Chora mais, Vatican News.


Chororô do irrelevante Vatican News em 13/10/2023:

Comparemos os seguintes números: Padre Fábio de Melo tem 26 milhões de seguidores; Marcelo Rossi, 8 milhões; Frei Gilson, 3,2 milhões; Irmã Kelly Patrícia, 2 milhões; Paulo Ricardo, 1,7 milhões; Vatican News, 853 mil; CNBB, 189 mil. Um Arcebispo como Dom Walmor, que já exerceu o mandato de Presidente da CNBB, tem 23,6 mil seguidores. Esses são os números de influenciadores católicos no Instagram, constatados com o acesso em 21 de setembro de 2023.

O que poderia ser celebrado como um excelente ganho para a Instituição com números tão significativos de presença nas redes, é, na verdade, motivo de preocupação, pois, o conteúdo veiculado, sobretudo pelos mais significativos influenciadores católicos digitais, praticamente ignora qualquer orientação que venha do Papa Francisco e da sua proposta de sinodalidade. Se não se constitui em Magistério contra, pode-se afirmar que seja um Magistério paralelo. Está nascendo, assim, uma outra Igreja, povoada por católicos que desconhecem os ensinamentos do Concílio Vaticano II e seus desdobramentos eclesiais. Uma Igreja que retrocede às orientações do século XVI, emanadas do Concílio de Trento

Não é mais uma crise, é uma Revolução.

Eis porque, para ser católicos, precisamos ser contrarrevolucionários

Por Aldo Maria Valli

Quando falo sobre a crise atual da Igreja e na da Igreja, alguns amigos tentam consolar-me afirmando que houve muitas crises no passado e a Igreja sempre emergiu delas. Verdade. Mas a crise atual é um unicum. Não há precedentes porque aqui estamos diante de um papa que, desde o início do seu mandato, começou a trabalhar para desestabilizar e subverter: o típico comportamento revolucionário.

Com o pontificado atual não vemos apenas confusão e ambiguidade. Vemos a tentativa de fazer nascer uma nova religião que deverá substituir o catolicismo, e o Sínodo que acaba de começar será um momento privilegiado para esta obra de subversão.

A redução (ou melhor, digamos a degradação) do papel do bispo é um ato necessário na lógica revolucionária. Desarticular a estrutura hierárquica é vital para quem quer subverter.

Que a ação de Begoglio seja tipicamente revolucionária também pode ser deduzido do clima de terror que predomina no Vaticano. Quem discorda deve ter muito cuidado, pois o cutelo do caudilho pode cair a qualquer momento no pescoço de alguém considerado adversário.

Que tudo isso aconteça enquanto na superfície as palavras dominantes são “acompanhamento” e “misericórdia” não é surpreendente. O caudilho e os seus lacaios recorrem tranquilamente à propaganda paternalista enquanto estão envolvidos no trabalho de subversão.

Quando, em referência ao Sínodo, um site argentino como o caminhante-wanderer fala da Revolução de Outubro e do congresso peronista, não está exagerando. Simplesmente fotografa a realidade.

Até mesmo a publicação da Laudate Deum é funcional para o projeto revolucionário. Enquanto parte do “povo” católico olha em volta desorientado e se pergunta o que acontecerá com a Igreja, o caudilho volta a atenção para um dos conteúdos fortes da nova religião, aquele ecologismo que por um lado lhe permite ganhar ainda mais credibilidade como capelão das organizações globalistas e, por outro lado, livrar-se completamente da velha bagagem. O nome de Jesus desaparece e nas dioceses os diligentes ajudantes do caudilho plantam árvores. A cruz também vai para o sótão, assim como o crucifixo. Entretanto, todos os representantes do globalismo são recebidos no Vaticano, desde Bill Clinton ao filho de Soros e à viúva de McCain. Uma peregrinação que também nos dá uma ideia visual de como está em curso a revolução. A Igreja e a fé estão a ser desmanteladas peça por peça e em seu lugar se está montando outra Igreja, outra fé.

Alguém notou que o Laudate Deum, em termos de conteúdo, não chega nem ao nível de uma tese de graduação medíocre. Se um aluno tivesse apresentado, dificilmente teria conseguido a aprovação. Mas, novamente, isso não é surpreendente. Até o empobrecimento conceitual e estilístico faz parte do plano revolucionário de quem quer destruir.

Há apenas alguns anos, tudo o que vemos poderia ter sido uma distopia. Na minha sarcástica história de fantasia religiosa Como terminou a Igreja (a primeira edição data de 2017), imaginei uma sequência de etapas: com a encíclica Alea iacta est o Papa adaptaria a Igreja ao mundo; com a carta pastoral Tabula rasa a Igreja teria adotado o pensamento duplo segundo a lógica do “mas também” (sim mas também não, não mas também sim); a Congregação para a Doutrina da Fé se tornaria a Congregação para a Adaptação da Fé; a encíclica Captatio benevolentiae teria contido as instruções a seguir para pôr fim a todas as diferenças entre a Igreja e o mundo; com o motu próprio Gaudeamus igitur a Igreja Católica mudaria oficialmente de nome e se tornaria Igreja Acolhedora; com a encíclica Panem et circenses a Eucaristia seria concedida a todos como um direito; com as exortações Amoris hilaritas e Amoris iucunditas a Igreja Acolhedora abraçaria definitivamente as ideias do mundo no campo da sexualidade.

E assim por diante. Até o fim. No sentido literal.

Repito: a história é de 2017. E hoje é, de fato, realidade. Mas minha distopia era ingênua. Não tinha imaginado, por exemplo, a promoção de um tal Tucho Fernández, o estudioso do beijo, à chefia do que outrora foi o Santo Ofício.

Muitos dos meus amigos nos últimos dias ficaram perturbados com a apresentação da Laudate Deum porque pessoas como Giorgio Parisi (o cientista que impediu Bento XVI de falar na Universidade Sapienza de Roma) foram convidados ao Vaticano, o escritor Jonathan Safran Foer (que para combater as alterações climáticas recomenda não ter filhos e não comer carne), e Luisa-Marie Neubauer, seguidora de Greta Thunberg. Mas só aqueles que ainda não compreenderam que estamos perante uma revolução podem ficar perturbados. O verdadeiro motor disso, como em todas as revoluções, é o ódio. Ódio pelo que foi e não deve mais ser.

Consequentemente, se quisermos ser católicos hoje, devemos ser contrarrevolucionários.

Dubia – Cardeais apresentam a Francisco suas dúvidas sobre o processo sinodal. E continuam sem resposta.

Fonte: Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.

Notificação aos fiéis leigos (Cân. 212 § 3) sobre os dubia apresentados ao Papa Francisco
Irmãos e irmãs em Cristo,

Nós, membros do Sacro Colégio dos Cardeais, tendo presente o dever de todos os fiéis de «manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja» (Cân. 212 § 3) e, sobretudo, tendo presente a responsabilidade dos Cardeais de «assistir ao Romano Pontífice (…) individualmente (…) na solicitude quotidiana da Igreja universal.» (Cân. 349), consideradas várias declarações de alguns altos Prelados relativas à celebração do próximo Sínodo dos Bispos, evidentemente contrárias à doutrina e à disciplina constantes da Igreja, e que geraram e continuam a gerar entre os fiéis e outras pessoas de boa vontade grande confusão e a queda no erro, manifestamos ao Romano Pontífice a nossa profundíssima preocupação. Recorrendo à comprovada prática da apresentação de dubia [perguntas] a um superior, para lhe dar a ocasião de esclarecer, através das suas responsa [respostas], a doutrina e a disciplina da Igreja, com a nossa carta de 10 de Julho de 2023, apresentamos cinco dubia ao Papa Francisco, cuja cópia se encontra em anexo. O Papa Francisco respondeu-nos com carta de 11 de Julho de 2023.

Tendo estudado a sua carta, que não seguiu a prática das responsa ad dubia [respostas a perguntas], reformulamos os dubia para suscitar uma resposta clara, baseada na doutrina e na disciplina perenes da Igreja. Com a nossa carta de 21 de Agosto de 2023, apresentamos ao Romano Pontífice os dubia reformulados, cuja cópia se encontra em anexo. Até à data, não recebemos resposta.

Dada a gravidade da matéria dos dubia, especialmente tendo em vista a iminente sessão do Sínodo dos Bispos, julgamos ser nosso dever informar-vos, fiéis (Cân. 212 § 3), para que não sejais sujeitos à confusão, ao erro e ao desânimo, mas rezeis pela Igreja universal e, em particular, pelo Romano Pontífice, para que o Evangelho seja ensinado cada vez mais claramente e seguido cada vez mais fielmente.

Vossos em Cristo,

Walter Cardeal Brandmüller
Raymond Leo Cardeal Burke
Juan Cardeal Sandoval Íñiguez
Robert Cardeal Sarah
Joseph Cardeal Zen Ze-kiun

Roma, 2 de Outubro de 2023

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Dúbia

1) Dubium sobre a afirmação de que a Revelação Divina deve ser reinterpretada tendo por base as mudanças culturais e antropológicas em voga.

Depois das afirmações de alguns bispos, que não foram corrigidas nem retratadas, pergunta-se se, na Igreja, a Revelação Divina deve ser reinterpretada segundo as mudanças culturais do nosso tempo e segundo a nova visão antropológica que tais mudanças promovem; ou se a Revelação Divina é vinculante para sempre, imutável e que, portanto, não é de se contradizer, de acordo com o ditame do Concílio Vaticano II de que a Deus que revela é devida «a obediência da fé» (Dei Verbum 5); que o que é revelado para a salvação de todos deve permanecer para sempre «íntegro» e vivo, e deve ser «transmitido a todas as gerações» (7); e que o progresso da compreensão não implica qualquer mudança da verdade das coisas e das palavras, porque a fé foi transmitida «duma vez para sempre» (8), e o Magistério não é superior à palavra de Deus, mas ensina apenas o que foi transmitido (10).

2) Dubium sobre a afirmação de que a prática difusa da bênção das uniões com pessoas do mesmo sexo estaria de acordo com a Revelação e o Magistério (CIC 2357).

Segundo a Revelação Divina, atestada na Sagrada Escritura, que a Igreja «por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, […] ouve piedosamente, […] guarda religiosamente e expõe fielmente» (Dei Verbum 10): «No princípio», Deus criou o homem à sua imagem, macho e fêmea os criou, e abençoou-os, para que fossem fecundos (cfr. Gn 1, 27-28), pelo que o Apóstolo Paulo ensina que negar a diferença sexual é consequência da negação do Criador (Rm 1, 24 – 32). Pergunta-se: pode a Igreja derrogar este “princípio”, considerando-o, em contraste com o que ensina Veritatis splendor 103, como um simples ideal, e aceitando como “bem possível” situações objectivamente pecaminosas, como as uniões com pessoas do mesmo sexo, sem assim atentar contra a doutrina revelada?

3) Dubium sobre a afirmação de que a sinodalidade é uma «dimensão constitutiva da Igreja» (Const. Ap. Episcopalis communio 6), de modo que a Igreja, pela sua natureza, seria sinodal.

Dado que o Sínodo dos Bispos não representa o colégio episcopal, mas é um mero órgão consultivo do Papa, porquanto os bispos, como testemunhas da fé, não podem delegar a sua confissão da verdade, pergunta-se se a sinodalidade pode ser o supremo critério regulador do governo permanente da Igreja sem assim se convulsionar a sua configuração constitutiva tal como foi querida pelo seu Fundador, e segundo a qual a autoridade suprema e plena da Igreja há-de ser exercida tanto pelo Papa, em virtude do seu ofício, como pelo colégio dos bispos juntamente com a sua cabeça, o Romano Pontífice (Lumen gentium 22).

4) Dubium sobre o apoio dado por pastores e teólogos à teoria de que «a teologia da Igreja mudou» e, portanto, de que se poderia conferir a ordenação sacerdotal às mulheres.

No seguimento das afirmações de alguns prelados, que não foram corrigidas nem retractadas, segundo as quais, com o Concílio Vaticano II, teria mudado a teologia da Igreja e o significado da Missa, pergunta-se se ainda é válido o ditame do Concílio Vaticano II de que “o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial diferem essencialmente e não apenas em grau” (Lumen gentium 10) e de que os prebíteros, em virtude do «sagrado poder da Ordem para oferecer o Sacrifício e perdoar pecados» (Presbyterorum Ordinis 2), agem em nome e na pessoa de Cristo mediador, e por meio dele torna-se perfeito o sacrifício espiritual dos fiéis? Pergunta-se, além disso, se ainda é válido o ensinamento da carta apostólica de São João Paulo II Ordinatio sacerdotalis, que ensina como verdade a ser mantida de forma definitiva a impossibilidade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, pelo que este ensinamento já não está sujeito a mudança nem à livre discussão de pastores ou teólogos.

5) Dubium sobre a afirmação «o perdão é um direito humano» e a insistência do Santo Padre no dever de absolver a todos e sempre, pelo que o arrependimento não seria condição necessária para a absolvição sacramental.

Pergunta-se se ainda está em vigor o ensinamento do Concílio de Trento segundo o qual, para a validade da confissão sacramental, é necessária a contrição do penitente, que consiste em detestar o pecado cometido com o propósito de não pecar mais (Sessão XIV, Capítulo IV: DH 1676), de modo que o sacerdote deve adiar a absolvição quando for claro que esta condição não está cumprida.

Cidade do Vaticano, 10 de Julho de 2023

Walter Card. Brandmüller
Raymond Leo Card. Burke
Juan Card. Sandoval Íñiguez
Robert Card. Sarah
Joseph Card. Zen Ze-Kiun, S.D.B.

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Resposta ao Papa Francisco e reformulação do Dúbia
CONFIDENCIAL

A Sua Santidade
FRANCISCO
Sumo Pontífice

Beatíssimo Padre,

Estamos muito gratos pelas respostas que gentilmente nos quisestes oferecer. Em primeiro lugar, gostaríamos de deixar claro que, se Vos fizemos estas perguntas, não foi por medo do diálogo com os homens do nosso tempo, nem das perguntas que nos poderiam fazer sobre o Evangelho de Cristo. De facto, estamos convencidos, como Vossa Santidade, de que o Evangelho traz plenitude à vida humana e oferece respostas a todas as nossas perguntas. A preocupação que nos move é outra: preocupa-nos ver que há pastores que duvidam da capacidade do Evangelho de transformar os corações dos homens e acabam por lhes propor não a sã doutrina, mas «ensinamentos de acordo com os próprios desejos» (cf. 2 Tm 4, 3). Preocupa-nos também que não se compreenda que a misericórdia de Deus não consiste em cobrir os nossos pecados, mas é muito maior, na medida em que nos torna capazes de corresponder ao Seu amor observando os Seus mandamentos, ou seja, convertendo-nos e acreditando no Evangelho (cf. Mc 1, 15).

Com a mesma sinceridade com que Vós nos respondestes, devemos acrescentar que as Vossas respostas não resolveram as dúvidas que tínhamos levantado, mas, quando muito, aprofundaram-nas. Por isso, sentimo-nos na obrigação de voltar a propor estas questões, reformulando-as, a Vossa Santidade, que, como sucessor de Pedro, é incumbido pelo Senhor de confirmar os Vossos irmãos na fé. Isto é ainda mais urgente em vista do iminente Sínodo, que muitos querem usar para negar a doutrina católica precisamente nas questões sobre as quais incidem os nossos dubia. Por isso, voltamos a propor-Vos as nossas perguntas, para que a essas se possa responder com um simples «sim» ou «não».

1. Vossa Santidade insiste em que a Igreja pode aprofundar a sua compreensão do depósito da fé. Isto é, de facto, o que a Dei Verbum 8 ensina e pertence à doutrina católica. A Vossa resposta, porém, não alcança a nossa preocupação. Muitos cristãos, incluindo pastores e teólogos, argumentam hoje que as mudanças culturais e antropológicas do nosso tempo deveriam levar a Igreja a ensinar o contrário do que sempre ensinou. Isto diz respeito a questões essenciais, não secundárias, para a nossa salvação, como a confissão de fé, as condições subjectivas para aceder aos Sacramentos e a observância da lei moral. Por isso, queremos reformular o nosso dubium: é possível que a Igreja ensine hoje doutrinas contrárias às que ensinou anteriormente em matéria de fé e de moral, seja pelo Papa ex cathedra, seja nas definições de um Concílio ecuménico, seja no magistério ordinário universal dos bispos espalhados pelo mundo (cf. Lumen Gentium 25)?

2. Vossa Santidade insistiu que não pode haver confusão entre o matrimónio e outros tipos de uniões de natureza sexual, e que, por conseguinte, quaisquer rito ou bênção sacramental de casais homossexuais, que dariam lugar a tal confusão, devem ser evitados. A nossa preocupação, porém, é outra: preocupa-nos que a bênção de casais homossexuais possa, em todo o caso, causar confusão, não só na medida em que possa fazer com que pareçam análogos ao matrimónio, mas também na medida em que os actos homossexuais sejam apresentados praticamente como um bem, ou pelo menos como o bem possível que Deus pede aos homens no seu caminho para Ele. Reformulamos, pois, a nossa dúvida: será possível que, em certas circunstâncias, um pastor possa abençoar uniões entre pessoas homossexuais, dando, assim, a entender que o comportamento homossexual enquanto tal não seria contrário à lei de Deus e ao caminho da pessoa para Deus? Ligado a este dubium, é necessário levantar um outro: continua a ser válido o ensinamento defendido pelo magistério ordinário universal, segundo o qual todo o acto sexual fora do matrimónio, e em particular os actos homossexuais, constitui um pecado objectivamente grave contra a lei de Deus, independentemente das circunstâncias em que se realiza e da intenção com que é praticado?

3. Insististes que existe uma dimensão sinodal da Igreja, na qual todos, incluídos os fiéis leigos, são chamados a participar e a fazer ouvir a sua voz. A nossa dificuldade, todavia, é outra: hoje está-se a apresentar o futuro Sínodo sobre a «sinodalidade» como se, em comunhão com o Papa, ele representasse a autoridade suprema da Igreja. Porém, o Sínodo dos Bispos é um órgão consultivo do Papa, não representa o Colégio dos Bispos e não pode resolver as questões nele tratadas nem emitir decretos sobre elas, a não ser que, em casos específicos, o Romano Pontífice, a quem compete ratificar as decisões do Sínodo, lhe tenha expressamente concedido poder deliberativo (cf. Cân. 343 C.I.C.). Trata-se de um ponto decisivo, na medida em que não envolver o Colégio dos Bispos em questões como as que o próximo Sínodo pretende levantar, que tocam a própria constituição da Igreja, iria precisamente contra a raiz daquela sinodalidade que se afirma querer promover. Permita-se-nos, portanto, reformular o nosso dubium: o Sínodo dos Bispos que se realizará em Roma, e que inclui apenas uma representação escolhida de pastores e de fiéis, exercerá, nas questões doutrinais ou pastorais sobre as quais será chamado a exprimir-se, a autoridade suprema da Igreja, que pertence exclusivamente ao Romano Pontífice e, una cum capite suo, ao Colégio dos Bispos (cf. Cân. 336 C.I.C.)?

4. Na Vossa resposta, Vossa Santidade deixou claro que a decisão de São João Paulo II na Ordinatio sacerdotalis deve ser considerada definitivamente e acrescentou, com razão, que é necessário compreender o sacerdócio não em termos de poder, mas em termos de serviço, para compreender correctamente a decisão de Nosso Senhor de reservar as Ordens Sagradas apenas para os homens. Por outro lado, no último ponto da Vossa resposta, acrescentastes que a questão pode ainda ser aprofundada. Preocupa-nos que alguns possam interpretar esta afirmação no sentido de que a questão ainda não está definitivamente decidida. De facto, São João Paulo II afirma na Ordinatio sacerdotalis que esta doutrina foi ensinada infalivelmente pelo magistério ordinário e universal, e, portanto, que pertence ao depósito da fé. Esta foi a resposta da Congregação para a Doutrina da Fé a um dubium levantado sobre a carta apostólica e esta resposta foi aprovada pelo próprio João Paulo II. Devemos, portanto, reformular o nosso dubium: poderia a Igreja, no futuro, ter a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, contradizendo, assim, que a reserva exclusiva deste sacramento aos homens baptizados pertence à própria substância do Sacramento da Ordem, que a Igreja não pode mudar?

5. Por fim, Vossa Santidade confirmou o ensinamento do Concílio de Trento, segundo o qual a validade da absolvição sacramental exige o arrependimento do pecador, que inclui o propósito de não voltar a pecar. E convidou-nos a não duvidar da infinita misericórdia de Deus. Gostaríamos de reiterar que a nossa pergunta não deriva da dúvida sobre a grandeza da misericórdia de Deus, mas, pelo contrário, nasce da nossa consciência de que essa misericórdia é tão grande a ponto de nos tornar capazes de nos convertermos a Ele, confessar a nossa culpa e viver como Ele nos ensinou. Por sua vez, há quem possa interpretar a Vossa resposta como se o simples facto de abeirar-se da confissão seja uma condição suficiente para receber a absolvição, pois poderia implicitamente incluir a confissão dos pecados e o arrependimento. Gostaríamos, portanto, de reformular o nosso dubium: pode receber validamente a absolvição sacramental um penitente que, embora admitindo um pecado, se recusar a fazer, de qualquer forma, o propósito de não o voltar a cometer?

Cidade do Vaticano, 21 de Agosto de 2023

Walter Card. Brandmüller
Raymond Leo Card. Burke
Juan Card. Sandoval Íñiguez
Robert Card. Sarah
Joseph Card. Zen Ze-kiun

c. c. S. Em.ª Rev.ma Luis Francisco Card. Ladaria Ferrer, S.I.

As verdadeiras intenções por detrás do Sínodo.

Por FratresInUnum.com, 29 de outubro de 2021 – O objetivo da presente análise é apresentar ao leitor uma chave de leitura adequada para que possa compreender o significado do atual Sínodo sobre a sinodalidade, transcendendo o nível das superficialidades institucionalistas, por detrás das quais se escondem as verdadeiras intencionalidades.

Uma palestra importante

Diocese de Ponta Grossa se prepara para o Sínodo 2023 | Correio dos Campos - Notícias dos Campos GeraisNo último dia 14 de outubro, a Diocese de Palmas-Francisco Beltrão promoveu uma noite de formação com todos os seus agentes de pastoral, sobre o Sínodo dos bispos. O convidado foi o Pe. Agenor Brighenti, conhecido teólogo ultra-progressista e adepto declarado da teologia da libertação.

Ele é uma importante referência, acima de qualquer suspeita de direitismo ou conservadorismo, e também goza do benefício da oficialidade, já que recentemente foi nomeado como membro da Comissão Teológica do sínodo e, portanto, não pode ser acusado de “estar por fora”.

A palestra de Brighenti é a melhor exposição que encontramos até agora das pretensões do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade. Vamos resumir as suas ideias principais.

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Vox Populi = Vox Dei? (A voz do Povo é a voz de Deus?)

“A escuta na 1° Assembleia Eclesial para a América Latina”, um resumo.

Por Que no te la cuenten, 19 de outubro de 2021 | Tradução: FratresInUnum.com – No último 21 de setembro, publicou-se a “Síntese narrativa: a escuta na 1° Assembleia eclesial para a América Latina e o Caribe – CELAM” (224 páginas que lemos antecipando seu advento), conclusão “NÃO OFICIAL” segundo seus apresentadores (p. 2) de cinco meses de “escuta ao povo de Deus” através de respostas e contribuições por meio da página da “Assembleia sinodal” do CELAM.

Como habitualmente sucede nestes casos, as “propostas” não somente parecem ter sido elaboradas por certos grupos ideológicos minoritários, encravados nas estruturas de poder eclesial, como também selecionadas com uma finalidade muito precisa: “o processo de conversão da Igreja” (p. 1).

A técnica não é nova (algo parecido já ocorreu no Congresso Americano Missionário na Bolívia e no Sínodo dos Jovens de 2018): trata-se da repetição constante com a finalidade de tentar impor “desde baixo” os novos “paradigmas eclesiais” como o das diaconisas, o “sacerdócio feminino”, a “abertura à homossexualidade na Igreja” e a teologia do povo e da libertação, entre outras coisas.

Com o objetivo de expor que “o povo levantou” é que oferecemos, aqui, algumas pérolas extraídas deste documento que, mais do que uma síntese, acaba por ser um “copia-e-cola” de propostas individuais, teologicamente desordenadas, sem muito método nem lógica que, apesar disto, “conecta-se com o Sínodo da Igreja Universal sobe Sinodalidade, no qual estaremos compartilhando os diversos frutos desta experiência como Assembleia Eclesial que segue o seu caminho” (p. 2)

Vejamos alguns dos textos propostos como parte do “povo santo de Deus”, “que é infalível in credendo” (Mensagem de abertura da 1° Assembleia Eclesial da ALyC do CELAM (p. 1), vários deles intitulados (sic) como “pérolas” das “vozes do povo de Deus”.

As seguintes são algumas citações textuais (o documento completo pode ser consultado aqui):

Teologia da Libertação

“Promover uma teologia da libertação, libertadora, que nos permita conectar-nos efetivamente ao projeto libertador de Jesus, que nos permita reconhecer as estruturas de poder e opressão, que facilite o encontro, o diálogo e que promova os gestos e atitudes de esperança para viver um ministério eclesial vivo. Voltar às fontes, como nos convida o Papa Francisco, e retomar seu compromisso inicial de deixar tudo para servir e fazer Jesus conhecido. Que tenha preferência pelos pobres e vulneráveis de nosso continente. Voltar à mensagem de Aparecida e retomar a Teologia da Libertação sem medo de censuras, mas com a certeza de ir pelo caminho correto” (p. 25). “Hoje contamos com a imagem de uma Igreja sem voz, cinza, que não atualiza a mensagem do Concílio Vaticano II, que não projeta a mensagem libertadora de Aparecida, nem as exigências da Teologia da Libertação” (p. 26)

Educação global e marxista

“Vozes do povo de Deus. Pérolas (sic): sigamos sonhando com o pacto global pela educação porque a educação é a porta de entrada a dias melhores na sociedade. Cremos firmemente que o acesso à educação é um direito, por isso a necessidade de um “Pacto Global pela Educação… liberar a educação, como defende Paulo Freire (e outros) é o caminho para uma sociedade em que cada cidadão está sujeito (cidadania ativa)” (p. 48)

O mundo protestante

“Vozes do povo de Deus. Pérolas (sic): “A Igreja Católica não considera as igrejas PROTESTANTES como perigo para a fé, ao contrário, são formas distintas de crer em Deus (…). “Os pastores e fiéis PROTESTANTES são mais entusiastas, ativos e ‘em saída’” (p. 86)

“O crescimento constante das IGREJAS EVANGÉLICAS e pentecostais em nossa comunidade em troca de receber bens materiais para melhorar sua qualidade de vida” (idem)

Sacerdócio e diaconato feminino

Presença e participação sem voz da mulher na Igreja: Reconhece-se sua presença e a participação… mas, muitas vezes, de forma passiva, submissa e sem voz nas instâncias de decisão eclesial. Ministerialidade da mulher: é necessário a formação e o reconhecimento da Ministerialidade da mulher em uma Igreja em saída, incluindo o diaconato feminino (…). Respeito e igualdade de opões que os sacerdotes e bispos têm dentro das comunidades eclesiais (p. 95)… “Pedir mudanças no direito canônico e na estrutura eclesial para que as mulheres assumam ministérios eclesiais / refletir seriamente e abrir-se à possibilidade de ministérios ordenados (Diaconato, ministério presbiteral)” (p. 97)

“A Igreja não pode permanecer estagnada, mas se requer uma adoção de medidas transformadores, reconhecer que se cometeram e se cometem injustiças especialmente com a mulher dentro da Igreja. Desmistificar o templo, tirar a Eucaristia dos templos e trazê-la à vida comum. Combater o clericalismo e optar por uma igreja sinodal (caminhando com todos/todas sem exclusão de ninguém), com a construção de estruturas fraternas” (p. 100)

“(Vozes do povo de Deus. Pérolas). Falta valorizar o trabalho pastoral e a missão de evangelização da mulher. Criar o diaconato da mulher” (p. 188).

“Não há somente a necessidade de mulheres diaconisas, mas são uma realidade. Uma igreja sinodal merece mulheres diaconisas” (p. 189)

Sacerdotes casados e celibato opcional

“Que se promova um departamento de ação pastoral nas conferências episcopais e no CELAM para o acompanhamento, atenção e diálogo constante com os sacerdotes casados”.

“Que se promova, a nível profissional, desde a dimensão humana, psicológica, filosófica e teológica uma comissão de estudo que forneça luzes sobre o celibato opcional, que apresente uma nova dimensão do ministério sacerdotal condizente à realidade atual”.

“Analisar a necessidade do celibato opcional como uma resposta às problemáticas que se apresentam na vida sacerdotal”.
“Que se considere a experiência dos sacerdotes casados na vida cristã como igreja doméstica, pastoral, sacerdotal, profissional, empresarial, laboral, educativa para que contribua com o crescimento da vida diocesana e paroquial” (p. 123)

Aceitação da homossexualidade

“A homossexualidade no clero tem silenciosamente disfarçado o cumprimento do celibato… a Igreja já não representa uma espiritualidade viva. A redução do cristianismo a alguns eventos sacramentais administrados pela casta clerical condenou a imensa maioria de fiéis a um papel passivo… por exemplo, os discursos de moral sexual da parte da Igreja já não têm nenhuma relação com a vida dos fiéis” (p. 124)

O que dói: “Dor pela indiferença da Igreja frente ao tema da Diversidade Sexual. É a dor das pessoas LGBTIQ+ ao sentirem-se rechaçadas pela Igreja, frente a sua orientação sexual… constatar que em alguns púlpitos há presbíteros que repetem e reiteram o rechaço à diversidade sexual. Dor e decepção daqueles colégios católicos que não acolhem com respeito, tolerância ativa e inclusão a orientação sexual de filhos e filhas. Preocupação que depois de cinco anos de Amoris Laetitia não avançou em praticamente nada, especialmente no que se refere à educação do clero e da hierarquia face à diversidade sexual.

“Algumas novas instâncias eclesiais que apareceram estes últimos anos que promovem a participação laical e o respeito à diversidade sexual. Da esperança à participação cidadã e movimentos sociais (incluindo o LGBTQI+) que propiciam novas possibilidades de diálogo, mais centradas na pessoa e no bem comum, questionando o modelo atual” (p. 198).

Evangelização a partir da base

(Vozes do povo de Deus. Pérolas): “DEIXAR-SE EVANGELIZAR PELOS POVOS onde se encontram as sementes o Reino que se constrói na terra, em um tempo e espaço determinados” (p. 118)… “A Igreja precisa escutar à sabedoria ancestral, reconhecer os valores presentes no estilo de vida das Comunidades Originárias” (p. 119)

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Estas e muitas outras coisas são as que alguns, abrogando-se da representação do “Santo Povo de Deus” (assim, com maiúscula), desejam impor com certa pressa, como se lhes faltasse pouco tempo.

Que no te la cuenten…

Pe. Javier Olivera Ravasi, SE