Sua Missa Tradicional está com uma cara estranha? Entenda o porquê.

Em resposta a alguns e-mails expressando receios quanto a variações litúrgicas estranhas ocorridas mais recentemente em Missas no Rito Tradicional, presenteamos nossos leitores com o magnífico esclarecimento do padre Dufour.

Algumas notas sobre o rito de 1965 ou “A primeira etapa da Reforma Litúrgica”

Por Padre S. Dufour, Fraternidade São Pedro

Fonte: Salve Regina – Tradução: Fratres in Unum.com

O anúncio feito pelo Cardeal Castrillon Hoyos (por ocasião da audiência concedida à associação Una Voce, na segunda-feira, 4 de setembro de 2000 [1], e reiterado em uma entrevista publicada na revista mensal La Nef sobre a possibilidade de um ordenamento do missal de 1962 em direção às rubricas de 1965, relançou o debate a respeito desse rito [3].

Debater ou simplesmente se deter sobre o rito de 1965, que não teve mais que uma breve existência (1965-1967: data da passagem a uma liturgia integralmente vernácula), não deve ser algo reservado apenas aos especialistas da história da liturgia.

Pelo contrário, esse assunto diz respeito a todo católico preocupado com a integridade de fé, “sem a qual é impossível agradar a Deus” [4], e que se indaga sobre a liturgia, na medida em esta traz conseqüências para aquela, em virtude do princípio da “lex orandi, lex credendi” [5].

Há já alguns anos que vários padres “Ecclesia Dei” começaram a preparar, por iniciativa própria [6], a “reforma da reforma” e, de fato, anteciparam-se ao utilizar, assim como ao promover, o rito de 1965.

Para eles, o rito de Paulo VI e rito Romano Tradicional não podem coexistir eternamente na Igreja Latina e é necessário encontrar uma solução. Pensam que o rito de 1965 é uma boa conciliação entre os dois: a primeira parte da missa é, grosso modo, a do rito de Paulo VI; o Ofertório e o Cânon são os do rito Romano tradicional. Por conseguinte, o essencial parece ficar a salvo.

Contudo, veremos que esse rito não pode ser uma solução aceitável porque, pelo espírito que o sustenta, também presente na origem dos gestos litúrgicos que impõe, não pode ser mais que uma etapa, mais ou menos longa, em direção à missa nova.

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Discurso do Santo Padre aos bispos brasileiros do Regional Norte II em visita ‘Ad limina Apostolorum’.

Senhores bispos de mãozinhas dadas em missa - Assembléia Geral da CNBBUma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor. Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2). Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora.

Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)! O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambigüidades e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10). Subjacente a várias das motivações aduzidas, está uma mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real intervenção divina neste mundo em socorro do homem. Este, porém, «descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um sente-se como que preso com cadeias» (Const. Gaudium et spes, 13). A confissão duma intervenção redentora de Deus para mudar esta situação de alienação e de pecado é vista por quantos partilham a visão deísta como integralista, e o mesmo juízo é feito a propósito de um sinal sacramental que torna presente o sacrifício redentor. Mais aceitável, a seus olhos, seria a celebração de um sinal que corresponda a um vago sentimento de comunidade.

Mas o culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. « A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro.

Discurso do Santo Padre, o Papa Bento XVI, aos bispos brasileiros do Regional Norte II da CNBB em visita ‘ad limina apostolorum’ – 15 de abril de 2010.

O machado de Dom Ranjith sobre os movimentos de “renovação”: um basta nas danças, palmas, arbitrariedades na liturgia, “louvor e adoração”.

Colombo (Sri Lanka), Dom Ranjith declara guerra aos desvios litúrgicos dos Neocatecumenais [e dos Carismáticos] : “Vetados os cantos e danças durante a missa, obrigatória a comunhão de joelhos”

CIDADE DO VATICANO (Petrus) – Dom Malcolm Ranjith é alguém que entende de Liturgia. Foi, de fato, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos antes de Bento XVI nomeá-lo, no ano passado, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka. O Papa confia muito nele, a tal ponto que deve criá-lo Cardeal no próximo consistório. Dom Ranjith (na foto) se tornou muito admirado nos seus anos de serviço no Vaticano pela nobre defesa da gloriosa tradição litúrgica da Igreja, uma batalha que retomou energicamente em sua nova diocese, proibindo extravagância e improvisações durante a celebração da Eucaristia e “recomendando” a administração da Comunhão apenas sobre a língua e aos fiéis ajoelhados, como já é o caso durante a missa presidida pelo Pontífice. Mas aqui está o texto completo, rico em muitíssimos elementos, enviado pelo arcebispo de Colombo a seus sacerdotes e fiéis, com particular referência àqueles pertencentes aos movimentos (entre os quais recai seguramente o Caminho Neocatecumenal, mas Dom Ranjith não o cita explicitamente) que, habitualmente, se aproximam da Eucaristia de um modo diferente do estabelecido pela Igreja ou participam da missa com cantos e danças em torno do altar, permitindo, contudo, a pregação por leigos durante a celebração:

“Queridos irmãos e irmãs,

Recentemente, algumas pessoas e movimentos católicos de renovação desenvolveram muitos exercícios para-litúrgicos não previstos pelo calendário paroquial ordinário. Apreciando as numerosas conversões, o valor do testemunho, o entusiasmo renovado pela oração, a participação dinâmica e a sede da Palavra de Deus, como bispo diocesano e administrador geral dos mistérios de Deus na igreja local a mim confiada, sou o moderador, o promotor e o guardião da vida litúrgica da arquidiocese de Colombo. Como tal, vos convido a refletir sobre os aspectos litúrgicos e eclesiológicos relacionados a esta nova situação e vos peço insistentemente que respeiteis as diretrizes enunciadas na presente circular de efeito imediato. A Eucaristia é a celebração do mistério pascal por excelência dado à Igreja pelo próprio Jesus Cristo. Jesus Cristo é o princípio de toda liturgia na Igreja e por esta razão toda liturgia é essencialmente de origem divina. Ela é o exercício da Sua função sacerdotal e, portanto, não é certamente um simples empreendimento humano ou uma inovação piedosa. Na verdade, é incorreto definí-la uma simples celebração da vida. É muito mais do que isso. É a fonte e o ápice do qual todas as graças divinas enchem a igreja. Este sagrado mistério foi confiado aos apóstolos pelo Senhor e a Igreja cuidadosamente preservou a celebração ao longo dos séculos, dando vida à tradição sagrada e a uma teologia que não cedem à interpretação individual ou privada. Nenhum padre, conseqüentemente, diocesano ou religioso que seja, proveniente de uma outra arquidiocese ou mesmo do exterior, está autorizado a modificar, adicionar ou suprimir qualquer coisa no rito sagrado da missa. Não se trata de uma novidade, mas de uma decisão tomada em 1963 pela Constituição “Sacrosanctum Concilium” (22, 3), a Constituição Dogmática sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, posteriormente reiterada várias vezes em documentos como “Sacramentum Caritatis”, de Sua Santidade Bento XVI, e “Ecclesia de Eucharistia” do Papa João Paulo II, de venerada memória. A este respeito, convém mencionar explicitamente alguns elementos: os sacerdotes não estão autorizados a modificar ou improvisar a Oração Eucarística ou outras orações imutáveis da Missa — mesmo quando se trata de dar detalhes sobre um elemento já presente — cantando respostas ou explicações diferentes. Devemos compreender que a liturgia da Igreja é estreitamente ligada à sua fé e sua tradição: “Lex orandi, lex credendi”, a regra da oração é a regra de fé! A liturgia nos foi dada somente pelo Senhor, ninguém mais, portanto, tem o direito de mudá-la; as manifestações do tipo “Praise and Worship” (literalmente “louvor e adoração”, mas aqui diz respeito a uma corrente musical de estilo gospel, NdT) não são permitidos no rito da Missa. A música desordenada e ensurdecedora, as palmas, os longos discursos e os gestos que perturbam a sobriedade da celebração não são autorizados. É muito importante que compreendamos a sensibilidade cultural e religiosa do povo do Sri Lanka. A maioria dos nossos compatriotas são budistas e por este motivo estão habituados a um culto profundamente sóbrio; por sua vez, nem os muçulmanos nem os hindus criam agitação em sua oração. Em nosso país, além do mais, há uma forte oposição às seitas cristãs fundamentalistas e nós, como católicos, nos esforçamos para fazer compreender que os católicos são diferentes dessas seitas. Alguns destes chamados exercícios de louvor e adoração se assemelham mais aos exercícios religiosos fundamentalistas que a um culto católico romano. Que seja permitido respeitar a nossa diversidade cultural e a nossa sensibilidade; a Palavra de Deus prescrita não pode ser alterada aleatoriamente e o Salmo responsorial deve ser cantado e não substituído por cantos de meditação. A dimensão contemplativa da Palavra de Deus é de suma importância. Em alguns serviços para-litúrgicos as pessoas hoje têm a tendência a se tornar extremamente faladoras e tagarelas. Deus fala e nós devemos escutá-Lo; para ouvir bem, o silêncio e a meditação são mais necessários que a exuberância cacofônica; os sacerdotes devem pregar a Palavra de Deus sobre os mistérios litúrgicos celebrados. É expressamente proibido aos leigos pregar durante as celebrações litúrgicas; a Santíssima Eucaristia deve ser administrada com extremo cuidado e máximo respeito, e exclusivamente por aqueles autorizados a fazê-lo. Todos os ministros, ordinários e extraordinários, devem estar revestidos dos ornamentos litúrgicos apropriados. Recomendo a todos os fiéis, inclusive religiosos, receber a comunhão com reverência, de joelhos e na boca. A prática da auto-comunhão é proibida e pediria humildemente a cada sacerdote que a permite que suspendesse imediatamente esta prática; todos os sacerdotes devem seguir o rito da missa como determinado, de modo a não dar espaço a comparações ou opor as Missas celebradas por alguns sacerdotes às outras Missas ditas pelo resto dos sacerdotes; as bênçãos litúrgicas são reservadas exclusivamente aos ministros da liturgia: bispos, sacerdotes e diáconos. Todos podem rezar uns pelos outros. Recomenda-se insistentemente, entretanto, não usar gestos que podem provocar fantasias, confusões ou uma interpretação errônea”.

Cardeal Franc Rodé revela novos documentos para impulsionar a vida espiritual e frear “fantasias litúrgicas” entre os religiosos.

Cidade do Vaticano, 2 de fevereiro (Notimex) – O prefeito da Congregação para a Vida Consagrada do Vaticano, Franc Rodé, expressou hoje sua preocupação pela falta de oração nos conventos e pela queda no número de religiosos católicos no mundo.

O Cardeal reconheceu que o hábito de rezar entre os consagrados “apresenta hoje dificuldades” e por isso a Sé Apostólica apresentou um documento para impulsionar a vida espiritual, além de formar religiosos mais competentes em matéria litúrgica.

Em declarações à Rádio Vaticana, Rodé explicou que a intenção com este documento é frear as “fantasias litúrgicas” que “nem sempre são de bom gosto” e “não correspondem ao desejo ou vontade da Igreja, assim como ao espírito mesmo da liturgia”.

“Hoje, num mundo tão agitado como o nosso, a oração se torna certamente mais difícil. Devemos enfatizar a absoluta necessidade da oração na vida espiritual de um consagrado e de uma consagrada”, indicou.

O documento é examinado pela Congregação para o Clero em conjunto com a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

“Por um lado, existe uma certa ignorância, uma certa falta de conhecimento e de formação litúrgica em jovens religiosos e religiosas. Certos corretivos aparecem, portanto, como necessários”, apontou Rodé.

Segundo o Cardeal, está prevista a publicação de outro documento para atender a “queda enorme” no número de religiosos que afeta, sobretudo, as congregações de irmãos (como os lazaristas ou franciscanos) que, nos últimos anos, sofreram “grandes dificuldades”.

Ele considerou que um dos motivos da queda no número de vocações se deve a uma “certa falta de atenção” por parte da Igreja Católica à figura do cristão consagrado, que é um religioso celibatário sem ostentar o nível de sacerdote.

“Um irmão leigo não é, como se pensa e como o povo crê, alguém que não pôde, ou não quis, ou não podia por alguma razão, ser sacerdote. Trata-se de uma vocação que tem uma lógica em si mesma, que tem uma missão particular na Igreja”, apontou.

Fonte: Secretum Meum Mihi

A reforma de Cluny e a reforma de hoje: esmero pela liturgia, fama de santidade, isenção da jurisdição dos bispos e proteção direta do Romano Pontífice.

Em Cluny, restaurou-se a observância da Regra de São Bento, com algumas adaptações já introduzidas por outros reformadores. Sobretudo, quis-se garantir o lugar fundamental que a liturgia deve ocupar na vida cristã. Os monges cluniacenses se dedicaram com amor e grande cuidado à celebração das Horas litúrgicas, ao canto dos Salmos, a procissões tão devotas quanto solenes e, sobretudo, à celebração da Santa Missa. Promoveram a música sacra; quiseram que a arquitetura e a arte contribuíssem para a beleza e a solenidade dos ritos; enriqueceram o calendário litúrgico de celebrações especiais, como, por exemplo, no começo de novembro, a comemoração dos fiéis defuntos, que também nós celebramos há pouco; incrementaram o culto a Nossa Senhora. Reservou-se muita importância à liturgia, porque os monges de Cluny estavam convencidos de que esta era participação na liturgia do céu. E os monges se sentiam responsáveis por interceder diante do altar de Deus pelos vivos e pelos defuntos, dado que muitíssimos fiéis lhes pediam com insistência que rezassem por eles. […] Não surpreende que rapidamente uma fama de santidade envolveu o mosteiro de Cluny e que muitas outras comunidades monásticas decidiram seguir seus costumes. Muitos príncipes e papas pediram aos abades de Cluny que difundissem sua reforma, de maneira que, em pouco tempo, estendeu-se uma rede enorme de mosteiros ligados a Cluny ou com verdadeiros e próprios vínculos jurídicos, ou com uma espécie de afiliação carismática. Assim, ia se desenhando uma Europa do espírito nas várias regiões da França, Itália, Espanha, Alemanha e Hungria.

[…] O êxito de Cluny foi assegurado antes de mais nada pela elevada espiritualidade que se cultivava lá, mas também por algumas outras condições que favoreceram seu desenvolvimento. Ao contrário do que havia acontecido até então, o mosteiro de Cluny e as comunidades dependentes dele foram reconhecidas como isentas da jurisdição dos bispos locais e submetidas diretamente à do Pontífice Romano. Isso comportava um vínculo especial com a Sé de Pedro, e graças precisamente à proteção e ao ânimo dos pontífices, os ideais de pureza e de fidelidade, que a reforma cluniacense pretendia buscar, puderam difundir-se rapidamente.

[…] A reforma cluniacense teve efeitos positivos não somente na purificação e no despertar da vida monástica, mas também na vida da Igreja universal. De fato, a aspiração à perfeição evangélica representou um estímulo para combater dois graves males que afligiam a Igreja daquela época: a simonia, isto é, a compra de cargos pastorais, e a imoralidade de clero leigo. Os abades de Cluny, com sua autoridade espiritual, os monges cluniacenses que se converteram em bispos, alguns deles inclusive papas, foram protagonistas desta imponente ação de renovação espiritual. E os frutos não faltaram: o celibato dos sacerdotes voltou a ser estimado e vivido e, na assunção dos ofícios eclesiásticos, foram introduzidos procedimentos mais transparentes.

[…] Dessa forma, há mil anos, quando estava em pleno desenvolvimento o processo de formação da identidade europeia, a experiência cluniacense, difundida em vastas regiões do continente europeu, ofereceu sua contribuição importante e preciosa. Exigiu a primazia dos bens do espírito; manteve elevada a tensão aos bens de Deus; inspirou e favoreceu iniciativas e instituições para a promoção dos valores humanos; educou para um espírito de paz. Queridos irmãos, oremos para que todos aqueles que estão preocupados por um autêntico humanismo e pelo futuro da Europa saibam descobrir, valorizar e defender o rico patrimônio cultural e religioso desses séculos.

Audiência geral do Papa Bento XVI, quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Não ao “palco litúrgico”, “uma grave ruptura com a antiga Tradição da Igreja”.

Dom Edward Slattery(kreuz.net, Tulsa) A celebração da missa de costas para o Sacrário teve várias conseqüências negativas imprevistas e de longo alcance, esclareceu o Bispo Edward Slattery, de Tulsa, em uma contribuição para o seu jornal diocesano. O jornal traz o título “Ad orientem”.

Tulsa está localizada no estado americano de Oklahoma, no centro dos Estados Unidos.

Mons. Slattery considera a celebração com as costas voltadas para o Sacrário como “uma grave ruptura com a antiga Tradição da Igreja”. Ela pode dar a entender que o sacerdote e os fiéis entabulam uma conversa sobre Deus – ao invés de adorá-Lo.

No final das contas, essa direção na celebração desloca o sacerdote e a sua personalidade bastante para o centro – para uma espécie de “palco litúrgico”.

Toda a história da Igreja contra quarenta anos

Mons. Slattery esclarece que desde os tempos antigos o sacerdote e o povo olhavam na mesma direção durante a Missa – habitualmente em direção ao oriente. De lá esperavam a segunda vinda de Cristo:

“A Missa ad orientem foi a norma litúrgica por mais de 1.800 anos.” Deve ter havido bons motivos para conservar essa direção na celebração por tanto tempo.

A liturgia católica sempre esteve comprometida com a Tradição apostólica. O bispo descreve a Missa como “tendo sido recebida dos apóstolos”.

O Cânon não está direcionado para o povo

Ad orientemSegundo o bispo, a celebração direcionada para o Sacrário corresponde também à essência da Santa Missa. Até mesmo alguém que não estiver familiarizado com a Missa poderá reconhecer através desse direcionamento na celebração que o sacerdote vai a frente do povo para mostrar o caminho e juntos oram a Deus.

O Bispo Slattery lamenta que essa orientação comum nos últimos quarenta anos tenha se perdido. O sacerdote e os fiéis teriam se acostumado a olhar em direções opostas.

O celebrante olha para o povo “embora a Oração Eucarística seja dirigida ao Pai e não às pessoas “.

Com o bom exemplo à frente

Bem antes de sua eleição papal, Bento XVI já exortava ao apoio da antiga prática litúrgica – recorda o Bispo. “Portanto, eu adotei a venerável celebração ad orientem ao celebrar a Missa na catedral.”

Esse gesto não deve ser mal interpretado, como se o Bispo estivesse dando as costas para os fiéis. Uma tal interpretação ignora que a direção de olhar em comum mostra “que nós nos dirigimos juntos a Deus”.

Como uma praça de mercado.

Um arcebispo deu nome ao desastre litúrgico atual: As igrejas se transformaram em mercados. As mesas de comunhão e a reverência foram destruídas, o Santíssimo é profanado.

Arcebispo Buti Joseph Tlhagale de Johannesburg
Arcebispo Buti Joseph Tlhagale

(kreuz.net, Johannesburg) O Arcebispo Buti Joseph Tlhagale (61) de Johannesburg está horrorizado com o comportamento dos fiéis com relação ao Santíssimo, conforme disse em seu sermão na Quarta-feira Santa.

Alguns católicos não demonstram fé alguma na presença real de Cristo – enfatizou o prelado.

Muitos não fazem o sinal da cruz com água benta ao entrar na igreja e não se ajoelham em frente de Cristo no Sacrário – nem uma genuflexão sequer.

Como uma praça de mercado

O Arcebispo Tlaghale criticou ainda a destruição de muitas mesas de comunhão. Assim, os fiéis não são mais convidados a ajoelhar para receber a Comunhão.

“As nossas igrejas são como que praças de mercado antes e depois das missas – em parte porque colocamos o Sacrário em um espaço separado ou simplesmente porque perdemos o sentido da presença do sagrado. Abandonamos o silêncio e a atmosfera devota nas igrejas.”

Mons. Tlaghale recomenda a recolocação do Sacrário no centro da igreja, bem como a renovação da prática das genuflexões e do silêncio.

Chicletes durante a Missa

Em seu sermão, o Arcebispo elogiou os padres que rezam com os acólitos antes e depois das missas.

O clero também deve fomentar a adoração e disseminar os documentos eclesiais sobre a Eucaristia.

“O Direito Canônico exige jejum de uma hora antes de receber a Comunhão. Chiclete durante a missa é algo simplesmente repugnante.”

Com o Santíssimo no supermercado

O Arcebispo criticou ainda a [forma de] administração da comunhão aos doentes. As hóstias consagradas seriam dadas a leigos.

Vocês sabem como é, ocasionalmente, eles param a caminho do doente para fofocar com amigos: “de vez em quando, eles fazem umas comprinhas antes de ir para a casa do doente.”

Para alguns também não seria incomum levar o Santíssimo para casa devido à ausência do doente e o fato da igreja estar fechada no caminho de volta.

Tradução livre de T.M. Freixinho

O ódio pela língüa Latina é inato nos corações dos inimigos de Roma

Dom Prósper Gueranger
Dom Prosper Guéranger

Enquanto a reforma litúrgica tem por um de seus principais alvos a abolição de ações e fórmulas de significados místicos, é uma conseqüência lógica que os autores tenham que exigir o uso do vernáculo na liturgia divina.

Este é aos olhos dos sectários o item mais importante. ‘Liturgia não é matéria secreta’, ‘O povo’, dizem eles, ‘deve entender o que canta’.

O ódio pela língüa Latina é inato nos corações dos inimigos de Roma. Eles a reconhecem como uma ligação entre os Católicos de todo o universo, como o arsenal de ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito sectário…

Este espírito de rebelião que os conduz a confiar a oração universal à língua de cada povo, de cada província, de cada século, produziu seus frutos, e os reformados constantemente percebem que o povo católico, – para seu ódio — saboreiam melhor e chegam com maior zelo aos deveres do culto do que a maioria do povo protestante. Em todas as horas do dia, a divina liturgia toma lugar nas igrejas Católicas. O fiel católico que assiste deixa sua língua mãe na porta. A não ser o sermão, ele não ouve nada além das misteriosas palavras que, mesmo assim, não são ouvidas no momento mais solene do Cânon da Missa. Todavia, o mistério o encanta de tal forma que ele não é invejoso de muitos protestantes, mesmo que as orelhas destes não escutem uma única palavra sem perceber seu significado.

Enquanto o templo reformado reúne, com grande dificuldade, cristãos puritanos uma vez na semana, a Igreja ‘papista’ vê incessantemente seus numerosos altares visitados por seus filhos religiosos; todo dia, eles saem dos seus trabalhos para vir ouvir estas misteriosas palavras que devem ser de Deus, para alimento de sua fé e alívio das dores.

Nós devemos admitir que é um golpe de mestre do Protestantismo ter declarado guerra à língua sacra. Se tivesse tido sucesso em destruí-la, seria aberto o caminho para a vitória. Expor para profana contemplação, como uma virgem que foi violada, a liturgia, neste momento teria perdido muito de seu caráter sagrado, e logo o povo veria que não vale a pena colocar de lado o trabalho ou lazer de alguém para poder ir e ouvir o que está sendo falado da mesma forma que alguém fala na praça da cidade.

(Dom Prosper Guéranger, L’Hérésie Anti-Liturgiste, excerto de Institutions Liturgiques, v. 1)