ACI: “João Paulo II nunca soube a verdade sobre Marcial Maciel, assegura seu ex-secretário pessoal”. Mas, o testemunho do secretário particular de Maciel é outro: “Não quis escutá-lo, não acreditou”.

Padre Marcial Maciel, LC.ROMA, 06 Nov. 13 / 10:20 am (ACI/EWTN Noticias).- O Arcebispo de Cracóvia (Polônia), Cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi o secretário pessoal do Papa João Paulo II durante mais de 40 anos, assegurou que o futuro santo nunca soube a verdade sobre a vida imoral que levava o fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel.

“Sei eu também, mas pensando a posteriori, que o Santo Padre nunca deveria ter recebido esse indivíduo. Mas João Paulo II quando o encontrou não sabia nada, absolutamente nada!”, disse o Cardeal, em declarações compiladas no livro-entrevista “vivi com um santo”, escrito pelo jornalista Gian Franco Svidercoschi.

Conforme explicou o Arcebispo de Cracóvia, para João Paulo II, Maciel “era ainda o fundador de uma grande ordem religiosa e basta, ninguém tinha falado nada com ele! Nem sequer dos rumores que corriam!”.

Nos últimos anos de sua vida, surgiram diversos informes que revelaram as duas vidas que tinha Marcial Maciel, com atos que compreendiam o abuso sexual, filhos secretos e inclusive vício a drogas.

Em 2006, Bento XVI determinou que Maciel se abstivesse de exercer o ministério sacerdotal publicamente, e foi obrigado a recolher-se a “uma vida de oração e penitência”. O fundador dos Legionários de Cristo faleceu em 30 de janeiro de 2008.

O Cardeal Stanislaw Dziwisz explicou que a reação lenta frente às denúncias de abusos foi devido à burocracia no Vaticano.

“São, por desgraça, as consequências de uma estrutura ainda extremamente burocrática”, lamentou.

O Arcebispo de Cracóvia explicou os reparos de João Paulo II ao marxismo na teologia da libertação, pois “o marxismo, que defende a luta de classes, uma revolução violenta, não podia certamente ser adotado como solução aos males na América Latina”.

“Existia o perigo, muito realista, que a medicina pudesse revelar-se mais daninha que a doença mesma”, disse.

“Ao mesmo tempo é verdade que João Paulo II aprovou expressamente uma teologia da libertação em sinal da opção pelos pobres, quer dizer da grande eleição evangélica cumprida pela Igreja latino-americana”, particularizou.

O ex-secretário pessoal de João Paulo II revelou que o beato, próximo à canonização, refletiu durante muito tempo sobre uma possível renuncia ao pontificado.

“Sobre a renúncia, o Papa examinou os textos deixados pelo Papa Montini (Paulo VI), consultou os mais estreitos colaboradores, entre eles o Cardeal Ratzinger. Estabeleceu também um especial procedimento para a demissão, caso não estivesse mais em capacidade de desenvolver seu ministério”, disse.

Ao final, assinalou o Cardeal Dziwisz, “como sempre tinha feito na sua vida, Karol Wojtyla se submeteu à vontade do Senhor: ia permanecer até que ele o quisesse”.

* * *

Os arquivos de Fratres in Unum estão repletos de matérias a esse respeito (nossos leitores poderão pesquisá-las na “busca” disponível em nossa barra lateral e citá-las na caixa de comentários). Particularmente, recordamos um post, de junho de 2012, que traz as notas tomadas pelo secretário particular de Bento XVI de um encontro com o Pe. Rafael Moreno, assistente pessoal de Marcial por 18 anos, e que vieram à tona no escândalo dos Vatileaks:

livro de Nuzzi nos dá mais detalhes, reproduzindo as breves notas tomadas pelo secretário papal no dia 19 de outubro de 2011, depois de uma reunião de meia hora com o padre Rafael Moreno, um sacerdote mexicano que atuou como assistente particular de Maciel por 18 anos.

No texto completo da nota sem assinatura reproduzida por Nuzzi, escrita em papel timbrado do “Secretário Particular de Sua Santidade”, lemos:

“19 de outubro de 2011
Reunião 9:00 – 9:30 da manhã
Por mim
Reunião com o padre Rafael Moreno, secretário particular de M.M.

  • Foi por 18 anos secretário particular de MM; isto foi de …[palavra ilegível]
  • Destruiu prova contra ele (material incriminatório)
  • Quis informar P.P.II em 2003, mas ele não quis escutá-lo, não acreditou
  • Quis informar o Card. Sodano, mas ele não lhes concedeu uma audiência
  • Cardeal De Paolis tinha pouco tempo”

Nuzzi afirma que, provavelmente, “P.P.II” se refere a João Paulo II. Cardeal Velasio De Paolis, por sua vez, é o oficial Vaticano que Bento XVI designou para supervisionar uma reforma dos Legionários.

Para Nuzzi, o fracasso em levar Moreno a sério em 2003 é especialmente condenatório, dado que este testemunho veio “não de uma vítima, talvez motivada pelo ódio, mas da melhor testemunha possível: o secretário que, por 18 anos, seguiu o fundador da congregação dia a dia, e que, portanto, sabia de sua vida dupla e tripla, de seus mais secretos aspectos”.

Padre Legionário ao antigo Núncio do México: “Continuam ensinando impunemente aos seminaristas em Roma que Maciel foi um profeta…”.

Para Sua Excelência Justo Mullor
(ex Núncio Papal para o México)
Piazza della Minerva, 74,
00186, Roma, Itália

22 de abril de 2012.

Caro Monsenhor Justo,

Cheio de vergonha li a recente entrevista onde o senhor descreve as calúnias e as mentiras as quais foi submetido pelas mãos de minha congregação religiosa, a Legião de Cristo. Apesar de eu ser somente um membro qualquer, meu pedido de perdão talvez não tenha muito valor, mas, de qualquer maneira, lhe peço desculpas pelo que o senhor padeceu por culpa do padre Maciel e de seus colaboradores.

Apesar dos esforços do papa, do Monsenhor De Paolis e de um pequeno grupo de legionários, não conseguimos banir o macielismo da congregação e aqueles que cometeram todo o tipo de abusos, de difamações, de irregularidades canônicas e administrativas continuam a ser encobertos. De fato, a maioria da cúpula macielista segue governando a Legião, usando os mesmos truques aprendidos com o fundador: eleições falsificadas, meias verdades, esclarecimentos fraudulentos às autoridades Vaticanas, falta de transparência nas questões econômicas e, sobretudo, uma cegueira com relação a todos os que foram feridos pelos crimes deste homem e de seu séqüito.

No entanto, continuam ensinando impunemente aos seminaristas em Roma que Maciel foi um profeta, continua a existir um voto de “humildade” onde os religiosos juram diante de Deus que delatarão seus irmãos [que ousam duvidar ou criticar].

Pediu-se à Secretaria de Estado, numa carta de 3 de novembro de 2010, que se estabelecesse uma comissão da verdade para que, de uma vez por todas, se investigasse as maldades do macielismo e se fizesse justiça aos que foram prejudicados. Esperava-se que aqueles que acobertaram Maciel dentro da congregação e dentro do Vaticano fossem destituídos. Infelizmente, a sugestão não foi considerada oportuna e a maioria dos signatários da carta abandonou a congregação. Assim, casos como o do senhor e de outros legionários e eclesiásticos caluniados não serão esclarecidos.

Finalmente, Monsenhor Justo, só me resta agradecer ao senhor por ter tido o valor de enfrentar a corrupção de Maciel, por haver escutado as vítimas e por ter trazido o maior escândalo da Igreja Católica à luz. Compreendo que o senhor tenha pago um preço alto por sua lealdade à Igreja. Esperamos que a história e Ele, que é a “Luz do Mundo”, reconheçam e premiem o senhor abundantemente.

“Ex Igne Lux”.

Afetuosamente em Cristo,

Padre Peter Byrne, LC.

Original aqui. Tradução: Fratres in Unum.com

A sombra de Marcial Maciel na visita Pontifícia ao México.

Da matéria de Andrés Beltramo Alvarez para o Vatican Insider:

México - Cristo Rei de Cubilete.
México - Cristo Rei de Cubilete.

O bispo de Roma permanecerá no territorio mexicano por três dias, mas sua agenda será muito reduzida, sendo previsto apenas cinco atos públicos. Descansará em boa parte do tempo, para se recuperar da viagem de 14 horas que fará na sexta-feira, 23 de março, quando o avião papal deixará a capital italiana com destino ao estado central de Guanajuato.

Não seria difícil, então, encontrar um momento livre no qual se poderia inserir um breve encontro com as vítimas do fundador da Legião de Cristo, uma obra religiosa que por muitos anos gozou de grande prestígio. Mas os obstáculos a este gesto do pontífice são muitos, e de grande peso.

Entre os que sofreram os ataques de Maciel há diversas posições [sobre a ausência do encontro], emboras todas críticas. Alguns ex-legionários pensaram ser possível que o Papa recebesse as vítimas, mas rapidamente se decepcionaram. No entanto, outros rechaçaram qualquer possibilidade de se encontrar com ele.

“A verdade é que era algo esperado. Eu interpretei a recente viagem ao México do delegado pontifício (para a reforma da Legião, Cardeal Velasio de Paolis), que não se reuniu com as vítimas, como uma resposta oficial de um não encontro com o Papa”, disse ao Vatican Insider Patricio Cerda, membro da congregação por 17 anos e atualmente um dos  propulsores da Associação de Ajuda às Vítimas da Legião de Cristo.

“Para mim, por um lado, é triste, porque de Bento XVI se espera mais do que o politicamente correto, se espera que seja verdadeiramente um pastor. Por outro, estão em jogo interesses de vários cardeais, inclusive o primaz do México (Cardeal Norberto Rivera Carrera), que defendeu Maciel até o fim. As vítimas diretas do fundador tampouco querem ser parte de um mero jogo midiático”, acrescentou.

E criticou ainda as palavras de [Padre Federico] Lombardi [porta-voz da Santa Sé], segundo o qual este problema não seria “sentido pela sociedade”. “Os casos reconhecidos de pederastia clerical, como o do fundador dos Leginários, foram de alcance mundial e continuam perseguindo a Igreja e a mesma instituição”, ponderou.

Com efeito, o caso de Marcial Maciel Degollado é emblemático, um escândalo de grande envergadura. Não só pelos abusos do sacerdote contra seus oito ex-alunos que, em 1998, tiveram a coragem de denunciá-lo publicamente e receberam, em troca, uma campanha de descrédito de alto impacto. Mas porque, durante anos, várias personalidades da Igreja mexicana e também do Vaticano tiveram conhecimento das acusações, mas simplesmente as ignoraram.

O caso está longe de se tratar de um simples episódio de pederastia. O sacerdote teve uma vida dupla, e até tripla. Por um lado, construiu uma congregação religiosa modelo e adquiriu o apoio de altos prelados, enquanto, por outro, cometeu diversos abusos sexuais, fez uso sistemático de drogas e teve amantes com as quais teve filhos.

Foi um verdadeiro choque quando, em maio de 2010, o Vaticano declarou que “os gravíssimos e objetivamente imorais comportamentos do padre Maciel, confirmados por testemunhos inquestionáveis, representam, em alguns casos, verdadeiros crimes e manifestam uma vida sem escrúpulos nem autêntico sentimento religioso”.

O reconhecimento formal dos abusos do sacerdote mexicano se converteu na conclusão simbólica do processo iniciado em 1998, quando um jornal do sul dos Estados Unidos difundiu pela primeira vez o testemunho das vítimas.

Desde aquele momento, e durante os anos seguintes, o caso Maciel foi motivo de divisão, a pedra de escândalo para a Igreja no México. Uma sombra que se estendeu até a Santa Sé e até mesmo a João Paulo II. Atualmente, interpela o próprio Bento XVI que, em maio de 2006, obrigou o sacerdote a se retirar em “uma vida de oração e penitência, afastado de todo ministério público”.

Nem depois desta sanção e da morte de “Nuestro Padre” (como o chamavam seus seguidores) os bispos mexicanos pronunciaram um claro “mea culpa”. Nem sequer aqueles que o defenderam. Pelo contrario, sua figura se tornou inconveniente, embaraçosa. Por outro lado, as vítimas se converteram, lentamente, nos principais acusadores – duríssimos – da Igreja.

Encabeçadas por José Barba Martín, agora se preparam para dar um novo golpe, em plena visita papal ao México. No sábado, 24 de março, enquanto Bento XVI descansa na residência do Colégio Miraflores de León, eles apresentarão na mesma cidade o livro “A vontade de não saber”. Trata-se de uma compilação de 212 documentos supostamente em poder da Congregação para os Religiosos da Santa Sé e que demonstrariam o acobertamento institucional dos delitos do fundador dos Legionários.

Excluindo da agenda papal no México o possível encontro com os abusados por Marcial Maciel, a Sé Apostólica deixará nas mãos deles mesmos o “monopólio” de um assunto capaz de criar numerosos problemas. E perderá a oportunidade de sair definitivamente de baixo da sombra do indigno fundador. Porque no futuro todos poderão reclamar que o Papa ignorou as vítimas. E terão razão.

A viagem do Papa ao México e Cuba. Fidel Castro sim, vítimas do Padre Marcial Maciel não.

Cubanos rezam em preparação para a viagem do Papa.
Cubanos rezam em preparação para a viagem do Papa.

“Fidel Castro sim, vítimas do Padre Marcial Maciel não”. Assim Giacomo Galeazzi inicia sua coluna do último sábado no La Stampa, tratando da próxima viagem do Papa Bento XVI a Cuba e México, de 23 de 28 de março.

O encontro com o líder revolucionário cubano apresentaria menos problemas à Santa Sé do que com as vítimas do Padre fundador dos Legionários de Cristo, um “falso profeta, que levava uma vida imoral e deformada”, como qualificou o próprio Bento XVI.

O episcopado do México, onde Marcial fundou e consolidou sua obra, não programou nenhum encontro entre as vítimas e o Papa, como já se tornou habitual nos países visitados pelo sucessor de Pedro mais afetados pelo escândalo de homossexualismo e pedofilia entre clérigos.

O que testemunha o embaraço criado no México por conta do assunto, depois de décadas de poder ilimitado da ordem graças a ligações com expoentes da cúria romana, como os Cardeais Sodano e Dziwisz, e com milionários como Carlos Slim e Orio Muñoz. “Os Legionários ‘esvaziaram’ a América Latina da teologia da libertação e agora apresentam a conta à hierarquia eclesiástica local”, comenta-se com tristeza em Roma.

Falando aos jornais sobre a viagem papal, o porta-voz da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, SJ, informou que pode sim haver um encontro entre o Papa e Fidel Castro, antigo aluno de colégio de jesuítas, enquanto é quase certo que não haverá nenhum contato com os dissidentes cubanos e, seguramente, no México, nenhum momento com as vítimas de Marcial Maciel.

Sobre um encontro com os dissidentes políticos, que na última semana chegaram inclusive a invadir a Catedral de Havana para reivindicar um encontro com o Papa, Lombardi esclarece: “não está no programa e não o prevejo: nem mesmo João Paulo II teve encontros do gênero”.

Já um encontro com Castro “é uma eventualidade, algo possível”. Não está na programação, mas, se Fidel assim o quiser, “o Santo Padre estará disponível”.

Com relação às vítimas de Maciel, Lombardi é taxativo: “Não está previsto, os bispos não o pediram. Nos outros países em que esses encontros aconteceram, os bispos solicitaram porque o problema era sentido na sociedade e na Igreja. Neste caso não, não está no programa e não se deve esperá-lo”.

Segundo Lombardi, o Papa “está muito bem [de saúde], como demonstra essa fatigante viagem”.

Por sua vez, os grupos criminosos de Guanajuato, no México, declararam uma “trégua” virtual para o período em que o Papa Bento XVI estiver passando pelo estado.  Jornais locais afirmam que alguns dos integrantes das quadrilhas teriam sido convidados a participarem das fileiras que cuidarão da segurança do Papa, o que não foi confirmado nem pelas autoridades civis e muito menos pela Arquidiocese de León.

A programação da viagem:

A Basílica de Nossa Senhora de Guanajuato, León, México.
A Basílica de Nossa Senhora de Guanajuato, México, onde o Papa abençoará as crianças no dia 24.

23 de março: Chegada a León, Guanajuato, México;

24 de março: Benção das crianças de Guanajuato;

25 de março: Missa no Parque Bicentenário de León;

26 de março: Cuba – Missa em Santiago;

27 de março: Em Havana, encontro com Raul Castro;

28 de março: Encerramento da viagem com Missa em Havana.

Pronunciamento do episcopado mexicano e renúncia do fundador da Zenit: a casa legionária continua a cair.

Por Patrícia Medina

Maio de 2006. A Igreja condena o padre abusador Marcial Maciel a uma vida de oração e penitência. Morto o fundador, a cúpula legionária rapidamente emite nota louvando suas virtudes e seu seguimento de Cristo.

Janeiro de 2008. O padre Álvaro Corcuera escreve aos membros do movimento Regnum Christi e aos Legionários de Cristo uma carta contando sobre a morte do padre Maciel:

“E o Verbo se fez carne”. Estas foram as últimas palavras que Nuestro Padre escreveu. (…) Como sabemos, desde a sua infância e adolescência, Nosso Senhor deu a ele a graça de claramente perceber o valor relativo do tempo frente à eternidade. (…) Apesar do grande pesar e tristeza que esta notícia nos dá , tenho também a alegria de vos contar que Nuestro Padre chegou ao final de sua peregrinação terrena. Com a paz que sempre preencheu sua alma, ele partiu para o seu destino eterno no dia 30 de janeiro, nos Estados Unidos. 

Setembro de 2011. A televisão mexicana faz um especial sobre o padre Maciel e seus últimos dias de vida. Já circulava a notícia de que o padre abusador havia morrido impenitente, recusando os sacramentos e com uma das esposas e uma das filhas a seu lado. Soube-se, por este especial de TV, que a impenitência final foi muito mais grotesca e que teve o conhecimento da cúpula dos Legionários de Cristo. No vídeo, aparecem fotos do padre abusador passeando pelo mundo, divertindo-se, comendo em bons restaurantes, sempre acompanhado da esposa, filha e legionários de Cristo. Estes passeios aconteceram quando o padre, supostamente, deveria estar “em oração e penitência” conforme ordenado pela santa Igreja. Somente pelas fotos das férias desse padre, podemos ter a certeza da identidade do legionário Marcelino de Andrés. Mas o fato é que o padre abusador cercou-se de legionários nas férias em Capri, na Polônia, etc.

Eis um trecho do programa da TV mexicana Milenio:

Tal especial de TV fez com que a Conferência Episcopal Mexicana, através de seu encarregado de relações inter-institucionais, Padre Manuel Corral, se pronunciasse dizendo que “as fotografias reveladoras apresentadas pelo programa são uma enganação [burla] à autoridade da Igreja Católica, porque ele deveria ter permanecido em oração… vemos como mentiu e foi acobertado por seus próximos”.

Podemos ver tais fotos a partir do minuto 20:00 do vídeo, mas sugiro que, quem tiver estômago, assista o programa todo, disponível aqui [procurar por “Programa especial sobre los últimos dias del reino de Marcial Maciel”].

A cúpula legionária — lamentavelmente até hoje no comando da congregação — já sabia da vida dupla do padre abusador desde muito antes, porém. As seguintes fotos são de 2005 e nelas podemos ver padres legionários, “consagradas” do Regnum Christi e o padre abusador com uma das esposas e filha: veja aqui e aqui.

O Padre Álvaro Corcuera, Diretor Geral da Legião de Cristo, e o padre Luis Garza Medina, antigo vigário-geral, além de superiores das consagradas e dos leigos dos Regnum Christi, estavam ao lado de Maciel na hora da morte. Detalhes que vazaram dos momentos finais do infeliz sacerdote dão conta de que o Padre Corcuera não conseguia fazer o Padre Maciel se confessar. Padre Corcuera pediu ajuda para a esposa do Maciel, Norma, na tentativa de convencê-lo. De qualquer forma, Maciel morreu impenitente. [fonte: Exlcblog]

Nunca é demais reiterar que o superior geral dos Legionários de Cristo, Padre Corcuera, não foi destituído pela Santa Sé e que o padre Luis Garza Medina foi recentemente designado como superior geral para toda a América do Norte.

Numa outra notícia relevante sobre esta triste saga legionária, nesta última semana o jornalista Jesus Colina, (ex?) membro do Regnum Christi e fundador da Agência ZENIT, foi demitido da própria agência que fundou há 14 anos e citou “problemas de confiança e transparência” por parte dos Legionários de Cristo, que desejam ter o controle absoluto sobre o que se noticia e sobre as finanças da agência. O jornalista explica que era desejo dele que as contas da Zenit e dos Legionários fossem distintas para assegurar maior probidade financeira à agência, mas aconteceu exatamente o contrário. O jornalista deu entrevista em que conta que 30 dias após a morte do Maciel, os superiores legionários fizeram uma homilia para centenas de religiosos colocando o padre abusador como modelo a ser seguido [fonte: Catholic News Agency]

Creio que os leitores do Fratres já estejam acostumados a receber notícias católicas de meios bem mais confiáveis do que a Zenit, mas isso serve de alerta para aqueles que ainda doam dinheiro para esta organização.

Bomba de Roma: Dom João Braz de Aviz compara Pe. Roberto Lettieri a fundador de Legionários de Cristo.

Apresentamos nossa tradução de uma resposta de Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, em entrevista concedida a John Allen Jr:

O que o escândalo envolvendo o fundador dos Legionários de Cristo significa para o senhor?

Certamente é doloroso quando você vê a expansão de um movimento que se apresenta como carismático, e então a indignidade de seu fundador é revelada. Como tal coisa é possível permanece um mistério, e os Legionários não são o único exemplo. No Brasil, tivemos o caso da Toca de Assis. Era uma comunidade que vestia um hábito no estilo franciscano e que atraiu muita atenção, inserindo-se na Canção Nova [uma rede brasileira de grupos vagamente afiliados ao movimento carismático]. Eles criaram uma forte imagem de si, com irmãos que alegavam dar glória a Deus cantando e dançando. Tinham recrutado seiscentos moços. Depois se descobriu, entretanto, que o fundador tomou parte em comportamentos moralmente indignos com seus seguidores.

Quanto aos Legionários, nunca me convenci pela falta de confiança na liberdade pessoal que eu via nas suas estruturas. Era um autoritarismo que procurava dominar tudo com disciplina. Eu retirei os seminaristas de Brasília de seus seminários, porque vi que as coisas não poderiam continuar dessa forma.

Na mesma entrevista, Dom João defende a teologia da libertação e expõe sua ruptura com os procedimentos de seu antecessor [você encontrará alguma coisa dele aqui] nas relações com os religiosos. Curiosamente, um pontificado que afirma ad nauseam a tal continuidade, não consegue impô-la sequer na sucessão de um chefe de dicastério.

A filha de Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, casa. Força no Vaticano.

IHU – Nesta sexta-feira, 10 de junho, às 18h, na igreja barroca do convento de Las Salesas Reales, em Madri, dedicada a Santa Bárbara, casam-se com rito canônico Juan María Piñero de Miguel e Norma Hilda Baños Rivas. A noiva é filha do falecido fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel Degollado.

A nota é de Sandro Magister, publicada em seu blog, Settimo Cielo, 10-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O noivo fez o noviciado entre os Legionários e, depois de tê-lo abandonado, continuou seus estudos no Centro Universitário Francisco de Vitoria, em Madri, também de propriedade da Legião, onde conheceu sua futura esposa.

O noivo nasceu em Barcelona. A noiva, no México.

Na igreja de Santa Bárbara, estão sepultados os reis da Espanha Fernando VI e sua mulher, a rainha Bárbara de Bragança, enquanto o ex-convento de Las Salesas Reales é a sede da Suprema Corte de Justiça da Espanha.

Há mais de um ano, a Legião está comissariada pelo Vaticano. O delegado papal com plenos poderes é o cardeal Velasio De Paolis.

Mas os líderes que encobriram os maus atos do “falso profeta” Maciel – três acima de todos: Luís Garza Medina, Álvaro Corcuera e Evaristo Sada – continuam nos postos de comando, impedindo qualquer renovação.

Ou melhor, as autoridades vaticanas não hesitam em estender o tapete vermelho para eles.

No Vaticano, entre os dias 16 a 18 de junho, haverá um pomposo Executive Summit on Ethics for the Business World, promovido conjuntamente pela Pontifícia Academia das Ciências e pelo Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, dos Legionários.

A cúpula será aberta pelo cardeal Tarcisio Bertone e encerrada pelo cardeal Peter K. A. Turkson, presidente do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”. O cardeal De Paolis presidirá a missa na Basílica de São Pedro.

E quem organizou a cúpula? E quem vai tirar suas conclusões efetivas, com o beneplácito dos supraditos cardeais? Luís Garza Medina, número um dos companheiros de Maciel, ainda vigário-geral da Legião, e Marcelo Benítez, diretor financeiro da Integer, o instrumento criado por Garza para controlar as maiores propriedades da Legião, em particular suas 150 escolas e 20 universidades em todo o mundo.

O aliado obscuro de João Paulo II.

(IHU) Maciel, fundador dos Legionários, já era pedófilo quando o polonês chegou ao papado. Ambos se apoiaram e compartilharam uma mesma visão da Igreja.

A análise é de Jesús Rodríguez, autor do livro La confesión. Las extrañas andanzas de Marcial Maciel y otros misterios de la Legión de Cristo (Ed. Debate), publicada no jornal El País, 29-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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Delegado Pontifício decreta fim de “núncios” de Marcial.

Bento XVI e Cardeal De Paolis, delegado pontifício para a reforma da Legião de Cristo.
Bento XVI e Cardeal De Paolis, delegado pontifício para a reforma da Legião de Cristo.

(IHU) Era uma rede de informantes, um “Big Brother” construído ingeniosamente por Marcial Maciel Degollado para manter o controle sobre todas as áreas da congregação que ele fundou e, em um certo ponto, cresceu excessivamente: os Legionários de Cristo. Um grupo de personagens fiéis ao diretor-geral e que só a ele prestavam contas. Eram os olhos do fundador sempre abertos, dispostos a informar a todo momento. Até hoje são chamados de “núncios ordinários” e, graças a Deus, já não existirão mais.

A nota é de Andrés Beltramo Alvarez, no blog Sacro & Profano, 01-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um decreto do cardeal Velasio De Paolis, o delegado pontifício para a reforma da congregação, estabeleceu o seu desaparecimento. O purpurado decidiu anular definitivamente os números que vão do 553 ao 560 das Constituições legionárias, parágrafos que regulavam justamente o trabalho desses peculiares funcionários.

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Legionários de Cristo criam comissão especial para atender vítimas de Maciel.

(IHU) A ordem Legionários de Cristo anunciou nesta segunda-feira a criação de uma comissão especial encarregada de atender as vítimas de Marcial Maciel, acusado de atos de pederastia.

A reportagem é de Rodrigo Vera e está publicada no semanário mexicano Proceso, 01-02-2011. A tradução é do Cepat.

A comissão terá duas tarefas: recolher os testemunhos das vítimas de Maciel e elaborar um relatório final que será entregue ao cardeal Velasio de Paolis, delegado designado pelo Papa Bento XVI para acompanhar a congregação.

Em um comunicado de imprensa, os Legionários detalharam que a comissão “terá duas tarefas fundamentais. Em primeiro lugar, ouvir as pessoas que, por causa do padre Marcial Maciel ou em relação com ele, solicitam ações por parte da congregação dos Legionários de Cristo”.

“Depois elaborará um relatório detalhado que submeterá ao delegado pontifício (Velasio de Paolis), que, ajudado por seus conselheiros, tomará as decisões sobre o que os Legionários de Cristo deverão fazer em cada caso”.

Inclusive proporciona um correio eletrônico – acercamiento@legionaries.org – para que através dele aqueles que tiverem uma queixa se dirijam aos Legionários, cujo fundador foi, precisamente, Marcial Maciel.

No texto se esclarece que a comissão atenderá somente os abusos cometidos pelo Maciel, e também não intervirá naquelas causas que estão à espera de resoluções por parte de tribunais civis ou eclesiásticos.

Por último, a ordem informou que o atual dirigente da congregação, o sacerdote mexicano Álvaro Corcuera, terá dois novos colaboradores em sua equipe de governo, os sacerdotes Juan José Arrieta Ibarrechebea e Jesús Villagrasa.