“Il papa si deve dimittere.” — O Papa deve se demitir,
São essas as palavras explosivas do antigo núncio apostólico (embaixador papal) nos Estados Unidos, de 2011 a 2016, o Arcebispo Carlo Maria Viganò.
A passagem mais grave é a seguinte:
“Minha consciência exige que também revele fatos que experimentei pessoalmente, a respeito do Papa Francisco, que possuem dramático significado, que, como bispo, compartilhando a responsabilidade colegial por todos os bispos na Igreja universal, não me permitem ficar em silêncio, e eu declaro aqui, pronto a reafirmar tudo sob juramento, tomando a Deus como minha testemunha.
Nos últimos meses de seu pontificado, Bento XVI convocou um encontro de todos os núncios apostólicos em Roma, como Paulo VI e S. João Paulo II fizeram em diversas ocasiões. A data definida para a audiência com o Papa era sexta-feira, 21 de junho de 2013. O Papa Francisco manteve este compromisso marcado por seu predecessor. Claro, eu também vim a Roma, de Washington. Era meu primeiro encontro com o novo papa, eleito há apenas três meses, após a renúncia do Papa Bento.
Na manhã de quinta-feira, 20 de junho de 2013, fui à Casa Santa Marta para me juntar a meus colegas que estavam se hospedando lá. Tão logo adentrei o saguão, encontrei o Cardeal McCarrick, que vestia sua batina púrpura. Cumprimentei-o respeitosamente, como sempre fiz. Ele imediatamente me disse, em um tom tanto ambíguo como triunfante: “O Papa me recebeu ontem, amanhã irei para a China”.
À época, eu nada sabia acerca da sua longa amizade com o Cardeal Bergoglio e do papel importante que ele teve em sua recente eleição, como McCarrick mesmo revelaria em uma conferência na Villanova University e em uma entrevista ao National Catholic Reporter. Sequer havia pensado no fato de ele ter participado nos encontros preliminares ao conclave, e no papel que ele pôde desempenhar enquanto cardeal eleitor em 2005. Portanto, eu não compreendi imediatamente o significado da mensagem criptografada que McCarrick me comunicou, mas isso se tornaria claro para mim nos dias seguintes.
No dia posterior, ocorreu a audiência com o Papa Francisco. Após o seu discurso, que foi parcialmente lido e parcialmente improvisado, o Papa desejou cumprimentar todos os núncios, um a um. Em uma fila única, lembrei-me que estava entre os últimos. Quando chegou minha vez, somente tive tempo de dizer-lhe: “Sou o núncio nos Estados Unidos”. Ele imediatamente me atacou em um tom de reprovação, usando estas palavras: “Os bispos nos Estados Unidos não devem ser ideologizados! Devem ser pastores!”. Evidentemente, eu não estava em condições de pedir explicações sobre o significado de suas palavras e a maneira agressiva com que ele me repreendeu. Eu tinha em mão um livro em português que o Cardeal O’Malley enviou por mim ao Papa alguns dias antes, dizendo-me “então, ele poderá estudar seu português antes de ir ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude”. Entreguei-lhe imediatamente e então me livrei daquela situação extremamente desconcertante e embaraçosa.
Ao fim da audiência, o Papa anunciou: “Àqueles que ainda estiverem em Roma no próximo domingo, convido-os a concelebrar comigo na Casa Santa Marta”. Eu, naturalmente, pensei em ficar para esclarecer, o quanto antes, tudo o que o Papa quis me dizer.
No domingo, 23 de junho, antes da concelebração com o Papa, perguntei a Mons. Ricca, que, como pessoa a cargo da casa, ajudava-nos a nos paramentar, se ele poderia pedir ao Papa para me receber por algum tempo durante a semana seguinte. Como poderia eu retornar a Washington sem esclarecer o que o Papa queria de mim? Ao fim da missa, enquanto o Papa cumprimentava alguns poucos leigos presentes, Mons. Fabian Pedacchio, seu secretário argentino, veio a mim e disse: “O Papa me pediu para perguntar se o senhor está livre agora!”. Naturalmente, respondi que estava à disposição do Papa e que o agradecia por me receber imediatamente. O Papa me levou ao primeiro andar em seu apartamento e disse: “Temos 40 minutos antes do Angelus”.
Iniciei a conversa, perguntando ao Papa o que ele quis me dizer com as palavras que me dirigiu quando o cumprimentei na última sexta-feira. E o Papa, de forma muito diferente, amigavelmente, em um tom quase afetuoso, disse-me: “Sim, os bispos nos Estados Unidos não devem ser ideologizados, não devem ser direitistas como o Arcebispo da Filadélfia (o Papa não me disse o nome do Arcebispo), devem ser pastores; e não devem ser esquerdistas — e ele acrescentou, levantando os dois braços — e, quando digo esquerdista, quero dizer homossexual”. Claro, a lógica da correlação entre ser esquerdista e ser homossexual me escapou, mas não acrescentei nada.
Imediatamente depois, o Papa me perguntou, de forma capciosa: “Como é a vida do Cardeal McCarrick?” Respondi-lhe com total franqueza e, se preferir, com grande ingenuidade: “Santo Padre, não sei se o senhor conhece o Cardeal McCarrick, mas, se perguntar à Congregação para os Bispos, há um dossiê dessa grossura a respeito dele. Ele corrompeu gerações de seminaristas e padres e o Papa Bento ordenou-lhe que se retirasse para uma vida de oração e penitência”. O Papa não fez o menor comentário sobre essas palavras gravíssimas e não demonstrou nenhuma expressão de surpresa em sua face, como se já soubesse do assunto por algum tempo, e imediatamente mudou de Dtema. Mas, então, qual era o propósito do Papa em me perguntar: “Como é a vida do Cardeal McCarrick?” Ele claramente queria saber se eu era um aliado de McCarrick ou não.
De volta a Washington, tudo ficou muito claro para mim, graças também a um novo fato ocorrido pouco após o meu encontro com o Papa Francisco. Quando o novo bispo Mark Seitz tomou posse na diocese de El Paso, em 9 de julho de 2013, enviei o primeiro conselheiro [da nunciatura], Mons. Jean-François Lantheaume, enquanto fui a Dallas, no mesmo dia, para um encontro internacional sobre bioética. Quando voltei, Mons. Lantheaume disse-me que em El Paso ele encontrara o Cardeal McCarrick que, tomando-lhe de lado, disse-lhe quase as mesmas palavras que o Papa me dissera em Roma: “os bispos nos Estados Unidos não devem ser ideologizados, não devem ser de direita, devem ser pastores…”. Eu estava atônito! Era claro, portanto, que as palavras de repreensão que o Papa Francisco me dirigiu naquele 21 de junho de 2013 foram colocadas em sua boca no dia anterior pelo Cardeal McCarrick. Também a menção do Papa “a não serem como o Arcebispo de Filadélfia” poderia ser traçada a McCarrick, pois houve um duro desentendimento entre os dois a respeito da admissão à Comunhão de políticos pró-aborto. Em sua comunicação com os bispos, McCarrick manipulou a carta do então Cardeal Ratzinger, que proibia administrar-lhes a Comunhão. De fato, eu também sabia como certos Cardeais, como Mahony, Levada e Wuerl, eram muito próxims de McCarrick; eles se opuseram às mais recentes nomeações feitas pelo Papa Bento, para importantes postos como Filadélfia, Baltimore, Denver e São Francisco.
Não satisfeito com a cilada que me armara no dia 23 de junho de 2013, quando me perguntou sobre McCarrick, apenas poucos meses depois, na audiência que me concedeu em 10 de outubro de 2013, o Papa Francisco armou uma outra para mim, dessa vez sobre um outro protegido seu, Cardeal Donald Wuerl. Ele me perguntou: “Como é o Cardeal Wuerl, ele é bom ou ruim?” Respondi: “Santo Padre, não lhe direi se ele é bom ou ruim, mas lhe contarei dois casos”. São os que citei acima, que diz respeito à falta de cuidad pastoral de Wuerl a respeito dos aberrantes desvios da Georgetown University e o convite da Arquidiocese de Washington a jovens aspirantes aos sacerdócio para se encontrarem com o Cardeal McCarrick! Novamente, o Papa não demonstrou nenhuma reação.
Era também claro para mim, desde a eleição do Papa Francisco, que McCarrick, agora livre de todos as restrições, sentiu-se à vontade para viajar continuamente, dar conferências e entrevistas. Em um esforço conjunto com o Cardeal Rodriguez Maradiaga, ele se tornou o “fazedor de reis” para as nomeações na Cúria e nos Estados Unidos, e o conselheiro mais ouvido no Vaticano para as relações com a administração Obama. É isso que explica a substituição do Papa, na Congregação para os Bispos, de Burke por Wuerl, e a nomeação imediata de Cupich após este ser feito cardeal. Com essas nomeações, a Nunciatura em Washington estava era fora de cena no que diz respeito à nomeação de bispos. Além disso, ele nomeou o brasileiro Ilson de Jesus Montanari — um grande amigo de seu secretário pessoal, o argentino Fabian Pedaccio — como Secretário da mesma Congregação para os Bispos e Secretário do Colégio de Cardeais, promovendo-lhe em uma única canetada de simples oficial de departamento a Arcebispo Secretário. Algo sem precedentes para uma posição tão importante! As nomeações de Blase Cupich para Chicago e Joseph W. Tobin para Newark foram orquestradas por McCarrick, Maradiaga e Wuerl, reunidos por um iníquo pacto de abusos pelo primeiro, e ao menos por acobertamentos pelos outros dois. Os nomes dos designados não estavam entre os apresentados pela Nunciatura para Chicago e Newark.
A respeito de Cupich, não se pode deixar de notar sua ostensiva arrogância e a insolência com que ele nega a evidência que agora é óbvia a todos: que 80% dos abusos reconhecidos foram cometidos contra jovens por homossexuais que possuíam relação de autoridade com as vítimas. Durante a conferência que ele deu quando tomou posse da Sé de Chicago, na qual eu estava presente como representante do Papa, Cupich fez um gracejo dizendo que ninguém, certamente, esperasse que o novo arcebispo andasse sobre as águas. Talvez seria suficiente para ele poder manter seus pés no chão e não tentar virar a realidade de cabeça para baixo, cego por sua ideologia pro-gay, como ele afirmou recentemente em uma entrevista para a revista America. Louvando sua própria experiência no assunto, tendo sido Presidente do Comitê para Proteção de Crianças e Jovens da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, ele afirmou que o principal problema da crise de abusos sexuais pelo clero não era a homossexualidade, e que afirmá-lo é só uma forma de desviar a atenção para o problema real, que é o clericalismo. Para confirmar sua tese, Cupich “estranhamente” fez referência aos resultados de uma pesquisa realizada no ápice da crise de abuso de menores, no início dos anos 2000, enquanto ele “candidamente” ignorava que os resultados daquela investigação foram totalmente negados pelas pesquisas independentes feitas pelo John Jay College of Criminal Justice em 2004 e 2011, que concluíram que, nos casos de abuso sexual, 81% das vítimas eram homens. De fato, o Padre Hans Zollner, S.J., Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, Presidente do Centro para a Proteção da Criança e membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, recentemente afirmou ao jornal La Stampa que “na maior parte dos casos trata-se de uma questão de abuso homossexual”. A nomeação de McElroy em San Diego foi orquestrada desde cima, com uma ordem criptografada peremptória para mim, enquanto núncio, feita pelo Cardeal Parolin: “Reserve a Sé de San Diego para McElroy”. McElroy também estava ciente dos abusos de McCarrick, como pode ser visto pela carta enviada a ele por Richard Sipe, em 28 de julho de 2016.
Esses personagens estão proximamente associados com indivíduos pertencentes, em particular, à ala desviada da Sociedade de Jesus, infelizmente, hoje, a maioria, que já havia sido uma causa de séria preocupação a Paulo VI e seus sucessores. Devemos apenas considerar o Padre Robert Drinan, SJ, eleito quatro vezes para a Câmara dos Representantes [parte do Congresso americano], um grande apoiador do aborto; ou Padre Vincent O’Keefe, SJ, um dos principais promotores da The Land O’Lakes Statement de 1967, que seriamente comprometeu a identidade católica das universidades e colégios nos Estados Unidos. Deve-se notar que McCarrick, então presidente da Universidade Católica de Puerto Rico, também participou naquela nefasta iniciativa que foi tão danosa à formação das consciências da juventude americana, muito próximo, como era, da ala desviada dos jesuítas. Padre James Martin, S.J., aclamado pelas pessoas citadas acima, em particular por Cupich, Tobin, Farrell e McElroy, nomeado consultor do Secretariado para as Comunicações, conhecido ativista que promove a agenda LGBT, escolhido para corromper os jovens que em breve estarão se reunindo em Dublin para o Encontro Mundial das Famílias, não é nada mais que um triste e recente exemplo daquela desviada ala da Sociedade de Jesus.
O Papa Francisco repetidamente pediu por total transparência na Igreja e, aos bispos e fiéis, que agissem com parrhesia. Os fiéis por todo o mundo também pedem isso a ele, de maneira exemplar. Ele deve honestamente afirmar quando ele tomou conhecimento dos crimes cometidos por McCarrick, que abusou de sua autoridade sobre seminaristas e padres.
Em todo caso, o Papa soube disso por mim, em 23 de junho de 2013, e continuou a acobertá-lo. Ele não levou em consideração as sanções que o Papa Bento impôs a McCarrick e lhe fez um conselheiro de confiança, juntamente com Maradiaga.
Este último é tão confiante da proteção do Papa que ele pode descartar como “fofoca” o doloroso apelo de diversos de seus seminaristas que tiveram coragem para escrever-lhe, após vários terem tentando suicídio por conta do abuso homossexual no seminário.
Agora, os fiéis compreenderam a estratégia de Maradiaga: insulte as vítimas para se salvar a si mesmo, minta para o amargo fim de acobertar um abismo de abuso de poder, de má gestão na administração dos bens da Igreja, e desastres financeiros mesmo contra amigos próximos, como no caso do Embaixador de Honduras, Alejandro Valladares, ex decano do Corpo Diplomático da Santa Sé.
No caso do ex bispo auxiliar Juan José Pineda, após um artigo publicado no semanário italiano L’Espresso no último mês de fevereiro, Maradiaga afirmou ao jornal Avvenire: “Foi meu bispo auxiliar Pineda que pediu por uma visitação, a fim de ‘limpar’ seu nome após ter sido submetido a tanta calúnia”. Agora, acerca de Pinada, o único fato que foi feito público foi de que sua renúncia foi aceita, fazendo, assim, toda responsabilidade dele e de Maradiaga desaparecer. Em nome da transparência tão louvada pelo Papa, o relatório do Visitador, o bispo argentino Alcides Casaretto, entregue mais de um ano atrás diretamente ao Papa, deveria ser publicado. Finalmente, a recente nomeação como Substituto [da Secretaria de Estado] do Arcebispo Edgar Peña Parra também tem relação com Honduras, isto é, com Maradiaga. De 2003 a 2007, Peña Parra trabalhou como Conselheiro na nunciatura de Tegucigalpa. Como delegado das Representações Pontifícias, eu recebi preocupantes informações a respeito dele.
Em Honduras, um escândalo tão grande como o ocorrido no Chile está para se repetir. O Papa defende o seu homem, o Cardeal Rodriguez Maradiaga, até o fim, como fez com o bispo chileno Juan de la Cruz Barros, que ele mesmo nomeou bispo de Osorno contra o conselho dos bispos chilenos. Primeiro, ele insultou as vítimas de abuso. Depois, somente quando foi forçado pela mídia, e por uma revolta das vítimas e dos fiéis chilenos, ele reconheceu seus erros e pediu desculpas, enquanto afirmava ter sido mal informado, causando uma situação desastrosa para a Igreja no Chila, mas continuando a proteger os dois cardeais chilenos, Errazuriz and Ezzati.
Mesmo no trágico caso de McCarrick, o comportamento do Papa não foi diferente. Ele sabia pelo menos desde 23 de junho de 2013 que McCarrick era um predador em série. Embora soubesse que era um homem corrupto, ele o acobertou até o fim; de fato, ele fez dos conselheiros de McCarrick seus, que, certamente, não foi inspirado por intenções sadias e pelo amor à Igreja. Apenas quando foi forçado pelas denúncias de abusos de menores, novamente por conta da atenção da mídia, ele agiu acerca de McCarrick para salvar sua própria imagem na imprensa.
Agora, nos Estados Unidos, um coro de vozes está se levantando, especialmente dos leigos, e recentemente unidas a de diversos bispos e padres, pedindo que todos aqueles que, por silêncio, acobertaram o comportamento criminoso de McCarrick, ou que se usaram dele para promover suas carreiras e intenções, ambições e poderes na Igreja, renunciem
Mas isso não será suficiente para curar uma situação de comportamento imoral extremamente grave pelo clero: bispos e padres. Um tempo de conversão e penitência deve ser proclamado. A virtude da castidade deve ser redescoberta no clero e nos seminários. A corrupção no mau uso dos recursos da Igreja e das ofertas dos fiéis deve ser combatida. A gravidade do comportamento homossexual deve ser denunciada. As redes homossexuais presentes na Igreja devem ser erradicadas, como Janet Smith, Professor de Teologia Moral no Seminário Maior do Sagrado Coração em Detroit, recentemente escreveu: “O problema do abuso do clero não pode ser simplesmente resolvido pela renúncia de alguns bispos, e menos ainda com diretrizes burocráticas. O problema mais profundo está nas redes homossexuais dentro do clero que devem ser erradicadas”. Essas redes homossexuais, agora difundidas em muitas dioceses, seminários, ordens religiosas, etc, agem sob a ocultação de segredos e mentiras com o poder de tentáculos de um polvo, e estrangulam vítimas inocentes e vocações sacerdotais, e estão estrangulando a Igreja inteira. Eu imploro a todos, especialmente aos bispos, que levantem suas vozes a fim de abater essa conspiração de silêncio que está tão disseminada, e a relatar os casos de abuso que souberem à mídia e às autoridades civis.
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Francisco não deveriam estar se exibindo agora em Dublin: deveria estar assinando sua carta de renúncia. Ele se demonstrou absolutamente comprometido com a máfia pecaminosa que, liderada por conhecidos promotores do homossexualismo, tais como Dannels e posteriormente aderida por Bertone, elegeram-no. A presença de Bergoglio no topo da Igreja é uma indelével marca de vergonha e desonra.