Arcebispo proíbe padres de “conceder qualquer forma de bênção” em resposta à nova declaração do Vaticano.

Por Diane Montagna, 19 de dezembro de 2023 – The Catholic Herald | Tradução: FratresInUnum.com: Um arcebispo metropolitano tornou-se o primeiro prelado a emitir orientações ao seu rebanho sobre a declaração do Vaticano que permite bênçãos para pessoas do mesmo sexo. E ele proíbe firmemente sacerdotes e fiéis de aceitar ou realizar qualquer forma de bênção de casais em situação irregular e casais do mesmo sexo.

Numa declaração datada de 19 de dezembro, e enviada a todos os sacerdotes e paróquias da sua arquidiocese, Dom Tomash Peta, Arcebispo de Santa Maria de Astana, Cazaquistão, juntamente com o Bispo Auxiliar Athanasius Schneider, afirmam firmemente que a nova declaração,  Fiducia suplicantes, é um “grande engano”, e que as bênçãos propostas para casais do mesmo sexo “contradizem direta e seriamente a Revelação Divina e a doutrina e prática ininterrupta e bimilenar da Igreja Católica”.

A declaração, emitida em 18 de dezembro pelo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Cardeal Manuel Fernández, e assinada pelo Papa Francisco, afirma oferecer uma “contribuição inovadora ao significado das bênçãos” que permite a “possibilidade de abençoar casais em situações irregulares e casais do mesmo sexo sem validar oficialmente o seu status ou alterar de qualquer forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimônio”.

Embora afirme que a Igreja “não tem o poder de conceder bênçãos [próprias do sacramento do matrimônio] às uniões de pessoas do mesmo sexo”, a declaração permite aos sacerdotes oferecer uma “bênção pastoral espontânea” e não litúrgica, ou seja, uma nova categoria de bênção para esses casais.

Na sua declaração em resposta, o Arcebispo Peta, natural da Polônia, adverte os sacerdotes e fiéis que “este esforço para legitimar tais bênçãos” terá “consequências desastrosas e de longo alcance” e, pelo menos na prática, transforma a Igreja Católica num “propagandista” da “ideologia de gênero”.

Abaixo está a tradução [portuguesa feita do] do inglês, a partir do original russo, da declaração assinada pelo Arcebispo  Tomash Peta e pelo Bispo Athanasius Schneider. 

Declaração da Arquidiocese de Santa Maria de Astana a respeito da Declaração Fiducia supplicans , publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa Francisco em 18 de dezembro de 2023

O propósito manifesto da Declaração da Santa Sé,  Fiducia supplicans , é permitir “a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo”. Ao mesmo tempo, o documento insiste que tais bênçãos sejam realizadas “sem confirmar oficialmente o seu status u alterar de qualquer forma o ensinamento perene da Igreja sobre o casamento”.

O fato de o documento não permitir o “casamento” de casais do mesmo sexo não deve cegar os pastores e fiéis para o grande engano e o mal que reside na própria permissão para abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo. Tal bênção contradiz direta e seriamente a Revelação Divina e a doutrina e prática ininterrupta e bimilenar da Igreja Católica. Abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo é um grave abuso do Santíssimo Nome de Deus, uma vez que este nome é invocado sobre uma união objetivamente pecaminosa de adultério ou de atividade homossexual.

Portanto, nenhuma, nem mesmo a mais bela das declarações contidas nesta Declaração da Santa Sé pode minimizar as consequências destrutivas e de longo alcance resultantes deste esforço para legitimar tais bênçãos. Com tais bênçãos, a Igreja Católica torna-se, se não em teoria, pelo menos na prática, uma propagandista da “ideologia de gênero” globalista e ímpia.

Como sucessores dos Apóstolos, e fiéis ao nosso juramento solene por ocasião da nossa consagração episcopal “de preservar o depósito da fé na pureza e na integridade, segundo a tradição sempre e em toda parte observada na Igreja desde o tempo dos Apóstolos”, exortamos e proibimos os sacerdotes e os fiéis da Arquidiocese de Santa Maria de Astana de aceitarem ou realizarem qualquer forma de bênção aos casais em situação irregular e aos casais do mesmo sexo. É desnecessário dizer que todo pecador sinceramente arrependido, com a firme intenção de não pecar mais e de pôr fim à sua situação pecaminosa pública (como, por exemplo, a coabitação fora de um casamento canonicamente válido, a união entre pessoas do mesmo sexo) pode receber uma bênção.

Com sincero amor fraterno, e com o devido respeito, dirigimo-nos ao Papa Francisco, que – ao permitir a bênção de casais em situação irregular e de casais do mesmo sexo – “não caminha retamente segundo a verdade do Evangelho” (cf. Gal. 2,14), para tomar emprestadas as palavras com que o Apóstolo São Paulo advertiu publicamente o primeiro Papa em Antioquia. Portanto, no espírito da colegialidade episcopal, pedimos ao Papa Francisco que revogue a permissão de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo, para que a Igreja Católica possa brilhar claramente como “pilar e fundamento da verdade” (1 Tm 3,15) para todos aqueles que procuram sinceramente conhecer a vontade de Deus e, cumprindo-a, alcançar a vida eterna.

Astana, 19 de dezembro de 2023

+ Tomash Peta, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Santa Maria de Astana

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria em Astana

Foto: Papa Francisco, ladeado pelo Bispo Auxiliar Athanasius Schneider (à esquerda), e pelo Arcebispo Tomash Peta (à direita), visita a Catedral Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Nur-Sultan, Cazaquistão , 15 de setembro de 2022. (Foto de FILIPPO MONTEFORTE/AFP via Getty Images.)

16 comentários sobre “Arcebispo proíbe padres de “conceder qualquer forma de bênção” em resposta à nova declaração do Vaticano.

  1. “Tal bênção contradiz direta e seriamente a Revelação Divina e a doutrina e prática ininterrupta e bimilenar da Igreja Católica. Abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo é um grave abuso do Santíssimo Nome de Deus, uma vez que este nome é invocado sobre uma união objetivamente pecaminosa de adultério ou de atividade homossexual”

    Isso é uma espécie de Sedevacantismo mitigado pois ele está afirmando que o Papa não está guardando a fé. São Pedro não denunciou erro contra a fé por parte de São Pedro, mas uma prática “pastoral” que gerou escândalo entre os fiéis da época. O que o Francisco permite e é denunciado agora, é algo mais grave e atentatório.

    Não estou legitimando a tese sedevacantista, por favor. O que vivemos é o mistério da iniquidade e não tenho a resposta final. Mas é importante fazer essa reflexão.

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  2. Espero que o Santo Padre saiba o que está fazendo. Não acredito que isso vá terminar em boa coisa. Ninguém quer mais um “grande cisma no ocidente”.

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  3. Não existe casal gay/sodomita. O que existe é, no máximo, dupla. Eu ainda nem li o documento, mas pelo o que eu sei, até onde eu sei, ele vem a informar que pessoas do mundo, acatólicos, não batizados, que vierem a visitar a Igreja Católica e que se encontram nesse estado de pecado, poderão vir a pedir ao padre uma benção, que padre/sacerdote os abençoe, e o padre pode concordar e abençoar ou não.

    E que afirma tal documento que existe a possibilidade de tais pessoas poderem ter a perspectiva de poderão vir a pedir e talvez vir a receber uma benção para si próprias, ainda que acompanhadas (do outro membro da união pecaminosa), na visita à Igreja, uma benção para a(s) sua(s) respectiva(s) pessoa(s), e não obviamente, para união pecaminosa, que sequer poderia existir, diga-se de passagem, e que deveria e que deve cessar/deixar de existir o quanto antes for possível (convertendo-se a Fé Cristã Católica, arrependendo-se do pecado, recebendo o batismo e abandonando o pecado) diga-se também de passagem.

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    1. A benção é para o casal em adultério e para o par gay!

      “31. No horizonte aqui traçado surge a possibilidade de bênçãos para casais em situação irregular e para casais do mesmo sexo, cuja forma não deve ser fixada ritualmente pelas autoridades eclesiais para não produzir confusão com a bênção própria do Sacramento do Matrimónio. . Nesses casos, pode ser concedida uma bênção que não só tenha um valor ascendente, mas também envolva a invocação de uma bênção que desce de Deus sobre aqueles que – reconhecendo-se desamparados e necessitados de sua ajuda – não reivindicam uma legitimação de seu próprio status, mas que imploram que tudo o que é verdadeiro, bom e humanamente válido em suas vidas e em seus relacionamentos seja enriquecido, curado e elevado pela presença do Espírito Santo […]

      A benção é para as pessoas e não para os “casais? 🤔. O documento fala EXPLICITAMENTE que a benção é para os casais, e não meramente para as pessoas. Ele ainda vai além realçando que o documento não muda nada, versando apenas sobre aquilo que sempre fora feito na Igreja. Ora, então por qual motivo ele foi redigido e publicado? Realmente, a dissonância cognitiva atingiu índices nunca antes vistos pela o

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    2. Não é benção de confirmação aos homossexuais, mas para que eles abandonem o pecado, obviamente, e não poderia ser diferente. Para que cessem de ser “homossexuais” para que abandonem esse pecado, para que abandonem o pecado e se convertam, para que se arrependam, desse e de todos.
      E não para confirmar o pecado, como alguns parecem terem entendido errado e como alguns parecem estar entendendo errado.

      Cuidado com a dissonância cognitiva.

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  4. Penso que esse documento controverso, e digo isso poque Cardeal Ladaria recusou a mesma proposta que tambpem foi recusada por Francisco na época e que agora é assinado por ele. Deixa claro que rumo a barca de Pedro está tomando, mares agitados nos aguardam! E mais, esse tal de “Tucho” tem idéias bem loucas na cabeça e Francisco que não é bobo, embarca nessa viagem, aguardemos cenas dos próximos capítulos, vem mais por aí.

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  5. Corajosa e correta atitude dos bispos. A questão não é apenas se fere a doutrina, mas como uma práxis errônea pode ir contra a doutrina. Este é a meu ver o caso. É claro que será desastroso introduzir essa práxis em questão. Ela vai conduzir ao laxismo inevitavelmente.

    Como um papa pode fomentar uma prática errônea dada a inerrância em matéria de costumes é algo que vai além da minha compreensão. Porém, objetivamente, com todas as ressalvas possíveis esta prática não é boa nem pastoral, nem doutrinalmente ou o que quiser. Ainda que se diga que não, é mais uma porta para a dissolução.

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  6. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo pela vida e missão de Dom Tomásh Peta. Uma voz que clama neste deserto árido.

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  7. A Igreja Católica é de Jesus Cristo, fundou a na Cruz , e Entregou a ao cuidado e protecção da Sua Santa Mãe , dizendo que ….”as portas do inferno não prevalecerão contra ela …..”,não pertence aos homens pecadores mas a Deus ,, e o papa não passa de um homem . Que Deus lhe perdoe e o converta e a todos nós .Amem.

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  8. De heresia em heresia a Igreja vai sendo deformada para que uma anti-igreja seja sobreposta a ela.
    Não se trata de erros pontuais, mas de um ataque inexorável e sistemático à sanidade da Fé.
    E neste momento é perda de tempo se debruçar sobre questões doutrinárias complexas e intrincadas como o sedevacantismo.
    O contexto é claríssimo.
    O trono papal está invadido. Ilegitimamente ocupado.

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    1. Só para subscrever o comentário do Sr. Fernando. E aproveitar o momento para desejar a todos nós um Puro, Santo e Casto Natal. Na pureza está nossa felicidade. Em nossa carne, está nossa corrupção, a concupiscência. Que a graça divina e a intercessão da Sempre Imaculada nos ajude e não nos deixe ser enganados ou nos enganarmos a nós mesmos.
      Passei para deixar um fraterno e afetuoso Salve Maria a todos. São tempos difíceis, porém as coisas vão se esclarecendo.

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  9. Acredito que o documento Fiducia Supplicans é um pouco estranho, à princípio. O corpo do texto é bastante claro que a benção sugerida a casais “fora da lei” perante a Igreja é uma benção de conversão, com o intuito de guiar o fiel a caminho reto da lei de Deus. Além disso o texto é bastante claro quanto a essa benção, ou seja, ela deve ser totalmente informal e desprovida de aspecto de sacramento ou de sacramental, inclusive. O que me parece é que esta declaração tem muito mais o intuito de estabelecer uma disciplina pastoral comum sobre o tema para o clero ao redor do mundo do que subverter qualquer doutrina sobre o matrimônio, como os conservadores e a mídia toda andam dizendo. O assunto sobre casais do mesmo sexo ou vivendo em adultério, e que têm a igreja católica como referência espiritual é um tema espinhoso, com certeza, Creio que a Igreja foi ao encontro deste tema-tabu e está sendo mal interpretada pelo excesso de boa vontade dela. Portanto eu não vejo sinceridade nessa carta do arcebispo Peta, uma vez que ele subverte o texto da declação Fiducia Supplicans para fazer uma posição meramente política, uma vez que ela claramente não fala de matrimônio, não fala de aceitar o casal irregular e muito menos sobre ideologia de gênero. Espero sim que a igreja vá atrás de todas as ovelhas perdidas, essa militância conservadora perdeu completamente o sentido no mundo moderno. A tarefa agora é evangelizar os povos como no início do cristianismo, enfrentando o mundo moderno como os antigos cristãos se depararam com uma Europa pagã e imersa em crenças e culturas diversas ao evangelho. Se encastelar e se assemelhar aos fariseus não é o caminho. Parabéns a CDF e ao Papa por ser sensível a realidade da Igreja e do mundo, há de se ter coragem para fazer a colheita numa messe tão grande.

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