela a nossa liberdade definitiva e a realização das mais profundas aspirações humanas. Em uma palavra, fomos pensados para conhecer Cristo, Ele mesmo o caminho, a verdade e a vida”.
Se há algo que Newman combateu foi toda modalidade de viver a religião de modo privado. Toda modalidade de relativismo e liberalismo religioso.
Disse depois o Papa: “A existência de Newman, além disso, nos ensina que a paixão pela verdade, pela honesta intelectualidade e pela conversão genuína comportam um grande preço a ser pago. A verdade que nos torna livres não pode ser retida por nós mesmos. Exige o testemunho, precisa ser ouvida, e, no fundo, o seu poder de convencer vem dela mesma e não de uma eloquência humana ou dos raciocínios nos quais pode ser acomodada. Não longe daqui, em Tyburn, um grande número de nossos irmãos e irmãs morreram pela fé. O testemunho da sua fidelidade até o fim foi bem mais poderoso do que as palavras inspiradas que muitos deles disseram antes de abandonar tudo pelo Senhor. Na nossa época, o preço a ser pago pela fidelidade ao Evangelho não é tanto o de ser enforcado, afogado ou esquartejado, mas muitas vezes significa ser apontado como irrelevantes, ridicularizados ou marcados como sinais de paródia. Porém, a Igreja não se pode eximir do deve de proclamar Cristo e o seu Evangelho como verdade salvífica, a fonte da nossa felicidade última como indivíduos e como fundamento de uma sociedade justa e humana”.
Newman nos ensina depois “a paixão pela verdade, pela honesta intelectual e pela conversão genuína comportam um grande preço a ser pago”. Ratzinger fala de “conversão genuína”. Newman se converteu. Voltou à comunhão com Roma. Não é talvez esse o sentido de um sadio ecumenismo? Neste domingo, o Papa também poderia ter falado disso. Mas, enquanto isso, no sábado, já deu a linha guia. Newman foi muitas coisas, mas certamente não um precursor do Concílio.
“Nos tempos modernos foi teorizada a liberdade do homem […] uma mentira ontológica, porque o homem não existe por si mesmo e para si mesmo”.
Cidade do Vaticano, 15 abr (RV) – O primado da obediência a Deus e o verdadeiro significado da penitência e do perdão na vida dos cristãos foram os temas que nortearam a homilia do Santo Padre na missa celebrada na manhã desta quinta-feira, na Capela Paulina, no Vaticano, com os membros da Pontifícia Comissão Bíblica.
Bento XVI ressaltou “o primado da obediência a Deus”, evocando as palavras de São Paulo diante do Sinédrio: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens”. “A obediência a Deus” dá a Pedro a liberdade de opor-se à suprema instituição religiosa.

Igualmente, Sócrates diante do Tribunal de Atenas – que lhe oferece a liberdade, desde que não mais busque a Deus – não obedece a esses julgamentos, comprar a sua vida perdendo a si mesmo, mas prefere obedecer a Deus. Obediência a Deus “que dá liberdade”. Pelo contrário, nos tempos modernos – observou o Pontífice – foi teorizada a liberdade do homem, inclusive a obediência a Deus: o homem seria livre, autônomo, e nada mais.
“Mas esta autonomia é uma mentira, uma mentira ontológica, porque o homem não existe por si mesmo e para si mesmo; é uma mentira política e prática, porque a colaboração e a partilha das liberdades são necessárias e se Deus não existe, se Deus não é uma instância acessível ao homem, permanece como suprema instância somente o consenso da maioria. O consenso da maioria torna-se a última palavra à qual devemos obedecer e esse consenso – o sabemos mediante a história do século passado – pode ser também um consenso no mal. Assim vemos que a chamada autonomia não liberta o homem.”
“As ditaduras sempre foram contra essa obediência a Deus”, ressaltou o Santo Padre.
“A ditadura nazista, como a marxista, não podem aceitar um Deus acima do poder ideológico, e a liberdade dos mártires, que reconhecem Deus… é sempre o ato da libertação, no qual a liberdade de Cristo chega a nós.”
Para os cristãos – acrescentou o Pontífice – obedecer mais a Deus do que aos homens, supõe, porém, conhecer verdadeiramente a Deus e querer realmente obedecer, e que Deus não seja pretexto para a própria vontade, mas que seja realmente Deus que convida, em caso necessário, até mesmo ao martírio.
“Nós hoje muitas vezes temos um pouco de medo de falar da vida eterna. Falamos das coisas que são úteis para o mundo, mostramos que o cristianismo ajuda também a melhorar o mundo, mas não ousamos dizer que a sua meta é a vida eterna e que a partir da meta vêm depois os critérios da vida.”
Bento XVI explicou que devemos então ter a coragem, a alegria, a grande esperança que a vida eterna nos dá, que é a verdadeira vida e que dessa vida verdadeira vem a luz que ilumina também este mundo.
Nessa perspectiva “a penitência é uma graça”, graça em que nós reconhecemos o nosso pecado, reconhecemos precisar de renovação, de mudança, de uma transformação do nosso ser.
“Devo dizer que nós cristãos, também nos últimos tempos, muitas vezes evitamos a palavra penitência, que nos parece muito dura. Agora sob os ataques do mundo que nos falam dos nossos pecados, vemos que poder fazer penitência é graça e vemos como é necessário fazer penitência, isto é, reconhecer aquilo que está errado em nossa vida. Abrir-se ao perdão, preparar-se para o perdão, deixar-se transformar. A dor da penitência, da purificação e da transformação, essa dor é graça, porque é renovação, é obra da divina Misericórdia.”
Bento XVI concluiu exortando a rezarmos a fim de que o nosso nome entre no nome de Deus e a nossa vida se torne vida verdadeira, vida eterna, amor e verdade. (RL)
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