Rapidinhas de Natal.

Dos dez assuntos que menos receberam destaque na imprensa católica em 2008 listados pelo insuspeito de tradicionalismo John Allen Jr., destacamos estes dois:

O’Brien e os Legionários de Cristo

Em Junho, o Arcebispo Edwin O’Brien, de Baltimore, pediu maior transparência aos Legionários de Cristo e seu braço leigo, Regnum Christi, e os barrou da direção espiritual um-a-um com qualquer pessoa menor de 18 anos. O fato de O’Brien, que não é um liberal na mente de ninguém, tomar essas atitudes sugerem que a controvérsia em torno dos Legionários não é meramente sobre as tensões esquerda/direita. A história lança questões maiores sobre como equilibrar o zelo e o espírito missionário dos “novos movimentos” com a necessidade de própria vigilância e responsabilidade.

Pressões por identidade em instituições de caridade Católicas

Esforços para expressar um forte senso da identidade Católica tradicional representam uma principal “mega-tendência” na igreja nestes dias, e em 2008 esses esforços chegaram nas instituições de caridade Católicas. Em Janeiro, o Cardeal Paul Josef Cordes, o oficial mais importante do Vaticano para atividades de caridade, endossou a ameaça do Arcebispo de Denver, Charles Chaput, de encerrar as atividades de caridade mantidas pela igreja se o estado as proibisse de agir com bases de afiliação religiosa. Mais tarde no ano, Catholic Relief Services (Serviços de Alívio Católicos) encarou criticas de que alguns de seus materiais de prevenção de HIV/Aids promoviam camisinhas, e a Catholic Campaing for Human Development (Campanha Católica para Desenvolvimento Humano) caiu debaixo de fogo por suas ligações com a controversa comunidade organizadora da rede ACORN. Coletivamente, tudo isso sugere que as agências de caridade sofrerão pressões crescentes para ficar claro que elas consistentemente “pensam com a igreja”. [ndt: Há coisa parecida no Brasil]

Palavras do Vigário Geral da Diocese de Blois, Mons. Philippe Verrier:

“Bento XVI é conhecido por ser ligado à liturgia da sua infância, na qual ela por muito tempo exerceu o seu ministério sacerdotal. Não é um papa retrógrado no domínio teológico, mas certamente no domínio litúrgico.” 

“Seu cálculo era que a  autorização para celebrar a missa conforme o rito antigo traria os lefebvristas ao seio da Igreja. Fora quatro ou cinco padres da comunidade do Bom Pastor, os outros permaneceram em suas posições. Os bispos franceses haviam previsto,  mas não foram compreendidos.  Ao final, temo que o “motu proprio” tenha reavivado, na comunidade católica,  divisões estéreis, em detrimento da pregação do Evangelho. É um resultado lamentável”.

Bonjour, Monseigneur. Sua análise é tão fútil que erra de maneira infatil até ao analisar os resultados do motu proprio: a comunidade do Bom Pastor foi erigida em setembro de 2006, quase um ano antes de Summorum Pontificum.

Galicanismo no episcopado Francês.

O Papa não é o chefe da Igreja. O é Cristo, cabeça do Corpo. Mas é o primeiro entre os seus irmãos. E se não nos fez divulgações extraordinárias, confortou-nos na felicidade de anunciar o Evangelho, fonte de felicidade para o mundo.

Monsenhor Yves Patenôtre, bispo de Sens-Auxerre, após o discurso do Papa Bento XVI aos bispos franceses, citado por L’Homme Nouveau.

Um testemunho de fé comovente, um pequeno milagre para a França

“Em 10 de Setembro, Avvenire publicou uma entrevista com o Cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso. Tauran, interpelado sobre a saúde da Igreja na França, respondeu: ‘É certo que a prática religiosa é muito baixa e a escassez de sacerdotes é dramática. O Cristianismo, ao contrário do que acontece ainda na Itália, não tem qualquer influência sobre a vida pública, não inspira o debate público. Mas há pequenos sinais de esperança. Como uma ligeira retomada de vocações, que na verdade é mais robusta entre os tradicionalistas. Neste verão, pois, vieram de Lourdes boas notícias‘. E em seguida explicou: ‘Por ocasição do aniversário das aparições houve um grande afluxo de peregrinos. Muitos jovens, muitas famílias com muitos filhos. Um testemunho de fé realmente comovente que também foi notado pelos meios de comunicação seculares, que trataram este fenômeno com curiosidade e respeito. Sem o sentido de superioridade e de ironias fáceis como aconteceu no passado. O que, creio, para a França é um pequeno milagre‘. ” (30Giorni)

Enquanto isso, em Amiens, no domingo que também era festa de seu padroeiro, São Firmino, houve apenas uma missa em toda cidade: a dos ‘tradicionalistas’… na rua! Pior, não se podia encontrar uma missa senão a 40 quilômetros da cidade! Já relatamos anteriormente o ocorrido nesta cidade francesa:

[…] Dom Bouilleret, de Amiens, está rejeitando o pedido de uma igreja – com cortesia – pela Sociedade depois de sua capela anterior ter sido fechada: o bispo está surdo e cego e durante todo o ano pastoral de 2007-2008 a Missa Tradicional foi celebrada próxima à catedral de Amiens a céu aberto, sob chuva e frio. O mesmo bispo está pronto a emprestar qualquer igreja a outras Comunidades e tem muitas igrejas vazias fechadas… (O Papa na França – análise de Luc Perrin)

Neste domingo não eram muitas igrejas fechadas, mas absolutamente todas! Pois o Excelentíssimo e Reverendíssimo Mons. Bouilleret acabava de lançar uma carta pastoral onde se lia: “As Equipes de Condução Pastoral conduzirão com o padre a pastoral paroquial“. Reuniria-se mais tarde em sua catedral para celebrar este enorme dom com seus jovens presbíteros na missa, ou melhor, na Ceia, que nada mais é que — como todos sabem — a sagrada sinaxe ou assembléia do povo de Deus que se reúne sob a presidência do sacerdote a fim de celebrar o memorial do Senhor…

E em pensar que o Santo Padre exortava os bispos da França há pouquíssimos dias: “Os sacerdotes não podem delegar, naquilo que diz respeito aos seus próprios deveres, as suas funções aos fiéis.”

Comoventemente bradam os fiéis:

Pedimos a ele [o bispo] simplesmente nos fazer caridade. O pedimos um teto, quatro paredes, simples considerações materiais. Que a justiça seja feita para a maior glória de Deus.  E realmente que se abram os olhos:  esta noite, na catedral, o coro cantou, os padres da diocese reuniram-se. Quantos deles estarão lá em dez anos, em vinte anos?

“Eles socavam as hóstias restantes em suas bolsas”

(kreuz.net) Depois da missa do Papa no santuário de Nossa Senhora no sul da França, Lourdes, graves sacrilégios foram cometidos.

Isso foi reportado pelo jornalista e testemunha alemão Alexander Smoltczyk – vaticanista da anti-clerical revista ‘Der Spiegel’ – em 14 de setembro.

Após o final da missa papal de Bento XVI e o êxodo da maioria do clero, alguns assistentes da missa aproximaram-se das credências em frente à mesa-altar, sob a qual incontáveis vasos sagrados contendo as Sagradas Hóstias consagradas remanescentes da celebração foram postos. Os vasos sagrados estavam descuidados. Também patenas com mais hóstias nelas foram colocadas nas credências.

Assistentes da missa [turistas? peregrinos?] se jogaram em direção a essas credências e sem nenhum escrúpulo começaram a encher suas bolsas, bolsos e casacos com as Sagradas Hóstias remanescentes, para todos verem, como Smoltczyk. “Eles encheram suas bolsas com a santa comunhão inteiramente e desinibidamente”.

Conforme a versão do jornalista, apenas um único bispo interveio. Mas apenas depois de outro casal de [supostos] peregrinos começaram a mergulhar seus dedos nos cálices contendo o precioso sangue remanescente, visando molhar suas testas com ele. “Não, não! Isso não é certo!” – o bispo supostamente disse.

Ao mesmo tempo – atrás do bispo que interveio, e depois de inúmeras hóstias sagradas terem sido roubadas por supostos devotos do papa – uma senhora loira tomou lugar sob o grande trono de maneira, onde há poucos momentos o Papa Bento XVI sentou-se, e deixou-se fotografar em diferentes poses.

Escoteiras do norte da Espanha posaram em torno do altar, como se estivessem tomando vinho em torno de uma mesa de um bar.

Neste meio tempo, reporta o jornalista Alemão, “uma senhora idosa e aparentemente frágil de maneira bem sucedida tentou esconder todo tipo de panos sagrados usados em suas bolsas”.

E enquanto inimagináveis sacrilégios contra a eucaristia (deixada totalmente vulnerável pelo clero que deixou o lugar numa pressa para seguir o evento papal no centro da cidade) e roubos ocorriam a poucos metros, devotos do Papa começaram a beijar e a afetar tudo que o “Santíssimo Padre” havia andado ou sentado sobre há quinze minutos atrás.

“Essa cena era inacreditável, estou ainda apavorado”, escreve Smoltczyk, enquanto esfrega os olhos.

Fotos (clique nas imagens para ampliá-las):

Atenção (19/09/08, às 13:10): A publicação em Angelqueen alerta que as fotos não foram tiradas enquanto ocorriam as ações, mas são representações do ocorrido. Aguardaremos esclarecimentos.

Fonte: Angelqueen. Original: Kreuz.netSpiegel

Curtas: A instrução na mesa do Papa; o lamento de Hoyos e a ascensão de Burke; o Galicanismo de volta.

  • O Cardeal Castrillon Hoyos, num inesperado pronunciamento (referências aqui e aqui) na conferência em curso em Roma sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum, lamentou o fato de alguns tradicionalistas serem “insaciáveis, enfatizando que “eles não sabem o que estão fazendo“, ao referir-se aos fiéis que, vendo suas demandas não atendidas pelo Vaticano, saem pela internet publicando suas queixas; ainda afirmou que a Comissão Ecclesia Dei já concluiu a instrução que visa esclarecer alguns aspectos do Motu Proprio e a encaminhou ao Santo Padre, aguardando agora sua decisão final; o Cardeal confirmou essas palavras pronunciadas informalmente numa entrevista concedida a Bruno Volpe (em espanhol aqui);,

  • Como bem notou Rorate-Caeli, que pode existir exageros por partes dos fiéis mais imprudentes é inegável. Entretanto, a Comissão Ecclesia Dei, que teve sua autoridade reforçada no Motu Proprio, parece não notar os exageros — muito mais freqüentes — dos bispos em suas perseguições aos fiéis e padres ligados à missa de sempre;

  • Nos estranha a afirmação do Cardeal: “O que é mais importante: o mistério de Deus que se faz pão ou a língüa em que celebramos o mistério?”. É difícil crer que Vossa Eminência, que por tanto tempo comanda o bureau Vaticano responsável pela missa tradicional, não percebeu até hoje que o problema do latim existe, mas não é o principal deles;

  • Rocco Palma informa que provavelmente o futuro Cardeal, Dom Raymond Burke, recém nomeado Prefeito da Signatura Apostólica, substituirá o Cardeal Castrillon Hoyos (que completará 80 anos) na presidência da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei. A se confirmar o boato, não poderia haver outra escolha melhor!

  • Para concluir a análise da viagem do Papa à França: o Cardeal Vingt-Trois, antes dos pronunciamentos do Papa, havia afirmado: “Não sei se o Papa vai falar [sobre o Motu Proprio], sei apenas que o sinal mais explícito sobre o assunto vai ser o fato de concelebrar com os bispos da França, em comunhão numa mesma liturgia.Depois que o Papa falou claramente, o Cardeal expressou, de maneira nada ingênua, que “o relacionamento do Papa com os bispos não é um relacionamento de chefe-empregados. Ele não é o presidente de uma corpoção multinacional que vem visitar uma filial”; “Nós o acolhemos e o ouvimos como a um irmão que vem confortar a fé daqueles com quem ele trabalha e com quem ele está em comunhão“. É o Papa que vem concelebrar com os bispos, e não os bispos com o Papa; pior, é o Papa que está em comunhão com os bispos, e não o contrário. É o velho galicanismo dando as caras…

O Papa na França – análise de Luc Perrin

Prezados leitores,

Recebemos por e-mail os comentários do Professor Luc Perrin, professor de história da Igreja na Universidade de Strasbourg e especialista na “questão tradicionalista”, e com autorização do mesmo os traduzimos para português.

Nota: o que aparece no artigo como “Igreja Francesa” é o que o Prof. Perrin chama de “FrenChurch”, uma irônica referência aos bispos modernistas que contrariam as disposições do Papa e formam, eles sim, uma espécie de igreja paralela.

Eu chamo esta resposta no vôo um “Discurso de Regensburg no avião”, pois ela foi tão alheia ao que o Papa escreveu como Papa e ao que o próprio J. Ratzinger escreveu durante anos.

O discurso aos bispos Franceses está  solenemente esclarecendo as nuvens escuras que essa infeliz entrevista criou antes da visita na sexta-feira.

Sim, o Motu Proprio está confirmado e mais: o Papa está renovando seu chamado aos bispos para serem fiéis:

a) à sua básica missão como bispos e, portanto, um ministro da comunhão para a parte do povo de Deus a eles confiada (muitos – especialmente na Europa e, em particular, na França – estão excluindo os tradicionalistas desta missão fundamental);

b) ao específico papel sob Summorum Pontificum como “facilitadores”: o documento legislativo de 2007 é explícito neste dever imperativo para os bispos. Eles não têm a mesma liberdade de dizer “não, obrigado” como no regime 1984-1988, e a decisão inicial não é deles, mas dos párocos, capelães e reitores;

Fiéis assistem missa na praça, em frente à Catedral de Amiens; abaixo, a sacristia num furgão.

Além disso, o discurso do Papa está claramente objetivando também – não apenas – a SSPX: a busca pela unidade da qual eles [os bispos] são servos tão ativamente – servidores da unidade da Igreja, como ele disse – INCLUI o relacionamento com a SSPX. De certo modo, o Papa está pedindo aos bispos na França – mas também de todos os outros lugares – para ajudar a cúria e ele com o fim de alcançar a reconciliação com Dom Fellay e sua Sociedade. As pessoas de fora da França devem saber que em 2001, quando as primeiras conversas com Dom Fellay se instalaram, o finado Cardeal Eyt, de Bordeaux, sonoramente expressou sua ALEGRIA com o fim de qualquer diálogo com a SSPX! E ele estava doente em estado terminal, e morreu de câncer alguns meses depois: isso mostra a intensidade do trad-ódio dentro de uma grande porção da Igreja da França.

O chamado do Papa Bento para os bispos Franceses o ajudarem com a SSPX é certamente algo forte. Por exemplo, Dom Bouilleret, de Amiens, está rejeitando o pedido de uma igreja – com cortesia – pela Sociedade depois que sua capela anterior ter sido fechada: o bispo está surdo e cego e durante todo o ano pastoral de 2007-2008 a Missa Tradicional foi celebrada próximo à catedral de Amiens a céu aberto, sob chuva e frio. O mesmo bispo está pronto a emprestar qualquer igreja a outras Comunidades e tem muitas igrejas vazias fechadas…

Mais de duas mil pessoas acompanharam a vígilia organizada pelos grupos ligados à Comissão Ecclesia Dei na igreja de Saint François-Xavier, Paris

É interessante dizer que a mídia Francesa toda está falando sobre esse apoio à chamada “messe en latin” (Missa em latim) e muitos comentários são feitos sobre as poucas palavras em latim usadas durante as missas Novus Ordo celebradas pelo Pontífice. Isso também para mostrar às pessoas de fora da França que o Latim está banido no Forma Ordinária sob a Igreja Francesa por décadas. Ninguém conhece o Pater Noster na França, incluindo padres, incluindo uma grande quantidade de bispos: para falar a verdade, o Cardeal Vingt-Trois sabia isso de cor enquanto podíamos ver na tela da TV, mas foi impressionante ver alguns bispos e padres calados, e entre os fiéis muitos tiveram que ler [o Pater Noster] nos folhetos…

O parágrafo inteiro dedicado à liturgia pelo Papa em sua mensagem aos bispos é sobre implementar Summorum Pontificum!

É como se o homem no avião e o Papa em Lourdes fossem duas pessoas diferentes!

Além de que a mensagem precisaria de um comentário inteiro: cada tema é digno de ser lido e com grande valor. Aposto que seja válida para a “Igreja Francesa”, mas para o restante dos bispos da “Igreja Americana” também, já que eles estão virando uma minoria nos EUA, enquanto eles são uma grande maioria na Europa/França.

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Depois do comentário factual de Zenit, dê uma olhada no semi-oficial jornal da “Igreja Francesa”. Nicolas Senèze é o editor sub-chefe e publicou em março um livro sobre “La Crise intégriste” a partir do ponto de vista anti-trad. Você vai ter uma idéia da enorme distância entre Bento XVI e a “Igreja Francesa”, para dizer pouco. Além disso, você verá como os católicos NO [Novus Ordo] comuns, lendo o La Croix, estão totalmente desinformados…

  1. La Croix está totalmente calado sobre a fraternalmente redigida ordem dada aos bispos para implementar verdadeiramente e com amor Summorum Pontificum (num país onde a grande maioria deles está fazendo o oposto).
  2. La Croix está substituindo a Mensagem Oficial aos bispos pela não-oficial, não-vinculante entrevista no avião.
  3. La Croix está unindo indevidamente o amor e o respeito geral pelos bispos com a real implementação do motu proprio, fazendo o papa se contradizer, porque o recurso a Roma é um direito na Igreja e especificamente mencionado em Summorum Pontificum.
  4. La Croix através dessa grosseira distorção está promovendo a velha heresia do galicanismo , solenemente condenada por muitos papas e especialmente na constituição dogmática do Vaticano I, Pastor Aeternus, similarmente pelo Vaticano II (Lumen Gentium).
Fiéis se aglomeram, ao som dos sinos e portando bandeiras do Vaticano, em frente à Igreja de Saint Nicholas du Chardonnet para passagem do Papa.

É a perfeita imagem do que é hoje a ex-filha primogênita da Igreja: debaixo do invólucro (abertamente) anti-romana… No mínimo, a “Igreja Francesa” maioria da Igreja na França: uma minoria está ativamente apoiando o Papa, felizmente. Mas na França, o Cardeal Mahony e o Arcebispo Weakland são maioria, Arcebispo Chaput é minoria…

Para ser justo, a mídia secular – a maioria como zombaria e criticismo – está TODA enfatizando o gesto em direção aos tradicionalistas, o apoio à missa tradicional pelo Papa, o retorno do Latim durante as missas NO [Novus Ordo], “Vatican moins deux”  [literalmente, Vaticano menos Dois, em referência ao Vatican Deux, isto é, Vaticano Dois (o Concílio)] colocou um jornalista secular brincando com o Vaticano II. A cegueira de La Croix é inteiramente vonluntária! Tenha certeza que Senèze está expressando o que a maioria da “Igreja Francesa” quer ouvir.

Aqui está o comentário de La Croix (N.Senèze):

“Liturgia

É certamente um dos pontos mais notáveis neste discurso, exatamente um ano após o início da implementação do m.p. Summorum Pontificum, pelo qual B. XVI restaurava o pleno direito à liturgia pré-conciliar. “Um ato de tolerância” para um “grupo pequeno”, enfatizou o papa no vôo para Paris [comentário: você vê o que eu lhe disse sobre a indecente repercussão desta infeliz entrevista].

Enfatizando que “todos têm um lugar na Igreja”, o papa chamou ontem para “a necessária pacificação dos espíritos”. Mas ele alertou aqueles que são desrespeitosos com os bispos ou tentam ultrapassá-los mandando pedidos diretamente para Roma: “O povo Cristão deve olhar para vós com afeição e respeito”, ele enfatizou desde o início de seu discurso, pontuando o papel dos bispos como primeiros líderes de suas dioceses.”

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As verdadeiras palavras do Papa: veja a diferença com Senèze e La Croix.

“O culto litúrgico é a expressão suprema da vida sacerdotal e episcopal, como também do ensino catequético. O vosso ofício de santificação do povo dos fiéis, caros Irmãos, é indispensável ao crescimento da Igreja. Fui levado a precisar, no Motu proprio Summorum Pontificum, as condições de exercício deste cargo, no que diz respeito à possibilidade de utilizar igualmente o missal do Beato João XXIII (1962) e o do Papa Paulo VI (1970). Frutos destas novas disposições já têm visto o dia, e espero que a indispensável pacificação dos espíritos esteja, graças a Deus, a caminho de se fazer. Meço as dificuldades que são as vossas, mas não duvido que se possa chegar, em tempo razoável, a soluções satisfatórias para todos, para que a túnica sem costura de Cristo não se rasgue mais. Ninguém é excesso na Igreja. Cada um, sem exceção, deve poder sentir-se em casa nela, e jamais rejeitado. Deus que ama a todos os homens e não quer perder nenhum confia-nos esta missão de Pastores, fazendo de nós os Pastores das suas ovelhas. Não podemos senão dar-Lhe graças pela honra e pela confiança que nos dá. Esforcemo-nos, portanto, em sermos sempre servidores da unidade!”

L Perrin

Todos os discursos do Papa em sua viagem à França podem ser lidos aqui.

Excelentíssimos Pastores, ninguém é excesso na Igreja

O culto litúrgico é a expressão suprema da vida sacerdotal e episcopal, como também do ensino catequético. O vosso ofício de santificação do povo dos fiéis, caros Irmãos, é indispensável ao crescimento da Igreja. Fui levado a precisar, no Motu proprio Summorum Pontificum, as condições de exercício deste cargo, no que diz respeito à possibilidade de utilizar igualmente o missal do Beato João XXIII (1962) e o do Papa Paulo VI (1970). Frutos destas novas disposições já têm visto o dia, e espero que a indispensável pacificação dos espíritos esteja, graças a Deus, a caminho de se fazer. Meço as dificuldades que são as vossas, mas não duvido que se possa chegar, em tempo razoável, a soluções satisfatórias para todos, para que a túnica sem costura de Cristo não se rasgue mais. Ninguém é excesso na Igreja. Cada um, sem exceção, deve poder sentir-se em casa nela, e jamais rejeitado. Deus que ama a todos os homens e não quer perder nenhum confia-nos esta missão de Pastores, fazendo de nós os Pastores das suas ovelhas. Não podemos senão dar-Lhe graças pela honra e pela confiança que nos dá. Esforcemo-nos, portanto, em sermos sempre servidores da unidade!

Discurso aos Bispos franceses – Hemicycle Sainte-Bernadette, Lourdes, 14 de setembro de 2008

Na festa da Exaltação da Santa Cruz

Muitos de vós levais no pescoço uma corrente com uma cruz. Também eu levo uma, como também todos os bispos. Não é um adorno nem uma jóia. É o precioso símbolo de nossa fé, o sinal visível e material da vinculação a Cristo. São Paulo fala claramente da Cruz no início de sua primeira carta aos Coríntios. Em Corinto vivia uma comunidade em turbulência e revolta, exposta aos perigos da corrupção dos costumes imperantes. Perigos parecidos com os que hoje conhecemos. Não citarei nada mais que o seguinte: as querelas e lutas no seio da comunidade crente, a sedução que oferecem pseudo sabedorias religiosas ou filosóficas, a superficialidade da fé e a moral dissoluta. São Paulo começa a carta escrevendo: “A mensagem da cruz é necessidade para os que estão em vias de perdição; mas para os que estão em vias de salvação – para nós – é força de Deus” (1 Co 1,18). […]

Queridos jovens, sei que venerar a Cruz às vezes também traz consigo o escárnio e até a perseguição. A Cruz põe em perigo em certa medida a segurança humana, mas manifesta, também e sobretudo, a graça de Deus e confirma a salvação. Nesta tarde, vos confio à Cruz de Cristo. O Espírito Santo vos fará compreender seu mistério de amor e podereis exclamar com São Paulo: “Deus me livre de gloriar-me senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, na qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo (Gal 6, 14),

Discurso do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na Catedral de Notre-Dame de Paris, na vigília de oração com os jovens – 12 de setembro de 2008

Resposta do Papa sobre Summorum Pontificum – a versão oficial

A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou a transcrição das respostas do Papa às perguntas feitas pelo Pe. Federico Lombardi, em nome dos jornalistas. Abaixo, nossa tradução da resposta acerca do motu proprio.

O que vós dizeis aos que, na França, temem que o Motu proprio `Summorum pontificum’ marque um passo atrás sobre as grandes intuições do Concílio Vaticano II? Como vós podeis tranqüilizá-los?

Bento XVI: É um medo infundado, porque este Motu proprio é simplesmente um ato de tolerância, num objetivo pastoral para as pessoas que foram formadas nesta liturgia, a amam, a conhecem, e querem viver com esta liturgia. É um pequeno grupo, porque isso supõe uma formação em latim, uma formação numa certa cultura. Mas para essas pessoas ter o amor e a tolerância de permití-las viver com esta liturgia me parece uma exigência normal da fé e da pastoral de um bispo da nossa Igreja… Não há nenhuma oposição entre a liturgia renovada do Concílio Vaticano II e essa liturgia. Todo dia (do Concílio, nota), os padres conciliares celebraram a missa de acordo com o antigo rito e, ao mesmo tempo, conceberam um desenvolvimento natural para a liturgia em todo este século, porque a liturgia é uma realidade viva que se desenvolve e conserva no seu desenvolvimento a sua identidade. Há, por conseguinte, certamente acentos diferentes, mas mesmo assim uma identidade fundamental que exclui uma contradição, uma oposição entre a liturgia renovada e a liturgia precedente. Penso quando mesmo que há uma possibilidade de um enriquecimento das duas partes. De um lado, os amigos da antiga liturgia podem e devem conhecer os novos santos, os novos prefácios da liturgia, etc.… por outro lado, a liturgia nova sublinha mais a participação comum, mas, sempre, não é simplesmente uma assembléia de certa comunidade, mas um ato da Igreja universal, em comunhão com todos os crentes de todos os tempos, e um ato de adoração. Neste sentido, parece-me que há um enriquecimento recíproco e é claro que a liturgia renovada é a liturgia ordinária do nosso tempo.

A chave para comprender a resposta do Papa está na pergunta que lhe foi feita: qual a palavra do senhor para tranquilizar os que temem o Motu Proprio. A resposta deve ser compreendida neste sentido.

Primeira referência pública de Bento XVI a Summorum Pontificum

É um temor absolutamente infundado. O motu proprio é sobretudo um ato de tolerância e de amor pastoral pelas pessoas que foram formadas nessa liturgia e a amam, conhecem e desejam viver com essa liturgia. É um grupo pequeno, porque pressupõe uma formação no latim e uma certa cultura. Mas da parte dos bispos e da nossa Igreja parece uma exigência normal ser tolerante diante dessas pessoas. Não é alguma oposição entre a liturgia renovada do Concílio Vaticano II e essa liturgia. Os padres conciliares todo dia celebravam com o rito antigo e ao mesmo tempo haviam concebido uma liturgia desenvolvida. São acentos diversos mas uma identidade comum que exclui uma oposição. Penso que seja possível um enriquecimento das duas partes: os amigos da antiga liturgia devem conhecer os salmos e prefácios da nova, enquanto a nova liturgia, que muito sublinha a participação comunitária, não seja considerada apenas uma assembléia de uma certa comunidade, mas sempre um ato universal. É liturgia renovada é a liturgia ordinária.

(Resposta do Papa Bento XVI, no avião, ao ser questionado se o Motu Proprio era um passo atrás com relação ao Concílio, pouco depois de decolocar em direção à França.  Fontes: Per fas et per nefas e Andrea Tornielli)

Atualização (12 de setembro de 2008, 23:58): o leitor Felipe Coelho nos alertou para um erro de Andrea Tornielli em sua tradução para o italiano da resposta dada pelo Papa que, ao se referir ao enriquecimento do Vetus Ordo pelo novo, teria dito que os tradicionalistas deveriam aceitar os novos “santos”, e não “salmos”, como publicamos. É muito provável que a versão apontada por Felipe seja realmente a correta, afinal, o Papa se pronunciou em francês; exatamente por isso publicamos esta nota. Contudo, certamente a Sala de Imprensa da Santa Sé publicará a versão oficial das respostas dadas na entrevista feita no avião, tal como fez nas viagens do Papa ao Brasil e aos Estados Unidos, e aí sim nossa dúvida será sanada.