“Sentinela, quanto resta da noite?” (Isaías 21,11). Reflexões sobre o livro de Lorenzo Bertocchi e Francesco Agnoli.

por Dom Massimo Vacchetti [1] – 30/09/2011

Esperei o lançamento deste livro por quase cinquenta anos. Conheço os autores e sei do amor pela verdade que os anima. No entanto, não é por eles que desejei ter em minhas mãos este ágil texto. ‘Sentinelas no pós-concílio’ (p. 156, Ed. Cantagalli) recolhe, pelas mãos de diferentes autores, o perfil de “dez testemunhas contracorrente”, como diz o subtítulo, dez protagonistas da vida e do pensamento católico nos anos pós-conciliares.

O ‘atraso da publicação’ se deve, entre outras coisas, a uma infeliz expressão do Beato João XXIII, quando na abertura do Concílio, proclamou que: “não sem ofensa aos Nossos ouvidos, nos são reportadas vozes de alguns que, embora acesos de zelo pela religião, avaliam, no entanto, os fatos sem uma suficiente objetividade nem prudente juízo. (…) Nos parece de ter que resolutamente dissentir de tais profetas de desgraça, que anunciam sempre o pior, como se fosse iminente o fim do mundo. No atual estado dos acontecimentos humanos, no qual a humanidade parece entrar em uma nova ordem de coisas, precisam, mais, ser vistos os misteriosos planos da Divina Providência que (…)com sabedoria dispõem tudo, mesmo os adversos acontecimentos humanos, pelo bem da Igreja” (Discurso de abertura do Concílio, 11 de Outubro de 1962).

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Em torno da doutrina de Romano Amerio sobre o ecumenismo.

Por Mateo Beludi, colunista convidado.

Romano Amerio
Romano Amerio

Pio XI tratara já do ecumenismo em uma encíclica datada de 6 de janeiro de 1928, a Mortalium Animos. De começo destacando a ânsia universal de paz e fraternidade, Pio XI afirmou que, como “rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento religioso, por isto, parece, passaram a ter a esperança de que, sem dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na profissão de algumas doutrinas como que em um fundamento comum da vida espiritual”. “Por isto” — prosseguia o Papa — “costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre freqüência de ouvintes, e para elas convocam, para debates, promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão”.

Que sentencia Pio XI sobre esse gênero de reunião? É o que segue:

“[…] estes esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são, mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira, elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente o seu império.

Erram e estão enganados, portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se inteiramente da religião divinamente revelada” (n. 3).

Depois de refutar os pancristãos — em cujas palavras “se oculta um gravíssimo erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé” (n. 5) –, Pio XI afirmou, sucessivamente, que:

– “só uma religião pode ser verdadeira: a instituída por Deus” (n. 7)

– “a única religião revelada é a católica” (n. 8)

– estão em erro os que buscam uma unidade pactuada em que se trata de “colocar de lado e afastar as controvérsias e a antiqüíssima variedade de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão”, chegando, ainda, a  atribuir “ao Pontífice Romano um primado de honra ou uma certa jurisdição e poder que, entretanto, julgam procedente não do direito divino, mas de certo consenso dos fiéis” (n. 9); quanto a esse tipo de  pacto, “é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo” (n. 10)

– “a verdade revelada não admite transações” (n. 11), e “a Igreja Católica é a depositária infalível da verdade” (n. 12)

– “sem Fé não há verdadeira caridade” (n. 13): “como a caridade se apóia na fé íntegra e sincera como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como no vínculo principal”

– é uma “união irracional” a que se vê numa “federação cristã” que, em matéria de Fé, permite que cada partícipe preserve “sua maneira de pensar e de sentir, embora ela seja repugnante às opiniões dos outros” (n. 14)

– a unidade da Igreja só pode resultar “de um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só Fé entre os cristãos” (n. 15)

– é inadmissível uma divisão entre “capítulos fundamentais e capítulos não-fundamentais da Fé, como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis: a virtude sobrenatural da Fé possui como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta” (n. 15)

– por isso, “é clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora, infelizmente, eles se apartaram dela” (n. 16).

Romano Amerio sintetizou adequadamente, em Iota Unum, a doutrina tradicional católica sobre o verdadeiro ecumenismo, observando que ela se acha estabelecida na Instructio de motione oecumenica promulgada pelo então Santo Ofício, no dia 20 de dezembro de 1949[1], que repisou o ensinamento de Pio XI na encíclica Mortalium Animos. Quatro pilares, resume Romano Amerio, estadeiam a doutrina católica tradicional sobre a questão do ecumenismo:

Primeiro: “a Igreja Católica possui a plenitude de Cristo” e não tem que aperfeiçoá-la por obra de outras religiões;

Segundo: não se deve buscar a união das religiões por meio de uma progressiva assimilação das diversas confissões de Fé, nem mediante uma acomodação do dogma católico a outro dogma;

Terceiro: a única verdadeira unidade das Igrejas só pode dar-se pelo retorno (per reditum) dos irmãos separados à verdadeira Igreja de Deus;

Quarto: os irmãos separados que retornam à Igreja Católica não perdem nada de substancial de quanto pertence a sua particular profissão religiosa, senão que, antes, o reencontram idêntico numa dimensão completa e perfeita (completum atque absolutum).

A doutrina reavivada pela Instructio de motione oecumenica ampara-se em que — diz Romano Amerio — “a Igreja de Roma é o fundamento e o centro da unidade cristã”. Prossegue o autor a referir as bases dessa doutrina: “que a vida histórica da Igreja, que é a pessoa coletiva de Cristo, não se leva a cabo em torno de vários centros, as diversas confissões cristãs, que teriam um centro mais profundo situado fora de cada uma delas; e finalmente, que os separados devem mover-se para o centro imóvel que é a Igreja do serviço de Pedro”.  Assim, observa Romano Amerio: “A união ecumênica encontra sua razão e seu fim em algo que já está na história, que não é algo futuro e que os separados devem recuperar” [2].

O decreto Unitatis Redintegratio do Vaticano II rompeu com essa doutrina, de tal modo que “as confissões cristãs (incluída a católica)” — diz Romano Amerio — “não devem voltar-se uma a outra, senão que todas juntas gravitar para o Cristo total situado fora delas e para o qual devem convergir” [3]. Ao que se vê, aquilo que, em rigor, propiciou o Vaticano II — por alguns de seus documentos um contra-Syllabus — não foi, contudo, essencialmente, um novo espírito ou uma nova teologia, senão que a intensificação [4] de um velho espírito e de uma velha teologia — os do modernismo — já diagnosticados e combatidos, entre outros pronunciamentos pontifícios, pelo Syllabus de Pio IX, pela encíclica Pascendi de S. Pio X, pela Mortalium Animos de Pio XI e pela Humani generis de Pio XII.

Romano Amerio observou que “a variação na doutrina [sobre o ecumenismo] consiste em que a união de todas as Igrejas se faz, mais que na Igreja Católica, na Igreja de Cristo, por meio de um movimento de todas as confissões para um centro ubiquado fora de todas elas”. Como se chegou a sustentar, o catolicismo nada teria de específico a aportar à reunião das religiões, mas a ele somente caberia concorrer “para aprofundar os valores imanentes a todas as experiências religiosas”. Daí a conclusão inevitável: “para um maometano, converter-se significa ser cada vez mais maometano; para um judeu, ser mais judeu; para um budista, ser mais budista” [5]. Eis a meta de uma super-religião de liberdades, talvez — se bem se compreende a citação — por “la via sulla quale ogni religione è chiamata ad avanzare” (Dom Camillo Ruini) [“o caminho pelo qual toda religião é chamada a trilhar”]. Tem-se aí um ecumenismo naturalista para os não-cristãos [6]: o princípio da salvação — disse Romano Amerio — estaria já imanentizado à natureza humana (funditus), como forma de justificação de uma universidade salvífica de fato [7].

* * *

[1] Cfr. AAS, 31-1-1950.
[2] Romano Amerio, op. cit., § 245.
[3] Id., § 246.
[4] Nas cercanias desse entendimento, Jacques Maritain observou que o modernismo, dos tempos de S. Pio X, comparado com a febre neo-modernista posterior, não passava de “modesta febre dos fenos” (O Camponês do Garona, tradução portuguesa de J. de Castelo Branco, ed. União Gráfica, Lisboa, s.d., p. 15).
[5] Romano Amerio, op. cit., § 251.
[6] Noticiou-se que, acerca da tese principal do documento O Povo Judeu e as Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã, redigido pela Comissão Bíblica Pontifical, tese que sustenta não ser vã a espera do Messias pelos judeus,  teria o então porta-voz do Vaticano, Navarro Vals, afirmado: “Isso quer dizer que seria mal para um católico esperar o Messias, mas para um judeu, não”. De modo que estaríamos diante de uma verdade e, conseqüentemente, de um bem que podem ser uma falsidade e, conseguintemente, um mal, conforme varie o sujeito cognoscente. E dizer que essa verdade (ou falsidade) é a encarnação de Jesus Cristo.
[7] Não parece demasiado acrescentar que até mesmo em atuais supostas revelações particulares — cuja sobrenaturalidade não se acha afirmada pela Igreja — há indícios dessa propensão ao indiferentismo religioso.  Exemplo expressivo é o da suposta aparição de Medjugorge, a que se atribuem afirmações como estas duas seguintes: “Deus dirige todas as confissões religiosas como um rei a seus súditos”; “Todas as religiões são iguais diante de Deus”. Extrai-se de uma declaração de Dom Despierre, bispo de Carcassone: “Si un catholique devient musulman ou inversement, je n’y vois aucun problème” (in DICI n. 46, 15-3-2002) [“Se um católico se torna muçulmano ou vice-versa, não vejo qualquer problema”].

Os grandes desiludidos pelo Papa Bento XVI.

São alguns dos maiores pensadores tradicionalistas. Haviam apostado nele e agora se sentem traídos. As últimas decepções: o Pátio dos Gentios e o encontro de Assis. A acusação que fazem contra Ratzinger é a mesma que fazem ao Concílio: ter substituído o anátema pelo diálogo.

por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com

ROMA, 8 de abril de 2011 – A Santa Sé confirmou oficialmente que no próximo dia 27 de outubro, em Assis, Bento XVI presidirá uma jornada de “reflexão, diálogo e oração” junto a cristãos de outras confissões, expoentes de outras religiões e “homens de boa vontade”.

O encontro se dará vinte e cinco anos depois daquele primeiro que se tornou célebre, desejado por João Paulo II. Joseph Ratzinger, na época cardeal, não participou dele. E já deu a entender que, com ele como Papa, o próximo encontro de Assis será revisado e corrigido, purificado de toda sombra de assimilação da Igreja Católica às outras confissões de fé.

Mas, da mesma forma, os tradicionalistas não o perdoaram. Alguns deles assinaram um apelo crítico. O “espírito de Assis”, segundo eles, é parte da confusão mais geral que está desintegrando a doutrina católica e que teve origem a partir do Concílio Vaticano II.

Uma confusão contra a qual Bento XVI não reagiu como deveria.

* * *

Nestes últimos tempos, no campo tradicionalista, as críticas contra o Papa Ratzinger não diminuíram, mas antes cresceram em intensidade. Refletem uma crescente desilusão com relação às esperanças inicialmente renovadas na ação restauradora do atual pontificado.

As críticas de alguns tradicionalistas se concentram, em particular, no modo com que Bento XVI interpreta o Concílio Vaticano II e o pós-concílio.

Segundo eles, o Papa se equivoca quando limita sua crítica às deteriorações do pós-concílio. Com efeito, o Vaticano II – sempre segundo o juízo deles – não foi apenas mal-interpretado e aplicado: ele mesmo foi portador de erros, o primeiro dos quais a renúncia das autoridades da Igreja a exercer, quando necessário, um magistério de definição e de condenação: isto é, a renúncia ao anátema para privilegiar o diálogo.

No plano histórico, tende a convalidar esta tese o volume recentemente publicado pelo Professor Roberto de Mattei: “Il Concilio Vaticano II. Una storia mai scritta” [O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita]. Segundo de Mattei, não se pode isolar os documentos conciliares dos homens e das vicissitudes que os produziram: desses homens e dessas manobras, cuja intenção deliberada — muito bem sucedida —  era romper com a doutrina tradicionalista da Igreja Católica, nos pontos mais essenciais.

No plano teológico, um conhecido crítico tradicionalista de Bento XVI é Brunero Gherardini, com 85 anos vigorosamente vividos, cônego da basílica de São Pedro, professor emérito da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista de teologia tomista “Divinitas”.

No ano de 2009, Gherardini publicou um volume intitulado: “Concilio Vaticano II. Un discorso da fare” [Concílio Vaticano II. Um debate a se realizar], que concluía com uma “Súplica ao Santo Padre”, na qual pedia que se submetesse a um exame os documentos do Concílio e se esclarecesse, de forma definitória e definitiva, “se, em que sentido e até que ponto” o Vaticano II esteve ou não em continuidade com o magistério anterior da Igreja.

Agora, dois anos depois desse livro, Gherardini lança um novo, intitulado: “Concilio Vaticano II. Il discorso mancato” [Concílio Vaticano II. O debate ausente], no qual lamenta o silêncio com que as autoridades da Igreja responderam a sua publicação anterior. E leva sua crítica mais a fundo.

Escreve Gherardini:

“Se desejam continuar culpando apenas o pós-concílio, podem, de fato, fazê-lo, porque, efetivamente, ele não é absolutamente isento de culpa. Mas seria necessário também não se esquecer que ele é o filho natural do Concílio, e extraiu do Concílio esses princípios sobre os quais, exasperando-os, basearam seus conteúdos mais devastadores”.

Na visão de Gherardini, pelo contrário, predomina nos altos poderes da Igreja uma cega exaltação do Concílio, que “corta as asas da análise crítica” e “impede de ver o Concílio com um olhar mais agudo e menos ofuscado”.

E os primeiros responsáveis por esta exaltação acrítica seriam justamente os últimos Papas: desde João XXIII, passando por Paulo VI até João Paulo II. Quanto ao pontífice reinante – observa Gherardini –, “até agora não corrigiu nem um ponto nem uma vírgula dessa ‘Vulgata’ que foi patrocinada pelos predecessores”: ele, que também “como outros poucos oficiais católicos rugiram realmente contra as deformações do pós-concílio, jamais deixou nem de entoar o hosana ao Concílio nem de afirmar a continuidade com todo o magistério anterior a ele”.

* * *

Outro grande decepcionado com Bento XVI é Enrico Maria Radaelli, filósofo e teológo, discípulo do maior pensador tradicionalista do século XX, Romano Amerio.

A principal obra de Radaelli é o ensaio “Ingresso alla bellezza”, de 2007, tendo nestes dias publicado a edição – no momento “pro manuscripto” e impressa em pouquíssimas cópias – de um segundo ensaio, também notável, intitulado: “La bellezza che ci salva”.

O subtítulo do novo ensaio de Radaelli sintetiza assim o conteúdo:

“A força do ‘Imago’, o segundo nome do Unigênito de Deus, que com o ‘Logos’ pode dar vida a uma nova civilização, fundada na beleza”.

E, com efeito, é este o coração do ensaio, como enfatiza no prefácio Antonio Livi, sacerdote do Opus Dei e filósofo metafísico de primeiro nível, docente na Pontifícia Universidade Lateranense.

Porém, nas cultas e vibrantes páginas de seu novo livro, Radaelli não deixa de submeter à crítica, em sua quase totalidade, a atual hierarquia da Igreja Católica, inclusive o Papa.

As decepções pelas ações de Bento XVI deriva – para Radaelli como para outros tradicionalistas – não só por ter convocado um novo encontro interreligioso em Assis, ou por ter dado vida ao “Pátio dos Gentios”, ambas iniciativas julgadas como fonte de confusão.

A maior culpa apontada ao Papa Ratzinger é a de ter renunciado a ensinar com “a força de um cetro que governa”. Em vez de definir a verdade e condenar os erros, “colocou-se dramaticamente disponível a ser também criticado, não pretendendo nenhuma infalibilidade”, como escreveu ele mesmo no prefácio de seus livros sobre Jesus.

Conseqüentemente, Bento XVI teria também ele se dobrado ao erro capital do Vaticano II: a renúncia às definições dogmáticas, em prol de uma linguagem “pastoral” e, portanto, inevitavelmente equívoca.

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De Mattei, Gherardini e Radaelli não estão sós.

O livro de Gherardini, de 2007, tem o prefácio do Arcebispo de Colombo, hoje Cardeal, Albert Malcolm Ranjith. E outro bispo, Mario Oliveri, de Albenga-Imperia, escreveu que teve de se unir “toto corde” à súplica ao Papa, com a qual termina o volume, para reexaminar os documentos do Vaticano II.

Radaelli escreve em “L’Osservatore Romano”. E tanto Gherardini como de Mattei tomaram a palavra, em dezembro passado, em um congresso, a poucos passos da basílica de São Pedro, “para uma justa hermenêutica do Concílio à luz da Tradição da Igreja”.

Neste congresso discursaram também o Cardeal Velasio de Paolis, o bispo Luigi Negri, de San Marino e Montefeltro, e Monsenhor Florian Kolfhaus, da Secretaria de Estado vaticana.

E outro bispo muito estimado, o auxiliar de Astana, no Cazaquistão, Athanasius Schneider, concluiu sua intervenção com a proposta ao Papa de elaborar um “Syllabus” contra os erros doutrinais de interpretação do Concílio Vaticano II.

Mas Dom Schneider, assim como quase todos os participantes do congresso de dezembro, organizado pelos Franciscanos da Imaculada, não considera que nos documentos do Vaticano II haja efetivos pontos de ruptura com a grande tradição da Igreja.

A hermenêutica com a qual [Dom Scheneider] interpreta os documentos do Concílio é a definida por Bento XVI em seu memorável discurso à cúria romana de 22 de dezembro de 2005: “a hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja”.

É uma hermenêutica seguramente compatível com o apego à tradição da Igreja. E é também a única capaz de vencer a contrariedade de alguns tradicionalistas acerca das “novidades” do Concílio Vaticano II, como Francesco Arzillo mostra na seguinte nota [leia a nota em espanhol aqui].

Com efeito, a linguagem “pastoral” do Vaticano II, precisamente por sua natureza não definitória, exige, com maior razão, ser compreendida à luz da tradição da Igreja, tal como o fez o próprio Bento XVI no discurso supracitado, a respeito de uma das “novidades” conciliares mais impopulares para muitos tradicionalistas, a da liberdade de religião.

Iota Unum – A crise do sacerdócio no pós-Concílio: a defecção dos padres com a chancela das autoridades.

A CRISE DO SACERDÓCIO

A DEFECÇÃO DOS SACERDOTES

A recusa de Paulo a se entristecer com as tristes realidades da Igreja pouco pôde contra o fato da defecção dos sacerdotes, estatisticamente comprovada [1] e evidente por todas as partes. Paulo VI abordou esse tema tão espinhoso e doloroso em dois discursos.

Na alocução da Quinta-Feira Santa de 1971, recordando o drama pascal do homem-Deus (abandonado pelos discípulos e traído pelo amigo), o Papa passou a falar de Judas até a apostasia dos sacerdotes.

Antecipou que “é necessário distinguir caso por caso, é necessário compreender, compadecer, perdoar, atender e, é sempre necessário amar”. Mas depois chamou os traidores ou os apóstatas de “infelizes ou desertores”, falou dos “vis motivos terrenos” que os guiam, e deplorou sua “mediocridade moral, que pretende achar normal e lógica a transgressão de uma promessa longamente meditada”. (OR, 10 de abril de 1971).

O coração do Papa está entristecido pela evidência dos fatos, e não podendo tirar a culpabilidade da apostasia, atenua-a um pouco, chamando-os, por exemplo, de “infelizes ou desertores”. Como não ver que a deserção não é uma alternativa à infelicidade, e que os lapsi são infelizes precisamente por terem desertado?

Falando ao clero romano, em fevereiro de 1978, sobre as defecções sacerdotais, o Papa disse: “As estatísticas nos constrangem; a casuística nos desconcerta; as motivações, sim, impõem-nos respeito e nos movem à compaixão, mas nos causam uma dor imensa; a sorte dos débeis que encontraram forças para desertar de seu compromisso nos confunde”. E o Papa fala de “mania de secularizaçãoque “profana a figura tradicional do sacerdote” e, por um processo de certa forma irracional, “extirpou do coração de alguns a sagrada reverência devida a sua própria pessoa” (Osservatore Romano, 11 de fevereiro de 1978).

A inquietude do Papa deriva, por um lado, da amplitude estatística do fenômeno, e, por outro, da profunda corrupção que este supõe. Tampouco se trata principalmente da corrupção dos costumes sacerdotais enquanto violação do celibato (pois se corrompeu também em outras épocas, ainda que sem cair em apostasia), mas sim de outra corrupção que consiste no rechaço das essências e no intento posterior de converter o sacerdote em algo distinto de si mesmo (isto é, um não-sacerdote), atribuindo ao novo estado, no entanto, a identidade do primeiro. Evidentemente, alterando a essência, essa identidade se converte em algo puramente verbal.

Quanto às estatísticas, convém recordar as duas formas com que teve lugar o abandono do sacerdócio (inadmissível enquanto sacramentalmente ordenado): por dispensa da Santa Sé, ou por arbitrária e unilateral ruptura. Esta segunda forma não é nenhuma novidade na Igreja.

Na Revolução Francesa, apostataram 24.000 (vinte e quatro mil) dos 29.000 (vinte e nove mil) sacerdotes do clero assermentée [ndr: “juramentados”, isto é, que fizeram juramento de sustentar a Constituição Civil do Clero] 21 (vinte e um) bispos de 83 (oitenta e três), casando-se dez deles. [2].

Durante o pontificado de São Pio X não foram poucos os que abandonaram os hábitos por razões de fé ou por desejo de independência. Mas, até o Concílio, o fenômeno era esporádico; cada caso suscitava interesse ou escândalo, e o padre secularizado se convertia em personagem literário.

A peculiaridade das defecções na Igreja pós-conciliar não provém da impressionante quantidade dos casos, mas de sua legalização pela Santa Sé, concedendo amplamente a dispensa pro gratia, que dispensa o sacerdote do ministério, mas lhe mantém todos os direitos e funções próprias do leigo (tornando inativo e insignificante o caráter indelével da ordenação recebida).

Se rara era a redução de um sacerdote ao estado laico infligida como pena, raríssima era a concedida pro gratia por falta de consentimento, algo semelhante ao defectus consensus do direito matrimonial.

Deixados de lado os da Revolução Francesa, são escassos na história da Igreja exemplos de bispos casados.

São casos célebres os de Vergerio, bispo de Capo d’Istria, no tempo do Concílio de Trento; De Dominis, arcebispo de Split, na época de Pablo V; Seldnizky, bispo de Breslau, sob o pontificado de Gregório XVI; e depois de um século, mons. Mario Radovero, auxiliar de Lima, já padre do Vaticano II (CR, 23 de março de 1969).

A LEGITIMAÇÃO CANÔNICA DA DEFECÇÃO SACERDOTAL

A novidade do fenômeno da defecção sacerdotal não está tanto em seu grande número (enormemente desproporcional com relação ao do período pré-conciliar) como na variação no modo com que foi contemplado e tratado pela Igreja [3]. Na realidade, não há nenhum fato na história que pontualmente não se encontre já no passado. Por isso, bem que se poderia afirmar, segundo um ditado do comediante latino, Nihil  estiam factum quod non factumsitprius. Porém, o elemento relevante e inovador é o juízo moral que a mente faz, e só este juízo é indício do curso real da história.

Embora, certamente, do ponto de vista numérico, as defecções turbaram o Papa, a prática da dispensa (convertida em habitual depois de ter sido quase nula durante longo tempo) proporcionou um outra configuração moral e jurídica ao fracasso no compromisso sacerdotal, retirando o caráter de deserção que teve em outra época.

Um altíssimo personagem da Cúria Romana, a quem correspondia por ofício lidar com tais práticas, confessou-me como essas reduções ao estado laical, que entre 1964 e 1978 se deram anualmente aos milhares, eram há tempos tão incomuns, que muitos (inclusive no clero) ignoravam até a existência de tal instituição canônica.

Da Tabularum statisticarum collectio de 1969 e do Annuarium statisticum Ecclesiae de 1976 editado pela Secretaria de Estado tomamos conhecimento de que nesses sete anos, no orbe católico, os sacerdotes diminuíram de quatrocentos e treze mil para trezentos e quarenta e três mil, e os religiosos de duzentos e oito mil para cento e sessenta e cinco mil.

Do mesmo Annuarium statisticum de 1978 se deduz que os abandonos foram de três mil, seiscentos e noventa em 1973, e de dois mil e trinta e sete em 1978.

As dispensas cessaram quase totalmente a partir de outubro de 1978, por ordem de João Paulo II [4].

Apesar das defecções terem dizimado as tropas, a verdadeira gravidade do fato reside na legitimação recebida através daquela abundante generosidade da dispensa.

O direito canônico (can. 211-4) estabelecia que para a redução ao estado laical o clérigo perde ofícios, benefícios e privilégios clericais, mas permanece obrigado a guardar o celibato.

Desta obrigação se livram (can. 214) somente aqueles de quem se demonstre a invalidez da ordenação por falta de consentimento. Porém, dá a impressão de que a jurisprudência atual da Santa Sé não deduz a falta de consentimento a partir das disposições do sujeito no momento da ordenação, mas a partir das posteriores experiências de incapacidade ou de descontentamento moral desdobradas na vida do sacerdote já ordenado.

É o critério que os tribunais diocesanos dos Estados Unidos tentaram introduzir nas causas de nulidade matrimonial, sendo reprovado e interrompido por Paulo VI em 1977. Seguindo tal critério, o fato mesmo de que um sacerdote peça em um momento de sua vida retornar ao estado laical se converte em prova de que, já no momento em que se comprometeu, era imaturo e incapaz de um consentimento válido.

Fica também excluída a convalidação do consentimento inválido prevista pelo can. 214, que impediria a concessão da dispensa. Nisso, como na jurisprudência dos tribunais americanos, existe tanto um rechaço velado do valor que todo ato moral individual possui perante o caráter absoluto da lei, como uma adoção não confessada do principio da globalidade (§§ 201-203). Ficam exonerados de responsabilidade os momentos pontuais da vontade, para dela revestir seu conjunto.

Possivelmente, a diminuição das vocações sacerdotais (assim como o crescimento das defecções) depende, em suas razões mais profundas, desta frivolização do compromisso, que arrebata do sacerdócio esse caráter de totalidade e de perpetuidade que satisfaz (apesar dos momentos amargos e difíceis) à parte mais nobre da natureza humana.

Como disse João Paulo II, estas defecções são “um anti-sinal e um anti-testemunho, que estão entre os motivos do retrocesso das grandes esperanças de nova vida que brotaram na Igreja do Concílio Vaticano II” (OR, 20 de maio de 1979).

A crise do clero deu lugar a explicações apoiadas no habitual non causas pro causis, argumentando com o sociológico e o psicológico, em vez da moral. A etiologia do fenômeno é eminentemente espiritual e afeta uma ordem dupla.

Em primeiro lugar, do ponto de vista natural, existe um rebaixamento do valor da liberdade, considerada incapaz de vincular-se de modo absoluto a coisa alguma, e, pelo contrário, capaz de desfazer qualquer atadura. Como é fácil compreender, estamos diante de algo idêntico ou análogo ao caso do divórcio. Também este se fundamenta na impossibilidade da liberdade humana em vincular-se a si mesma incondicionalmente: isto é, baseia-se na negação do absoluto.

Em segundo lugar, do ponto de vista sobrenatural (além do enfraquecimento da liberdade como virtude que absolutiza os propósitos e situa o homem em uma indefectível coerência), há uma deficiência da fé: uma dúvida acerca desse absoluto a que se dedica o sacerdote e ao qual não há dedicação autêntica se não é de iure absoluta.

Esta   deficiência, que poderia corrigir-se ou ser corrigida, acaba, todavia, reforçada, por conta da dispensa outorgada pelo autoridade suprema. Cai-se em um círculo vicioso, onde se crê negar a liberdade por uma insistência no absoluto, quando, de fato, este último é precisamente o que é necessário para uma se alcançar uma liberdade madura.

Tal praxe indulgente e generosa causava escândalo em si mesma como sintoma de debilidade moral e de um decadente sentido da dignidade pessoal, e também ao compará-la com a condição dos leigos, ligados pela indissolubilidade do matrimônio; por isso foi rapidamente interrompida por João Paulo II.

Ademais, a Congregação para a Doutrina da Fé, em um documento comum datado de 14 de outubro de 1980 e publicado em «Documentation catholique» (n. 566, outubro de 1980) e em «Esprit et vie» (1981, p. 77), promulgou uma disciplina restritiva que reduz a somente a dois pontos os motivos de dispensa: a falta de consentimento no ato da ordenação, e o erro do Superior na admissão a ela.


[1] No Annuarium statisticum de 1980 se avalia uma diminuição da tendência regressiva e algum sinal de recuperação do número de sacerdotes. A proporção das ordenações sacerdotais subiu de 1,40 para 1,41 para cada cem sacerdotes. As defecções estacionaram. No entanto, o número de sacerdotes no orbe católico decresceu durante o ano em 0,6%. Religiosos e religiosas continuam diminuindo, porém, mais as religiosas (comum a proporção negativa de 1,4%, contra 1,1% do ano anterior). Em geral, a queda é própria da Europa e o aumento da África (OR, 28 de maio de 1982).

[2] PAUL CHRISTOMF., Les choix du clergédans les Révolutions de 1789, 1830 e 1848, Lille 1975, t. 1, p.

[3] A novidade consiste na participação da hierarquia no movimento contrário ao celibato. Disse o Cardeal LÉGER, por exemplo: “É lícito questionar-se se não seria possível reconsiderar esta instituição” (ICI, n. 279, p. 40, 1 de janeiro de 1967).

[4] A decisão do Papa Wojtyla foi vivamente censurada pelos inovadores. Vide, por exemplo, a entrevista concedida por HORST HERRMANN, professor de direito canônico ao semanário «Der Spiegel» de 6 de outubro de 1981: “Por que temos que continuar fazendo parte de um grupo de homens que traem continuamente o Evangelho do Amor?”

Romano Amerio, Iota Unum – Sarto House, 5. ed., 2004, pp. 179-184.

Tradução: Fratres in Unum.com

Vaticano II, um debate entre Romano Amerio, Monsenhor Gherardini e Monsenhor Pozzo.

DICIEm 2 de julho, Monsenhor Guido Pozzo (à direita na foto), secretário da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, proferiu uma conferência no seminário da Fraternidade São Pedro, em Wigratzbad, intitulada “Aspectos da eclesiologia católica na recepção do Vaticano II”. Nela, ele afirmou que “se o  Santo Padre fala de duas interpretações ou chaves de leitura divergentes, uma da descontinuidade ou ruptura com a Tradição Católica, e a outro da renovação na continuidade (em seu discurso de 22 de dezembro de 2005 à Cúria Romana, ndr), significa que a questão crucial da fonte, ou o ponto realmente determinante do trabalho de desorientação e de confusão que caracterizou e ainda caracteriza a nossa época, não provém do Concílio Vaticano II enquanto tal e não é o ensino objetivo contido em seus documentos, mas a interpretação deste ensino” (sublinhado no texto, como todas as passagens em negrito que seguem, ndr).

A análise de Monsenhor Pozzo sobre a influência do para-concílio.

Monsenhor Pozzo pretende provar que, sobre dois pontos controversos (o primeiro, a unidade e a unicidade da Igreja Católica, com a questão do subsistit in em Lumen Gentium 8, e o outro, o das relações entre a Igreja Católica e outras religiões, com o diálogo ecumênico e inter-religioso), “o anúncio autêntico da Igreja, no que diz respeito a sua reivindicação de plenitude, não foi modificado substancialmente desde o ensinamento do Vaticano II”.

Portanto, não resta senão perguntar por que os documentos conciliares, aos olhos de Monsenhor Pozzo tão claramente conformes à Tradição, deram lugar a uma interpretação de tal maneira oposta. O prelado romano se pergunta e responde: “Qual é a origem da interpretação da descontinuidade, ou da ruptura com a tradição? É que podemos chamar a ideologia conciliar, ou, mais exatamente, para-conciliar, que tomou conta do Concílio desde o início, se sobrepondo a ele. Com esta expressão, não se pretende nada que diga respeito aos textos do Concílio, nem à intenção dos autores, mas ao quadro geral de interpretação no qual o Concílio foi colocado e que age como uma espécie de acondicionamento interno da leitura sucessiva dos fatos e dos documentos. O Concílio não é a ideologia para-conciliar, mas na história do acontecimento eclesial e dos meios de comunicação de massa, se executou largamente a  mistificação do Concílio, que é precisamente a ideologia para-conciliar. Para que todas as conseqüências da ideologia para-conciliar fossem manifestadas como um acontecimento histórico, seria necessário considerar a revolução de 68, que toma como princípio a ruptura com o passado e a mudança radical da história. Na ideologia para-conciliar, o movimento de 68 significa uma nova figura da Igreja em ruptura com o passado”.

E Monsenhor Pozzo conclui que é necessário utilizar “a hermenêutica da reforma na continuidade”, preconizada por Bento XVI, “para enfrentar as questões controversas, liberando, por assim dizer, o Concílio do para-concílio que se misturou com ele, e conservando o princípio da integridade da doutrina católica e da plena fidelidade ao Depósito da Fé transmitido pela Tradição e interpretado pelo Magistério da Igreja”.

Uma interrogação permanece ao fim desta exposição: o para-concílio denunciado pelo secretário da Comissão Ecclesia Dei se identifica com o pós-concílio? Somos tentados a responder afirmativamente se considerarmos que esse para-concílio teria se esforçado em fazer coincidir os documentos redigidos entre 1962 e 1965 com o espírito da revolução de maio de 68. Mas também é dito que “a ideologia conciliar, ou, mais exatamente, para-conciliar, (…) tomou conta do Concílio desde o início, se sobrepondo a ele”. Esta sobreposição “desde o início” não teve nenhuma influência sobre a redação dos textos conciliares? Monsenhor Pozzo considera que a ideologia para-conciliar não afeta nem os textos do Concílio, nem a intenção dos autores, mas fornece somente “o quadro geral de interpretação no qual o Concílio foi colocado e que age como uma espécie de acondicionamento interno da leitura sucessiva dos fatos e dos documentos”. A ideologia para-conciliar seria, por conseguinte, um quadro externo que condiciona do interior a leitura dos documentos! Parece mais simples ver uma influência estranha à Tradição se exercer diretamente sobre a sua redação.

O testemunho de Dom Lefebvre

Dom Lefebvre
Dom Lefebvre

É que declarava francamente Dom Marcel Lefebvre em Ils l’ont décournné [“Eles O destronaram”]: “É certo que, com os 250 padres conciliares do Coetus (Coetus Internationalis Patrum, grupo de bispos conservadores fundado por Dom Lefebvre, Dom Carli e Dom Proença-Sigaud, ndr), tentamos, por todos os meios colocados a nossa disposição, impedir os erros liberais de se exprimirem nos textos do Concílio; o que fez com que nós pudéssemos como que limitar os danos, alterar tais frases inexatas ou tendenciosas, acrescentar tal frase para retificar uma proposta tendenciosa, uma expressão ambígua.

“Mas devo confessar que não tivemos êxito em purificar o Concílio do espírito liberal e modernista que impregnava a maior parte dos esquemas. Os editores, com efeito, eram exatamente os peritos e os Padres manchados por esse espírito. Ora, o que querer quando um documento é, em todo o seu conjunto, redigido com um espírito falso?  É praticamente impossível purificá-lo deste espírito; seria necessário recompô-lo completamente para lhe dar um espírito católico.

“O que pudemos fazer, é, pelos modi que apresentamos, fazer acrescentar incisos nos esquemas, e isso se vê muito bem: basta comparar o primeiro esquema da liberdade religiosa com o quinto que foi redigido — pois este documento foi cinco vezes rejeitado e retornou cinco vezes à tona — para ver que houve, de todo modo, êxito em atenuar o subjetivismo que infectava as primeiras redações. O mesmo para a Gaudium et Spes, se vê muito bem os parágrafos que foram acrescentados a nosso pedido, e que estão lá, diria eu, como retalhos devolvidos a uma velha roupa: ele não cola nem junta; ele não tem mais a lógica da redação primitiva; as adições feitas para atenuar ou contrabalançar as afirmações liberais permanecem lá como corpos estranhos (…)

“Mas, o fastidioso é que os próprios liberais praticaram este sistema no texto dos esquemas: a afirmação de um erro ou de uma ambigüidade ou de uma orientação perigosa, e, imediatamente antes ou depois, a afirmação em sentido contrário, destinada a tranqüilizar os padres conciliares conservadores.” (Ils l’ont découronné, Clovis, pp. 193-194, pode-se obter a obra aqui).

Romano Amerio e o seu discípulo Enrico Maria Radaelli denunciam “uma abissal ruptura de continuidade”

Romano Amerio
Romano Amerio

É possível encontrar um eco do testemunho de Monsenhor Lefebvre no terceiro volume das obras completas de Romano Amerio, publicado nos últimos dias na Itália pelas edições Lindau, sob o título Zibaldone, retomando o título de uma obra do poeta Giacomo Leopardi que significa uma mistura que reúne, sem ordem, “curtos pensamentos, aforismos, relatos, citações de autores clássicos, diálogos morais, comentários de acontecimentos do cotidiano”, como escreveu em 12 de julho o vaticanista Sandro Magister em o seu sítio chiesa.espressonline (tradução portuguesa publicada no Fratres in Unum). Magister assim apresenta a obra de Amerio: “Dessa sua análise fortemente crítica, que ele aplicava também ao Concílio Vaticano II, Amerio extraiu o que Enrico Maria Radaelli, seu fiel discípulo e editor da publicação das obras do mestre, chama de “grande dilema subjacente ao fundo do cristianismo atual”. Este dilema é o de saber se há continuidade ou ruptura entre o magistério da Igreja de antes e depois do Vaticano II.

“(…) a juízo de Amerio e Radaelli, esta é justamente a causa da crise da Igreja conciliar e pós-conciliar, uma crise que levou o mais próximo da perdição, ‘impossível mas também quase alcançada’, como é o ter desejado renunciar a um magistério imperativo, com definições dogmáticas “inequívocas na linguagem, certas no conteúdo, vinculantes na forma, como se espera ser ao menos os ensinamentos de um Concílio”.

“A conseqüência, segundo Amerio e Radaelli, é que o Concílio Vaticano II está cheio de asserções vagas, interpretáveis de modos diferentes, das quais algumas estão também em aberto contraste com o magistério anterior da Igreja (destaques nossos). Essa linguagem pastoral ambígua é o que havia aberto o caminho a uma Igreja hoje “percorrida por milhares de doutrinas e centenas de milhares de costumes nefastos”, inclusive na arte, música e liturgia.

“O que fazer para remediar essa calamidade? A proposta que faz Radaelli vai mais além daquela feita recentemente — a partir de juízos críticos tão duros quanto — por outro defensor apaixonado pela tradição católica, o teólogo tomista Brunero Gherardini, de 85 anos de idade, cônego da basílica de São Pedro, professor emérito da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista ‘Divinitas’”.

“Monsenhor Gherardini antecipou sua proposta num livro publicado em Roma, no ano passado, com o título: ‘Concilio Ecumenico Vaticano II. Um discorso da fare’. O livro conclui com uma ‘Súplica ao Santo Padre’, a quem se pede que submeta a um novo exame os documentos do Concílio, para esclarecer, de uma vez por todas, ‘se, em que sentido e até que ponto’ o Vaticano II está ou não em continuidade com o magistério anterior da Igreja. (…)

“Pois bem, em seu epílogo a ‘Zibaldone’ de Romano Amerio, o professor Radaelli recolhe a proposta de Monsenhor Gherardini, mas ‘apenas como uma primeira instância para purificar o ambiente de muitos, muitos mal entendidos’. Com efeito, segundo Radaelli, não é suficiente esclarecer o sentido dos documentos conciliares, se tal esclarecimento é oferecido depois à Igreja com o mesmo estilo ineficaz de ensinamento ‘pastoral’ que se tornou costume com o Concílio, propositivo mais que impositivo.

“Se o abandono do princípio de autoridade e o ‘discussionismo’ são a enfermidade da Igreja conciliar e pós-conciliar, para sair dela — afirma Radaelli — é necessário trabalhar de forma contrária. A máxima hierarquia da Igreja deve fechar a discussão com um pronunciamento dogmático ‘ex cathedra’, infalível e vinculante. Deve atingir com o anátema os que não obedeçam e deve bendizer os que obedecem.

“O que Radaelli espera que a cátedra suprema da Igreja decrete? Assim como Amerio, ele está convencido de que ao menos em três casos se deu ‘uma ruptura abismal da continuidade’ entre o Vaticano II e o magistério anterior: onde a Concílio afirma que a Igreja de Cristo ‘subsiste na’ Igreja Católica, em vez de dizer que ‘é’ a Igreja Católica; onde assevera que ‘os cristãos adoram o mesmo Deus adorado pelos judeus e muçulmanos’; e na Declaração ‘Dignitatis Humanae’ sobre a liberdade religiosa.

A hermenêutica da reforma na continuidade é um remédio suficiente?

Mons. Brunero Gherardini
Mons. Brunero Gherardini

No fim de seu artigo, Sandro Magister mostra que a crítica do Concílio por Romano Amerio e Monsenhor Gherardini não é, aos olhos do Papa, admissível: “Tanto Gherardini como Amerio-Radaelli reconhecem em Bento XVI um Papa amigo. Mas há que se descartar que ele assinta a seus pedidos. Mais ainda, tanto no conjunto como em alguns pontos controversos, o Papa Joseph Ratzinger já fez saber que não compartilha em absoluto de suas posições.

“Por exemplo, no verão de 2007, a Congregação para a Doutrina da Fé se manifestou a respeito da continuidade de significado entre as fórmulas ‘é’ e ‘subsiste em’ ao afirmar que ‘o Concílio Ecumênico Vaticano II não quis mudar, nem de fato o fez, a doutrina anterior sobre a Igreja, mas que apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la mais amplamente’.

“Quanto à Declaração ‘Dignitatis humanae’ sobre a liberdade religiosa, Bento XVI explicou pessoalmente que, se ela está separada das indicações anteriores ‘contingentes’ do Magistério, fê-lo precisamente para ‘retomar novamente o patrimônio mais profundo da Igreja’.

“O discurso em que Bento XVI defendeu a ortodoxia da “Dignitatis humanae” é o que dirigiu à cúria vaticana na vigília do primeiro Natal de seu pontificado, em 22 de dezembro de 2005, precisamente para sustentar que  entre o Concílio Vaticano II e o magistério anterior da Igreja não há ruptura, mas “reforma na continuidade”.

E Sandro Magister conclui: “O Papa Ratzinger não convenceu até agora aos lefebvristas, que se mantêm em estado de cisma justamente neste ponto crucial (a afirmação de uma descontinuidade ou de uma ruptura em relação à Tradição constitui um cisma? Não seria antes a própria ruptura que pode ser sinônimo de cisma? ndr). Mas não convenceu — de acordo com o que escrevem Radaelli e Gherardini — nem sequer a alguns de seus filhos ‘obedientíssimos em Cristo’”.

De um lado, Monsenhor Pozzo propõe libertar o Concílio do para-concílio, e de outro, Amerio e Radaelli pedem que o Magistério Romano deixe de “pastoralizar” para dogmatizar claramente. Tal é o coração do debate sobre o Vaticano II que Monsenhor Gherardini afirma ser “um debate a se realizar”. Imperativamente. (DICI n°220 de 07/08/10)

Os defensores da tradição reivindicam a Igreja infalível.

Suplicam ao Papa que condene “ex cathedra” os erros do Concílio Vaticano II. Um novo livro de Romano Amerio voltará a dar força a seu pedido. Mas Bento XVI não está de acordo.

por Sandro Magister

ROMA, 12 de julho de 2010 – Há alguns dias está nas livrarias italianas um novo volume de Romano Amerio, o terceiro da “opera omnia” deste autor, publicado pelas Edições Lindau.

Amerio, falecido em 1997 em Lugano (Suíça) aos 92 anos de idade, foi um dos maiores intelectuais cristãos do século XX.

Filólogo e filósofo de primeiro nível, Amerio tornou-se conhecido no mundo por conta de seu ensaio, publicado pela primeira vez em 1985 e traduzido para muitos idiomas, intitulado: “Iota unum. Estudo das variações da Igreja Católica no século XX”.

Mas esse mesmo ensaio, justamente pela tese que contém, fez Amerio ganhar o ostracismo da quase totalidade do mundo católico. Um ostracismo que apenas perdeu vigor há pouco tempo, também graças à reedição de “Iota unum”.

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“Santo Padre, coragem! Santo Padre, fale!”. Segunda carta aberta do Pe. João Batista ao Papa Bento XVI.

Padre João Batista - Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias
Pe. João Batista - Consagração da Capela Santa Maria das Vitórias em Anápolis, GO.

Beatíssimo Padre.

Há mais de um ano dirigi-me a Vossa Santidade para expressar-lhe meu apoio diante dos ataques desfechados contra sua augusta pessoa por haver praticado um ato de justiça ao anular o decreto de excomunhão contra os quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Agora dirijo-me com o propósito de encorajar Vossa Santidade a continuar sua obra iniciada apesar de toda ira e sanha que se levantam contra Vossa Santidade por parte dos inimigos da Igreja (internos e externos). Estão furibundos porque percebem que Vossa Santidade,  pouco a pouco, repõe a Igreja em seu devido lugar.

Permito-me, com todo respeito, compartilhar com Vossa Santidade algumas idéias que me acodem à mente diante de fatos recentes.

Em primeiro lugar, desejaria dizer a Vossa Santidade que estive em Roma em maio último (quando rezei especialmente por Vossa Santidade na Basílica de São Pedro) e ouvi de um prelado digno do maior respeito e confiança que os rumores sobre as conversações doutrinais entre a Santa Sé e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X são positivos, mas, ao que parece, Vossa Santidade não tem a intenção de pronunciar-se a respeito. Porque uma palavra de Vossa Santidade iria agravar a divisão  da Igreja. Vossa Santidade, disse-me o prelado, espera que se encontre uma saída honrosa para ambas as partes. Devo dizer-lhe que isto me parece muito dificultoso.

Mas sendo assim as coisas, é necessário aplicar um remédio para sarar uma ferida que gangrena a Igreja. Refiro-me à arbitrária supressão canônica da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, levada a efeito de forma ilegal, draconiana, à maneira como Stalin pôs fim às repúblicas bálticas.

Se as conversações entre a Fraternidade correm o risco de não se concluir com uma palavra do Papa que esclareça os problemas do Vaticano II (como, aliás, deseja o eminente teólogo Brunero Gherardini em sua importante obra Vaticano II, um disurso da fare), é necessário que ao menos a Santa Sé repare aquela tremenda injustiça cometida contra Mons. Lefebvre, sua obra e milhares de católicos apegados à tradição. Com efeito, sua obra foi brutalmente posta na ilegalidade porque ele dizia o que Vossa Santidade diversas vezes disse. Ele criticava a missa nova. Vossa Santidade também apóia uma crítica severa à reforma litúrgica, tal como no prefácio ao livro de Mons. Gamber, o qual disse que a reforma de Paulo VI foi mais radical que a de Lutero! Ele dizia que a missa tradicional jamais poderia ser abolida. Vossa Santidade disse a mesma coisa por ocasião do motu proprio.

Por outro lado, Vossa Santidade com freqüência enaltece a memória de seu predecessor João Paulo II, o qual ,devo dizer-lhe, teve diversas atitudes que me parecem chocantes e pasmosas como, por exemplo, o encontro de Assis, o beijo do Corão etc, etc. Pois bem. Uma das atitudes chocantes de João Paulo II foi quando no jubileu do ano 2000 pediu perdão público pelos pecados e erros cometidos pela Igreja ao longo de sua história. Um anacronismo censurado por intelectuais católicos respeitadíssimos como Paul Johnson (Quando Deus pedirá perdão por haver destruído Sodoma?, escreveu ele então) e por Romano Amério em Stat Veritas.

Se João Paulo II pediu tal perdão, porque não pedir perdão agora aos tradicionalistas da Fraternidade São Pio X por haver cometido contra eles uma abuso de poder ao decretar  extinção canônica da Fraternidade e restituir-lhes o estatuto jurídico que lhes compete conforme o melhor direito?

Ademais, desejaria dizer a Vossa Santidade que não me parece coerente um discurso que admite uma crítica à reforma litúrgica e ao mesmo tempo isenta o Vaticano II do desastre que vivemos na Igreja em todos os campos. Lex orandi, Lex credendi. O cardeal Benelli disse uma vez que a missa tradicional jamais poderia ser restabelecida na Igreja porque correspondia a uma eclesiologia ultrapassada. Agradeço-lhe a sinceridade mas não lhe perdôo a heresia.

Pelas palavras do cardeal, fica demonstrado que o Vaticano II tem seus problemas. A reforma litúrgica com tuas suas ambigüidades não nasceu do nada. Ela expressa uma nova teologia. De onde?

Santo Padre, coragem! Santo Padre, fale! São Pedro condenou à morte Ananias e Safira por haver fraudado a comunidade dos primeiros cristãos. Santidade, exerça sua autoridade: faça que a terra engula também os fraudadores, não de bens materiais, mas da doutrina sagrada, esses hereges que se recusam a obedecer-lhe não corrigindo, por exemplo, a forma da consagração do cálice na santa missa, conforme ordenado por Vossa Santidade há alguns anos já.

Para nossa tranqüilidade, Vossa Santidade tem reiteradas vezes condenado o relativismo hodierno. Mas devo dizer-lhe que, não obstante o discurso de Vossa Santidade, o ecumenismo e  o dialogo inter-religioso hoje praticados favorecem sobremaneira um clima de relativismo e indiferentismo em toda sociedade. Bispos e padres com a maior desfaçatez, dizendo-se acobertados por Vossa Santidade, promovem as mais escandalosas cerimônias em que se realiza abominável communicatio in sacris. O mal causado às almas é enorme, incalculável. Hoje, a quase totalidade dos católicos acha que todas as religiões são boas; que é uma discriminação e intolerância dizer que a única religião verdadeira é a Igreja Católica.

Por derradeiro, Santo Padre, como um filho que confia em seu pai, quero dizer-lhe que uma das coisas mais tristes que vivemos na Igreja hoje é a falta de amor à verdade. Ama-se tudo menos a verdade. Ama-se o poder, amam-se as vantagens materiais, cargos, prebendas, prestigio, adulam-se os poderosos, mas não se ama a verdade. Ama-se um falso amor pentecostal, mas não se ama a verdade. O dístico de Vossa Santidade, Cooperatores Veritatis, representa para mim um consolo.

Não sei o que me custará essa carta. Talvez nada, talvez passe despercebida. Talvez me custe a cabeça, como a meu santo e venerado patrono São João Batista. Mas cumpro meu dever de consciência. Não suporto ver a injustiça que se cometeu contra Mons. Lefebvre, o bispo que preservou minha fé no deserto da Igreja pós-conciliar.

Rogando a bênção de Vossa Santidade, asseguro-lhe minhas orações.

Cor Mariae Imaculatum, spes nostra esto.

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Anápolis, 28 de junho de 2010

Vigília de São Pedro e São Paulo

Fonte: Santa Maria das Vitórias

Em direção à reabilitação de Dom Lefebvre?

31/05/10 – (Sector Catolico) Segundo informa o blog italiano Messainlatino, começam a circular numerosos rumores em torno da futura reabilitação eclesial do arcebispo francês Marcel Lefebvre (na foto), fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), que foi excomungado pelo Papa João II em 1988, ao proceder a ordenação de quatro bispos sem contar o aval de Roma. Tal decreto de excomunhão ficou sem efeito recentemente depois de que o Papa Bento XVI assim decidiu.

Messainlatino aponta que são várias as razões que dispararam estes rumores. Por um lado, a reabilitação oficiosa do teólogo Romano Amerio (levada a cabo este ano pelo L’Osservatore Romano) que era conhecido por sustentar teses próximas às de Monsenhor Lefebvre. Em segundo lugar, a iminente publicação de uma nova biografia do prelado francês. E, em terceiro lugar, o interesse pela figura deste arcebispo e de sua obra, que aumentam fora dos círculos até agora habituais e  se estendem cada dia mais em diversos âmbitos católicos, são os fatores que estão contribuindo a estes falatórios.

Seja como for, a figura de Monsenhor Lefebvre mereceu e merece uma especial atenção no seio da Igreja Católica, sobretudo na medida em que aumenta a crise na qual, lamentavelmente, encontramo-nos atualmente. Soam, portanto, cada vez mais proféticas suas palavras e os avisos que lançou em muitos de seus escritos, homilias, conferências e ensinamentos que, hoje em dia, e vários anos depois de sua morte, seus filhos continuam transmitindo, a tempo e destempo. Sem dúvida, sua figura não passa despercebida e não deixa ninguém indiferente. O tempo e a autoridade da Igreja colocarão as coisas em seu lugar. Ao menos nesta terra.

“lota unum non praeterebit”. Dom Mario Oliveri apresenta a obra de Romano Amerio.

Do excelente Messa in Latino, um excepcional escrito do já conhecido de nossos leitores senhor bispo de Albenga-Imperia, Dom Mario Oliveri:

Apresentamos uma pequena amostra da brilhante “pena” de Dom Mario Oliveri ,Bispo de Albenga-Imperia, que gentilmente concordou em publicar este seu artigo aparecido no número de janeiro passado da abalizada revista Studi Cattolici. Ao apresentar a figura de Romano Amerio, Dom Oliveri desenvolve uma reflexão sobre os males atuais da Igreja; sobre a conturbada recepção do Concílio e sobre os problemas, não só interpretativos, deste último; enfim, sobre as soluções para a crise. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma ótima página para ler, reler e refletir. Com valor acrescido por se tratar do documento de um bispo diocesano, chamado a confirmar os irmãos na Fé. Abaixo a primeira parte do escrito; a segunda pode ser vista aqui. 

D. Mario OliveriEm 1985, a editora Ricciardi publicava um volumoso e acurado estudo de Romano Amerio,  intitulado “Iota Unum – Estudo sobre as variações da Igreja Católica no século XX”. Agora, duas outras editoras anunciaram a reedição desse livro de 656 páginas (“Fede e Cultura” já o fez), e o fato é visto em muitos círculos como de notável significado e interesse. Até L’Osservatore Romano, que na primeira aparição deste estudo não o deu atenção, já mostrou interesse. Antes, o jornal da Santa Sé já havia relatado a significativa informação acerca de um seminário sobre a personalidade e a obra literária, filosófica e teológica pensador de Lugano.

 

Na primeira aparição do estudo de Romano Amerio, certamente, não foi apenas L’Osservatore Romano quem fez silêncio sobre a obra que tinha sido concebida para fazer refletir, para fazer pensar, para chamar novamente ao rigor de pensamento do intelecto humano. A obra tinha sido ignorada por muitíssimos setores da cultura (sobretudo da cultura religiosa, da cultura teológica), condenada realmente ao silêncio. Ainda, em outros meios, infelizmente, havia sido preconceituosamente marcada como escrito anti-conciliar, típico exemplo de uma rejeição do novo pensamento, da nova era, do novo Pentecostes, da nova primavera do espírito; fruto de uma “mens” que se admira que por um incessante novo pensar nasça necessariamente uma nova ação, um novo modo de agir, e assim baseia toda a missão da Igreja (se a Igreja tem de si mesma uma nova concepção – e este era naquele tempo o modo de pensar dominante de muita literatura que se apresentava como católica – se do Concílio é nascida uma nova eclesiologia, por que não acolher uma nova pastoral, novos métodos de ação dentro de tal nova Igreja, por que não aceitar um pensamento que sempre se renova, que sempre se auto-cria, que gera uma contínua mudança na ação, um progresso indefinido, em direção a algo que permanece sempre necessariamente indefinido?).

 

Não se surpreenda o leitor da descrição do ambiente que prevalecia no seio da Igreja, quando o trabalho de Amerio foi publicado. Não se podia definitivamente dar boa atenção ao pensamento de Amerio que estava então convencido de que Vaticano II representasse uma verdadeira descontinuidade com o que a Igreja tinha pelos séculos, no passado, ensinado, realizado, vivido. Era generalizada a mentalidade segundo a qual o Vaticano II foi indubitavelmente uma revolução, uma reviravolta/mudança de direção, uma mudança radical ou substancial (se bem que não se adotasse este último termo, pois “substância” era um conceito pertencente a uma filosofia superada pelo pensamento filosófico moderno…).

Para muitos, muitíssimos,  o silenciar, o recusar o pensamento de Amerio, era natural, senão um dever: ninguém podia se dar ao luxo de gerar dúvidas de qualquer natureza sobre o Vaticano II, se não – no máximo – para dizer que ele ainda tinha sido muito prudente, e que, portanto, era necessário ir além, já que sempre se deve andar adiante.

Se alguém considerasse este discurso exagerado, teria certamente a possibilidade de tentar mostrar o porquê pensa de tal modo. Assim, aqueles que consideravam, então, exagerado o pensamento de Amerio (na verdade sempre linear, sempre bem articulado, de imediata compreensão) poderiam ter estabelecido um diálogo (que todavia sustentavam como a verdadeira fórmula de todo progresso no pensamento, na ação e no encontrar a concórdia), poderiam tentar demonstrar o porquê a filosofia que apresentava todas as páginas daquele livro não era mais aceitável, ainda que tenha sido a filosofia comum no seio da Igreja durante séculos, superando as mudanças históricas (sempre acidentais), tempos muito conturbados da vida da Igreja e na vida do mundo. Não o fizeram: o silenciaram ou rejeitaram em bloco, sem dizer as razões da recusa.

Por que agora, cá e lá, parece haver sobre o pensador de Lugano alguma atenção, uma postura um pouco mudada? Talvez porque, ao menos em alguns círculos eclesiais (embora seguramente não em todos) se está percebendo, e quase se está constatando, que sem continuidade do pensamento, e, conseqüentemente na ação; que sem continuidade no conhecimento e na adesão à verdade conhecida, não é possível fazer um discurso sério sobre qualquer coisa, não é possível dizer uma palavra que valha o pensamento de escutá-la, de transmiti-la, de fazer dela a base para o comportamento humano, para o viver humano?

Está-se porventura notando que lá onde o Concílio Vaticano II foi interpretado como descontinuidade com o passado, como ruptura, como revolução, como mudança substancial, como giro radical, e onde foi aplicado e vivido como tal, nasceu na realidade uma outra igreja, mas que não é a Igreja verdadeira de Jesus Cristo; nasceu uma outra fé, mas que não é a verdadeira fé na Divina Revelação; nasceu uma outra liturgia, mas que não é mais a Liturgia Divina, não é mais a Liturgia tecida de Transcendência, de Adoração, de Mistério, de Graça que desce do alto para tornar verdadeiramente o homem novo, para torná-lo capaz de adorar em Espírito e Verdade; vem-se difundindo uma moral da circunstância, uma moral que não está ancorada se não no próprio modo de pensar e de querer, uma moral relativista, à medida do pensamento não mais seguro de nada, porque não mais aderido ao ser, à verdade, ao bem.

Se tímidos sinais de interesse e de consideração a respeito de um pensador que — movido por amor à verdade e, portanto, por amor à Igreja, a qual não tem primeiramente que realizar nada senão transmitir a Verdade da Divina Revelação (e tudo aquilo que ela implica) como foi recebida e vivida ao longo dos séculos pela Igreja de Jesus Cristo guiada pelo Espírito Santo — revelou com absoluta honestidade as variações da Igreja Católica no século XX, mostrou sua incongruência com a “Traditio Ecclesiae” (isto é, com o que nos séculos tinha sido professado, ensinado e transmitido pela Igreja com uma linguagem que não se pode dizer “nova” — de coisas novas, verdades novas — mas, no máximo [“nove”] de modo novo); se tais sinais de interesse e consideração são sinais reais e ainda devessem crescer amplamente, pode-se esperar que os dias de desorientação tanto em muita Filosofia como Teologia estão para ser superados para dar espaço a um pensamento correspondente à essência, à realidade das coisas, à substância das coisas, substância que não muda, que não pode mudar, nem mesmo quando mudam os acidentes, as formas externas, as expressões contingentes que não constituem o “quid est” de uma coisa.

No entanto, é muito difícil de morrer a mentalidade segundo a qual o Concílio Vaticano II tenha sido quase uma re-fundação da Igreja nos tempos modernos, e que com isso a Igreja tenha feito as pazes com o mundo, se reconciliado com a modernidade, com a filosofia tornada quase que exclusiva no século passado, segundo a qual tudo está sempre “in fieri”, tudo evolui, tudo depende do pensamento criativo do homem, tudo está em seu total poder.

Outra idéia muito difundida continua a ser sustentada: aquela segundo a qual não haveria nenhuma dúvida sobre a variação significativa, negativa, depois do Concílio Vaticano II, mas elas seriam exclusivamente devidas às interpretações errôneas do Vaticano II, o qual deveria ser considerado todo perfeito em si mesmo e que não contém em seus textos nada, absolutamente nada, que possa dar origem a interpretações erradas. Este modo de pensar não leva em conta que os maus intérpretes pós-conciliares do Concílio trabalharam – não poucos – dentro do Concílio, cujos textos mostram em diversos pontos a influência dos “novatores”: em diversos textos se encontra alguma raiz que favorece a má interpretação. Por outro lado, aqueles que apelam ao assim chamado “espírito do Concílio” para exceder a letra, para justificar a hermenêutica da descontinuidade radical, seriam tão pouco inteligentes e prudentes de criar o seu raciocínio partindo do nada, do inexistente? Ou partindo de documentos – os do Concílio – que com alguma das suas expressões poderia sugerir a novidade com relação ao Magistério da Igreja ao longo dos séculos, nos últimos séculos, no último pontificado antes do Vaticano II?

Não estaria exatamente ali nos documentos conciliares um vestígio daquela mentalidade que existia no seio do Concílio e que o Cardeal Joseph Ratzinger descreve em seu livro-autobiografia (“La mia vita”) nestes termos?:

“Crescia cada vez mais a impressão de que nada era agora estável na Igreja, que tudo estava aberto a revisão. Mais e mais o Concílio parecia ser como um grande parlamento da Igreja, que podia mudar tudo e reconstruir tudo de acordo com seus próprios desejo… As discussões conciliares eram apresentadas cada vez mais conforme o esquema partidário típico do parlamentarismo moderno” “No final, ‘acreditar’ significava algo como ‘achar’, ter uma opinião sujeita a continuas revisões”.

† Mario Oliveri

Grandes retornos. “Iota unum” e “Stat veritas” de Romano Amerio.

Link para o original.Retornam às livrarias duas obras capitais da cultura católica e cai definitivamente o tabu sobre um dos maiores intelectuais cristãos do século XX. A questão enfatizada por ele é a mesma que está no centro do pontificado de Bento XVI: quando e de que modo pôde a Igreja mudar?

por Sandro Magister

ROMA, 15 de julho de 2009 – A partir de amanhã retornam às livrarias italianas, editados por Lindau, dois volumes situados entre os clássicos da cultura católica, cujo conteúdo está em impressionante sintonia com o título e com o fundamento da terceira encíclica de Bento XVI: “Caritas in veritate”.

Os dois volumes têm por autor Romano Amerio, literato, filósofo e teólogo suíço, falecido no ano de 1997 aos 92 anos de idade. Alguém que o estimava muito, o teólogo e místico don Divo Barsotti, sintetizou assim o conteúdo dos dois volumes:

Roma Amerio - Moribus antiquis stat res romana virisque (Ennius)

“Amerio diz em substância que os males mais graves presentes hoje no pensamento ocidental, inclusive no pensamento católico, se devem principalmente a uma desordem mental geral pela qual se põe a ‘caritas’ a frente da ‘veritas’, sem pensar que esta desordem subverte também a reta concepção que devemos ter da Santíssima Trindade”.

Com efeito, Amerio vê precisamente neste desmoronamento do primado do Logos sobre o amor – ou seja, na caridade desvinculada da verdade – a raiz de muitas “variações da Igreja católica no século XX”: as variações que ele descreveu e submeteu à crítica no primeiro e mais imponente dos dois volumes citados: “Iota unum”, escrito entre 1935 e 1985; as variações que o levaram a lançar a questão se com elas a Igreja não se converteu em algo diferente de si mesma.

Muitas das variações analisadas em “Iota unum” – mas bastaria uma só, um “iota” que está em Mateus 5, 18 e que dá o título ao livro – impulsionariam o leitor a pensar que na Igreja se produziu uma mutação da essência. Mas Amerio analisa, não julga. Melhor dizendo, como cristão íntegro que é, deixa o juízo para Deus, e recorda que “portae inferi non praevalebunt”, as portas do inferno não prevalecerão, isto é, para a fé é impossível pensar que a Igreja possa perder a si mesma. Sempre haverá uma continuidade com a Tradição, também dentro das turbulências que a obscurecem e fazem pensar o contrário.

Há um estreito vínculo entre as questões lançadas em “Iota unum” e o discurso de Bento XVI de 22 de dezembro de 2005 à cúria romana, discurso capital, já que remete à interpretação do Concílio Vaticano II e sua relação com a Tradição…

Isso não muda o fato de que o estado da Igreja descrito por Amerio de maneira alguma seja pacífico.

No discurso de 22 de dezembro de 2005, Bento XVI comparou a babel da Igreja contemporânea com o marasmo que no século IV seguiu o Concílio de Nicéia, descrito por São Basílio, testemunha da época, como “uma batalha naval na escuridão da uma tempestade”

No epílogo que Enrico Maria Radaelli, fiel discípulo de Amerio, publica no final desta edição de “Iota unum”, a situação atual é, por sua vez, comparada com o cisma do Ocidente, ou seja, com os quarenta anos transcorridos entre os séculos XIV e XV que precederam o Concílio de Constança, com a cristandade sem guia e sem uma “regra da fé” segura, dividida contemporaneamente entre dois ou até três Papas.

Em todo caso, reeditado hoje depois de vários anos, “Iota unum” se confirma como um livro não só extraordinariamente atual, mas “construtivamente católico”, em harmonia com o magistério da Igreja. No epílogo, Radaelli o mostra de forma irrefutável. A conclusão do epílogo está reproduzida logo abaixo.

Quanto ao segundo livro, “Stat veritas”, publicado por Amerio em 1985, está em continuidade linear com o anterior. Nele compara a doutrina da Tradição católica com as “variações” que o autor reconhece em dois textos do magistério de João Paulo II: a carta apostólica “Tertio millennio adveniente”, de 10 de novembro de 1994, e o discurso ao Collegium Leoninum de Paderborn, de 24 de junho de 1996.

O retorno de “Iota unum” e “Stat veritas” às livrarias faz justiça tanto a seu autor como à censura de fato que se abateu durante longos anos entre ambos livros capitais do autor. Na Itália, a primeira edição de “Iota unum” foi reimpressa três vezes, com uma tiragem total de sete mil exemplares, apesar de suas quase setecentas páginas que obrigam uma leitura atenta. Logo foi traduzido para o francês, inglês, espanhol, português [nota do Fratres in Unum: não é de nosso conhecimento nenhuma tradução portuguesa de Iota Unum], alemão e holandês. Reuniu dezenas de milhares de leitores em todo o mundo. Mas era tabu para os órgãos católicos oficiais e para a autoridade da Igreja, assim como naturalmente era para os adversários. Caso mais único que raro, este livro foi um “long seller” clandestino. Continuou sendo pedido mesmo quando se esgotou nas livrarias.

O rompimento do tabu é recente, em congressos, comentários e revisões. “La Civiltà Cattolica” e “L’Osservatore Romano” também despertaram. No começo do ano de 2009 apareceu na Itália uma primeira reedição de “Iota unum”, junto aos textos clássicos de “Fè & Cultura”. Mas esta nova edição do livro, a cargo de Lindau, junto à de “Stat veritas”, tem além disso o valor do cuidado filológico por parte de Radaelli, o máximo conhecedor e herdeiro intelectual de Amerio. Seus dois vastos epílogos são verdadeira e realmente ensaios, indispensáveis para compreender não apenas o sentido profundo dos dois livros, mas também sua permanente atualidade. Lindau, com Radaelli a cargo da obra, tem a intenção de publicar nos próximos anos a imponente “opera omnia” de Amerio.

A seguir, apresentamos uma brevíssima degustação do epílogo a “Iota unum”: as considerações finais.

Toda a Igreja é um “iota”.

por Enrico Maria Radaelli

[…] A conclusão é que Romano Amerio se revela como o pensador mais atual e estimulante do momento. Com a elegância intelectual que distinguiu todos os seus escritos, com “Iota unum” ele oferece um pensamento muito construtivamente católico, preenchendo um espaço filosófico e teológico de outra forma incerto a respeito de questões sérias.

Ele identifica e indica que na Igreja há uma crise, uma crise que parece dominar a Igreja, embora mostre que não a dominou; que parece derrubá-la, embora não tenha derrubado.

Identifica logo e indica com clareza a causa primeira desta crise numa variação antropológica, e sobretudo, metafísica.

Identifica e indica por último os instrumentos lógicos (inscritos no Logos) necessários e suficientes (heroicamente suficientes, mas suficientes) para superá-la.

Amerio faz tudo isso desenvolvendo um “modelo de continuidade” com a Tradição, de ordenada e por isso perfeita obediência ao Papa, de íntima adesão à regra próxima da fé, que pareceria ilustrar totalmente como se compreende esta “hermenêutica da continuidade” pedida pelo Papa Bento XVI no discurso à cúria romana, de 22 de dezembro de 2005, para manter-se seguro no caminho da razão, o que significa dizer sobre o caminho da salvação, isto é, sobre o caminho da Igreja para alcançar a vida.

Romano Amerio: crítico sim, mas jamais descontinuador. Este “modelo de continuidade” totalmente ameriano espera hoje ser finalmente reconhecido, e por isso finalmente apreciado. Quem sabe, quiçá, também seguido, para o bem comum (teórico e prático, filosófico e ético, doutrinal e litúrgico) da Cidade de Deus, com a simplicidade e valores necessários.

Se com o uso da ambigüidade a da contradição se chegou a concluir uma revolução antropológica a favor das fantasias mais vãs, quanto mais se poderá concluir, a com menos esforço, uma ainda mais sã revolução antropológica a favor da Realidade, já que é mais fácil ser simples que complicado.

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Os livros:

Romano Amerio, “Iota unum. Studio delle variazioni della Chiesa cattolica nel secolo XX”, a cura di Enrico Maria Radaelli, prefazione del card. Darío Castrillón Hoyos, Lindau, Torino, 2009.

Romano Amerio, “Stat veritas. Séguito a Iota unum”, a cura di Enrico Maria Radaelli, Lindau, Torino, 2009.

Além da italiana, está disponível também a versão inglesa de “Iota unum”:

Romano Amerio, “Iota unum. A Study of Changes in the Catholic Church in the Twentieth Century”, Sarto House, Kansas City, MO, 1996.

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Os serviços anteriores de http://www.chiesa sobre Romano Amerio:

> Grandes retornos: Romano Amerio y las variaciones de la Iglesia católica
(15.11.2007)

> “La Civiltà Cattolica” rompe el silencio. Sobre Romano Amerio (23.4.2007)

> Fine di un tabù: anche Romano Amerio è “un vero cristiano”
(6.2.2006)

> Un filosofo, un mistico, un teologo suonano l’allarme alla Chiesa (7.2.2005)

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Sobre Enrico Maria Radaelli, discípulo de Amerio, e sobre seu livro “Ingresso alla bellezza”:

> Todos a ver el “sagrado teatro celestial”. Un teólogo hace de guía (15.2.2008)

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Recentemente apareceram na Itália outros dois livros que afronta desde o ponto de vista tradicionalista a questão das “variações” da Igreja católica durante o Concílio Vaticano II e depois deste.

O primeiro é uma tradução de um volume publicado nos Estados Unidos, escrito por um renomado filósofo católico da escola tomista, professor na Universidade de Notre Dame e membro da Pontifícia Academia Santo Tomás de Aquino:


Ralph McInerny, “Vaticano II. Che cosa è andato storto?”, Fede & Cultura, Verona, 2009.

O segundo tem por autor Monsenhor Brunero Gherardini, de 84 anos de idade, ex decano da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista “Divinitas”. Este livro é aberto com dois prefácios de caráter elogioso: um escrito pelo bispo de Albenga, Mario Oliveri, e o outro pelo arcebispo de Colombo, Sri Lanka, Albert Malcolm Ranjith, até poucos meses secretário da Congregação vaticana para o Culto Divino.

O autor sustenta que nos documentos – não infalíveis – do Concílio Vaticano II se produziu aqui e acolá rupturas efetivas com a Tradição. E conclui com uma súplica a Bento XVI para que restaure a doutrina autêntica:

Brunero Gherardini, “Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare”, Casa Mariana Editrice, Frigento (Avellino), 2009.