Ao passar o fim de semana em um acampamento católico, nossa repórter aprende funk cristão, conhece fiéis inusitados e ganha até cantada.
João Brito/Folhapress
De missa a rock cristão: os maiores eventos acontecem no centro de evangelização
SEXTA 12h
Viajo 200 km para o que promete ser uma versão carola de Woodstock: 48 horas acampada ao lado de 100 mil jovens católicos, com direito a fila para banho, frio na barraca e padres tratados como rockstar.
O evento, que se chama PHN (Por Hoje Não), de “por hoje não vou pecar”, é da Canção Nova, movimento que tenta modernizar a igreja.
Na porta, jovens ziguezagueiam no skate em direção a três meninas com short jeans curtinho. Nenhuma se faz de rogada. É como desembarcar numa micareta para Jesus.
Apresentamos nossa tradução de uma resposta de Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, em entrevista concedida a John Allen Jr:
O que o escândalo envolvendo o fundador dos Legionários de Cristo significa para o senhor?
Certamente é doloroso quando você vê a expansão de um movimento que se apresenta como carismático, e então a indignidade de seu fundador é revelada. Como tal coisa é possível permanece um mistério, e os Legionários não são o único exemplo. No Brasil, tivemos o caso da Toca de Assis. Era uma comunidade que vestia um hábito no estilo franciscano e que atraiu muita atenção, inserindo-se na Canção Nova [uma rede brasileira de grupos vagamente afiliados ao movimento carismático]. Eles criaram uma forte imagem de si, com irmãos que alegavam dar glória a Deus cantando e dançando. Tinham recrutado seiscentos moços. Depois se descobriu, entretanto, que o fundador tomou parte em comportamentos moralmente indignos com seus seguidores.
Quanto aos Legionários, nunca me convenci pela falta de confiança na liberdade pessoal que eu via nas suas estruturas. Era um autoritarismo que procurava dominar tudo com disciplina. Eu retirei os seminaristas de Brasília de seus seminários, porque vi que as coisas não poderiam continuar dessa forma.
Na mesma entrevista, Dom João defende a teologia da libertação e expõe sua ruptura com os procedimentos de seu antecessor [você encontrará alguma coisa dele aqui] nas relações com os religiosos. Curiosamente, um pontificado que afirma ad nauseam a tal continuidade, não consegue impô-la sequer na sucessão de um chefe de dicastério.
Ela se orienta espiritualmente segundo a chamada Renovação Carismática.
Hoje em dia a comunidade pertence aos inúmeros empreendimentos de renovação que surgiram do Pontificado de João Paulo II († 2005).
O fundador
A comunidade foi fundada pelo casal Gérard (62) e Josette Croissant.
Gérard atuava como “Frère Ephraim”.
Um outro casal participou da fundação.
Frère Ephraim ocupou uma posição fundamental na comunidade por muito tempo.
Ele é oriundo de Nancy e originalmente havia sido protestante reformado.
Em 1978 ele foi ordenado diácono permanente em Roma.
A Comunidade
Na Comunidade das Bem-Aventuranças, leigos e padres, homens e mulheres, vivem juntos a pobreza e a obediência em comunhão de bens.
Nos tempos de sua maior expansão cerca de 1.500 irmãos e irmãs pertenciam à Comunidade em 75 filiais.
Eles estão representados em 35 países dos 5 continentes.
Desde 8 de dezembro de 2002 a Comunidade é uma associação privada, internacional de fiéis de direito pontifício.
Atualmente ela está sujeita o Conselho Pontifício para os Leigos.
Frère Ephraim desaparecido
Atualmente o fundador da Comunidade, Frère Ephraim, é acusado de ter brincado de “união mística” com as mulheres da Comunidade.
Supostamente o Cardeal Robert-Joseph Coffy de Marseille († 1995) foi informado já no ano de 1992 sobre essas práticas, que teriam sido de natureza mais carnal do que espiritual.
Frère Ephaim não faz mais parte da comunidade desde 2007.
Atualmente ele vive em Kigali, capital da Ruanda e lá trabalha como escritor e psicoterapeuta.
O ex fundador está separado de sua esposa, que mora na França.
Frère Ephaim foi o diretor oficial da comunidade de 1973 a 1978.
Ainda mais problemas
Ele foi substituído dessa função por seu cunhado, o médico e diácono permanente Philippe Madre.
Madre dirigiu a comunidade de 1975 até 1990.
Contudo, em edição mais recente do boletim mensal da diocese de Toulouse ‘Foi et Vie’ podemos ler a seguinte notícia:
“Devido a uma decisão judicial de 20 de maio de 2010, que se seguiu a uma acusação canônica, o Doutor Philippe Madre, diácono permanente casado, incardinado na diocese de Albi, foi declarado culpado de acordo com o direito canônico por delitos alegados.
Essa decisão judicial definitiva inclui a sua destituição do estado clerical.”
A declaração não se expressa sobre alegações contra Madre.
Já no ano de 2003 ele havia sido acusado de “assédio sexual”.
Madre não vivia mais na Comunidade nos últimos anos .
Um caso de abuso
Em fevereiro de 2008 um caso de abuso sacudiu a Comunidade.
Um Irmão Pierre-Etienne A. (60), até então em liberdade, confessou ter cometido delito com cerca de cinqüenta moças e rapazes que lhe foram confiados com idades variando entre 5 a 14 anos de idade.
Os incidentes devem ter acontecido entre 1985 e 2000.
Nenhuma sentença de um tribunal francês foi dada para o caso.
Juntando o cacos
Em outubro de 2009 ocorreu uma assembléia geral da Comunidade na França.
Naquela ocasião foi feita uma sugestão para que a Comunidade se desligasse de Roma e se abrigasse novamente sob diocese de Toulouse.
Ao mesmo tempo o dominicano, padre Henry Donneaud, foi nomeado Superior de facto da Comunidade .
Ele foi encarregado de preparar os novos estatutos, que foram apresentados há algumas semanas.
Atualização: os novos estatutos prevêem uma divisão da comunidade em três ramos: um ramo masculino para padres e irmãos, um ramo para freiras e um ramo para leigos.
O padre Marcelo Rossi, muitíssimo conhecido em nosso país por sua atuação junto à Renovação Carismática Católica nos meios de comunicação, deu, já há algumas semanas, uma entrevista no mínimo curiosa à revista Veja. Já havia sido comentado, aqui neste espaço, um excerto particular da matéria, na qual o sacerdote falava da batina como a maior identidade sacerdotal. Na ocasião, considerou-se positiva a exaltação feita pelo clérigo à roupa que é característica do ministério ordenado. Foi deixado de lado, porém, um trecho da entrevista no qual o mesmo padre Marcelo Rossi se lamentava de ter sido “boicotado” durante a visita do Santo Padre, o Papa Bento XVI, ao Brasil. Na oportunidade, a notícia fora reportada pelo Fratres in Unum. “Senti-me como Cristo no Horto das Oliveiras, quando ele se achou abandonado e pediu para afastar de si o cálice de sangue”, disse o padre carismático.
Esta semana, uma resposta advinda do dehoniano padre Zezinho foi publicada em seu site. No texto, ele se mostra inconformado com o que chamou de “triste exemplo de imaturidade” por parte de padre Marcelo.
“É o tipo de entrevistas que deveria ser lida e analisada em todos os seminários e movimentos católicos para os futuros pregadores aprenderem como não ser nem fazer quando tiverem nas mãos um microfone.”
(…)
“Ficar deprimido porque não foi valorizado na vinda do Papa? Um pregador da fé? Não teria sido muito mais cristão manter a boca fechada, solicitar audiência, ir ao líder da diocese e ali derramar suas mágoas? Tinha que ir às páginas amarelas de uma revista que sabidamente não prima em elogiar a Igreja que o ordenou pregador?”
O sacerdote também criticou a afirmação de seu irmão acerca da batina. “Ora, padres e leigos sabem muito bem que o hábito não faz o monge.”
O artigo do padre Zezinho foi publicado no dia 16 de maio, um mês depois da entrevista concedida por padre Marcelo Rossi à Veja.
NEW HAVEN, Conn. (CN) – Uma mulher diz ter sofrido um traumatismo craniano e perdido seu olfato e paladar após ter caido para trás ao “repousar no espírito”, em um encontro de cura da Renovação Carismática Católica. Ela processou a diocese de Hartford (EUA) na Corte Suprema.
Dorothy Kubala diz que o acidente ocorreu enquanto o Pe. Robert Rousseau estava “realizando uma oração de cura para o público em geral” da Igreja de Santo Agostinho, em North Branford, em janeiro de 2009.
Kubala diz que “se aproximou do altar, recebeu a oração e ‘repousou no Espírito’, fazendo-a cair para trás e bater no chão com a parte de trás de sua cabeça”.
Ela afirma que seus ferimentos foram causados pelo fato do padre “não seguir os protocolos, normas e procedimentos definidos pelos réus, a Arquidiocese de Hartfort e a Igreja de Santo Agostinho”.
Assis, Itália, 30 de outubro de 2010: Dom Alberto Taveira, arcebispo de Belém, durante oração ecumênica em "Congresso da Fraternidade Católica", que reuniu líderes de grupos carismáticos de todo o mundo. Na ocasião, "testemunharam" um "bispo" anglicano e um rabino. Foto: Canção Nova.
Jornada para bispos, sacerdotes e seminaristas na basílica de São João de Latrão, a catedral do bispo de Roma, promovida pelo Rinnovamento nello Spirito Santo (Renovação Carismática na Itália) em preparação para a convenção organizada pela Congregação para o Clero para o encerramento do ano sacerdotal – 08 de junho de 2010:
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.
Reunião herética em alguma seita de fundo de quintal:
Colombo (Sri Lanka), Dom Ranjith declara guerra aos desvios litúrgicos dos Neocatecumenais [e dos Carismáticos] : “Vetados os cantos e danças durante a missa, obrigatória a comunhão de joelhos”
CIDADE DO VATICANO (Petrus) – Dom Malcolm Ranjith é alguém que entende de Liturgia. Foi, de fato, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos antes de Bento XVI nomeá-lo, no ano passado, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka. O Papa confia muito nele, a tal ponto que deve criá-lo Cardeal no próximo consistório. Dom Ranjith (na foto) se tornou muito admirado nos seus anos de serviço no Vaticano pela nobre defesa da gloriosa tradição litúrgica da Igreja, uma batalha que retomou energicamente em sua nova diocese, proibindo extravagância e improvisações durante a celebração da Eucaristia e “recomendando” a administração da Comunhão apenas sobre a língua e aos fiéis ajoelhados, como já é o caso durante a missa presidida pelo Pontífice. Mas aqui está o texto completo, rico em muitíssimos elementos, enviado pelo arcebispo de Colombo a seus sacerdotes e fiéis, com particular referência àqueles pertencentes aos movimentos (entre os quais recai seguramente o Caminho Neocatecumenal, mas Dom Ranjith não o cita explicitamente) que, habitualmente, se aproximam da Eucaristia de um modo diferente do estabelecido pela Igreja ou participam da missa com cantos e danças em torno do altar, permitindo, contudo, a pregação por leigos durante a celebração:
“Queridos irmãos e irmãs,
Recentemente, algumas pessoas e movimentos católicos de renovação desenvolveram muitos exercícios para-litúrgicos não previstos pelo calendário paroquial ordinário. Apreciando as numerosas conversões, o valor do testemunho, o entusiasmo renovado pela oração, a participação dinâmica e a sede da Palavra de Deus, como bispo diocesano e administrador geral dos mistérios de Deus na igreja local a mim confiada, sou o moderador, o promotor e o guardião da vida litúrgica da arquidiocese de Colombo. Como tal, vos convido a refletir sobre os aspectos litúrgicos e eclesiológicos relacionados a esta nova situação e vos peço insistentemente que respeiteis as diretrizes enunciadas na presente circular de efeito imediato. A Eucaristia é a celebração do mistério pascal por excelência dado à Igreja pelo próprio Jesus Cristo. Jesus Cristo é o princípio de toda liturgia na Igreja e por esta razão toda liturgia é essencialmente de origem divina. Ela é o exercício da Sua função sacerdotal e, portanto, não é certamente um simples empreendimento humano ou uma inovação piedosa. Na verdade, é incorreto definí-la uma simples celebração da vida. É muito mais do que isso. É a fonte e o ápice do qual todas as graças divinas enchem a igreja. Este sagrado mistério foi confiado aos apóstolos pelo Senhor e a Igreja cuidadosamente preservou a celebração ao longo dos séculos, dando vida à tradição sagrada e a uma teologia que não cedem à interpretação individual ou privada. Nenhum padre, conseqüentemente, diocesano ou religioso que seja, proveniente de uma outra arquidiocese ou mesmo do exterior, está autorizado a modificar, adicionar ou suprimir qualquer coisa no rito sagrado da missa. Não se trata de uma novidade, mas de uma decisão tomada em 1963 pela Constituição “Sacrosanctum Concilium” (22, 3), a Constituição Dogmática sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, posteriormente reiterada várias vezes em documentos como “Sacramentum Caritatis”, de Sua Santidade Bento XVI, e “Ecclesia de Eucharistia” do Papa João Paulo II, de venerada memória. A este respeito, convém mencionar explicitamente alguns elementos: os sacerdotes não estão autorizados a modificar ou improvisar a Oração Eucarística ou outras orações imutáveis da Missa — mesmo quando se trata de dar detalhes sobre um elemento já presente — cantando respostas ou explicações diferentes. Devemos compreender que a liturgia da Igreja é estreitamente ligada à sua fé e sua tradição: “Lex orandi, lex credendi”, a regra da oração é a regra de fé! A liturgia nos foi dada somente pelo Senhor, ninguém mais, portanto, tem o direito de mudá-la; as manifestações do tipo “Praise and Worship” (literalmente “louvor e adoração”, mas aqui diz respeito a uma corrente musical de estilo gospel, NdT) não são permitidos no rito da Missa. A música desordenada e ensurdecedora, as palmas, os longos discursos e os gestos que perturbam a sobriedade da celebração não são autorizados. É muito importante que compreendamos a sensibilidade cultural e religiosa do povo do Sri Lanka. A maioria dos nossos compatriotas são budistas e por este motivo estão habituados a um culto profundamente sóbrio; por sua vez, nem os muçulmanos nem os hindus criam agitação em sua oração. Em nosso país, além do mais, há uma forte oposição às seitas cristãs fundamentalistas e nós, como católicos, nos esforçamos para fazer compreender que os católicos são diferentes dessas seitas. Alguns destes chamados exercícios de louvor e adoração se assemelham mais aos exercícios religiosos fundamentalistas que a um culto católico romano. Que seja permitido respeitar a nossa diversidade cultural e a nossa sensibilidade; a Palavra de Deus prescrita não pode ser alterada aleatoriamente e o Salmo responsorial deve ser cantado e não substituído por cantos de meditação. A dimensão contemplativa da Palavra de Deus é de suma importância. Em alguns serviços para-litúrgicos as pessoas hoje têm a tendência a se tornar extremamente faladoras e tagarelas. Deus fala e nós devemos escutá-Lo; para ouvir bem, o silêncio e a meditação são mais necessários que a exuberância cacofônica; os sacerdotes devem pregar a Palavra de Deus sobre os mistérios litúrgicos celebrados. É expressamente proibido aos leigos pregar durante as celebrações litúrgicas; a Santíssima Eucaristia deve ser administrada com extremo cuidado e máximo respeito, e exclusivamente por aqueles autorizados a fazê-lo. Todos os ministros, ordinários e extraordinários, devem estar revestidos dos ornamentos litúrgicos apropriados. Recomendo a todos os fiéis, inclusive religiosos, receber a comunhão com reverência, de joelhos e na boca. A prática da auto-comunhão é proibida e pediria humildemente a cada sacerdote que a permite que suspendesse imediatamente esta prática; todos os sacerdotes devem seguir o rito da missa como determinado, de modo a não dar espaço a comparações ou opor as Missas celebradas por alguns sacerdotes às outras Missas ditas pelo resto dos sacerdotes; as bênçãos litúrgicas são reservadas exclusivamente aos ministros da liturgia: bispos, sacerdotes e diáconos. Todos podem rezar uns pelos outros. Recomenda-se insistentemente, entretanto, não usar gestos que podem provocar fantasias, confusões ou uma interpretação errônea”.
Nairóbi, 25 mai – O cardeal-arcebispo de Nairóbi, Quênia, John Njue, suspendeu em todo o território arquidiocesano, as atividades do movimento católico de Renovação Carismática. A decisão do purpurado remonta a 20 de fevereiro, após um seu encontro com 200 expoentes do movimento. A Renovação Carismática está presente com as suas atividades em 50 paróquias de Nairóbi. O predecessor do Cardeal Njue, Dom Raphael Ndingi Mwana’a Nzeki, havia nomeado, quando estava à frente da arquidiocese, um capelão para o movimento. A suspensão das atividades é ditada pela necessidade de melhor conhecer as características do movimento. (SP)
[Atualização – 26 de maio de 2009, às 19:16] Recebemos do Professor Felipe Aquino o seguinte comentário:
“Autor: Felipe Aquino – Enviado em 26/05/2009 às 18:11: Não é porque um arcebispo suspendeu temporariamente a RCC em sua arquidiocese que o movimento está proibido pela Igreja. Ela [t]em cerca de 4000 bispos.”