Arcebispo Ranjith e a Abadia Heilgenkreuz: Colaboração na Fundação de um Monastério no Sri Lanka.

por Shawn Tribe – The New Liturgical Movement

Quando Sua Excelência o Arcebispo Malcolm Ranjith foi nomeado Arcebispo de Colombo, alguns de seus admiradores lamentaram vê-lo deixar a Congregação para o Culto Divino. Entretanto, em Heiligenkreuz, a nomeação foi saudada com alegria. Isso porque a nomeação do Arcebispo Ranjith deu nova esperança para um projeto de longa data para a fundação de um mosteiro na tradição cisterciense no Sri Lanka.

O Sri Lanka tem milhares de monges budistas, porém, não tem monges cristãos. Quando um bispo austríaco visitou o Sri Lanka, em 1985, dois sacerdotes do Sri Lanka, um deles era o Padre Malcolm Ranjith, discutiu a idéia com ele de que a coisa mais prática que poderia ser feita para a evangelização do Sri Lanka seria trazer o testemunho de um mosteiro contemplativo cristão para a ilha. Eles lhe pediram conselho sobre como isso poderia ser feito, e então ele sugeriu entrar em contato com a Abadia de Heiligenkreuz.

Há muito tempo Heiligenkreuz estava interessada no testemunho ao Evangelho que uma comunidade contemplativa poderia dar no país predominantemente budista. De fato, nos anos 50, o Abade de Heiligenkreuz esperava fundar um mosteiro no Tibet. Assim, quando os dois sacerdotes contataram a Abadia, a idéia deles foi bem recebida, porém, a circunstância de que a Heiligenkreuz estava engajada em fazer uma fundação na Alemanha, no final dos anos 80, a impediu de dar quaisquer passos naquela época. A idéia ficou mais ou menos adormecida até 1999, quando Ranjith, que havia se tornado bispo de Ratnapura, tentou persuadir a Heiligenkreuz de tentar o projeto novamente. Infelizmente, entretanto, o capítulo da Heiligenkreuz não estava pronto para arriscar a fundação de uma casa filha naquela época. O bispo Ranjith não se sentiu desencorajado: “Joguem as suas redes novamente,” ele escreveu aos monges, “porém, desta vez do lado certo!” Ele propôs que enquanto a abadia Heiligenkreuz não enviasse por si mesma os monges para iniciar a casa filha, ajudaria se ele fundasse um mosteiro como um instituto diocesano. O bispo Ranjith enviaria jovens para Heiligenkreuz para fins de formação monástica, e estes poderiam então fundar um mosteiro sob a sua direção. Em 2001 os primeiros jovens candidatos cingaleses chegaram à Heiligenkreuz.

O bispo Ranjith, entretanto, foi chamado a Roma naquele mesmo ano, e sem a sua liderança o projeto teve que passar muitos anos de frustração através de dificuldades de vários tipos. Há alguns anos o projeto saiu da diocese de Ratnapura para a arquidiocese de Colombo, porém, as dificuldades continuaram. Então, veio a nomeação do Arcebispo Ranjith para Colombo e o projeto recebeu nova vida. No sábado, um pequeno grupo de monges cingaleses e um monge da Heiligenkreuz partirão para o Sri Lanka. É possível que mais monges de Heiligenkreuz sejam enviados após o estágio inicial para ajudar a jovem comunidade, porém, uma vez que a comunidade seja capaz de se sustentar eles retornarão à Heiligenkreuz.

Embora ele seja agora um instituto diocesano, a esperança de um novo mosteiro é eventualmente se unir à ordem cisterciense. O novo mosteiro será mais contemplativo do que a fundação Heiligenkreuz, seus estatutos não permitem que ele assuma paróquias ou trabalho apostólico semelhante. Em questões litúrgicas, ele seguirá a Heiligenkreuz, com o ofício divino cantado em latim, etc. Diversamente de Heiligenkreuz, entretanto, o novo mosteiro deverá celebrar a Missa ad orientem – um pedido particular do Arcebispo Ranjith.

A nova fundação pede orações para o seu florescimento. A seguinte oração foi redigida pelos monges mais jovens do Sri Lanka:

Oh, Virgem Maria, Mãe da Igreja, vós fostes abençoada para trazer em vosso ventre a Salvação de todo o universo, como a Serva de Deus Todo Poderoso, intercedei por nós junto ao vosso divino filho, o Mediador de nossa reconciliação com o Pai.

Oh, Maria Imaculada, nós, que estamos unidos aqui, consagramos a fundação da nova comunidade monástica de São Bernardo, para a Vida Cisterciense no Sri Lanka, ao vosso Imaculado Coração. Guiai e assisti todos aqueles envolvidos nesta missão especial de seu Filho nosso Salvador Jesus Cristo. Preservai-os na Fé, fortalecei-os na Esperança, e aumentai a sua Caridade para esta tarefa especial.

Pedimos para que Deus, através da vossa intercessão, abençoe os seus esforços com fruto abundante, especialmente, para os jovens devotados, para discernir o seu chamado à santidade e entregar-se totalmente a nosso Senhor Jesus Cristo como monges nas pegadas de São Bernardo. Que o novo mosteiro possa trazer todas as almas para o seu Imaculado Coração e que isso traga paz e harmonia para toda a terra através de sua intercessão e a benção do Senhor Jesus Cristo Todo Poderoso e Deus Misericordioso, pela intercessão de Nossa Santa Mãe Maria, de São Bernardo e de todos os Santos, concedei a nossa oração através do Pastor Eterno, seu Filho nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


O machado de Dom Ranjith sobre os movimentos de “renovação”: um basta nas danças, palmas, arbitrariedades na liturgia, “louvor e adoração”.

Colombo (Sri Lanka), Dom Ranjith declara guerra aos desvios litúrgicos dos Neocatecumenais [e dos Carismáticos] : “Vetados os cantos e danças durante a missa, obrigatória a comunhão de joelhos”

CIDADE DO VATICANO (Petrus) – Dom Malcolm Ranjith é alguém que entende de Liturgia. Foi, de fato, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos antes de Bento XVI nomeá-lo, no ano passado, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka. O Papa confia muito nele, a tal ponto que deve criá-lo Cardeal no próximo consistório. Dom Ranjith (na foto) se tornou muito admirado nos seus anos de serviço no Vaticano pela nobre defesa da gloriosa tradição litúrgica da Igreja, uma batalha que retomou energicamente em sua nova diocese, proibindo extravagância e improvisações durante a celebração da Eucaristia e “recomendando” a administração da Comunhão apenas sobre a língua e aos fiéis ajoelhados, como já é o caso durante a missa presidida pelo Pontífice. Mas aqui está o texto completo, rico em muitíssimos elementos, enviado pelo arcebispo de Colombo a seus sacerdotes e fiéis, com particular referência àqueles pertencentes aos movimentos (entre os quais recai seguramente o Caminho Neocatecumenal, mas Dom Ranjith não o cita explicitamente) que, habitualmente, se aproximam da Eucaristia de um modo diferente do estabelecido pela Igreja ou participam da missa com cantos e danças em torno do altar, permitindo, contudo, a pregação por leigos durante a celebração:

“Queridos irmãos e irmãs,

Recentemente, algumas pessoas e movimentos católicos de renovação desenvolveram muitos exercícios para-litúrgicos não previstos pelo calendário paroquial ordinário. Apreciando as numerosas conversões, o valor do testemunho, o entusiasmo renovado pela oração, a participação dinâmica e a sede da Palavra de Deus, como bispo diocesano e administrador geral dos mistérios de Deus na igreja local a mim confiada, sou o moderador, o promotor e o guardião da vida litúrgica da arquidiocese de Colombo. Como tal, vos convido a refletir sobre os aspectos litúrgicos e eclesiológicos relacionados a esta nova situação e vos peço insistentemente que respeiteis as diretrizes enunciadas na presente circular de efeito imediato. A Eucaristia é a celebração do mistério pascal por excelência dado à Igreja pelo próprio Jesus Cristo. Jesus Cristo é o princípio de toda liturgia na Igreja e por esta razão toda liturgia é essencialmente de origem divina. Ela é o exercício da Sua função sacerdotal e, portanto, não é certamente um simples empreendimento humano ou uma inovação piedosa. Na verdade, é incorreto definí-la uma simples celebração da vida. É muito mais do que isso. É a fonte e o ápice do qual todas as graças divinas enchem a igreja. Este sagrado mistério foi confiado aos apóstolos pelo Senhor e a Igreja cuidadosamente preservou a celebração ao longo dos séculos, dando vida à tradição sagrada e a uma teologia que não cedem à interpretação individual ou privada. Nenhum padre, conseqüentemente, diocesano ou religioso que seja, proveniente de uma outra arquidiocese ou mesmo do exterior, está autorizado a modificar, adicionar ou suprimir qualquer coisa no rito sagrado da missa. Não se trata de uma novidade, mas de uma decisão tomada em 1963 pela Constituição “Sacrosanctum Concilium” (22, 3), a Constituição Dogmática sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, posteriormente reiterada várias vezes em documentos como “Sacramentum Caritatis”, de Sua Santidade Bento XVI, e “Ecclesia de Eucharistia” do Papa João Paulo II, de venerada memória. A este respeito, convém mencionar explicitamente alguns elementos: os sacerdotes não estão autorizados a modificar ou improvisar a Oração Eucarística ou outras orações imutáveis da Missa — mesmo quando se trata de dar detalhes sobre um elemento já presente — cantando respostas ou explicações diferentes. Devemos compreender que a liturgia da Igreja é estreitamente ligada à sua fé e sua tradição: “Lex orandi, lex credendi”, a regra da oração é a regra de fé! A liturgia nos foi dada somente pelo Senhor, ninguém mais, portanto, tem o direito de mudá-la; as manifestações do tipo “Praise and Worship” (literalmente “louvor e adoração”, mas aqui diz respeito a uma corrente musical de estilo gospel, NdT) não são permitidos no rito da Missa. A música desordenada e ensurdecedora, as palmas, os longos discursos e os gestos que perturbam a sobriedade da celebração não são autorizados. É muito importante que compreendamos a sensibilidade cultural e religiosa do povo do Sri Lanka. A maioria dos nossos compatriotas são budistas e por este motivo estão habituados a um culto profundamente sóbrio; por sua vez, nem os muçulmanos nem os hindus criam agitação em sua oração. Em nosso país, além do mais, há uma forte oposição às seitas cristãs fundamentalistas e nós, como católicos, nos esforçamos para fazer compreender que os católicos são diferentes dessas seitas. Alguns destes chamados exercícios de louvor e adoração se assemelham mais aos exercícios religiosos fundamentalistas que a um culto católico romano. Que seja permitido respeitar a nossa diversidade cultural e a nossa sensibilidade; a Palavra de Deus prescrita não pode ser alterada aleatoriamente e o Salmo responsorial deve ser cantado e não substituído por cantos de meditação. A dimensão contemplativa da Palavra de Deus é de suma importância. Em alguns serviços para-litúrgicos as pessoas hoje têm a tendência a se tornar extremamente faladoras e tagarelas. Deus fala e nós devemos escutá-Lo; para ouvir bem, o silêncio e a meditação são mais necessários que a exuberância cacofônica; os sacerdotes devem pregar a Palavra de Deus sobre os mistérios litúrgicos celebrados. É expressamente proibido aos leigos pregar durante as celebrações litúrgicas; a Santíssima Eucaristia deve ser administrada com extremo cuidado e máximo respeito, e exclusivamente por aqueles autorizados a fazê-lo. Todos os ministros, ordinários e extraordinários, devem estar revestidos dos ornamentos litúrgicos apropriados. Recomendo a todos os fiéis, inclusive religiosos, receber a comunhão com reverência, de joelhos e na boca. A prática da auto-comunhão é proibida e pediria humildemente a cada sacerdote que a permite que suspendesse imediatamente esta prática; todos os sacerdotes devem seguir o rito da missa como determinado, de modo a não dar espaço a comparações ou opor as Missas celebradas por alguns sacerdotes às outras Missas ditas pelo resto dos sacerdotes; as bênçãos litúrgicas são reservadas exclusivamente aos ministros da liturgia: bispos, sacerdotes e diáconos. Todos podem rezar uns pelos outros. Recomenda-se insistentemente, entretanto, não usar gestos que podem provocar fantasias, confusões ou uma interpretação errônea”.

Dom Ranjith: “Sinceramente não me arrependo do que disse. A história e o Senhor me julgarão”.

Excertos de entrevista concedida por Dom Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, novo arcebispo de Colombo, Sri Lanka, à Avvenire, de 5 de agosto de 2009, que nos chega via Papa Ratzinger blog:

Excelência, após três anos e meio o senhor deixa seu cargo de secretário da Congregação para o Culto Divino…

Dom Ranjith

Permaneço profundamente grato ao Papa por ter me chamado a Roma para colaborar com ele num campo crucial como o da liturgia. Nestes anos tive a alegria de poder viver de maneira próxima à ação do Papa e sua insistência na renovação da Igreja, intimamente ligada à renovação da vida litúrgica.

Como se encontrava seu trabalho na Congregação?

Tive a oportunidade de trabalhar com dois cardeais – Francis Arinze primeiro e Antonio Cañizares Llovera por alguns meses – realmente à altura da situação. Procurei nestes poucos anos assegurar que houvesse mais debates e reflexões sobre aqueles aspectos da liturgia que infelizmente têm sido relegados às margens, mas que de fato pertencem ao essencial, como também indicados nos diversos escritos do Papa na matéria. Quanto diz respeito ao futuro, bem, estou certo de que com o Cardeal Canizares a liturgia da Igreja está verdadeiramente em boas mãos.

E na Cúria Romana?

Como todos sabem, passei oito anos a serviço da Santa Sé. Esta experiência me enriqueceu muito, expandindo os horizontes e me fazendo saborear o mistério daquela íntima ligação entre a Igreja e a Senhor e Sua ação santificadora por meio dela, freqüentemente no silêncio, com paciência e, apesar das dificuldades, obstáculos e diferenças de visões humanas que submergem até mesmo os seus discípulos.

O senhor não se arrependeu de algumas declarações feitas no passado e que foram vistas como muito críticas com relação à situação atual da vida litúrgica da Igreja e muito positivas para com o mundo tradicionalista ligado aos chamados ritos pré-conciliares?

Talvez algumas vezes tenha usado tons um pouco fortes, mas sinceramente não me arrependo do que disse. A história e o Senhor me julgarão.

O Revmo. Pe. Clécio oferece a íntegra da entrevista traduzida em seu blog Oblatvs.

Dom Ranjith, novo arcebispo de Colombo. Pe. Di Noia, novo secretário para o Culto Divino.

O Papa nomeou Arcebispo de Colombo (Sri Lanka) S. E. Mons. Patabendige Don Albert Malcolm Ranjith, Arcebispo Titular de Umbriatico, transferindo-o do Ofício de Secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos.

O Santo Padre nomeou Secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos o Revmo. Padre Joseph Augustine Di Noia, O.P., até então sub-secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, elevando-o ao mesmo tempo à sé titular de Oregon City, com dignidade de Arcebispo.

Fonte: Bollettino Sala Stampa della Santa Sede

Rumores: Motu Proprio de Bento XVI sobre Comissão Ecclesia Dei. Dom Ranjith para Colombo. Preparam as discussões doutrinais.

Nas próximas semanas será publicado um Motu Proprio de Bento XVI que fará a Comissão Ecclesia Dei… um organismo da Congregação para a Doutrina da Fé. Papa Ratzinger já tinha anunciado isso em março passado, numa carta enviada para todos os bispos do mundo dedicada ao caso Williamson e à revogação da excomunhão dos prelados consagrados por Lefebvre. No próximo 4 de julho Dario Castrillón Hoyos, atual Presidente da Ecclesia Dei, completará 80 anos de idade e deixará seu posto por motivos de idade. A Comissão será então presidida pelo Prefeito do ex-Santo Ofício, o americano Cardeal William Joseph Levada. O Vice-Presidente Mons. Perl irá permanecer em seu cargo enquanto será nomeado um novo Secretário para substituir o [recentemente] falecido Mons. Mario Marini. Exatamente nesta manhã, a agência francesa I.Media revelou que na reunião da “feria quarta” os cardeais membros da Congregação para Doutrina da Fé reuniram uma primeira plataforma para o início do diálogo com os Lefebvristas… Enquanto isso, como Il Giornale antecipou há poucos dias, neste Sábado deve ser anunciada a nomeação do Secretário da Congregação para a Culto Divino [Arcebispo] Malcom Ranjith Patabendige Don como Arcebispo de Colombom. Em seu lugar será designado o atual subsecretário do ex-Santo Ofício, o dominicano Di Noia.

Andrea Tornielli, via WDTPRS

[Atualização – 10 de junho de 2009, às 15:05] – Excerto de notícia de I.Media publicada também em WDTPRS, desta vez via Rorate-Caeli.

[…] Segundo a agência francesa I.Media, os cardeais do ex-Santo Ofício — a quem o Papa Ratzinger confiou o diálogo com os Lefebvristas em vista de sua eventual reinstalação, no futuro, na estrutura da Igreja — discutiram um texto “redigido para esclarecer os parâmetros do diálogo doutrinal com a Fraternidade”. Este diálogo deve começar com a necessidade “de aceitar o Concílio Vaticano Segundo e o Magistério do Papa” subsequente ao Concílio.

Conforme I.Media, o superior dos lefebvristas, [bispo] Bernard Fellay, foi recebido na Congregação para a Doutrina da Fé no último dia 5 de junho e, mesmo que não tenha sido identificado o “time” com o qual os dois lados conduzirão o diálogo, é provável que tomem parte o dominicano suíço pe. Charles Morerod, o novo secretário da Comissão Teológica Internacional e, da parte dos lefebvristas, padre Gregoire Celier, co-autor de um recente livro sobre Bento XVI.

Entretanto, enquanto o diálogo “doutrinal” com o Vaticano dá seus primeiros passos, os lefebvristas decidiram desafiar novamente a autoridade do Papa, anunciando a ordenação de ao menos 21 novos padres em três partes do mundo.

Curtas da semana.

Dom Fellay na Congregação para a Doutrina da Fé.

Dom Bernard Fellay(ReL) Na última sexta-feira voltou a circular em Roma os rumores sobre um possível acordo entre o Vaticano e a Fraternidade de São Pio X, fundada em 1970 pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre (1905-1991). Tudo surgiu ao se saber da presença do superior da congregação, monsenhor Bernard Fellay, na Cidade Eterna, que na sexta-feira teria uma audiência na Congregação para a Doutrina da Fé.

Súplica ao Santo Padre: caminhar para além das afirmações retóricas.

Mons. Gherardini Brunero‹‹ Para o bem da Igreja – e mais especificamente para a atuação da “salus animarum” que é a primeira e “suprema lex” – depois de décadas de livre criatividade exegética, teológica, litúrgica, historiográfica e “pastoral” em nome do Concílio Ecumênico Vaticano II, parece-me urgente que se faça um pouco de clareza, respondendo oficialmente à pergunta sobre a continuidade do mesmo – não declamada, mas demonstrada – com os outros Concílios e sua fidelidade à Tradição desde sempre em vigor na Igreja. […] Parece, de fato, difícil, se não impossível, colocar as mãos na esperada hermenêutica da continuidade, a menos que se proceda a uma análise cuidadosa e científica de cada um dos documentos, deles conjutamente e de todos os seus argumentos, suas fontes imediatas e remotas, e se continua em vez de falar apenas repetindo o conteúdo ou apresentando-o como uma novidade absoluta. Esse pensamento há tempos nasceu em minha mente – que ouso ora apresentar à Sua Santidade – de uma grande e Livro de Mons. Gherardini possivelmente definitiva purificação sobre o último Concílio em todos os seus aspectos e conteúdo. Parece, de fato, lógico e adequado que todos os aspectos e conteúdos sejam estudados em si e em conjunto com todos os outros, com os olhos fixos em todas as fontes, e sob o ângulo específico do Magistério eclesiástico precedente, solene e ordinário. A partir desse amplo e irrepreensível trabalho científico, comparado com os resultados seguros da atenção crítica ao secular Magistério da Igreja, será então possível elaborar um argumento para uma avaliação segura e objetiva do Concílio Vaticano II […] Mas se a conclusão científica do exame levar à hermenêutica da continuidade como a única devida e possível, será portanto necessário provar – para além de toda afirmação retórica – que a continuidade é real, e tal se manifesta apenas na identidade dogmática de fundo. […] [Se] não resultar cientificamente provado, seria necessário dizê-lo com serenidade e franqueza, em resposta à exigência de clareza sentida e esperada por quase meio século. ›› Do recém lançado livro de Monsenhor Brunero Gherardini, Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare, editado pela Casa Mariana Editrice di Frigento, fundada e dirigida pelos Franciscanos da Imaculada, com prefácio de Dom Mario Oliveri, bispo de Albenga e Imperia, e apresentação de Dom Albert Malcom Ranjith, secretário da Congregação para o Culto Divino.

Acordo secreto.

(Rorate-Caeli) Giacomo Galeazzi faz a resenha da nova biografia de Paulo VI escrita por Andrea Tornielli para o La Stampa e menciona que aquilo que muitos consideravam uma teoria da conspiração era verdade: sem dúvida, houve um acordo secreto, conduzido pelo Cardinal Tisserand, entre a União Soviética e a Santa Sé (sob João XXIII) em 1962 – um acordo que Paulo VI também respeitou, conforme Galeazzi diz:  ‹‹ Em uma nota de 15 de novembro de 1965, Montini, de fato, menciona explicitamente que dentre “os compromissos do Concílio” existe também aquele “de não mencionar o comunismo (1962)”.  A indicação da data do final da frase escrita por Paulo VI refere-se ao acordo secreto, relacionado por Tisserand, entre Roma e Moscou ›› .  E isso explicaria porque o Concílio Vaticano Segundo, que discutiu todo tipo de questões, relevantes e irrelevantes da mesma forma, ignorou a ameaça mais desafiadora de seu tempo: o comunismo.

Desempregado.

Padre Fioraso(Messa in Latino) ‹‹ Uma visitação canônica enviada pela Santa Sé decidiu pela substituição do abade de Santa Croce in Gerusalemme, Padre Simon Fioraso. O vigário de Roma, o Cardeal Agostino Vallini, nomeará em breve um padre da diocese como pároco enquanto a comunidade dos cistercienses não tiver na capital forças suficientes para garantir a cura da paróquia anexa ao Mosteiro. Assim confirmou à Agi Monsenhor Marco Fibbi, diretor do departamento de comunicações Sociais da diocese de Roma ›› .  Conforme o blog Messa in Latino, os motivos para o afastamento do pároco são os abusos na liturgia e na condução da paróquia.

Uma a cada cinco é extraordinária.

(Kreuz.net) No ano de 1966 ocorreram aproximadamente 900 ingressos nos seminários franceses. Em 2007 foram menos de 150, conforme informou a organização francesa ‘Paix Liturgique’ em um comunicado de imprensa de 28 de maio. Atualmente, 756 seminaristas estudam na França. Ao final do Concílio Vaticano II eram mais de 4.500. ‘Paix Liturgique’ ressalta também que hoje em dia na França surge uma nova categoria de seminaristas – aquela dos seminários tradicionalistas. Atualmente, existem no país 160 seminaristas tradicionalistas. Assim, eles já perfazem um quinto da soma total dos candidatos ao sacerdócio. A essa altura, deve-se levar em consideração – diz a ‘Paix Liturgique’ – que a Missa será celebrada regularmente no Rito Antigo em pouco menos de uma a cada cem paróquias francesas* : “Assim, temos que reconhecer a influência “extraordinária” que o Rito Antigo exerce sobre as vocações”. Nesse ínterim, o bispo de Toulon, Mons. Dominique Marie Jean Rey (56), decretou que todos os seus seminaristas devem aprender a celebração do Rito Antigo. Mons. Rey é membro da comunidade carismática ‘Emmanuel’ fundada na França.  * Nota de Tradução: Segundo o Serviço de Informações do Vaticano (Departamento Central de Estatísticas), na França existem 16.553 paróquias para uma população de 61.350.000, dos quais 46.427.000 (75,5 por cento) são católicos.

Progressistas e neo-conservadores, está tudo em casa.

(Kreuz.net). O Professor de Teologia Dogmática de Regensburgo, Wolfgang Beinert (76), emérito em 1998, publicou um livro contra a Fraternidade São Pio X chamado “Der Vatikan und die Pius-Brüder: Anatomie einer Krise“ [O Vaticano e a Fraternidade São Pio X: Anatomia de uma crise]. A obra inclui contribuições de notórios neo-conservadores e liberais inimigos da Tradição católica, dentre eles o Professor de Teologia Dogmática de Tubinga já aposentado, Pe. Peter Hünermann, o Bispo Kurt Koch de Basel, Bispo Gerhard Ludwig Müller de Regensburgo ou o Diretor da “Agência Católica de Notícias” da Alemanha, Ludwig Ring-Eifel.

Fundo do poço.

(Kath) Na Suécia os nascituros podem ser abortados quando a mãe não concorda com o sexo da criança, conforme decisão do Serviço Nacional de Saúde em Estocolmo. Uma mãe com duas filhas de Eskilstuna (ao sul da Suécia) fez dois abortos porque não queria uma terceira filha. Ao ficar grávida novamente ela pediu aos médicos que lhe informassem o sexo da criança. Estes pediram conselho ao Serviço Público. Resposta: os abortos motivados por insatisfação com o sexo não deveriam ser negados. Caso contrário se violaria a legislação em vigor, que permite o aborto até a 18ª semana. Segundo informe do jornal sueco, no momento, existe um turismo de aborto entre a Noruega e a Suécia: o fato de que na Noruega o aborto somente é permitido até a décima segunda semana, assim que ficam sabendo o sexo da criança, as gestantes viajam cada vez mais para o país vizinho. Entre elas estariam especialmente mulheres de outras culturas. “Quando uma mulher já tem três ou quatro meninas e vem da Turquia a pressão é grande para ter um menino” cita um abortista no jornal.

Arquidiocese de Olinda pode levar Dom Fisichella ao Tribunal Eclesiástico.

(Oblatvs) A Arquidiocese de Olinda e Recife distribuiu entre oficiais da Cúria Romana um memorando detalhando as medidas tomadas pela mesma na defesa da menina de 9 anos vítima de estupro. O objetivo do memorando é chegar a uma solução “cristã e amigável” para o impasse criado pelo artigo do Presidente da Pontifícia Academia para a Vida publicado no L’Osservatore Romano. Segundo Monsenhor Ignácio Barreiro, é a coisa certa a ser feita antes de buscar a solução no tribunal. […] O memorando de seis páginas é assinado pelo advogado da arquidiocese pernambucana e foi distribuído para centenas de oficiais da cúria. Ele desmonta a versão apresentada pelo artigo de Dom Fisichella e que repercutiu no mundo inteiro, em razão do autor e do jornal.[…] Dom Cardoso Sobrinho disse recentemente que o L’Osservatore se recusa a publicar sua versão dos fatos. O jornal já havia cometido uma injustiça contra Dom José e agora comete a segunda. Diante dos poderosos bispos americanos a atitude do corajoso editor do jornal foi bem outra.

A guerra na cúria: rumores sobre transferência de Mons. Ranjith para Colombo.

ranjith1Conforme mencionado anteriormente aqui há cerca de um ano, as crescentes pressões contra o formidável Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Arcebispo Malcolm Ranjith, finalmente deixará seu cargo. O vaticanista italiano Andrea Tornielli informou hoje que a nomeação de Ranjith como Arcebispo de Colombo, capital de sua terra natal, o Sri Lanka, será anunciado no próximo sábado.

Tornielli sugere que Ranjith poderia se tornar Cardeal (somente um ocupante da Sé de Colombo se tornou Cardeal) no que será o Segundo exílio da Cúria Romana – o seu primeiro exílio ocorreu em 2004, quando, na condição de secretário adjunto da Propaganda Fide, ele foi nomeado repentinamente Núncio para a Indonésia pelo Papa João Paulo II.

Tornielli menciona também que um prelado de uma nação de língua inglesa poderia ser o novo Secretário do Culto Divino, um homem que iria “pacificar o campo de batalha litúrgico” …

Veja todas as notícias relacionadas a Dom Ranjith aqui.

Fonte: Rorate Caeli

Cardeal Arinze confirma mudança no “sinal da paz”; Bux para substituir Ranjith?

A mudança no posicionamento no ordinário da missa do “sinal da paz”, objeto de um questionário enviado pela Congregação para o Culto Divino às Conferências Episcopais (citado aqui), foi confirmado pelo Cardeal Francis Arinze. O purpurado ainda acrescentou o motivo da mudança: “Para criar um clima de maior recolhimento enquanto se prepara para a Comunhão, e pensou em transferir o sinal da paz para o ofertório. O Papa fez uma consulta a todo o episcopado. Logo, decidirá“. A balbúrdia que se faz no momento de distribuir o “sinal da paz” deve ser mais um daqueles “abusos que chegaram ao limite do suportável“.

Aumentam os rumores sobre as sucessões na Congregação para o Culto Divino. O Cardeal Arinze, que completa 76 anos em novembro, seria substituído pelo espanhol Cardeal Canizares, arcebispo de Toledo; já o secretário da Congregação, Mons. Ranjith, retornaria a seu país, Sri-Lanka, como arcebispo (e futuro Cardeal) de Colombo, cuja sede está vacante. Seu substituto natural seria Don Nicola Bux, amigo do Papa. É o que informa Bruno Volpe.

Resta-nos rezar.

Mons. Ranjith: “A situação da fé na presença real da Eucaristia é bastante preocupante…”

A situação da fé na presença real da Eucaristia é bastante preocupante. Não quero dizer que todos tenham perdido a fé. Contudo, nós da Congregação para o Culto Divino fizemos recentemente uma sondagem sobre a Adoração Eucarística, que será o tema de nossa próxima reunião plenária. Dos informes das diversas conferências episcopais, no que diz respeito aos aspectos negativos, surge a constatação de que no clero influenciado por certas tendências teológicas não existe mais uma fé clara na presença real de Cristo. Em alguns seminários se ensina que Cristo está presente apenas no momento da Consagração e da Comunhão, depois não. Se trata de uma posição mais protestante que, depois, abre caminho para abusos e até mesmo sacrilégios das espécies eucarísticas. Uma situação lamentável.

É necessário aquele sentido de reverência, fruto da consciência que temos em relação com o Corpo do Senhor, Jesus vivo em sua forma eucarística, que nós comemos, que nós adoramos. Para tanto ,se necessitará ver urgentemente como dar uma formação teológica e sacramental que assegure aos jovens seminaristas, aos sacerdotes e também aos religiosos e religiosas, um reforço deste sentido da real e contínua presença de Cristo nas espécies eucarísticas. Se não, as conseqüências só poderão ser dramáticas para a Igreja e causa de inumeráveis problemas.

Mons. Albert M. Ranjith Patabendige, Secretário da Cong. para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, à Revista Radici Cristiane – Fonte: Secretum Meum Mihi

PS.: Não é a primeira referência que Mons. Ranjith faz à perda da fé por parte do clero. Veja aqui.

Mons. Ranjith fala: Coragem para corrigir o percurso

Do The New Liturgical Movement:

Die Tagespost: A Ásia é considerada na Europa como um continente de contemplação, misticismo e de profundidade espiritual. O que a Igreja Universal pode aprender da Igreja na Ásia?

Msgr. Ranjith: A Igreja Universal pode aprender muito da Igreja na Ásia. O pré-requisito para isso é a inculturação correntamente entendida, que é a bem sucedida integração de certas partes da cultura da Ásia na Cristianismo vivo. Estou falando aqui especificamente da inculturação propriamente entendida, porque a inculturação foi de certa forma completamente mal compreendida na Ásia, por ninguém menos que aqueles que falam de inculturação. Nós devemos, portanto, não nos enganar sobre o que é realmente Asiático. Com relação a ideologias ocidentais, escolas de pensamentos e influência do secularismo e perspectivas horizontais que não libertam o homem verdadeiramente, não pode existir nenhum diálogo sobre espiritualidade da Ásia ou valores Asiáticos. Apenas se voltarmos às raízes e falarmos autenticamente sobre os valores Asiáticos e do modo Asiático de viver nós poderemos contribuir com a Igreja Universal. Qualquer outra coisa não seria nada além de distorção da realidade. A fim de evitar uma visão superficial de inculturação, devemos distingüir entre o que é verdadeiramente Asiático e o que pertence às religiões Asiáticas. Muitas práticas religiosas se desenvolveram da vida cotidiana. Confundir os dois seria apenas o lançamento de bases para uma teologia sincretista e para uma destruição do modo Católico Romano de viver. Portanto, devemos primeiro efetuar uma espécie de desmitificação e ver o que está por detrás dos vários atos religiosos. Apenas então se pode discernir o que é verdadeiramente Asiático.

DT: Onde você vê exemplos de inculturação Cristã na Ásia mal sucedida?

Mons. Ranjith - Ordenação sacerdotal em Wigratzbad

MR: É, por exemplo, inteiramente Asiático o respeito aos símbolos religiosos, por exemplo o traje sacerdotal e o hábito religioso. Em nenhum templo budista você encontrará monges sem o hábito. Os hindús têm seus sinais de identidade, que os distingüe dos outros em seu templo ou no caminho. Essa atitude não é tipicamente budista ou hindú, mas Asiática. Os Asiáticos querem indicar com esses símbolos a realidade por detrás da realidade visível exteriormente. Eles consideram, por exemplo, o hábito sacerdotal ou religioso como uma distinção que faz a pessoa concernida se sobressair da massa por causa de seu ideal pessoal. Se os padres e religiosos aparecem em roupas civis ocidentais e não revelam seu estado, então não se tem nada a ver com inculturação, mas com uma aparência pseudo-Asiática, que é, de fato, mais Européia. Portanto, é lamentável que padres e religiosos em muitos países de Ásia não mais vistam roupas correspondentes a seu estado. Uma das congregações mundialmente conhecida que de forma bem sucedida modelou um hábito religioso conforme o estilo local de se vestir é a Congregação das Missionárias da Caridade (as irmãs de Madre Teresa). Elas são um exemplo de inculturação Cristã bem sucedida, pois toda criança na rua pode imediatamente identificá-las.

DT: Que bases aplicar para uma bem sucedida inculturação?

MR: O texto sinodal “Ecclesia in Asia” expressamente afirma que Cristo era Asiático. As raízes da culturas cristã e judaíca, que Jesus encontrou em Jerusalém, eram Asiáticas. É claro, o Cristianismo espalhou-se no Ocidente através do pensamento greco-romano. São Paulo e outros eram uma espécie de abridores de portas nisso. Infelizmente, as vicissitudes da história tornaram impossível uma difusão imediata do Cristianismo na Ásia. Simplesmente não existia “intensidade” suficiente dentro do modo Asiático de pensar. Na Ásia, com relação ao Cristianismo, a imagem de uma religião importada por colonizadores ainda predomina. Mas isso não é verdade. O Cristianismo veio à Ásia muito antes dos poderes coloniais. Na Índia, por exemplo, temos a forte tradição dos Cristãos de São Tomé. Quem quer transferir o Cristianismo para o modo Asiático de viver deve mostrar humildade diante do mistério de Deus. Apenas um crente pode ser bem sucedido. Essa não é uma questão de competência teológica ou filosófica. O homem simples e devoto na rua pode freqüentemente estar em vantagem, porque ele se aproxima do mistério de Deus sem preconceitos e está completamente impregnado da mensagem Cristã. A vox populi tem um papel importante para a inculturação. Apenas com pessoas profundamente religiosas, que rezam, a inculturação bem sucedida é possível. Os teólogos comumente se esquecem que podemos descobrir o verdadeiro valor da mensagem de Jesus apenas em nossos joelhos. Vemos isso na maneira que Paulo evangelizava. Ele era um homem de Deus, que amava a Deus e dedicava sua vida totalmente a Cristo e vivia em constante contato com Ele. Apenas pessoas assim podem ter o modelo para a inculturação Cristã. De outra forma, o Cristianismo não sairá da capa dos livros. E infelizmente tem que se dizer que não há atualmente nenhum pensamento teológico sério na Ásia. Nós temos um grande pot-pourri de idéias: um pouco de teologia da libertação da América Latina, um pouco de teologia Ocidental, algumas das correntes filosóficas das universidades Ocidentais — tudo é tentado impetuosamente. Então, há uma espécie de isolamento, pois cada uma não está mais aberta ao mistério dos caminhos de Deus. A teologia é considerada meramente como um tipo de evento humano. A abertura à luz de Deus está em falta. O sentido da profunda união mística com Deus está faltando, assim como a habilidade de entender a fé do povo comum. Mas são precisamente essas características que um teólogo necessita.

DT: Da Ásia também se ouve vozes que dizem que o debate sobre a liturgia Tridentina é tipicamente Europeu e não tem nada que ver com as preocupações das pessoas nas áreas de missão. Como você vê isso?

MR: Bem, existem opiniões individuais que não podem ser generalizadas na Igreja Católica. Que a Ásia inteira deve rejeitar a Missa Tridentina é inconcebível. Deve-se também acautelar-se para generalizações como “a missa antiga não serve para a Ásia”. É precisamente a liturgia do rito extraordinário que reflete alguns valores Asiáticos em toda sua profundidade. Acima de tudo o aspecto da Redenção e a perspectiva vertical da vida humana, o relacionamento profundamente pessoal entre Deus e o sacerdote e entre Deus e a comunidade são mais claramente expressos na antiga liturgia do que no Novus Ordo. O Novus Ordo por contrastre enfatiza mais a perspectiva horizontal. Isso não significa que o Novus Ordo por si mesmo coloca-se para uma perspectiva horizontal, mas antes sua interpretação por diferentes escolas litúrgicas, que vêem a missa mais como uma experiência comunitária. Se formas estabelecidas de pensar são colocadas em questão, entretanto, algumas reagem de maneira desconfiada. A Santa Missa não é apenas o memorial da última ceia, mas também o Sacrifício de Cristo e o Mistério de nossa Salvação. Sem a Sexta-feira Santa, a última ceia não tem sentido. A Cruz é o maravilhoso sinal do amor de Deus, e apenas em relação à Cruz é possível a verdadeira comunidade. Aqui está o verdadeiro ponto inicial da evangelização da Ásia.

DT: De que forma a reforma pós-conciliar tem contribuído para uma renovação espiritual?

MR: O uso do vernáculo permitiu que muitas pessoas entendessem o mistério da Eucaristia mais profundamente e procurou uma mais intensa relação com os textos das Escrituras. A participação ativa dos fiéis foi encorajada. Entretanto, isso não deve significar que a Missa deve ser inteiramente orientada para o diálogo. A Missa deve ter momentos de silêncio, de introspecção e oração pessoal. Onde há um falar incessante, o homem não pode ser profundamente penetrado pelo mistério. Não devemos falar ininterruptamente diante de Deus, mas também deixá-Lo falar. A renovação litúrgica foi afetada, entretanto, pela arbitrariedade experimental com a qual a Missa hoje está sendo livremente realizada como “faça você mesmo”. O espírito da liturgia tem sido, num modo de dizer, raptado. O que ocorreu não pode mais ser desfeito agora. O fato é que nossas igrejas se esvaziaram. Obviamente que existem também outros fatores: o desenfreado comportamento consumista, secularismo, uma excessiva imagem do homem. Nós devemos tomar coragem para corrigir o percurso, pois nem tudo o que ocorreu depois da reforma da liturgia foi conforme a intenção do Concílio. Por que deveríamos carregar com dificuldade aquilo que o Concílio não quis?

DT: Na Alemanha é cada vez mais freqüente a substituição da Santa Missa por celebrações da Palavra de Deus feita por leigos, apesar de padres suficientes estarem disponíveis. Em troca, em muitos lugares, padres, com as fusões de paróquias, têm que concelebrar mais freqüentemente, de forma que até mesmo menos Missas são celebradas. A Igreja tem que repensar a prática da concelebração?

MR: Essa é menos uma questão de concelebração do que uma questão de compreensão da Missa e da imagem do padre. O padre alcança na Eucaristia o que os outros não podem fazer. Como alter Christus, ele não é a pessoa principal, mas o Senhor. Concelebrações devem se restringir a ocasiões especiais. Uma concelebração que sustenta a favor de uma despersonificação da celebração da Missa é então tão errada como a noção de que se pode obrigar um padre a concelebrar regularmente, ou fechar igrejas em várias cidades e concentrar a Missa em um único lugar, apesar de padres suficientes estarem disponíveis.