O Papa teria escutado com muito interesse e em seguida, respondeu: “Para mim aquela gestão que existe em Medjugorje não me agrada em nada: muita boataria e eu não estou interessado”. Até aqui a parte “destruens”. Mas logo em seguida vem a parte “costruens”, que também é a mais arriscada: “Mas se vocês me assegurarem que levarão a sério o compromisso de irem lá, fazer missa, confissões e tantas obras boas, então eu aprovo”.
“Peguem Medjugorje para vocês…”. A oferta do Papa
Por Antonio Margheriti Mastino – Papalepapale.com | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com – Agitação e excitação misturada com preocupação no mundo dos Carismáticos da Renovação Carismática por causa do maná que caiu sobre suas cabeças na Casa Santa Marta. Segundo o que sussurram várias testemunhas, ou seja, os próprios carismáticos, Papa Francisco teria lhes proposto o negócio do século: “terceirizar” Medjugorje. Ficaria assim a gestão da espiritualidade medjugoriana, independente da veracidade ou não das aparições, em cujo mérito o Santo Padre não parece querer entrar. Além do mais, o Papa vincularia o reconhecimento ou não de Medjugorje ao compromisso dos carismáticos de assumir o comando de sua gestão, pastoral e espiritual [hoje, o local de visitação é uma paróquia comum, administrada pelos franciscanos]. Ou seja, transformar Medugorje num centro propulsor de uma espécie de Pentecostalismo Católico.
No entanto, apenas em novembro do ano passado, o prefeito do ex-Santo Ofício, o cardeal Gerhard Muller, já havia desencorajado o episcopado Americano de permitir que o vidente de Medjugorje, Ivan Dragicevic, realizasse conferências, reuniões ou “aparições” no interior de suas igrejas e catedrais. Uma semana depois, o mesmo Papa Francisco caiu com força sobre esses fenômenos. Ele não citou nominalmente a aldeia da Herzegovina, onde por 30 anos dizem que Nossa Senhora aparece, mas sua referência a “videntes” e “mensagens” é mais do que eloquente: “A curiosidade leva-nos a querer sentir que o Senhor está aqui, ou está lá; ou nos faz dizer: ‘Mas eu conheço um vidente, uma vidente, que recebe cartas de Nossa Senhora, mensagens de Nossa Senhora’. Mas, olha, a Virgem Maria é a Mãe! E Ela nos ama a todos. Ela não é um gerente dos Correios para ficar enviando mensagens todos os dias”. Estas novidades nos afastam do Evangelho”. Bastou essas palavras pra que fosse semeado o pânico entre os medjugorianos: eles temiam um parecer negativo do novo Pontífice.
Para tirar deles um suspiro de alívio, finalmente veio essa que não é ainda uma notícia oficial, mas uma voz quase sussurrada e comentada nos jornais mais seguidos pelos fãs das aparições da Bósnia, como o [site] Medjugorje Today, o qual, em 18 de janeiro de 2014, anunciou que a comissão de investigação sobre Medjugorje, presidida pelo Cardeal Ruini, havia terminado o seu trabalho. Já no dia 20 de janeiro, noticiava que o cardeal de Sarajevo, Vinko Puljic, estava certo de que, até o final do ano, Francisco iria falar sobre o caso. No dia 25 de janeiro, dizia que o Papa havia recebido tanto Ruini como o prefeito Muller, e esperava da Congregação da Doutrina da Fé um parecer. Por volta do dia 25 de junho, o Papa teria se manifestado privadamente “em favor” e, em 18 de julho, finalmente, o tiro no escuro: a negação… que é sempre uma notícia dada duas vezes.
Neste último artigo do Medjugorje Today, de fato, o Provincial da Ordem Franciscana na região da Herzegovina, na qual se insere Medjugorje, Padre Miljenko Steko, admite ter se encontrado com o Papa no dia 25 de junho, no “refeitório” da Casa Santa Marta, onde teriam falado sobre o caso dos videntes. No entanto, ele nega que Francisco teria lhe informado que tomou alguma decisão sobre as aparições. Mas isso é o que é atribuído a ele pelo sacerdote americano Padre Kevin Devine, que há 10 anos celebra missa em Medjugorje. Em um vídeo do Youtube que mostra uma missa celebrada por padre Kevin Devine, no final da liturgia, ele afirma que foi precisamente o franciscano Padre Steko que lhe confidenciou: “Recentemente, o Provincial dos Franciscanos em Medjugorje estava em Roma para uma reunião dos Superiores das comunidades religiosas. Durante a sua estadia em Roma, junto a muitos outros, esteve em alguns momentos pessoalmente com o Papa Francisco”. Padre Kevin continua: “Papa Francisco estava lá, dando boas-vindas, e o Provincial, disse: ‘Eu sou o inspetor da área em que está localizada Medjugorje. E a resposta do Santo Padre foi: ‘Ore para que eu tenha tomado a decisão certa'” .
Seria só uma confusão derivada da mistura de idiomas dos protagonistas? Padre Steko fala servo-croata, Padre Devine inglês e Bergoglio espanhol, mas presumivelmente com padre Steko falava italiano. Levando em conta esta diatribe multilingual e clerical, não se sabe exatamente como o Papa se manifestou, nem o que os dois padres, Steko e Devine entenderam. O fato é que Steko, ao primeiro prenúncio de escândalo, negou.
“Esses rumores em Medjugorje” não agradam ao Papa
O que teria acontecido realmente? Fazendo uma pesquisa, as informações recolhidas nos dão uma versão bastante diferente. E, se possível, ainda pior. As referências vem das testemunhas diretas do colóquio com o Papa, todas elas pessoas credenciadas no mundo medjugoriano e da Renovação no Espírito, carismáticos, membros de grupos de oração, de rosários diários, amantes da adoração eucarística, alguns frades. Enfim, pessoas de confiança do ponto de vista católico.
Um deles diz: “Fomos assistir a missa em Santa Marta, depois fomos capazes de passar algum tempo com o papa Francisco, com quem nos dirigimos para a sala de jantar, para conversar de modo informal, como velhos amigos. Nosso acompanhante, Frei Roberto, capuchinho e exorcista da Renovação Carismática, perguntou ao Santo Padre sobre o caso Medjugorje”.
O Papa teria escutado com muito interesse e em seguida respondeu: “Para mim aquela gestão que existe em Medjugorje não me agrada em nada: muita boataria e eu não estou interessado”. Até aqui a parte “destruens”. Mas logo em seguida vem a parte “costruens”, que também é a mais arriscada: “Mas se vocês me assegurarem que levarão a sério o compromisso de irem lá, fazer missa, confissões e tantas obras boas, então eu aprovo”.
Mas o que ele quis dizer com o “vocês”? Ele explica logo em seguida: “Se vocês fizerem tudo, ou seja, vocês da RCC, não por causa das aparições, porque isso não é o importante, mas por causa das pessoas que precisam ser geridas e bem orientadas, então se vocês se comprometerem a fazer isso, eu passo tudo pra vocês da RCC e encerramos o caso”. Parece até a transferência de um bem imóvel ou de uma propriedade.
Para eles uma e outra chave do reino?
Mas o que o Papa quer dizer com esse “eu passo tudo pra vocês e encerro o caso”? E por que as testemunhas falam de promessa, “aprovação”? O Papa quer aprovar Medjugorje ou aprovar que a RCC tome conta da gestão espiritual, que aceite essa espécie de empreitada terceirizada sobre a paróquia medjugoriana?
O significado das palavras do Santo Padre é esta: se vocês carismáticos da RCC assumirem a gestão, se canalizarem as coisas para dentro da sua espiritualidade, independente da veracidade ou não das aparições de Medjugorje, eu autorizo como legítimo o culto e automaticamente como verdadeiro todo o resto. Em suma, o que pressiona o Papa não é o fenômeno sobrenatural em si, mas suas reverberações pastorais e por tabela leva água ao moinho de sua idéia a respeito da Igreja do futuro: mover o mundo católico para uma espécie de catolicidade pentecostal e para tal os carismáticos seriam o instrumento mais adequado, e Medjugorje um centro propulsor formidável.
Para Bergoglio, como sempre em sua vida, não é uma questão de aparições serem verdadeiras ou falsas, é toda uma questão de pessoas em quem ele confia ou não, de quem lhe é agradável ou não, de amizades. E tanto no momento como durante muitos anos, suas amizades giram em torno de carismáticos e pentecostais. Isso vem desde seus tempos em Buenos Aires, e estes se assemelhariam mais à Igreja que ele tem em mente, a lhe agradaria entregar a eles uma e outra chave do Reino.
“O assunto das aparições não é importante”
Mas o que causa mais espanto, ainda mais se é um Papa a dizer, é que o fenômeno das “aparições não é importante”. Quer dizer que para o Papa pouco importa se Nossa Senhora realmente aparece em Medjugorje ou se tudo não passa de uma farsa? Para quem conhece Bergoglio desde sempre, isso não é surpresa. Ele sempre pensou assim. No que diz respeito às manifestações do sobrenatural, ele sempre foi crítico, quando não cético, parte, de toda forma, de um preconceito negativo (que honestamente não deveríamos julgar). Só o pragmatismo é que consegue fazê-lo engolir tais fenômenos. E é ele mesmo que nos faz observar esse fato. Quando houve o milagre eucarístico em sua diocese, ele ordenou explicitamente que não se fizesse nenhuma publicidade do acontecido, aparentemente pra “manter o efeito surpresa” do fiel que por acaso fosse parar lá naquela igreja onde a hóstia feito carne estava exposta. Foi simplesmente feito assim.
Isso é ele mesmo que o admite no livro-entrevista com o seu amigo rabino Abraham Skorka: “Sinto uma desconfiança imediata diante dos casos de cura, até mesmo quando se trata de revelações ou visões; são tudo coisas que me colocam na defensiva. E falando a respeito de segredos e videntes: “Deus não é uma espécie de Correio Andreani [conhecido correio expresso argentino] que envia mensagens o tempo todo… é necessário que se deixe espaço para aqueles que são escolhidos por Deus como profetas, com as características de um verdadeiro profeta. Mas frequentemente, esses não são aqueles que chegam dizendo que têm uma cartinha do céu. Muitas vezes, em Buenos Aires, eu tenho que desacreditar muitos deles porque são casos de falsos profetas… “. Quanto àqueles excessivamente sensíveis às supostas manifestações do sobrenatural: “Às vezes as pessoas sentem coisas que seja por uma interpretação correta ou devido a um desequilíbrio psíquico, alguns confundem com uma profecia”. Em suma, esse Papa não é muito predisposto a fenômenos extraordinários.
Mas voltando à “negociação” em Santa Marta, as testemunhas do encontro, interpeladas por nós, se mostram claramente entusiasmadas. No entanto, seria uma tomada de posição bem anômala da parte de Francisco: o destempero, o local impróprio e as pessoas diretamente envolvidas, seria tudo imprudente se levarmos em conta os resultados da comissão de cinco anos presidida pelo Cardeal Ruini, que estudou a fundo o problema Medjugorje; um parecer de mérito cabe ao atual prefeito do ex-Santo Ofício, o cardeal Muller.
Quanto aos resultados da Comissão Ruini, pelo pouco que se sabe até agora, essa teria se limitado a reconhecer os frutos de Medjugorje, deliberadamente passando por cima do fenômeno das aparições em si, que, aliás, estão ainda em curso, de modo que um parecer final por parte da Igreja seria prematuro. De qualquer modo, se um suposto avanço “carismático” devesse ocorrer em Medjugorje, seria, no mínimo, por uma força imposta de cima.
As pessoas diretamente envolvidas no caso rebatem com um “bem, mas se o Papa diz,” então está certo. Acrescentando logo em seguida que o Santo Padre “garantiu” que com a comissão sobre Medjugorje não haveria nenhum problema. Como se dissessem: a comissão faz o que o Papa quer e pede. Aos outros cabe apenas pular no bonde.
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