Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias – Anápolis, GO.

Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias

Algumas fotos da consagração  da Capela Santa Maria das Vitórias por Sua Excelência Reverendíssima Dom Manoel Pestana Filho. Parabéns a todos os amigos da Associação Civil Santa Maria das Vitórias, especialmente ao Reverendíssimo Padre João Batista, e que a Santíssima Virgem sempre guarde este oásis no imenso deserto que hoje atravessamos. Mais fotos aqui.

Padre João Batista - Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias

Dom Manoel Pestana Filho - Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias

Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias.

Dom Manoel Pestana Filho

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Consagração Capela Santa Maria das Vitórias.

Dom Manoel Pestana Filho

Capela Santa Maria das Vitórias

Bento XVI, Pio XII e o Vaticano II.

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Associação Civil Santa Maria das Vitórias

Padres Conciliares Na linha da hermenêutica da continuidade, Bento XVI declarou que uma das fontes mais importantes do Vaticano II é o magistério de Pio XII. Disse que, depois da Sagrada Escritura, os textos mais citados pelos padres conciliares são os documentos do papa Pacelli.

É muito louvável o empenho de Bento XVI de promover uma leitura do Vaticano II à luz da tradição, desautorizando assim aqueles que pretendem transformar o Vaticano II no marco inaugural de uma nova Igreja Católica, um “super-concílio” criado ex nihilo.

No entanto, é preciso reconhecer que o Vaticano II apresenta sérias dificuldades para ser interpretado na linha de continuidade do magistério da Igreja, ainda que se admita um desenvolvimento orgânico na vida eclesiástica. A Igreja está na história, mas sua doutrina não pertence à história e sim ao Verbo Eterno. Com efeito, como diz Romano Amério em Stat Veritas, ao que vem depois compete demonstrar sua continuidade com o precedente. E para tanto, não bastam citações de autores antigos. Os protestantes e os jansenistas citam, em tom elogioso, a Santo Agostinho. Todavia, seria grosseiro equívoco dizer que pertencem à mesma estirpe doutrinária de Santo Agostinho. Apenas o citam para corromper-lhe o pensamento ou para se cobrirem com o prestigio de um autor universalmente acatado.

Quanto ao Vaticano II, são conhecidas as lutas internas, os episódios dramáticos dos embates entre os padres fiéis à tradição da Igreja e os inovadores. Estes, depois de fulminados por São Pio X, passaram a viver homiziados à espera de uma ocasião oportuna para dar um golpe e revolucionar a Igreja. Em 1923, Pio XI pensou em convocar um concílio que pudesse concluir os trabalhos do Vaticano I, suspenso em 1870, em virtude de problemas políticos. Foi desaconselhado pelo cardeal Billot que lhe disse:

Eis a razão mais grave, aquela que me parece militar absolutamente contra a convocação.

A retomada do Concílio é desejada pelos piores inimigos da Igreja, isto é, os modernistas, que já se apressam – como o atestam os indícios mais certos – a aproveitar os estados gerais da Igreja para fazer a revolução, o novo 1789, objeto dos seus sonhos e esperanças.

Inútil dizer que não o conseguirão, mas veremos dias tão tristes como os do final do pontificado de Leão XIII e do início de Pio X; veremos coisa ainda pior, e seria a destruição dos bons frutos da encíclica Pascendi que os reduzira ao silêncio.[1]

Mas, enfim, por um desígnio insondável da Providência, o concílio realizou-se. Os seus frutos não são os melhores. Os próprios entusiastas do Vaticano II reconhecem que a situação da Igreja, após o VII, não é brilhante. Há problemas de toda ordem. Reina uma confusão enorme entre os católicos, a corrupção doutrinal é espantosa. Paulo VI chegou a falar em auto-demolição da Igreja e na penetração da fumaça de Satanás no templo de Deus.

Quanto à existência de uma crise na Igreja após o concilio há um testemunho concorde e unânime dos católicos dotados de um mínimo senso critico. O problema está em estabelecer uma relação de causa e efeito entre a crise e o próprio VII. Alguns chegam a admitir que a crise resulta de um espírito revolucionário dos anos Sessenta que invadiu toda a sociedade, inclusive a Igreja. O problema não estaria no próprio concilio. Nas atas conciliares não haveria nenhum problema, nada que justificasse uma reviravolta na vida da Igreja, nenhuma concessão à heresia, ao espírito mundano anti-católico.

Ora, isto não corresponde à verdade dos fatos. Está solidamente documentado que durante o Concílio houve uma tentativa de harmonizar correntes teológicas antagônicas, um esforço de operar uma síntese que lançasse a Igreja a um patamar mais alto, permitindo-lhe descortinar novos horizontes para a humanidade. Esse problema nos levaria longe demais, porque envolve toda a questão do humanismo de Maritain e da negação da ordem sobrenatural na obra de de Henri de Lubac e karl Rahner.[2] A questão merece estudo mais aprofundado e excede o objetivo deste modesto artigo.

O famoso livro O Reno se lança no Tibre do padre Ralph Wiltgen SVD (Editora Permanência, Rio de Janeiro, 2007) faz uma reportagem interessante dos momentos críticos do VII, quando, em face de um confronto doutrinário, optava-se por uma solução de compromisso mediante a redação de textos ambíguos. Wiltgen cita o dominicano holandês Schillebeeckx que disse: “A maioria tinha recorrido a uma terminologia deliberadamente vaga e excessivamente diplomática e o próprio padre Congar tinha bem cedo protestado contra a redação deliberadamente ambígua de um texto conciliar.” (o.c. p. 245)

Um concílio que não lança anátemas, não define pontos doutrinários, é algo inédito na história da Igreja. Um concílio que tenta ignorar o principio de não contradição para formular uma teologia à maneira hegeliana não pode prosperar. Se chegasse a uma síntese resultante de um compromisso de todos os envolvidos em tal concilio, essa síntese seria uma ruína geral.

Portanto, não causa admiração que o VII cite com profusão o magistério de Pio XII. Isto, porém, não significa que o VII esteja na linha de continuidade do magistério do grande papa. Com efeito, Pio XII na Mystici Corporis, aprofundando a doutrina perene dos papas sobre a constituição da Igreja, sobretudo a Satis Cognitum de Leão XIII, diz: “Afastam-se da verdade divina aqueles que imaginam a Igreja como se não pudesse ser alcançada nem vista, como se fosse uma coisa “pneumática” (como de fato o dizem), pela qual muitas comunidades de cristãos, se bem que separados entre si pela fé, todavia seriam entre si unidos por um vínculo invisível.”

Ora, é fato irrefragável que a Lumen Gentium atenta contra essa doutrina com sua tristemente célebre expressão subsistit e seus desdobramentos no campo da “política ecumênica” pós-conciliar, tais como os jargões “comunhão imperfeita entre as igrejas irmãs” Que significa isso? Para onde nos querem conduzir?

Igualmente, Pio XII reitera solenemente na encíclica Divino Afflante Spiritu, de 30 de setembro de 1943, a doutrina tradicional da Igreja sobre a inerrância absoluta da Sagrada Escritura como decorrência necessária da sua inspiração divina. Ao contrário, o VII se exprime em termos dúbios a respeito e o Catecismo pós-conciliar categórico ao reduzir a inerrância bíblica à verdade salvífca. (Cf. CIC nº 136).[3]

Concilio Vaticano IIOutrossim, o Santo Oficio, sob o pontificado de Pio XII, condenou a doutrina que equipara os fins do matrimônio: o auxílio mútuo não se subordinaria ao fim primário, o bem da prole (Cf. DS. Nº 3838). Ao contrário, a Gaudium et Spes do VII ignora essa hierarquia de fins. O Código de Direito Canônico de 1917, no cânon 1013, era claríssimo nessa matéria. O novo Código, de 1983, no cânon 1055, diz simplesmente que o matrimônio está ordenado ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole.

As conseqüências de todas essa inovações doutrinárias, de todas essas reformas, são desastrosas e estão aí para quem quiser ver. A grande maioria dos católicos hoje são ecumenistas radicais, irenistas ou quase sincretistas. Dizem com todas as letras, com a consciência tranqüila, que todas as religiões são boas. Que “o importante é o amor”. Que o importante é que haja paz para que a gente tenha vida boa aqui na terra. No campo da moral familiar, o que existe é um verdadeiro escândalo, consentido e apoiado por grande parcela do clero e do episcopado. Diz-se abertamente que se pode evitar filho por qualquer meio. A família católica tradicional está praticamente liquidada. É uma vergonha o que se vê!

Na verdade, esta questão é perfeitamente esclarecida pela desolação litúrgica vivida pela Igreja após o VII. A liturgia é a expressão da doutrina da fé. Ela não pode sofrer dilacerações, rupturas sem que o dogma seja ferido. A doutrina não pode ser alterada sem que a liturgia seja desfigurada. Após a reforma litúrgica o cardeal Benelli, de Florença, declarou que a missa tradicional não podia ser autorizada porque ela traduzia uma eclesiologia ultrapassada. Quer dizer, a Igreja da democracia e da colegialidade, na qual se obscurece o sacerdócio hierárquico e se corrói a autoridade suprema do Vigário de Cristo, é incompatível com a liturgia tradicional que se opõe a essas heresias.

Ora, o cardeal Ratzinger prefaciou a obra de Mons. Klaus Gamber La Réforme Liturgique en question (Édition Sainte-Madeleine, 1992). Ratzinger diz que a reforma litúrgica foi uma devastação, sustentando assim a tese do autor que diz que a reforma litúrgica de Paulo foi mais radical que a de Lutero.

Como se vê, é muito dificultoso, para não dizer impossível, pretender que o VII não ofereça nenhum problema de interpretação dos seus documentos ou simplesmente pretender que todos seus ensinamentos estão na linha da tradição. Há, sim, uma ruptura, que é urgente sanar. Como fazê-lo? Roma tem sabedoria milenar e a assistência do Espírito Santo para encontrar a forma adequada. Confiando ao Instituto do Bom Pastor a missão de fazer uma crítica construtiva ao VII, a Santa Sé admite a existência do problema e dá um passo importante na busca de um remédio. No momento, basta verificar que o VII é um concílio atípico.

Ademais, todo o espírito pós-conciliar é completamente oposto ao espírito de Pio XII. João Paulo II, por ocasião do Jubileu do Ano 2000, promoveu aquele infeliz e controvertido pedido de perdão por supostos pecados cometidos pelos filhos da Igreja que lhe teriam desfigurado o rosto.[4] Denegriu assim a história da Igreja. Consta que o cardeal Ratzinger foi contra esse pedido de perdão. Pio XII, ao contrário, lamentava: “Ouço em torno de mim inovadores que querem desmantelar a Sagrada Capela, destruir a flâmula universal da Igreja, rejeitar seus ornamentos, dar-lhe remorsos de seu passado histórico. Eu, meu caro amigo, tenho a convicção de que a Igreja de Pedro deve assumir seu passado ou ela cavará a sua sepultura.”[5]

Cardeal discutem no Concilio.

Pio XII, como bem o reconheceu o papa Bento XVI, foi, sem dúvida, um grande papa. Governou a Igreja em período de grande turbulência, não só durante a segunda guerra mundial, mas arrostou os desafios do pós-guerra, quando no mundo ocidental começava a acentuar-se a tendência laicista da sociedade contemporânea, de uma democracia atéia universal. Não cedeu um milímetro em matéria doutrinal, não negou um artigo do direito público eclesiástico. As várias concordatas assinadas pela Santa Sé em seu tempo são provas históricas da sua fidelidade.[6] Além disso, salvou a Itália da ameaça comunista em 1946. Até hoje os católicos italianos recordam com grande veneração o trabalho de mobilização, verdadeira cruzada, contra o comunismo, encetada por Pio XII.

Seria uma bênção para toda a Igreja a elevação de Pio XII à honra dos altares. Eu mesmo, segundo testemunho de minha mãe, fui salvo quando bebê por sua intercessão. Uma asma fortíssima e renitente me deixou à beira da morte e minha mãe invocou o papa Eugênio Pacelli. Desde pequeno o cultuo privadamente como um santo. Não é justo dizer que ele está para o VII assim como, por exemplo, um São Leão Magno, um São Gregório Magno, um São Bernardo de Claraval, um Santo Tomás de Aquino estão para Trento ou para o Vaticano I.


[1] Apud Spadafora, Francesco, La tradizione contro il Concilio, Roma, 1989.

[2] Aos interessados em aprofundar o tema recomenda-se a leitura de De Lamennais a Maritain, de Julio Meinvielle, Buenos Aires, 1945; Getsemani, Cardinale Giusppe Siri, Roma, 1987. Para uma leitura propedêutica, O humanismo integral de Jacques Maritain, disponível em www.santamariadasvitorias.com.br. Cf. Documentos.

[3] O cardeal Albert Vanhoye, ex-secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, em entrevista à revista 30 Dias, confirmou a novidade exegética. (Cf. ano XXVI, n.6/7 -2008).

[4] Cf. João Paulo II, Carta Apostólica, Tertio Millennio Adveniente, § 35.

[5] Mgr. Roche, Pie XII devant l’histoire, p. 52-53.

[6] A propósito, recordo um interessante artigo do jornalista Fernando Pedreira, um verdadeiro trabalho de filosofia da cultura, em que o articulista de formação liberal dizia que o grande derrotada da Segunda Grande Guerra Mundial não foi o nazifascismo mas a Europa tradicional representada por Pio XII, pela Espanha de Franco e o Portugal de Salazar.

Fratres in Unum entrevista Pe. João Batista.

Apresentamos a nossos leitores uma entrevista que nos foi concedida pelo Reverendíssimo Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa, de Anápolis, Goiás.

Fratres in Unum: Padre João Batista, primeiramente muito obrigado por nos ter atendido. Conte-nos um pouco sobre sua vocação e o trabalho que o senhor exerce atualmente.

Padre João Batista: Com prazer ponho-me a responder à entrevista de Fratres in Unum, blog que muito aprecio. Posso dizer-lhe que desde pequeno pensei em ser padre. Nasci, graças a Deus, no seio de uma família muito católica. Meus pais sempre veneraram o sacerdócio católico e disseram que seria uma honra ter um filho padre. Muito ajudou a consolidação da minha vocação o combate de Mons. Lefebvre em defesa da tradição. Logo que a mídia começou a falar dele, meu pai dizia que ele tinha razão no que dizia. Igualmente, contribuíram muito para minha formação as revistas Permanência, de Gustavo Corção, e Catolicismo, que minha família subscrevia. Atualmente, cuido de duas capelas que preservam a tradição litúrgica da Igreja: Santa Maria das Vitórias (verdadeiro milagre da misericórdia divina) e São José da Boa Morte (preservada graças à prudência do saudoso Frei Cristóvão). Sou também professor de filosofia na Faculdade Católica de Anápolis há mais de 10 anos.

Fratres in Unum: Imaginamos que o discernimento de sua vocação tenha se dado num período um tanto conturbado da história da Igreja. O que aconselhar aos que hoje, em meio a tantas dificuldades, seguem o mesmo itinerário?

Padre João Batista: Que não desanimem. Confiem na Providência Divina. Recomendem-se à proteção de Nossa Senhora. Comecem a estudar latim antes de entrar para o seminário. Estudem o catecismo de São Pio X. Não descuidem da oração. Ingressem em um seminário que conserve, com muita convicção, a liturgia tradicional. Comparada ao que vivi há anos, a situação hoje melhorou muito.

Fratres in Unum: Num artigo o senhor afirma: “parece que o aumento do número de católicos que tomam consciência nestes últimos anos dos problemas doutrinários que flagelam a Igreja sobretudo a partir do Vaticano II incomoda a certos senhores”. Tratemos da primeira parte da afirmação: essa tomada de consciência se deve a um aprofundamento doutrinário por parte desses católicos ou mera constatação da falência dos novos métodos ‘pastorais’ adotados nos últimos 40 anos?

Padre João Batista: Creio que há um aprofundamento doutrinário, sim. Isso foi propiciado pelos meios de comunicação (Internet, principalmente). Há vinte anos atrás só quem assinava as revistas “Permanência”, Itineraires, Roma (de Buenos Aires) ou lia as cartas pastorais inesquecíveis de Dom Mayer tomava conhecimento da crise da Igreja. Hoje, ainda que sob certos aspectos, haja problemas seríssimos, parece que há mais católicos que conhecem o magistério tradicional que condenou o liberalismo, o falso ecumenismo etc. De maneira que os “incomodados” a que me referi vêem sim, com preocupação, o crescimento da tradição. Basta pensar naquela carta do Grande Oriente da França publica há alguns meses.

Fratres in Unum: Como reação à crise pela qual passa a Igreja, o Papa propõe a hermenêutica da continuidade. Ademais, acrescenta que os que a adotam geram frutos, mesmo que silenciosamente (conf. Discurso à Cúria Romana de 22 de dezembro de 2005). No mundo católico notam-se reações: à esquerda, progressistas nisso enxergam o fim do Concílio. No centro, alguns passam a justificar o Concílio em todas as suas proposições. À direita, Dom Bernard Fellay, superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, reconhece que tal método trata-se de um passo na direção certa, embora o considere insuficiente por não atingir a verdadeira raiz dos problemas, que seria o próprio texto do Concílio. Afinal, como o católico deve se portar nesse emaranhado de tendências?

Padre João Batista: Creio que a hermenêutica da continuidade, evidentemente, é necessária, mas não debela o mal pela raiz. A nossa atitude deve ser aquela do Communitorium de São Vicente de Lerins: “Conservar tudo aquilo que a Igreja sempre fez e ensinou em todos os tempos e lugares”.

Fratres in Unum: Diz o senhor que “há católicos que são capazes de ver que é verdade tudo que disse aqui [a respeito da crise] mas preferem silenciar, negar ou até justificar a triste realidade. O problema não está na inteligência mas na vontade. Não querem indispor-se com ninguém, muito menos com a autoridade. Vendem a sua alma por um prato de lentilha ou pela perspectiva de uma carreira brilhante ou por razões mais sórdidas ainda”. Alguns sob alegação de “obediência” extrapolam os limites  e se calam diante de atos que podem até comprometer a Fé. Chegamos, assim, num difícil aspecto que atordoa a muitos fiéis. Qual o conceito Católico de obediência e quando ela se desvirtua em subserviência que coloca em perigo a confissão clara da Fé?

Padre João Batista: Simplesmente, a obediência está a serviço da fé e da verdade. É preciso obedecer antes a Deus que aos homens. O Apóstolo diz: se um anjo vos anunciasse um evangelho diferente, seja anátema. Portanto, que não nos façam engolir um falso ecumenismo ou uma filantropia maçônica como exigências do Evangelho, em nome da obediência. Prefiro morrer a ingerir esses venenos da Sinagoga de Satã. Ou ainda precisando a minha resposta, a virtude da obediência é uma virtude moral a serviço da virtude teologal da fé. O católico precisa primeiro saber se tem fé reta. Se não a tem, que a “retifique”. Portanto, estude bem seu catecismo, o catecismo de São Pio X, procure conhecer bem o dogma da unicidade da Igreja de Cristo, hoje tão esquecido ou negado. E depois obedeça com circunspecção. A lei injusta não é lei, é corrupção da lei. A obediência indiscreta não é virtude, mas vício ou subserviência. Há belíssimos textos de D. Castro Mayer e D. Lefebvre sobre o assunto. Igualmente, acode-me à memória um estudo de JB Pacheco Salles publicado em Permanência, sob o título, se não  me engano, “A fé e a obediência em Santo Tomás de Aquino”.

Fratres in Unum: Tratemos sobre liturgia. Após a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, imaginou-se uma enxurrada de missas tradicionais. Pensamento compreensível, especialmente vindo dos fiéis que há tanto tempo atravessam um deserto litúrgico e que avistaram algum alento. Mas de certa forma imprudente, pois demonstra alguma incompreensão sobre a confusão que hoje impera nos meios católicos. Afinal, o que há de tão ‘perigoso’ aos olhos do clero atual na Missa Gregoriana que o leva a restringir absurdamente a aplicação deste documento do Papa?

Padre João Batista: Creio que há muita ignorância. Mas desconfio que há também muito amor próprio ferido. Afinal, é raro ver alguém com a humildade do Papa Bento XVI e admitir que a reforma litúrgica foi um desastre, uma devastação. E dizer mais ainda: que a crise da Igreja decorre da liturgia reformada.

Fratres in Unum: Alguns chegam a dizer que hoje, com Summorum Pontificum, consegue-se no máximo a aplicação de Ecclesia Dei… O próprio Cardeal Hoyos declara ter entregado ao Santo Padre um documento que esclarece alguns termos usados como pretexto até mesmo por Conferências Episcopais para, de maneira prática, anular o documento do Papa. Como devem os fiéis se portar diante de eventuais problemas para usufruir esse direito em suas dioceses?

Padre João Batista: Não vejo outro caminho senão dirigir-se a Roma, de forma bem documentada e circunstanciada e ter muita paciência.

Fratres in Unum: Se há crise na liturgia, naturalmente, há uma crise também no sacerdócio. É comum notar que alguns fiéis, pelos infelizes tropeços que cometem não poucos membros da hierarquia, começam a levantar uma suspeita a priori contra todo o clero. Surgem, com isso, leigos que não raro usurpam algumas funções exclusivamente sacerdotais. Neste período turbulento, como evitar que as ovelhas a serem apascentadas procurem uma espécie de ‘emancipação’ que abala diretamente a própria estrutura hierárquica da Igreja desejada por Nosso Senhor?

Padre João Batista: Efetivamente, trata-se de um perigo real. Muitas vezes o homem é tentado a querer resolver problemas que não lhe compete resolver. Como se diz, não adianta querer abraçar o mundo, fazer tudo. Cada um saiba o seu lugar. O meu querido padre Vieira diz: “O nosso querer tem de ser sempre menor que o nosso poder.” Muito obrigado pela oportunidade que Fratres in Unum me concede. A minha bênção para toda sua equipe.