[…] João Paulo II não fez nada para reconstruir a fé. A grande apostasia vem crescendo; os jovens estão quase completamente perdidos na impureza e nas drogas. O reinado social de Cristo está completamente destruído pela liberdade religiosa e pelos direitos do homem. Estamos vivendo a grande apostasia da qual fala São Paulo aos Tessalonicenses: “venerit dicessio primum”.
Q: O que lhe impressionou quanto aos fiéis em suas muitas viagens para confirmação?
Tissier de Mallerais: Claro, as famílias com muitos filhos — maravilhoso! Isso é efeito da graça do Santo Sacrifício da Missa. Também, com isso vieram muitas novas escolas para meninos e meninas, escolas primárias além dos nossos priorados em muitos lugares. Portanto, igreja, priorado e escola são agora a unidade normal.
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Q: A situação com Roma está mais encorajante após 20 anos?
Tissier de Mallerais: Não, nada mudou. Apenas o motu proprio de 7 de julho de 2007 foi um milagre inesperado, e isso muda radicalmente a prática da Santa Sé com relação à missa tradicional. Mas, praticamente, o retorno à Tradição é pequeno entre os padres. Apenas jovens padres, poucos deles, estão interessados. Mas quanto a liberdade religiosa, os direitos dos homens, o interesse de Roma em nosso trabalho: nada mudou – induratio cordium! Um endurecimento dos corações, uma cegueira das mentes.
Q: O que você diria àqueles que em 1988 previram que a Fraternidade de São Pio X estava criando uma Igreja paralela? A história não os provou que estavam errados?
Tissier de Mallerais: Eu respondo. Aonde está a Igreja, meus caros? Reconhece-se a árvore pelos frutos. Onde estão os frutos, aí está a Igreja. Eu não quero dizer que a Igreja está reduzida à Fraternidade, mas que seu coração é a Fraternidade. A verdadeira Fé, o verdadeiro ensinamento, os sacramentos não-bastardos, tudo isso está na Fraternidade. Em todos os outros lugares existe uma mistura cheia de compromissos por causa do liberalismo e da fraqueza dos espíritos. A Igreja paralela é a do Vaticano II – Nova Igreja: seu espírito, sua nova religião ou não-religião.
Q: O que permanece como o mais importante desenvolvimento dos últimos 20 anos? A morte do Arcebispo? A eleiçã de Bento XVI? O Motu Proprio?
Tissier de Mallerais: A resposta é a nossa perseverança, nossa existência. O milagre da continuação da Tradição. A consagração dos bispos foi apenas um meio para esse fim. Não, a morte de Mons. Lefebvre, a eleição de Bento XVI, então não foram eventos de significância. Realmente, nenhum evento particular aconteceu nos últimos 20 anos, mas apenas o milagre da sobrevivência da Tradição.

Mons. Bernard Tissier de Mallerais
Q: Muitos Católicos que começaram ao lado do Arcebispo anos atrás agora sentem-se inclinados a unir forças com uma Roma aparentemente mais conservadora ao aliarem-se com organizações com mais “status regular” dentro da Igreja.
Tissier de Mallerais: Sim, muitas perdas. Por causa da falta de princípios, infidelidade à luta da Fraternidade, procurando compromissos, desejando paz, desejando vitória antes do tempo previsto por Deus. Essas pobres pessoas (padres, religiosos, leigos) são liberais e pragmáticos. Seduzidos por sorrisos de pessoas no Vaticano, e quero dizer prelados da Cúria Romana. Pessoas que se cansaram pelo longo, longo combate pela Fé: “Quarenta anos é o suficiente!”. Mas isso vai durar mais 30 anos. Então, não parem, não procurem “reconciliação”, mas lutem!
Q: Qual é a sua mais memorável recordação do Arcebispo?
Tissier de Mallerais: Quando, em 13 de outubro de 1969, ele nos abriu as portas da route de Marly, 106, Fribourg, Suíça, sozinho, sem qualquer padre, recebendo-nos, nove seminaristas nos dois apartamentos que ele alugou dos padres Salesianos. Sozinho e aos 63 anos de idade, e começando tudo conosco, pobres jovens! Isso foi comovedor, ver como ele tomou conta de nós, dando-nos conferências espirituais, muito simples, teológicas, com Santo Tomás de Aquino e sua experiência como um missionário. Um arcebispo, antigo superior geral de 3000 membros, antigo Delegado Apostólico, e agora sozinho com nove seminaristas para começar algo pela causa do sacerdócio, algo do qual ele nem mesmo sabia do futuro. Percebam essa fé!
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Conseqüentemente, a luta contra a liberdade religiosa não pode ser separada da luta pela Missa. O mesmo vale para a luta contra o ecumenismo, pois se Cristo é Deus, então Ele é capaz de expiar e satisfazer por Sua Paixão todos os pecados; também, apenas Ele tem o direito de reger as leis civis conforme o Evangelho. Eu nãovejo separação entre a luta pela Missa, a luta pelo espírito cristão de sacrifício e a luta pelo reinado social de Cristo. Os modernistas não vêem diferença entre a sua Nova Missa, sua recusa ao mistério da Redenção e sua negação do reinado social de Jesus Cristo.
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Q: Como você pensa que seria a avaliação do Arcebispo Lefebvre sobre a crise conforme as coisas estão em 2008?
Tissier de Mallerais: Ele denunciaria não apenas o liberalismo — que era o caso de Paulo VI — mas o modernismo, que é o caso de Bento XVI: um verdadeiro modernista com uma teoria completa de modernismo atualizado! É tão sério que eu não posso expressar meu horror. Eu mantenho silêncio. Então, Arcebispo Lefebvre gritaria: “Seus hereges, vocês pervertem a Fé!”
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Q: Que livros você pensa ser mais essenciais aos fiéis nesses dias?
Tissier de Mallerais: Para todos, seu Missal e seu catecismo. Para moços, livros sobre o reinado social de Cristo. Para moças, livros sobre culinária, costura e de como mobiliar uma casa.