Um primeiro texto chegou à outra margem do Tibre em dezembro, mas foi considerado inadequado: assim, a Santa Sé solicitou um novo documento, que acaba de chegar e agora está sendo examinado.
Andrea Tornielli | Tradução: Fratres in Unum.com
A verdadeira resposta do superior da Fraternidade São Pio X, Bernard Fellay, formulada segundo a solicitação da Santa Sé, chegou ao Vaticano apenas na semana passada. A primeira resposta, enviada à outra margem do Tibre em 21 de dezembro passado, não foi considerada adequada pelas autoridades vaticanas, que convidaram o responsável dos lefebvrianos a reformulá-la, considerando esse primeiro envio mais uma “documentação” do que uma resposta. O bispo Fellay, então, preparou um segundo texto, mais conciso, relacionado ao preâmbulo doutrinal que a Congregação para a Doutrina da Fé lhe havia entregado em setembro passado. Este segundo texto agora está sendo examinado atentamente pelos consultores da Comissão Ecclesia Dei, que se ocupam do dossiê dos lefebvrianos e que necessitam de mais algum tempo.
Na próxima semana, a plenária da Congregação para a Doutrina da Fé se reune no palácio do Santo Ofício. A ordem do dia inclui a possibilidade de uma comunicação concernente às relações com a Fraternidade São Pio X, mas dificilmente a reunião poderá ser decisiva, já que a segunda resposta de Fellay, que aceita algumas partes do preâmbulo doutrinal, pondo outras em discussão, necessita de tempo para ser examinada. É provável que uma decisão mais precisa sobre o que será feito venha a ser tomada não neste momento, mas em fevereiro, durante uma “Féria IV”, como são chamadas as congregações ordinárias do antigo Santo Ofício.
Como se pode recordar, no prêambulo doutrinal proposto pela Comissão Ecclesia Dei, presidida pelo Cardeal William Levada e guiada por Monsenhor Guido Pozzo, se pedia aos lefebvrianos que subscrevessem a profissão de fé, o que é considerado indispensável para ser católico. A profissão prevê três graus diversos de assentimento que se pede e faz a distinção entre verdades reveladas, declarações dogmáticas e magistério ordinário. Com relação a este último, afirma que o católico está chamado a assegurar um “religioso obséquio da vontade e do intelecto” aos ensinamentos que o Papa e o colégio de bispos “propõem quando exercitam seu magistério autêntico”, ainda que não sejam proclamados de modo dogmático, como no caso da maior parte dos documentos do magistério.
Quando foi entregue o preâmbulo, as autoridades vaticanas esclareceram que este texto não seria publicado porque não era ainda definitivo, isto é, admitia mudanças — não substanciais — ou eventuais acréscimos. De setembro a dezembro, se espalharam vozes sobre a dissensão dentro da Fraternidade por parte daqueles que não consideram possível um acordo com Roma. Fellay mesmo falou várias vezes do assunto. Em um primeiro momento, havia afirmado que o preâmbulo representava um grande avanço. Depois, após uma importante reunião com os chefes dos distritos da Fraternidade, sempre insistindo na importância do diálogo inciado, afirmou que não podia acolher o preâmbulo tal como estava, acrescentando: “Se Roma nos pede que aceitemos de toda forma, nós não podemos”. Fellay então enviou a primeira resposta, não considerada como tal pelo Vaticano. E agora enviou uma segunda.
O fato de que a nova e mais adequada resposta — que foi considerada nos sacros palácios “um avanço” — tenha que ser atentamente estudada e aprofundada, quer dizer que não é nem um “sim” nem um “não” definitivo ao texto do preâmbulo. Mas que acolhe algumas partes do texto do Vaticano, expressando, por outro lado, suas reservas em relação a outras. E, principalmente, pede mais esclarecimentos e acréscimos. Os lefebvrianos, de fato, não pretendem dar seu assentimento aos textos conciliares relativos à colegialidade, ao ecumenismo, ao diálogo interreligioso e à liberdade religiosa, porque consideram que entram em contraste com a tradição. Precisamente o conceito de tradição, “Traditio”, e seu valor, representa o ponto fundamental do debate que caracterizou as conversações entre a Fraternidade e a Santa Sé. Os lefebvrianos criticam alguns fragmentos conciliares considerando que entram em contraste com a tradição da Igreja.
Quando era Cardeal, Joseph Ratzinger insistiu mais de uma vez na necessidade de não se considerar o Concílio como um “super dogma”. Como Papa, Bento XVI, no já famoso discurso à cúria romana de dezembro de 2005, insistiu na necessidade de interpretar o Vaticano II de acordo com a hermenêutica da “reforma” na “continuidade”. O Catecismo da Igreja Católica, cujo vigésimo aniversário se celebrada em 2012 com um especial Ano da Fé, já propôs esta chave de interpretação para alguns dos pontos que os lefebvrianos consideram controversos.
Ainda é prematuro lançar hipóteses sobre o resultado final deste diálogo que, na fase presente, está ocorrendo à distância e por escrito. Mas ainda não foi dita nenhuma palavra definitiva: o Papa quer fazer tudo o que for possível para sanar a fratura que se criou com os lefebvrianos, e Fellay o sabe muito bem.
O Papa Bento XVI é um dom misericordioso de Deus para a sua Igreja, até hoje também acredito que sua eleição foi um verdadeiro milagre e seu pontificado está sendo surpreendente e interessantíssimo, em um balanço, Bento XVI está tentando arrumar a bagunça da casa, tirar os entulhos e trazer o que é bom e belo de volta para ela.
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…Mas D. Fellay também sabe que o papa deseja salvar o Concílio até o final, que não é do desejo de Roma revisar as neo-doutrinas da colegialidade, do ecumenismo, da liberdade religiosa. Bento XVI quer fazer a síntese, infelizmente estes quase sete anos de pontificado estão demonstrando que não há desejo de retorno.
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Pq o papa iria querer arrumar a bagunça da casa se ele era um dos líderes a bagunçar?
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Um dos lideres, nada. Ele foi sim, um dos teólogos envolvidos, mas nada tem a ver com a bagunça subsequente. Condenou vários e vários teólogos heterodoxos. Enquanto Cardeal manifestou diversas vezes seu descontentamento com o caminho que a Igreja havia tomado apos o Concilio. Em especial com a Liturgia. Está confundindo Ratzinger com outros. Não é por nada, que como Papa Bento XVI, tem se empenhado muito em concertar os estragos.
Mas sobre as negociações, parece que estão evoluindo. Quem diria.
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A atuação do então Prefeito da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, bem como os quase sete anos de seu pontificado, são evidências de que Bento XVI não pensa como pensava quando jovem perito do concílio. As pessoas amadurecem, mudam… Quantos de nós outrora não nos enredávamos em caminhos estranhos à Tradição?! E, justiça seja feita, foram outros os reais artífices do concílio.
Um balanço sincero do pontificado de Bento XVI mostra que o que foi feito não foi pouco. A crise é grave, portanto, toda ação deve ser pensada e repensada para que não sejam abertas mais “feridas”. Bento XVI age com cautela, prudência. Dizendo isso concordo com tudo o que falou e fez Bento XVI?! Evidentemente que não. Nem sou obrigado a tal. O que não pode faltar é respeito no trato, afinal, trata-se de um legítimo sucessor de São Pedro. Fico perplexo como alguns falam do papa; beiram ao sedevacantismo.
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Basta alguém não concordar com o Papa que esta conversa de sedevacantismo já vem a tona, o Papa Bento XVI na verdade é prisioneiro de um concílio que ele participou ativamente sim, e se quer restaurar a igreja deve botar pra correr ( falo com uma figura de linguagem) estes bispos que desafiam a doutrina bi-milenar da igreja. Mas não, ao invés, continua com encontros escandalosos de Assis 3,4,5… diz do heresiarca Lutero “O que não dava paz (a Lutero) era o assunto de Deus, que era a paixão profunda e a força de suavida e seu total itinerario. (…) O pensamento de Lutero, sua espiritualidade inteira, estavam completamente centrados em Cristo”, de fato não vejo como um Papa que elogia Lutero quer reformar a Igreja que depois deste Mega Concílio se transformou em uma Babel doutrinária, ademais o Papa tem que ter autoridade para fazer as reformas necessárias sem ter medo de perseguição, mas continua essa conversa fiada de querer agradar Gregos e Troianos por isso a coisa não caminha.
Não quero jamais faltar com respeito com o Santo Papa mas para a FSSPX todo o rigor, enquanto para grupos que se dizem Católicos por mais exóticos que sejam brandura total, aja paciência.
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Senhores, atenham-se ao assunto do post (que não é o pontificado de Bento XVI). Aviso dado. Obrigado.
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Caro Danilo,
Salve Maria!
Acho que o sr não leu meu comentário direito… Não disse que não se pode “discordar” do papa enquanto pensador privado. Eu mesmo tenho reservas sobre alguns de seus discursos e atitudes. Sabemos que o papa só goza de prerrogativa de infabilidade em circunstâncias bem específicas. O que critico é o trato ao se falar do papa. Existem “católicos” que falam dele como se falassem de qualquer um, sem o respeito devido a um legítimo sucessor de São Pedro, com grosseria e desdém, o que é típico dos sedevacantistas. Ex: Falam Wojtyła ao invés de Papa João Paulo II ou Ratzinger ao invés de Papa Bento XVI, como se duvidassem da legitimidade de seus respectivos pontificados (Este é um caso bem “leve” se comparado com outros bem piores que não ouso sequer reproduzir).
Não sou daqueles que acreditam que o suspiro do papa é infalível, apenas acho que devemos falar dele com deferência.
Quanto a solução que o sr propôs para a grave crise que enfrentamos “botar certos bispos para correr”, embora não discorde de todo, penso que é simplista demais. A situação é muito complexa. Com certeza um pouquinho mais de disciplina viria a calhar, mas o câncer do modernismo está tão espalhado que apenas uma “intervenção cirúrgica”, por assim dizer, é deveras insuficiente. Estamos precisando de uma “quimioterapia”. O sr entende o que quero dizer?!
Acredito ser injusto dizer que Papa Bento XVI não fez nada. Basta lembrar do Motu Proprio (Do qual sou beneficiário, graças a Deus!), do levantamento das excomunhões, da abertura inédita para discutir o concílio (Antes um tabu), de seu exemplar zelo litúrgico (E sabemos que um exemplo vale mais que mil palavras), etc etc, para concluir que tal conclusão não condiz com a verdade. Temos que cuidar para não sermos temerários.
Mais poderia ter sido feito?! Penso que sim. Porém, este pontificado ainda está “em aberto”. Bento XVI, embora octogenário, felizmente, goza de boa saúde.
Abraço
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Sr Darildo,
Desculpe ter errado o seu nome (Me dirigi ao sr como Danilo).
SM
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Lucas Lima
Quantos de nós outrora não nos enredávamos em caminhos estranhos à Tradição?!
Quem na face da Terra n sabe que eu fui rccista? Faça como algumas pessoas que vc diz que crescem e mudam, pára de jogar piadinha para minhas postagens. Ah, eu n sou sedevacantista.
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