OnePeterFive responde ao desmentido da Sala de Imprensa da Santa Sé. Dollinger confirma diálogo.

O blog que divulgou o diálogo atribuído a Pe. Dollinger e o então Cardeal Ratzinger, comenta o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Por Steve Skojec, OnePeterFive, 21 de maio de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: Hoje, 21 de maio de 2016, a  Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou, no seu boletim diário, uma declaração atribuída ao Papa Emérito Bento XVI. A declaração nega categoricamente a afirmação, aqui relatada, do Padre Ingo Dollinger, sobre uma conversa privada na qual o então cardeal Ratzinger falou com Dollinger, seu  amigo pessoal, sobre a existência de mais do que foi publicado pelo Vaticano em junho de 2000 a respeito do Terceiro Segredo de Fátima. Aqui está o texto integral do comunicado do Vaticano.

Como editor do blog OnePeterFive, desejo responder a essa declaração. Não podemos considerar de modo leviano a refutação por alguém da estatura do Papa Emérito Bento XVI. É interessante notar que – segundo nosso conhecimento – esta é a primeira vez desde sua renúncia em 2013 que o Papa Emérito emitiu uma declaração oficial através da Sala de Imprensa do Vaticano. Com tudo o que está atualmente sacudindo a Igreja, com toda a confusão que agora assalta os fiéis, essa é a história que levou Bento a quebrar o seu silêncio. Claramente, este é um assunto de importância incomum aos olhos da Santa Sé.

Essa declaração é recebida por nós com filial respeito e amor pelo Papa Emérito. E, no entanto, apresenta-se como um problema. Ele entra em conflito direto com as declarações que já foram relatadas e nos acusa de “falsa atribuição” e “invenção”.  Por outro lado, contradiz categoricamente a nossa fonte, o Padre Dollinger, nem mesmo oferecendo a possibilidade de que tenha havido um erro de interpretação, mas sim, uma acusação de que os eventos por ele descritos são completamente fabricados.

É, em si, um comunicado estranhamente superficial, e é apresentado de uma forma que levanta questões sobre a sua proveniência e integridade. Não se trata de uma declaração completa e integral do Papa Emérito Bento; nem traz a sua assinatura. Estamos, ao invés, diante de um documento apresentado com citações atribuídas a Bento XVI,  sem o contexto completo em que elas originariamente apareceram. Também não é dado a nós saber quem conduziu essa aparente entrevista com ele, ou como as perguntas foram formuladas.

Somos, em outras palavras, solicitados a tomar como digno de fé o conteúdo dessa declaração, como se fossem os sentimentos autênticos, completos e ratificados pelo Papa Emérito sobre o assunto.

Vale ainda ressaltar que, quando nós publicamos as palavras do Padre Dollinger, conforme relatado pela Dra. Hickson, fomos acusados de divulgar informações que são boatos não verificáveis. Mas agora nos são fornecidas declarações parciais atribuídas a Bento XVI por parte de um membro não identificado da equipe de comunicações do Vaticano – afirmações nas quais estamos diretamente envolvidos, bem como um velho amigo do Papa Bento XVI, o Pe. Dollinger, num engano proposital – e então nos pedem que acreditemos que a matéria está selada e resolvida?

Espero que vocês perdoem o meu ceticismo.

Eu tenho duas perguntas sobre a semântica dessa declaração cuidadosamente construída. Eu acredito que elas merecem consideração.

Em primeiro lugar, gostaria de chamar a atenção para a parte que afirma: as afirmações atribuídas ao professor Dollinger sobre o assunto são “puras invenções, absolutamente falsas”.

Dra. Maike Hickson, que telefonou pessoalmente ao Padre Dollinger, atesta a verdade do que ela contou da conversa. Na medida em que o comunicado do Vaticano a acusa de “atribuir” ao Padre Dollinger declarações que são “invenções”, podemos dizer que isso sim é falsidade. Ela não imaginou ter tido uma conversa com o Padre Dollinger, ela relatou isso, e eu prefiro acreditar em seu testemunho com plena confiança em sua integridade, tanto como jornalista, como uma filha fiel da Igreja.

Além disso, nesta manhã, Dra. Hickson telefonou novamente ao Padre Dollinger com a notícia da declaração do Vaticano, e nessa conversa ele confirmou novamente e enfaticamente as suas observações anteriores. Em outras palavras, ele sustentou a sua história.

Também devemos reiterar que a conversa original da Dra. Hickson com o Pe Dollinger não poderia ter sido vista como uma “invenção”, uma vez que não era algo original em seu conteúdo. Não foi uma tentativa de fazer um furo de reportagem, mas sim de buscar a confirmação direta de uma história que já havia sido atribuída a Padre Dollinger anos atrás, tal como foi referido no artigo original da Dra. Hickson: “Esta informação sensível pertinente ao Terceiro Segredo, que circulou entre certos grupos católicos por alguns anos, agora foi pessoalmente confirmada a mim pelo próprio Padre Dollinger …”

O primeiro relato publicado do testemunho do Padre Dollinger (dos quais estamos cientes) apareceu em uma entrevista com o Padre Paul Kramer no Fátima Crusader, em maio de 2009. Desde então, foi citado em várias publicações católicas e locais. Curiosamente, um dos nossos comentadores sobre a história recordou que como brasileiro, ele mesmo tinha ouvido a mesma história de um padre que foi aluno do Pe. Dollinger em 2003 ou 2004. (Pe. Dollinger foi o reitor da Institutum sapientiae no Brasil, onde ensinou teologia moral.) A única coisa nova sobre o nosso relatório é a confirmação direta feita por Padre Dollinger (em alemão, sua língua nativa) para a Dra. Hickson, que o procurou, numa tentativa de obter mais esclarecimento sobre o assunto.

Em segundo lugar, o comunicado cita o Papa Bento XVI como dizendo que “a publicação do Terceiro Segredo de Fátima está concluída”. Esta é uma linguagem muito cautelosa, no sentido legal. Se o Vaticano já publicou tudo o que  tinha a intenção de publicar sobre o Terceiro Segredo de Fátima – mesmo se há mais que eles não pretendem publicar – o que seria tecnicamente correto era dizer que “a publicação está completa.” Mas de modo algum isso dissiparia a idéia de que um texto escrito pela Irmã Lúcia, a pedido de Nossa Senhora, como um meio de interpretar a importância simbólica do Terceiro Segredo ainda possa existir.

Como afirmei em meu adendo ao nosso artigo original, não é preciso assumir que os papas que omitiram informações potencialmente complementares sobre o Terceiro Segredo tenham mentido para nós; se eles temiam que a informação nele contida poderia causar graves danos à Igreja, de alguma forma, eles poderiam estar usando ampla restrição mental em sua ocultação da parte do texto em questão. Há também a questão, levantada por Marco Tosatti, sobre o questionamento interno dentro do aparelho do Vaticano sobre porções de um texto explicativo adicional, que se existir, pode ser atribuída tanto a Nossa Senhora como à  Irmã Lúcia. Se houvesse dúvida suficiente, poderiam omitir tal texto enquanto permaneceriam tecnicamente corretos ao afirmar que o segredo completo (ou seja, a parte que eles estavam confiantes que vieram de Nossa Senhora) tinha sido revelado. O sentido legalista, portanto, é digno de nota a esse respeito.

Eu acredito que, além das questões levantadas pelo texto do comunicado, há outros fatos conhecidos que simplesmente não se somam nessa declaração como sendo atribuída ao Papa Bento XVI. A linguagem é forte, mesmo dura, e parece muito atípico a esse respeito. Bento XVI tem uma reputação de bondade e gentileza, e a fonte das informações que ele está refutando vem de um amigo de longa data – uma amizade que a sua declaração não nega.

A declaração também parece fechar a porta enfaticamente sobre quaisquer outras questões levantadas sobre a parte não revelada no Terceiro Segredo. E, no entanto a própria posição de Bento XVI sobre essa questão parece ter evoluído tanto, ao longo dos últimos 16 anos, que seria difícil caracterizá-la como uma questão resolvida. Em 26 de Junho de 2000, quando o Vaticano anunciou a publicação do texto do Terceiro Segredo de Fátima, que foi acompanhada por uma explicação teológica pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé disse:

Chegamos assim a uma última pergunta: O que é que significa no seu conjunto (nas suas três partes) o « segredo » de Fátima? O que é nos diz a nós? Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que « os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do “segredo” de Fátima parecem pertencer já ao passado ». Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece — dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do « segredo » — é a exortação à oração como caminho para a « salvação das almas », e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão.

Mas posteriormente, já como o Papa Bento XVI, Ratzinger viajou a Fátima em maio de 2010. E, naquela época, ele ofereceu uma interpretação um pouco diferente. De dentro de seu avião, em 11 de Maio de 2010, ele disse:

Para além desta grande visão do sofrimento do Papa, que podemos referir, em substância, a João Paulo II, estão indicadas realidades futuras da Igreja que estão a desenvolver-se e a revelar-se pouco a pouco. Assim, é verdade que, para além do momento indicado na visão, fala-se, vê-se, a necessidade de uma paixão da Igreja que se reflete naturalmente na pessoa do Papa; mas o Papa está na Igreja, e portanto os sofrimentos da Igreja são o que é anunciado….

Dois dias depois, em uma missa no Santuário de Nossa Senhora de Fátima em 13 de Maio de 2010, o Papa Bento XVI disse:

Que seria um erro pensar que a missão profética de Fátima esteja concluída.

Christopher Ferrara, um especialista e autor sobre o tema de Fátima, recontou o seguinte no início desta semana, relacionado ao livro de Antonio Socci sobre o tema:

[I] Devemos dizer que, na verdade, os próprios Papas não nos disseram que a mensagem foi totalmente revelada. A visão pertinente ao Segredo não foi revelada até 2000, após o qual João Paulo II observou o silêncio conspícuo que diz respeito à controvérsia sobre a integralidade da revelação. E em 2010, como Socci colocou, Bento não só se recusou a dizer que tudo tinha sido revelado, mas também “reabriu o dossier” sobre o Terceiro Segredo aludindo a conteúdos que claramente não aparecem na visão. Além disso, Bento XVI enviou a Socci uma nota agradecendo-lhe pela publicação do livro O Quarto Segredo de Fátima (o qual  eu traduzi em inglês), ainda que ele [Socci] acuse o aparelho do Vaticano de esconder um texto pertinente.

Da sua parte, em um post em seu blog datado de 12 de maio de 2007, Socci relata que ele mantém:

Que a carta que Bento XVI escreveu-me sobre o meu livro, agradecendo-me pelos “sentimentos que ele inspirou em mim” [para os sentimentos que têm sugerido], são Palavras que o confortaram em face dos insultos e acusações …

A inspiração para a Dra. Hickson buscar a confirmação com o Padre Dollinger veio, em parte, de um novo testemunho de Alice von Hildebrand, que recentemente publicou antigas informações privadas a respeito de uma parte adicional do Terceiro Segredo que indicam uma “infiltração na Igreja até o topo “. Essa informação, de acordo com a Dra. Von Hildebrand, foi-lhe revelada por seu falecido marido em 1965, o qual a obteve de Dom Mario Boehm, um ex-editor do jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano.

Então, poderia a Dra. Von Hildebrand também ser acusada de inventar a história dela? E o que dizer do falecido cardeal Ciappi, o teólogo papal dos Papas João XXIII, Paulo VI e João Paulo II?  Pois é exatamente o Cardeal Ciappi, que é amplamente creditado com a revelação pública das informações que Alice von Hildebrand já confirmou: “No Terceiro Segredo é predito, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começará no topo”.

Há muita coisa que não faz sentido. Há muitas perguntas deixadas sem resposta. Oferecemos nossas orações sinceras ao Papa Emérito Bento XVI e nossa gratidão por ele ter quebrado o seu silêncio ao abordar essa questão que continua em aberto.

Ao mesmo tempo, estamos sendo convidados a crer que estamos sendo enganados por nossas fontes. Que estamos sendo enganados por indivíduos já nos últimos anos de suas vidas, indivíduos que aparentemente nada têm a ganhar com isso. Indivíduos que têm estabelecido uma sólida reputação como católicos dignos de fé e ortodoxos, e cuja reputação agora está sendo questionada por apresentarem uma versão alternativa dos eventos.

Isso é pedir demais, e portanto devemos respeitosamente solicitar que nos seja dada uma resposta completa – uma declaração completa, inalterada, com uma declaração testemunhada do próprio Papa Emérito. As palavras filtradas da Sala de Imprensa do Vaticano não são suficientes.

10 comentários sobre “OnePeterFive responde ao desmentido da Sala de Imprensa da Santa Sé. Dollinger confirma diálogo.

  1. Eu tive como confessor, durante um largo período, o próprio padre da diocese de Anápolis a quem o pe. Dollinger confidenciou por primeiro essa história de seu diálogo com Ratzinger, e esse padre me contou, por sua vez, o que Dollinger lhe contara. Por minha vez, contei tudo ao professor Orlando Fedeli, pessoalmente, em São Paulo, em meados de 2007, e, no Congresso da Montfort de 2007, o professor Fedeli me fez contar o caso também a outros alunos seus. O professor Fedeli, inclusive, se empolgou tanto com a notícia que tomou um avião e foi até a Alemanha, entre outubro e novembro de 2007, para encontrar-se com o pe. Dollinger. Eles se encontraram e conversaram longamente durante alguns dias. Logo após seu retorno, perguntei ao professor Fedeli sobre o que lhe contara o pe. Dollinger, mas ele só quis responder-me que o pe. Dollinger lhe contara muitas coisas extremamente importantes e que ele, Fedeli, lhe pedira que não morresse sem revelar tudo o que sabia… Aí veio a conhecida entrevista do Fátima Crusader, em maio de 2009, dando publicidade ao diálogo Dollinger-Ratzinger. Creio que a intervenção do professor Fedeli, em 2007, foi crucial para determinar o pe. Dollinger a romper mais claramente com o silêncio (quase completo) que vinha guardando até então.
    (ps.: o que o meu confessor acima referido me contou, pela época, foi, em resumo, que ele, quando era seminarista no seminário de que o pe. Dollinger era reitor, em certa ocasião Dollinger lhe confidenciou que o cardeal Ratzinger lhe deixara ler o próprio manuscrito da Irmã Lúcia com o Terceiro Segredo. Foi essa a informação que passei ao prof. Fedeli e cuja confirmação o professor, por sua vez, foi buscar com o próprio pe. Dollinger na Alemanha.)

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  2. Na minha humilde opinião, é providência divina tornar esse assunto à tona.

    E mais, é por essa via que se poderá, pelo menos durante algum tempo, ser o caminho para a saída dessa crise da Igreja.

    Juntando a isso as relevações feitas pelo secretário do Papa Bento XVI.

    É hora dos católicos deixarem a política um pouco de lado e começarem a se movimentar em favor da fé da Igreja e contra Sua crise.

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  3. Em uma pequena nota a Imprensa do Vaticano desmente o Pe. Dollinger. Isto é matéria para ser debatida de modo muito mais extenso e esclarecedor. Afinal trata-se de matéria, que vem de encontro diretamente com a nossa Fé. Aguardemos os novos esclarecimentos.

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  4. Então o professor Fedeli teria tido conhecimento do segredo? Por que acreditava tanto que Bento XVl era o Papa do terceiro segredo?

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  5. Bartholomeu,

    se Pe. Dollinger leu o manuscrito original da irmã Lúcia, qual seria então o verdadeiro segredo ou então o que falta ser dito? Toda esta história do Pe. Dollinger que já conhecia não pelo prof. Fedeli mas por ex-membros da TFP, me levou a escrever um artigo no ano passado do qual trancrevo abaixo uma parte dele, onde quero reiterar, se está faltando uma parte, o que esta parte que falta teria a dizer?:

    “Como o Terceiro Segredo devia ter sido divulgado no início da década de 1960 e não o foi, temos a convicção de que essa gravíssima omissão se deveu ao fato de Nossa Senhora, nessa terceira parte de sua Mensagem, haver dito que não devia ser feito o Concilio, que não se fizessem alterações na santa missa e na liturgia, e também de ter prevenido sobre a ação de “pastores demolidores” da fé católica.” (http://escritosdesaomaximilianomariakolbe.blogspot.com.br/2015/05/a-falsa-irma-lucia-e-o-falso-terceiro.html)

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  6. “…em seguida, Simeão disse a Maria: eis que esta criança será colocada para queda e soerguimento de muitos em Israel e como um sinal de contradição. Quanto a ti, uma espada transpassará tua alma para que se revelem os pensamentos secretos de muitos corações.” (Lucas 2,34-35)

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  7. Em locuções ao Pe. Gobbi, N. Sra. revela a outra parte do segredo.É a confirmação do segredo revelado em Salette. Roma perderá a fé…. O Catecismo também menciona discretamente sobre esta parte do segredo quando fala da provação final da Igreja.
    Claro o Pp. Bento não vai dizer em público pois estará se expondo, (os lobos estão a espreita!)

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  8. Do alto e hoje, podemos concluir que o conteúdo segredo já é conhecido. Temos uma colcha de retalhos, tecida ao longo de uma centúria, com retalhos pequenos e grandes que nos permitem entrever do que se trata. Um maiores mistérios, ao que tudo indica, talvez dos mais desconcertantes, é vermos pessoas honestas, devotas e cultas, tanto clérigos como seculares, que continuam na letargia, achando que tudo está bem, que o afastamento do Papa e a instalação de Bergoglio segue dentro da mais perfeita regularidade canônica, achando, enfim, que é algo natural (e não preternatural) a apostasia que se instala,a partir do topo, isto é, a partir de Roma, de maneira virulenta em extensas áreas daquilo que foi reino de Cristo e passou, literalmente, ao domínio de belial e de seus imundos servidores declarados e ocultos.

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  9. TEXTO CORRIGIDO….

    Por Deus e Pela Rainha!

    Estudei no seminário Maior Imaculado Coração de Maria entre os anos de 1994 e 1999. Tendo sido ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 2000 pela imposição das mãos do grande bispo de Anápolis-GO, Dom Manoel Pestana Filho.
    Entre as maiores graças que tive em minha vida estão a graça de ter sido pastoreado por um santo bispo( Dom Manoel Pestana) e de ter tido um santo reitor, o Reverendíssimo Pe. Dr. Ingo Dollinger.
    Tive a graça de conhecer bem, o Pe. Dollinger, homem profundamente espiritual e grande amor a Igreja, que equacionava de modo admirável o conhecimento e a simplicidade, a gravidade das responsabilidades e a alegria.
    Todos os dias quando ia para a bela capela do seminário fazer minhas meditações, lá já se encontrava o reverendo reitor, a partir das 04:00 da manhã. Era filho espiritual de São Pio de Pietrelcina. Teve o privilégio de receber do próprio São Pio as chaves da sua cela, de forma a poder ter acesso direto ao grande santo muitas vezes quanto ia a San Giovane Rotondo. Pe Dollinger conheceu pessoalmente boa parte dos grandes místicos de seu tempo e foi de um desses que ele recebeu menções sobre o conteúdo da terceira parte do segredo de Fátima que não havia sido revelada.
    Tive a graça de gozar da estima e da confiança do Pe. Dollinger de quem tornei-me grande amigo e a quem eu tinha em conta de um grande pai espiritual e excepcional formador.
    Pe. Dollinger, além de reitor do Seminário Maior, trabalhava também com o Cardeal Ratzinger na Congregação para Doutrina da Fé. Ele era secretário da comissão de diálogo com a maçonaria, razão pela qual ele tinha um grandíssimo conhecimento a respeito daquela instituição, inclusive revelando coisas que jamais poderia conhecer pelos livros.
    A convivência e o conhecimento que o Pe. Dollinger tinha para com o Cardeal Ratizinger eram grandes. Tinham uma leitura muito semelhante sobre as razões da atual crise da Igreja.
    O aluno do Pe. Dollinger a que o artigo acima se refere sou eu.
    Em certa altura, em um dos muitos diálogos que tivemos, quando falávamos sobre a crise na Igreja, e toda a apostasia, ele me confidenciou o que passo a relatar:
    Disse-me que tendo conhecimento com muitas almas místicas de seu tempo, uma delas lhe falou sobre o conteúdo da terceira parte do segredo, que parecia explicar a atual situação da Igreja, bem como o silêncio e a tergiversação das autoridades eclesiásticas a cerca do tema. Ele me disse que, segundo essa alma mística, o conteúdo da terceira parte do segredo seriam essencialmente essas palavras: ”Virá um Concílio, por meio do qual a apostasia entrará na Igreja…diga ao Papa que não faça o Concílio”…quando o Pe. Dollinger perguntou ao Cardeal Ratzinger se era realmente esse o conteúdo do segredo o Cardeal silenciou( porque segundo explicou Pe. Dollinger o Cardeal estava obrigado por juramento a não pronunciar-se a cerca do tema)…depois o Pe. Dollinger perguntou ao Cardeal porque não se divulgou o conteúdo da terceira parte do segredo e a resposta de sua Eminência foi: ”Porque agora é tarde demais”.
    Na altura, meu magnífico reitor me explicava que a revelação da terceira parte do segredo teria consequências inimagináveis no seio da Igreja. Como explicar ao povo que fizeram um Concílio, apesar da advertência de Nossa Senhora, pelo qual a doutrina católica seria relativizada e prostituída, o impulso missionário da Igreja quase completamente destruído e a liturgia avacalhada levando milhões de pessoas a perderem a fé? Como reagiria o episcopado que em grande parte tem o Concílio Vaticano II como ”super dogma”? A divulgação oficial disso poderia levar a uma confusão generalizada e a muitas divisões no seio da Igreja.
    O Pe. Dollinger explicou que era esta a razão pela qual Nossa Senhora queria que o segredo fosse revelado em 1960. Fez também questão de explicar que o Papa João XXIII leu o segredo, mas ainda assim quis convocar o Concílio, procurando entretanto brindá-lo de todos os modos para que nenhuma heresia entrasse. Em seu grande otimismo talvez o Papa pensasse que a profecia poderia se referir a um outro concílio e não àquele que ele estava convocando.
    Pe. Dollinger contou-me sobre a longa correspondência entre o Vaticano e os bispos, para assegurar a solidez e concordância dos temas que seriam tratados. Segundo o que narrou, o concílio deveria ser rápido e durar apenas alguns poucos meses. Mas essa história mudou graças a atuação do Cardeal francês ligado à maçonaria chamado Tisserant. O reverendo reitor narrou que poucos meses antes do início do concílio, esse cardeal se reuniu com alguns outros para fazer algo em vista da mudanças das regras do Concílio, que modo que este deixasse de lado tudo o que já havia sido produzido na correspondência com os bispos e se produzisse novos textos a partir da assembléia que iria se reunir. Contou que estes cardeais fizeram (de modo velado ) um grande loby para que os bispos votassem pela mudança das regras de forma que a assembléia pudesse produzir seus próprios documentos. Na aula inaugural do Concílio, já tendo sido feito o ”trabalho” de bastidores, o Papa foi interpelado diante de todos para que mudasse as regras…que ao menos colocasse em votação…o Papa, resolveu então colocar em votação as regras da produção dos documentos do Concílio, crendo que os bispos iriam ratificar as regras elaboradas pelo Vaticano e valorizar todo o trabalho que já havia sido feito, além do que seria a ocasião para ressaltar a unidade dos bispos com o Vaticano e o sucessor de Pedro… O Papa colocou em votação e…perdeu. Pe Dollinger disse que o Papa chorou, mas não quis voltar atrás… depois seguiu-se toda a história que já conhecemos( um pouco)…massacraram os bispos com muitos textos, de forma que estes não conseguiam analisar tudo, levando-os assim a confiarem demasiado na autoridade intelectual dos grandes teólogos para fazerem as sínteses e elaborarem os textos dos documentos. A consequência disso se expressa em frases como a do grande teólogo Schillebeeckx: ”Escrevemos os documentos do Concílio em uma linguagem propositadamente dúbia, porque sabíamos a interpretação que daríamos depois”.
    Sobre este fato da atuação do Cardeal Tisserant, juntamente com outros, para mudarem as regras de elaboração dos documentos do Concílio, há um fato importante a acrescentar. Haviam alguns outros poucos em quem o Pe Dollinger tinha uma grande confiança e a quem confidenciou também algumas coisas importantes, entre eles o reverendíssimo Pe. Almir que foi Secretário Geral na Fraternidade São Pedro e trabalhou no secretariado da Eclesia Dei. O Pe. Dollinger me narrou que ao contar essa história da sórdida atuação do cardeal Tisserant ao Pe. Almir, saiu do chão do seu escritório no seminário, diante dos olhos deles, uma fumaça preta, no exato momento quando o reverendo Pe. Almir exclamava: ”Mas isso é diabólico!!!” e o magnífico reitor confirmava:”Realmente diabólico”…. Este fato foi contado sob juramento e registrado no livro de casos reservados da Cúria Diocesana de Anápolis-GO, segundo narrou Pe. Dollinger.
    À pergunta se a Igreja teria mentido ao publicar no ano 2000 um texto que não correspondia a revelação feita por Nossa Senhora a explicação seria a seguinte: Ao revelar a terceira parte do segredo Nossa Senhora mostrou aos pastorinhos uma visão correspondente a essa parte e disse textualmente o que era o segredo. Lúcia escreveu o segredo, assim como a narração da visão, que também permaneceu em segredo, sendo esta a parte secreta revelada pelo Vaticano.Tanto que a Santíssima disse : ”Não conteis a ninguém, mas ao Francisco podereis contar.”… ora, Francisco também havia visto o que Nossa Senhora mostrou, mas não havia escutado as palavras que Ela tinha dito, pois ele apenas via Nossa Senhora, mas não ouvia, nem falava. Assim sendo, quando ela disse: ”ao Francisco podeis contar…” ela se referia às suas palavras e não à visão. Hoje nos encontramos na mesma situação de Francisco, ou seja, sabemos o que foi a visão, mas não sabemos as palavras que Nossa Senhora disse. Deste modo, podemos afirmar que a Igreja não mentiu, pois realmente revelou um segredo manifestado por Nossa Senhora em Fátima, mas não revelou as palavras de Nossa Senhora, a exemplo da primeira e segunda parte do segredo.
    Creio ser importante acrescentar que o Pe. Dollinger fazia questão de deixar claro que, Nossa Senhora não dizia que o Concílio não era de Deus, mas que, segundo seu entendimento, seria instrumentalizado para estabelecer a apostasia como de fato aconteceu.
    Pe. Dollinger me fez manter segredo sobre o tema da terceira parte do segredo de Fátima. E assim o fiz por muitos anos(quase 10 anos), até que em uma viagem com Dom Manoel Pestana à Itália para participar do retiro anual do Movimento Sacerdotal Mariano, no momento do almoço, na mesa com alguns sacerdotes, Dom Manoel contou a mesma história, pelo que me desobriguei do segredo, ainda que o tenha comentado com pouquíssimas pessoas, entre elas esse aluno do Prof. Orlando Fedeli.
    Concordo plenamente com a abordagem do artigo que diz que o texto foi semanticamente cuidadosamente elaborado. Que é significativo que o Papa Bento XVI rompa o silêncio, e que pela primeira vez, utilize os meios de comunicação oficiais para fazer este ”esclarecimento”…e que o ”esclarecimento” se dê em terceira pessoa. Concordo também que a reação das autoridades no Vaticano evidenciam que este é um tema latente e definitivamente não esclarecido de modo cabal.

    Pe. Rodrigo Maria, escravo inútil da Santíssima Virgem

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