Reflexões sobre temas da Sagrada Escritura: Sertum Laetitiae.

“Quem busca a lei será cheio de bens; mas quem obra com simulação, nela achará ocasião de tropeço” (Eclesiástico XXXII, 19).

Por Padre Élcio Murucci | FratresInUnum.com

“SERTUM LAETITIAE” é uma Carta Encíclica que o Papa Pio XII escreveu em 1º de novembro de 1939 à Hierarquia Eclesiástica dos Estados Unidos da América. Depois de louvar o progresso espiritual daquele país, passa a mostrar os males a serem combatidos.

Eis o que a respeito diz o grande Pio XII:

Pio XII“Queremos, todavia, que o nosso louvor seja salutar. A consideração do bem já obtido não deve levar à inércia do ócio, nem produzir deleites de vã glória nos espíritos, mas acender novos ardores no combate contra o mal e solidificar com maior firmeza todas as obras salutares, úteis e dignas de louvor. O cristão que respeita a dignidade do seu nome nunca deixa de ser apóstolo; o soldado de Cristo jamais há de sair do combate, de cuja participação somente a morte o pode arrancar. Bem conheceis onde deve ser mais atenta a vossa vigilância e que programa de ação traçar ao trabalho dos sacerdotes e fiéis, para que a Religião de Cristo, removidos os óbices, senhoreie os espíritos, oriente os costumes, e, causa única da salvação, penetre os refolhos íntimos e as próprias veias da sociedade civil.

Muito embora os progressos dos bens exteriores e materiais, nos confortos melhores e mais copiosos que dele provêm para a vida, não se devam desprezar; não obstante, de modo algum são eles suficientes para o homem, nascido para coisas melhores e mais sublimes. Feito à imagem e semelhança de Deus, a Deus anela por inelutável impulso da alma, sempre triste e inquieto, se escolhe colocar seu amor onde não está presente a verdade suma e o infinito bem. De Deus afastar-se é morrer, para Deus converter-se é viver, em Deus permanecer é iluminar-se; a Deus, porém, não se chega com atravessar espaços corpóreos, mas sob a direção de Cristo, pela plenitude de uma fé sincera, intemerata consciência, e vontade reta, pela santidade das obras e pela obtenção e uso de uma liberdade genuína, cujas sagradas normas foram promulgadas pelo Evangelho. Se, ao contrário, se desprezam os divinos mandamentos, não só não se obtém a felicidade posta além do breve espaço de tempo assinado à existência terrena, mas vacila a própria base na qual assenta a verdadeira civilização da humanidade, e só se devem esperar lastimáveis ruínas; é que os caminhos que levam à vida eterna são a força viva e seguro alicerce das realidades temporais.

Como, de feito, podem ter garantias o bem público e o decoro da civilização, se se subverte o direito e se despreza e ridiculariza a virtude? Acaso não é Deus a fonte e o sustentáculo do direito? O inspirador e prêmio da virtude? Ele, a Quem nenhum legislador se assemelha (Cf. Job 36, 22)? Em toda parte  –  segundo a confissão de homens sérios  –  é esta a raiz amarga e fértil de males: o desconhecimento da divina majestade, a negligência dos preceitos morais oriundos do alto, uma lamentável inconstância que hesita entre o lícito e o ilícito, o bem e o mal. Daí o cego e imoderado amor próprio, a sede dos prazeres, o alcoolismo, as modas dispendiosas e impudicas, a criminalidade mesmo de menores, a ambição do poder, a negligência com relação aos pobres, a cupidez de riquezas iníquas, o abandono dos campos, a leviandade em contrair o matrimônio, os divórcios, a desagregação das famílias, o resfriamento do mútuo afeto entre pais e filhos, a desnatalidade, a degenerescência da raça, o enlanguescimento do respeito para com as autoridades, o servilismo, a revolta, a negligência dos deveres para com a pátria e para com o gênero humano. Elevamos, além disso, a voz de nosso paterno lamento, porque ainda em tantas escolas frequentemente se despreza ou se ignora a Jesus Cristo, restringe a explicação do universo e da humanidade ao naturalismo e racionalismo, e se ensaiam novos sistemas educativos, dos quais não se podem esperar senão tristes frutos para a vida intelectual e moral da Nação.

A vida doméstica, outrossim, se, observada a lei de Cristo, floresce de verdadeira felicidade, assim também, quando repudia o Evangelho, perece miseravelmente e é devastada pelos vícios. “Quem busca a lei será cheio de bens; mas quem obra com simulação, nela achará ocasião de tropeço” (Ecli 32, 19). Que pode haver na terra mais jucundo e alegre que a família cristã? Nascida junto ao altar do Senhor, onde o amor foi proclamado santo vínculo indissolúvel, consolida-se e cresce no mesmo amor que a graça suprema alimenta. E então “é por todos honrado o matrimônio e imaculado o tálamo” (Heb 13, 4); as paredes tranquilas não ressoam de litígios nem são testemunhas de secretos martírios pela revelação de astutos manejos de infidelidade; a solidíssima confiança mútua afasta o espírito das suspeitas; no recíproco afeto de benevolência se aliviam as dores, e acrescentam-se as alegrias. Lá os filhos não são considerados peso insuportável, senão dulcíssimo penhores; nem uma condenável razão utilitária ou a procura de estéril prazer fazem que se impeça o dom da vida e que caia em desuso o suave nome de irmão e irmã.

Com que solicitude cuidam os pais que cresçam os filhos não apenas fisicamente vigorosos, senão que, seguindo a tradição dos antepassados, que lhes são frequentemente relembrados, sejam adornados da luz que lhes comunica a profissão da fé puríssima e a honestidade moral! Comovidos por tantos benefícios, os filhos cumprem seu máximo dever, isto é, honram a seus progenitores, secundam os seus desejos, sustentam-nos na velhice com seu auxílio fiel, tornam jucundas suas cãs com um afeto que, inalterado pela morte, no céu se há de tornar ainda mais glorioso e completo. Os membros da família cristã, não queixosos na adversidade, não ingratos na prosperidade, sempre estão plenos de confiança em Deus, a cujo império obedecem, a cujo querer se confiam, cujo socorro jamais esperam em vão. Aqueles, pois, que nas igrejas exercem funções diretivas ou de magistério, exortem assiduamente os fiéis a que constituam e mantenham famílias segundo a norma da sabedoria do Evangelho  – buscando assim com assíduo cuidado preparar para o Senhor um povo perfeito. Pelo mesmo motivo, cumpre também sumamente atender a que o dogma, que por divino direito afirma a unidade e indissolubilidade do matrimônio, seja compreendido em sua importância religiosa e santamente respeitado por todos os que contraem núpcias. Que tão capital ponto da doutrina católica tenha validíssima eficácia para a sólida estrutura da família, para o bem-estar crescente da sociedade civil, para a saúde do povo e para uma civilização cuja luz não seja falsa (…). (…) Nada mais feliz pode haver para cada homem, cada família e cada nação, do que obedecer ao Autor da salvação, seguir seus mandamentos, aceitar o seu Reino, no qual nos tornamos livres e ricos de boas obras: “Reino de verdade e vida, reino de santidade e graça, reino de justiça, amor e paz” (Prefácio da Missa de Cristo Rei). (Apenas excertos da encíclica “Sertum Laetitiae”).

4 de junho de 1944: quando Nossa Senhora do Divino Amor salvou Roma e seus habitantes.

Por Parrocchia-Santuario Santa Maria Del Divino Amore  | Tradução: Fratres in Unum.com* – O exército nazista abandona a Cidade Eterna sem opor resistência, enquanto as forças aliadas entram pela Porta de San Giovanni e pela Porta Maggiore, acolhidas pelos romanos com extraordinária manifestação de júbilo. Depois de quase nove meses de ocupação, Roma é salva, intacta. Contra toda previsão, não foi vertida uma só gota de sangue.

O perigo se dissipa. Dissolveu-se o medo que pairava como uma nuvem ameaçadora: o pesadelo de que se poderia assistir a um cerco, a uma batalha extenuante, a uma carnificina; que se poderia repetir e multiplicar o luto e a destruição iniciados com o terrível bombardeio de julho de 1943, que tornou terra arrasada o bairro popular de San Lorenzo. E para o povo romano, desorientado e praticamente reduzido à fome, a libertação incruenta da cidade tem apenas uma e só artífice: a Santíssima Virgem do Divino Amor.

Milhares, obedecendo à sugestão do Papa Pio XII, tinham-na implorado, fazendo um juramento solene pela salvação de Roma. Eles estavam unidos em oração, naquelas horas dramáticas e cruciais, na igreja de Santo Inácio de Loyola, no centro de Roma, para onde a imagem querida e familiar de Nossa Senhora do Divino Amor havia sido transportada do Santuário de Castel di Leva.

“Recordo ainda, depois de mais de 50 anos, quando Nossa Senhora chegou a Roma – conta uma antiga testemunha que na época era um jovem militar. Eu estava no Coliseu e, juntamente com alguns amigos, uni-me à procissão. Havia uma enorme multidão em movimento. Muitíssimos eram jovens. Toda Roma depositou completamente sua confiança na Virgem”. Na igreja dedicada ao fundador da Companhia de Jesus, ao lado do portal de entrada, uma lápide recorda hoje aqueles dias de intensa oração, de súplica incessante e confiante, desse testemunho de grande fé do povo romano.

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Papa Francisco diz que a perseguição aos cristãos hoje é mais forte que nos primeiros tempos da Igreja.

Pio XIICidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco disse que há mais cristãos perseguidos atualmente do que nos primeiros tempos da Igreja. A afirmação foi feita em entrevista ao jornal catalão “La Vanguardia”. “Os cristãos perseguidos são uma preocupação que me toca muito como pastor. Há muitas coisas em relação às perseguições que não me parece prudente falar aqui para não ofender ninguém. Porém, em alguns locais está proibido ter uma Bíblia ou ensinar o Catecismo ou levar uma Cruz. Eu quero deixar claro uma coisa: estou convencido de que a perseguição contra os cristãos hoje é mais forte do que nos primeiros tempos da Igreja. Hoje existem mais cristãos mártires do que naquela época. E não é por fantasia, é por números.”

Num dos trechos da entrevista, Papa Francisco é questionado sobre a violência no Oriente Médio. Ele afirmou tratar-se de uma contradição. “A violência em nome de Deus não corresponde com o nosso tempo. É algo antigo. Numa perspectiva histórica é preciso admitir que os cristãos, às vezes, também a praticaram. Quando penso na Guerra dos Trinta Anos, era violência em nome de Deus. Hoje é inimaginável. Chegamos, às vezes, pela religião, a contradições muito sérias, muito graves. O fundamentalismo, por exemplo. Nas três religiões temos nossos grupos fundamentalistas, pequenos em relação a todo o resto.” O Santo Padre disse que a estrutura mental do fundamentalismo é a violência em nome de Deus.

Questionado se pode ser considerado um revolucionário, o Papa afirmou que “a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e ver o que essas raízes querem dizer nos dias de hoje. Não há contradição entre ser revolucionário e ir às raízes,” afirmou ele. O Papa Francisco também defendeu a pobreza e a humildade na Igreja, pois, segundo ele, estão no centro do Evangelho num sentido teológico, não sociológico. “Não se pode entender o Evangelho sem a pobreza, porém há que distingui-la da miséria [ndr: o Papa usa o termo “pauperismo”, e não “miséria”]. Eu creio que Jesus quer que nós, bispos, não sejamos príncipes, mas sim servidores”.

Nesta linha, o Pontífice afirmou estar provado que é possível reduzir a crescente desigualdade entre ricos e pobres. “Com a comida que sobra poderíamos alimentar as pessoas que têm fome. Quando se vê fotografias de meninos desnutridos em diversas partes do mundo, colocamos as mãos na cabeça, não se entende”, disse. O Papa acrescentou que a economia se move no sentido do “ter mais” e se alimenta da cultura do descarte.

Sobre o encontro de domingo, 08/06, com os líderes do Oriente Médio, Papa Francisco afirmou que 99 por cento das pessoas no Vaticano diziam que não iria acontecer e, depois, o um por cento restante foi crescendo. “Não foi um ato político, mas sim um ato religioso para abrir uma janela ao mundo,” esclareceu. Em relação a Bento XVI, disse que ele criou uma instituição: a dos Papas Eméritos. “Como vivemos mais tempo, chegamos a uma idade na qual não podemos seguir adiante com as coisas. Eu farei o mesmo que ele, pedirei ao Senhor para me iluminar quando chegar o momento e me dizer o que tenho de fazer”, concluiu o Santo Padre. (EF)

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A íntegra da entrevista pode ser lida aqui. Traduzimos a seguir a resposta do Papa quando questionado sobre a abertura dos arquivos do Vaticano sobre o holocausto:

“No tema o que me preocupa é a figura de Pio XII, o papa que liderou a Igreja durante a Segunda Guerra Mundial. Jogaram tudo sobre o pobre Pio XII. Mas há de se recordar que antes ele era visto como o grande defensor dos judeus. Escondeu a muitos nos conventos de Roma e de outras cidades italianas, e também na residência de verão de Castel Gandolfo. Lá, no quarto do Papa, em sua própria cama, nasceram 42 bebês, filhos de judeus e outros perseguidos ali refugiados. Não quero dizer que Pio XII não tenha cometido erros — eu mesmo cometo muitos –, mas seu papel deve ser lido segundo o contexto da época. Era melhor, por exemplo, que não falasse para que não matassem mais judeus, o que fez? Também quero dizer que às vezes me dá um pouco de urticária existencial quando vejo que todos se põem contra a Igreja e Pio XII e se esquecem das grandes potências. Sabia que elas conheciam perfeitamente a rede ferroviária dos nazis para levar os judeus aos campos de concentração? Tinham as fotos. Mas não bombardearam essas vias de trem. Por que? Seria bom que falássemos de tudo um pouquinho”.

O Papa dos judeus.

Por Francisco Panmolle

pioFratres in Unum.com – Após a leitura do artigo O dilema moral de Pio XII, escrito pelo grande homem e (por necessidade lógica) grande católico Hermes Rodrigues Nery, questionei-me (e não só a mim) acerca do conhecimento, por vezes parco, que nós temos dos grandes homens do passado. Dentre estes, destaca-se o Santo Padre Pio XII, de veneranda memória, sobre o qual se propagam “fábulas e reconstituições históricas bastante grosseiras” [1] que já constituem uma verdadeira lenda negra. Esta apareceu, há pouco mais de uma década (1999), travestida de “séria investigação” conquanto não fosse senão o vômito requentado dos fautores do mal: “O Papa de Hitler – A história secreta de Pio XII” do jornalista John Cornwell. Esse foi o livro que motivou não só o supracitado artigo mas, também, o livro do vaticanista Andrea Tornielli: “Pio XII – O Papa dos Judeus”.

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O dilema moral de Pio XII.

Obra polêmica faz retrato devastador do papa acusado de ter optado pelo silêncio diante dos horrores do Holocausto.

Por Hermes Rodrigues Nery

Pio XIIFratres in Unum.com – Desde 1963, com o aparecimento da peça teatral O Vigário, do escritor alemão Rolf Hochhuth, que a polêmica em torno da ação do papa Pio XII durante a 2ª Guerra Mundial foi crescendo, ao ponto de criar sérios embaraços para o Vaticano, que deseja beatificar (e posteriormente canonizar) Eugênio Pacelli (cujo pontificado foi um dos mais difíceis do século XX, por coincidir com as trevas do Holocausto).

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In Ascensione Domini.

Não se julgue, porém, que o seu governo [de Cristo na Igreja] se limita a uma ação invisível, ou extraordinária. Ao contrário, o divino Redentor governa o seu corpo místico de modo visível e ordinário por meio do seu vigário na terra. Vós bem sabeis, veneráveis irmãos, que Cristo nosso Senhor, depois de ter, durante a sua carreira mortal, governado pessoalmente e de modo visível o seu “pequeno rebanho” (Lc 12,32), quando estava para deixar este mundo e voltar ao Pai, confiou ao príncipe dos apóstolos o governo visível de toda a sociedade que fundara. E realmente, sapientíssimo como era, não podia deixar sem cabeça visível o corpo social da Igreja que instituíra. Nem se objete que com o primado de jurisdição instituído na Igreja ficava o corpo místico com duas cabeças. Porque Pedro, em força do primado, não é senão vigário de Cristo, e por isso a cabeça principal deste corpo é uma só: Cristo; o qual, sem deixar de governar a Igreja misteriosamente por si mesmo, rege-a também de modo visível por meio daquele que faz as suas vezes na terra; e assim a Igreja, depois da gloriosa ascensão de Cristo ao céu não está edificada só sobre ele, senão também sobre Pedro, como fundamento visível. Que Cristo e o seu vigário formam uma só cabeça ensinou-o solenemente nosso predecessor de imortal memória Bonifácio VIII, na carta apostólica “Unam Sanctam” e seus sucessores não cessaram nunca de o repetir.

Pio XII, Carta Encíclica Mystici Corporis.

O milagre de Pio XII e o papel de João Paulo II.

Há um suposto milagre atribuído à intercessão de Pio XII que poderia levar, em tempo relativamente breve, à sua beatificação. Um milagre que veria implicado, de modo misterioso, também João Paulo II, cujo decreto sobre a heroicidade das virtudes foi promulgado por Bento XVI no mesmo dia que o do Papa Pacelli: a cura de uma jovem mãe de um linfoma maligno. Nestas circunstâncias o condicional é obrigatório, mas o caso está sendo atentamente analisado pela postulação da causa e por sua diocese de Sorrento-Castellammare di Stabia, onde ocorreu. A notícia foi  publicada pelo periódico online “Petrus”, sem nenhum detalhe, mas com a importante confirmação do vigário da mesma diocese. Il Giornale pode agora reconstruir o assunto, que será estudado nos próximos meses.

Estamos em 2005, pouco tempo depois da morte do Papa Wojtyla. Um jovem casal, que teve dois filhos, espera um terceiro. Para a mãe de trinta e um anos, que é professora, a gravidez se apresenta difícil: tem fortes dores e os médicos não conseguem inicialmente compreender a origem de seus incômodos. Finalmente, depois de muitas análises e uma biopsia, se diagnostica um linfoma de Burkitt, tumor maligno do tecido linfático bem agressivo, que frequentemente aparece nos ossos mandibulares e se estende às víceras do abdome e pélvis e ao sistema nervoso central. A espera da nova vida que a mulher traz em seu seio se transforma em um drama. O marido da mulher começa a rezar ao Papa Wojtyla, falecido há pouco tempo, para lhe pedir que interceda por sua família. Uma noite, o homem vê João Paulo II em sonhos. “Tinha um rosto sério. Me disse: «Eu não posso fazer nada, deveis rezar a este outro sacerdote… ».  Mostrou-me a imagem de um sacerdote magro, alto, fraco. Não o reconheci, não sabia quem era”. O homem permaneceu preocupado pelo sonho, mas não pôde identificar o sacerdote que Wojtyla lhe indicou. Poucos dias depois, abrindo casualmente uma revista, encontrou uma foto do jovem Eugenio Pacelli que chamou sua atenção. Era ele que havia visto retratado no sonho.

Põe-se em marcha uma corrente de oração para pedir a intercessão de Pio XII. E a mulher se curou, depois dos primeiros tratamentos. O resultado é considerado tão importante que os médicos pensam num possível erro no diagnóstico inicial. Mas os exames e os arquivos clínicos confirmam a exatidão dos resultados das primeiras análises. O tumor desapareceu, a mulher está bem, teve seu terceiro filho e voltou a seu trabalho e escola. Passado um pouco de tempo, é ela quem se dirige ao Vaticano para assinalar seu caso.

Uma confirmação do vigário geral da diocese de Sorrento-Castellammare di Stabia, dom Carmine Giudici: “É tudo verdade — declarou a Petrus –, a Santa Sé nos comunicou um milagre por intercessão de Pio XII. O Arcebispo Felice Cece decidiu, portanto, instituir em dias o correspondente Tribunal diocesano”. Este tribunal será o que examinará o caso para formular uma primeira sentença. Se for positiva, os documentos passarão a Roma, à Congregação para a Causa dos Santos: aqui deverão ser estudados primeiro pela Consulta médica, chamada a pronunciar-se sobre a impossibilidade de explicar a cura. Se também os médicos que colabora com a Santa Sé disserem sim, o caso da mãe curada será discutido primeiro pelos teólogos da Congregação, então pelos Cardeais e bispos. Só depois de ter superado estes três graus de juízo, o dossiê sobre o suposto milagre chegará ao escritório de Bento XVI, que decidirá sobre o reconhecimento final. Então, e só então, o Papa Pacelli poderá ser beatificado.

A instituição de um Tribunal diocesano e a eventual chegada da documentação ao dicastério que estuda os processos de beatificação e canonização não significam nenhum reconhecimento, mas apenas que o caso em questão é considerado interessante e digno de atenção. Portanto, é totalmente prematuro antecipar acontecimentos, ainda mais imaginar datas. O que impressiona, na história da família de Castellmmare di Stabia, é o papel que teve no assunto o Papa Wojtyla, que em sonhos teria sugerido ao marido da mulher rezar àqueles “sacerdote magro”, que logo se revelaria como Pacelli. Quase pareceria que João Paulo II teria desejado, de algum modo, ajudar à causa de seu predecessor. A notícia do suposto milagre chegou ao Vaticano poucos dias antes de que Bento XVI promulgasse o decreto sobre as virtudes heróicas de Wojtyla e, surpreendentemente, liberasse também a de Pio XII, que estava em espera por dois anos por motivo de ulteriores verificações nos arquivos vaticanos.

Fonte: Andrea Tornielli, Il Giornale; tradução a partir de versão de La Buhardilla de Jerónimo

Um Santo e Feliz Natal!

É o que deseja o Fratres in Unum a seus leitores amigos!

Com sempre novo frescor de alegria e de piedade, diletos filhos do universo inteiro, cada ano, ao ocorrer o Santo Natal, ressoa do presépio de Belém aos ouvidos dos cristãos, repercutindo-se docemente nos seus corações, a mensagem de Jesus, que é luz no meio das trevas: uma mensagem que ilumina, com o esplendor de celestial verdade, um mundo obscurecido por erros trágicos, que infunde alegria exuberante e esperançosa à humanidade angustiada por profunda e amarga tristeza, proclama a liberdade aos filhos de Adão, constrangidos pelas cadeias do pecado e do erro, e promete misericórdia, amor e paz às multidões infinitas dos padecentes e atribulados, que vêem dissipada a sua felicidade e quebradas as suas energias sob a rajada das lutas e dos ódios, dos nossos dias borrascosos. […]

Hoje, mais do que nunca, ressoa a hora de reparar, de sacudir a consciência do mundo do grave letargo em que o fizeram cair os tóxicos das falsas idéias, amplamente difundidas; tanto mais que, nesta hora de esfacelamento material e moral, o conhecimento da fragilidade e inconsistência de qualquer ordenação puramente humana está a desenganando ainda mesmo aqueles que, em dias aparentemente de felicidade, não sentiam, em si e na sociedade, a falta de contato com o eterno e não consideravam esta falta como um defeito essencial das suas construções. […]

O preceito da hora presente não é lamento, mas ação; não lamento sobre o que foi ou o que é, mas reconstrução do que surgirá e deve surgir para o bem da sociedade. Pertence aos membros melhores e mais escolhidos da cristandade, penetrados por um entusiasmo de cruzados, reunirem-se em espírito de verdade, de justiça e de amor, ao grito de “Deus o quer”, prontos a servir, a sacrificar-se, como os antigos cruzados. Se então se tratava da libertação da terra santificada pela vida do Verbo de Deus encarnado, hoje trata-se, se assim podemos falar, de uma nova travessia, superando o mar dos erros do dia e do tempo, para libertar a terra santa espiritual, destinada a ser a base e o fundamento das normas e leis imutáveis para as construções sociais de interna e sólida consistência.

Para fim tão alto, nós, desde o presépio do Príncipe da paz, confiados em que a sua graça se difundirá em todos os corações, dirigimo-nos a vós, amados filhos, que reconheceis e adorais em Cristo o vosso Salvador, a todos aqueles que estão unidos conosco, ao menos pelo vínculo espiritual da fé em Deus, a todos finalmente quantos anelam por se libertarem das dúvidas e dos erros, ansiosos de luz e de guia; exortamo-vos com encarecida insistência paterna não só a compreender intimamente a seriedade angustiosa da hora presente, mas também a meditar as suas possíveis auroras benéficas e sobrenaturais, e a unir-vos e trabalhar juntos pela renovação da sociedade em espírito e em verdade.

Objeto essencial desta cruzada, necessária e santa, é que a estrela da paz, a estrela de Belém, desponte de novo sobre toda a humanidade, com o seu brilho rutilante, com a sua consolação pacificadora, como promessa e auspício de um futuro melhor, mais fecundo e mais feliz.

Venerável Pio XII, radiomensagem de Natal de 1942.

O ultimato das comunidades judaicas: “Aceite as reservas sobre Pacelli”.

(IHU) “Uma nota oficial, enviada às máximas autoridades, na qual se deverá considerar as reservas que os judeus ainda têm com relação aos fatos históricos de Pio XII, com particular referência aos seus silêncios sobre a Shoá”. Se não chegam, em curto tempo, sinais públicos do Vaticano nesse sentido, “poderiam surgir problemas posteriores, até se colocar em dúvida a própria visita papal à Sinagoga”.

É esse – substancialmente – o pedido que a Comunidade Judaica de Roma, com a “benção” da cúpula da Sinagoga, teria feito chegar reservadamente no Vaticano no dia seguinte ao anúncio oficial da assinatura das virtudes heroicas de Pio XII, assinadas por decreto, no sábado, por Bento XVI.

A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada no jornal La Repubblica, 22-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A iniciativa papal – como se sabe – foi acolhida com “perturbação, desilusão e raiva” por quase todo o mundo judeu. E não só o romano. A tensão, dentro e fora da comunidade judaica, já está nos níveis máximos, razão pela qual, com o passar das horas, se multiplicam sempre mais as vozes de quem está pronto para colocar em dúvida até a esperada visita de Bento XVI à Sinagoga de Roma programada para o dia 17 de janeiro próximo.

Perigo temido – não por acaso – pelo presidente da Assembleia dos Rabinos Italianos, Giuseppe Laras, e que amanhã será certamente examinado em um ardente conselho da Comunidade Judaica Romana. A cúpula do “pequeno parlamento” judeu da capital italiana jura que “tudo está prosseguindo normalmente, e que a visita do Pontífice não sofrerá consequências”. Ninguém, portanto, entre os chefes dos judeus romanos quer ouvir falar de adiamento e muito menos de cancelamento, mesmo que o embaraço seja palpável.

A primeira reação oficial ao anúncio da assinatura do decreto sobre as virtudes heroicas de Pacelli foi um documento assinado pelo rabino chefe de Roma, Riccardo Di Segni, pelo presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Renzo Gattegna, e pelo presidente da Comunidade Judaica Romana, Riccardo Pacifici. Um texto no qual – com extrema clareza – os três signatários reforçam as tradicionais reservas com relação aos supostos “silêncios” de Pacelli.

Mas, além do documento oficial de três dias atrás, está em curso entre as duas margens do Tibre uma força reservada para fazer todo o possível para evitar que a visita seja cancelada, mas ao mesmo tempo para fazer que as razões judaicas – isto é, as reservas históricas sobre o Papa Pacelli – sejam levadas em conta pelo Vaticano.

A partir daquilo que surge dos ambientes judeus romanos, esse é o tema sobre o qual Di Segni, Gattegna e Pacifici pretendem insistir em vista da visita papal à Sinagoga. Uma mensagem precisa nesse sentido chegou ao Vaticano por meio de “intermediários” apreciados tanto pela Comunidade Judaica quanto pelo Vaticano.

“Não nos servimos de nossos embaixadores, mas de pessoas amigas, representantes de notáveis instituições comprometidas com o diálogo inter-religioso, que logo se colocaram em ação”. Naturalmente, dar nomes é impossível, porque a marca do silêncio é total, mesmo que se fale com uma certa insistência de “homens daComunidade de Santo Egídio “, há muitos anos fortemente comprometidos com o diálogo, com atenção particular aos judeus, para os quais organizam todos os dias 16 de outubro a marcha em memória dos judeus romanos capturados no Gueto em 1943. Irá chegar ao Vaticano nos próximos dias um sinal “concreto e oficial” com mérito às reservas judaicas sobre os “silêncios” de Pacelli? Na cúpula da Sinagoga e da Comunidade Judaica, desejam “que sim, senão a situação se complica”.

Das mesmas autoridades, porém, surge ainda que o caso Pacelli “não poderá estar no centro da visita de Ratzinger à Sinagoga” no âmbito dos respectivos discursos. “Como é a nossa tradição – asseguram na Comunidade Judaica –, o hóspede é sagrado, e Bento XVI será acolhido com todas as honras devidas a um hóspede de respeito. Mas nem por isso ficaremos calados”.

Nada impede, portanto, que se imagine que, tanto do rabino chefe Riccardo Di Segni, como do presidente da Comunidade Judaica, Riccardo Pacifici (uma vida inteira comprometida com a defesa das raízes e da identidade judaica, neto do rabino chefe de Gênova, Riccardo Pacifici, morto em Auschwitz ), o discurso de saudação que no dia 17 de janeiro será dirigido a Ratzinger seja dedicado também à incômoda lembrança do Papa Pacelli. Se a visita ocorrer.

Curtas da semana.

João Paulo II e Pio XII, veneráveis.

No último sábado, 19, o Santo Padre, o Papa Bento XVI, autorizou a Congregação para Causa dos Santos a promulgar vários decretos, dentre eles os relativos às virtudes heróicas de Pio XII (Eugenio Pacelli) e João Paulo II (Karol Wojtyła).

A estratégia.

Segundo Paolo Rodari, ‹‹ O Papa, de fato, escondendo suas intenções de todos (eu tenho minhas dúvidas de que mesmo o seu secretário particular não sabia de nada), promulgou o decreto sobre as virtudes heróicas de Pio XII com o de João Paulo II. De Wojtyla se sabia. De Pacelli, não. Neste ponto, a estratégia me parece clara: fazer avançar juntos os dois processos a fim de mover um pouco a atenção do controverso (segundo alguns) Pio XII ao unanimemente amado Wojtyla. O processo de Pacelli foi aberto ao fim do Concílio por vontade de Paulo VI. O decreto sobre as virtudes heróicas (é a penúltima etapa para a beatificação) havia sido aprovado pela congregação dos santos em 2007. Esperava-se apenas a assinatura de Ratzinger que, significativamente, ocorreu a cerca de um mês de sua visita à sinagoga de Roma.

Apesar dos lobos.

Excerto de artigo de Jean Madiran: ‹‹ Bento XVI passa, pois, por cima do insolente veto dos anti-papistas em frente ao qual primeiramente ele havia  parado. A pressão anti-papista exercida sobre a Igreja por meio de veto midiático é de um peso enorme. Ela impediu a beatificação de Isabel, a Católica. Tem retardado até agora a de Pio XII. E ela o faz de muitos outros. Seu peso não vem somente pelo fato dos anti-papistas ocuparem hoje um lugar frequentemente dominante na imprensa e na televisão, na edição, na vida política e no sistema bancário. Além disso, ele vem eco cúmplice que encontra, através de persuasão ou através de intimidação, numa parte notável do clero, de sua hierarquia e da opinião pública católica. Isso também é um resultado desastroso do “espírito do concílio” condenado por Bento XVI. […] Le Figaro de segunda-feira acusa grosseiramente Bento XVI de ter desejado relançar “o debate sobre o Vaticano e o nazismo”. Isso manifesta como o ponto de vista católico é totalmente estranho ao Figaro. Pois do ponto de vista católico, Bento XVI não relançou este debate, ele o fechou ›› .

Fúria. Líderes judeus criticam declaração de virtudes heróicas de Pio XII.

(Catholic Culture) “Não quero crer que os católicos vejam em Pio XII um exemplo de moralidade para a humanidade”, disse o rabino francês Gilles Bernheim. “Dado o silêncio de Pio XII durante e depois da Shoah, espero que a Igreja irá renunciar a este plano de beatificação e então honrar sua mensagem e seus valores”. “É um claro rapto dos fatos históricos relativos à era Nazi”, disse Stephan Kramer, que chefia o Conselho Central Judaico da Alemanha. “Bento XVI reescreve a história sem ter permitido uma séria discussão científica. É isso que me deixa furioso”. Já o rabino chefe de Roma, Riccardo di Segni, é mais moderado: “Se a decisão de hoje [sábado] tivesse que implicar uma opinião definitiva e unilateral da obra histórica de Pio XII, reforçamos que a nossa avaliação permanece crítica”, mas indicando que não podem, “de nenhum modo, interferir em decisões internas da Igreja que se referem às suas livres expressões religiosas”. Por sua vez, o rabino David Rosen, responsável pelo diálogo inter-religioso do Grande Rabinato de Israel, lamenta a decisão que “não mostra grande sensibilidade com relação às preocupações da comunidade judaica”, tomada, além disso, “a apenas três semanas da visita programada pelo Papa à Sinagoga de Roma”.

Cardeal Danneels e a beatificação de João Paulo II: “criar uma beatificação por aclamação é inaceitável”.

“Eu penso que se deveria respeitar o procedimento normal. Se o processo, por si mesmo,  avança velozmente, tudo bem. Mas a santidade precisa passar por corredores preferenciais. O processo deve tomar todo o tempo que precisar, sem fazer exceções. O Papa é um batizado como todos os outros. Por isso, o procedimento de beatificação deveria ser o mesmo previsto para todos os batizados. Certamente, não gostei do grito ‘santo subito!’ [santo já] que se ouviu nos funerais, na Praça de São Pedro. Não se faz assim. Há algum tempo, disseram que se tratava de uma iniciativa organizada, e isso é inaceitável. Criar uma beatificação por aclamação, mas não espontânea, é uma coisa inaceitável”. Palavras do Cardeal Godfried Danneels, arcebispo de Bruxelas, à 30 Giorni.

A resposta do secretário de João Paulo II.

« Evidentemente, [Danneels] fala do que não sabe e de um processo que não conhece » , respondeu o cardeal de Cracóvia, Stanislao Dziwicsz, secretário do Papa Wojtyla.

Elefantes cruzados.

(The hermeneutic of continuity) ‹‹ No último mês de julho, como você deve se lembrar, os cristãos no estado indiano de Orissa foram submetidos a severa perseguição. Uma freira de 22 amos foi queimada até a morte, um orfanato em Khuntpali foi incendiado por uma multidão, outra freira foi violada por uma gangue em Kandhamal, multidões atacaram igrejas, queimaram veículos e destruíram casas de cristãos. Pe. Thomas Chellen, diretor do centor pastoral que foi destruído com uma bomba, escapou por pouco depois de uma multidão hindu incendiá-lo. Ao todo, mais de 500 cristãos foram assassinados e milhares de outros feridos. Num acontecimento extraordinário, uma manada de elefantes viajou uns 300 km para atacar as cidades que foram as piores perseguidoras dos cristãos, deixando as casas cristãs intactas ››.  A arquidiocese de Colobo (cujo arcebispo é Dom Ranjith) traz mais informações.

Novidades sobre as conversações teólogicas FSSPX x Santa Sé.

O site Panorama Católico Internacional traz algumas anotações ao sermão proferido por Sua Excelência Reverendíssima, Dom Alfonso de Galarreta, em 19 de dezembro, numa ordenação diaconal e sacerdotal: “O resultado da primeira reunião foi bom. Principalmente, se estabeleceu o tema e método da discussão. Os temas a discutir são de natureza doutrinal, com exclusão expressa de toda questão de ordem canônica relacionada à situação da FSSPX. O ponto de referência doutrinal comum será o Magistério anterior ao Concílio. As conversações seguem um método rigoroso: é apresentado um tema, a parte que questionada envia um trabalho fundamentando suas dúvidas. A Santa Sé responde por escrito, com intercâmbios prévios por email dos assessores técnicos. Na reunião se discute. Todas as reuniões são gravadas e filmadas por ambas as partes. As conclusões de cada tema subirão ao Santo Padre e ao Superior Geral da FSSPX. A cronologia destas reuniões dependem de se o tema é novo ou já vem sendo discutido. No primeiro caso, será aproximadamente a cada três meses. No segudo, a cada dois. A próxima reunião é prevista para meados de janeiro. Os representantes teológicos da Santa Sé “são pessoas com as quais se pode falar”, falam “nossa mesma linguagem” teológica (interpreto, são tomistas). […] O bispo repitiu que os resultados da primeira reunião são bons, relativamente à situação anterior. Se falou com plena liberdade e somente de temas de doutrina num marco teológico tomista”.