Morre Dom Clemente Isnard, ex-vice-presidente da CNBB.

CNBBMorreu hoje, por volta das 18h, em Recife (PE), o bispo emérito de Nova Friburgo (RJ), e ex-vice-presidente da CNBB, dom Clemente José Carlos Isnard, de 94 anos, uma das grandes referências de liturgia da Igreja no Brasil. Dom Clemente teve uma parada respiratória, pouco depois de ter feito  fisioterapia. O sepultamente de seu corpo será amanhã, 25, no final da tarde, no Mosteiro de São Bento de Olinda. O horário ainda não foi divulgado.

Dom Clemente nasceu no Rio de Janeiro em 8 de julho de 1917 e pertencia à Ordem de São Bento (beneditino). Recebeu a ordenação presbiteral em dezembro de 1942. Em 25 de julho de 1960, foi ordenado bispo para a diocese de Nova Friburgo, onde esteve até ficar emérito em 1992. A partir desta data, tornou-se vigário geral da diocese de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro até o ano de 2004.

Dom Clemente tinha como lema episcopal “Seguindo a Ti como pastor”. Exerceu inúmeras atividades, tendo destacada atuação no Concílio Ecumênico Vaticano II em relação à liturgia. Foi membro do Conselho Federal de Cultura (1961), do Conselho Estadual de Educação (1961-1964) e do Conselho para Execução da Constituição de Liturgia (1964-1969).

Foi, ainda, Secretário Nacional de Liturgia (1964); Membro da Comissão Episcopal Pastoral da CNBB; Vice-presidente da CNBB (1979-1982); presidente do Departamento de Liturgia do CELAM (1979-1982); 2º Vice-presidente do CELAM (1983-1987); membro da Congregação para o Culto Divino; membro do 1º Sínodo dos Bispos em 1967.

Dom Clemente participou também das Conferências do Episcopado Latino-americano de Puebla (1979) e Santo Domingo (1992).

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Conheça o papel desempenhado por D. Isnard na criação do “rito brasileiro” aqui.

Don Nicola Bux, a propagação da Missa Tradicional e a centralidade do Sacrário.

Publicamos abaixo um excerto da entrevista concedida pelo Padre Nicola Bux, consultor para as Cerimônias Pontifícias e das congregações para a Doutrina da Fé e para a Causa dos Santos, ao Padre Stefano Carusi, redator do blog Disputationes Theologicae, do Instituto do Bom Pastor.

Pe. Nicola Bux discursa em congresso sobre o motu proprio Summorum Pontificum em Roma.
Pe. Nicola Bux (à esquerda) discursa em congresso sobre o motu proprio Summorum Pontificum em Roma.

É importante que a Missa antiga — chamada também de tridentina, mas que é mais apropriado chamar “de São Gregório Magno”, como disse recentemente Martin Mosebach — seja conhecida. Ela tomou forma já sob o Papa Dâmaso e depois exatamente Gregório, e não São Pio V, que procurou reordenar e codificar, reconhecendo os enriquecimentos dos séculos precedentes e retirando o que havia de obsoleto. Esta missa, da qual o ofertório é parte integrante, é conhecida antes de tudo com esta premissa. Foram publicadas muitas obras de grandes estudiosos neste sentido e muitos se questionaram sobre a pertinência de reintroduzir o antigo ofertório, para o qual o senhor acena. No entanto, apenas a Sé Apostólica tem a autoridade para agir em tal sentido. É verdade que a lógica que se seguiu ao reordenamento da liturgia após o Concílio Vaticano II levou a simplificar o ofertório, pois se acreditava que ali devesse haver mais fórmulas de orações ofertoriais; agindo assim introduziram as duas fórmulas de benção de sabor judaico e foram mantidas a secreta transformada em oração “sobre as ofertas” e o orate fratres, e pensaram ser mais do que suficiente. Para dizer a verdade, esta simplicidade vista como um retorno à pureza antiga entraria em conflito com a tradição litúrgica romana, com a bizantina e com outras liturgias orientais e ocidentais. A estrutura do ofertório era vista por grandes comentaristas e teólogos da Idade Média como a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, que vai se imolar em oferta sacrifical. Por isso as ofertas já eram chamadas de “santas” e o ofertório tinha uma grande importância. A simplificação posterior da qual falei fez com que muitos hoje procurem o retorno das ricas e belas orações “suscipe sancte Pater” e “suscipe Sancta Trinitas”, só para citar algumas. Mas será através de uma maior difusão da Missa antiga que este “contágio” do antigo sobre o novo será possível. Portanto, a reintrodução da Missa “clássica”, se é que posso usar a expressão, pode constituir um fator de grande enriquecimento. É necessário facilitar a celebração regular em dias de festa da missa tradicional ao menos em cada catedral do mundo, mas também em cada paróquia: isso ajudará os fiéis a conhecer o latim e a se sentir parte da Igreja Católica, e praticamente os ajudará a participar da missa nos encontros em santuários internacionais. […]

[…]  [O homem] deve, antes de tudo, poder encontrar na Igreja aquilo que é a definição por excelência do sagrado: Jesus Eucarístico. O tabernáculo deve voltar ao centro. É verdade, historicamente, nas grandes basílicas ou nas catedrais o tabernáculo era em capelas laterais. Sabemos bem que, com a reforma tridentina, preferiu-se recolocar o tabernáculo no centro, também para combater os erros protestantes sobre a presença verdadeira, real e substancial do Senhor. Mas também é verdade que hoje a mentalidade que nos circunda não só contesta a presença real, mas contesta a presença do divino. Na religião, naturalmente, o homem procura o encontro com o divino, mas esta presença do divino não pode ser reduzida a algo puramente espiritual. Esta presença é “palpável” e isso não se faz com um livro, não se pode falar de presença do divino apenas nos termos relativos às Sagradas Escrituras. Certamente, quando a Palavra de Deus é proclamada, é justo falar da presença divina, mas é uma presença espiritual, não a presença verdadeira, real e substancial da Eucaristia. Daí a importância do retorno à centralidade do tabernáculo e, com isso, à centralidade do Corpo de Cristo presente. O lugar central não pode ser a cadeira do celebrante, não é um homem que está no centro da nossa fé, mas é Jesus na Eucaristia. Caso contrário, termina-se por comparar a igreja a um auditório, a um tribunal deste mundo, no centro do qual se senta um homem. O sacerdote é ministro, não pode ser o centro, o centro é Cristo Eucaristia, é o tabernáculo, é a cruz.

Mons. Klaus Gamber: “a nova teologia (liberal) foi a maior força por detrás da reforma litúrgica”.

…quando Lutero e seus seguidores primeiramente descartaram o Cânon da Missa, tal mudança não era comumente notada pelo povo pois, como sabemos, o padre dizia o cânon em voz baixa, como uma oração privada. Mas Lutero propositalmente não dispensava a elevação da Hóstia e do Cálice, ao menos não inicialmente, porque o povo notaria a mudança. Ademais, nas maiores igrejas luteranas, o latim continuou a ser usado, assim como o canto gregoriano. Hinos alemães existiam antes da Reforma e às vezes eram cantados durante a liturgia, logo não era uma grande mudança. Mais radical do que qualquer mudança litúrgica introduzida por Lutero, ao menos no que concerne o rito, foi a reorganização de nossa própria liturgia – acima de tudo, as mudanças fundamentais que foram feitas na liturgia da Missa. Isso também demonstra muito menos compreensão dos laços emocionais que os fiéis tinham com o rito litúrgico tradicional.

Neste ponto, não é inteiramente claro a extensão com que estas mudanças, de fato, influenciaram as considerações dogmáticas – como foi no caso de Lutero…

O aspecto realmente trágico deste desenvolvimento é que muitos dos envolvidos na elaboração dos novos textos litúrgicos, dentre os quais especialmente bispos e padres que vieram do Movimento da Juventude Católica [Jugendbewegung], estavam atuando de boa Fé, e simplesmente falharam em reconhecer os elementos negativos que eram parte da nova liturgia, ou não os  reconheceram corretamente. Para eles, a nova liturgia expressava o cumprimento de todas as suas esperanças e aspirações passadas pelas quais eles esperaram por muito tempo.

Uma coisa é certa: a nova teologia (liberal) foi a maior força por detrás da reforma litúrgica. Todavia, afirmar, como às vezes é feito, que o Novus Ordo Missae é “inválido”, seria ir muito além deste argumento. O que nós podemos dizer é que desde que a reforma litúrgica foi introduzida o número de missas inválidas certamente cresceu.

Nem as persistentes súplicas de distintos cardeais, nem sérios pontos dogmáticos salientados pela nova liturgia, nem apelos urgentes por todo o mundo para que não se fizesse obrigatório o novo missal, puderam parar o Papa Paulo VI – uma clara indicação de seu próprio e forte endosso pessoal. Mesmo a ameaça de um novo cisma – o caso Lefebvre – não pôde movê-lo a ter o Rito Romano tradicional como, no mínimo, coexistente com o novo rito – um simples gesto de pluralismo e de inclusão que em nossos dias e tempos teria sido, certamente, a coisa prudente a ser feita.

Monsenhor Klaus Gamber, Die Reform der römischen Liturgie.

O Apelo da Missa em Latim.

Por Kenneth J. Wolfe

AO ENTRAR na igreja 40 anos atrás neste primeiro domingo do Advento, muitos católicos romanos talvez tenham se indagado onde estavam. O sacerdote não somente falava em inglês ao invés de latim, mas também estava voltado para os fiéis e não para o sacrário; os leigos assumiam os deveres anteriormente reservados aos sacerdotes; a música popular enchia o ar. As grandes mudanças do Vaticano II haviam chegado em casa.

Tudo isso foi uma ruptura radical da Missa Tradicional em Latim, codificada no 16° século do Concílio de Trento. Durante séculos a Missa servia como um sacrifício estruturado com diretrizes, chamadas “rubricas” que não eram opcionais. É assim que a coisa é feita, dizia o livro. Tão recentemente quanto 1947, o Papa Pio XII havia emitido uma encíclica sobre liturgia que zombava da modernização; Ele dizia que a idéia de mudanças à Missa Tradicional em Latim lhe “afligia dolorosamente”.

Paradoxalmente, entretanto, foi o próprio Pio [XII] o grande responsável pelas mudanças significativas de 1969. Foi ele que nomeou o arquiteto chefe da Missa nova, Aníbal Bugnini, para a comissão de liturgia do Vaticano, em 1948.

Bugnini nasceu em 1912 e foi ordenado sacerdote vicentino em 1936. Embora Bugnini mal tivesse uma década de trabalho em paróquia, Pio XII o constituiu secretário para a Comissão da Reforma Litúrgica. Nos anos 1950, Bugnini conduziu uma grande revisão das liturgias da Semana Santa. Consequentemente, na Sexta-Feira Santa de 1955, pela primeira vez as assembléias se uniram ao sacerdote na recitação do Pai Nosso, e o sacerdote se voltou para a assembléia durante alguma parte da liturgia.

O papa seguinte, João XXIII, nomeou Bugnini secretário para a Comissão Preparatória para a Liturgia do Vaticano II, cargo no qual ele trabalhou com clérigos católicos e, surpreendentemente, alguns ministros protestantes nas reformas litúrgicas. Em 1962 ele escreveu qual viria a ser a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, o documento que deu a forma da Missa nova.

Muitas das reformas de Bugnini objetivaram agradar os não católicos, e foram feitas alterações imitando cultos protestantes, incluindo a colocação de altares virados para o povo, em vez de um sacrifício em direção ao oriente litúrgico. Como ele afirmou, “precisamos tirar de nossa… liturgia católica tudo que possa constituir a sombra de uma pedra de tropeço para os nossos irmãos separados, ou seja, para os protestantes.” (Paradoxalmente, os anglicanos que se unirão à Igreja Católica em razão da mão estendida do papa atual usarão a liturgia que sempre apresenta o sacerdote voltado na mesma direção da assembléia).

Como foi que Bugnini foi capaz de fazer mudanças tão avassaladoras? Em parte porque nenhum dos papas a quem ele serviu eram liturgistas. Bugnini modificou tantas coisas que o sucessor de João, Paulo VI, algumas vezes, não sabia das últimas diretrizes. Certa vez o papa questionou as vestes que sua equipe lhe havia designado, dizendo que elas eram da cor errada, somente para ouvir que ele havia eliminado a celebração de Pentecostes com duração de uma semana e que não podia vestir os respectivos trajes vermelhos para a Missa. O mestre de cerimônias do papa à época assistiu Paulo VI se debulhar em lágrimas.

Bugnini caiu da graça nos anos 70. Rumores se espalharam na imprensa italiana de que ele era maçom, que, caso seja verdade,  teria merecido a excomunhão. O Vaticano nunca negou as queixas, e em 1976 Bugnini, que naquela época era um arcebispo, foi exilado para um cargo formal no Irã. Ele faleceu no esquecimento, em 1982.

Mas seu legado sobreviveu. O Papa João Paulo II continuou as liberalizações da Missa, permitindo que mulheres atuassem no lugar de acólitos e permitiu que homens e mulheres não ordenados distribuíssem a comunhão nas mãos de fiéis de pé. Mesmo organizações conservadores como o Opus Dei adotaram as reformas de liturgia liberal.

Porém, Bugnini poderá ter finalmente encontrado seu antagonista à altura em Bento XVI, ele mesmo um renomado liturgista que não é fã dos últimos 40 anos de alterações. Cantar em latim, vestir trajes antigos e distribuir a comunhão somente nas línguas (em vez das mãos) de católicos ajoelhados, lentamente Bento reverteu as inovações de seus predecessores. E a Missa em Latim está de volta, pelo menos, de maneira limitada, em locais como Arlington, Va., onde uma em cada cinco paróquias oferecem a liturgia antiga.

Bento compreende que seus jovens padres e seminaristas – a maioria nascida depois do Vaticano II – estão ajudando a conduzir uma contra-revolução. Eles apreciam a beleza da Missa solene e seu respectivo canto, incenso e cerimônia.  Sacerdotes de batina e freiras de hábito podem ser vistas novamente; sociedades tradicionalistas como o Instituto Cristo Rei estão se expandindo.

No início desta década, Bento (então Cardeal Joseph Ratzinger) escreveu: “O fato do sacerdote se voltar para as pessoas fez com que a comunidade se transformasse num círculo fechado. Em sua forma externa, ela não mais se abre para o que está acima, mas está fechada em si mesma.” Ele estava certo: 40 anos de Missa nova trouxeram o caos e a banalidade no sinal mais visível e externo da igreja. Bento XVI quer um retorno à ordem e ao sentido. Assim, ao que parece, a próxima geração de católicos faz a mesma coisa.

Kenneth J. Wolfe escreve com freqüência para publicações católicas romanas tradicionalistas.

Padre Bouyer e Paulo VI, o diálogo.

Padre BouyerPadre Louis Bouyer (foto): Escrevi ao Santo Padre, o Papa Paulo VI, para oferecer minha renúncia como membro da Comissão encarregada pela Reforma Litúrgica. O Santo Padre mandou me buscar imediatamente (e a seguinte conversa ocorreu):

Paulo VI: Padre, o senhor é uma autoridade inquestionável e inquestionada por seu profundo conhecimento da liturgia e da Tradição da Igreja e um especialista neste assunto. Eu não compreendo por que o senhor me enviou sua demissão, quando sua presença é mais que preciosa, é indispensável!

Padre Bouyer: Beatíssimo Padre, se eu sou um especialista neste assunto, digo de maneira muito simples que renuncio porque não concordo com as reformas que o senhor está impondo! Por que o senhor não dá atenção às observações que enviamos ao senhor e por que o senhor faz o oposto?

Paulo VI: Mas eu não compreendo: não estou impondo nada. Eu nunca impus nada neste campo. Tenho completa confiança em sua competência e em suas propostas. É o senhor que está me mandando as propostas. Quando o Pe. Bugnini vem me ver, ele diz: “Aqui está o que os experts estão pedindo”. E como o senhor é um expert nesta matéria, eu aceito seu julgamento.

Padre Bouyer: E enquanto isso, quando nós estudamos uma questão e escolhemos o que em consciência podermos propor ao senhor, o Padre Bugnini toma nosso texto e nos diz que, tendo consultado o senhor: “O Santo Padre quer que os senhores introduzam estas mudanças na liturgia”.  E já que não concordo com suas propostas, porque elas rompem com a Tradição da Igreja, então apresento minha demissão.

Paulo VI: De maneira alguma, Padre, creia-me, o Padre Bugnini me diz exatamente o contrário: eu nunca recusei sequer uma proposta sua. Padre Bugnini veio me encontrar e disse: “Os experts da Comissão encarregada pela Reforma Litúrgica pediram isso e aquilo”. E como eu não sou um especialista em liturgia, digo novamente, eu sempre aceitei seus julgamentos. Nunca disse aquilo a Monsenhor Bugnini. Eu fui enganado. Padre Bugnini enganou a mim e enganou o senhor.

Padre Bouyer: É assim, caros amigos, como a reforma litúrgica foi feita!

Fonte: Inside the Vatican

Ditos e não ditos – A reforma da reforma litúrgica. Tornielli se manifesta.

(Kreuz.net) Itália. Recentemente, o vaticanista Andrea Tornielli informou que no início de abril os cardeais da Congregação para o Culto Divino entregaram sugestões ao Papa para uma reforma litúrgica. Pouco tempo depois, o Vice-Presidente da Sala de Imprensa do Vaticano, Padre Ciro Benedettini, esclareceu que não estava planejada nenhuma modificação dos livros litúrgicos. Na edição de hoje do jornal britânico “The Catholic Herald”, a jornalista Anna Arco escreve o contrário, ou seja, que “Tornielli permanece com a sua versão [dizendo que interpretava a negação de “propostas institucionais” pelo Pe. Benedittini como indicativa de “projetos (por ora) não oficiais]”.

[Atualização – 29 de agosto de 2009, às 20:53] Andrea Tornielli se manifesta. Do blog Oblatvs:

Quero dizer-lhes que o desmentido do Padre Benedettini, mais do que pelo meu artigo, foi provocado pela sua repercussão em muitos blogues (depois do caso Williamson, os blogues e os sites da internet têm sido constantemente monitorados pela Santa Sé) que davam como iminente a “reforma da reforma” e modificações na missa num sentido mais tradicional (ou de “marcha-ré”, segundo a expressão usada pelo Cardeal Bertone).

Antes de tudo, no meu artigo jamais falei de reformas iminentes ou de documentos já preparados, e no final dizia claramente que se tratava do começo de um trabalho. Um trabalho longo, que não quer impor as coisas do alto, mas envolver os episcopados. Falava da votação feita pela plenária da Congregação, do fato de o Cardeal Cañizares ter levado os resultados ao Papa, do fato de que se começou a estudar, não “propostas institucionais de modificação dos livros litúrgicos”, mas sim indicações mais precisas e rigorosas relativas à modalidade de celebrar com os livros existentes e há pouco publicados.

Tudo isto para dizer-lhes que não acreditem que o que hoje lhes escrevo seja insignificante, que o Papa e a Congregação do Culto não estejam pensando em nada, que a “reforma da reforma” e a recuperação de uma maior sacralidade da liturgia seja uma notícia falsa publicada por mim. Desde que me tornei vaticanista tenho cometido muitos erros e muitos cometerei, mas o artigo em questão, creiam-me, não é um deles. De resto, o fato de que “no momento” não existam “propostas institucionais” de reforma não desmente que hoje já existam propostas em estudo que ainda não se tenham tornado “institucionais”. E basta ler aquilo que em determinado momento escreveu o Cardeal Ratzinger e o que escreveu o Papa Bento XVI na carta que acompanha o Motu proprio “Summorum Pontificum” para dar-se conta de quanto este tema está lhe é caro.

Fonte: Il Blog di Andrea Tornielli

Tradução: OBLATVS

A “Reforma da Reforma” se aproxima. Novas proposições da Congregação para o Culto Divino.

ROMA: O documento foi entregue em mãos a Bento XVI na manhã de 4 de abril passado pelo Cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino. É o resultado de uma votação reservada, que ocorreu em 12 de março, no transcurso da sessão “plenária” do dicastério responsável pela liturgia, e representa o primeiro passo concreto em direção àquela “reforma da reforma” freqüentemente desejada pelo Papa Ratzinger. Os Cardeais e Bispos membros da Congregação votaram quase unanimemente em favor de uma maior sacralidade do rito, da recuperação do senso de culto eucarístico, da retomada da língua Latina na celebração e da re-elaboração das partes introdutórias do Missal a fim de pôr fim aos abusos, experimentações desordenadas e inadequada criatividade. Eles também se declararam favoráveis a reafirmar que o modo ordinário de receber a Comunhão conforme as normas não é na mão, mas na boca. Há, é verdade, um indulto que, a pedido dos episcopados [locais], permite a distribuição da hóstia [sic] também na palma da mão, mas isso deve permanecer um fato extraordinário. O “Ministro da Liturgia” do Papa Ratzinger, Cañizares, está também estudando a possibilidade de recuperar a orientação do celebrante em direção ao Oriente, ao menos no momento da consagração eucarística, como acontecia de fato antes da reforma, quando tanto fiéis como padre voltavam-se em direção à Cruz e o padre então voltava suas costas à assembléia.

Aqueles que conhecem o Cardeal Cañizares, apelidado “o pequeno Ratzinger” antes de sua vinda para Roma, sabem que ele está disposto a levar adiante decisivamente o projeto, começando de fato do que foi estabelecido pelo Concílio Vaticano Segundo na constituição Sacrosanctum Concilium, que foi, na realidade, excedido pela reforma pós-conciliar que entrou em vigor no fim dos anos 60. O purpurado, entrevistado pela revista 30Giorni nos últimos meses, declarou a respeito: “Às vezes as mudanças eram feitas pelo mero fim de mudar um passado compreendido como negativo e fora de época. Às vezes a reforma foi vista como uma ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da Tradição”.

Por esta razão, as “propositiones” votadas pelos Cardeais e Bispos na plenária de Março prevêem um retorno ao sentido de sagrado e de adoração, mas também um redescobrimento das celebrações em latim nas dioceses, ao menos nas solenidades principais, assim como a publicação de Missais bilíngües – um pedido feito a seu tempo por Paulo VI – com o texto em latim primeiro.

As propostas da Congregação que Cañizares entregou ao Papa, obtendo sua aprovação, estão perfeitamente em linha com a idéia sempre expressa por Joseph Ratzinger quando ainda era Cardeal, como é deixado claro em suas palavras não publicadas [ndt: ao menos na Itália, pois no mundo ‘tradicionalista’ já era conhecida a carta do então Cardeal Ratzinger ao dr. Barth] reveladas antecipadamente por Il Giornale ontem, e que serão publicadas no livro Davanti al Protagonista (Cantagalli), apresentadas antecipadamente num congresso em Rimini. Com uma significante nota bene: para a realização da “reforma da reforma”, serão necessários muitos anos. O Papa está convencido que passos apressados, assim como diretrizes simplesmente lançadas de cima, não ajudam, com o risco de que muitas possam depois permanecer letra morta. O estilo de Ratzinger é o da comparação e, acima de tudo, do exemplo. Como o fato de que, por mais de um ano, quem se aproxima do Papa para a comunhão, tem que se ajoelhar no genuflexório especialmente colocado pelo cerimoniário.

Nota do Fratres in Unum: Neste contexto, é mais que oportuno rememorar as palavras pronunciadas pelo Santo Padre no fim desta plenária da Congregação, em março.

Fonte: Andrea Tornielli, via Rorate-Caeli

Considerações sobre a Reforma Litúrgica, por Roberto de Mattei.

Professor Roberto de MatteiApresentamos a intervenção do Professor Roberto de Mattei por ocasião do Congresso Litúrgico realizado no mosteiro beneditino de Notre Dame em Fontgombault, França, 22-24 de julho de 2001. Com o tema “Cristo é o sujeito da liturgia, não a comunidade”, o congresso reuniu bispos e autoridades eclesiásticas, tendo como seu principal conferencista o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger. Dentre os participantes do mundo “tradicionalista” podemos destacar Dom Gérard Calvet, abade de Le Barroux; Mons. Camille Perl, da Comissão Ecclesia Dei; e Padre Arnoud Devillers, então superior da Fraternidade São Pedro.

Roberto de Mattei, historiador italiano renomado, professor de História do Cristianismo na Universidade Européia de Roma, é autor de várias obras, com destaque para sua biografia do Beato Pio IX e seu último livro “La liturgia della chiesa nell’epoca della secolarizzazione”. Também discursou no congresso realizado em Roma, sob patrocínio da Comissão Ecclesia Dei, por ocasião do primeiro aniversário do motu proprio Summorum Pontificum; na oportunidade, Prof. De Mattei teve seu artigo “Il rito romano antico e la secolarizzazione” publicado no L’Osservatore Romano.


Considerações sobre a Reforma Litúrgica

por Roberto de Mattei

Tradução de Marcelo de Souza e Silva

Fonte: Revue Item

Eminência,

Reverendíssimos Padres Abades,

Reverendos Padres,

Minha intervenção como vós bem podeis imaginar, não será a de um liturgista nem de um teólogo, mas a de um homem de cultura, de um historiador, de um católico leigo que tenta situar os problemas da Igreja no horizonte de seu próprio tempo.

Nesta perspectiva, eu me proponho a desenvolver certas considerações sobre as raízes históricas e culturais da Reforma litúrgica pós-conciliar. Com efeito, eu estou convencido de que quanto mais este quadro for esclarecido, mais a compreensão e a solução de problemas complexos que temos diante de nós serão facilitadas.

Todo problema, e o da liturgia não é exceção, para ser tomado em sua essência, deve ser efetivamente situado num contexto mais vasto. Aquele que quereria estudar a arquitetura gótica, por exemplo, não poderia negligenciar sua relação com a Escolástica medieval tão bem ilustrada por Erwin Panofski, assim como para se compreender a arte figurativa dos séculos XIX e XX, seria necessário recorrer aos estudos de Hans Sedlmayr, que dela retém a dimensão ideológica profunda. Assim, um discurso sobre a arte deve ir além da arte, um julgamento técnico-estético não basta; assim também, um discurso sobre a liturgia deve ir além da própria liturgia, tentando encontrar o sentido derradeiro dela mesma. Porque a liturgia não é somente o conjunto de leis que regulamentam os ritos. Estes ritos, em sua variedade, remetem à unidade de uma fé. Sem este conteúdo, o culto cristão seria um ato exterior, vazio, desprovido de valor, uma ação não sagrada, mas “mágica”, típica de certas concepções gnósticas ou panteístas do mundo. Neste sentido, foi bem dito que: “o culto, compreendido em toda sua plenitude e profundidade, vai muito além da ação litúrgica”.

Em suas fórmulas, em seus ritos, em seus símbolos, deve refletir o dogma. O dogma, disse-se, é para a liturgia o que a alma é para o corpo, o pensamento para a palavra. É, pois, necessário tornar íntima e profunda a relação entre a liturgia e a fé, que foi tradicionalmente expressa na fórmula lex orandi, lex credendi. Neste axioma nós podemos encontrar uma chave para a leitura da crise atual.

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Mons. Ranjith fala: Coragem para corrigir o percurso

Do The New Liturgical Movement:

Die Tagespost: A Ásia é considerada na Europa como um continente de contemplação, misticismo e de profundidade espiritual. O que a Igreja Universal pode aprender da Igreja na Ásia?

Msgr. Ranjith: A Igreja Universal pode aprender muito da Igreja na Ásia. O pré-requisito para isso é a inculturação correntamente entendida, que é a bem sucedida integração de certas partes da cultura da Ásia na Cristianismo vivo. Estou falando aqui especificamente da inculturação propriamente entendida, porque a inculturação foi de certa forma completamente mal compreendida na Ásia, por ninguém menos que aqueles que falam de inculturação. Nós devemos, portanto, não nos enganar sobre o que é realmente Asiático. Com relação a ideologias ocidentais, escolas de pensamentos e influência do secularismo e perspectivas horizontais que não libertam o homem verdadeiramente, não pode existir nenhum diálogo sobre espiritualidade da Ásia ou valores Asiáticos. Apenas se voltarmos às raízes e falarmos autenticamente sobre os valores Asiáticos e do modo Asiático de viver nós poderemos contribuir com a Igreja Universal. Qualquer outra coisa não seria nada além de distorção da realidade. A fim de evitar uma visão superficial de inculturação, devemos distingüir entre o que é verdadeiramente Asiático e o que pertence às religiões Asiáticas. Muitas práticas religiosas se desenvolveram da vida cotidiana. Confundir os dois seria apenas o lançamento de bases para uma teologia sincretista e para uma destruição do modo Católico Romano de viver. Portanto, devemos primeiro efetuar uma espécie de desmitificação e ver o que está por detrás dos vários atos religiosos. Apenas então se pode discernir o que é verdadeiramente Asiático.

DT: Onde você vê exemplos de inculturação Cristã na Ásia mal sucedida?

Mons. Ranjith - Ordenação sacerdotal em Wigratzbad

MR: É, por exemplo, inteiramente Asiático o respeito aos símbolos religiosos, por exemplo o traje sacerdotal e o hábito religioso. Em nenhum templo budista você encontrará monges sem o hábito. Os hindús têm seus sinais de identidade, que os distingüe dos outros em seu templo ou no caminho. Essa atitude não é tipicamente budista ou hindú, mas Asiática. Os Asiáticos querem indicar com esses símbolos a realidade por detrás da realidade visível exteriormente. Eles consideram, por exemplo, o hábito sacerdotal ou religioso como uma distinção que faz a pessoa concernida se sobressair da massa por causa de seu ideal pessoal. Se os padres e religiosos aparecem em roupas civis ocidentais e não revelam seu estado, então não se tem nada a ver com inculturação, mas com uma aparência pseudo-Asiática, que é, de fato, mais Européia. Portanto, é lamentável que padres e religiosos em muitos países de Ásia não mais vistam roupas correspondentes a seu estado. Uma das congregações mundialmente conhecida que de forma bem sucedida modelou um hábito religioso conforme o estilo local de se vestir é a Congregação das Missionárias da Caridade (as irmãs de Madre Teresa). Elas são um exemplo de inculturação Cristã bem sucedida, pois toda criança na rua pode imediatamente identificá-las.

DT: Que bases aplicar para uma bem sucedida inculturação?

MR: O texto sinodal “Ecclesia in Asia” expressamente afirma que Cristo era Asiático. As raízes da culturas cristã e judaíca, que Jesus encontrou em Jerusalém, eram Asiáticas. É claro, o Cristianismo espalhou-se no Ocidente através do pensamento greco-romano. São Paulo e outros eram uma espécie de abridores de portas nisso. Infelizmente, as vicissitudes da história tornaram impossível uma difusão imediata do Cristianismo na Ásia. Simplesmente não existia “intensidade” suficiente dentro do modo Asiático de pensar. Na Ásia, com relação ao Cristianismo, a imagem de uma religião importada por colonizadores ainda predomina. Mas isso não é verdade. O Cristianismo veio à Ásia muito antes dos poderes coloniais. Na Índia, por exemplo, temos a forte tradição dos Cristãos de São Tomé. Quem quer transferir o Cristianismo para o modo Asiático de viver deve mostrar humildade diante do mistério de Deus. Apenas um crente pode ser bem sucedido. Essa não é uma questão de competência teológica ou filosófica. O homem simples e devoto na rua pode freqüentemente estar em vantagem, porque ele se aproxima do mistério de Deus sem preconceitos e está completamente impregnado da mensagem Cristã. A vox populi tem um papel importante para a inculturação. Apenas com pessoas profundamente religiosas, que rezam, a inculturação bem sucedida é possível. Os teólogos comumente se esquecem que podemos descobrir o verdadeiro valor da mensagem de Jesus apenas em nossos joelhos. Vemos isso na maneira que Paulo evangelizava. Ele era um homem de Deus, que amava a Deus e dedicava sua vida totalmente a Cristo e vivia em constante contato com Ele. Apenas pessoas assim podem ter o modelo para a inculturação Cristã. De outra forma, o Cristianismo não sairá da capa dos livros. E infelizmente tem que se dizer que não há atualmente nenhum pensamento teológico sério na Ásia. Nós temos um grande pot-pourri de idéias: um pouco de teologia da libertação da América Latina, um pouco de teologia Ocidental, algumas das correntes filosóficas das universidades Ocidentais — tudo é tentado impetuosamente. Então, há uma espécie de isolamento, pois cada uma não está mais aberta ao mistério dos caminhos de Deus. A teologia é considerada meramente como um tipo de evento humano. A abertura à luz de Deus está em falta. O sentido da profunda união mística com Deus está faltando, assim como a habilidade de entender a fé do povo comum. Mas são precisamente essas características que um teólogo necessita.

DT: Da Ásia também se ouve vozes que dizem que o debate sobre a liturgia Tridentina é tipicamente Europeu e não tem nada que ver com as preocupações das pessoas nas áreas de missão. Como você vê isso?

MR: Bem, existem opiniões individuais que não podem ser generalizadas na Igreja Católica. Que a Ásia inteira deve rejeitar a Missa Tridentina é inconcebível. Deve-se também acautelar-se para generalizações como “a missa antiga não serve para a Ásia”. É precisamente a liturgia do rito extraordinário que reflete alguns valores Asiáticos em toda sua profundidade. Acima de tudo o aspecto da Redenção e a perspectiva vertical da vida humana, o relacionamento profundamente pessoal entre Deus e o sacerdote e entre Deus e a comunidade são mais claramente expressos na antiga liturgia do que no Novus Ordo. O Novus Ordo por contrastre enfatiza mais a perspectiva horizontal. Isso não significa que o Novus Ordo por si mesmo coloca-se para uma perspectiva horizontal, mas antes sua interpretação por diferentes escolas litúrgicas, que vêem a missa mais como uma experiência comunitária. Se formas estabelecidas de pensar são colocadas em questão, entretanto, algumas reagem de maneira desconfiada. A Santa Missa não é apenas o memorial da última ceia, mas também o Sacrifício de Cristo e o Mistério de nossa Salvação. Sem a Sexta-feira Santa, a última ceia não tem sentido. A Cruz é o maravilhoso sinal do amor de Deus, e apenas em relação à Cruz é possível a verdadeira comunidade. Aqui está o verdadeiro ponto inicial da evangelização da Ásia.

DT: De que forma a reforma pós-conciliar tem contribuído para uma renovação espiritual?

MR: O uso do vernáculo permitiu que muitas pessoas entendessem o mistério da Eucaristia mais profundamente e procurou uma mais intensa relação com os textos das Escrituras. A participação ativa dos fiéis foi encorajada. Entretanto, isso não deve significar que a Missa deve ser inteiramente orientada para o diálogo. A Missa deve ter momentos de silêncio, de introspecção e oração pessoal. Onde há um falar incessante, o homem não pode ser profundamente penetrado pelo mistério. Não devemos falar ininterruptamente diante de Deus, mas também deixá-Lo falar. A renovação litúrgica foi afetada, entretanto, pela arbitrariedade experimental com a qual a Missa hoje está sendo livremente realizada como “faça você mesmo”. O espírito da liturgia tem sido, num modo de dizer, raptado. O que ocorreu não pode mais ser desfeito agora. O fato é que nossas igrejas se esvaziaram. Obviamente que existem também outros fatores: o desenfreado comportamento consumista, secularismo, uma excessiva imagem do homem. Nós devemos tomar coragem para corrigir o percurso, pois nem tudo o que ocorreu depois da reforma da liturgia foi conforme a intenção do Concílio. Por que deveríamos carregar com dificuldade aquilo que o Concílio não quis?

DT: Na Alemanha é cada vez mais freqüente a substituição da Santa Missa por celebrações da Palavra de Deus feita por leigos, apesar de padres suficientes estarem disponíveis. Em troca, em muitos lugares, padres, com as fusões de paróquias, têm que concelebrar mais freqüentemente, de forma que até mesmo menos Missas são celebradas. A Igreja tem que repensar a prática da concelebração?

MR: Essa é menos uma questão de concelebração do que uma questão de compreensão da Missa e da imagem do padre. O padre alcança na Eucaristia o que os outros não podem fazer. Como alter Christus, ele não é a pessoa principal, mas o Senhor. Concelebrações devem se restringir a ocasiões especiais. Uma concelebração que sustenta a favor de uma despersonificação da celebração da Missa é então tão errada como a noção de que se pode obrigar um padre a concelebrar regularmente, ou fechar igrejas em várias cidades e concentrar a Missa em um único lugar, apesar de padres suficientes estarem disponíveis.

O ódio pela língüa Latina é inato nos corações dos inimigos de Roma

Dom Prósper Gueranger
Dom Prosper Guéranger

Enquanto a reforma litúrgica tem por um de seus principais alvos a abolição de ações e fórmulas de significados místicos, é uma conseqüência lógica que os autores tenham que exigir o uso do vernáculo na liturgia divina.

Este é aos olhos dos sectários o item mais importante. ‘Liturgia não é matéria secreta’, ‘O povo’, dizem eles, ‘deve entender o que canta’.

O ódio pela língüa Latina é inato nos corações dos inimigos de Roma. Eles a reconhecem como uma ligação entre os Católicos de todo o universo, como o arsenal de ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito sectário…

Este espírito de rebelião que os conduz a confiar a oração universal à língua de cada povo, de cada província, de cada século, produziu seus frutos, e os reformados constantemente percebem que o povo católico, – para seu ódio — saboreiam melhor e chegam com maior zelo aos deveres do culto do que a maioria do povo protestante. Em todas as horas do dia, a divina liturgia toma lugar nas igrejas Católicas. O fiel católico que assiste deixa sua língua mãe na porta. A não ser o sermão, ele não ouve nada além das misteriosas palavras que, mesmo assim, não são ouvidas no momento mais solene do Cânon da Missa. Todavia, o mistério o encanta de tal forma que ele não é invejoso de muitos protestantes, mesmo que as orelhas destes não escutem uma única palavra sem perceber seu significado.

Enquanto o templo reformado reúne, com grande dificuldade, cristãos puritanos uma vez na semana, a Igreja ‘papista’ vê incessantemente seus numerosos altares visitados por seus filhos religiosos; todo dia, eles saem dos seus trabalhos para vir ouvir estas misteriosas palavras que devem ser de Deus, para alimento de sua fé e alívio das dores.

Nós devemos admitir que é um golpe de mestre do Protestantismo ter declarado guerra à língua sacra. Se tivesse tido sucesso em destruí-la, seria aberto o caminho para a vitória. Expor para profana contemplação, como uma virgem que foi violada, a liturgia, neste momento teria perdido muito de seu caráter sagrado, e logo o povo veria que não vale a pena colocar de lado o trabalho ou lazer de alguém para poder ir e ouvir o que está sendo falado da mesma forma que alguém fala na praça da cidade.

(Dom Prosper Guéranger, L’Hérésie Anti-Liturgiste, excerto de Institutions Liturgiques, v. 1)