St. Nicholas du Chardonnet – Dois meses depois
Apesar do fato de Mons. Ducaud-Bourget ser sagaz o suficiente para esquivar-se das emboscadas feitas contra ele pela “oferta generosa” do Cardeal Marty, ele logo percebeu que permanecer em St. Nicholas trazia seus problemas, nomeadamente que, apesar de ser muito grande, ela em breve seria incapaz de acomodar os milhares que desejavam rezar lá todos os Domingos. O resultado foi que a Missa tinha que ser celebrada uma vez mais na Salle Wagram. Isso é tratado num extrato de um artigo do Professor Thomas Molnar que publicamos abaixo. Professor Molnar também menciona a simpatia ao clero tradicionalista e aos paroquianos de St. Nicholas mostrada pela polícia. Parece que numa ocasição uma delegação de clérigos progressitas (em roupas civis, naturalmente) foi à principal delegacia da área para demandar que o delegado responsável explicasse porque nenhuma ação fora tomada para expulsar os tradicionalistas da igreja. Eles foram informados pelo sargento de plantão: “Vocês não podem encontrá-lo agora, ele está assistindo Missa em St. Nicholas“.
O relato da visita do Professor Molnar a St. Nicholas apareceu originalmente em New Oxford Review e foi republicado em The Remnant de 17 de janeiro de 1978.
Uma entrevista com Mons. Ducaud-Bourget
No último mês de abril, Ecône recebeu alguns importantes aliados, um deles na pessoa de Mons. Ducaud-Bourget, o padre-poeta, e os milhares de pessoas que ajudaram-no a tomar a Igreja de St. Nicholas du Chardonnet num dos mais antigos quarteirões de Paris. O leitor pode agora falar de “violência”. Mas esta é a França. São Bernardo era violento, também eram Joana Darc, Bossuet e Bernanos. Assim era Jesus Cristo ao expulsar os vendedores do templo. Por anos, os “tradicionalistas” imploraram ao Cardeal Marty por uma igreja onde a Missa de Pio V (Missa Tridentina) pudesse ser celebrada; o Cardeal, fechando seus olhos à profanação da Catedral de Rheims por atos sexuais de hippies e à celebração Budista na Catedral de Rennes, deixou os peticionários sem resposta. Na última Páscoa eles entraram em St. Nicholas, esclareceram que apenas a antiga Missa Latina seria celebrada e que não eles não sairiam até que uma igreja fosse oficialmente oferecida a eles como uma morada permanente. Para maior ênfase, eles montaram uma guarda permanente de várias dúzias de jovens para manter do lado de fora os criadores de problemas. Esses jovens, todos fazendo sacrifícios financeiros ao deixar seus trabalhos ou estudos pela duração do “cerco”, conduzem os fiéis, mantêm um olho na rua, e fornecem proteção à meia dúzia de padres celebrando Missa.
Visitei St. Nicholas no domingo, 12 de junho deste ano. Era às 11 da manhã, pessoas estavam saindo em massa, com seu caminho praticamente bloqueado por uma massa similar de pessoas esperando para entrar para a próxima celebração. A multidão na praça em frente à igreja era enorme, esperando para a missa do meio-dia. Antes da entrar, conversei com vários policiais nos arredores. Sem exceção eles simpatizavam com os “ocupantes”, parte pelas antigas bases religiosas, parte por fundamentos políticos. “É duvidoso“, me contou um jovem policial, “que se ordenado a evacuar a igreja meus homens obedeceriam. Mas de qualquer forma, que político ousaria dar tal ordem, e certamente não fará Chirac, o novo prefeito? Além disso, se Mons. Bucaud-Bourget pessoalmente permanecesse em nosso caminho, nós não o tocaríamos, nem mesmo aquilo ou aqueles que ele proteger“.
Depois da Missa, fui recebido pelo Monsenhor numa sala da sacristia. Estamos na França! Ele tem 84 anos, tão vivo como uma enguia, cabelos brancos aos ombros, unhas cumpridas como um mandarim, e um cachimbo nos lábios. Seu modos e sua fála poderiam ser colocadas em algum lugar entre as eras de Luis XIV e Luis XV. Primeiro nós conversamos de doutrina e filosofia, o que fora facilitado pelo fato de termos lido alguns dos escritos um do outro, eu sua poesia — poesia que acaba de receber uma entusismada resenha no Osservatore Romano onde os editores não perceberam que o poeta Ducaud-Bourget e Mons. D-B são a mesma pessoa! Enorme embaraço uns poucos dias depois e repulsiva reviravolta. Tanto para mesquinharias…
O Monsenhor acabara de chegar da Salle Wagram onde rezou missa diante de 800 pessoas que não puderam ir a St. Nicholas naquela manhã. Em outras regiões da França, igrejas são da mesma maneira ocupadas por aqueles a quem os novos inquisidores orgulhosamente descrevem como um punhado de velhos ou alguns reacionários. Cuidadosamente examinei a multidão dentro e fora da igreja: todas as faixas etárias estavam representadas; é claro, se eles eram reacionários não me era possível discernir.
O Monsenhor me contou sobre as mentiras intermináveis, promessas descumpridas, ameaças e opressões da parte do Cardeal Marty, seus burocratas e do Vaticano. Graças a Deus pelas brutais leis anti-igreja de 1905: todas as propriedades eclesiásticas foram então confiscadas pelo Estado, de modo que hoje o Cardeal é incapaz de mandar suas tropas de choque para reocupar St. Nicholas; e como vimos, o Governo e a Municipalidade preferem não tocar nesta batata quente, por medo de dividir seu eleitorado. Mons. Ducaud-Bourget conseqüentemente está confiante de que nada acontecerá. Nós então conversamos sobre a recente decisão judicial (processo movido pelo curé regular da igreja) de pedir ao filósofo Católico Romano, Jean Guitton, supostamente imparcial, a intermediação entre a Arquidiocese e os ocupantes. Guitton é um homem bobo e oportunista, me contou Mons. Ducaud-Bourget; ele não quer colocar em risco seu status de biógrafo de Paulo VI. Com tudo isso – me foram mostradas cartas – Guitton expressou sua “déférence sympathique” a Mons. Ducaud-Bourget, e chamou seu próprio papel como mediador de uma maravilhosa oportunidade para encontrá-lo. Então fiquei surpreso em ler na entrevista do Express com Guitton (Julho passado) seus comentários depreciativos sobre a posição vis-à-vis de Lefebvre com o Papa como a de um General Argelino da O.A.S. vis-à-vis com De Gaulle. Uma comparação ridícula e nem mesmo lisonjeira – depois da qual se pode falar com desprezo também da inteligência de Guitton.
De toda forma, a “mediação” está parada, mas por enquanto o “Caso” está expandindo e mais “aliados” estão se juntando a Lefebvre. Em junho passado a Princesa Pallavicini abriu seu palazzo em Roma para 1500 convidados para ouvir o Arcebispo re-explicar muito simplesmente que ele não renunciaria sua fé de 2000 anos. “Não quero morrer um protestante”, disse. Existia uma ovação indescritivelmente fervente, não apenas dos convidados nos salões, mas também das pessoas sentadas nas escadas e a multidão do lado de fora que ouvia por alto-falantes as palavras de Lefebvre.
O Vaticano considerou isso como uma outra provocação – levar a “oposição ao Papa” para dentro de uma distância ao alcance de sua voz. O vigário do Papa (como Bispo de Roma), Cardeal Ugo Poletti, atacou a Princesa num comunicado de imprensa – ao qual ele recebeu uma declaração em resposta na altura de “se preocupe com seus próprios negócios, eu recebo em minha casa quem eu quero”. O “se preocupe com seus próprios negócios” é uma advertência absolutamente apropriada, já que Roma agora tem um Prefeito “companheiro-viajante” eleito da lista Comunista.
Saint Nicholas Hoje
Os leitores que querem participar do “milagre de Saint Nicholas” durante uma visita a Paris devem tomar o metro para a estação Maubert-Mutualité, que é adjacente à igreja. Todas as antigas igrejas e catedrais na França pertencem ao Estado, que é responsável pela manutenção de seu exterior. É muito significativo que desde a libertação de St. Nicholas uma grande quantidade de trabalho foi feito no exterior do prédio pelas autoridades civis para complementar a renovação interior feita pelos paroquianos. Apesar das autoridades diocesanas, que não aceitarão a legalidade da presente situação ou de que ela tenha qualquer base permanente, é claro que as autoridades civis não têm a mínima intenção que seja de expulsar os tradicionalistas. St. Nicholas agora permanece como uma ilha da tradição Católica, e, realmente, de sanidade, no mar de Modernismo e banalidade litúrgica.
(Apologia pro Marcel Lefebvre vol. II, The miracle of St. Nicholas du Chardonnet, Angelus Press, 1983)
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Assim, concluímos, caríssimos leitores, nossa série de posts sobre a tomada da Igreja de Saint Nicholas du Chardonnet. Que o heróico exemplo destes católicos nos anime em nossos combates. Os posts anteriores podem ser vistos aqui.