Edward Pentin: Papa Francisco convocou reservadamente para audiência o Grão-mestre da Ordem de Malta e pediu que escrevesse sua renúncia na hora. E que declarasse ter sido influenciado por Burke.

Papa Francisco declara todos os atos recentes de Festing como “nulos e inválidos”.

Declaração feita em uma carta do Cardeal Parolin à Ordem de Malta, enquanto vão surgindo os detalhes sobre o que aconteceu durante o encontro do Papa com o Grão-Mestre.

Por Edward Pentin, National Catholic Register, 26 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – O Papa Francisco declarou que todas as ações tomadas pelo chefe da Ordem de Malta e seu Conselho de Administração, desde a demissão de Boeselager no mês passado, são “nulas e sem efeito”, incluindo a eleição do substituto de Boeselager.
Escrevendo em nome do Papa aos membros do Conselho de Governo da Ordem, no dia 25 de janeiro, o secretário de Estado do Vaticano Cardeal Pietro Parolin, afirmou que o Santo Padre, “com base em evidências que emergiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todas as ações tomadas pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, são nulas e sem efeito”.
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Burke – o alvo.

Ele acrescentou: “O mesmo é verdadeiro para aqueles do Soberano Conselho, como a eleição do Grão-chanceler interinamente.” O Conselho elegeu  Fra ‘John Critien como substituto temporário de Boeselager.

Cardeal Parolin começa sua carta ressaltando que o Grão-comandante, Ludwig Hoffmann von Rumerstein, está agora encarregado da Ordem, acrescentando que “no processo de renovação que é visto como necessário”, o Papa “nomearia seu delegado pessoal com poderes que ele mesmo vai definir no ato de sua nomeação”

O Grão Mestre Fra ‘Matthew Festing apresentou sua renúncia no dia 24 de janeiro, de acordo com uma declaração do Vaticano, de 25 de janeiro. O Vaticano acrescentou ainda no comunicado que no dia seguinte “o Santo Padre aceitou a sua demissão.”

Além disso, o Vaticano disse que o governo da Soberana Ordem passaria a ser administrado pelo “Grão-comandante interino enquanto se aguarda a nomeação do Delegado Pontifício”.

O Papa convocou Fra’Festing ao Vaticano no dia 24 de janeiro, dando-lhe instrução rigorosa para não deixar que ninguém viesse a saber sobre a audiência – um modus operandi que tem sido usado com frequência durante este Pontificado, mas que Register tomou conhecimento. Durante o encontro, Francisco pediu a Fra ‘Festing para que ele se demitisse imediatamente, algo com o qual o Grão-Mestre teve que concordar. O Papa, então, ordenou-lhe para escrever sua carta de demissão ali mesmo no local, de acordo com fontes bem informadas.

O Register também tomou conhecimento de que o Papa disse a Fra ‘Festing que a razão pelo qual estava pedindo sua renúncia foi a convicção do pontífice de que ele tem que fazer uma nova “investigação mais profunda” da Ordem, e que tal  investigação seria “mais facilmente conduzida se o grão-mestre renunciasse.”

Também foi revelado ao Register, que o Papa então fez Fra ‘Festing incluir em sua carta de renúncia, que o Grão-Mestre havia pedido a demissão de Boeselager “sob a influência” do Cardeal Raymond Burke, o patrono da Ordem. No entanto, como patrono, o Cardeal não tem nenhum poder de governo na Ordem, podendo apenas aconselhar o Grão-Mestre, o que significa que a decisão de demitir o Grão-chanceler pertence exclusivamente ao Grão-Mestre.

Perguntado se poderia confirmar esta versão dos acontecimentos envolvendo o encontro de Fra ‘Festing com o Papa, o Vaticano respondeu ao Register no dia 26 de janeiro, que não fornece “nenhum comentário sobre conversas privadas.”

Se o Grão-Mestre foi pressionado a renunciar, alguns dentro da Ordem estão especulando sobre a validade de sua renúncia, já que essa foi exigida imediatamente, sem dar-lhe tempo para sequer considerar o assunto. Eles também estão preocupados com o que se parece prenúncio de um expurgo futuro na Ordem.

Além disso, alguns estão se perguntando que, se todos os atos do Grão-Mestre desde 6 de dezembro são nulos, como o Cardinal Parolin afirmou em sua carta, isso também incluiria o ato de renúncia de Fra ‘Festing ao Papa.

No sábado, o Conselho Soberano reúne-se para votar se a aceitam ou não a renúncia do Grão-Mestre.

Segue abaixo a tradução da carta do Cardeal Parolin:

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“Distintos Membros do Conselho Soberano, 

Gostaria de informar-lhes que S.A.E. Fra ‘Matthew Festing, Grão-Mestre da Ordem, na data de 24 de Janeiro de 2017, entregou sua demissão nas mãos do Santo Padre Francisco, o qual a aceitou.  

Como a Constituição da Ordem prevê no Art. 17 § 1, o Grão-comendador assumirá a responsabilidade de governo interinamente. Nos termos do Art. 143 do Código Maltense, ele providenciará de informar aos Chefes de Estado com os quais a Ordem mantém relações diplomáticas e as diferentes organizações ligadas à Ordem. 

Para ajudar a Ordem no processo de renovação que é visto como necessário, o Santo Padre irá nomear seu delegado pessoal com poderes que ele vai definir no próprio ato de sua nomeação. 

O Grão-comendador, em seu papel de tenente interino, exercerá os poderes previstos no Art. 144 do Estatuto da Ordem até o Delegado Pontifício ser nomeado. 

O Santo Padre, com base em evidências que surgiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todos os atos realizados pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, sejam nulos e inválidos. O mesmo é verdadeiro para aqueles atos do Conselho Soberano, como a eleição ad interim do Grão-chanceler

O Santo Padre, reconhecendo os grandes méritos da Ordem na realização de muitas obras em defesa da fé e no serviço aos pobres e doentes, expressa sua preocupação pastoral para com a Ordem e espera a colaboração de todos neste momento delicado e importante para o futuro. 

O Santo Padre abençoa a todos os membros, voluntários e benfeitores da Ordem e lhes sustenta com suas orações.

Pietro Paraolin

Secretário de Estado

15 comentários sobre “Edward Pentin: Papa Francisco convocou reservadamente para audiência o Grão-mestre da Ordem de Malta e pediu que escrevesse sua renúncia na hora. E que declarasse ter sido influenciado por Burke.

  1. Os cavaleiros não irão reagir e defender a sua soberania? Vão cometer o mesmo erro da época da queda de Malta, quando deixaram a armada de Napoleão ingressar sem resistência na ilha? Não aprenderam com a História?
    São João, rogai por nós!

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  2. Como assim atos nulos e invalidos? Acaso uma demissão pode ser valida ou invalida? Que coisa de doido. E da onde tirou isso? Parece até aquelas criancinhas que no meio da brincadeira vai e diz “ah, não valeu! Não vale!”

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    1. Lucas, você consideraria uma carta de demissão onde o demitido teria sido forçado a assinar como válida?
      Basta avaliar a situação dentro de seu contexto e ter um pouco de bom senso. A coisa é de fato preocupante.

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  3. Edward Pentin: Papa Francisco convocou reservadamente para audiência o Grão-mestre da Ordem de Malta e pediu que escrevesse sua renúncia na hora. E que declarasse ter sido influenciado por Burke.
    Se acaso o papa Francisco exigiu do Grão Mestre que atribuísse indevidamente influencia do Cardeal Burke nesse caso, tencionando outros objetivos – em suma uma calunia – seria o típico comportamento das esquerdas que se valem de todos os meios, pouco se importando quais sejam, para obterem um resultado final que as beneficie!
    Se recordarmos alguns procedimentos do papa Francisco…
    É importante saber que a abertura para dar a Comunhão a casais que vivem em adultério, reflete pensamento pessoal do Papa Francisco, que tem essa prática desde que era Arcebispo de Buenos Aires na Argentina…

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  4. Será que não foi o mesmo que aconteceu quando “renunciaram” o Bento XVI?

    _ Escreve aí que essa renúncia é por motivos de saúde e idade avançada! Mas não se preocupe porque nós vamos criar uma nova função pra Vossa Santidade: “Papa Emérito ou Aposentado”!

    Eu só espero que venham beber do próprio veneno e que todos os atos desse Pontificado sejam considerados num futuro próximo como “nulos e sem efeito”, incluindo a eleição do substituto de Ratzinger.
    O que não será muito, visto que o único legado de Bergoglio serão os atos despóticos e ditadoriais de governo. Mas no campo da Doutrina, a Igreja continua protegida pelo Espírito Santo, porque até o ataque à indissolubilidade do Matrimônio na “Amoris Malícia” está sendo abertamente combatido até mesmo por Bispos e Cardeais que de forma alguma a consideram Magistério.
    Rezemos, pois esse será um ano turbulento, mas no fim o Coração Imaculado de Maria triunfará.

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  5. Eu vejo uma coisa boa neste pontificado. Todos aqueles que trabalhavam nas sombras contra a Igreja, ao verem Francisco como Papa, “saíram da toca” e passaram a combater a Igreja à vista de todos, pois “Francisco é nosso!”. Daí podemos hoje distinguir sem dúvidas quem são os bons clérigos e quem são os maus clérigos. Eu, por exemplo, não conhecia Kasper, Maradiaga e todos os que defendem o erro… Isso eu devo a Francisco! Essa é para mim a única explicação para Nosso Senhor Jesus Cristo sustentar o papa Francisco na cátedra de Pedro… Mas Deus não nos dá satisfação. Ele age a seu modo e um dia talvez entendamos porquê dessas coisas.

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  6. Do site oficial da Ordem, momentos atrás:

    The Sovereign Order of Malta is most grateful to Pope Francis and the Cardinal Secretary of State Pietro Parolin for their interest in and care for the Order. The Order appreciates that the Holy Father’s decisions were all carefully taken with regard to and respect for the Order, with a determination to strengthen its sovereignty.

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  7. É tenho de admitir…De fato eu estava enganado !

    Se Francisco foi capaz de fazer isso com um estado soberano, o quê não fará com um mero instituto pontifício (eclesia dei)

    Agora entendo a posição da FSSPX quanto ao acordo com Roma. Se ao menos tivesse uma paróquia deles onde moro.

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    1. LAM, mas uma coisa você deve concordar comigo: nesses três anos de papado uma coisa que Francisco não fez foi mexer em um instituto Ecclesia Dei. Me parece que ele simplesmente os ignora. Sabe por que? Porque eles estão bem quietinhos no canto deles, bem de boa, em nome da “perfeita comunhão”. Prova disso é que ele sequer manda uma mensagem ou saudação aos peregrinos da romaria anual Summorum Pontificum (as vezes que enviou-se alguma mensagem foi via Secretaria de Estado, e que não foi divulgada em nenhum meio de comunicação vaticano).

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    2. Sim Carlos, pra piorar vi essa notícia ontem

      SSPX Superior-General Fellay: “An agreement is possible without further wait.”

      http://rorate-caeli.blogspot.com.br/2017/01/sspx-superior-general-fellay-agreement.html?m=1

      Espero que Dom Fellay não se deixe seduzir por essas promessas vãs ,pois, se Francisco não poupou se quer um Estado soberano protegido pelo Direito internacional, o que faz Dom Fellay uma prelazia pessoal ( o estado canônico que Roma propôs à SSPX) ?

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