Roma-FSSPX: Secretário da Ecclesia Dei fala do estado atual das relações.

Enquanto crescem os rumores de uma regularização canônica da FSSPX, que, dizem, seria reconhecida como católica de modo unilateral pelo Papa Francisco, o secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, Dom Guido Pozzo, concedeu, na última quinta-feira (25), uma entrevista à sessão italiana da agência Zenit. Traduzimos, a seguir, os trechos mais relevantes.

Por FratresInUnum.com

Católicos

Mons. Guido Pozzo - JP Sonnen, Orbis Catholicus.
Mons. Guido Pozzo – Foto: JP Sonnen, Orbis Catholicus.

“Segundo formulou o então Cardeal Bergoglio, de Buenos Aires, e confirmado pelo Papa Francisco à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, os membros da FSSPX são católicos a caminho da plena comunhão com a Santa Sé. Esta comunhão plena existirá quando houver um reconhecimento canônico da Fraternidade”.

Onde estamos. Ano da misericórdia.

“Estamos agora numa fase, creio eu, construtiva e capaz de alcançar a desejada reconciliação. O gesto do Papa de dar aos fiéis católicos a oportunidade de receber válida e licitamente o sacramento da Reconciliação e da Unção dos Enfermos dos bispos e padres da FSSPX durante o Ano Santo da Misericórdia é um sinal claro da vontade do Santo Padre de favorecer o caminho para o reconhecimento canônico completo e estável”.

“Neste contexto, o gesto apaziguador e magnânimo do Papa Francisco por ocasião do Ano da Misericórdia, sem dúvida, ajudou a esclarecer um pouco mais o estado das relações com a Fraternidade, mostrando que a Santa Sé deseja uma reaproximação e reconciliação que que devem também incluir um ordenamento canônico. Espero e desejo que o mesmo sentimento e a mesma determinação também seja compartilhada pela FSSPX”.

No essencial, unidade.

“O que parece essencial é encontrar uma convergência total do que é necessário para estar em plena comunhão com a Sé Apostólica, ou seja, a integridade do Credo Católico, o vínculo dos sacramentos e a aceitação do magistério supremo da Igreja. O Magistério, que não está acima da Palavra de Deus escrita e transmitida, mas a serve, é o interprete autêntico também dos textos precedentes, e compreende os [textos] do Concílio Vaticano II, à luz da Tradição viva, que se desenvolve na Igreja com o auxílio do Espírito Santo, não como uma novidade contrária (o que seria negar o dogma católico), mas com uma melhor compreensão do depósito da fé, sempre na “unidade o dogma, de sentido e compreensão” (in eodem scilicet dogmate, eodem sensu et eademque sententia, cf. Concile Vatican, Const. dogm. Dei Filius, 4). Eu creio que, sobre esses pontos, uma convergência com a FSSPX não é apenas possível, mas necessária”.

No não essencial, liberdade.

“Isso não tem qualquer efeito sobre a capacidade e a legitimidade de se debater e explorar outras questões específicas que já mencionei, que não dizem respeito às questões de fé, mas sim orientações pastorais e juízos prudenciais, não dogmáticos, em que também é possível ter diferentes pontos de vista. Portanto, não se trata de ignorar ou menosprezar as diferenças sobre certos aspectos da vida pastoral da Igreja, mas de se ter em mente que no Vaticano II há documentos doutrinais cuja intenção é reformular a verdade da fé já definida ou a verdade da doutrina católica (por exemplo, a Constituição Dogmática Dei Verbum, a Constituição Dogmática Lumen Gentium), e há documentos que têm a intenção de fornecer orientações ou diretrizes para a ação prática que são para a vida pastoral como uma aplicação da doutrina (a declaração Nostra Aetate, do Decreto Unitatis Redintegratio, a declaração Dignitatis Humanae).

A adesão aos ensinamentos do Magistério varia de acordo com o grau de autoridade e a categoria da própria verdade do Magistério. Não me parece que a FSSPX tenha negado as doutrinas da fé ou a verdade da doutrina católica ensinada pelo Magistério. As críticas emitidas concernem sobretudo as declarações ou as indicações relativas à renovação da pastoral nas relações ecumênicas com outras religiões, e certas questões prudenciais na relação da Igreja e da sociedade, da Igreja e do Estado.

Sobre a reforma litúrgica, limito-me a citar uma declaração que Dom Lefebvre escreveu ao Papa João Paulo II em uma carta datada de 8 de março de 1980: “Quanto à Missa do Novus Ordo, apesar de todas as reservas que devem ser feitas a este respeito, eu nunca disse que seria inválida ou herética”. Portanto, as reservas quanto ao rito do Novus Ordo, o que não devem, obviamente, ser subestimadas, não se referem nem à validade da celebração do sacramento, nem à retidão da fé católica. É preciso, então, continuar a discussão e o esclarecimento dessas reservas”.

Corredores romanos sussurram…

… aos ouvidos do sempre bem informado Francisco José Fernández de la Cigoña. Na apresentação ocorrida há poucos dias, no Angelicum, das atas do III Congresso Summorum Pontificum, enquanto o abalizado vaticanista Sandro Magister discursava, apresentando praticamente os mesmos argumentos de suas últimas colunas, ocorreu algo que chamou a atenção dos presentes. Conta a fonte de Francisco de la Cigoña: “Segundo Magister, este Papa está sendo muito suave com todos, menos com os tradicionalistas, e tem dado uma interpretação restritiva ao uso da liturgia antiga, ao considerá-la novamente como algo para grupos que “têm essa sensibilidade”, e que contém o perigo da ideologização. Em suma, disse Magister, a liturgia já não é obra de Deus, mas serviço ao povo e releitura à luz de nossos tempos. O mútuo enriquecimento que augurava Bento XVI não parece que ocorrerá, por ora, com Francisco. E agora vem o mais chamativo do ato: o Cardeal Burke e Mons. Pozzo saíram na metade da intervenção de Magister, não sei se porque tinham que ir ou se por prudência, dada a crítica, serena mas dura, de Magister a Francisco. A saída de um cardeal de um evento é chamativa. E cabem todas as interpretações.”

Também segundo Francisco de la Cigoña, Monsenhor Guido Marini poderia ser nomeado bispo da pequena diocese italiana de Ventimiglia-San Remo. Seria o típico promoveatur ut amoveatur.

A enigmática nomeação do novo (velho) Secretário da Ecclesia Dei.

Reconstruamos os fatos:

Mons. Guido Pozzo - JP Sonnen, Orbis Catholicus.
Mons. Guido Pozzo – JP Sonnen, Orbis Catholicus.

1) Monsenhor Guido Pozzo foi nomeado Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, encarregada de zelar pela “plena comunhão” dos “tradicionalistas”, em 8 de julho de 2009, na reestruturação que sofreu a Comissão após a aposentadoria do Cardeal Dario Castrillon Hoyos, então seu presidente.

2) Guido Pozzo foi, em novembro de 2012, promovido (a esmoleiro pontifício) para ser removido (das tratativas com os “tradicionalistas”). O Fratres anunciou a notícia com um mês de antecedência: “Monsenhor Guido Pozzo, até o momento Secretário da Comissão ‘Ecclesia Dei’, seria nomeado Esmoleiro de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Embora promovido à dignidade de Arcebispo, ele deixaria um cargo de importante influência na política eclesial para passar à função de burocrata de gabinete. Com pouco mais de três anos na Comissão Ecclesia Dei, Pozzo não foi muito bem avaliado em sua atuação no diálogo entre Santa Sé e Fraternidade São Pio X, sendo frequentemente acusado de intransigência na defesa de suas posições pessoais.

3) Quais posições? Pozzo se destacara por defender uma versão toda particular e feroz da “hermenêutica da continuidade”. O arquivo do blog está à disposição de quem quiser conferir, mas vale, como exemplo, citar sua carta ao Instituto do Bom Pastor, e que também Fratres divulgou com exclusividade.

4) Com a reorganização da Comissão Ecclesia Dei, que passou a ser subordinada à Congregação para a Doutrina da Fé, a nomeação do Arcebispo Gerhard Ludwig Müller para Prefeito desse mesmo dicastério caiu como uma bomba e teve que ser contrabalançada. Foi quando, em junho de 2012, o Papa Bento XVI designou vice-presidente da Comissão a Dom Joseph Augustine di Noia, OP, que iniciou seu trabalho dando entrevistas positivas e enviando uma carta toda simpática à FSSPX. Depois de causar um alvoroço no mundo tradicionalista com Müller, pretendia-se amenizar as coisas com Di Noia.

5) A abertura de Di Noia deveria, assim, substituir o fechamento de Pozzo, que alguns acusavam diretamente de ter minado as discussões teológicas entre Roma e Menzingen. Assim, Pozzo foi nomeado, em novembro de 2012, esmoleiro pontifício e elevado à dignidade de Arcebispo.

6) Pois bem: na manhã de hoje foi anunciado o retorno de Monsenhor Guido Pozzo à Secretaria de Comissão Ecclesia Dei. Uma nomeação enigmática: Pozzo não permaneceu sequer um ano como esmoleiro pontifício. Os motivos que o teriam retirado da Ecclesia Dei deixaram de ter fundamento em pouco mais de 6 meses? Não teria ele se desempenhado bem como esmoleiro pontifício? Mas, sendo este o caso, não seria natural na política eclesiástica uma transferência para um posto de igual prestígio? A devolução de Pozzo à secretaria da Ecclesia Dei surge, em uma primeira análise, como um rebaixamento — e isso só ocorre raramente, em casos gravíssimos. Para o lugar de Pozzo, como esmoleiro papal, foi designado o cerimoniário pontifício Mons. Konrad Krajewski.

7) Mas haveria ainda uma última pergunta: os promotores do retorno de Pozzo à Ecclesia Dei não desejariam vê-lo novamente por lá para fazer justamente o que estava fazendo quando foi “promovido”?

8) Comentava-se, logo após a promulgação do motu proprio Summorum Pontificum e com o boom de celebrações, congressos e cobertura midiática em torno do ressurgimento da missa tradicional, que crescia, igualmente, o descontentamento de um partido “montiniano”, que defendia não uma reabertura à missa antiga e muito menos uma crítíca textual ao Concílio, mas uma aplicação mais estrita e fiel do que eles consideravam os verdadeiros Novus Ordo e Vaticano II. Os “tradicionalistas”, rebeldes como sempre, deveriam ser sufocados pela aplicação das reais intenções do Papa Montini.

9) Com a intervenção nos Franciscanos da Imaculada, muito provavelmente, motivada sobretudo pela visão crítica ao Concílio que tomava corpo dentro da ordem (que exigia necessariamente a missa tradicional, daí a proibição de ser rezada por eles), o retorno de Mons. Guido Pozzo poderia ser interpretado como uma nova medida em prol da “intocabilidade do Concílio”?

PS.: o blog  continua em recesso.

Promovido (e devidamente removido).

Foi anunciada hoje a elevação de Monsenhor Guido Pozzo à dignidade de Arcebispo e sua designação como Esmoleiro de Sua Santidade, o Papa Bento XVI.

Como anunciávamos no último dia 2 de outubro, “Monsenhor Guido Pozzo, até o momento Secretário da Comissão ‘Ecclesia Dei’, seria nomeado Esmoleiro de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Embora promovido à dignidade de Arcebispo, ele deixaria um cargo de importante influência na política eclesial para passar à função de burocrata de gabinete. Com pouco mais de três anos na Comissão Ecclesia Dei, Pozzo não foi muito bem avaliado em sua atuação no diálogo entre Santa Sé e Fraternidade São Pio X, sendo frequentemente acusado de intransigência na defesa de suas posições pessoais. O esmoleiro pontifício faz parte da Casa Pontifícia e é delegado pelo Santo Padre para conceder a Bênção Apostólica por meio de um diploma em pergaminho, assim como para exercer a caridade para com os pobres em nome do Papa com modestas contribuições”.

Grandes mudanças no Vaticano. Monsenhor Guido Pozzo “promovido”. Padre Lombardi poderia se aposentar.

Em acréscimo às informações abaixo, Andrea Tornielli afirma que Monsenhor Guido Pozzo, até o momento Secretário da Comissão ‘Ecclesia Dei’, seria nomeado Esmoleiro de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Embora promovido à dignidade de Arcebispo, ele deixaria um cargo de importante influência na política eclesial para passar à função de burocrata de gabinete. Com pouco mais de três anos na Comissão Ecclesia Dei, Pozzo não foi muito bem avaliado em sua atuação no diálogo entre Santa Sé e Fraternidade São Pio X, sendo frequentemente acusado de intransigência na defesa de suas posições pessoais. O esmoleiro pontifício faz parte da Casa Pontifícia e é delegado pelo Santo Padre para conceder a Bênção Apostólica por meio de um diploma em pergaminho, assim como para exercer a caridade para com os pobres em nome do Papa com modestas contribuições.

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IHU – Preparam-se algumas grandes mudanças no Vaticano, segundo rumores de uma certa confiabilidade. E, ao que parece, essas novas nomeações devem demonstrar ainda mais que Bento XVI e os seus principais colaboradores veem nos Estados Unidos tanto um dos principais “frontes” de combate contra a secularização, quanto como a fonte de onde tirar energia para a solução dos problemas.

A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 01-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Deveriam – e, como sempre, quando se trata de decisões desse tipo, o condicional é necessário, porque nem Bento XVI nem o seu secretário de Estado parecem ser napoleônicos nesse campo – voltar aos EUA o atual secretário da Congregação que se ocupa da vida religiosa, Joseph William Tobin. Provavelmente para uma diocese importante, talvez Indianápolis.

Uma promoção? Talvez, mas ao que parece o seu “chamado de volta” foi desejado e pedido pela Igreja norte-americana, que não apreciou o papel de Tobin no esclarecimento em curso com as irmãs “rebeldes”. Particularmente, as declarações conciliatórias e uma atitude que aos bispos norte-americanos envolvidos em um problema difícil não parecia ser de grande apoio. Ao contrário. E que estava em ruptura com a posição assumida pelo prefeito anterior, Franc Rodé, preocupado com o desvio “nova era” de muitas religiosas norte-americanas. O nome do possível sucessor de Tobin não é conhecido. É possível que seja um religioso, já que o prefeito da Congregação não é.

A mudança mais importante midiaticamente – se os rumores forem verdade – poderia se referir à Sala de Imprensa da Santa Sé. O padre Federico Lombardi, o jesuíta que herdou a nada simples tarefa de ser porta-voz do papa, completou 70 anos em agosto passado. Ele é o diretor da Rádio do Vaticano e tem a responsabilidade pelo Centro Televisivo Vaticano.

Em suma, parece que está sendo considerada a hipótese de uma substituição. Ainda de acordo com os rumores, poderia ser um leigo, desta vez; como Greg Burke, o “consultor” da Secretaria de Estado para o setor da informação. Não deveria ser um italiano, pelo que se diz, porque o interesse e o foco da sua atividade deveria ser os meios de comunicação estrangeiros e anglófonos, em particular. É provável que seja um norte-americano ou talvez algum especialista do mundo midiático de língua inglesa.

E, finalmente, deve ser substituído o vazio deixado pelo arcebispo Jean-Louis Bruguès na Congregação para a Educação Católica. Bruguès foi nomeado bibliotecário da Santa Igreja Romana. O prefeito da Congregação, o cardeal polonês Grocholewski, não é avesso a uma solução “interna”, com a nomeação de Dom Vincenzo Zani, agora subsecretário. Mas não se exclui a possibilidade – ao contrário, parece ser essa a orientação predominante – da chegada de um secretário estrangeiro. E – coincidentemente – dos Estados Unidos. America uber alles…

Comissão Ecclesia Dei responde sobre sentido de Universae Ecclesiae nº 19.

Apresentamos nossa tradução de um excerto do artigo publicado no último dia 23 em The Wanderer [imagem fac-símile de Secretum Meum Mihi], que reproduz o questionamento enviado por um bispo à Pontifícia Comissão Ecclesia Dei acerca da exigência de reconhecimento da “legitimidade” do Ordo Missae de Paulo VI na Instrução Universae Ecclesiae.

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Duas Dubia dirigidas à Comissão Pontifícia

No artigo 19 da Instrução de 30 de abril de 2011 da Comissão — Universae Ecclesiae (UE) — , é estabelecido que aqueles Católicos que desejam celebrações da Eucaristia na forma extraordinária do Rito Romano (usando o missal de 1962) não podem apoiar ou ser membros de nenhum dos grupos que “se manifestem contrários à validez ou legitimidade (validitatem vel legitimitatem impugnent) da forma ordinária.

Enquanto pouquíssimos ainda questionam a validez da Missa celebrada com o Missal Romano reformado, certos proeminentes grupos “tradicionalistas”, indivíduos e publicações questionam de forma aberta e provocadora a sua legitimidade.

Contudo, frequentemente parece haver confusão e suposições conflitantes nesses círculos sobre como, precisamente, a última palavra deve ser compreendida. Como resultado, nem sempre é claro para aqueles padres que desejam servir aos Católicos ligados à liturgia tradicional se algumas dessas pessoas estão, de fato, em conformidade com essa exigência da Sé Apostólica enunciada na UE, nº 19.

Portanto, a fim de esclarecer essa questão e facilitar uma aplicação pastoral consistente do artigo 19, a Comissão poderia gentilmente apreciar e responder às duas dubia seguintes?

1. Se legitimitas na UE, artigo 19, deve ser compreendida com o significado de:

(a) devidamente promulgada pelos procedimentos apropriados da lei eclesiástica (ius ecclesiasticum); ou
(b) de acordo tanto com a lei eclesiástica e a lei divina (ius dividum), isto é, nem doutrinalmente heterodoxa nem desagradável a Deus;

2. Caso (b) acima represente a mente da Comissão a respeito do significado de legitimitas, se UE nº 19 deve, então, ser compreendido como permitindo acesso à Missa na forma extraordinária:

(a) apenas àqueles Católicos que não questionam a legitimidade de qualquer texto específico ou qualquer prática devidamente aprovada, seja pela lei eclesiástica universal ou local, para uso na celebração da forma ordinária; ou
(b) àqueles fiéis mencionados em (a) e também àqueles que reconhecem em princípio a legitimidade das Missas celebradas segundo o Missal Romano reformado e sua Instrução Geral, mas não a legitimidade de certas práticas específicas que, embora não ordenadas nestes, são permitidas como opções pela lei litúrgica universal ou local.

A segunda dubium tem em mente aqueles Católicos de orientação tradicional que aceitam a legitimidade (no sentido 1 [b] acima) das Missas na forma ordinária nas quais são usadas opções mais tradicionais, mas que vêem como errôneas e desagradáveis a Deus certas práticas que foram por muitos séculos desaprovadas e proibidas universalmente pela Igreja, mas que agora são permitidas pela lei litúrgica local de muitas ou da maior parte das dioceses ou conferências episcopais (e.g., Comunhão na mão, servidoras do altar e o uso de ministros da Comunhão leigos).

A resposta de Roma

Pontificia Comissio Ecclesia Dei
Prot. 156/2009
Cidade do Vaticano, 23 de maio de 2012.

Excelência,

Esta Comissão Pontifícia recebeu, através de vossa gentil ajuda, uma cópia de uma correspondência de [nome omitido] colocando diante da Comissão duas dubia sobre como interpretar o artigo 19 da Instrução Universae Ecclesiae desta Comissão.

A primeira [dubium] questionava se legitimitas em UE, artigo 19, deve ser compreendida com o significado de:

(a) devidamente promulgada pelos procedimentos apropriados da lei eclesiástica (ius ecclesiasticum); ou
(b) de acordo tanto com a lei eclesiástica e a lei divina (ius dividum), isto é, nem doutrinalmente heterodoxa nem desagradável a Deus;

Esta Pontifícia Comissão se limitaria a afirmar que legitimitas deve ser compreendida no sentido de 1 (a). A segunda [dubium] é sanada por esta resposta.

Com a esperança de que Vossa Excelência comunicará o conteúdo desta carta aos indivíduos interessados, esta Pontifícia Comissão aproveita esta oportunidade para renovar seus sentimentos de estima.

Sinceramente vosso em Cristo,

Mons. Guido Pozzo
Secretário

FSSPX-Roma: Comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Vatican City, 14 de junho de 2012 (VIS) – Na tarde de quarta-feira, 13 de junho, o Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão ‘Ecclesia Dei, encontrou-se com Dom Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, que estava acompanhado por um assistente. Também presentes no encontro estavam Dom Luis Ladaria, SJ, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, e Monsenhor Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão ‘Ecclesia Dei’.

O propósito do encontro foi de apresentar a avaliação da Santa Sé sobre o texto submetido em abril pela Fraternidade São Pio X, em resposta ao Preâmbulo Doutrinal que a Congregação para a Doutrina da Fé apresentou à Fraternidade em 14 de setembro de 2011. As discussões subsequentes ofereceram uma oportunidade de fornecer as explicações e esclarecimentos apropriados. De sua parte, Dom Fellay ilustrou a atual situação da Fraternidade São Pio X e prometeu tornar sua resposta conhecida dentro de um espaço razoável de tempo.

Também durante o encontro, um rascunho foi submetido, propondo uma Prelazia Pessoal como o instrumento mais apropriado a qualquer reconhecimento canônico futuro da Fraternidade.

Como afirmado no comunicado lançado em 16 de maio de 2012, a situação dos outros três bispos da Fraternidade São Pio X será tratada separada e individualmente.

Ao fim do encontro, foi expressada a esperança de que esta oportunidade adicional para reflexão também contribua para alcançar a plena comunhão entre a Fraternidade São Pio X e a Sé Apostólica.

‘Ecclesia Dei’ e as Missas na FSSPX: Uma cana agitada pelo vento.

Rorate-Caeli publicou ontem uma carta de Monsenhor Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei [PCED], que supostamente trata do cumprimento do preceito dominical nas missas da Fraternidade São Pio X. Vamos primeiro à carta:

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Prezado __________.

Esta Pontifícia Comissão o agradece por sua gentil carta de 19 de fevereiro de 2012, na qual o senhor apresentou duas dúbia:

1)      Considerando estritamente o supracitado cânon (1248 §1), um Católico estaria apto a cumprir seu preceito dominical ao assistir a Santa Missa nesta capela de “Amigos da Fraternidade São Pio X, chamada _______________?

Responsum: Negativo

2)      Em caso de resposta negativa à primeira questão, um Católico peca ao assistir a Santa Missa na supracitada capela?

Responsum: Negativo, exceto se o Católico substitui seu preceito dominical por ela.

Com meus sinceros melhores votos em Cristo,

Mons. Guido Pozzo

Secretário

A carta do consulente americano à Ecclesia Dei pode ser lida aqui.

Inicialmente, o próprio Rorate-Caeli assim interpretou a resposta de Mons. Pozzo como uma “aparente reversão das declarações anteriores da época em que Dario Cardeal Castrillon Hoyos estava à frente da PCED, especialmente na carta de 2003 à Una Voce America assinada pelo Monsenhor Camille Perl [ndr: então secretário da Comissão] e afirmando explicitamente, também “em estrito senso”, que a assistência às Missas da FSSPX eram suficientes para cumprir a obrigação de preceito dominical. E da mesma forma que as declarações na época do Cardeal Castrillon Hoyos revertiam declarações ainda mais antigas da PCED que condenavam fortemente a assistência às Missas da FSSPX (especialmente a carta de 1995, também assinada pelo Monsenhor Perl), assim, ficamos a imaginar se essa declaração mais recente também será revertida em um prazo não muito distante”.

No entanto, poucas horas depois, Rorate-Caeli recebeu o seguinte esclarecimento: “fomos informados pelo Distrito Americano da Fraternidade de São Pio X (FSSPX) que a capela citada na carta mencionada abaixo não é uma capela da Fraternidade e que, embora seu nome específico tenha sido expressamente citado pelo remetente na carta excluída, ela NÃO está incluída na lista de capelas, incluindo aquelas ‘capelas independentes’ identificadas publicamente pela Fraternidade como ‘amigas da Fraternidade São Pio X’. É muito possível que essa informação, facilmente pesquisável online no site do Distrito Americano, possa ter levado alguém na Comissão a acreditar que a capela fosse um local sem qualquer afiliação à FSSPX e assim levado a essa avaliação diferente por parte da Comissão”.

Enfim, o assunto permanece nebuloso. Para o Cardeal Ratzinger, certas expressões são meramente “uma espécie de disposição provisória” do magistério. É óbvio que não pretendemos equiparar uma carta privada de um secretário a um ato magisterial. Contudo, na Ecclesia Dei, mais que provisórias, as opiniões parecem ser sazonais. O fato é que, como afirmou o editor de Rorate, a história desta Comissão “é uma história de reversões e instabilidade, que é um sinal típico da falta de qualquer seriedade e tradição (com ‘t’ minúsculo) sólida”.

Vale a pena, ainda, recordar o post de 2006 de Rorate: Ecclesia Dei: Padres e fiéis da FSSPX não estão excomungados.

Carta de Monsenhor Guido Pozzo ao Superior do Instituto do Bom Pastor.

Exclusivo: Após receber a confirmação da autenticidade deste texto de fonte seguríssima [inicialmente publicado aqui], publicamos o post redigido no início desta manhã.

* * *

Neste momento decisivo das relações entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X, vem a público um excerto de uma carta de Monsenhor Guido Pozzo, secretário da Comissão Ecclesia Dei, dirigida ao Padre Phillippe Laguerie, Superior Geral do Instituto do Bom Pastor. Após 5 anos de existência, o IBP acaba de passar por uma visitação canônica em vista de sua aprovação definitiva por parte da Santa Sé. O que segue é um extrato da comunicação dos resultados desta visitação, datada de 23 de março de 2012.

Perguntamo-nos se é desta forma que Monsenhor Guido Pozzo pretende dar confiança à Fraternidade São Pio X para que aceite a proposta de regularização canônica feita pela Santa Sé. Levando em consideração os seus desejos para o IBP, parece-nos altamente improvável que as negociações entre a Santa Sé e a FSSPX cheguem a bom termo.

ANEXO
Nota sobre as conclusões da visitação canônica do Instituto do Bom Pastor

De maneira geral, é necessário aprofundar o carisma fundador do Instituto, pensando mais no futuro do que no passado. Para preparar o próximo capítulo geral, será útil refletir sobre a pastoral do Cristo.

Padres fundadores do Instituto do Bom Pastor no dia da ereção do Instituto, 8 de setembro de 2006, em Roma. O primeiro à esquerda, Pe. Fernando Guimarães, então secretário do Cardeal e hoje bispo de Guaranhuns; ao centro, Sua Eminência Cardeal Dario Castrillon Hoyos; e ao fundo, O Bom Pastor.
Padres fundadores do Instituto do Bom Pastor no dia da ereção do Instituto, 8 de setembro de 2006, em Roma. O primeiro à esquerda, Pe. Fernando Guimarães, então secretário do Cardeal e hoje bispo de Garanhuns; ao centro, Sua Eminência, o Cardeal Dario Castrillon Hoyos.

Cada um terá a peito aprofundar as características de uma sociedade de vida apostólica, que evite toda forma de individualismo. Para isso, será bom contatar outras sociedades de vida apostólica aptas a ajudar nesta reflexão sobre a vida comunitária.

A questão da prática da forma extraordinária, como é formulada nos Estatutos, deve ser precisada no espírito de Summorum Pontificum. Seria conveniente simplesmente definir esta forma como “rito próprio” do Instituto, sem falar de “exclusividade”.

No que diz respeito ao seminário de Courtalain, a avaliação é positiva, mas conviria integrar o estudo do Magistério atual dos Papas e do Vaticano II. A formação pastoral deveria ser feita à luz da Pastores dabo vobis e inserir, na formação doutrinal, um estudo atento do Catecismo da Igreja Católica.

Para resolver a questão da implantação do seminário, salvo uma ampliação em Courtalain mesmo, seria possível interrogar a Conferência Episcopal da França, para que ela mesma sugerisse os nomes de dioceses onde instalá-lo.

Mais que sobre uma crítica, mesmo que “séria e construtiva”, sobre o Concílio Vaticano II, os esforços dos formadores deverão levar a uma transmissão da integralidade do patrimônio da Igreja, insistindo na hermenêutica da renovação na continuidade e tomando por apoio a integridade da doutrina católica exposta no Catecismo da Igreja Católica.

Para melhorar o funcionamento do Conselho e preparar o Capítulo geral, conviria pedir o parecer de um canonista. Sugerimos os nomes dos Reverendíssimos Padres Pocquet du Haut-Jussé, s.j.m. e Le Bot, o.p.. Uma reunião mensal do Conselho parece oportuna.

É necessário desejar que um bom discernimento seja feito para as vocações provenientes do Brasil, bem como uma reflexão sobre o acolhimento dos padres do Instituto nas diferentes dioceses. É importante que o Bispo acolha e valorize o carisma específico do Instituto para o bem de toda a diocese e, ao mesmo tempo, que os padres do Instituto se insiram realmente com um espírito de comunhão no conjunto da vida eclesial da diocese.

A implantação de um Conselho econômico ajudará a Paróquia Santo-Elói a se tornar juridicamente mais conforme com as outras paróquias da arquidiocese de Bordeaux.

A escola Angélus, na arquidiocese de Bourges, deve ser mais acompanhada pelo Superior geral. Incentiva-se a busca de um reconhecimento diocesano.

* * *

[Atualização – Segunda-feira, 16 de abril de 2012, às 18:55] Confirmando o que afirmávamos pela manhã, segue a imagem do documento acima citado:

A segunda resposta de Fellay.

Um primeiro texto chegou à outra margem do Tibre em dezembro, mas foi considerado inadequado: assim, a Santa Sé solicitou um novo documento, que acaba de chegar e agora está sendo examinado.

Andrea Tornielli | Tradução: Fratres in Unum.com

A verdadeira resposta do superior da Fraternidade São Pio X, Bernard Fellay, formulada segundo a solicitação da Santa Sé, chegou ao Vaticano apenas na semana passada. A primeira resposta, enviada à outra margem do Tibre em 21 de dezembro passado, não foi considerada adequada pelas autoridades vaticanas, que convidaram o responsável dos lefebvrianos a reformulá-la, considerando esse primeiro envio mais uma “documentação” do que uma resposta. O bispo Fellay, então, preparou um segundo texto, mais conciso, relacionado ao preâmbulo doutrinal que a Congregação para a Doutrina da Fé lhe havia entregado em setembro passado. Este segundo texto agora está sendo examinado atentamente pelos consultores da Comissão Ecclesia Dei, que se ocupam do dossiê dos lefebvrianos e que necessitam de mais algum tempo.

Na próxima semana, a plenária da Congregação para a Doutrina da Fé se reune no palácio do Santo Ofício. A ordem do dia inclui a possibilidade de uma comunicação concernente às relações com a Fraternidade São Pio X, mas dificilmente a reunião poderá ser decisiva, já que a segunda resposta de Fellay, que aceita algumas partes do preâmbulo doutrinal, pondo outras em discussão, necessita de tempo para ser examinada. É provável que uma decisão mais precisa sobre o que será feito venha a ser tomada não neste momento, mas em fevereiro, durante uma “Féria IV”, como são chamadas as congregações ordinárias do antigo Santo Ofício.

Como se pode recordar, no prêambulo doutrinal proposto pela Comissão Ecclesia Dei, presidida pelo Cardeal William Levada e guiada por Monsenhor Guido Pozzo, se pedia aos lefebvrianos que subscrevessem a profissão de fé, o que é considerado indispensável para ser católico. A profissão prevê três graus diversos de assentimento que se pede e faz a distinção entre verdades reveladas, declarações dogmáticas e magistério ordinário. Com relação a este último, afirma que o católico está chamado a assegurar um “religioso obséquio da vontade e do intelecto” aos ensinamentos que o Papa e o colégio de bispos “propõem quando exercitam seu magistério autêntico”, ainda que não sejam proclamados de modo dogmático, como no caso da maior parte dos documentos do magistério.

Quando foi entregue o preâmbulo, as autoridades vaticanas esclareceram que este texto não seria publicado porque não era ainda definitivo, isto é, admitia mudanças — não substanciais — ou eventuais acréscimos. De setembro a dezembro, se espalharam vozes sobre a dissensão dentro da Fraternidade por parte daqueles que não consideram possível um acordo com Roma. Fellay mesmo falou várias vezes do assunto. Em um primeiro momento, havia afirmado que o preâmbulo representava um grande avanço. Depois, após uma importante reunião com os chefes dos distritos da Fraternidade, sempre insistindo na importância do diálogo inciado, afirmou que não podia acolher o preâmbulo tal como estava, acrescentando: “Se Roma nos pede que aceitemos de toda forma, nós não podemos”. Fellay então enviou a primeira resposta, não considerada como tal pelo Vaticano. E agora enviou uma segunda.

O fato de que a nova e mais adequada resposta — que foi considerada nos sacros palácios “um avanço” — tenha que ser atentamente estudada e aprofundada, quer dizer que não é nem um “sim” nem um “não” definitivo ao texto do preâmbulo. Mas que acolhe algumas partes do texto do Vaticano, expressando, por outro lado, suas reservas em relação a outras. E, principalmente, pede mais esclarecimentos e acréscimos. Os lefebvrianos, de fato, não pretendem dar seu assentimento aos textos conciliares relativos à colegialidade, ao ecumenismo, ao diálogo interreligioso e à liberdade religiosa, porque consideram que entram em contraste com a tradição. Precisamente o conceito de tradição, “Traditio”, e seu valor, representa o ponto fundamental do debate que caracterizou as conversações entre a Fraternidade e a Santa Sé. Os lefebvrianos criticam alguns fragmentos conciliares considerando que entram em contraste com a tradição da Igreja.

Quando era Cardeal, Joseph Ratzinger insistiu mais de uma vez na necessidade de não se considerar o Concílio como um “super dogma”. Como Papa, Bento XVI, no já famoso discurso à cúria romana de dezembro de 2005, insistiu na necessidade de interpretar o Vaticano II de acordo com a hermenêutica da “reforma” na “continuidade”. O Catecismo da Igreja Católica, cujo vigésimo aniversário se celebrada em 2012 com um especial Ano da Fé, já propôs esta chave de interpretação para alguns dos pontos que os lefebvrianos consideram controversos.

Ainda é prematuro lançar hipóteses sobre o resultado final deste diálogo que, na fase presente, está ocorrendo à distância e por escrito. Mas ainda não foi dita nenhuma palavra definitiva: o Papa quer fazer tudo o que for possível para sanar a fratura que se criou com os lefebvrianos, e Fellay o sabe muito bem.