Declarações explosivas de Dom Georg Gänswein: Existe um “ministério expandido” e Bento XVI ainda é Papa. Como é possível?

O que está por trás de tudo isso? E é isso o que ainda “impede” Bergoglio de dar o golpe definitivo que afundaria a Igreja, induzindo-a a mil ambiguidades? 

Por Antonio Socci | Tradução: FratresInUnum.com: O mistério continua e – na bandeira do Vaticano – o branco agora está sobressaindo. Na verdade, as declarações feitas ontem por Dom Georg Gäenswein,  sobre o “status” de Bento XVI e Francisco, são perturbadoras (Dom Georg é secretário de um e prefeito da Casa Pontifícia do outro).

dom-georgA essa altura, não dá para entender mais o que aconteceu no Vaticano em fevereiro de 2013 e o que está acontecendo hoje.

Antes de ver essas declarações, vou resumir a história que colocou a Igreja em uma situação jamais vista.

ESTRANHA RENÚNCIA

Depois de anos de ataques duríssimos, no dia 11 de fevereiro de 2013 Bento XVI anunciou sua clamorosa “renúncia”, sobre a qual as verdadeiras razões são ainda motivo de muitas perguntas legítimas (pois ele deu início ao seu pontificado com uma frase retumbante: “Ore por mim, para que eu não fuja para medo dos lobos”).

Além disso, depois de três anos e meio de renúncia, ficou claro que não haviam problemas de saúde iminentes, nem de lucidez.

Sua “renúncia” foi formalizada com uma “Declaração Final”, em um latim um pouco “frágil” (não escrito por ele) e sem fazer referência- como seria óbvio – ao cânon do Código de Direito Canônico que regula a própria renúncia do Papado.

Um descuido? Uma escolha? Não sabemos. Em qualquer caso, a renúncia ao papado não era uma novidade absoluta. Houve outras, em dois mil anos, embora muito raras. O que nunca existiu foi um “papa emérito” porque todos aqueles que saíram regressaram ao seu status precedente.

Em vez disso, Bento, cerca de dez dias depois da renúncia, e antes do início da sede vacante, fez saber – desmentindo até mesmo o porta-voz – de que ele se tornaria “papa emérito” e permaneceria no Vaticano.

UM ESCRITO CONFIDENCIAL? 

Tal escolha inédita não foi acompanhada por um ato que definisse e formalizasse  o “papado emérito” do ponto de vista do direito canônico e teológico.

E isso é muito estranho. Assim, permaneceu como indefinida uma situação delicadíssima e perturbadora. A menos que haja alguma coisa escrita, que, no entanto, permaneceu confidencial …

De resto, de acordo com os especialistas,  a figura do “papado emérito” não tem nada a ver com os bispos aposentados, criados após o Concílio, uma vez que o episcopado é o terceiro grau do sacramento da Ordem, e – quando um bispo de 75 anos renuncia à jurisdição sobre uma diocese – permanece para sempre como bispo (a Igreja codificou precisamente, em um ato oficial, todas as prerrogativas do Episcopado emérito).

O papado, por sua vez, não é um quarto grau no sacramento da Ordem e os canonistas sempre defenderam que, ao renunciá-lo, o seu sujeito poderia apenas voltar a ser bispo. (assim tem sido há dois mil anos).

Em vez disso, Papa Ratzinger – refinado homem de doutrina – se tornou  “papa emérito” e preservou o nome de Bento XVI do qual se segue o título de “Santo Padre” e até mesmo a insígnia papal no emblema (algo que surpreendeu, porque os símbolos são muito importantes no Vaticano) .

E tudo isso não por vaidade pessoal, pois Ratzinger é famoso pelo oposto: ele sempre viveu o cargo como um fardo e fez todo o possível para não ser eleito papa.

A questão, portanto, que rola há três anos, no Palácio do Vaticano, é esta: se demitiu ou realmente – por razões desconhecidas — ainda é Papa, mesmo que de uma forma nova?

Alimentando o mistério, há também o discurso de despedida que ele fez na audiência, em 27 de fevereiro de 2013, em que – recordando o seu “sim” na “eleição em 2005 – disse que era “para sempre ” e explicou:

“O ‘sempre’ também é um “para sempre”- já não há um retorno ao privado. A minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não o revoga. “

Eram palavras que deveriam colocar todos a questionar o que estava havendo (se tratava de uma renúncia unicamente ao “exercício ativo” do ministério petrino? Era plausível?).

Mas, naquele período de fevereiro a março de 2013, todos evitaram perguntar ao papa o porquê de sua renúncia, o sentido daquelas palavras de 27 de Fevereiro e a definição do cargo de “papa emérito”.

DOIS PAPAS?

O mesmo Papa Francisco – eleito no dia 13 de março de 2013 – encontrou-se em uma nova situação que, em seguida, ajudou a tornar ainda mais enigmática, desde que na noite da sua eleição, apareceu no balcão da Basílica de São Pedro, sem vestes papais e definindo-se seis vezes como “Bispo de Roma”, mas nunca como Papa (além do mais, não usou o pálio – símbolo coroação papal – no brasão de armas).

Como se não bastasse, o próprio Francisco continua a chamar Joseph Ratzinger de “Sua Santidade Bento XVI”

Em suma,  havia um papa reinante que não se definia como papa, mas bispo, e que chamava papa aquele que – de acordo com a oficialidade – já não era mais papa, mas havia voltado a ser bispo. Um emaranhado incompreensível.

A Igreja, pela primeira vez na história, se encontrava com dois papas: e quem disse isso foi o próprio Bergoglio, em julho de 2013, em um vôo do Brasil que o trouxe de volta para a Itália.

Mais tarde, alguém deve tê-lo explicado que – pela constituição divina da Igreja – não pode haver dois papas simultaneamente e, então, ele passou a explicar  em ocasiões posteriores, sua analogia com os “bispos eméritos”. Mas, ele mesmo sabe que não há nenhuma analogia, pelas razões que eu mencionei acima, e porque não há nenhum ato formal de criação do “papado emérito”.

HIPÓTESES

Alguns canonistas tentaram decifrar – do ponto de vista legal e teológico – a nova e inédita situação.

Stefano Violi, estudando a declaração do Papa Bento, conclui:

“(Bento XVI) renuncia ao” ministerium”. Não ao Papado, de acordo com o texto da regra de Bonifácio VIII; não ao “munus”segundo o que consta no canon 332 § 2, mas ao ‘ministerium”, ou como ele deixou especificado em sua última audiência, exercício ativo do ministério…”.

Violi então continua:

“O serviço na Igreja continua com o mesmo amor e a mesma dedicação, mesmo fora do exercício do poder. Objeto de renuncia, irrevogável, é de fato o “executio Muneris” mediante a ação e a palavra (agendo et loquendo), não o “munus” que lhe foi confiado de uma vez por todas”.

As consequências de tal fato, no entanto, seriam perturbadoras.

Um outra canonista, Valerio Gigliotti, escreveu que a situação de Bento XVI abre uma nova fase, que define “místico-pastoral”, uma “nova configuração da instituição do papado que está atualmente à mercê de uma reflexão canônica”. Isso também é perturbador.

A BOMBA DE DOM GEORG

Então ontem, Dom Gaenswein, durante a apresentação de um livro sobre Bento XVI, explicou que seu pontificado deve ser lido a partir de sua batalha contra a “ditadura do relativismo”.

Depois ele disse literalmente:

“Desde a eleição de seu sucessor, Papa Francisco –  no dia 13 de março de 2013 -, não há, portanto, dois Papas, mas na verdade um ministério expandido com um membro ativo e um outro contemplativo. Por este motivo, Bento não renunciou nem ao seu nome e nem à sua batina branca. Por isso, o título próprio pelo qual devemos nos dirigir a ele ainda é “santidade”. Além disso, ele não se retirou para um mosteiro isolado, mas continua dentro do Vaticano, como se tivesse apenas se afastado de lado para dar espaço para seu sucessor e para uma nova etapa na história do Papado que ele, com esse passo, enriqueceu com a centralidade da oração e da compaixão feitas nos jardins do Vaticano”.

Trata-se de declarações explosivas, cujo significado dá muito o que entender. Quer dizer que, de fato, desde o dia 13 de março de 2013, há “um ministério (petrino) expandido com um membro ativo e outro contemplativo”?

E dizer que Bento XVI “apenas” (enfatizo o “apenas”) deu um passo para o lado para dar espaço ao Sucessor? Chegam mesmo a falar de “uma nova etapa na história do Papado”.

E tudo isso – diz Gaenswein – faz entender por que Bento XVI “não desistiu de seu título e nem da batina branca” e por que o título pelo qual devemos nos dirigir a ele ainda é “Santidade”.

Uma coisa é certa: é uma situação anormal e misteriosa. E há algo importante que não estão dizendo…

Antonio Socci

“Libero”, 22 de maio de 2016

17 comentários sobre “Declarações explosivas de Dom Georg Gänswein: Existe um “ministério expandido” e Bento XVI ainda é Papa. Como é possível?

  1. De fato, são situações desconcertantes. Porém, há que se tomar cuidado em levantar hipóteses infundadas de qualquer coisa, como foi o caso que repercutiu no mundo e que foi divulgado aqui no Fratres, de que Bento XVI quando ainda era cardeal tinha dito a um amigo que o 3 SEGREDO de fatima não havia sido revelado por completo. Bento XVI desmentiu isso e disse que sim, foi divulgado todo o segredo por inteiro. E agora?

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  2. A afirmação de Dom Gaenswein “dois Papas, mas na verdade um ministério expandido com um membro ativo e um outro contemplativo” é uma tentativa de tirar a pedra do sapato com a “renúncia” do Bento XVI mas que continua Papa. Porquê é uma pedra? Porque a verdade teológica é que só há UM Papa. Esta verdade teológica incomoda e, por isso, tentam subverter a mesma com explicações e ginásticas jurídicas e teológicas para justificar como normal o que é anormal. Por outro lado, o termo “emérito” nunca existiu, nem existe quer no direito canónico, quer teologicamente é suportado. É preciso notar que os bispos “eméritos” foi uma inovação do pós Vaticano II, porque era necessário substituir os bispos tradicionais, por bispos modernistas com o fim de aplicar a nova teologia saída do Vaticano II. Temos então que este termo “emérito” tem em si um veneno. A razão principal e única de toda esta tentativa de justificar o que é injustificável, de normalizar o anormal, de criar fundamentos jurídicos para o que é juridicamente injustificável, já que o direito canónico serve a Teologia e não esta o Direito Canónico, é o facto de que muita gente já percebeu que há DOIS PAPAS. Ora, quer a verdade teológica, quer a história da própria Igreja e do papado nos diz que quando há DOIS PAPAS, um é antipapa. Logo estamos perante uma repetição da história da Igreja, que levou algum tempo a resolver, e não foi fácil. Concluindo há DOIS PAPAS, a Verdade Teológica impõe que só pode haver UM PAPA, portanto um deles é antipapa. É esta a problemática actual que querem esconder. Rezemos para que Deus esclareça a situação confusa e problemática.

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  3. Uma densa nuvem de misterios desda a saída do papa Bento XVI mantém-se suspensa!
    Recentemente, até um conhecido ateu britânico de forma detonante, Paul J Watson declarou-se contra o papa Francisco, depois que ele teria comparado como similares, tanto os objetivos conquistadores expansionistas a feeroe fogo do Islã com as palavras de Cristo, enviando os apóstolos para converterem todas as nações para seu reinado!
    As nações, descritas no evangelho de São Mateus, dos métodos de cada um usarem para pregar seus ideais, omitiu que, enquanto aquele se impõe pela violencia, esse é pelo serviço e amor gratuitos e persuasão pelos bons comportamentos!
    Os judeus, cristãos em muitas vezes que se deslocaram e se estabeleceram em diversas partes do mundo por diversos motivos em guetos, diferentemente dos passados por lavagem cerebral pelo manual da discordia denominado Alcorão, nunca se tornaram terroristas!
    *… “The fear of accepting migrants is partly based on a fear of Islam. In your view, is the fear that this religion sparks in Europe justified?
    Pope Francis: Today, I don’t think that there is a fear of Islam as such but of ISIS and its war of conquest, which is partly drawn from Islam. It is true that the idea of conquest is inherent in the soul of Islam. However, it is also possible to interpret the objective in Matthew’s Gospel, where Jesus sends his disciples to all nations, in terms of the same idea of conquest.
    catholicworldreporter.

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  4. Enquanto um ora, o outro labora. É uma força para a IGREJA .No meu ver, o Papa.Bento XVI sempre esteve guiando os rumos da Igreja, pela Doutrina da Fé. Hoje pela oração, já bem perto de
    Deus. Veio o Papa Francisco e conquistou os corações, levou muitas pessoas de volta à Igreja, e estamos felizes com ele O povo não entende de normas de Direito Canônico e o Espírito Santo conduz à verdade.

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  5. Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, 18 de Novembro de 1302: “ A Igreja, pois, que é uma e única, tem um só corpo,uma só cabeça, não duas como um monstro…”

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  6. Disse o Senhor Deus: Não se pode servir à dois senhores… Que monstruosidade é essa de duas cabeças?

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  7. ““Desde a eleição de seu sucessor, Papa Francisco – no dia 13 de março de 2013 -, não há, portanto, dois Papas, mas na verdade um ministério expandido com um membro ativo e um outro contemplativo.”…

    Me desculpe o secretário do Papa, mas, isso é uma pataquada pra confundir mais a situação que estamos vivendo…”um ministério expandido com um membro ativo e um outro contemplativo.”…Por favor…..PARE DE FAZER ACROBACIAS TEOLÓGICAS, ele parece certos Bispos e padres querendo colocar a Amoris Laetitia no MAGISTÉRIO da Igreja sobre o Matrimônio…A. L. nunca esteve nem nunca estará na estrada do Magistério da Igreja, ela rompe e tenta impor uma “nova verdade”, coisa impossível no MAGISTÉRIO PERENE DA IGREJA…

    “Ora, quer a verdade teológica, quer a história da própria Igreja e do papado nos diz que quando há DOIS PAPAS, um é antipapa. Logo estamos perante uma repetição da história da Igreja, que levou algum tempo a resolver, e não foi fácil. Concluindo há DOIS PAPAS, a Verdade Teológica impõe que só pode haver UM PAPA, portanto um deles é antipapa.”…

    “Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, 18 de Novembro de 1302: “ A Igreja, pois, que é uma e única, tem um só corpo,uma só cabeça, não duas como um monstro…”

    Conclusão terrível mas sensata…

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  8. Existem dois pontos particularmente
    importantes que se levantam diante
    dessa intervenção de Dom Gaenswein.

    O primeiro ponto, que é o negativo, é a nítida
    confusão provocada por tão grosseiro
    erro em matéria teológica.

    Mas existe um segundo ponto,
    também muito relevante,
    que fica em aberto com essa declaração:

    Ela parece em franca contradição com certa carta
    anteriormente atribuída a Bento XVI, na qual ele supostamente
    teria dito que continuou usando a batina branca
    por “mera questão prática”, bem como teria deixado
    clara sua renúncia [completa] ao ministério petrino:

    https://fratresinunum.com/2014/02/26/ratzinger-minha-renuncia-e-valida-fazer-especulacoes-e-absurdo/

    Em vista disso,
    penso que a declaração de Dom Gaenswein, a essa altura,
    venha como que um desmentido à carta anteriormente atribuída a
    Ratzinger.

    E se fizeram isso uma vez (atribuindo a Bento
    uma carta que provavelmente nunca escreveu),
    também não poderiam estar fazendo novamente isso agora
    (http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2016/05/21/0366/00855.html#S)?

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  9. … e, por fim, inventaram o “Papa emérito”, coisa que nunca existiu na História da Igreja.
    Só pode haver um Papa na Igreja. Simplesmente “Papa”, sem títulos restritivos.
    O artigo lembra muito bem que no momento em que um Papa renuncia, ele não é mais Papa. Volta a ser o que era antes: Bispo ou Cardeal.
    Para usar um exemplo recente (ocorrido há pouco mais de 70 anos), Pio XII, durante a Segunda Guerra Mundial, escreveu uma carta de renúncia para ser usada caso ele fosse seqüestrado por Hitler. Se o ditador alemão raptasse Pio XII, pensaria ter nas mãos o Papa, o chefe máximo da Igreja de Cristo, mas, na verdade, teria só o Cardeal Pacelli. Outro Papa seria eleito em Roma.
    É isso. Com a renúncia, Pacelli voltaria a ser Cardeal.
    Não existe “Papa emérito”. Isso foi inventado em 2013.
    Então, a questão é muito clara. Só pode haver um Papa na Igreja.
    – Ou Ratzinger continua sendo Papa, e, nesse caso, Francisco é um antipapa usurpador;
    – Ou Francisco é Papa autêntico, e, nesse caso, Ratzinger usa indevidamente o título de “Papa”.
    Como a renúncia de Bento XVI foi espontânea (não existe prova em contrário), aceito Francisco como Papa autêntico (apesar de todas as surpresas desagradáveis desse pontificado). Logo, Ratzinger não é mais Papa e, por isso, não deveria conservar o título de Papa.
    Por que inventaram um novo título (Papa emérito) e deram a ele? O que aconteceu atrás das cortinas que não sabemos? É a pergunta que não quer calar.

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