Quantos equívocos sobre o acolhimento aos gays.

Por Roberto Marchesini – La Nuova Bussola Quotidiana | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: A pedido de um amigo, fui obrigado a ocupar-me do Sínodo Extraordinário atualmente em curso e  a ler o artigo de Marco Tosatti sobre “o acolhimento aos filhos gays.” Descubro então que neste Sínodo sobre a Família foi convidado um casal australiano que falou sobre a importância da sexualidade no casamento. Não se sabe bem por qual motivo, mas o fato é que esse casal achou oportuno acrescentar outra carne ao fogo falando de acolhimento aos “filhos gays.” Estas são suas palavras entre aspas relatados por Tosatti: “Nossos amigos estavam planejando a sua reunião de família para o Natal, quando seu filho gay disse que queria levar para casa o companheiro. Eles acreditavam piamente nos ensinamentos da Igreja e sabiam que os seus netos teriam gostado de vê-los acolhendo o seu filho e seu parceiro na família. Sua resposta pode ser resumida em três palavras: É o nosso filho “.

Obviamente (eu sabia, e queria evitá-lo), eu fui assaltado pelas perguntas: por que, em um Sínodo em que a presença de leigos não é admitida, esse casal foi convidado? Por quem? Por que eles? Por que eles introduziram o tema da homossexualidade? Quem os convidou sabia da sua intervenção? Sua afirmação conclusiva nos recorda um documento intitulado “Sempre nossos filhos”, publicado em 1997 pela Comissão sobre Casamento e Família da Conferência Episcopal dos Estados Unidos. Nove dias após a aprovação do documento, o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Ratzinger, enviou aos bispos uma carta duríssima na qual ele pedia que fossem feitas pelo menos dez modificações e alguns acréscimos ao documento. A referência a esse documento seria intencional ou acidental?
Também no Vatican Insider, desta vez assinado por Andrea Tornielli, eu li que de acordo com um não identificado padre participante do Sínodo, “expressões tais como” intrinsecamente desordenados “(usado sobre a homossexualidade, ed) ou ” mentalidade contraceptiva” não ajudam a levar as pessoas a Cristo”.
Parece quase certo que os Padres sinodais decidiram aceitar as exigências da conferência internacional teológica “Streets of Love” (os caminhos do amor), promovido pelo Fórum Europeu dos cristãos LGBT e realizada com a contribuição  do Ministério da Educação da Holanda(?)
O que dizer?
Em primeiro lugar, podemos dizer que a Igreja prega de modo explícito o acolhimento das pessoas com tendências homossexuais desde 1975 (cfr. Pessoa Humana § 8;. Catecismo da Igreja Católica § 238), e o fato de que no Sínodo o convite ao acolhimento a essas pessoas soe como uma novidade é desconcertante.
Em segundo lugar, deve-se dizer que o acolhimento das pessoas com tendências homossexuais não implica de forma alguma na aceitação dessas mesmas tendências.  Este é o motivo pelo qual o Magistério não fala de “homossexual” ou “gay”, mas de “pessoas com tendências homossexuais”, fazendo uma clara distinção entre pessoa e tendências. É uma distinção importante, explicada pelos documentos, nos quais lemos (Homosexualitatis problema, § 16): “A Igreja oferece aquele contexto no qual hoje se sente uma extrema urgência em cuidar da pessoa humana, exatamente quando ela se recusa a considerar a pessoa puramente como um “heterossexual” ou “homossexual” e enfatiza que todos têm a mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça”, um filho de Deus, herdeiro da vida eterna.
Ainda mais decisivo,  monsenhor Livio Melina, presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, escreve: “[…] As pessoas com inclinações homossexuais são homens e mulheres e, portanto, […] seria oportuno superar o termo “homossexual” e substituí-lo por “pessoa com inclinações homossexuais”, pois enquanto uma inclinação não assume significados relevantes, não pode definir exaustivamente o sujeito”. É a velha distinção aristotélica entre “substância” e “acidente”. Mas tudo isso, nesse Sínodo parece não ter o direito de cidadania, e assim se fala tranquilamente em “filho gay” (nem mesmo “homossexual”, apenas “gay” como se todas as pessoas com tendências homossexuais fossem ativistas ou homossexuais ativos), como se a homossexualidade fosse substância  (e não, como ensina o Magistério, acidente).
Enfim, que comentários poderíamos fazer sobre o que disse o anônimo padre sinodal segundo o qual, definir a homossexualidade como uma inclinação “objetivamente desordenada” não ajudaria a trazer as pessoas para Cristo? Começamos por dizer que (ainda) é o Magistério que define a homossexualidade como “objetivamente desordenada”, porque “é […] uma tendência, mais ou menos forte direcionada a um comportamento intrinsecamente mal do ponto de vista moral ” (Homosexualitatis problema § 3;. ver Catecismo da Igreja Católica § 2358). Os atos homossexuais, de fato, são considerados (sempre de acordo com o Catecismo) ofensas graves contra a castidade, simplesmente porque são atos sexuais praticados fora do casamento, “excluem do ato sexual o dom da vida, não são o resultado de uma verdadeira complementariedade afetiva e sexual “(ibid). Não vejo outros modos para não definir dessa maneira os atos homossexuais, senão se: 1) elevar o “casamento gay” a sacramento   (e, pelo menos sobre isso, não me parece que o Sínodo queira conceder tal abertura) ou 2) modificar a doutrina que considera lícitos somente os atos sexuais castos (ou seja, abertos à vida e que sejam o dom total de si ao outro).
Na verdade, se a proposta do Cardeal Kasper tivesse que ser aceita (permitir que divorciados que têm relacionamento sexual com um parceiro que não é o cônjuge se aproximem da Eucaristia, sem arrependimento, confissão e absolvição), esta seria, obviamente uma doutrina sem raízes. E então, por que continuar a considerar como pecaminosos os atos sexuais por exemplo, entre dois namorados? Desta forma, já não poderiam ser considerados como pecaminosos os atos homossexuais, e portanto a homossexualidade já não seria uma inclinação “objetivamente desordenada”.
O discurso poderia continuar questionando por que, a este ponto, se quer abolir apenas o o sexto mandamento da Lei de Deus? Por que não abolir também o quinto, o sétimo ou o oitavo? Por que não resolvem abolir de vez o primeiro mandamento que, falando com toda franquza, também não ajuda em nada a trazer as pessoas para Cristo?
Vou parar por aqui para não ser acusado de querer me auto intitular teólogo.
Resta apenas a impressão desoladora de que pelo menos parte dos padres sinodais, abandonando o uso do latim para o atual italiano como língua oficial, parecem abandonar também o Magistério para abraçar a mentalidade deste mundo como pensamento oficial.

Divulgado documento final do Sínodo, revisto em alguns de seus pontos polêmicos.

Atenção – divulgado hoje pela Santa Sé:

Como, por ora, não temos condições de traduzir os textos acima, os comentários de leitores a respeito são mais que bem-vindos.

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Vaticano elimina “boas-vindas” a gays em documento final do Sínodo.

UOL – O Vaticano eliminou a expressão “boas-vindas aos homossexuais” do relatório final do Sínodo dos Bispos sobre a família convocado pelo papa Francisco. O documento foi aprovado neste sábado (18), após duas semanas de reuniões.

A versão final do documento do Vaticano foi radicalmente revista na referência sobre os homossexuais, eliminando linguagem anterior mais positiva.
O resultado é uma derrota para o papa Francisco, que vinha defendendo que a igreja adotasse uma posição mais includente tanto aos homossexuais quanto aos católicos divorciados ou que voltaram a se casar.
Ao todo, 183 religiosos participaram da votação de cada um dos 62 parágrafos. Para que fosse aprovado, cada capítulo deveria receber dois terços de votos favoráveis. Três não atingiram essa maioria — dois sobre os homossexuais e um sobre o acesso dos divorciados que voltaram a se casar aos sacramentos da igreja.
Após uma primeira versão lançada na segunda-feira (13), os bispos conservadores prometeram alterar o texto, dizendo que houve confusão entre fiéis e ameaçou prejudicar a “família tradicional”.
Os dois parágrafos finais do documento que tratam dos homossexuais foi intitulado “atenção pastoral para com as pessoas com orientações homossexuais”. A versão anterior, de três parágrafos, era chamada de “boas-vindas aos homossexuais.”
A versão anterior falava em “aceitar e valorizar orientações sexuais (dos homossexuais)” e dar-lhes “uma casa acolhedora”. A versão final eliminou essas frases.
A nova versão usa um termo mais vago, repetindo declarações anteriores da igreja de que os gays “devem ser acolhidos com respeito e sensibilidade” e que a discriminação contra gays “deve ser evitada”.
A versão final sublinhou ainda que “não há fundamento absoluto” para comparar o casamento homossexual ao casamento heterossexual, chamando o casamento heterossexual “plano de Deus para o matrimônio e da família”.
Segundo o cardeal Gianfranco Ravasi, o papa Francisco vai decidir se o documento será “divulgado imediatamente”. Até o momento, o papa não se pronunciou sobre o assunto, “apesar de seu estilo ser de difusão de documentos”, acrescentou o cardeal, chefe da comissão que elaborou a mensagem do Sínodo.
O documento foi aprovado com 158 votos a favor, de um total de 174, ressaltou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.   Neste domingo (19) será encerrado oficialmente o encontro, que reuniu no Vaticano 253 bispos e membros da Igreja Católica. (Com agências internacionais)

Sobre a Comunhão aos divorciados recasados, até o Beato Fra Angélico diz não.

Por Sandro Magister | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Irmã Gloria Riva é a fundadora e priora das Monjas da Adoração Eucarística, um convento em Pietrarubbia nas colinas de Montefeltro. A missão que ela abraçou é a de educar os fiéis à adoração e divulgar a “a paixão pela beleza que salva”.

A beleza é também aquela da arte cristã, da qual Irmã Gloria é uma profunda estudiosa. O jornal oficial da Igreja italiana “Avvenire” comenta uma vez por semana sobre alguma obra de arte com leituras surpreendentes e geniais. Na TV 2000, durante a primavera passada, ilustrou o Evangelho de cada missa dominical com as formas e cores de grandes mestres da pintura.

Mas, desta vez, é sobre o Sínodo que se intervém contra a proposta de dar a Comunhão aos que se encontram numa condição matrimonial irregular. E isso é feito assumindo como mestre o Beato Fra Angélico com a sua representação da Última Ceia. (Fra Angélico foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 3 de outubro de 1982 e é considerado o patrono dos artistas.)

Todo seu comentário foi publicado em A Bússola Quotidiana. Aqui estão os principais trechos.

O BEATO FRA ANGELICO DESMENTE KASPER

Por Gloria Riva

O afresco de Beato Fra Angélico decora uma cela do convento Florentino de São Marco mostrando a comunhão distribuída aos apóstolos. […] Esta versão particular da Última Ceia é a predileta de Fra Angélico em relação à celebração da Eucaristia. A mesa, de fato, está nua como uma mesa de altar e Cristo distribui o pão e o vinho. Os oito discípulos sentados à mesa, significam os convidados das núpcias, aqueles dos quais fala o Evangelho do domingo passado, XXVIII do Tempo Comum. É o povo do oitavo dia que em relação profunda com o mistério do Salvador senta-se à mesma mesa. No entanto, existem quatro bancos vazios, deixados para outros quatro chamados à mesa e que estão esperando pacientemente por seu momento de joelhos, ou seja, em um ato penitencial. Esses quatro simbolizam a humanidade que quer se aproximar da mesa do Senhor, mas ainda não pode. Entre estes quatro, na mesma postura, na mesma expectativa, está Judas Iscariotes. Podemos reconhecê-lo pela auréola negra e pela sua posição um pouco afastada.

A posição de joelhos nos informa sobre a qualidade desse alimento que requer de nós um coração perfeito e contrito. O afresco nos leva a meditar quando o comparamos com os tipos de discursos que estão sendo feitos hoje com relação à celebração da Eucaristia e o mistério que essa significa. Hoje em dia, receber a Comunhão é visto, na minha opinião, com excessiva banalidade. É como se a Eucaristia fosse o fim natural da Missa e não a coroação para aqueles que são dignos de se aproximar da mesa do Senhor. A facilidade com que nos últimos anos os cristãos têm se aproximado da Comunhão, sem as disposições necessárias e sem – frequentemente – terem passado pela confissão gerou uma redução do mistério e do sacramento. Certamente foi necessário corrigir algum legado jansenista excessivamente restritivo e escrupuloso pela Eucaristia, mas, infelizmente, como muitas vezes acontece na história, se caiu no extremo oposto, sem que se chegasse num modo de manter tudo em equilíbrio. […]

A Eucaristia é uma injeção de eternidade, prepara e habitua o homem a estar com Cristo, mas — como diziam os Padres da Igreja – esta é como o sal, ela te preserva no estado em que você se encontra. Se você está na graça de Deus, ela te preserva no bem; se você não está na graça de Deus só servirá para acelerar o processo de corrupção. E quem nos diz isso é a própria história de Judas que, depois de ter comido o bocado do pão saiu e sua saída foi nefasta. Não só traiu seu Mestre com quem dividia a mesa, mas, e este foi o pior, se desesperou do seu perdão. Ele não teve forças para se arrepender e voltar ao seio da comunidade. Ele deu a si mesmo um juízo inapelável e tirou sua própria vida.

Hoje em dia se concede a Eucaristia com tamanha facilidade mesmo àqueles que embora regularmente casados ou simplesmente noivos comungam sem passar pela confissão; portanto, também no discernimento sobre estados de vida irregulares e incompatíveis com o sacramento da comunhão com Cristo, há confusão e incertezas.

Estamos certos de que é necessário um juízo de misericórdia, mas sem esquecer a verdade. Temos certeza de que muitas pessoas têm de ser acompanhadas dentro de um caminho novo, de consciência e santidade, mas isto sem esquecer as ações que precedentemente tiveram lugar em suas vidas.

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Postscript – Na tarde da segunda-feira, 13 de outubro, “L’Osservatore Romano” forneceu uma primeira e pálida narrativa da batalha campal que eclodiu pela manhã na assembléia do Sínodo, após a leitura do “Relatio post disceptationem” redigida pelo cardeal-relator Péter Erdo, em colaboração com – “a tratti prevaricante”, como o próprio Erdö sugeriu em uma entrevista coletiva pela manhã – o secretário especial Bruno Forte.

No fogo cruzado de pelo menos 41 intervenções, tomaram a palavra entre outros cardeais, Pell, Ouellet, Filoni, Dolan, Vingt-Trois, Burke, Rylko, Müller, Scola, Caffara todos contrários a uma abertura ao segundo casamento como havia sido vislumbrado pelo Cardeal Kasper, que também interveio.

Mas entre os protestos dos quais toma nota o “L’Osservatore Romano”, há também aqueles que dizem respeito aos parágrafos (escritos por  Bruno Forte) sobre a homossexualidade, em que se  “pede uma formulação que leve em conta as pessoas, mas que não contradiga de algum modo a doutrina católica sobre o casamento e a família”.

E ainda “foi  proposta uma palavra mais forte sobre o drama do aborto, bem como sobre a questão da fertilidade assistida.”

Mas “sobretudo foi invocado um grande encorajamento profético dirigido a todas aquelas famílias que, mesmo à custa de enormes sacrifícios, testemunha todos os dias a verdade cristã sobre o casamento. Em suma – foi enfatizado – que seria oportuna uma afirmação positiva do amor conjugal, bem como o valor social das famílias “.

Um Sínodo altamente problemático.

Por Prof. Hermes Rodrigues Nery | Fratres in Unum.com: As apreensões em torno do Sínodo da Família se justificam. A crise é grave, gravíssima. Temem-se as falsas soluções. A pressão é muito forte por uma estratégia sutil: nada muda-se na doutrina, apenas no tom, na abordagem. Aí é que está o perigo. Não dá para esconder o desconforto, a perplexidade, a angústia dos católicos, em todo o mundo. “Ao menos um bispo perguntou sobre o que ocorreu com o conceito de pecado. A palavra ‘pecado’ aparece raramente no relatório de 5 mil palavras”, afirmou  John Travis. Religiosos e leigos sérios são procurados por fiéis sinceros e devotos autênticos, que querem entender o que está acontecendo. Muitos evitam se posicionar pois temem o “linchamento moral”, a represália que podem sofrer se alguma opinião for considerada intempestiva. Mas não são lideranças católicas leigas que começam a sair do silêncio e manifestar graves preocupações.  São cardeais da envergadura de Stanislaw Gadecki (Polônia), Wilfrid Fox Napier (África do Sul) e Raymond Burke (Estados Unidos) que reagem. E tais reações se intensificaram após a apresentação da Relatio post disceptationem.

Não é a mídia internacional que está fazendo sensacionalismo e distorcendo os fatos, como falam aqueles que tentam encobrir o mal estar geral. São os próprios cardeais que querem evitar que as propostas apresentadas pelos alemães Walter Kasper e Reinhard Marx, com a anuência do prelado italiano Bruno Forte, sejam contempladas no documento final. E pior ainda, que sejam acatadas nas decisões que serão tomadas após as deliberações, no próximo ano. “Nada será mudado na doutrina”, enfatizam os defensores das propostas mais aggiornadas. Mas, é justamente isso que preocupa. Manter a doutrina e mudar o tom: em vez de condenar o pecado, recorrer a misericórdia como retórica quando direcionadas a pecadores não penitentes.

Que efeitos serão acarretados com a “lei da gradualidade”, “que permite colher os elementos positivos em todas as situações até agora definidas como pecadoras pela Igreja”, como destacou o Prof. Roberto de Mattei? A mudança no tom visa isso: relativizar e minimizar as conseqüências do pecado, algo que o próprio Jesus evitou, como fica evidente no episódio da mulher adúltera. Qual foi a atitude de Jesus para com a pecadora? Jesus disse: “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”, evitando o apedrejamento da mulher adúltera, porque estava diante de uma mulher inteiramente arrependida. E não se despediu dela sem dizer: “Vai e não tornes a pecar!”. Teve misericórdia para com a mulher pecadora, porque ela estava arrependida, e não deixou de exortá-la a não mais pecar. Esse é o exemplo deixado pelo Divino Mestre.

Sabemos que “a letra mata, o espírito vivifica”. A sã doutrina católica não é apenas um texto normativo, mas uma via propositiva, que requer ser vivida, para que a adesão ao Evangelho seja realmente testemunhada. Daí ser uma via exigente, que nos obriga a escolhas difíceis, a decisões penosas, muitas vezes, porque a liberdade justamente nos é dada para renunciar ao mal. Se a liberdade acaba sendo condescendente com o mal, a pessoa deixa de ser livre e se torna escrava das piores ilusões. Daí pode perder-se por deixar de recorrer à graça divina, atenuada que está a sua consciência do pecado, por uma misericórdia que apenas o anestesiou e não o levou à conversão. O papel de um Sínodo é, portanto, confirmar a fé, a beleza e a riqueza da sã doutrina católica, e não deixar-se seduzir por uma estratégia que coloca na sombra a realidade do pecado, e instrumentaliza a misericórdia numa postura que talvez não leve o pecador a tomar consciência do seu pecado, dificultando assim o seu verdadeiro arrependimento.

A mudança no tom, principalmente, no campo da moral familiar, acentua as apreensões existentes, quando o conceito do pecado deixa de ser devidamente ressaltado. É uma estratégia, portanto, de risco, pois pode acarretar o contrário do que se pretende, dando mais debilidade e criando mais dificuldade na vivência da fé católica. Por esse motivo o Sínodo tornou-se altamente problemático. E mais: os estudos mais recentes comprovam que forças políticas, culturais e econômicas agem (de fora, com parte do clero contagiado e conivente com a agenda globalista), pressionando o Vaticano a mudar o tom e a flexibilizar no modo como sempre se posicionou em relação aos “valores inegociáveis”. A mudança no tom é a estratégia desejada pelos que interessam descatolizar a Igreja e neutralizar resistências no processo já em curso, e também viabilizar outras mudanças mais profundas que muitos desejam há tempos empreender, e querem fazer o quanto antes, visando minar assim a sã doutrina. Daí a importância da posição tomada especialmente pelos cardeais Brandmüller, Burke, Caffarra, De Paolis e Müller, tão bem expressa no título da obra que eles recentemente publicaram e que diz tudo o que cada católico deve fazer, em meio aos tempos convulsivos em que vivemos: “Permanecer na Verdade de Cristo”.

Relatórios dos grupos de discussão do Sínodo querem mais contexto doutrinal e linguagem “profética” no documento final.

Relatórios das Comissões divididas por idiomas representam um ataque à “busca por um populismo complacente que silencia e amordaça” ensinamento da Igreja.

Por John Thavis, 16 de outubro de 2014| Tradução: Fabiano Rollim – Fratres in Unum.com: Relatórios dos 10 grupos de discussão do Sínodo dos Bispos estão surgindo [ndt: foram publicadas ontem], e muitos deles se opõem seriamente a um relatório preliminar – a relatio post disceptationem – que há apenas três dias parecia inaugurar um novo capítulo na tentativa de aproximar a Igreja de casais que coabitam sem ter o sacramento do matrimônio, de casais de pessoas divorciadas e de “casais” gays.

Esses relatórios, vistos como um todo, representam um verdadeiro teste para o Evangelho da “misericórdia” pregado pelo Papa Francisco, porque não apenas articulam o desejo por uma qualificação doutrinal no documento do sínodo, mas também criticam o que um grupo de discussão chamou de “busca por um populismo complacente que silencia e amordaça” o que a Igreja ensina sobre o casamento e a família. Mais de uma pessoa observou que o termo “populismo complacente” talvez seja direcionado em parte ao próprio Papa Francisco.

Os relatórios foram apresentados à assembleia do Sínodo após quatro dias de discussão, juntamente com várias centenas de propostas de correções para a relatio preliminar. É certo que tais relatórios refletem um processo estabelecido para melhorar a relatio, de forma que era esperado que se encontrassem pedidos de esclarecimentos, muitos dos quais parecendo ser apoiados pela maioria, e não endossos acalorados do texto.

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Cardeal Napier adicionado à Comissão para elaboração do Relatório Final do Sínodo.

Medida é tomada após comentários discriminatórios de Kasper sobre os bispos africanos. Segundo o purpurado alemão, os bispos da África não são levados em conta no Sínodo.

Por Catholicism.org | Tradução: Fratres in Unum.com – O  Catholic Herald informa que um Cardeal Sul-Africano sem papas na língua foi adicionado à comissão que irá elaborar o relatório final sobre o Sínodo:

O Papa Francisco acrescentou o cardeal Wilfrid Napier ao comitê de redação que irá produzir o relatório final sobre o Sínodo extraordinário sobre os desafios pastorais para a Família.

A nomeação é importante, porque o cardeal Sul-Africano fez críticas ao relatório preliminar produzido pela comissão de redação no início desta semana.

Essa iniciativa também pode ser um esforço para compensar a indignação causada por comentários inflamados do Cardeal Kasper fazendo pouco caso da contribuição dos Bispos da África do Sínodo. Alguns estão vendo essas declarações do cardeal alemão como racistas, xenófobicas e eurocêntricas.

Ironicamente, os comentários ultrajantes do cardeal foram feitos em nome de “globalismo” – que pode facilmente levar a desconsiderar as observações dos bispos alemães, que, afinal de contas, supervisionam um catolicismo demograficamente moribundo, produzidos pelo adesão ao liberalismo, libertinagem sexual e outros padrões não-católicos do mundo.

Homossexualidade: contra a “Relatio” também falam São Paulo e o Censo.

Por Sandro Magister | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: A coincidência poderia ser casual, mas o fato é que na segunda-feira, 13 de outubro, no mesmo dia em que na arena política italiana, tanto o partido de Matteo Renzi como o de Silvio Berlusconi anunciaram seu apoio à legalização das uniões homossexuais, do outro lado do Tibre o Secretário Especial do Sínodo sobre a família, o Arcebispo Bruno Forte, disse que espera a mesma coisa, porque “é uma questão de civilidade.”

Forte é o autor dos três explosivos parágrafos sobre os homossexuais na “Relatio post disceptationem”, que em vão a Secretaria-Geral do Sínodo, em seguida, tentou desclassificar dizendo se tratar de um mero “documento de trabalho”, desprovido de qualquer valor magisterial.

Na sala do sínodo e depois nos dez círculos linguísticos em que os padres sinodais prosseguiram o confronto, houve uma verdadeira revolta contra esses três parágrafos, mas nada mais conseguiria neutralizar o impacto sobre a opinião pública em todo o mundo. Se estas são as teses sobre as quais este sínodo está trabalhando, isso significa que tais teorias agora gozam de plenos direitos de cidadania no vértice da Igreja.

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Resistir à tendência herética. O relatório do Cardeal Erdö elimina com um só golpe o pecado e a lei natural.

Por Roberto de Mattei – Il Foglio, 15-10-2014 | Tradução: Fratres in Unum.com – Eliminado o sentido do pecado; abolidos os conceitos de bem e de mal; suprimida a lei natural; arquivada qualquer referência a valores positivos como virgindade e castidade. Com o relatório apresentado em 13 de outubro de 2014 no Sínodo sobre a família pelo Cardeal Péter Erdö, a revolução sexual irrompe oficialmente na Igreja, com consequências devastadoras para as almas e a sociedade.

A Relatio post disceptationem elaborada pelo Cardeal Erdö é o relatório resumitivo da primeira semana de trabalhos do Sínodo e aquele que orienta as suas conclusões. A primeira parte do documento pretende impor, com uma linguagem derivada do pior ‘Sessenta e oito’ [NdT: Revolução anarquista da Sorbonne, de maio de 1968], a “mudança antropológico-cultural” da sociedade como um “desafio” para a Igreja. Diante de um quadro que da poligamia e do “casamento por etapas” africanos chega à “prática da convivência” da sociedade ocidental, o relatório encontra a existência de “um difuso desejo de família”. Nenhum elemento de avaliação moral está presente. À ameaça do individualismo e do egoísmo individualista o texto contrapõe o aspecto positivo da “relacionalidade”, considerada um bem em si, sobretudo quando tende a transformar-se em relação estável (nos. 9-10).

A Igreja renuncia a emitir juízos de valor para limitar-se a “dizer uma palavra de esperança e de sentido” (no. 11). Afirma-se em seguida um novo surpreendente princípio moral, a “lei da gradualidade”, que permite colher os elementos positivos em todas as situações até agora definidas como pecadoras pela Igreja. O mal e o pecado propriamente não existem. Existem apenas “formas imperfeitas de bem” (no. 18), segundo uma doutrina dos “graus de comunhão” atribuída ao Concílio Vaticano II. “Tornando-se portanto necessário um discernimento espiritual em relação às coabitações, aos matrimônios civis e aos divorciados recasados​​, compete à Igreja reconhecer que a semente do Verbo se espalhou além das fronteiras visíveis e sacramentais” (no. 20).

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Sínodo: os bilhetinhos do Papa.

Qual seria o conteúdo dos bilhetinhos que o Papa Francisco escrevia e mandava ao Secretário Geral do Sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri, durante as assembléias sinodais? Curiosidade sem esperança. Segundo o presidente da Conferência dos bispos poloneses, o relatório lido ontem no Sínodo: “inaceitável para muitos bispos”.

Por Marco Tosatti – La Stampa | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Infelizmente esse é um desejo impossível de ser realizado, mas eu pagaria não pouco para saber o que estava escrito nos bilhetinhos que durante a assembléia do sínodo, Papa Francisco escrevia e, em seguida, enviava ao Secretário-Geral do Sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri.

Bergoglio e Baldisseri recém-criado cardeal.
Bergoglio e Baldisseri recém-criado cardeal.

O Cardeal Baldisseri lia, tomava nota e em seguida retornava a mensagem ao Papa, que a metia no bolso. Esse é um fenômeno que se repetiu muitas vezes nos dias de reunião da Assembléia Geral do Sínodo, e que foi observado por vários participantes. Ele deu origem à impressão de que o Papa estava passando as disposições ao Secretário-Geral.

Desde ontem, os Padres estão nas Comissões Linguísticas. Mas entre os Padres sinodais, há um mal-estar generalizado com relação à gestão global do Sínodo, e pelo fato de que muitos não se reconhecem no documento, assinado pelo Cardeal Erdo, mas escrito por outros, o que marcou o fim da primeira fase da Assembléia Geral.

O mesmo Erdo sublinhou a sua alienação parcial, indicando o Arcebispo Bruno Forte como o autor das passagens relativas à homossexualidade.

É um mal-estar presente em várias personalidades de destaque, como deixou claro o Presidente da Conferência Episcopal polonesa, Cardeal Gadecki.

Em entrevista à Rádio Vaticano, o prelado afirmou sem meio-termos que a “Relatio” apresentada ontem é “inaceitável para muitos bispos e se distancia do magistério de Papas anteriores, contém traços de uma ideologia anti-matrimonial e demonstra uma falta de visão clara da parte da Assembléia sinodal”. Em sua entrevista, Dom Gadecki ressalta que “o ponto que trata da possibilidade de casais do mesmo se responsabilizarem por crianças é apresentado como algo aceitável. É um dos erros do texto, ao invés de incentivar a fidelidade e os valores familiares, aceitar as coisas como elas se apresentam. Dá a impressão de que o ensino da Igreja tenha sido até agora implacável e só agora se começa a ensinar a misericórdia”.

Sínodo, outra censura. Protestos.

Por Marco Tosatti – La Stampa | Tradução: Fratres in Unum.com – Uma outra censura, e os Padres Sinodais se rebelam.

A Secretaria Geral do Sínodo havia anunciado sua decisão de não publicar os relatórios dos Circuli Minores.

O Cardeal Erdo tomou a palavra, tomando implicitamente distância do relatório que trazia sua assinatura, e dizendo que, se aquela “disceptatio” havia sido publicada, deveria-se publicar também a dos Circuli Minores, as Comissões.

A sua intervenção foi seguida por uma chuva de numerosas outras no mesmo tom, reforçada por aplausos trovejantes.

O Secretário do Sínodo, Cardeal Baldisseri, olhava para o Papa, como que a procura de conselho e luzes, e o Papa permanecia calado e sério.

Mudos também o sub-secretário do Sínodo, Fabene, Forte, Schönborn e Maradiaga.

Kasper não estava lá.

Por fim, o padre Lombardi anunciou que os relatórios das comissões seriam publicados.