Tamquam leo rugiens.

Por FratresInUnum.com, 30 de julho de 2021 – Os papas ditos conservadores sempre foram muito zelosos em dizer as coisas certas, mas sem estabelecer uma vigilância que oportunizasse a imposições de sanções para os desobedientes e contestatários.

Apesar das claras e firmes condenações ao modernismo, e do tão execrado Sodalitium Pianum, o próprio São Pio X excomungou somente dois hereges, os modernistas Alfred Loisy e George Tyrrell.

De volta aos anos 60: até Elvis Presley avacalhou a Missa Tradicional.

Já Pio XII escreveu uma Encíclica excepcional, a Humani generis, em que condena da Nouvelle Théologie, mas sem criar nenhum dispositivo para a punição dos seus autores. Resultado: os teólogos heterodoxos foram inibidos durante um tempo, mas depois vieram com toda a força durante e depois do Concílio Vaticano II, invertendo completamente a situação.

João Paulo II foi ainda pior. Mandou a Congregação para a Doutrina da Fé promulgar um documento contra a Teologia da Libertação, a Instrução Libertatis nuntius, mas, diante do protesto e das ameaças de cisma oriundos do Brasil, acabou por retroceder e mandar escrever a Instrução Libertatis conscientiae, em que afirma a possibilidade de existência de uma ortodoxa teologia da libertação, algo mais ou menos tão possível quanto um triângulo quadrado.

Na época em que o livro de Leonardo Boff, Igreja: carisma e poder, foi censurado, ele mesmo recebeu apenas o silêncio obsequioso de um ano, coisa mais ou menos equivalente a um pito, mas que foi suficiente para deixar toda a esquerda possessa de ódio, a ponto de mobilizar centros de defesa dos direitos humanos contra o Papa.

Em Traditionis custodes, Francisco faz exatamente o contrário. Após dizer coisas inconsistentes com a obstinada intenção de tornar impossível não apenas a celebração da Missa Tradicional, mas até a vida daquelas instituições erigidas pela Igreja para conservá-la, ele determina as instituições que exercerão o papel policial de perseguição e penalização dos desobedientes, com a mesma intolerância com que a esquerda sempre atuou contra os seus opositores.

No art. 7, ele escreve que “a Congregação para o Culto divino e a Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, para as matérias da sua competência, exercerão a autoridade da Santa Sé, vigiando a respeito da observância destas disposições”.

A novidade deste artigo não está no fato de que as Congregações exerçam autoridade em nome da Santa Sé, pois isso é o que constitui a essência de um dicastério — do grego, dikastes, juiz, pois julgam em nome do Romano Pontífice — e nem que o façam nas matérias em que são competentes.

As novidades deste artigo são duas. A primeira é que, extinta completamente a Comissão Ecclesia Dei, o rito tradicional passa a ser de competência da Congregação para o Culto Divino, do qual o prefeito recém nomeado é histórico inimigo, e, como dissemos ontem, os Institutos tradicionais passam a depender da Congregação para os religiosos, cujo prefeito é alérgico a qualquer coisa que relembre a Tradição.

A segunda novidade é que essas Congregações devem exercer vigilância para que o Motu Proprio seja devidamente observado. Em outras palavras, Francisco está dizendo que isso aqui não ficará apenas no papel: haverá censura, haverá perseguição, haverá silenciamento, haverá supressão, haverá sanção canônica, haverá desaparecimento. Em outras palavras, estamos já sob o regime de uma ditadura tão férrea quanto a da União Soviética ou da China. Os organismos da Igreja estão com as armas direcionadas para a nossa cabeça. Os tradicionalistas estão sob o alvo dos modernistas. Agora é a hora do ataque.

Eles não têm pressa. Não se trata de uma questão que precise ser resolvida de modo imediato. O aparato institucional já foi criado e, agora, basta ir calmamente aplicando as meditas de intervenção, na expectativa de que os mais covardes desistam de antemão da resistência.

Do ponto de vista da liturgia, a Congregação para o Culto Divino pode facilmente emitir decretos, por exemplo, autorizando a Comunhão na mão nas Missas Tridentinas ou alterando o calendário litúrgico para que se adapte ao novo; se o próprio Francisco já tentou enfiar o lecionário novo no missal antigo, o que lhes impede de mudar rubricas e impor novas orações? Não é de se descartar que, dentro de pouco tempo, haja padres celebrando a Missa tradicional com túnica morcegão e estola de crochê, que se introduzam cânticos carismáticos no lugar do graduale e do kyriale e que se imponha ministros leigos da comunhão e até leitores e leitoras. É para isso que o rito tradicional enquanto tal mudou de competência. A hora é de anarquizar.

Em todo caso, a vigilância é o que se quer impor, mais do que qualquer mudança imediata. Quer-se introduzir o medo, a mentalidade de controle. Não existe tolerância por parte de modernistas e aos conservadores é necessário ter ciência disso! Trata-se da imposição pura e simples. Aí não há diálogo, sinodalidade, comunhão, pluralidade, igualdade; há somente supremacia e destruição! É disso que se trata. Da parte do bom clero católico, resta apenas a resistência sóbria e corajosa, pois “o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir – tamquam leo rugiens –, procurando a quem tragar” (1Pd 5,8).

9 comentários sobre “Tamquam leo rugiens.

  1. Inacreditável! Só pode ser montagem. Vou procurar esse “Born To Rock 3 STAR”, pois não consigo entender.

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  2. O comportamento do papa Francisco após o Traditionis Custodes – os proprietários e comentaristas daqui idem não o são – é típico de qualquer comunista: traiçoeiro, semelhante ao chantagista e mega patife Lula, no sentido que ele não faz nada de excepcional para mostrar que é impávido e aguerrido, porém, sabe mandar, ordenar em executar as ordens no grito e no estardalhaço; portanto, audacioso, astuto, a ponto de subornar os que fraquejam diante dele, ou sabe de como persuadir os fracos e os sentimentalistas com lágrimas de crocodilo – como tantas vezes já vimos até em redes oficiais de tv, como em sua ex amada-amante Rede GRobo-BBB – ou então agindo como cães que ladram, todavia, estão amarrados e nada podem causar, senão estardalhaço, como foguetes que espoucam nos ares e geram fumaça que se esvai ao vento – nada mais!
    A situação do papa Francisco é caótica: rejeitado, achincalhado de modo desrespeitoso apenas pelo cargo que desempenha, mas pessoalmente está irremediavelmente bastante desgastado e querendo segurar-se no na Cathedra Sancti Petri semelhante ao PT, que não queria largar a pilhagem ao erário público de forma alguma – algo sabido por todos que não sejam alienados ou desmiolados ou então seus capachos serviçais comunistas-maçonaria-NOM!
    Pelo andar da carruagem, deveria estar ingerindo medicamentos anti depressivos e/ou hipnóticos para adormecer – senão, passa as noite ao claro e atordoado!

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  3. A “missa tridentina moderna” existiu por um período curto logo após o Concílio. Eu tenho um Missal Quotidiano de 1965 que germinou a missa nova de 1969. O cronista carioca Stanislaw Ponte Preta relata naquele ano de 1965 a inauguração do Aeroporto Santos Dumont no RJ com uma “missa show” que teve bolero de Vanderlei Cardoso no ofertório e uma paródia da canção “E que tudo mais vá pro inferno” de Roberto Carlos na comunhão. O próprio dom Lefebvre admite ter usado o primeiro Missal de Paulo VI reverentemente em latim, mas retornou ao Missal de 62 após a promulgação do de 1969.

    O Papa Francisco governa a Igreja ao modo de Jesus Cristo, mas servindo ao diabo. Bento XVI por sua vez governou a Igreja como uma democracia liberal, atendendo “partidos”, partilhando decisões, alternando conservadores e progressistas nos cargos. Rezemos por um futuro Papa com a mesma força de mando de Bergoglio, mas que seja católico.

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  4. Bergoglio sabe que ele não durará uma e meia ou duas gerações, o tempo necessário mínimo para que os católicos esqueçam suas tradições e sua missa tridentina.
    Aliás, o próprio concílio de Trento que ocorreu há mais de 400 anos, não foi esquecido até hoje e o CV II agora está com a sua pior pecha desde que terminou.
    Tentará, pois, fazer alianças até com o demônio (se já não o fez) para por abaixo tudo na Igreja. Não pretende deixar pedra sobre pedra.
    Cabe aos fiéis reagir de modo firme, honesto e duro se necessário.
    Parodiando São Bento: Ora et labora et pugna.

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    1. Embora o “et pugna” seja paródia do que citou, mas para com um misericordioso como o papa Francisco, com apenas os que comungam com certas suas ideias de esquerdista foi um acréscimo completar bastante adequado e aplicável, se necessário – afinal Ahmed al Tayyeb, imã de El Azhar , no Cairo, considerou-o como protetor mundial da seita islâmica sunita, e ambos sempre se encontram aos abraços e aquela é desafeta mortal da xiita do Irã etc., certo?

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  5. Curioso esse vídeo de Elvis Presley cantando rock em missa nos primórdios dos sessenta. Pois tenho uma tese que a mídia estava preparando o público católico para a grande transformação culminada com o Concílio Vaticano II. Pode ser mera coincidência, até mais provavelmente que seja, mas que temas incentivando transformações eram apresentadas na mídia, sobretudo personagens religiosos em crise, isso efetivamente aconteceu. Esses roteiros apresentando religiosos em crise, ou uma solução inovadora como o cântico como a do Elvis Presley, ou crise na própria essência na Igreja Tradicional, eram relativamente focados no período pré-conciliar. O filme O Cardeal, de 1963, é um deles. Um padre entra em crise, e é enviado a Viena para fazer reflexão, mas ao invés se apaixona. Ao final, embora resolva permanecer religioso, faz um vigoroso discurso em prol do liberalismo. Outro filme é Uma Cruz à Beira de Um Abismo, que retrata a crise espiritual de uma noviça devido à dureza da regra monacal. Foi feito para dar pena à pobre Catherine Hepburn. No Brasil, em 1962, a história do comunista Dias Gomes virou filme, o premiado O Pagador de Promessa. Nele é estampado como o Clero tradicional é inflexível não compreendendo o drama de homem simples que desejava cumprir uma promessa feita no terreiro de Cadomblé. O homem queria entrar com uma cruz em um templo católico, mas tanto o padre quanto o bispo não admitem, personalizando os vilões porque não agiam com ecumenismo, que logo logo foi aceito no Concílio. Muitas obras de Morris West neste período são sintomáticos, principalmente O Advogado do Diabo, novamente com tema de crise espiritual de padre, cujo ministério era burocrático, que faltava amor e outros elementos muito comuns no posterior sacerdócio conciliar. Já As Sandálias do Pescador é a antevisão dos papas do futuro dada a preocupação essencial com o social. Muitos defendem que esse livro foi profético porque previu a vinda de João Paulo II, principalmente porque ambos advieram de países comunistas.

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    1. Pelo que consegui achar, essa música é do último filme de Elvis (Change of Habit em 1969). Justamente sob à “égide” do famigerado missal de 1965 e às portas da imposição do Novus Ordo. Não dá pra dizer que o mundo era “maravilhoso” no Último domingo após Pentecostes de 69 e “virou a chave” no Primeiro Domingo do Advento, data de início do atual missal. O “espírito” de participação, mudanças, liberalismo, revolução, já estava vicejando. Até pensei que “a semente” teria sido plantada em 1948 quando Bugnini estava na comissão de reforma da Semana Santa de Pio XII, em 1955, mas ali já era uma plantinha (uma erva daninha) sendo enxertada na Santa Igreja. Se pensarmos, o próprio Tra le sollecitudini, de 1903, estabelecendo normas sobre a música, é um indício que já haviam “sementes” de revolução tentando vicejar, tentando subverter, tentando alterar. E é sabido que, algumas vezes por inocência, outras por má intenção, era feita a defesa de “modernizar’.

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  6. Não é verdade que São Pio X excomungou somente dois modernistas. Sim, os hereges Alfred Loisy e George Tyrrell foram condenados nominalmente, mas todos os modernistas foram condenados pela Igreja no início do Século XX. Isso se deu indubitavelmente no Motu Proprio ‘Praestantia Scripturae’, no qual São Pio X declara que estão excomungados, Latae Sententiae, todos aqueles que defendem os erros do modernismo condenados no Decreto Lamentabili e na Encíclica Pascendi.
    A título de exemplo, Lutero foi condenado nominalmente, porém, todos os protestantes foram condenados, embora quase nenhum deles tenha sido nomeado. Assim se dá também com o modernismo: um ou outro foi condenado nominalmente, mas todos os modernistas estão condenados, ainda que não sejam nomeados.

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