Cardeal Caffarra sobre Casamento, Família, Amoris Laetitia, e confusão na Igreja.

Por Maike Hickson, One Peter Five, 11 de julho de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: Apresentamos uma entrevista exclusiva com o Cardeal Carlo Caffarra, conduzida pelo Dr. Maike Hickson de OnePeterFive. O Cardeal Caffarra é Arcebispo Emérito de Bolonha e ex-membro do Pontifício Conselho para a Família. Foi em uma carta para o Cardeal Caffarra que a Irmã Lúcia de Fátima revelou que “a batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre o casamento e a família.”

Maike Hickson (MH): O senhor falou, em uma entrevista recente, sobre a exortação papal Amoris Laetitia, e o senhor disse que especialmente o capítulo 8 não é claro e já tem causado confusão mesmo entre os bispos. Se o senhor tivesse a oportunidade de falar com o Papa Francisco sobre essa matéria, o que o senhor diria a ele? Qual seria sua recomendação sobre o que o Papa Francisco poderia e deveria fazer agora, dado que há tanta confusão?

Cardeal Caffarra
Cardeal Caffarra

Cardeal Caffarra (CC): Na Amoris Laetitia [308] o Santo Padre Francisco escreve: “Eu entendo aqueles que preferem um cuidado pastoral mais rigoroso que não deixa espaço para confusão.” Eu concluo dessas palavras que Sua Santidade percebe que os ensinamentos da Exortação levantariam confusão à Igreja. Pessoalmente, desejo – e que é como tantos dos meus irmãos em Cristo (cardeais, bispos, e os fiéis leigos igualmente) também pensam – que a confusão deveria ser removida, não porque eu prefiro um cuidado pastoral mais rigoroso, mas porque, em vez disso, eu simplesmente prefiro um cuidado pastoral mais claro e menos ambíguo. Isso dito –  com todo o devido respeito, afeição e devoção que sinto a necessidade de manter para com o Santo Padre –  eu diria a ele: “Santidade, por favor esclareça estes pontos. a) Quanto do que Vossa Santidade disse na nota de rodapé 351, do parágrafo 305, também é aplicável aos casais divorciados e recasados que desejam ainda de alguma maneira continuar a viver como marido e mulher; e assim quanto do que foi ensinado pela Familiaris Consortio No. 84, pela Reconciliatio Poenitentia No. 34, pela Sacramenttum unitatis No. 29, pelo Catecismo da Igreja Católica No. 1650, e pela doutrina teológica comum, deve ser considerado agora abrogado? b) O constante ensinamento da Igreja – como foi também recentemente reiterado na Veritatis splendor, No. 79 – é que há normas de moral negativa que não permitem exceções, porque elas proíbem atos que são intrinsecamente desonrosos e desonestos – tais como, por exemplo, o adultério. Esse ensinamento tradicional ainda se acredita ser verdadeiro, mesmo após a Amoris Laetitia?” Isso é o que eu diria ao Santo Padre.  

Se o Santo Padre, em seu supremo julgamento, tiver a intenção de intervir publicamente para remover essa confusão, ele tem à sua disposição muitos meios diferentes de fazer isso.

MH: O senhor é um teólogo moral. Qual o seu conselho para os católicos confusos a respeito do ensinamento moral da Igreja Católica sobre o matrimônio e a família? Como deve agir uma consciência magisterialmente (lit. authoritatively) bem formada quando ela se depara com questões como contracepção, divórcio e “recasamento”, bem como a homossexualidade?

CC: A condição na qual o próprio matrimônio se encontra hoje no Ocidente é simplesmente trágica. Leis civis mudaram a definição, porque elas erradicaram a dimensão biológica da pessoa humana. Elas separaram a biologia da geração da genealogia da pessoa. Mas, devo falar sobre isso mais tarde.  Para os fiéis católicos que estão confusos sobre a Doutrina da Fé a respeito do matrimônio, eu simplesmente digo: “Leia e medite sobre o Catecismo da Igreja Católica nn.1601-1666. E quando você ouvir alguém conversar sobre casamento – mesmo se (isso for) feito por padres, bispos, cardeais – e você então verificar que não está em conformidade com o Catecismo, não os ouça. Eles são cegos guiando cegos.”

MH: O senhor poderia nos explicar, nesse contexto, a concepção moral de que nada que é ambíguo vincula a consciência católica, e especialmente então quando está provado ser intencionalmente ambíguo?

CC: A lógica nos ensina que uma proposição é ambígua quando pode ser interpretada em dois significados diferentes e/ou contrários. É óbvio que tal proposição não pode ter nem nosso assentimento teórico nem nosso assentimento prático, porque não tem um significado certo e claro.

MH: Para ajudar os católicos neste tempo de tanto equívoco ambíguo e “reserva mental”, haveria algo que o Papa Pio XII poderia ainda especialmente ensinar-nos, com respeito a questões de matrimônio e divórcio, e sobre a formação das criancinhas para a Vida Eterna, uma vez que se tem escrito tão amplamente sobre essas matérias?

CC: O Magistério de Pio XII sobre o matrimônio e a criação dos filhos era muito rico e freqüente. E com efeito, depois da Sagrada Escritura, ele é o autor mais citado pelo Vaticano II. Parece-me que há dois discursos que são particularmente importantes para responder à sua questão. O primeiro é a “Rádio Mensagem sobre a correta formação de uma consciência cristã na juventude,” 23 de março de 1952, in AAS vol. 44, 270-278. A segunda é a “Allocution to the Fédération Mondiale des Jeunesses Feminines Catholiques,” (n.t. Alocução à Federação Mundial da Juventude Feminina Católica) ibid. 413-419. Essa carta é de grande importância magisterial, pois ela trata de situações éticas.

MH: O jesuíta alemão padre Klaus Mertes, disse em uma entrevista a um jornal alemão que a Igreja Católica “deveria agora ajudar a estabelecer um direito humano à homossexualidade.” Qual deveria ser a resposta adequada da Igreja a tal proposta? Inclusive a sanção disciplinar adequada, bem como a doutrina moral.

CC: Eu honestamente não posso entender como um teólogo católico pode pensar e escrever sobre um direito humano à homossexualidade. No sentido preciso, um direito (individual) é uma faculdade moralmente legítima e legalmente protegida para realizar uma ação. O exercício da homossexualidade é inerentemente irracional e portanto desonesto. Um teólogo católico não pode – não deve – pensar que a Igreja tem de lutar para “estabelecer um direito humano à homossexualidade.”

MH: Mais fundamentalmente, em que medida os homens devem ter um direito humano – p. ex., um clamor por justiça – para fazer o que é errado aos olhos de Deus, tal como, por exemplo, praticar a poligamia?

CC: A questão dos direitos individuais agora mudou substancialmente em seu significado. Ela identifica o direito com seus próprios desejos. Mas, não temos aqui o espaço para abordar essa questão do ponto de vista do legislador humano.

MH: Uma vez que o Padre Mertes enfatizou em sua entrevista a importância de separar a procriação do matrimônio para tornar o caminho livre para a homossexualidade – o senhor poderia explicar-nos o ensino moral tradicional da Igreja sobre os fins ordenados do matrimônio e o primado da procriação e educação das crianças para o Céu? Por que a procriação é um propósito tão importante do matrimônio? Por que não poderia ser que o amor mútuo e o respeito entre os casais viesse primeiro e tomasse a precedência? O senhor vê as conseqüências práticas se são invertidos os fins do matrimônio – principalmente, se se põe o amor mútuo e o respeito acima da procriação dos filhos para o Céu?

CC: Eu preferiria dar uma resposta sintética às três questões colocadas nessas duas [perguntas anteriores]. Elas de fato tocam em uma grande questão que é de fundamental importância para a vida da Igreja e da sociedade civil. O relacionamento entre os aspectos de amor conjugal de um lado, e da procriação e educação de crianças por outro, é uma correlação, diriam os filósofos. Que quer dizer: é um relacionamento de interdependência entre duas realidades distintas. O amor conjugal que está sendo sexualmente expresso quando os dois esposos se tornam uma só carne no único local eticamente digno para dar vida a uma nova pessoa humana. A capacidade para dar vida a uma nova pessoa humana está inscrita no exercício da sexualidade conjugal, que é a linguagem esponsal de recíproco doar-se através dos esposos. Em resumo: conjugalidade e dom da vida são inseparáveis.

O que aconteceu especialmente após o Concílio? Contra o ensinamento do próprio Concílio, insistiu-se tanto no amor conjugal, que se considerou a procriação meramente sendo a conseqüência colateral do ato de amor conjugal. O Bem-aventurado Paulo VI corrigiu semelhante visão na encíclica Humanae Vitae julgando-a contrária à reta razão e à fé da Igreja. E São João Paulo II, na última parte de sua bela catequese sobre o Amor Humano, mostrou o fundamento antropológico do ensinamento de seu predecessor: principalmente, o ato de contracepção é objetivamente uma mentira dizendo isso com a linguagem do corpo dos esposos. Quais são as conseqüências da rejeição desse ensinamento? A primeira e mais séria conseqüência foi a separação entre sexualidade e procriação. Começou-se com “sexo sem bebês,” e chegou-se a “bebês sem (a intermediação de) sexo”: a separação é completa. A biologia de geração é separada da genealogia da pessoa. Isso leva a “produzir” crianças em laboratório; e à afirmação do (suposto) direito a uma criança. Sem sentido. Não há direito a uma pessoa, mas somente a coisas. Nesse ponto, houve todas as premissas para enobrecer a conduta homossexual, porque não se vê mais sua íntima irracionalidade, e toda a séria e intrínseca desonestidade da união homossexual. E assim chegamos a modificar a definição de casamento porque nós a desenraizamos da biologia da pessoa. Realmente, a Humanae Vitae foi uma grande profecia!

MH: Qual é, em sua essência, o propósito do casamento e da família?

CC: É a legítima união de um único homem e uma única mulher à luz da procriação e da educação das crianças. Se os dois são batizados, essa mesma realidade – não outra – torna-se um símbolo real da união Cristo-Igreja. Isso lhes dá um status na vida pública da Igreja, com um ministério próprio deles: a transmissão da fé às suas crianças.

MH: No contexto da corrente crescente de confusão moral: em que medida o indiferentismo religioso (ex, a afirmação de que se pode ser salvo em qualquer religião) leva ao relativismo moral? Para ser mais específico, se uma religião favorece a poligamia mas é considerada salvífica, não há então a conclusão de que a poligamia não é ilícita, afinal?  

CC: Relativismo é como uma metástase. Se você concorda com seus princípios, cada experiência humana, seja ela pessoal ou social, será ou se tornará corrompida. O ensinamento do Bem-aventurado J. H. Newman tem aqui grande atualidade. Próximo ao fim de sua vida, ele disse que o patógeno que corrompe o senso religioso e a consciência moral é “o princípio liberal,” como ele o chama. Quer dizer, com respeito à adoração que nós devemos a Deus, é irrelevante o que nós pensamos dEle; a crença de que todas as religiões têm o mesmo valor. Newman considera o princípio liberal assim entendido como sendo completamente contrário ao que ele chama “o princípio dogmático,” que é a base da proposição e afirmação cristãs. Do relativismo religioso para o relativismo moral, há só um passo curto. Não há assim nenhum problema no fato de que uma religião justifique a poligamia, e outra a condene. De fato, (para o relativismo) não existe supostamente verdade absoluta sobre o que é bom e o que é mau.

MH: O senhor poderia fazer um comentário sobre a recente observação do Cardeal Christoph Schönborn de que a Amoris Laetitia é doutrina vinculante e que os documentos magisteriais anteriores concernentes ao matrimônio e à família têm agora de ser lidos à luz da Amoris Laetitia?

CC: Eu respondo com duas simples observações. A primeira é: não se deve apenas ler o Magistério anterior sobre o casamento à luz da Amoris laetitia (AL), mas deve-se também ler a Amoris laetitia à luz do Magistério anterior. A lógica da Tradição Viva da Igreja é bipolar: ela tem duas direções, não uma. A segunda parte é mais importante. Em sua [recente] entrevista ao Corriere della Sera, meu caro amigo Cardeal Schönborn não leva em consideração o que aconteceu na Igreja desde a publicação da Amoris Laetitia. Bispos e muitos teólogos fiéis à Igreja e ao Magistério argumentam que, especialmente em um ponto específico – mas muito importante – não há uma continuidade, mas, em vez disso, uma oposição entre AL e o Magistério anterior. Além do mais, esses teólogos e filósofos não dizem isso com um espírito degradante ou revoltante para com o próprio Santo Padre. E nesse ponto, como segue: AL diz que, sob algumas circunstâncias, o intercurso sexual entre os divorciados civilmente recasados é moralmente legítimo. Mais ainda, ela diz que, o que o Segundo Concílio do Vaticano disse sobre os esposos – referente à intimidade sexual – também se aplica a eles (aos divorciados civilmente recasados) (ver nota de rodapé 329). Então: quando se diz que um relacionamento sexual fora do casamento é legítimo, isso é então um clamor contrário à doutrina da Igreja sobre a sexualidade; e quando se diz que o adultério não é um ato intrinsecamente desonesto – e que então deve haver circunstâncias que o tornam não-desonesto – isso, também, é uma afirmação contrária à Tradição e Doutrina da Igreja. Em uma tal situação como esta, o Santo Padre, em minha opinião – e como já escrevi – tem então de esclarecer a matéria. Pois, quando eu digo “S é P,” e então digo “S não é P,” a segunda proposição não é um desenvolvimento da primeira proposição, mas, antes sua negação. Quando alguém diz: a doutrina permanece, mas é somente sobre cuidar de alguns poucos casos, eu respondo: a norma moral “Não cometer adultério” é uma norma NEGATIVA ABSOLUTA que não permite exceção alguma. Há muitas maneiras de fazer o bem, mas há somente um caminho para não fazer o mal: não fazer o mal.

MH: Qual é a recomendação geral do senhor, como pastor, para nós fiéis leigos, sobre o que nós devemos fazer agora para preservar a Fé Católica íntegra e inteira para elevar nossas crianças para a vida eterna?

CC: Caffarra: Direi a você francamente que não vejo outro lugar fora da família onde a fé que você tem de acreditar e viver pode ser suficientemente transmitida. Além do mais, na Europa durante o colapso do Império Romano e durante as posteriores invasões bárbaras, o que os monastérios Beneditinos então fizeram pode da mesma maneira ser feito agora pelas famílias crentes, no reino atual de um novo barbarismo espiritual-antropológico. E graças a Deus elas [as famílias fiéis] existem e ainda resistem.

Um pequeno poema escrito por Chesterton me leva a essa reflexão; ele o escreveu no começo do século vinte: A Balada do Cavalo Branco. É uma grande meditação poética sobre um fato histórico. Ele teve lugar no ano 878. O Rei da Inglaterra, Alfredo o Grande, já tinha derrotado o Rei da Dinamarca, Guthrum, que primeiro tinha invadido a Inglaterra. E assim veio um momento de paz e serenidade. Mas durante a noite após a vitória, o Rei Alfredo teve uma terrível visão [no Livro VIII: 281-302]: ele vê a Inglaterra invadida por um outro exército, que é descrito como segue: “… Que embora venham com rolo (de papel) e caneta [um estranho exército, é, de fato, aquele que não tem armas, mas caneta e papel – Cardeal Caffarra], E grave como um escriturário barbeado, Por este sinal devereis conhecê-los, Que eles arruínam e fazem treva; Por todos os homens ligados a Nada….  Conheçais o velho bárbaro, O bárbaro vem de novo.”

As famílias que crêem são as verdadeiras fortalezas. E o futuro está nas mãos de Deus.

Grupo de intelectuais católicos apelam ao Papa para repudiar ‘erros’ em Amoris Laetitia.

Por Edward Pentin – National Catholic Register, 11 de julho de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: Um grupo de estudiosos católicos, prelados e clérigos enviou um apelo ao Colégio dos Cardeais pedindo que eles solicitem do Papa Francisco um “repúdio” ao que eles vêem como “proposições errôneas” contidas na Amoris Laetitia.

Em um comunicado divulgado hoje, os 45 signatários do apelo dizem que Amoris Laetitia – o documento pós-sinodal do Papa (documento de síntese) sobre o recente Sínodo sobre a Família, que foi publicado em abril – contém “uma série de declarações que podem ser entendidas num sentido contrário à fé católica e à moral”.

O documento de 13 páginas, traduzido em seis idiomas e enviado ao cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, bem como 218 cardeais e patriarcas individuais, cita 19 passagens na exortação que “parecem entrar em conflito com doutrinas católicas”.

Os signatários – descritos como prelados católicos, estudiosos, professores, autores e clérigos de várias universidades pontifícias, seminários, faculdades, institutos teológicos, ordens religiosas e dioceses de todo o mundo – então prosseguem com uma lista de “censuras teológicas aplicáveis especificando a natureza e grau dos erros” contidos na Amoris Laetitia.

Uma censura teológica é um juízo sobre uma proposição concernente à fé católica ou a moral como contrária à fé ou no mínimo duvidosa.

A declaração diz que aqueles que assinaram o apelo fizeram a solicitação ao Colégio dos Cardeais, na sua qualidade de conselheiros oficiais do Papa,  para que “se aproximem do Santo Padre com um pedido: que ele repudie os erros listados no documento de forma definitiva e final, e afirme com autoridade que Amoris Laetitia não requer que se creia em qualquer um desses itens, ou que sejam considerados como possivelmente verdadeiros”.

“Nós não estamos acusando o Papa de heresia”, disse Joseph Shaw, um dos signatários do apelo e que também está atuando como porta-voz para os demais autores, “mas consideramos que numerosas proposições da Amoris Laetitia podem ser interpretadas como heréticas se fazemos uma leitura natural do texto. Declarações adicionais cairiam no campo de outras censuras teológicas estabelecidas, como escandalosas, errôneas em matéria de fé e ambíguas, entre outras”.

Tal é o clima em grande parte da Igreja de hoje, que um dos principais organizadores do apelo disse ao Register que a maioria dos signatários prefere permanecer anônimos porque “temem represálias, ou estão preocupados com repercussões em sua comunidade religiosa, ou têm uma carreira acadêmica e uma família e temem que possam perder os seus empregos”.

Entre os problemas citados na exortação, os signatários acreditam que Amoris Laetitia “mina” o ensinamento da Igreja sobre a admissão dos católicos divorciados e recasados civilmente aos sacramentos. Eles também acreditam que ela contradiz o ensinamento da Igreja de que todos os mandamentos podem ser obedecidos, com a graça de Deus, e que certos atos são sempre errados.

Shaw, um acadêmico da Universidade de Oxford, disse que os signatários esperam que, “ao buscar do nosso Santo Padre um repúdio definitivo desses erros, nós podemos ajudar a dissipar a confusão já provocada pela Amoris Laetitia entre os pastores e os fiéis leigos”.

Essa confusão, ele acrescentou, “pode ser dissipada eficazmente apenas por uma afirmação inequívoca do autêntico ensinamento católico pelo Sucessor de Pedro”.

Várias interpretações e críticas a Amoris Laetitia se seguiram à sua publicação. Em particular, cardeais têm debatido se o documento é magistério ou não.

O Cardeal Christoph Schönborn, que apresentou o documento em abril, acredita firmemente que é, ao dizer à Civilta Cattolica na semana passada que “não faltam passagens na Exortação que afirmam fortemente o seu valor doutrinário e de forma decisiva.”

O Cardeal Raymond Burke, no entanto, acredita que o documento contém passagens que não estão em conformidade com os ensinamentos da Igreja e é, portanto, não magisterial, algo que o Papa Francisco “deixa claro” no texto.

Na semana passada, o arcebispo Charles Chaput, da Filadélfia emitiu orientações pastorais para a implementação da Amoris Laetitia em que ele esclareceu passagens na exortação que parecem ambíguas no cuidado pelas almas dos católicos que vivem em situações difíceis ou objetivamente pecaminosas. Dom Chaput fez parte da delegação americana de padres sinodais no Sínodo sobre a Família em outubro passado.

Sermão – As vozes dos bravos fiéis que nunca aplaudiram.

O perigo de ser o primeiro a parar de aplaudir.

Por Rorate Caeli | Tradução: FratresInUnum.com: Vamos continuar a trazer as vozes daqueles dispostos a olhar para Amoris Laetitia sem óculos cor de rosa – Aqueles que não estão dispostos a disfarçar seu espanto ao ver tudo que está acontecendo hoje através da lente da tradição, pois ruptura é tudo o que se vê.

Transcrevemos abaixo, nossa tradução do sermão de um sacerdote “em plena comunhão com Roma”.

As vozes dos fiéis bravo que nunca aplaudiram.

“Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.” (João 16:7-8)

Essas são palavras do Santo Evangelho de São João. Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Amém.

Alexandre Solzhenitsyn foi um famoso escritor russo. Solzhenitsyn era também um eloquente crítico da União Soviética e de seu governo totalitário. E, mais importante, esse autor era um ferrenho crítico do sistema de campos de trabalhos forçados que trouxe morte e devastação para tantos entre o povo russo.

August-Landmesser-Almanya-1936

Solzhenitsyn fez do Arquipelágo Gulag sua obra prima e em uma das passagens de seu livro ele recorda um comício político em que quem fazia o discurso, era nada menos que o próprio camarada Joseph Stalin.

Logo após o discurso de Stalin, era esperado que o povo presente se levantasse e o saudasse de pé com uma longa salvas de palmas, principalmente se quisessem evitar  prisão e perseguição.

Pois bem, assim que ele acabou de discursar o povo se levantou e o aplaudiu por 3 minutos…mais 5 minutos…8 minutos de palmas ininterruptas. As pessoas já estavam com as mãos doendo, mas tentavam a todo custo simular seu entusiasmo continuando com os aplausos…mais três minutos e lá se iam mais 11 minutos.

Ninguém arriscava a ser o primeiro a parar de aplaudir na presença do amado líder, pois isso poderia causar a impressão de que alguém não apoiava aquele culto de personalidade de Stalin.

Mas aos 12 minutos, um homem que era diretor de uma fábrica local foi o primeiro a parar de aplaudir. Os outros na audiência respiraram aliviados porque se viram poupados daquela sessão de cansativo aplauso. Eles imediatamente cessaram o aplauso e o fingido entusiasmo também cessou.

Solzhenitsyn também adicionou a seguinte informação:

“Naquela mesma noite o diretor da fábrica foi preso. Eles o sentenciaram a 10 anos de trabalhos forçados usando como pretexto algo completamente diferente.

Após ele ter assinado os formulários do Governo, os documentos finais  do interrogatório, onde ele tinha que assumir sua suposta culpa, seu interrogador recordou ao então ex- diretor de fábrica:

_ Nunca seja o primeiro a parar de aplaudir”.

Pois bem, depois do Concilio Vaticano II, um entusiasmo obrigatório, um otimismo compulsório foi imposto ao fiel Católico. Nosso aplauso era esperado, porque parar de bater palmas poderia sugerir que fazíamos objeções às mudanças impostas pelo Politburo Eclesiástico. Para aqueles que protestaram contra as mudanças ou mesmo chegaram ao ponto de questioná-las, expurgos no estilo Gulag era o esperado.

Assim a maior parte dos fiéis decidiu simplesmente continuar aplaudindo. Nós aplaudimos durante todo o curso da revolução litúrgica que só trouxe devastação, nós aplaudimos a nova ordem das coisas, as novas orientações, as novas diretrizes, as novas teologias. E embora víssemos que tudo aquilo contradizia o nosso  passado, embora víssemos que tudo aquilo era estranho à fé de nossos antepassados, embora víssemos que havia uma óbvia ruptura, uma descontinuidade, a maioria não queria parar de aplaudir.

E como se não bastasse, o mais estranho é que outros que nem eram parte do povo Católico também se uniram aos aplausos. Teólogos modernistas se levantaram jubilosos, pois suas visões estavam sendo vistas sob uma nova luz e recebendo uma segunda chance. Os franco-maçons louvaram as mudanças conciliares na medida que elas apontavam para um “anti-syllabus”, que rejeitava os papas anti-liberais do passado. O povo da Sinagoga aplaudiu ao saber que sua influência sobre os membros da Igreja continuaria a crescer. E ao ver que sua ideologia não seria citada pelo nome por membros do Concílio, líderes comunistas viram aí nova oportunidade para o diálogo e aplaudiram o progresso na Igreja, que logo permitira que marxismo e catolicismo, Belial e Cristo se juntassem em uma nova teologia da libertação.

Protestantes também se juntaram ao aplauso e bateram palmas para o novo iluminismo da Igreja, o qual sugere que Calvino, Lutero, Zwinglio, foram talvez “instrumentos do espírito”.

Católicos dissidentes, aqueles que sempre rejeitaram o ensino perene da Igreja em matérias de fé e moral, aqueles mais radicais, também se juntaram ao aplauso, já que eles encontraram nova aceitação no coração da Igreja.

Mas, na medida em que os anos foram passando, os aplausos se tornaram cansativos, especialmente depois que o entusiasmo foi morrendo.

10 anos de aplausos, 20 anos de aplausos, e até mesmo 50 anos de aplausos provocam um desgaste no povo.

As pessoas começaram a perceber os bancos das igrejas cada vez mais vazios, as escolas Católicas se fechando, Universidades Católicas se tornando secularizadas, netos crescendo sem o Batismo, seus vizinhos Católicos apostatando para mega seitas protestantes, paróquias outrora Católicas sendo vendidas para não católicos ou até mesmo transformadas em restaurantes, bares e até mesquitas com minaretes.

Os fiéis viram as religiosas, as freiras abandonando o hábito, fazendo permanente no cabelo, abandonando o claustro e deixando de lado toda a prática religiosa.

Muitos padres abandonando o hábito [batina], tornando-se secularizados, enquanto alguns que permaneceram no clero, no melhor dos casos, se tornaram efeminados, e no pior caso, bem… isso nem convém que seja citado do púlpito.

A Igreja Católica nesse país viu uma queda enorme no seu número de fiéis. Mais de 36% abandonando a Igreja; literalmente, 1 entre cada 6 americanos é um ex-Católico e ex-Católicos formam agora o segundo maior grupo religioso no país.

Nosso Senhor foi apresentado ao templo quando ainda era um bebê de apenas 40 dias. E o velho Simeão o tomou aos braços e profetizou: “Este menino está aqui para a queda e o ressurgimento de muitos em Israel, e a ser sinal de contradição. Assim Cristo e sua Igreja, desde o início foram sinais de contradição. Um sinal que muitas pessoas recusam aceitar e reconhecer. Esta é a história da humanidade, um eterno conflito entre os que creem e os que não creem e a Igreja Católica está bem no centro desse conflito.

A Igreja é um escândalo para o mundo porque ela prega uma doutrina e uma moralidade que o mundo rejeita.

O espirito do mundo, portanto insulta a Igreja, a odeia e a acusa. E porque Cristo nem sempre se defendeu a si mesmo, a Igreja também abraça frequentemente o sofrimento por permanecer como a voz de Cristo no mundo e um sinal de contradição, que muitos continuarão recusando a abraçar.

O espírito do mundo jamais aplaude em aprovação quando a Igreja é um sinal de contradição.

Os aplausos apenas vem quando os membros da Igreja,  e quando especialmente a hierarquia traem sua missão de pregar o Evangelho da verdade e da salvação.

Quando os membros da Igreja abraçam o espírito do mundo, quando os Católicos se tornam mais um sinal de rendição, um sinal de concessão, apenas então eles conquistam o aplauso mundano. E quando isso acontece significa que os membros da Igreja juntaram forças com o mundo na sua revolução contra Deus.

O mundo está aplaudindo agora nosso Santo Padre, as elites mundanas fazem fila para audiências papais com seus talões de cheques nas mãos, e de inimiga contra a revolução dos réprobos contra Deus, a Igreja  se tornou um instrumento dessa revolução com o Bispo de Roma liderando a procissão das mudanças radicais em tiara e capa, ou melhor, em mitra e capa.

Com esse último documento intitulado Amoris Laetitia, a alegria do Amor, o Papa acaba de se unir à Revolução sexual abraçando um caminho mundano, deixando de ser um sinal de contradição para se tornar um sinal de rendição. E o mundo está aplaudindo, modernistas estão aplaudindo, libertinos estão aplaudindo com entusiasmo e aqueles que permanecem ainda no rebanho tentando serem fiéis ao Pastor, creio que chegou a hora de parar de aplaudir. É hora de reconhecer a ameaça e resistir.

Esse documento dá a impressão de que os absolutos morais que se espera de todos, são apenas ideais elevados fora do alcance de muitos. Assim o casamento indissolúvel torna-se um ideal e não uma norma. Os  10 Mandamentos? Conselhos apenas para aqueles que possuem virtudes heroicas. Dos padres e párocos se espera que se tornem ativos na profissão de caçadores de desculpas para aqueles que não conseguem cumprir essa utopia que está muito além de suas capacidades.

O subjetivismo desse documento leva qualquer um a pensar que a consciência desculpa tudo.

Um comentarista disse ao ler esse documento: ele nos dá a impressão de que cair em pecado é impossível.

Embora o Santo Padre pareça corajoso em denunciar a exploração dos pobres e vulneráveis, ele parece incapaz de condenar infrações contra o sexto e o oitavo Mandamento da Lei de Deus.

Alegando ser misericordioso, o Papa parece remover a maioria, senão toda a responsabilidade daqueles que “se encontram em casamentos irregulares”, quando na verdade, é bem o contrário: “esses indivíduos deliberadamente se colocaram nessas situações difíceis”.

E uma vez mais esse documento faz o que um comentador chama de “ecumenismo moral”. Em outras palavras, assim como o protestantismo de alguma forma participa da plenitude da Igreja, a coabitação com a namorada, uniões sodomíticas e adultério permanente supostamente também possuem elementos louváveis ainda que estejam bem longe o casamento ideal.

Amoris Laetitia é ofensiva, é ofensiva aos ouvidos piedosos, promove a idéia de educação sexual para crianças em lugares como salas de aula de escolas públicas, feitas por entre aspas “institutos educacionais”. Isto é uma contradição direta aos ensinamentos do Papa Pio IX que deixou claro que é direito exclusivo dos pais fornecer esse tipo de informação e apenas quando e se for necessário.

Esse documento prega a ideologia liberal não apenas quando faz a distinção entre gênero biológico e gênero estabelecido pela sociedade, mas quando também fala da união entre sodomitas como uma das várias formas de família, a qual exibe estabilidade ainda que não possa ser comparada com o casamento tradicional.

E além de tudo, Amoris Laetitia continua a promover o erro segundo o qual a finalidade primária do casamento é a íntima parceria de vida e amor pelo bem dos esposos. Isto é oposto à finalidade primária do casamento que  é a procriação e a educação das crianças. Isso é um erro gigante no texto. Quando um erro como esse é promovido, sérias consequências são o resultado. Um comentarista pergunta: se a finalidade primária do casamento é o mútuo amor entre os esposos, então a indissolubilidade do casamento corre sério risco, pois se o amor morre, o casamento também morre, mesmo se existem filhos envolvidos. E esse comentarista prossegue: “se os filhos são um obstáculo ao mútuo amor entre os esposos, então eles podem ser evitados com o auxílio dos contraceptivos”.

Quando você faz essa inversão, tomando o fim primário do casamento, que é a procriação e a educação dos filhos, e vira de cabeça pra baixo, colocando o íntimo amor entre marido e mulher acima, temos um sério problema.

E não importa o que outros digam, mas Papa Francisco está promovendo a idéia de que sacramentos podem ser disponibilizados para aqueles envolvidos em um estado de adultério permanente. Uma pessoa pode agora abertamente violar a lei divina e ainda assim encontrar aceitação e comunhão sem nenhuma mudança de vida ou propósito de emenda.

E como observação final, Papa Francisco não apenas abraça idéias perigosas e revolucionárias, mas se tornou o agente subversivo de mudanças radicais.

Em pelo menos três ocasiões, o Santo Padre propositalmente manipula, distorce e abusa de prévios documentos da Igreja buscando enganar e promover sua agenda. Ele se tornou um sinal de contradição, não para o mundo, mas para a Igreja, para a Tradição. Ao invés de abraçar sua vocação petrina para construir a Igreja, Papa Francisco parece estar trabalhando em prol do objetivo de demoli-la e destruí-la.

Em tal situação, o Santo Padre não precisa de nosso aplauso e adulação, mas sim de resistência. Nós podemos reconhecer o seu alto cargo, mas é o Código de Direito Canônico que nos dá o direito de externar nossa preocupação:

Canon 212 diz : “Os fiéis, segundo a ciência , a competência e a proeminência de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas pertinentes ao bem da Igreja, e de exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas.”

Em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Amem.

Dom Bruno Forte citando Francisco: “Faça de um modo que fiquem as premissas, porque as conclusões serei eu a tirá-las”.

Um dos homens fortes no Sínodo cita Francisco: “Se falarmos explicitamente de comunhão para divorciados novamente casados, não sabe que confusão iremos aprontar.  Então não vamos falar assim de modo direto. Faça de um modo que fiquem as premissas, porque as conclusões serei eu a tirá-las”.

Por ZonaLocale.it | Tradução: FratresInUnum.com – “A aplicação misericordiosa daquele vinho velho que, como se sabe, é sempre o melhor“. Assim Monsenhor Bruno Forte, Arcebispo da Diocese de Chieti-Vasto definiu a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Amoris Laetitia”, que marcou um passo crucial no que diz respeito à família “entre crise e desejo”, durante um encontro no Teatro Rossetti.

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Dom Bruno Forte, polêmico secretário do Sínodo que causou diversos conflitos com outros padres sinodais por conta de seus “avanços”. Sempre protegido por Francisco.

Uma crise, segundo enfatizou o mesmo arcebispo Forte, caracterizada pela diminuição no número de casamentos e no aumento da coabitação, mas também por um desejo por aquela família que é “berço e escola de humanidade”.

Presente também ao encontro estava Pe. Nicola del Bianco, diretor da Secretaria da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Chieti-Vasto e os cônjuges Marie Antoinette e Franco Silvestri, que trouxeram o testemunho de sua própria vida, como família e como colaboradores da Pastoral da família.

Na reflexão de Bruno Forte, as causas da “crise da família” vão da falta de empregos aos problemas de habitação, fenômenos de migração, e até mesmo as dificuldades relacionadas à “miséria material e humana”. Neste contexto, o significado da Exortação Apostólica do Papa Francisco é:”Não julgar, mas chegar a todos com o olhar de misericórdia, mas sem renunciar à verdade de Deus. É fácil dizer “aquela família fracassou”, o mais difícil é ajudá-la pra que não fracasse. Ninguém deve sentir-se excluído da Igreja. “

Uma colocação que, naturalmente, também tem repercussões “práticas” no âmbito das indicações direcionadas aos pastores e à comunidade eclesial. Arcebispo Forte então revelou um detalhe particular dos bastidores do Sínodo: “Se falarmos explicitamente de comunhão para divorciados novamente casados – contou o  Arcebispo Forte referindo-se a um gracejo do Papa Francisco – não sabe que confusão iremos aprontar.  Então não vamos falar assim de modo direto. Faça de um modo que fiquem as premissas, porque as conclusões serei eu a tirá-las”.

“Típico de um jesuíta”, brincou o Arcebispo Forte, atribuindo àquela estratégia uma esperteza que permitiu o amadurecimento necessário para se chegar à “Amoris Laetitia”, a qual,  como fez questão de afirmar Dom Bruno Forte, não é uma nova doutrina, mas “a aplicação misericordiosa ” da mesma doutrina de sempre.

Após a apresentação da Exortação,  veio o testemunho dos cônjuges Silvestri, como “o protótipo da família”: quatro crianças, além de sete adotivos: “Nós criamos essa família com grandes sacrifícios, porque não quisemos delegar a ninguém a criação de nossos filhos, mas é claro que também teve o trabalho que tomava nosso tempo. Foi uma escolha difícil, mas Deus sempre nos ajudou. Não somos melhores que os outros, nós simplesmente levamos em consideração a pessoa mais importante, aquela diante da qual demos o nosso sim: Nosso Senhor. É o fato de termos Nosso Senhor como centro de nossas vidas que nos deu forças pra seguir adiante.Portanto  a “base” sobre a qual construir um alicerce sólido, vai da “prática” do perdão às palavras-chave: “obrigado, desculpe-me, licença,” mencionadas pelo Papa Francisco, bem como a importância da oração como momento familiar e do casal”.

No final do testemunho, houve espaço para intervenções e as perguntas da platéia que participou do encontro.

O capítulo VIII da Amoris lætitia não é interpretável à luz da Tradição.

Entrevista de Roberto de Mattei com o padre Claude Barthe

Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, 4 de maio de 2016 | Tradução: FratresInUnum.comO padre Claude Barthe é teólogo e autor de obras como A missa, uma floresta de símbolos, Os literatos e o catolicismo, Pensar o ecumenismo de outro modo. Tendo sido um dos primeiros na França, no blog do semanário “L’Homme nouveau” em 8 de abril, a exprimir suas reservas em relação à recém-publicada Amoris lætitia, aproveitamos uma viagem àquele  país para lhe fazer algumas perguntas.

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Padre Claude Barthe

Roberto de Mattei: Reverendo padre, é com especial interesse que desejo entrevistá-lo, porque em sua tomada de posição em relação à Amoris laetitia o senhor não tentou interpretar a exortação apostólica a partir de uma chave de leitura tradicional – como o fizeram alguns num primeiro movimento. E eu compartilho sua leitura.

Padre Claude Barthe: Honestamente, não vejo como se poderia interpretar o capítulo VIII da Exortação no sentido da doutrina tradicional. Isto seria fazer violência ao texto e não respeitar a intenção dos redatores, que desejam claramente introduzir um elemento novo: “já não é possível dizer que…”.

RdM: Entretanto, o que diz a Exortação não é assim tão novo.

CB: Não é novidade do lado da contestação teológica, o senhor tem razão. Depois do Concílio, sob Paulo VI e João Paulo II, o grande trabalho dos teólogos contestatários foi principalmente o de atacar a Humanæ vitæ com livros, “declarações” de teólogos, congressos. Ao mesmo tempo, a comunhão aos divorciados “recasados” (e também aos parceiros homossexuais e aos concubinos) desempenhou um papel de reivindicação a meu ver simbólico. Com efeito, já há muito tempo, a prática de numerosíssimos sacerdotes, na França, na Alemanha, na Suíça e em muitos outros lugares, é de admitir sem problema os divorciados “recasados” à comunhão e de lhes dar a absolvição quando eles a pedem. O mais célebre apoio a essa reivindicação foi dado por uma carta dos três senhores bispos alemães das dioceses do Reno superior – Saier, Lehmann e Kasper – de 1º de julho de 1993, intitulada: “Divorciados-recasados, o respeito à decisão tomada em consciência”.  Ela continha, aliás, bem exatamente as disposições da atual exortação: nenhuma admissão teórica e geral à comunhão, mas o exercício de um discernimento com um sacerdote, a fim de saber se os novos parceiros “julgam-se autorizados pelas suas consciências a se aproximarem da Mesa do Senhor”. Na França, alguns bispos (como os de Cambrai e Nancy) publicaram atas conclusivas de sínodos diocesanos no mesmo sentido.  E o cardeal Martini, arcebispo de Milão, em um discurso que era um verdadeiro programa de pontificado, pronunciado em 7 de outubro de 1999, durante uma das assembleias gerais do Sínodo para a Europa,  havia também invocado mudanças da disciplina sacramental.

De fato, na França, na Bélgica, no Canadá, nos Estados Unidos, as coisas vão ainda mais longe: um número relativamente grande de sacerdotes celebra uma pequena cerimônia por ocasião da segunda união sem que os bispos o impeçam. Alguns inclusive encorajam positivamente essa prática, como o havia feito Dom Armand le Bourgeois, bispo emérito de Autun, no livro [quando o escreveu já havia renunciado] Chrétiens divorcés remariés (Cristãos divorciados recasados,  Desclée de Brouwer, 1990). Ordos diocesanos, como o da diocese de Auch, “enquadram” essa cerimônia, que deve ser discreta, sem o toque de sino, sem bênção dos anéis…

RdM: O senhor é da opinião de que o cardeal Kasper exerceu um papel-chave?

CB: No início, sim. Apresentado pelo Papa Francisco, pouco depois de sua eleição, como “um grande teólogo”, ele preparou o terreno mediante a exposição que fez no Consistório de 20 de fevereiro de 2014, a qual causou um enorme barulho.  Mas, em seguida, a investida foi conduzida com um grande savoir-faire em três etapas. As duas assembleias sinodais, em outubro de 2014 e outubro de 2015, cujos relatórios finais integraram a “mensagem” kasperiana. E, entre as duas, a publicação de um texto legislativo, Mitis Iudex Dominus Jesus, de 8 de setembro de 2015, cujo arquiteto foi Dom Pinto, decano da Rota, simplificando o processo de declaração de nulidade matrimonial, especialmente graças ao processo expeditivo diante do bispo,  quando os dois  esposos estão de acordo para pedir a nulidade. Certos canonistas chegaram a falar, neste caso, de anulação por mútuo consentimento.

Na verdade uma espécie de núcleo dirigente, que agiu como “cúpula” do Sínodo, constituiu-se em torno do muito influente cardeal Lorenzo Baldisseri, seu Secretário-geral. Participavam desse núcleo Dom Bruno Forte, arcebispo de Chieti, Secretário especial, (isto é, número dois do Sínodo); Dom Fabio Fabene, da Congregação dos Bispos, Subsecretário; o Cardeal Ravasi, Presidente do Conselho da Cultura, encarregado da redação da Mensagem final do Sínodo às famílias, assistido notadamente por Dom Victor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica da Argentina; o jesuíta Antonio Spadaro, diretor da “Civiltà Cattolica”, além de outras pessoas de influência, todas próximas do Papa, como o bispo de Albano, Dom Marcello Semeraro, e o Arcebispo Paglia, Presidente do Conselho para a Família. A eles se uniu o cardeal Schönborn, arcebispo de Viena, que foi supervisor do Catecismo da Igreja Católica e exerceu o papel de avalista da ortodoxia do texto, que o cardeal Müller se recusava a assumir.  Toda esta equipe forneceu um trabalho considerável para chegar ao fim almejado…

RdM: Para terminar elaborando, depois da segunda Assembleia, um texto de mais de 250 páginas…

CB: E mesmo antes… O texto da exortação pós-sinodal já estava definido em suas grandes linhas… em setembro de 2015, antes mesmo da abertura da segunda  assembleia do Sínodo sobre a família.

RdM: O senhor disse que foi um trabalho considerável para chegar ao fim almejado. Qual exatamente?

CB: É bem possível que, no espírito do Papa Francisco, inicialmente não se tenha tratado senão de conceder um salvo-conduto “pastoral” e “misericordioso”. Mas como a teologia é uma ciência rigorosa, tornou-se imperativo enunciar princípios que justificassem a decisão em consciência, adotada por pessoas que vivem em adultério público, de se aproximarem dos sacramentos. Já desde o início, numerosas passagens da Exortação preparam esta explanação doutrinária, que se encontra no capítulo VIII, o qual versa sobre diversas “situações de fragilidade ou imperfeição”, e especialmente daquela dos divorciados engajados numa nova união “consolidada no tempo, com novos filhos, com fidelidade comprovada, dedicação generosa, compromisso cristão, consciência da irregularidade da sua situação e grande dificuldade para voltar atrás sem sentir, em consciência, que se cairia em novas culpas” (nº 298). Nesta situação “imperfeita” em relação ao “ideal pleno do matrimônio” (nº 307), a Exortação coloca regras para um “discernimento especial” (nº 301). Este é normalmente realizado com a ajuda de um sacerdote “no foro interno” (pelos dois parceiros da união?), que permitirá aos interessados estabelecer um discernimento de consciência correto (nº 300).

Esse discernimento (do padre? dos parceiros esclarecidos pelo padre?), devido a condicionamentos diversos, poderá concluir por uma imputabilidade atenuada ou nula, tornando possível o acesso aos sacramentos (nº 305). Um parêntese: não está dito se esse discernimento se impõe a outros sacerdotes, os quais também ficariam obrigados a dar os sacramentos aos interessados.  De todos os modos, importa notar que o texto não focaliza apenas o acesso aos sacramentos, que é tratado um pouco embaraçadamente em pé de página (nota 351). Em contrapartida, ele estabelece claramente um princípio teológico, resumido no nº 301, que merece ser citado por extenso: “Já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada ‘irregular’ vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante. Os limites não dependem simplesmente dum eventual desconhecimento da norma. Uma pessoa, mesmo conhecendo bem a norma, pode ter grande dificuldade em compreender «os valores inerentes à norma» ou pode encontrar-se em condições concretas que não lhe permitem agir de maneira diferente e tomar outras decisões sem uma nova culpa.”

O que pode ser destrinchado da seguinte maneira: 1º) devido a circunstâncias concretas, pessoas em estado de adultério público “ativo”, embora conhecendo a norma moral que o proíbe, se encontram diante de uma situação tal que, se saíssem dela, cometeriam uma falta (sobretudo em relação aos filhos nascidos dessa união); 2º) de sorte que essas pessoas, que vivem em adultério público “ativo”, não cometem pecado grave permanecendo nesse estado.

Na realidade, as consequências negativas que poderiam resultar da cessação desse estado de adultério (o sofrimento dos filhos nascidos da união ilegítima pela separação de seus pais), não constituem novos pecados (“uma nova culpa”), mas efeitos indiretos de um ato perfeitamente virtuoso, a saber, a cessação de um estado de pecado. Bem entendido, a justiça deve ser respeitada e especialmente será preciso assegurar a educação dos filhos da segunda união, mas fora do estado de pecado.

Há, pois, uma oposição frontal com a doutrina anterior lembrada no nº 84 da Familiaris consortio, de João Paulo II, a qual precisava que se graves razões obrigassem os “recasados” a viverem sob o mesmo teto, então deveriam viver como irmão e irmã. A nova asserção doutrinária resume-se assim: em certas circunstâncias, o adultério não é pecado.

RdM: O senhor dizia que o instinto da fé está ausente ali?

CB: Isto não está de acordo com a moral natural e cristã: as pessoas que conhecem uma normal moral que obriga sub gravi (o mandamento divino proíbe a fornicação e o adultério) não podem ser escusadas de pecado e, em consequência, não podem ser consideradas em estado de graça. São Tomás, numa questão da Suma Teológica bem conhecida de todos os moralistas, a questão 19 da Iª IIæ, explica que é a bondade de um objeto proposto pela razão que torna bom o ato da vontade, e não as  circunstâncias do ato (artigo 2); e que, se é verdade que a razão humana pode enganar-se e considerar bom um ato mau (artigo 5), alguns erros não são jamais escusáveis,  sobretudo o de ignorar que não é lícito aproximar-se da mulher de seu próximo, porque isso está diretamente ensinado pela Lei de Deus (artigo 6). Em outra passagem igualmente conhecida dos moralistas, o Quodlibet IX, questão 7, artigo 2,  São Tomás explica que as circunstâncias podem mudar a natureza de um ato, mas não seu valor intrínseco. Por exemplo, golpear ou matar um agressor é um ato de justiça ou de legítima defesa: pela circunstância de tratar-se de uma agressão, o ato muda de natureza e a resposta não é mais uma violência injusta, mas um ato virtuoso. Em contrapartida, diz o Doutor comum, certas ações “têm uma deformidade que está ligada inseparavelmente a elas, como a fornicação, o adultério e as demais coisas desse gênero: elas não podem de nenhum modo tornar-se boas”.

Um menino do catecismo compreenderia essas coisas, dizia Pio XII num discurso de 18 de abril de 1952. Ele condenava ali a Situtionsethik, a “moral de situação”, que não se baseia nas leis morais universais como, por exemplo, os Dez Mandamentos, mas “nas condições ou circunstâncias reais e concretas nas quais se deve agir, e segundo as quais a consciência individual deve julgar e escolher”. Ele lembrava que um fim bom jamais justifica meios maus (Romanos 3, 8), e que existem situações nas quais o homem, e especialmente o cristão, deve sacrificar tudo, até mesmo sua vida, para salvar sua alma. No mesmo sentido, a encíclica Veritatis Splendor, de João Paulo II, reafirmando que as circunstâncias ou as intenções jamais poderão transformar um ato cujo objeto é intrinsecamente desonesto num ato subjetivamente honesto, citava Santo Agostinho (Contra mendacium): a fornicação, as blasfêmias, etc., mesmo praticadas por boas razões, são sempre pecados.

RdM: O que fazer então?

CB: Não se pode contradizer as palavras de Cristo: “Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério.” (Mc 10, 11-12). O Prof. Robert Spaemann, filósofo alemão amigo de Bento XVI, observa que toda pessoa capaz de refletir pode constatar que se está em presença de uma ruptura. Eu não penso que seja possível contentar-se em propor uma interpretação do capítulo VIII da Exortação a qual concluísse que nada mudou. Aliás, é preciso levar a sério as palavras do Papa, que no avião que o trouxe de volta de Lesbos avalizou a apresentação do texto feita pelo cardeal Schönborn.

Em si mesma, a asserção teológica exposta na exortação é clara. O dever da verdade obriga a dizer que ela não é admissível. Nem tampouco as proposições anexas, como aquela que afirma que a união livre ou a união de divorciados recasados realizam o ideal do casamento “de forma parcial e analógica” (nº 292).

Então é preciso esperar, no sentido forte da esperança teológica, que numerosos pastores, bispos e cardeais falem claramente, para a salvação das almas.

Pode-se em contrapartida desejar, pedir, apelar por uma interpretação autêntica – no sentido de interpretação do depósito da Revelação, inclusive na recordação da lei natural ligada a ela – pelo magistério infalível do Papa, ou do Papa e dos bispos unidos a ele, magistério que discerne, afirmando em nome da fé o que é verdade e rejeitando o que não o é.

Parece-me que hoje se entra, 50 anos após o Vaticano II, numa nova fase do pós-Concílio. Naquela época, viu-se ceder – por certas passagens sobre o ecumenismo e a liberdade religiosa – um dique que se acreditava extremamente firme, do ensinamento eclesiológico romano, magisterial e teológico. Edificou-se então outro dique para resistir à maré da modernidade, aquele da moral natural e cristã, com a Humanæ vitæ de Paulo VI e todos os documentos de João Paulo II sobre esses temas. Tudo aquilo foi chamado de “restauração”, segundo a expressão do Relatório sobre a fé do cardeal Joseph Ratzinger, edificou-se largamente sobre essas bases colocadas para a defesa do casamento e da família. Atualmente tudo acontece como se esse segundo dique estivesse a ponto de ceder.

RdM: Alguns poderão acusá-lo de ser excessivamente pessimista…

CB: Pelo contrário. Vivemos, creio eu, um momento decisivo da história do pós-Concílio. As consequências de longo prazo do que acontece atualmente são difíceis de prever, mas serão consideráveis.  E estou persuadido de que no fim elas serão positivas. Em primeiro lugar, evidentemente, estou certo disso pela fé, porque a Igreja tem palavras de vida eterna.  Mas também, muito concretamente, porque a necessidade de um retorno ao magistério – ao magistério enquanto tal – impor-se-á cada vez mais nas perspectivas que deverão necessariamente ser elaboradas para o porvir.

Voice of the Family: A abordagem que ‘Amoris laetitia’ faz das uniões homossexuais já fora rejeitada pelos padres sinodais.

Continuação da análise da importante associação ‘Voice of the Family’, que reúne entidades pró-vida e pró-família de todo o mundo.

Por Voice of the Family | Tradução: FratresInUnum.com: Ao longo dos dois “sínodos sobre a família”, realizados em Roma em outubro de 2014 e outubro 2015, houve uma intensa pressão para que a Igreja mudasse sua doutrina imutável sobre a homossexualidade e uniões homossexuais. Essa pressão veio não só da parte de ativistas “LGBT“, mas também dos responsáveis pela preparação dos documentos oficiais do Sínodo.

A abordagem das uniões homossexuais nos documentos do Sínodo.

Veja o apêndice no final do artigo para extratos mais completos dos documentos sinodais.

1. A Relatio post Disceptatione do Sínodo Extraordinário afirma que  as “uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser consideradas em pé de igualdade com o matrimônio entre homem e mulher”. Isso implica que existe alguma base para que uniões entre pessoas do mesmo sexo possam ser consideradas legítimas.

2. Esta abordagem recebeu vigorosa oposição por parte de muitos padres durante o sínodo. Os frutos dessa oposição podem ser vistos no relatório final do Sínodo Extraordinário (Relatio Synodi). Neste documento, a formulação acima foi substituída por uma declaração tomada de um documento eclesiástico anterior: “não há absolutamente nenhum fundamento para considerar as uniões homossexuais de alguma forma semelhantes ou mesmo remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e a família”.

3. Em junho de 2015, a Secretaria do Sínodo publicou o Instrumentum laboris, o documento de trabalho do Sínodo ordinário. No parágrafo 8º, o Secretariado do Sínodo uma vez mais tenta sugerir que as uniões homossexuais tem algum grau de legitimidade. Eles fizeram isso ao reconhecer a necessidade de “definir o específico caráter de tais uniões na sociedade” ao mesmo tempo que chamavam para “um exame mais profundo da natureza humana e da cultura, que não é simplesmente baseada na biologia e diferença sexual”.

4. Os padres sinodais rejeitaram essa abordagem pela segunda vez, como pode ser visto no relatório final do Sínodo Ordinário, o qual repete o mesmo ensinamento magisterial como o relatório final do Sínodo Extraordinário.

Amoris Laetitia reintroduz a mesma abordagem que já havia sido rejeitada

Vimos acima que tanto a Relatio Pos Discepatationem do Sínodo Extraordinário como o Instrumentum laboris do Sínodo Ordinário  incluem passagens que sugerem que as uniões homossexuais, embora não iguais ao casamento, todavia, têm algum grau de legitimidade. Os padres sinodais rejeitaram essa abordagem: nenhuma dessas passagens são encontradas nos relatórios finais de ambos os Sínodos.

A abordagem rejeitada, no entanto, foi reintroduzida em Amoris Laetitia a qual afirma, no parágrafo 52, que:

“Precisamos reconhecer a grande variedade de situações familiares que podem oferecer uma certa estabilidade, mas as uniões de fato ou entre pessoas do mesmo sexo, não podem ser de modo simplista equiparadas com o casamento.”

Isso implica:

(I) que “uniões entre pessoas do mesmo sexo” fazem parte daquelas “grandes variedades de situações familiares”
(II) que “uniões entre pessoas do mesmo sexo” podem oferecer “certa estabilidade” e
(III) que “uniões entre pessoas do mesmo sexo” podem em algum nível ser “equiparadas” com o casamento, só não o podem ser “de modo simplista”.

Além disso, o parágrafo afirma que “apenas a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher tem um papel pleno a desempenhar na sociedade como um compromisso estável que produz frutos de vida nova”. Declarar que apenas o casamento tem um “papel pleno”, necessariamente implica que outras formas de união têm algum papel a desempenhar na sociedade.

A coalizão Voice of the Family tem décadas de experiência coletiva militando em defesa da família em fóruns como as Nações Unidas, a União Europeia e junto aos governos nacionais. Nós sabemos muito bem o significado de tais expressões, que são deliberadamente inseridas em documentos oficiais de modo que possam mais tarde serem exploradas para perseguir uma agenda ideológica radical.

É por esta razão que os governos de muitos países, com a assistência de ativistas pró-vida e pró-família, têm lutado por décadas, e ainda estão lutando, para manter esses termos fora de documentos oficiais.

O significado trágico do aparecimento de tais termos em um documento promulgado pelo Papa não pode ser subestimado.

ANEXOS : OS TEXTOS DO SÍNODO SOBRE HOMOSSEXUALIDADE 

Relatio post disceptationem do Sínodo Extraordinário da Família, 13 de outubro de 2014

Acolher as pessoas homossexuais

50. As pessoas homossexuais têm dotes e qualidades para oferecer à comunidade cristã: somos capazes de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas nossas comunidades? Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que seja casa acolhedora. As nossas comunidades são capazes de o ser, aceitando e avaliando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica acerca de família e matrimónio?

51. A questão homossexual interpela-nos a uma séria reflexão acerca do modo como elaborar caminhos realistas de crescimento afetivo e de maturidade humana e evangélica, integrando a dimensão sexual: apresenta-se portanto como um desafio educativo importante. Aliás, a Igreja afirma que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimónio entre homem e mulher. Nem sequer é aceitável que se queiram exercer pressões sobre a atitude dos pastores ou que organismos internacionais condicionem ajudas financeiras para a introdução de normativas inspiradas na ideologia do gender.

52. Sem negar as problemáticas morais ligadas às uniões homossexuais, tomamos consciência de que há casos nos quais o apoio recíproco até ao sacrifício constitui um apoio precioso para a vida dos parceiros. Além disso, a Igreja dedica atenção especial às crianças que vivem com casais do mesmo sexo, reafirmando que devem ser sempre postas em primeiro lugar as exigências e os direitos dos filhos.

http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20141013_erdo-synod_po.html#Acolher_as_pessoas_homossexuais

Relatio Synodi do Sínodo Extraordinário a Família, 18 de outubro de 2014

Atenção pastoral às pessoas com orientação homossexual

55. Algumas famílias vivem a experiência de ter no seu interior pessoas com orientação homossexual. A este propósito, houve interrogações sobre qual atenção pastoral é oportuna diante desta situação, com relação àquilo que a Igreja ensina: «Não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família». Não obstante, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza. «Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação» (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4).

56. É totalmente inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres à introdução de leis que instituam o «matrimónio» entre pessoas do mesmo sexo.

Instrumentum laboris do Sínodo Ordinário, 23 de junho de 2015

[8] Mas, ao mesmo tempo, deseja-se reconhecer à estabilidade de um casal instituído independentemente da diferença sexual, o mesmo título da relação matrimonial intrinsecamente ligada às funções paterna e materna, definidas a partir da biologia da geração. A confusão não ajuda a definir a especificidade social de tais uniões, enquanto confia à opção individualista o vínculo especial entre diferença, geração, identidade humana. É certamente necessário um melhor aprofundamento humano e cultural, não só biológico, da diferença sexual, ciente de que «a remoção da diferença é o problema, não a solução» (Francisco, Audiência geral, 15 de Abril de 2015).

A atenção pastoral às pessoas com tendência homossexual

130.  Algumas famílias vivem a experiência de ter no seu interior pessoas com orientação homossexual. A este propósito, houve interrogações sobre qual atenção pastoral é oportuna diante desta situação, com relação àquilo que a Igreja ensina: «Não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família». Não obstante, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza. «Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação» (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4).

131. Reitera-se que cada pessoa, independentemente da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e recebida com sensibilidade e delicadeza, tanto na Igreja como na sociedade. Seria desejável que os programas pastorais diocesanos reservassem uma atenção específica ao acompanhamento das famílias em que vivem pessoas com tendência homossexual, bem como destas próprias pessoas.

132. É totalmente inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres à introdução de leis que instituam o «matrimónio» entre pessoas do mesmo sexo.

 

Relatório Final do Sínodo Ordinário da Família, 24 de outubro de 2015

76. A Igreja conforma a sua atitude ao Senhor Jesus que, num amor sem confins, se ofereceu por cada pessoa, sem exceções (cf. MV, 12). Em relação às famílias que vivem a experiência de ter no seu âmbito pessoas com tendência homossexual, a Igreja confirma que cada pessoa, independentemente da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, com o cuidado de evitar «qualquer atitude de injusta discriminação» (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4). Reserve-se uma atenção específica também ao acompanhamento das famílias em que vivem pessoas com tendência homossexual. No que se refere aos projetos de equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas homossexuais, «não existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família» (Ibidem). Contudo, o Sínodo considera totalmente inaceitável que as Igrejas locais padeçam pressões nesta matéria, e que os organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres, à introdução de leis que instituam o «matrimónio» entre pessoas do mesmo sexo.

http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20151026_relazione-finale-xiv-assemblea_po.html#Alguns_desafios_peculiares_

Amoris Laetitia, Exortação Apostólica do Papa Francisco, 19 de março de 2016

[52] … Já não se adverte claramente que só a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher realiza uma função social plena, por ser um compromisso estável e tornar possível a fecundidade. Devemos reconhecer a grande variedade de situações familiares que podem fornecer uma certa regra de vida, mas as uniões de fato ou entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, não podem ser simplistamente equiparadas ao matrimônio. Nenhuma união precária ou fechada à transmissão da vida garante o futuro da sociedade..

251. No decurso dos debates sobre a dignidade e a missão da família, os Padres sinodais anotaram, quanto aos projetos de equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas homossexuais, que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. É «inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimônio” entre pessoas do mesmo sexo».[278]

http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html

A opção Alemã do Papa Argentino.

O Cardeal Kasper e a ala progressista da Igreja da Alemanha obtiveram tudo o que queriam. Sobre a comunhão para divorciados novamente casados, Francisco está do lado deles. Ele já havia decidido há muito tempo e assim o fez.

Por Sandro Magister, 28 de abril de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: A confirmação definitiva da adesão do Papa Francisco à solução alemã para a questão crucial da comunhão para os divorciados novamente casados foi dada pelo mais célebre entre os cardeais e teólogos da Alemanha, Walter Kasper, na entrevista de 22 de Abril ao jornal de Aquisgrana: “Aachener Zeitung”:

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> Kardinal Kasper: Was Franziskus von der Kirche und Europa erwartet

Entrevista aqui sintetizada em Inglês:

Graças à Exortação pós-sinodal “Amoris laetitia” – disse Kasper – os bispos alemães agora estão de  “vento em popa para resolver essas situações de uma forma mais humana”.

E ele contou um episódio revelador. Algum tempo atrás, um padre conhecido seu, decidiu não proibir uma mãe que se casou novamente de receber a comunhão no mesmo dia da Primeira Comunhão de sua filha. E ele mesmo, Kasper, tinha ajudado o padre a decidir o caso, certo de que ele tinha “plenamente razão”. O cardeal, em seguida, referiu o acontecido ao papa, que aprovou a escolha e disse: “É assim que um pastor deve tomar uma decisão.”

Portanto, “a porta está aberta” para a admissão de divorciados novamente casados para os sacramentos, disse Kasper. “Há também alguma liberdade para os bispos individualmente e Conferências Episcopais. Porque nem todos os católicos pensam como nós, alemães. Aqui [na Alemanha] pode ser permitido o que na África é proibido. E, então o papa dá liberdade para diferentes situações e desenvolvimentos futuros”.

* * *

Entre Kasper e Jorge Mario Bergoglio, há muito mais do que um contato esporádico.

Em sua última conferência de imprensa no avião, voltando da ilha de Lesbos, na Grécia, Francisco disse que sentiu “incômodo” e “tristeza” pela importância dada pelos meios de comunicação à comunhão para divorciados novamente casados.

No entanto, isso aconteceu precisamente por causa da decisão do papa de confiar a Kasper – durante décadas, o número um dos defensores do avanço nesse assunto – o discurso de abertura do Consistório de cardeais em fevereiro de 2014.

Após aquele dramático consistório, seguiram-se dois sínodos que lançaram profundas divisões dentro da hierarquia da Igreja. Mas, na mente de Francisco, o roteiro já estava traçado. E o que agora se lê em “Amoris Laetitia”, cujo clímax é precisamente o oitavo capítulo redigido no estilo vago e vacilante, típico de Jorge Mario Bergoglio quando ele quer abrir ou fechar um processo, é que agora Kasper e os alemães, com absoluta certeza, podem seguir de “vento em popa.”

É claro que nem todos os cardeais e bispos da Alemanha estão de acordo com Kasper. O outro cardeal e teólogo Gerhard L. Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, é alemão e já disse várias vezes – a última em um livro publicado poucos dias antes da publicação de “Amoris Laetitia” – ser radicalmente contra aqueles que, absolvendo os divorciados que voltaram a se casar e admitindo-os novamente à comunhão, de fato, minam os fundamentos não apenas de um, mas de três sacramentos: Matrimônio, Penitência e Eucaristia.

Mas, agora se tornou evidente que, para Francisco, Cardeal Müller é carta fora do baralho, apesar de seu papel de guardião da doutrina e do esforço inútil com que ele enviou ao Papa dezenas de notas de correção do rascunho da Exortação, dado a ele com antecedência, por mero dever e protocolo oficial.

Na verdade, para apresentar oficialmente ao mundo a “Amoris laetitia”,  no dia da sua publicação, o papa não chamou Müller, mas outro cardeal e teólogo da região alemã, Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena.

E alguns dias depois, durante o vôo de Lesbos a Roma, Francisco propôs de novo Schönborn como exegeta principal da Exortação pós-sinodal, o qual ele definiu como  “grande teólogo [que] conhece bem a doutrina da fé”. Ao ser perguntado se os divorciados que voltaram a casar, agora poderiam sim ou não (possibilidade previamente excluída) ter a possibilidade de receber a comunhão, o papa respondeu de uma vez por todas com um peremptório e inequívoco: “Sim. Ponto final”. Mas ele, em seguida, aconselha-os a procurar exatamente Schönborn para obter uma resposta mais detalhada.

E não é por acaso, porque no Sínodo de outubro do ano passado foi exatamente o Arcebispo de Viena, de acordo com Kasper, que  elaborou as fórmulas do “Circulus Germanicus” que visavam aparentemente respeitar o ensinamento tradicional da Igreja, mas ao mesmo tempo fazer abertura para as mudanças –  fórmulas que seriam capazes de contornar as objeções de Müller – e que mais tarde se fundiram para formar o “Relatório final” do sínodo e, finalmente, a “Amoris laetitia”. Sempre naquela linguagem ambígua, detalhadamente estudada, mas que agora permite ao partido de Kasper declarar vitória enquanto Müller e outros, da sua parte sofrem uma fragorosa derrota.

* * *

Na frente oposta da solução vitoriosa dos alemães, até agora um único bispo se manifestou, indo direto ao cerne da questão, não só se refugiando por trás da natureza “não magisterial” – e portanto só interpretada exclusivamente à luz dos ensinamentos anteriores da Igreja – da “Amoris Laetitia “, como também fazendo eco ao  exemplo do Cardeal Raymond L. Burke.

Este bispo que é, curiosamente, de ascendência alemã, é o Auxiliar de Astana, no Cazaquistão, Athanasius Schneider.

O texto integral do pronunciamento de Dom Schneider saiu no dia 24 de abril e foi publicado por uma agência de língua italiana online “Corrispondenza Romana”, dirigida pelo professor Roberto de Mattei:

> “Amoris lætitia”: chiarire per evitare una confusione generale

E no dia seguinte no idioma Inglês no blog “Veri Catholici”:

> Bishop Athanasius Schneider speaks on “Amoris lætitia”

[NDT: e no FratresInUnum.com aqui]

Sobre a questão da comunhão para divorciados novamente casados, a crítica de Schneider à “confusão” produzida por “Amoris laetitia” é duríssima.

“A confusão atingiu o seu ápice – escreve ele – porque todos, tanto os defensores de admissão dos divorciados recasados à comunhão como os seus adversários, afirmam que o ensinamento da Igreja sobre este assunto não mudou”.

Schneider estabelece uma comparação com a propagação da heresia ariana, no século IV. No ano 357, a confusão atingiu o ponto extremo quando o mesmo Papa Libério apoiou uma fórmula ambígua sobre a divindade de Jesus, o que fez São Jerônimo dizer, descrevendo o estado de perdição daquela época: “O mundo inteiro gemeu e percebeu com espanto ter se tornado ariano”.

Naquele momento – Schneider salienta – “Santo Hilário de Poitiers foi o único bispo que teve coragem de fazer reprimendas severas ao Papa Libério por tais atos ambíguos.”

Mas ainda hoje – continua o Auxiliar de Astana – a situação é tal que alguns podem exclamar, como São Jerônimo: “O mundo inteiro gemeu e percebeu com espanto que tinha aceitado o divórcio na prática.”

Assim, portanto, como no século IV, “São Basílio o Grande fez um apelo urgente ao papa de Roma para que ele indicasse com a sua palavra uma direção clara para finalmente obter a unidade de pensamento na fé e na caridade”, assim hoje também, se “pode considerar legítimo apelar para o nosso caro Papa Francisco, o vigário de Cristo e ‘o doce Cristo na terra’ (S. Catarina de Siena), para que ordene a publicação de uma interpretação autêntica da “Amoris Laetitia “, que deve conter necessariamente uma declaração explícita do princípio disciplinar do magistério universal e infalível quanto à admissão aos sacramentos por parte de divorciados novamente casados, tal como formulado no n. 84 da ‘Familiaris Consortio'”.

O n. 84, “inexplicavelmente ausente do ‘Amoris Laetitia “, diz:

“A reconciliação no sacramento da Penitência – que abre o caminho para o sacramento da Eucaristia – só pode ser concedido àqueles que… assumem o dever de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges”.

* * *

Diante do estado das coisas, parece pouco provável que o Papa Francisco acolha um apelo semelhante.

O processo de mudança está em pleno movimento, e ele é o primeiro que já deu amostras de não ter qualquer intenção de querer parar. Muito pelo contrário!

E é o processo em que os alemães da linha  Kasper “obtém tudo o que eles querem”, como observou o teólogo moral E. Christian Brugger, um professor na St. John Vianney Theological Seminary, em Denver, na análise de “Amoris laetitia” por ele publicada em 22 de Abril no  “The Catholic World Report” “, a revista on-line americana dirigida por Carl Olson e editada pelo jesuíta Joseph Fessio, fundador e editor da Ignatius Press:

> Five Serious Problems with Chapter 8 of “Amoris lætitia” [Cinco sérios problemas com o Capítulo 8 de “laetitia Amoris”]

Abaixo estão algumas passagens [em espanhol] da análise de Professor Brugger, saída de um ensaio sobre a indissolubilidade do casamento do Concílio de Trento.

Uma última nota sobre o eixo entre o papa Argentino e a ala progressista da hierarquia alemã: Cardeal Kasper, juntamente com o compatriota e companheiro Karl Lehmann, desempenharam um papel importante naquele grupo de cardeais que uma década antes e depois do ano 2000 reuniam-se regularmente em St. Gallen, na Suíça alemã, de onde floresceu e  finalmente triunfou a eleição de Bergoglio como papa.

LifeSiteNews e a exortação “Amoris Laetitia”.

Importante site pró-vida americano, historicamente ligado às figuras e ao magistério de João Paulo II e Bento XVI, expressa sua perplexidade.

Papa Francisco abre a porta da Comunhão para católicos recasados em uma Exortação marcante.

Por LifeSiteNews, Roma, 8 de abril de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com:  O trecho mais controverso da nova Exortação Apostólica do  Papa Francisco – Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) – pode ser resumido a uma nota de rodapé humilde, mas a implicação é clara: o papa abriu as portas à proposta do Cardeal Walter Kasper, segundo a qual, em algumas circunstâncias, divorciados recasados católicos poderiam ser readmitidos aos sacramentos, inclusive a Eucaristia.

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Carta do Papa Francisco aos bispos, apresentando sua exortação apostólica.

Ao fazê-lo, o papa parece ter tomado uma posição contrária à de seus predecessores, mais notavelmente o Papa São João Paulo II que categoricamente rejeitou a idéia de admitir divorciados novamente casados à Comunhão na sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio. O Papa Bento XVI, durante seu tempo como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, também abordou a controvérsia, manifestando-se definitivamente contra a liberalização da prática na Igreja.

Somente no capítulo 8 da “historicamente longa exortação apostólica” que o Papa Francisco aborda diretamente a questão que envolveu a Igreja em um debate durante os últimos dois anos –  desde que o cardeal Kasper, a convite pessoal do Papa, esboçou essa proposta controversa em um discurso de abertura do Consistório de cardeais no Vaticano.

O texto do documento final (ou relatio) do Sínodo do ano passado sobre a família havia causado preocupação entre alguns padres sinodais ao fazer referência à idéia do “foro interno” em relação ao debate sobre divorciados novamente casados. Esta idéia tem sido usada por alguns teólogos ao argumentarem  que um penitente que persiste em um estado objetivamente pecaminoso poderia discernir, em discussão privada com seu confessor, que a sua culpabilidade subjetiva é limitada, e ele poderia, portanto, voltar aos sacramentos.

Na Exortação divulgada hoje, o Papa Francisco adotou e ampliou esse raciocínio.
Apesar de toda a ênfase do Capítulo 8 deixar margem para uma “integração” mais profunda daqueles vivem em “uniões irregulares” na vida da Igreja, no corpo principal do texto, o Papa deixa o significado da frase mais ou menos ambíguo. No entanto, ele fornece uma resposta clara no final de uma nota de rodapé no parágrafo 305, onde afirma que essa “integração” pode, “em certos casos”, envolver a admissão aos sacramentos, incluindo a Eucaristia. Ele não elucida de modo explicito o que esses “certos casos” poderiam ser, embora princípios gerais de discernimento sejam dados em outras partes do texto.

No parágrafo 305, o papa adverte que “um pastor não pode decidir que é simplesmente suficiente aplicar as leis morais àqueles que vivem em situações irregulares”, como se as leis fossem pedras para atirar na vida das pessoas. Citando uma seção bem conhecida de seu próprio discurso na conclusão do Sínodo sobre a Família em outubro passado, Francisco diz que tal pastor seria  como alguém “sentado na cadeira de Moisés e, julgando por vezes com superioridade e superficialidade casos difíceis e famílias feridas.”

Ele acrescenta:

Por causa dos condicionalismos ou dos factores atenuantes, é possível que uma pessoa, no meio duma situação objectiva de pecado – mas subjectivamente não seja culpável ou não o seja plenamente –, possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja

No final dessa frase, ele inclui uma nota de rodapé (351), que esclarece: “Em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos” e, em seguida, refere-se tanto à Confissão como à Eucaristia. Ele escreve: “E de igual modo assinalo que a Eucaristia «não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos»”.

Falando do problema da integração de pessoas em uniões irregulares, o papa diz que seria impossível estabelecer “regras gerais”, como aquelas presentes no direito canônico. Em vez disso, ele encoraja as pessoas a discernir sobre suas circunstâncias individuais no “foro interno” – isto é, em consulta privada com um sacerdote – e seguindo as diretrizes estabelecidas pelo bispo.

Ele escreve: “O que é possível é simplesmente um renovado estímulo para levar a cabo um discernimento pessoal e pastoral responsável sobre casos particulares, algo que reconheça, que uma vez que “o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos”, as consequências ou “efeitos de uma regra não precisam necessariamente ser sempre o mesmo”.

Isso se aplica até mesmo à “disciplina sacramental”, escreve ele em uma nota a esse texto, porque “o discernimento pode reconhecer que em uma situação particular não existe nenhuma falha grave.”

Citando o Sínodo da Família em seu texto final, Francisco diz que o “discernimento nunca pode prescindir das exigências do Evangelho sobre a verdade e a caridade, tal como proposto pela Igreja”. Ainda citando o texto Sínodo, ele diz que o discernimento deve envolver várias condições: “a humildade , discrição e amor à Igreja e seu ensino, em uma busca sincera da vontade de Deus e um desejo de dar uma resposta mais perfeita a Ele”.

Em seguida, escreve: “Essas atitudes são essenciais para evitar o grave perigo de mal-entendidos, como a noção de que qualquer sacerdote pode conceder rapidamente ‘exceções’, ou que algumas pessoas podem obter privilégios sacramentais em troca de favores.”

O Papa baseia o seu argumento em uma interpretação radical do papel da consciência – a qual segundo o que ele sugere, poderia, em alguns casos, realmente revelar a uma pessoa que Deus pode de fato estar “pedindo” para que ela  continue vivendo em uma situação que não chega a ser o “objetivo ideal”do Evangelho.

O Papa escreve que a “consciência individual precisa ser incorporada na práxis da Igreja, em certas situações que não englobam objetivamente nossa compreensão do casamento”. Ele continua:

É claro que devemos incentivar o amadurecimento duma consciência esclarecida, formada e acompanhada pelo discernimento responsável e sério do pastor, e propor uma confiança cada vez maior na graça. Mas esta consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objectivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objectivo.

Talvez o aspecto mais surpreendente do tratamento que essa Exortação dá às uniões irregulares é a aparente omissão do papa em relação à ideia de que casais que vivem em tais uniões e que se julgam incapazes de se separar por alguma razão legítima deveriam ser exigidos ou até mesmo encorajados a viver juntos apenas como “irmão e irmã” – ou seja, a renúncia ao envolvimento em relações sexuais.

O Papa João Paulo II tinha, na Familiaris Consortio, proposto a continência sexual como a única solução moral para os casais que, ao se arrependerem de sua união irregular, achavam que “por razões graves” – tais como a necessidade de criar seus filhos – “não poderiam satisfazer a obrigação de se separar”. “Nesses casos”, escreveu João Paulo II, o casal deveria “assumir a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos sexuais próprios dos cônjuges devidamente casados”.

O Papa Francisco, no entanto, enquanto cita esta frase da Familiaris Consortio para demonstrar que a Igreja reconhece casos em que a separação pode ser impossível, deixa de fora a segunda metade da frase, que faz referência explícita à obrigação da continência. Numa nota de rodapé, o Papa Francisco, em seguida, põe em dúvida a sabedoria de se propor uma vida de continência para tais casais, sugerindo que isso poderia prejudicar o relacionamento do casal e, consequentemente, os filhos do casal.

“Nestas situações, muitos, conhecendo e aceitando a possibilidade de conviver «como irmão e irmã» que a Igreja lhes oferece, assinalam que, se faltam algumas expressões de intimidade, «não raro se põe em risco a fidelidade e se compromete o bem da prole»” . Esta nota de rodapé, por sua vez cita o documento do Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes – em particular, uma seção que reconhece a tensão que casais enfrentam durante períodos de abstinência quando praticam o planejamento familiar natural. No entanto, aqui Papa Francisco faz uso da citação para aplicá-la àqueles que vivem em uniões irregulares.

Papa Francisco reconhece que a abordagem pastoral que ele delineou pode ser vista por alguns como fonte de confusão, mas sugere que este é um risco que ele está disposto a assumir. “Eu entendo aqueles que preferem uma pastoral mais rigorosa que não deixa espaço para a confusão”, escreve. “Mas eu sinceramente acredito que Jesus quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito Santo semeia no meio da fraqueza humana, uma Mãe que, ao expressar claramente seu ensinamento objetivo, sempre faz o que ela pode, mesmo se no processo os seus sapatos acabam se contaminando com a lama da rua”.

A decisão de hoje do Papa é o resultado de décadas de pressão por parte dos progressistas no rescaldo do Concílio Vaticano II. Em particular, foi um grande ponto de discussão no Sínodo sobre a Família que o Papa João Paulo II convocou em 1980. E foi em sua exortação seguinte ao Sínodo, Familiaris Consortio, que ele firmemente fechou a porta sobre essa questão, citando as Escrituras e a Doutrina da Igreja. Seu curto parágrafo sobre a questão ainda oferece a explicação mais convincente e concisa do porquê tal proposta é impossível. João Paulo II escreveu:

A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e actuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimónio.

Sobre o divórcio, eram exatamente os fariseus que decidiam “caso por caso”.

Por Francesco Agnoli – La Nuova Bussola Quotidiana | Tradução: FratresInUnum.com: Frequentemente se lê, nos dias de hoje, que, entre os defensores da indissolubilidade do matrimônio estariam muitos fariseus que escolhem uma posição muito “rigorosa” porque são contrários à misericórdia ou porque gostariam de afirmar uma superioridade moral sobre o próximo, fechando, assim, a porta. A Igreja “aberta” seria, portanto, uma igreja que rejeita o legalismo hipócrita dos fariseus e estabelece uma nova visão da misericórdia e, no caso do casamento, uma nova visão da fidelidade e do adultério.

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Os fariseus

Certamente que pode haver, entre os que se apresentam como defensores da verdade, alguns fariseus. A verdade pode, de fato, tornar-se um ídolo e um cassetete para usar contra os outros. Mas isso não ocorre quando quem a defende o faz com amor, primeiro para consigo mesmo, e porque acredita que ela deve ser testemunhada e anunciada com humildade e para o bem de todos (não como um privilégio ou como uma fonte de orgulho). Mas, deixando de lado os julgamentos, muitas vezes temerários, sobre os motivos que moveram muitos padres no Sínodo a manter a doutrina tradicional diante das teses de alguns membros do episcopado da Europa do Norte, é importante voltar ao Evangelho, e observar realmente o comportamento dos fariseus.

Será que ali os encontramos intencionados a defender, em nome da lei, a indissolubilidade do casamento, tão claramente anunciada por Cristo?

Não, ocorre exatamente o oposto.

Os fariseus são os ferrenhos opositores da doutrina evangélica sobre o matrimônio. São eles que se aproximam de Jesus tentando desafiar sua clareza ao perguntar-lhe “se é lícito repudiar a esposa por qualquer motivo” (Mateus 19.3). Porque segundo a lei de Moisés, de fato, era concedido ao homem o direito de repúdio mediante uma carta de divórcio, dando a ele a permissão de se casar novamente. Jesus, por sua vez, não entra na casuística rabínica, não fica perdido nos “casos individuais”. Ele, que mais do que ninguém conhece caso a caso e os julga com misericórdia, não faz outra coisa senão recordar-lhes que  “no princípio não era assim”, que Moisés “por causa de sua dureza de vossos corações concedeu-lhes repudiar suas esposas” e que o plano original de Deus é que o casal se torne “uma só carne”.

“O que Deus uniu”, afirma Jesus, sabendo que a sua palavra será dura e difícil de entender, “o homem não separe”. E assim é encerrada de uma vez por todas a lei de Moisés que havia gerado uma grande casuística (deixava ao discernimento dos rabinos sobre qual seria a lista de possíveis causas de repúdio), e é anunciada  a nova lei do amor. “Terminada a lição aos fariseus”, escreve Joseph Ricciotti, em sua obra “Vida de Jesus”, “os discípulos voltam novamente à questão dolorosa da esposa, interrogando Jesus privadamente em casa”. Sim, a indissolubilidade realmente não era do agrado de nenhum deles, mas Jesus não encontra palavras diferentes, menos claras, mais flexíveis para evitar que alguém exclamasse: “Se, portanto, é assim a condição do homem em relação à sua esposa, não convém nem mesmo se casar” .

Se tudo isso é verdade, para um católico resta apenas uma possibilidade: reconhecer que o adultério e o estudo de caso a caso, amado pelos fariseus, não têm lugar na visão evangélica, da qual a doutrina tradicional é simplesmente uma transcrição, porque pertence ao reino da lei, a mesma lei que os fariseus sempre deturparam para atacar Jesus.

A única lei de Cristo, no entanto, é o amor, assim como Deus o quis desde o princípio. Este amor, e aqui está o escândalo para todos, mesmo para os discípulos, contempla até a presença da cruz. E é por isso que na visão do mundo e na de muitos homens da Igreja a “boa nova” parece muito dura. Por isso gostariam de introduzir a exceção, a casuística, em uma religião em que Deus vai às últimas consequências com sua lealdade e seu amor, até o ponto de ser acusado de violar a lei de Moisés para ser crucificado, porque Ele diz coisas incompreensíveis e não quer diluí-las.

Cristo manifesta assim a sua misericórdia: não fazendo concessões às exigências dos fariseus, nem às dos apóstolos (alguns dos quais são casados e não estão felizes de ver tolhida a possibilidade tradicional de repúdio), ou para os ajustes que fariam diminuir o número de seus inimigos, mas dando todo o seu coração para a humanidade (misericórdia deriva literalmente de  miseris cor dare: dar o coração aos pobres): a fim de que os homens aprendam a doar-se a seus entes queridos, seus filhos, sua esposa, seus próprios amigos. Se os cristãos anunciam a possibilidade de um amor assim, eles não anunciam uma lei, mas o próprio amor de Cristo.

E para aqueles que repetem que o amor indissolúvel é um anúncio irrealista no Ocidente de hoje, recordem-se, primeiro, que nem tampouco parecia realista há dois mil anos quando o divórcio e o repúdio no Império Romano eram a norma, e em segundo lugar, que Cristo não é Maquiavel. Ele não veio para explicar-nos a “realidade real”, ou para nos recordar de como o homem é fraco e frágil (isso qualquer um chega por si só), mas para nos indicar as alturas da santidade, o caminho para felicidade. Ele veio para nos dizer: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:48).  Será que ele também estava voando alto demais?  Qualquer anúncio que não lembre ao homem sua filiação com Deus e essa possibilidade de grandeza e amor total é um anúncio humano, demasiado humano. Não é a “boa nova”.

O presidente da Conferência Episcopal das Filipinas ordena administrar a Comunhão aos adúlteros.

Mons. Socrates Villegas B., arcebispo de Lingayen Dagupan e Presidente da Conferência Episcopal das Filipinas, escreveu uma carta em que diz que não devemos esperar pelas diretrizes dos bispos sobre a Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” e pede que se dê a comunhão – “alimento para os miseráveis” – aos “pecadores”.

Por Infocatólica | Tradução: FratresInUnum.com: (InfoCatólica) Estas são as palavras de Mons Lingayen Dagupan, publicadas no site da Conferência Episcopal das Filipinas :

“Depois de um discernimento conjunto, os seus bispos devem elaborar diretrizes mais específicas sobre a implementação da Exortação Apostólica. Mas a misericórdia não pode esperar. A misericórdia não deve esperar. Os bispos e padres devem receber com os braços abertos todos aqueles que permaneciam fora da Igreja por um sentimento de culpa e vergonha. Os leigos devem fazer o mesmo. Quando os nossos irmãos e irmãs, por causa de relacionamentos rompidos, famílias destruídas e vidas partidas, permanecem timidamente no umbral de nossas igrejas e nossas vidas, sem saber se eles serão recebidos ou não, nós devemos ir ao encontro deles, como o Papa nos pede que façamos, e assegurarmo-lhes de que há sempre um lugar na mesa dos pecadores, na qual o próprio Senhor se oferece como alimento para o miserável. O res mirabilis manducat Dominum Pauper, servus et humilis … Oh que maravilha, o pobre, o servo humilde também recebem o Senhor. Trata-se de uma medida de misericórdia, uma abertura de coração e de espírito que não necessita de nenhuma lei, não espera qualquer diretriz nem aguarda instruções. Pode e deve ser colocada em prática imediatamente”.

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O texto integral da carta do Arcebispo e Presidente da Conferência Episcopal das Filipinas:

http://cbcpwebsite.com/Messages/amoris.html

Convém, todavia, recordar que a Exortação Amoris Laetitia não mudou a disciplina da Igreja ou de sua doutrina a respeito da recepção da comunhão. Neste sentido, InfoCatólica subscreve a declaração publicada recentemente por Mons. Livio Melina, presidente do Pontifício Instituto João Paulo II. Nós a estamos traduzindo e publicamos por ora esta frase:

“Portanto, deve-se dizer claramente, que mesmo após a Amoris Laetitia, admitir à comunhão os divorciados ‘que voltaram a se casar novamente’, exceto nas situações descritas na Familiaris Consortio 84 e no Sacramentum Caritatis 29 [Nota tradutor: o compromisso de “viver como irmãos”] vai contra a disciplina da Igreja e ensinar que é possível admitir a comunhão para ‘divorciados recasados’ para além destes critérios é contra o Magistério da Igreja”.