Geo-estrategista italiano alimenta debate sobre a renúncia do Papa Bento XVI.

Por Maike Hickson – OnePeterFive, 23 de maio de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: Um artigo publicado recentemente por um geo-estrategista e professor universitário italiano voltou a levantar questões sobre os motivos da surpreendente renúncia do Papa Bento XVI em 2013. Professor Germano Dottori, que é um professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade LUISS-Guido Carli, em Roma, escreveu um artigo no número 4/2017 do Limes, um jornal geo-estratégico, e que mais tarde foi usado pelo jornalista italiano Alessandro Rico, pelo comentarista e autor italiano Antonio Socci, bem como por Giuseppe Nardi, da Katholisches.de, na Alemanha.

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Ao discutir o papel da Igreja Católica em relação a considerações geo-estratégicas mais amplas – como a grande imigração para a Itália e os vínculos aparentemente crescentes com a Igreja Ortodoxa em Moscou – Dottori faz os seguintes comentários impressionantes e bem fundamentados (tradução gentilmente fornecida Por Andrew Guernsey):

Os conflitos entre a Igreja e os Estados Unidos não se tornaram menores, mesmo depois da morte de João Paulo II. Em vez disso, continuaram durante o pontificado do Papa Ratzinger, no decurso do qual, o que fez com que se tornassem exacerbados não foi apenas o investimento [político e estratégico] feito por Barack Obama e Hillary Clinton no islamismo político da Irmandade Muçulmana durante a chamada Primavera Árabe, mas também o firme desejo de Bento XVI de buscar uma reconciliação histórica com o Patriarcado de Moscou [sob o Patriarca Kirill], o que seria uma verdadeira coroação religiosa de um projeto geopolítico de integração euro-russa, que estava em suas intenções e era fortemente apoiado pela Alemanha e também pela Itália de Silvio Berlusconi – mas não por essa mais filo-americana [Itália], reconhecida por Giorgio Napolitano [Presidente italiano, 2006-2015].

A forma como isso terminou é bem conhecida por todos. Os governos Italiano e Papal foram simultaneamente atingidos por uma campanha escandalosa, coordenada e inusitadamente violenta e sem precedentes, envolvendo até mesmo manobras mais ou menos nubulosas no campo financeiro, com o efeito final sendo atingido em novembro de 2011 com a saída de Berlusconi do Palazzo Chigi e, em 10 de fevereiro [sic-11], 2013, com a abdicação de Ratzinger. No auge da crise, a Itália viu progressivamente seu acesso aos mercados financeiros internacionais fechados, enquanto o Instituto de Obras Religiosas (IOR) [Banco do Vaticano] foi temporariamente desligado do circuito Swift 4.

Apesar das consideráveis mudanças feitas tanto na política Italiana como no Vaticano, as dificuldades, no entanto, continuaram a persistir. Um fato que confirma a sua natureza estrutural e não permite na nossa previsão, nenhuma simplificação a curto ou médio prazo do contexto do qual nosso Governo terá que assumir no futuro as decisões mais importantes no campo de sua política externa.

Aqui, um especialista italiano em estudos geo-estratégicos afirma que tanto o governo Italiano sob Berlusconi quanto o papado de Bento XVI foram derrubados devido a manobras financeiras que colocaram os dois Estados em perigo. Alessandro Rico publicou, em 17 de maio, um artigo intitulado “Ratzinger costretto ad abdicare dal ricatto di Obama” (“Ratzinger forçado a abdicar devido à chantagem de Obama”), no jornal italiano La Verità – uma publicação que não tem nenhuma inclinação para o Catolicismo tradicional, mas, que, ao contrário, critica os católicos tradicionais e conservadores na mesma edição de 17 de maio (como observa Giuseppe Nardi). O próprio Rico coloca a declaração de Dottori em paralelo com a Carta Aberta de 20 de janeiro de 2017 ao Presidente Trump, publicada pelo jornal tradicionalista The Remnant, que pediu uma investigação sobre uma possível intervenção dos EUA contra o Papa Bento XVI. Como Rico aponta, o Papa Bento XVI, na época, se posicionou em oposição à colaboração do presidente Obama com a Irmandade Muçulmana, especialmente com o discurso do Papa em Regensburg, no qual criticou o fundamentalismo islâmico. Os Estados Unidos, como Rico juntamente com Dottori explicam, não eram favoráveis a uma aproximação papal com o Patriarcado de Moscou, o que poderia apoiar ainda mais uma aproximação européia com a Rússia. Uma base parcial para essa desejada aproximação poderia ser também uma rejeição do relativismo moral do Ocidente.

Ao falar sobre a pressão financeira que foi feita sobre o Vaticano em 2013, ao excluir o Estado Papal do sistema SWIFT – e que interrompeu as operações com cartão de crédito na Cidade do Vaticano e, portanto, nos museus do Vaticano – Rico também lembra: “Estranhamente, esta função [SWIFT] foi restabelecida imediatamente após a renúncia de Bento XVI”.

Recordamos, também, que, bem recentemente, em março de 2017, várias vozes influentes da Igreja Católica – entre elas o Arcebispo Luigi Negri e Ettore Gotti Tedeschi (ex-chefe do Banco do Vaticano) apoiaram o pedido e a suspeita do jornal The Remnant. Meu marido, o Dr. Robert Hickson, professor aposentado do Joint Military Intelligence College e da Joint Special Operations University, também aponta para a “importância da guerra financeira, especialmente no mundo cibernético, como parte da guerra fractal, em que uma pequena mudança (um “delta”) pode levar a um grande e desproporcional efeito”.

Antonio Socci, em sua própria publicação sobre esta nova revelação de Dottori, nos remete para outra entrevista que Dottori já havia dado à Zenit, em 13 de novembro de 2016. Dottori respondeu, então, quando perguntado sobre o recente escândalo do Wikileaks envolvendo a equipe de Hilary Clinton e sua influência sobre a Igreja Católica, como se segue (e, novamente, gentilmente traduzida por Andrew Guernsey):

Apareceram documentos dos quais emerge uma forte intenção da parte equipe de Hillary de provocar uma revolta no interior da Igreja para enfraquecer sua hierarquia. Eles usaram grupos de pressão e movimentos de base, seguindo um consolidado esquema usado pelas experientes revoluções das minorias. Ainda não chegamos na arma do crime, mas estamos perto. Embora eu não tenha provas, sempre pensei que Bento XVI foi levado à abdicação por um complô complexo, ordenado por aqueles que tinham interesse em bloquear a reconciliação com os Ortodoxos Russos, o pilar religioso de um projeto de convergência progressiva entre a Europa Continental e Moscou. Por razões semelhantes, acredito que a candidatura do Cardeal [Angelo] Scola para a sucessão de Bento XVI também foi interrompida, pois como o Patriarca de Veneza, ele havia conduzido as negociações com Moscou. Para ter certeza, no entanto, teremos que obter mais evidências. Através do Wikileaks também nos tornamos conscientes das operações de condicionamento psicológico recentemente exercidas contra o Papa Francisco. Mas ali também eles falharam miseravelmente, pois Bergoglio está renovando a Igreja, para fortalecê-la e, certamente, não para enfraquecê-la, como alguns queriam, e ele assinou um verdadeiro e próprio armistício com Kirill [de Moscou], em meio a tantas divisões tanto dentro das recíprocas esferas de influência. Logo abaixo da costa dos Estados Unidos, em Cuba [onde papa Francisco e o Patriarca Kirill assinaram um documento].

Enquanto Antonio Socci cita algumas dessas palavras do professor Dottori, ele explica que isso não significa que a súbita demissão do papa Bento XVI foi forçada. Aos olhos de Socci, o que nos mostra é que existe um “mistério colossal” que, em meio a muitas pressões, envolve a decisão do Papa Bento XVI, de finalmente, renunciar.

11 comentários sobre “Geo-estrategista italiano alimenta debate sobre a renúncia do Papa Bento XVI.

  1. Se tudo que se referia à saida(?) do papa Bento XVI estava sob densa nevoa, imaginemos depois desse artigo em que se envolvem figuras sinistras como o notorio anti cristão e pró Islã Obama, o intrincado Berlusconi e mais personagens, fatos e interesses que mais se pareceriam vinculados a uma rede internacional de intrigas, algo de contos de agentes secretos!
    Acreditar que o abaixo corresponderia à verdade, mais difícil ainda ao argumentarem haver pressão sobre o papa Francisco!
    Isso mais se pareceria a algo montado para beneficiar e/ou recuperar-lhe o prestigio em baixa junto à opinião pública conservadora por favorecer as esquerdas – ao menos contra ele se excluiriam os poderes ocultos do globalismo, também estariam de fora certos marginais como Obama, G Soros etc., mesmo a ONU – reerguê-lo ou outro motivo desconhecido, é o que daria impressão:
    … “Através do Wikileaks também nos tornamos conscientes das operações de condicionamento psicológico recentemente exercidas contra o Papa Francisco. Mas ali também eles falharam miseravelmente, pois Bergoglio está renovando a Igreja, para fortalecê-la e, certamente, não para enfraquecê-la, como alguns queriam, e ele assinou um verdadeiro e próprio armistício com Kirill [de Moscou], em meio a tantas divisões tanto dentro das recíprocas esferas de influência. Logo abaixo da costa dos Estados Unidos, em Cuba [onde papa Francisco e o Patriarca Kirill assinaram um documento]”.
    A única pressão na Igreja no presente, só se fosse para o Vaticano agilizar as reformas anti cristãs beneficiando o globalismo!

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  2. Que exista um “mistério Colossal”, não há dúvidas. Temos certeza que foi misteriosa essa renúncia.
    Deus está no controle. E nossa Senhora também.

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  3. Será crivel que Bento XVI se oporia tão radicalmente ao pedido de Nossa Senhora de Fátima, a ponto de se aproximar da Rússia.
    É dificil acreditar que Bento escolhesse a Igreja Ortodoxa russa (Putin) como uma alternativa a Obama e caterva.

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  4. O Papa foi para o matadouro sem abrir a boca. Disse ele, imitando São Miguel: “Imperet tibi Dominus” (Judas I,9). Coisa que eu não tenho santidade e diplomacia suficientes para fazer. Eu que não sou tão santo nem tão diplomata rasgaria o véu e jogaria o nome da Hillary na lama com nome, sobrenome e endereço e todas as provas que eu tivesse na mão. Armaria uma guerra e principalmente exporia os cardeais que recebem propina do George Soros para destruir a Igreja por dentro. Que Deus nos mande líderes com o espírito de João Batista, que enfrentou Herodíades e estabeleceu a verdade diante de todos, sem medo da morte.

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  5. Um tempo atrás, quando eu estava estudando uns assuntos relacionados ao ateísmo, cristianismo, e esquerdismo (socialismo/comunismo) me deparei com um documentário no youtube onde os Comunistas tentavam entender como eles haviam perdido para os EUA/capitalismo, e pasmem, a conclusão em que eles chegaram, mesmo sendo ateus, que havia sido Deus que não os deixou prevalecer. E o que os russos fazem desde então? Destroem o ocidente por dentro, incentivando através dos movimentos “revolucionários” tudo que há de pior, por meio das feministas, gayzistas, ateístas… e controlando a mídia atacando a moral e os bons costumes, a igreja… enfim, e ao mesmo tempo, os Russos ficam longe de tudo isso, e tentam se aproximar de “deus” obviamente com os objetivos errados, e tentando manter a moral e os bons costumes, até engando conservadores, cristãos… no ocidente. Essas revelações vem de encontro a todo esse jogo oculto que está acontecendo, que Deus nos proteja!

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  6. Não entendi. Se Ratzinger saiu porque estava sofrendo pressão de todos os lados por apoiar a conciliação com a Igreja Ortodoxa, e a candidatura do que viria a ser seu sucessor, Angelo Scola, também foi interrompida (por estes mesmos motivos), por que a igreja escolheu Bergolio como o novo Papa, já que ele também pretende reconciliar-se com Moscou??

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    1. Em minha modesta opinião, Bento XVI não se afastou por pressão, ele foi engando pelos Cardeais e deixou o comando temporal do Vaticano com a convicção de que estaria fazendo o melhor para a Igreja. Deus sabe mais, com certeza a perda do poder temporal e a clausura em oração aumentou o poder espiritual do Santo Padre e produzirá mais frutos…

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  7. O tempo passa, o tempo, voa, a poupança Bamerindus não existe mais, Francisco é o sucessor de Bento XVI e Donald Trump é o sucessor de Barack Obama. Trump é tão distante de Francisco como Obama era distante de Bento XVI. Haverá algum dia pressão de Trump pela abdicação de Francisco?

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