Não é mais uma crise, é uma Revolução.

Eis porque, para ser católicos, precisamos ser contrarrevolucionários

Por Aldo Maria Valli

Quando falo sobre a crise atual da Igreja e na da Igreja, alguns amigos tentam consolar-me afirmando que houve muitas crises no passado e a Igreja sempre emergiu delas. Verdade. Mas a crise atual é um unicum. Não há precedentes porque aqui estamos diante de um papa que, desde o início do seu mandato, começou a trabalhar para desestabilizar e subverter: o típico comportamento revolucionário.

Com o pontificado atual não vemos apenas confusão e ambiguidade. Vemos a tentativa de fazer nascer uma nova religião que deverá substituir o catolicismo, e o Sínodo que acaba de começar será um momento privilegiado para esta obra de subversão.

A redução (ou melhor, digamos a degradação) do papel do bispo é um ato necessário na lógica revolucionária. Desarticular a estrutura hierárquica é vital para quem quer subverter.

Que a ação de Begoglio seja tipicamente revolucionária também pode ser deduzido do clima de terror que predomina no Vaticano. Quem discorda deve ter muito cuidado, pois o cutelo do caudilho pode cair a qualquer momento no pescoço de alguém considerado adversário.

Que tudo isso aconteça enquanto na superfície as palavras dominantes são “acompanhamento” e “misericórdia” não é surpreendente. O caudilho e os seus lacaios recorrem tranquilamente à propaganda paternalista enquanto estão envolvidos no trabalho de subversão.

Quando, em referência ao Sínodo, um site argentino como o caminhante-wanderer fala da Revolução de Outubro e do congresso peronista, não está exagerando. Simplesmente fotografa a realidade.

Até mesmo a publicação da Laudate Deum é funcional para o projeto revolucionário. Enquanto parte do “povo” católico olha em volta desorientado e se pergunta o que acontecerá com a Igreja, o caudilho volta a atenção para um dos conteúdos fortes da nova religião, aquele ecologismo que por um lado lhe permite ganhar ainda mais credibilidade como capelão das organizações globalistas e, por outro lado, livrar-se completamente da velha bagagem. O nome de Jesus desaparece e nas dioceses os diligentes ajudantes do caudilho plantam árvores. A cruz também vai para o sótão, assim como o crucifixo. Entretanto, todos os representantes do globalismo são recebidos no Vaticano, desde Bill Clinton ao filho de Soros e à viúva de McCain. Uma peregrinação que também nos dá uma ideia visual de como está em curso a revolução. A Igreja e a fé estão a ser desmanteladas peça por peça e em seu lugar se está montando outra Igreja, outra fé.

Alguém notou que o Laudate Deum, em termos de conteúdo, não chega nem ao nível de uma tese de graduação medíocre. Se um aluno tivesse apresentado, dificilmente teria conseguido a aprovação. Mas, novamente, isso não é surpreendente. Até o empobrecimento conceitual e estilístico faz parte do plano revolucionário de quem quer destruir.

Há apenas alguns anos, tudo o que vemos poderia ter sido uma distopia. Na minha sarcástica história de fantasia religiosa Como terminou a Igreja (a primeira edição data de 2017), imaginei uma sequência de etapas: com a encíclica Alea iacta est o Papa adaptaria a Igreja ao mundo; com a carta pastoral Tabula rasa a Igreja teria adotado o pensamento duplo segundo a lógica do “mas também” (sim mas também não, não mas também sim); a Congregação para a Doutrina da Fé se tornaria a Congregação para a Adaptação da Fé; a encíclica Captatio benevolentiae teria contido as instruções a seguir para pôr fim a todas as diferenças entre a Igreja e o mundo; com o motu próprio Gaudeamus igitur a Igreja Católica mudaria oficialmente de nome e se tornaria Igreja Acolhedora; com a encíclica Panem et circenses a Eucaristia seria concedida a todos como um direito; com as exortações Amoris hilaritas e Amoris iucunditas a Igreja Acolhedora abraçaria definitivamente as ideias do mundo no campo da sexualidade.

E assim por diante. Até o fim. No sentido literal.

Repito: a história é de 2017. E hoje é, de fato, realidade. Mas minha distopia era ingênua. Não tinha imaginado, por exemplo, a promoção de um tal Tucho Fernández, o estudioso do beijo, à chefia do que outrora foi o Santo Ofício.

Muitos dos meus amigos nos últimos dias ficaram perturbados com a apresentação da Laudate Deum porque pessoas como Giorgio Parisi (o cientista que impediu Bento XVI de falar na Universidade Sapienza de Roma) foram convidados ao Vaticano, o escritor Jonathan Safran Foer (que para combater as alterações climáticas recomenda não ter filhos e não comer carne), e Luisa-Marie Neubauer, seguidora de Greta Thunberg. Mas só aqueles que ainda não compreenderam que estamos perante uma revolução podem ficar perturbados. O verdadeiro motor disso, como em todas as revoluções, é o ódio. Ódio pelo que foi e não deve mais ser.

Consequentemente, se quisermos ser católicos hoje, devemos ser contrarrevolucionários.

6 comentários sobre “Não é mais uma crise, é uma Revolução.

  1. A impressão que passa é de um barco com rumo certo (o naufrágio) e seu capitão interpreta de forma errada as cartas navais. Tristemente assistimos a tudo com o coração em frangalhos. O pior é sentir-se culpado de tudo o que está acontecendo. Por minha única e exclusiva culpa, afastei-me da igreja. Voltei em 2020 após me reencontrar na Missa de Sempre e agora isso. Sinto-me mal em ver o erro correndo a 200km/h…

    Curtir

    1. Pior que isso é a impressão contrária, ou seja, de que a revolução está, sim, sendo propositalmente e conscientemente dirigida justamente por aquele que deveria lutar contra ela

      Curtir

  2. Não ficarei espantado quando me deparar com imagens de Bispos e Cardeais, vestidos com roupas de combate, isto é, trajes militares, armados de fuzis e outros paramentos. É mesmo uma revolução. E é claro, como roupa de baixo, uma camiseta do Che. Rezemos.

    Curtir

  3. Que esta revolução traga frutos copiosos para a Santa Igreja.
    Explicando:
    Que os adeptos da sinodalidade, de mãos dadas com os teólogos da libertação, com a renovação carismática e com todos os padrecos cantores, influenciadores, DJs e por aí vai, que todos tenham coragem suficiente para praticar a apostasia.
    Criem um CISMA com a Santa Igreja.
    Tantos já fizeram o mesmo!!
    Deixem-nos em paz, com nossa Tradição de Sempre.

    Curtir

  4. Nenhuma novidade no front.
    A própria eleição de Bergoglio foi eivada de circunstâncias “estranhas”. Poucos dias antes as finanças do Vaticano foram congeladas, em razão de ação orquestrada por Barack Obama e seus asseclas, de tal maneira que papa Bento não podia usar seu cartão para pagar um café na padaria.
    Em sequência, ocorreu o episódio das cédulas de votação.
    Assim que eleito, Bergoglio criou o Conselho dos 9 para gerenciar toda a Igreja e nomeou o cardeal Maradiaga de Honduras como chefe do órgão, cardeal esse apelidado por seus pares como “Marx de Batina”.
    E então veio a sucessão interminável de decisões dantescas, com a perseguição da tradição e da sã doutrina enquanto era feita a absorção de elementos externos e anti-cristãos, particularmente elementos da nova religião ecumênica gnóstica ecológica, e sua “mãe Terra”, e apelo atrativo a diversas minorias.
    Indiscutivelmente tudo isto só ocorre em razão do advento do CVII.
    E este só existiu em razão da desobediência de todos os papas ao alerta de Nossa Mãe Santíssima em Fátima.
    Os pecados da Rússia se espalharam pelo mundo depois de se espalharem pelo seio da Santa Igreja.
    Sugiro, inclusive, a leitura da excelente obra de Fr Malachi Martin, Windswept House, em português A Casa Varrida pelos Ventos ou o Último Papa, dependendo da tradução.
    Enfim…
    O cenário que se apresenta hoje é claramente revolucionário.
    Essa facção tomou a direção da Santa Igreja e a está deformando à sua imagem, até que seja transformada em seu oposto.
    E o que resta ao rebanho além de prosseguir na sã doutrina, ao arrepio do catecismo dessa nova igreja?
    Não nos cabe sair, nem cismar, até onde entendo.
    Mas esse sínodo vai finalizar a revolução em andamento. Em 2024 a Santa Igreja será oficialmente outra coisa, oposta, a menos que Deus intervenha.

    Curtir

  5. Boa tarde. Salve Maria. Só para citar um caso concreto: a Santa Sé concedeu a uma paróquia da Diocese de Osasco, que completou cinquentenário de fundação, um Ano Jubilar com Indulgência Plenária a cada Missa se o fiel estiver nas condições costumeiras e se for rezada a oração do Ano Jubilar (essa oração é um Ato de Contrição). Sim, meus irmãos, a Santa Sé está preocupada com a conversão e a santificação dos católicos e converteu essa paróquia (dedicada a São Domingos) num centro de romaria e peregrinação por um ano (de 30 de setembro de 2023 a 30 de setembro de 2024). Sim, a humildade e a obediência fazem milagres. E parafraseando as palavras de um sábio sacerdote de nossos dias no Brasil: o Deus que atendia as orações de Santo Estêvão, São Lourenço, Santa Filomena, Santa Luzia, São Domingos, Santo Odilon, São João de Deus, São Paulo da Cruz, Santa Gema Galgani, Santa Dulce dos Pobres, Beato Carlo Acutis, e assim por diante, é o mesmo Deus que atende as nossas orações de fieis anônimos e obscuros. Não é outro Deus. É o mesmo Deus. Confiemos mais, desconfiemos e reclamemos menos.

    Curtir

Os comentários estão desativados.