Tendo em vista a ampla divulgação e distribuição das obras da referida “especialista litúrgica” por uma das principais livrarias ditas católicas do nosso país, publicamos abaixo trechos do livro “A Missa – Memória de Jesus no Coração da Vida” (São Paulo: Paulinas, 2004), de autoria de Ivone Buist.
“Da teologia medieval herdamos a insistência da presença real de Jesus na Eucaristia. Era uma época em que o padre ficava de costas para o povo, fazia a oração eucarística em latim e em silêncio.”
“A eucaristia acabou sendo entendida como uma coisa sagrada, algo para se ver e adorar.”
“O Concílio Vaticano II quis reatar com a teologia dos primeiros séculos, e reencontrou a dimensão pascal da eucaristia. Diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momentos da missa (e não somente na chamada “consagração”).Recoloca a oração eucarística como sendo toda ela de ação de graças, oblação, consagração… e manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo. Diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia. A eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez; dar graças, partir e repartir, comer e beber.
Essas duas linhas teológicas misturam-se dentro da missa e complicam nossa maneira de celebrar o momento da narrativa da instituição. A primeira nos manda ajoelhar, olhar para a hóstia, abaixar a cabeça, adorar em silêncio, prestar atenção toda especial a esse momento da celebração. Requer uma profunda devoção individual.
Algumas das obras de Ione Buist. Pelos títulos e fotos, já se pode imaginar o seu conteúdo.
A segunda nos ensina a ficar de pé (sinal de ressurreição) de preferência ao redor da mesa, olhar para a mesa onde estão o pão e o vinho, ouvir atentamente e acolher as palavras de Jesus na última ceia (que o presidente lembra, falando com o Pai), aclamar juntos (cantando “Anunciamos, Senhor, a vossa morte…”) e continuar prestando a mesma atenção às partes seguintes, que são tão importantes quanto à narrativa da instituição. Requer uma participação comunitária, ativa e consciente, de todo o povo sacerdotal, na ação eucarística, pascal, feito por Cristo Ressuscitado.”
“Na prática, é difícil romper com séculos de devocionismo eucarístico e suas expressões características da missa. Quem sabe possamos aprofundar a nova teologia da eucaristia em pequenos grupos e comunidades, e aí encontrar uma maneira diferente de celebrar?” (p. 120-122)
CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE Eminência Reverendíssima Dom William J. Levada, Prefeito desta egrégia Congregação,
Palazzo del Sant’Uffizio, 00120 Città del Vaticano
E-mail: cdf@cfaith.va – Tel. 06.6988-3438 Fax: 06.6988-5088
CONGREGAZIONE PER IL CULTO DIVINO E LA DISCIPLINA DEI SACRAMENTI Eminência Reverendíssima Dom Antonio Cardeal Cañizares Llovera, Prefeito desta egrégia Congregação,
Palazzo delle Congregazioni
Piazza Pio XII, 10
00120 CITTÀ DEL VATICANO – Santa Sede – Tel. 06-6988-4316 Fax: 06-6969-3499
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CONGREGAÇÃO PARA O CLERO
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Cardeal Serafim Fernandes de Araújo – ARCEBISPO EMÉRITO DE BELO HORIZONTE domserafim@fjfa.org.br
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IHU – Willy Delsaert (foto) é um ferroviário aposentado com dislexia que praticou muito antes de enfrentar a paróquia católica suburbana Dom Bosco para celebrar os rituais da Missa Dominical com os quais ele cresceu.
A reportagem é de Doreen Carvajal, publicada no jornal The New York Times, 16-11-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Quem toma este pão e come”, murmurou ele, quebrando uma hóstia com a sua esposa ao seu lado, “declara o desejo de um mundo novo”.
Com essas palavras, Delsaert, 60 anos, e seus amigos paroquianos, discretamente, estão sendo os pioneiros de um movimento de base que desafia séculos de doutrina da Igreja Católica Romana acerca do culto divino e da distribuição da comunhão sem um sacerdote.
Na qual o Papa [São] Pio X aprova a obra do Bispo de Limerick sobre os escritos do Cardeal Newman.
Ao Nosso Venerável Irmão Edward Thomas, Bispo de Limerick
Venerável Irmão, saúde e benção apostólica.
Pela presente informamos que Aprovamos o vosso ensaio, no qual mostrais que os escritos do Cardeal Newman, longe de estarem em desacordo com a Nossa Carta Encíclica Pascendi, estão em estreita consonância com a mesma: pois não pudestes ter servido melhor tanto a verdade quanto ao eminente mérito do homem.
Parece que aqueles cujos erros Condenamos em nossa Carta estabeleceram como regra fixa a busca de aprovação do nome de um ilustríssimo homem para as próprias coisas que eles mesmos inventaram. E assim, afirmam, livremente, que tomaram certas posições fundamentais extraídas daquela origem e fonte, e que, por essa razão, não Podemos condenar as doutrinas que lhes são próprias sem, ao mesmo tempo e ainda mais, em prioridade de ordem, condenar o ensinamento de tão eminente e grande homem.
Se não se soubesse que poder o fermento de um espírito envaidecido tem de inchar a mente, pareceria incrível a existência de pessoas que pensam e se dizem católicas, quando, em uma questão que diz respeito ao próprio fundamento da disciplina eclesiástica, colocam a autoridade de um doutor privado, embora eminente, acima do magistério da Sé Apostólica.
Vós não apenas demonstrastes plenamente a sua contumácia, mas também seus artifícios. Pois, mesmo que se detecte algo que carregue alguma semelhança a certas teses dos modernistas nos escritos de Newman anteriores a sua profissão de Fé Católica, vós justamente negais que, de qualquer maneira, tais semelhanças sejam embasadas nesses mesmos escritos; tanto porque o significado subjacente às palavras é muito diferente quanto o é o propósito do autor, sendo que ele, ao ingressar na Igreja Católica, submeteu todos os seus escritos à autoridade da própria Igreja Católica, certamente, para serem corrigidos, se necessário.
Quanto aos numerosos e importantes livros que escreveu como católico, dificilmente se faz necessário defendê-los da sugestão de parentesco com a heresia. Como todos sabem, entre o público inglês, Henry Newman, em seus escritos, defendeu incessantemente a causa da Fé Católica de tal modo que sua obra foi muito salutar para seus compatriotas, e ao mesmo tempo, elevadamente estimada por Nossos predecessores. Assim sendo, foi considerado digno de ser nomeado Cardeal por Leão XIII, indubitavelmente, um acurado juiz dos homens e das coisas; sendo, desde então e por toda sua vida, muito merecidamente estimado por ele.
Não há dúvida de que em tão grande abundância de seus trabalhos seja possível encontrar algo de alheio ao método tradicional dos teólogos, mas nada que pudesse levantar uma suspeita sobre sua fé. E vós corretamente afirmais que não é de se espantar que, se em uma época em que não se mostrava nenhum sinal da nova heresia, seu modo de expressar em alguns lugares não mostrasse um cuidado especial, mas que os modernistas agem de maneira errônea e enganadora em deturpar aquelas palavras para seu próprio significado, em oposição a todo o contexto.
Congratulamo-vos, portanto, por terdes vindicado com eminente sucesso, através do vosso conhecimento de todos os seus escritos, a memória de um homem tão bom e sábio; e ao mesmo tempo, o quanto vos era possível, por terdes assegurado que entre vosso povo, especialmente o inglês, aqueles que se acostumaram a abusar daquele nome tenham já cessado de ludibriar os ignorantes.
Eles deveriam seguir Newman, como mestre, fielmente, estudando seus livros, não ao modo daqueles que entregues aos seus próprios preconceitos buscam seus volumes, e com desonestidade deliberada extraem deles algo com o que respaldar seus pontos de vista, mas poderiam reunir seus princípios puros e inalterados, e seu exemplo, bem como seu espírito grandioso. Eles aprenderiam muitas coisas excelentes de tão grande mestre: em primeiro lugar, com relação ao sagrado Magistério da Igreja, defender a doutrina transmitida de maneira inviolada pelos Padres e, o que é de máxima importância para salvaguardar a verdade Católica, seguir e obedecer o Sucessor de São Pedro com a máxima fidelidade.
Portanto, Venerável Irmão, Agradecemos sinceramente a vós e ao vosso clero e povo por terdes vos preocupado em Nos ajudar em nossas limitadas condições, enviando o seu donativo financeiro habitual: e a fim de ganhar para todos vós, mas, primeiramente para vós mesmo, os dons da bondade de Deus, e como um testemunho de Nossa benevolência, Conferimos a Nossa benção Apostólica.
Dado em Roma, em São Pedro, em 10 março de 1908, no quinto ano de Nosso Pontificado.
Pio PP. X
Parece que o bispo de Évreux esteve numa cerimônia junto ao “bispo” anglicano de Salisbury. Até aí, nada fora do que estamos, lamentavelmente, acostumados a ver.
O agravante? Que o “bispo” anglicano — que é quem carrega o báculo na foto — realizava uma cerimônia de “ordenação” de mulheres…
Recodermos ao sorridente Nourrichard, embora pouco lhe interesse e mais além de seus escandalosos atos ecumenistas, que a Igreja não reconhece as ordenações dos anglicanos, nem das mulheres.
* * *
O Padre Régis de Cacqueray, superior do Distrito da França da Fraternidade São Pio X, em artigo publicado pelo site oficial do distrito [La Porte Latine], declara: “não podemos deixar de manifestar a nossa profunda indignação ao considerar que reuniões cada vez mais escandalosas e comprometedoras se produzem, de fato, mesmo por aqueles que se dizem em ‘plena comunhão’ com a Sé Apostólica”. Continua o Padre: “Ora, no sábado, 3 de julho, Dom Christian Nourrichard revestiu-se das vestes corais (alva, estola, capa, mitra e cruz peitoral) [1] durante uma cerimónia presidida pelo Doutor Stancliffe, num santuário não católico. Rodeado por dois “bispos” reformados [2], também convidados, ele tomou parte na procissão [3] e num simulacro de falsas ordenações. A gravidade do escândalo encontra-se reforçada na medida em que treze mulheres, revestidas de casulas [4], recebiam-nas naquele dia. Longe de lamentar a participação da sua cabeça em uma tão consternadora paródia, a diocese de Évreux relatou os fatos em sua revista [5] sem mesmo recordar a invalidade das ordens, a impossibilidade às mulheres de aceder ao sacerdócio, nem os perigos da heresia anglicana para as almas”.
1 - Uma mulher revestida de casula. Ao fundo, Dom Nourrichard, bispo de Évreux, ao lado do "bispo" de Salisbury.2 - Numa catedral anglicana, Dom Nourrichard acompanha a cerimônia ao lado de dois "bispos" protestantes (um luterano e um anglicano do Sudão).3 - Na procissão, Dom Nourrichard precede as mulheres revestidas de estola. 4 - Um grupo de homens e mulheres recebendo as ordenações inválidas.
O padre deve realizar todas as suas ações, todos seus passos, todos seus hábitos em harmonia com a sublimidade de sua vocação. O padre que no altar celebra os mistérios eternos, assume, como fosse, uma forma divina; assim, não deve ceder quando desce do Alto Monte e sai do Templo do Senhor. Onde quer que esteja, ou em qualquer trabalho que realize, nunca deve deixar de ser padre, acompanhado pela dignidade, sobriedade e decoro de um padre. Deve, portanto, ser santo; deve ser sagrado, de forma que suas palavras e trabalhos expressem seu amor, enfatizem sua autoridade e imponham respeito. A dignidade exterior é mais poderosa do que eloqüentes palavras… Por outro lado, se ele esquece a dignidade de seu caráter, se não mostra em seu comportamento exterior mais sobriedade do que os leigos, incorre no descontentamento daquelas próprias pessoas que aplaudem sua frivolidade mas não demoram em desprezar tanto a ele como aquilo que representa.
Giuseppe Melchiorre Sarto, bispo de Mántua – futuro São Pio X
Eu, N., firmemente aceito e creio em todas e em cada uma das verdades definidas, afirmadas e declaradas pelo magistério infalível da Igreja, sobretudo aqueles princípios doutrinais que contradizem diretamente os erros do tempo presente.
Primeiro: creio que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza e pode também ser demonstrado, com as luzes da razão natural, nas obras por Ele realizadas (Cf. Rm I 20), isto é, nas criaturas visíveis, como [se conhece] a causa pelos seus efeitos.
Segundo: admito e reconheço as provas exteriores da revelação, isto é, as intervenções divinas, e sobretudo os milagres e as profecias, como sinais certíssimos da origem sobrenatural da razão cristã, e as considero perfeitamente adequadas a todos os homens de todos os tempos, inclusive aquele no qual vivemos.
Terceiro: com a mesma firme fé creio que a Igreja, guardiã e mestra da palavra revelada, foi instituída imediatamente e diretamente pelo próprio Cristo verdadeiro e histórico, enquanto vivia entre nós, e que foi edificada sobre Pedro, chefe da hierarquia eclesiástica, e sobre os seus sucessores através dos séculos.
Quarto: acolho sinceramente a doutrina da fé transmitida a nós pelos apóstolos através dos padres ortodoxos, sempre com o mesmo sentido e igual conteúdo, e rejeito totalmente a fantasiosa heresia da evolução dos dogmas de um significado a outro, diferente daquele que a Igreja professava primeiro; condeno semelhantemente todo erro que pretenda substituir o depósito divino confiado por Cristo à Igreja, para que o guardasse fielmente, por uma hipótese filosófica ou uma criação da consciência que se tivesse ido formando lentamente mediante esforços humanos e contínuo aperfeiçoamento, com um progresso indefinido.
Quinto: estou absolutamente convencido e sinceramente declaro que a fé não é um cego sentimento religioso que emerge da obscuridade do subconsciente por impulso do coração e inclinação da vontade moralmente educada, mas um verdadeiro assentimento do intelecto a uma verdade recebida de fora pela pregação, pelo qual, confiantes na sua autoridade supremamente veraz, nós cremos tudo aquilo que, pessoalmente, Deus, criador e senhor nosso, disse, atestou e revelou.
Submeto-me também com o devido respeito, e de todo o coração adiro a todas as condenações, declarações e prescrições da encíclina Pascendi e do decreto Lamentabili, particularmente acerca da dita história dos dogmas.
Reprovo outrossim o erro de quem sustenta que a fé proposta pela Igreja pode ser contrária à história, e que os dogmas católicos, no sentido que hoje lhes é atribuído, são inconciliáveis com as reais origens da razão cristã.
Desaprovo também e rejeito a opinião de quem pensa que o homem cristão mais instruído se reveste da dupla personalidade do crente e do histórico, como se ao histórico fosse lícito defender teses que contradizem a fé o crente ou fixar premissas das quais se conclui que os dogmas são falsos ou dúbios, desde que não sejam positivamente negados.
Condeno igualmente aquele sistema de julgar e de interpretar a sagrada Escritura que, desdenhando a tradição da Igreja, a analogia da fé e as nosmas da Sé apostólica, recorre ao método dos racionalistas e com desenvoltura não menos que audácia, aplica a crítica textual como regra única e suprema.
Refuto ainda a sentença de quem sustenta que o ensinamento de disciplinas histórico-teológicas ou quem delas trata por escrito deve inicialmente prescindir de qualquer idéia pré-concebida, seja quanto à origem sobrenatural da tradição católica, seja quanto à ajuda prometida por Deus para a perene salvaguarda de cada uma das verdades reveladas, e então interpretar os textos patrísticos somente sobre as bases científicas, expulsando toda autoridade religiosa, e com a mesma autonomia crítica admitida para o exame de qualquer outro documento profano.
Declaro-me enfim totalmente alheio a todos os erros dos modernistas, segundo os quais na sagrada tradição não há nada de divino ou, pior ainda, admitem-no, mas em sentido panteísta, reduzindo-o a um evento pura e simplesmente análogo àqueles ocorridos na história, pelos quais os homens com o próprio empenho, habilidade e engenho prolongam nas eras posteriores a escola inaugurada por Cristo e pelos apóstolos.
Mantenho, portanto, e até o último suspiro manterei a fé dos pais no carisma certo da verdade, que esteve, está e sempre estará na sucessão do episcopado aos apóstolos¹, não para que se assuma aquilo que pareça melhor e mais consoante à cultura própria e particular de cada época, mas para que a veradde absoluta e imutável, pregada no princípio pelos apóstolos, não seja jamais crida de modo diferente nem entendida de outro modo².
Empenho-me em observar tudo isso fielmente, integralmente e sinceramente, e em guardá-lo inviolavelmente, sem jamais disso me separar nem no ensinamento nem em gênero algum de discursos ou de escritos. Assim prometo, assim juro, assim me ajudem Deus e esses santos Evangelhos de Deus.
Bispo Armando X. Ochoa: A Igreja Católica defende a compaixão
Por Dom Armando X. Ochoa \ colunista convidado – El Paso Times
Dom Armando X. Ochoa, bispo de El Paso.
Como Bispo da Diocese de El Paso e principal educador da nossa igreja local, gostaria de compartilhar algumas reflexões pastorais sobre determinadas questões que são importantes para o bem-estar de todo o povo de Deus.
Em primeiro lugar, gostaria de afirmar que os artigos anteriores que diziam falar em nome da Doutrina Católica [ndr: referência aos artigos do pe. Michael Rodriguez: este, este e este] eram opiniões pessoais de indivíduos e não necessariamente expressam a opinião da Igreja Católica.
Continuo rezando pela paz ao longo da nossa região e apresentando as minhas condolências às famílias de ambos os lados da fronteira que perderam seus entes queridos em razão da agitação constante. Preocupo-me também com as famílias que tiveram de deixar tudo para trás a fim de fugir da violência em Ciudad Juárez. Rezo constantemente para que as nossas duas cidades fronteiriças possam trabalhar mais de perto a fim de construir uma comunidade mais repleta de paz.
A Igreja tem sido inequívoca sobre a sua consistente defesa do feto. Ele continua convocando todos os católicos e pessoas de boa vontade para compreender o ensinamento da Igreja sobre a pena de morte e outras questões de fim-de-vida. Toda criança tem direito à vida.
Da mesma forma, a Igreja defende a santidade do matrimônio entre um homem e uma mulher. Esses ensinamentos vêm de uma tradição que pretende promover o bem da sociedade. A minha preocupação em escrever esta reflexão não é para alterar esses ensinamentos, mas para oferecer uma compreensão mais pastoral em como lidar com eles.
Quando falamos sobre o aborto e o homossexualismo, estamos falando de seres humanos lidando com todos os tipos de preocupações e desafios por resolver. Nossa Igreja não quer simplesmente julgar e condenar, mas, primeiramente, oferecer o amor e a compaixão de Cristo. A primeira e principal lei de Deus é o amor e como o amor dos outros é ao mesmo tempo o nosso amor por Deus.
Como Igreja queremos caminhar com todos, enquanto buscam o sentido de suas vidas. Acreditamos que Cristo oferece este significado. O uso de palavras duras de condenação não é a abordagem que Cristo nos convida a ter uns para com os outros. A intolerância fecha a porta à aprendizagem e à compreensão mais profunda de cada um.
Além disso, ela leva a divisões dentro do corpo de Cristo. É hora de aprender a lidar uns com os outros, mesmo quando e se discordarmos. Muitas pessoas têm sofrido por causa de uma profunda falta de compaixão e percepção de uma intolerância arrogante.
Recentemente, em nossas leituras das Escrituras, vimos que quando os israelitas entraram na terra prometida depois do êxodo, eles encontraram os cananeus, que consideravam ser uma raça pecadora que devia ser exterminada. Esta mentalidade persistiu até a época de Cristo.
Com a sua chegada, ele indicou que essa perspectiva não devia mais a ser adotada por seus seguidores. A própria resposta de Jesus aos marginalizados sempre foi a do amor. Ele sempre pregou que o amor não é exclusivamente para aqueles que são caros para nós. Ele proclamou que devemos amar nossos inimigos e orar pelos nossos perseguidores.
O nosso amor pelos outros deve ser como o dele, com tudo incluído. Cada pessoa é feita à imagem e semelhança de Deus e por isso todos merecem ser tratados com dignidade e respeito.
Deus é o juiz das nossas vidas, e nós somos chamados a espalhar seu Evangelho da compaixão e da justiça.
Embora seja importante oferecer um ensinamento sobre a sexualidade humana que não pode ser popular na sociedade moderna, a Igreja, no entanto, defende que cada pessoa seja tratada com dignidade e respeito.
Exorto todos os nossos agentes de pastoral que ajudem as pessoas com orientação homossexual e suas famílias, com compaixão. Isso pode ser feito sem de forma alguma comprometer o ensinamento da Igreja, porque a nossa pastoral não exige menos de nós.
Reverendo Armando X. Ochoa, DD, é bispo da Diocese de El Paso.
Diácono cara-pintada em Missa celebrada por Dom Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da PUC-Minas, por ocasião da 15ª Peregrinação Marial da Juventude ao Santuário Estadual Nossa Senhora da Piedade, no último dia 15. Foto: Arquidiocese de Belo Horizonte.
Apresentamos nossa tradução do discurso do Santo Padre, o Papa Bento XVI, pronunciado às 10:30 da manhã de hoje, no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo.
Queridos irmãos e irmãs!
Giuseppe Melchiorre Sarto, São Pio X
Hoje gostaria de me concentrar na figura do meu predecessor São Pio X, cuja memória litúrgica comemora-se no próximo sábado [ndr: no calendário tradicional comemora-se em 3 de setembro], destacando algumas características que podem ser úteis aos pastores e os fiéis do nosso tempo.
Giuseppe Sarto, assim se chamava, nasceu em Riese (Treviso), em 1835, de uma família de camponeses e, depois de estudar no Seminário de Pádua, foi ordenado sacerdote aos 23 anos. No começo, foi vice-pároco em Tombolo, depois pároco em Salzano, posteriormente cônego da catedral de Treviso, com o cargo de chanceler episcopal e diretor espiritual do Seminário diocesano. Naqueles anos de rica e generosa experiência pastoral, o futuro Pontífice mostrou aquele amor a Cristo e à Igreja, aquela humildade e simplicidade e aquela grande caridade para com os mais necessitados, que foram características de toda a sua vida. Em 1884, foi nomeado bispo de Mântua e, em 1893, Patriarca de Veneza. Em 04 de agosto de 1903 foi eleito Papa, ministério que aceitou com hesitação, porque não se considerava digno de um dever tão alto.
O pontificado de S. Pio X deixou uma marca indelével na história da Igreja e foi caracterizado por um notável esforço de reforma, resumido no lema Instaurare omnia in Christo, “renovar todas as coisas em Cristo”.
Suas intervenções, de fato, envolviam os diversos âmbitos eclesiais. Desde o início, dedicou-se à reorganização da Cúria Romana; em seguida, deu início aos trabalhos de redação do Código de Direito Canônico, promulgado pelo seu sucessor, Bento XV. Promoveu, posteriormente, a revisão dos estudos e do “processo” de formação dos futuros sacerdotes, fundando também vários seminários regionais, equipados com boas bibliotecas e professores preparados.
Outra área importante foi a de formação doutrinal do Povo de Deus. Ainda nos anos em que era pároco tinha redigido um catecismo e durante o episcopado em Mântua trabalhou a fim de que se alcançasse um catecismo único, se não universal, ao menos italiano.
Como autêntico pastor, havia compreendido que a situação da época, até pelo fenômeno da emigração, tornava necessária um catecismo ao qual todos os fiéis pudessem se referir, independentemente do local e das circunstâncias de vida. Como Pontífice, preparou um texto da doutrina cristã para a diocese de Roma que se difundiu por toda a Itália e mundo. Este Catecismo chamado “de Pio X” foi, para muitos, um guia seguro no aprendizado das verdades da fé em linguagem simples, clara e precisa, e pela eficácia expositiva.
Dedicou considerável atenção à reforma da liturgia, especialmente da música sacra, para conduzir os fiéis a uma vida de oração mais profunda e a participação mais plena nos sacramentos.
No Motu Proprio Tra le sollecitudini (1903, primeiro ano de seu pontificado), afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua primeira e indispensável fonte na participação ativa nos santos mistérios e na oração pública e solene da Igreja (cf. ASS 36 [ 1903], 531). Por isso, recomendou a aproximação freqüentemente dos sacramentos, favorecendo a freqüência diária, bem preparada, à Sagrada Comunhão e antecipando oportunamente a primeira Comunhão das crianças em torno dos sete anos de idade, “quando a criança começa a raciocinar” (cfr. S. Congr. de Sacramentis, Decretum Quam singulari : AAS 2[1910], 582).
Fiel à missão de confirmar os irmãos na fé, São Pio X, diante de algumas tendências que se manifestaram no âmbito teológico no final do século XIX e início do século XX, intervém decisivamente condenando o “Modernismo”, para defender os fiéis de concepções errôneas e promover um aprofundamento científico da Revelação em consonância com a Tradição da Igreja. Em 07 de maio de 1909, com a Carta Apostólica Vinea electa, fundou o Pontifício Instituto Bíblico. Os últimos meses de sua vida foram marcados pelo fulgor da guerra. O apelo aos católicos do mundo, lançado em 02 de agosto de 1914 para expressar “a amarga dor” da hora presente, era o grito de sofrimento do pai que vê os filhos se enfileirarem uns contra os outros. Morreu pouco tempo depois, em 20 de agosto, e sua fama de santidade começou a se espalhar rapidamente entre o povo cristão.
Queridos irmãos e irmãs, São Pio X nos ensina a todos que na base da nossa atividade apostólica, nos vários campos em que atuamos, deve sempre haver uma íntima união pessoal com Cristo, a cultivar e crescer dia após dia. Este é o núcleo de todo o seu ensinamento, todo o seu empenho pastoral. Somente se estivermos apaixonados pelo Senhor seremos capazes de levar os homens a Deus e abrir a eles o Seu amor misericordioso, e, assim, abrir o mundo à misericórdia de Deus.
Saudação em língua portuguesa:
A minha saudação a todos os peregrínos víndos do Brasil, de Portugal e demais países lusófonos, com uma bênção particular pára os alúnos do Seminário do Verbo Divino, de Tortoséndo: na vossa formação, empenhái-vos em seguír o exemplo dos grándes pastores como São Pio X, sendo sempre humildes e fiéis servidores da Verdade. Que Deus vos abençóe!
DICI – Em 2 de julho, Monsenhor Guido Pozzo (à direita na foto), secretário da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, proferiu uma conferência no seminário da Fraternidade São Pedro, em Wigratzbad, intitulada “Aspectos da eclesiologia católica na recepção do Vaticano II”. Nela, ele afirmou que “se o Santo Padre fala de duas interpretações ou chaves de leitura divergentes, uma da descontinuidade ou ruptura com a Tradição Católica, e a outro da renovação na continuidade (emseu discurso de 22 de dezembro de 2005 à Cúria Romana, ndr), significa que a questão crucial da fonte, ou o ponto realmente determinante do trabalho de desorientação e de confusão que caracterizou e ainda caracteriza a nossa época, não provém do Concílio Vaticano II enquanto tal e não é o ensino objetivo contido em seus documentos, mas a interpretação deste ensino” (sublinhado no texto, como todas as passagens em negrito que seguem, ndr).
A análise de Monsenhor Pozzo sobre a influência do para-concílio.
Monsenhor Pozzo pretende provar que, sobre dois pontos controversos (o primeiro, a unidade e a unicidade da Igreja Católica, com a questão do subsistit in em Lumen Gentium 8, e o outro, o das relações entre a Igreja Católica e outras religiões, com o diálogo ecumênico e inter-religioso), “o anúncio autêntico da Igreja, no que diz respeito a sua reivindicação de plenitude, não foi modificado substancialmente desde o ensinamento do Vaticano II”.
Portanto, não resta senão perguntar por que os documentos conciliares, aos olhos de Monsenhor Pozzo tão claramente conformes à Tradição, deram lugar a uma interpretação de tal maneira oposta. O prelado romano se pergunta e responde: “Qual é a origem da interpretação da descontinuidade, ou da ruptura com a tradição? É que podemos chamar a ideologia conciliar, ou, mais exatamente, para-conciliar, que tomou conta do Concílio desde o início, se sobrepondo a ele. Com esta expressão, não se pretende nada que diga respeito aos textos do Concílio, nem à intenção dos autores, mas ao quadro geral de interpretação no qual o Concílio foi colocado e que age como uma espécie de acondicionamento interno da leitura sucessiva dos fatos e dos documentos. O Concílio não é a ideologia para-conciliar, mas na história do acontecimento eclesial e dos meios de comunicação de massa, se executou largamente a mistificação do Concílio, que é precisamente a ideologia para-conciliar. Para que todas as conseqüências da ideologia para-conciliar fossem manifestadas como um acontecimento histórico, seria necessário considerar a revolução de 68, que toma como princípio a ruptura com o passado e a mudança radical da história. Na ideologia para-conciliar, o movimento de 68 significa uma nova figura da Igreja em ruptura com o passado”.
E Monsenhor Pozzo conclui que é necessário utilizar “a hermenêutica da reforma na continuidade”, preconizada por Bento XVI, “para enfrentar as questões controversas, liberando, por assim dizer, o Concílio do para-concílio que se misturou com ele, e conservando o princípio da integridade da doutrina católica e da plena fidelidade ao Depósito da Fé transmitido pela Tradição e interpretado pelo Magistério da Igreja”.
Uma interrogação permanece ao fim desta exposição: o para-concílio denunciado pelo secretário da Comissão Ecclesia Dei se identifica com o pós-concílio? Somos tentados a responder afirmativamente se considerarmos que esse para-concílio teria se esforçado em fazer coincidir os documentos redigidos entre 1962 e 1965 com o espírito da revolução de maio de 68. Mas também é dito que “aideologia conciliar, ou, mais exatamente, para-conciliar, (…) tomou conta do Concílio desde o início, se sobrepondo a ele”. Esta sobreposição “desde o início” não teve nenhuma influência sobre a redação dos textos conciliares? Monsenhor Pozzo considera que a ideologia para-conciliar não afeta nem os textos do Concílio, nem a intenção dos autores, mas fornece somente “o quadro geral de interpretação no qual o Concílio foi colocado e que age como uma espécie de acondicionamento interno da leitura sucessiva dos fatos e dos documentos”. A ideologia para-conciliar seria, por conseguinte, um quadro externo que condiciona do interior a leitura dos documentos! Parece mais simples ver uma influência estranha à Tradição se exercer diretamente sobre a sua redação.
O testemunho de Dom Lefebvre
Dom Lefebvre
É que declarava francamente Dom Marcel Lefebvre em Ils l’ont décournné [“Eles O destronaram”]: “É certo que, com os 250 padres conciliares do Coetus (Coetus Internationalis Patrum, grupo de bispos conservadores fundado por Dom Lefebvre, Dom Carli e Dom Proença-Sigaud, ndr), tentamos, por todos os meios colocados a nossa disposição, impedir os erros liberais de se exprimirem nos textos do Concílio; o que fez com que nós pudéssemos como que limitar os danos, alterar tais frases inexatas ou tendenciosas, acrescentar tal frase para retificar uma proposta tendenciosa, uma expressão ambígua.
“Mas devo confessar que não tivemos êxito em purificar o Concílio do espírito liberal e modernista que impregnava a maior parte dos esquemas. Os editores, com efeito, eram exatamente os peritos e os Padres manchados por esse espírito. Ora, o que querer quando um documento é, em todo o seu conjunto, redigido com um espírito falso? É praticamente impossível purificá-lo deste espírito; seria necessário recompô-lo completamente para lhe dar um espírito católico.
“O que pudemos fazer, é, pelos modi que apresentamos, fazer acrescentar incisos nos esquemas, e isso se vê muito bem: basta comparar o primeiro esquema da liberdade religiosa com o quinto que foi redigido — pois este documento foi cinco vezes rejeitado e retornou cinco vezes à tona — para ver que houve, de todo modo, êxito em atenuar o subjetivismo que infectava as primeiras redações. O mesmo para a Gaudium et Spes, se vê muito bem os parágrafos que foram acrescentados a nosso pedido, e que estão lá, diria eu, como retalhos devolvidos a uma velha roupa: ele não cola nem junta; ele não tem mais a lógica da redação primitiva; as adições feitas para atenuar ou contrabalançar as afirmações liberais permanecem lá como corpos estranhos (…)
“Mas, o fastidioso é que os próprios liberais praticaram este sistema no texto dos esquemas: a afirmação de um erro ou de uma ambigüidade ou de uma orientação perigosa, e, imediatamente antes ou depois, a afirmação em sentido contrário, destinada a tranqüilizar os padres conciliares conservadores.” (Ils l’ont découronné, Clovis, pp. 193-194, pode-se obter a obra aqui).
Romano Amerio e o seu discípulo Enrico Maria Radaelli denunciam “uma abissal ruptura de continuidade”
Romano Amerio
É possível encontrar um eco do testemunho de Monsenhor Lefebvre no terceiro volume das obras completas de Romano Amerio, publicado nos últimos dias na Itália pelas edições Lindau, sob o título Zibaldone, retomando o título de uma obra do poeta Giacomo Leopardi que significa uma mistura que reúne, sem ordem, “curtos pensamentos, aforismos, relatos, citações de autores clássicos, diálogos morais, comentários de acontecimentos do cotidiano”, como escreveu em 12 de julho o vaticanista Sandro Magister em o seu sítio chiesa.espressonline (tradução portuguesa publicada no Fratres in Unum). Magister assim apresenta a obra de Amerio: “Dessa sua análise fortemente crítica, que ele aplicava também ao Concílio Vaticano II, Amerio extraiu o que Enrico Maria Radaelli, seu fiel discípulo e editor da publicação das obras do mestre, chama de “grande dilema subjacente ao fundo do cristianismo atual”. Este dilema é o de saber se há continuidade ou ruptura entre o magistério da Igreja de antes e depois do Vaticano II.
“(…) a juízo de Amerio e Radaelli, esta é justamente a causa da crise da Igreja conciliar e pós-conciliar, uma crise que levou o mais próximo da perdição, ‘impossível mas também quase alcançada’, como é o ter desejado renunciar a um magistério imperativo, com definições dogmáticas “inequívocas na linguagem, certas no conteúdo, vinculantes na forma, como se espera ser ao menos os ensinamentos de um Concílio”.
“A conseqüência, segundo Amerio e Radaelli, é que o Concílio Vaticano II está cheio de asserções vagas, interpretáveis de modos diferentes, das quais algumas estão também em aberto contraste com o magistério anterior da Igreja (destaques nossos). Essa linguagem pastoral ambígua é o que havia aberto o caminho a uma Igreja hoje “percorrida por milhares de doutrinas e centenas de milhares de costumes nefastos”, inclusive na arte, música e liturgia.
“O que fazer para remediar essa calamidade? A proposta que faz Radaelli vai mais além daquela feita recentemente — a partir de juízos críticos tão duros quanto — por outro defensor apaixonado pela tradição católica, o teólogo tomista Brunero Gherardini, de 85 anos de idade, cônego da basílica de São Pedro, professor emérito da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista ‘Divinitas’”.
“Monsenhor Gherardini antecipou sua proposta num livro publicado em Roma, no ano passado, com o título: ‘Concilio Ecumenico Vaticano II. Um discorso da fare’. O livro conclui com uma ‘Súplica ao Santo Padre’, a quem se pede que submeta a um novo exame os documentos do Concílio, para esclarecer, de uma vez por todas, ‘se, em que sentido e até que ponto’ o Vaticano II está ou não em continuidade com o magistério anterior da Igreja. (…)
“Pois bem, em seu epílogo a ‘Zibaldone’ de Romano Amerio, o professor Radaelli recolhe a proposta de Monsenhor Gherardini, mas ‘apenas como uma primeira instância para purificar o ambiente de muitos, muitos mal entendidos’. Com efeito, segundo Radaelli, não é suficiente esclarecer o sentido dos documentos conciliares, se tal esclarecimento é oferecido depois à Igreja com o mesmo estilo ineficaz de ensinamento ‘pastoral’ que se tornou costume com o Concílio, propositivo mais que impositivo.
“Se o abandono do princípio de autoridade e o ‘discussionismo’ são a enfermidade da Igreja conciliar e pós-conciliar, para sair dela — afirma Radaelli — é necessário trabalhar de forma contrária. A máxima hierarquia da Igreja deve fechar a discussão com um pronunciamento dogmático ‘ex cathedra’, infalível e vinculante. Deve atingir com o anátema os que não obedeçam e deve bendizer os que obedecem.
“O que Radaelli espera que a cátedra suprema da Igreja decrete? Assim como Amerio, ele está convencido de que ao menos em três casos se deu ‘uma ruptura abismal da continuidade’ entre o Vaticano II e o magistério anterior: onde a Concílio afirma que a Igreja de Cristo ‘subsiste na’ Igreja Católica, em vez de dizer que ‘é’ a Igreja Católica; onde assevera que ‘os cristãos adoram o mesmo Deus adorado pelos judeus e muçulmanos’; e na Declaração ‘Dignitatis Humanae’ sobre a liberdade religiosa.
A hermenêutica da reforma na continuidade é um remédio suficiente?
Mons. Brunero Gherardini
No fim de seu artigo, Sandro Magister mostra que a crítica do Concílio por Romano Amerio e Monsenhor Gherardini não é, aos olhos do Papa, admissível: “Tanto Gherardini como Amerio-Radaelli reconhecem em Bento XVI um Papa amigo. Mas há que se descartar que ele assinta a seus pedidos. Mais ainda, tanto no conjunto como em alguns pontos controversos, o Papa Joseph Ratzinger já fez saber que não compartilha em absoluto de suas posições.
“Por exemplo, no verão de 2007, a Congregação para a Doutrina da Fé se manifestou a respeito da continuidade de significado entre as fórmulas ‘é’ e ‘subsiste em’ ao afirmar que ‘o Concílio Ecumênico Vaticano II não quis mudar, nem de fato o fez, a doutrina anterior sobre a Igreja, mas que apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la mais amplamente’.
“Quanto à Declaração ‘Dignitatis humanae’ sobre a liberdade religiosa, Bento XVI explicou pessoalmente que, se ela está separada das indicações anteriores ‘contingentes’ do Magistério, fê-lo precisamente para ‘retomar novamente o patrimônio mais profundo da Igreja’.
“O discurso em que Bento XVI defendeu a ortodoxia da “Dignitatis humanae” é o que dirigiu à cúria vaticana na vigília do primeiro Natal de seu pontificado, em 22 de dezembro de 2005, precisamente para sustentar que entre o Concílio Vaticano II e o magistério anterior da Igreja não há ruptura, mas “reforma na continuidade”.
E Sandro Magister conclui: “O Papa Ratzinger não convenceu até agora aos lefebvristas, que se mantêm em estado de cisma justamente neste ponto crucial (a afirmação de uma descontinuidade ou de uma ruptura em relação à Tradição constitui um cisma? Não seria antes a própria ruptura que pode ser sinônimo de cisma? ndr). Mas não convenceu — de acordo com o que escrevem Radaelli e Gherardini — nem sequer a alguns de seus filhos ‘obedientíssimos em Cristo’”.
De um lado, Monsenhor Pozzo propõe libertar o Concílio do para-concílio, e de outro, Amerio e Radaelli pedem que o Magistério Romano deixe de “pastoralizar” para dogmatizar claramente. Tal é o coração do debate sobre o Vaticano II que Monsenhor Gherardini afirma ser “um debate a se realizar”. Imperativamente. (DICI n°220 de 07/08/10)