A misteriosa renúncia de Giani, comandante da polícia do Vaticano.

Aparentemente,  sua renúncia teria sido consequência do vazamento dos nomes de cinco funcionários do Vaticano que foram suspensos, mas fontes revelaram ao Catholic Register que sua renúncia foi realmente desencadeada por outros problemas.

Por Edward Pentin, National Catholic Register, Cidade do Vaticano, 15 de outubro de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com: A renúncia do comandante da polícia do Vaticano, Domenico Giani, na segunda-feira, já era esperada, mas os bastidores de sua remoção permanecem envoltos em intrigas e mistérios.

Domenico Giani and then-Archbishop Angelo Becciu attend the Gendarmes’ parade at the Vatican for the feast of St. Michael the Archangel on Oct. 5, 2012.
Giani e o então arcebispo Angelo Becciu, hoje Cardeal Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.

O Vaticano anunciou hoje o seu substituto, Gianluca Gauzzi Broccoletti, que servia no corpo policial do Vaticano desde 1995 e foi nomeado como vice de Giani no ano passado.

Ex-oficial da polícia financeira da Itália, a Guardia di Finanza, e também do Serviço Secreto da Itália, Giani, 57 anos de idade, possui uma ampla experiência e contatos influentes para o cargo desde quando foi empregado pelo Papa São João Paulo II, há 20 anos. Ele efetivamente serviu como guarda-costas do papa, conquistando a confiança de Bento XVI e do Papa Francisco e protegendo os sucessores de Pedro em quase 70 visitas apostólicas, incluindo algumas altamente perigosas (a mais memorável, a visita de Bento à Turquia em 2006, em meio às consequências islâmicas do seu discurso de Regensburg, e a visita do Papa Francisco à República Centro-Africana, devastada pela guerra, em 2015).

Supostamente um católico ativo com grande devoção a São Francisco de Assis, Giani disse ao Vatican Media, na segunda-feira, que empregou toda a sua energia para realizar “o serviço que me foi confiado” e que “tentei fazê-lo com abnegação e profissionalismo, mas com calma, como nos lembra o evangelho de dois domingos atrás, um ‘servo inútil’ que fez sua pequena parte até o fim.”

É por isso que o motivo ostensivo de sua renúncia – o vazamento de nomes de cinco funcionários do Vaticano suspensos após uma operação policial do Vaticano, em 1º de outubro, pela qual o Vaticano disse que ele “não tem nenhuma responsabilidade pessoal” – está confundindo os observadores do Vaticano e levantando uma série de questionamentos.

O memorando referente aos cinco funcionários, um monsenhor e quatro leigos, era pra ser de exclusivo uso interno, mas vazou para a revista italiana L’Espresso, que publicou a informação integralmente. O Vaticano condenou a publicação dos nomes dos funcionários, dizendo que os cinco foram submetidos a um “linchamento midiático”, apesar das investigações pendentes que ainda precisam estabelecer qualquer má conduta de sua parte. O papa Francisco teria chamado a liberação dos nomes de “pecado mortal”. A fonte do vazamento ainda não foi identificada. 

O clamor crescente levou a uma sensação de inevitabilidade de que alguém teria que assumir a responsabilidade, e os olhos se voltaram para Giani, apesar de ele ter defendido sua inocência e negado qualquer envolvimento direto no vazamento.

Outros possíveis motivos

No entanto, sua renúncia ocorreu após meses de rumores circulando em Roma, de que o ex-oficial do Serviço Secreto italiano estava “saindo” e com alguma surpresa por ele ter mantido seu emprego por tanto tempo.

“A razão pela qual ele renunciou é falsa”, disse uma fonte informada. “Eles não conseguiram encontrar um bom motivo para dispensá-lo, não quiseram divulgar as razões internas para fazê-lo e, portanto, usaram essa história como um instrumento fácil para tirá-lo de lá.”

Fontes anônimas citaram uma série de razões, uma em particular era que ele era muito aliado à “velha guarda” e envolvido na resistência à eliminação da corrupção financeira e outras no Vaticano.

Isso ficou evidente durante o episódio da demissão do primeiro auditor geral do Vaticano, Libero Milone, em 2017. Milone disse à mídia, na época, que foi forçado a sair depois de iniciar uma investigação sobre um possível conflito de interesses envolvendo um certo cardeal italiano.

Ele disse que seus telefones estavam grampeados e computadores hackeados e que o cardeal Angelo Becciu (então substituto, vice-secretário de Estado, na foto acima com Giani) havia pedido a Milone que se demitisse, com base em uma investigação de sete meses pela polícia do Vaticano.

O cardeal Becciu alegou na época que Milone “estava espionando a vida privada de seus superiores e funcionários, incluindo eu”, e que se ele “não tivesse concordado em renunciar, teria-o processado”.

Mas, Milone disse que os fatos apresentados a ele na manhã de sua demissão “eram falsos, fabricados” e que ele estava “em choque”, pois “todas as razões” apresentadas para sua demissão “não tinham nenhum fundamento”.

“Fui ameaçado de prisão”, disse ele, acrescentando que Giani “me intimidou e me forçou a assinar uma carta de demissão que eles já haviam preparado semanas antes”.

Milone também disse suspeitar que sua demissão forçada estivesse ligada à acusação contra o cardeal George Pell, que servia como prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, mas era acusado de abuso sexual na Austrália, pois os dois eventos ocorreram apenas uma semana de distância um do outro. Ambos estavam descobrindo evidências extensas de má administração financeira na época.

O Vaticano retirou todas as acusações contra Milone no ano passado.

Os laços de Giani com o cardeal Becciu também são significativos, uma vez que o cardeal Becciu foi fundamental para encerrar a primeira auditoria externa do Vaticano pela gigante de auditoria PwC em 2016.

A auditoria e seus custos foram acordados pelo cardeal Pell e pelo Conselho para a Economia, mas o cardeal Becciu argumentou que não foram realizadas consultas suficientes sobre a despesa e interrompeu a auditoria unilateralmente após apenas quatro meses.

E agora acontece a recente batida à Secretaria de Estado, realizada por Giani sob as ordens dos promotores do Vaticano, que, como informou o Register, visava principalmente o cardeal Becciu e funcionários anteriores do dicastério.

A revista L’Espresso informou que seu foco era o uso indevido do Óbulo de São Pedro e em uma transação duvidosa envolvendo propriedades em Londres. O Financial Times desta semana revelou mais sobre o último ponto, em particular que US$ 200 milhões em contas bancárias suíças controladas pela Secretaria de Estado foram usadas em 2014 para financiar um empreendimento de luxo no distrito de Chelsea, em Londres. O Financial Times informou que a propriedade gerou grandes lucros para uma empresa que também administrou o investimento para a Santa Sé, enquanto o cardeal Becciu estava lá como substituto (Ele renunciou ao cargo em 29 de junho de 2018, um dia antes de ser elevado a cardeal e posteriormente nomeado para seu cargo atual, como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.)

“Jogo do poder no Vaticano”

A principal pergunta que não quer calar, além de questões sobre má conduta financeira, é por que a Secretaria de Estado estava lidando com assuntos referentes a propriedades? Todo o setor imobiliário da Santa Sé é de responsabilidade de outro dicastério, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA). 

O cardeal Becciu disse ao Register em 12 de outubro que “eu preferia ficar calado e deixar a justiça seguir seu curso. Claro, a verdade será revelada”.

Giani não é suspeito de envolvimento nesse caso, mas sua proximidade com o cardeal Becciu e a colaboração com ele são um foco de discussão, assim como outros elementos relacionados ao ex-comandante da polícia do Vaticano, a saber, porque ele se tornou “tão poderoso”.

Ao escrever na revista italiana Start Magazine, em 14 de outubro, Andrea Mainardi observou que Giani investigou “questões de sexo e drogas, de funcionários desleais e, acima de tudo, de dinheiro”, durante os escândalos do Vatileaks de 2012 e 2015.

Numerosas fontes, sob condição de anonimato, revelaram ao Register nos últimos meses que Giani sabia “tudo sobre todos” e tinha a reputação de ser o “homem mais poderoso do Vaticano” – tanto que alguns membros do Vaticano diziam que até o papa e o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, estavam “com medo dele”.

O Register também ouviu frequentemente alegações, nos últimos anos, de que escritórios do Vaticano, particularmente na Secretaria da Economia, estavam com telefones grampeados. Tanto no escritório do auditor geral, como nos escritórios do cardeal Pell, dois dispositivos foram encontrados. Giani e seus oficiais os teriam colocado lá, dizem as fontes.

O ex-comandante foi “tão controverso e criticado quanto estimado e amado, e, portanto, odiado”, escreveu Mainardi, que também aludiu a uma extensão e reforma questionáveis ​​de um apartamento no Vaticano, onde Giani vive com sua esposa e filhos. Giani, ele escreveu, está na “mira de um jogo de poder do Vaticano que precisa ser decifrado”.

Isso realmente tem a ver com o vazamento dos nomes das cinco autoridades do Vaticano ou com o atrito entre a Secretaria de Estado e os departamentos de finanças do Vaticano? Ou é porque Giani realmente sabia muito sobre corrupção no Vaticano, tornando-o muito poderoso?

Sua renúncia também pode ter algo a ver com a publicação de um novo livro, na próxima semana, pelo repórter investigativo italiano Gianluigi Nuzzi, que ameaça anunciar outro escândalo do Vatileaks.

O Register pediu a Giani que comentasse os motivos de sua demissão, mas até o momento da publicação ele não havia respondido.

Foto da semana.

O Pontificado do lobby gay – Novos cardeais Dom Matteo Zuppi, Dom Jean-Claude Hollerich, Michael Czerny e Dom José Tolentino Mendonça (Fotos: Wikipédia, Wikimedia e Jesuits.org)

Bispos simpatizantes a LGBTQs na lista de novos cardeais do Papa Francisco

IHU – Pelo menos dois bispos que já teceram comentários positivos sobre pessoas LGBTQs constam na lista de clérigos que o Papa Francisco irá tornar cardeais no próximo mês.

Na semana passada, o Papa Francisco anunciou um consistório surpresa a acontecer em 5 de outubro. Entre os nomeados estão Dom Matteo Zuppi, de Bolonha, e Dom Jean-Claude Hollerich, de Luxemburgo, religiosos que já fizeram comentários positivos a respeito de pessoas LGBTQs.

A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 04-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Zuppi escreveu o prefácio para a edição italiana do livro do padre jesuíta James Martin, “Building a Bridge” (sem edição no Brasil), que aborda questões LGBTs na Igreja. O arcebispo, por vezes referido como o “Bergoglio italiano”, explicou que o livro era “útil para incentivar o diálogo, bem como um conhecimento e uma compreensão recíprocos”. Ele também reafirmou a decisão de Martin de se referir às pessoas LGBTs com termos que eles próprios empregam quando falam de si (p. ex.: lésbica, gay, bissexual, transgênero), dizendo que este era “um passo necessário para se começar um diálogo respeitoso”.

Em uma conversa com a imprensa durante o Sínodo dos Jovens ocorrido ano passado, Bonding 2.0 perguntou a Zuppi sobre se os bispos presentes no evento mostravam-se abertos a um diálogo mais amplo. Ele respondeu que o ministério pastoral para lésbicas e gays é “um tópico importante”. Referindo-se a um grupo católico LGBTQ atuante em sua arquidiocese, Zuppi continuou:

“Há sensibilidades diferentes, e devemos também considerar situações diferentes com base nas regiões geográficas. Essa questão não é vista da mesma forma na América do Norte e na África, por exemplo. Não é novidade. Isso nasce do fato de que o grupo de homossexuais católicos de Bolonha tem mais de 30 anos. A meu ver, é uma questão pessoal, e como tal acredito que deveria ser tratada: quando se torna ideológico, fica mais complexo e é melhor deixar de lado.

Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, também serve como presidente da conferência episcopal europeia. Ele abordou o tema de padres gays durante uma reunião do Vaticano sobre o abuso sexual clerical ocorrido em fevereiro deste ano. O The New York Times reproduziu o seu comentário:

“[Hollerich] Disse no domingo que alguns bispos recorriam à homossexualidade como uma causa para os abusos porque ‘algumas pessoas têm alguns modelos na cabeça e vão continuar assim’. Ele disse que ele e outros bispos procuraram mudar essa forma de pensar. ‘Eu falei para estas pessoas que o primeiro-ministro do meu país é homossexual e que era uma pessoa que jamais abusaria de crianças’”.

Além dos arcebispos Zuppi e Hollerich, dois outros nomeados pelo Papa Francisco são, aparentemente, amigos da causa LGBTQ.

Em 2015, o padre jesuíta Michael Czerny juntou-se ao Cardeal Peter Turkson, então presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, hoje não mais existente, num encontro com dois representantes do Fórum Europeu de Grupos Cristãos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros para debater leis de descriminalização. Czerny, atualmente subsecretário para a seção Migrantes e Refugiados, do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, também fundou e coordenou, durante alguns anos, a organização African Jesuit AIDS Network (Rede Africana Jesuíta contra a AIDS). Foi nomeado pelo papa como um dos dois secretários especiais para o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia deste ano.

Finalmente, Dom José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, falou em termos positivos sobre os ministérios LGBTQs já em 2010. O jornal The Catholic Herald reportou que Mendonça havia sido criticado por seu trabalho pastoral voltado a lésbicas e gays e por escrever o prefácio para um livro de teologia feminista da irmã beneditina Teresa Forcades, defensora declarada das questões LGBTQs.

Os outros clérigos nomeados por Francisco para o consistório de outubro são:

• Dom Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo, de JakartaIndonésia;

• Dom Juan de la Caridad García Rodríguez, de HavanaCuba;

• Dom Fridolin Ambongo Besungu, de KinshasaRepública Democrática do Congo;

• Dom Álvaro Ramazzini Imeri, de HuehuetenamgoGuatemala;

• Dom Cristóbal López Romero, de RibatMarrocos;

• Dom Miguel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

Mas além dos históricos das pessoas, o próximo consistório pode ter um outro – e bem maior – impacto sobre as questões LGBTQs na Igreja. Após o dia 5 de outubro, o Papa Francisco terá nomeado mais da metade dos membros do Colégio Cardinalício aptos ao votar. John Allen, do sítio Crux, assim diz:

“Poderíamos continuar com os exemplos, mas a questão que deve ficar clara é: este é um consistório em que Francisco está aumentando uma corte de religiosos com mentalidades semelhantes, posicionando-os para ajudar no desenvolvimento de sua pauta já, e também para ajudar a garantir que o próximo papa, quem quer que seja, não venha a ser alguém inclinado a atrasar o relógio”.

“Em outras palavras, Francisco sairá deste consistório numa posição mais forte para liderar. Se é uma notícia boa ou não dependerá, naturalmente, de sabermos se o fiel católico vier a gostar da direção que ele está tomando”.

Cardeais atacam sínodo e miram o papa Francisco.

Religiosos alemães dizem que evento sobre Amazônia seria uma ‘desculpa’ para tratar de política, abolição do celibato e sacerdócio feminino.

Por José Maria Mayrink, O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2019 – As críticas de cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia e indiretamente ao papa Francisco deverão tumultuar o encontro em Roma, de 6 a 27 de outubro. A reunião de alguns dos principais nomes da Igreja Católica, já alvo de críticas políticas, também vira palco do confronto interno em relação ao atual pontificado.

O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé (1912-1917), Gerhald Muller, de 71 anos, e seu colega Walter Brundemuller, de 90 anos – um dos signatários da carta Dubia, que pede esclarecimentos sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual se discutem situações como a comunhão dos divorciados -, disseram que o documento sobre o Sínodo contém heresia, estupidez e apostasia.

Papa Francisco

Prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé acusa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja Foto: MAURIZIO BRAMBATTI/EPA/EFE

No livro recém-publicado Römische Begegnungen (Encontros em Roma, em livre tradução), Muller acusa o papa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja. No texto, há amplas críticas a aproximações com “política” e “intrigas”, além de falas sobre uma secularização da Igreja ao modelo protestante. São amplas as queixas, por exemplo, à celebração dos 500 anos da Reforma (em 2017), que teve em seu final a presença do pontífice.

Marxismo

Em relação ao encontro de outubro, Muller concentra suas objeções aos conceitos de cosmovisão (com acenos a mitos e rituais evocando a “mãe natureza”), ecoteologia, cultura indígena e ministério sacerdotal, com a possibilidade de ordenar padres casados, presente no instrumento de trabalho. “A cosmovisão dos povos indígenas é uma concepção materialista semelhante ao marxismo e não é compatível com a doutrina cristã”, afirmou o cardeal, em entrevista em 17 de julho. Àqueles que por acaso veem nele um defensor do eurocentrismo, Muller afirma que por 15 anos visitou o Peru, em viagens regulares de ao menos três meses. Nessas, manteve contatos constantes com Gustavo Gutierrez, principal teórico da Teologia da Libertação.

O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé adverte que a tarefa dos cristãos não é preservar a natureza como ela é, mas ter a responsabilidade pelo progresso da humanidade, na educação e na justiça social, pela paz. Os homens, incluindo os índios da Amazônia, são assim chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus.

“É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas”, afirmou o cardeal Brundemuller.

O Sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros, sem contar os convidados do papa. Estarão presentes os bispos titulares dos nove Estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os países estrangeiros cortados pela floresta são Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Dom Cláudio

O cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e nomeado pelo papa relator-geral do sínodo, não comentou ao Estado as críticas dos cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho. Mas seu pensamento está em uma entrevista concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, e publicada agora no semanário alemão Stimmen der Zeit.

Para Hummes, o foco da próxima reunião está em criar “uma Igreja indígena para as populações indígenas” e “inculturada”. Ele ainda destaca que o evento responde a um desejo do papa Francisco, sobre o qual conversavam – e “rezavam” – desde 2015.

Francisco diz que ordenação de casados não será tema central

“Absolutamente, não.” Em uma clara resposta a setores da Igreja que levantam dúvidas sobre o sínodo, o papa afirmou esta semana que a possibilidade de ordenar “viri probati” – normalmente idosos, ligados a comunidades amazônicas e de virtude comprovada – não será tema central do encontro. “É simplesmente um ponto do Instrumentum Laboris. O foco são os ministros da evangelização e as diferentes formas de atuação”, disse em entrevista publicada anteontem pelo jornal italiano La Stampa.

Mais diretamente, o pontífice afirmou que essa reunião é filha direta de sua encíclica verdeLaudato Si, na qual expõe o planeta como uma casa comum. “Quem não a leu não entenderá o sínodo”, diz Francisco. O papa defendeu a Amazônia como parte importante a ser preservada, a exemplo dos oceanos. Sua perda, segundo ele, poderia levar à redução da biodiversidade e ao surgimento de doenças mortíferas.

Na entrevista, o chefe da Igreja Católica não fugiu das discussões políticas na região, destacando por exemplo que os governos locais devem responder diretamente sobre “as minas ao ar livre” que envenenam os rios, por exemplo. “A ameaça à vida dessas populações e desse território envolve interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, afirmou.

No texto divulgado na Alemanha, na semana passada, o cardeal d. Cláudio Hummes também afirmou que é necessário confrontar “resistências” existentes “tanto na Igreja quanto fora dela”. Para ele, “ interesses econômicos e o paradigma tecnocrático se opõem a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se impor pela força”. Ele fala ainda de crimes ambientais que ficaram impunes e destaca a necessidade de o encontro tratar de direitos humanos.

Medalha

Uma medalha cunhada especificamente para o sínodo foi apresentada anteontem, na qual aparece uma imagem do trabalho missionário da Igreja na Amazônia via rito do batismo e da eucaristia.

Em seu texto oficial, o Vaticano alega que “o enfoque missionário na Amazônia exige mais do que nunca um magistério eclesial exercido na escuta do Espírito Santo, que seja capaz de assegurar tanto a unidade como a diversidade e, portanto, uma cultura de encontro em harmonia multiforme”.

Revolução nos Conventos: “Mudaremos seu modo de rezar”.

Por Luisella Scrosati, La Nuova Bussola Quotidiana, 19 de julho de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com – “Feita a Itália, é preciso fazer os italianos”: esta é a famosa declaração atribuída ao marquês Massimo d’Azeglio. Não se sabe se ele realmente pronunciou esse ditado, mas o que é certo é que correspondia ao seu pensamento. E – o que é ainda mais preocupante — foi o programa idealizado para o renascimento dos Sabóias.

A nação Italiana já existia há séculos, ligada por uma identidade profunda, mas aquele senso de italianidade era inadequado para as novas necessidades do novo Estado. Assim, os novos italianos tiveram que ser refeitos, em primeiro lugar, convencendo-os de que antes deles sequer existiam italianos! Um enorme aparato de leis foi estabelecido, apenas para deixar claro que o que tinha sido lícito até então não valia mais, e que as antigas liberdades eram na realidade escravidão e tinham que ser suprimidas para abrir caminho para o novo, muito novo e muito italiano.

Não há necessidade de ir além: toda revolução deve fazer um novo homem e eliminar aqueles que resistem. Se você der uma olhada no que está tramando a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), você entenderá a razão da longa introdução.

O cardeal João Braz de Aviz, presidente daquela Congregação com um nome muito longo, explicou em uma recente entrevista seu programa para “fazer os italianos”:

“Estamos trabalhando muito para a transformação da formação. Devemos pensar em formação desde o ventre até o último alento […]. Tudo conta na formação, não se pode dizer que uma coisa é formação e a outra não é […] é necessário mudar muito”.

Se é necessário mudar muito na formação e a formação é um processo contínuo que diz respeito a todos os aspectos da vida, podemos dizer que o Prefeito pretende mudar tudo. Exatamente, deve “fazer os italianos” do zero.

O Cardeal continua:

“Muitas coisas da tradição, muitas das quais pertencem à cultura de um tempo passado, não funcionam mais”. E como sempre acontece, se alguma vez houve alguém um pouco preocupado com essa incursão na vida das comunidades, Braz de Aviz imediatamente quer tranquilizar que não é uma questão de tocar na substância, mas apenas nas coisas, que em sua opinião, não são essenciais: “Temos formas de vida que estão ligadas aos nossos fundadores mas que não são essenciais”. Exemplo? “Uma certa maneira de rezar, uma certa maneira de se vestir, dando mais importância a certas coisas que não são tão importantes e dando pouca a outras que são importantes. Essa visão global do conjunto, nós não a tínhamos antes, mas agora temos”.

Nós sim que temos a visão geral, não os fundadores! Nós sim que sabemos discernir as coisas essenciais das secundárias; portanto, “todas as coisas secundárias podem entrar em colapso, mas o carisma especial dos fundadores não entrará em colapso”.

É necessário estar sempre em alerta quando ouvimos falar essas pessoas, prontas a demolir aquilo que consideram secundário, em nome de preservar o essencial. Pegue uma cebola: nenhuma camada é essencial, mas depois de removê-las todas, uma por uma, você simplesmente não terá mais a cebola. Se você for ver o que aconteceu com as Pequenas Irmãs de Maria, Mãe do Redentor, entenderá o porquê. “Nós não tocaremos em seu carisma, mas em seu modo de vivê-lo”, parece ter sido o que disse uma das “kommissarie” designadas pela CIVCSVA. E parece também que as freiras tenham sido muito teimosas em acreditar que o carisma se encarna no modo de vivê-lo e que o modo de vivê-lo não as desagradava de maneira alguma. E então, por orar demais, por não querer mudar, elas receberam o ultimato de Braz de Aviz: ou vocês aceitam o comissariamento sem reservas ou podem sair do Instituto. Resultado? Quase todas as irmãs foram embora. Bela maneira de salvar o essencial!

A Congregação agora impõe quais são as coisas as quais se deve “dar mais importância” e quais de agora em diante são as de menos. E se formos ver o que produz a CIVCSVA, entenderemos que a situação é séria, extremamente séria. Em carta datada de 5 de maio de 2015, assinada pela dupla Braz de Aviz-Carballo (Secretário da Congregação), foi dado a conhecer aos Superiores Gerais que o acolhimento dos refugiados se tornou uma prioridade: “Parece-nos que é precisamente o Espírito Santo, a voz do Santo Padre e o grito desta humanidade sofredora, a questionar-nos e mostrar-nos a urgência de fazermos algo juntos”. E que algo seria esse? “A dinamização das estruturas, a reutilização de grandes casas em prol de obras mais sensíveis às necessidades atuais de evangelização e caridade, a adaptação das obras às novas necessidades”. Então todos rumo à exortação de sair de nós mesmos e ir com coragem para esta “periferia existencial.”  É, pois, o roteiro indicado por Carballo, ou seja, as dez palavras inspiradas no “magistério” do Papa Francisco sobre a vida consagrada. O novo decálogo faz uso extensivo da nova linguagem e dos slogans para esconder o nada que está por baixo: 

“Alimentem o relacionamento com Jesus na ansiedade da busca”, “Saiam do ninho”, “Sejam ousados! A profecia não é negociável para a vida consagrada”, e assim por diante. Não se pergunte onde estão as pedras angulares da vida consagrada, como o primado da oração e da adoração, a negação de si e o auto-sacrifício, a penitência, etc. Se a Itália foi feita, agora temos que fazer os italianos.

O princípio de legalidade se extingue na Igreja?

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, 10 de julho de 2019 | Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com  Se o Papa Francisco fosse acusado de um crime por algum juiz, em qualquer parte do mundo, ele deveria despojar-se de seu cargo de Sumo Pontífice da Igreja Católica e submeter-se ao julgamento de um tribunal. Esta é a consequência lógica e necessária da decisão clamorosa com a qual a Santa Sé privou da imunidade diplomática o Núncio Apostólico na França, Mons. Luigi Ventura, acusado de assédio sexual.

A Santa Sé poderia ter dispensado o núncio de seu cargo e, enquanto esperava a justiça francesa seguir seu curso, ter dado início a uma investigação canônica contra ele, mesmo como uma garantia de imparcialidade para com o acusado. Mas a decisão de entregar o representante pontifício a um tribunal secular derruba a instituição da imunidade diplomática – expressão por excelência da soberania da Igreja e de sua liberdade e independência –, essa mesma imunidade diplomática, aliás, invocada para proteger os crimes cometidos na Itália pelo esmoleiro do Papa, o cardeal Konrad Krajewski [aquele que reconectou ilegalmente a eletricidade de um imóvel romano ocupado por grupos esquerdistas alternativos que não pagavam as contas].

O sucedido se insere no quadro de uma preocupante extinção de todo princípio de legalidade dentro da Igreja. O direito é coessencial à Igreja, que tem uma dimensão carismática e uma dimensão jurídica, ligadas inseparavelmente entre si, como o são a alma e o corpo. No entanto, a dimensão jurídica da Igreja é ordenada ao seu fim sobrenatural e está a serviço da verdade. Se a Igreja perde de vista seu fim sobrenatural, torna-se uma mera estrutura de poder, na qual a força da função eclesiástica prevalece sobre o que é verdadeiro e justo.

Este conceito “funcionalista” da Igreja foi denunciado pelo cardeal Gerhard Ludwig Müller, em recente entrevista a Edward Pentin no National Catholic Reporter. O cardeal Müller afirmou que a chamada reforma da Cúria, que está sendo discutida nos últimos meses, corre o risco de transformar a Cúria em uma instituição na qual todo o poder fica concentrado na Secretaria do Estado, desacreditando o colégio cardinalício e as congregações competentes: “Eles estão convertendo a instituição da Cúria em uma simples burocracia, em simples funcionalismo e não em uma instituição eclesiástica”.

Uma manifestação desse funcionalismo é o uso instrumental do direito canônico para sancionar institutos religiosos e simples sacerdotes que não estão dispostos a se alinhar com o novo paradigma do Papa Francisco. No caso das comunidades religiosas, a intervenção repressiva geralmente ocorre através do comissariado, seguida de um decreto de supressão ou reforma completa da instituição, sem dar motivação adequada e muitas vezes expressa na chamada “forma específica”, ou seja, com aprovação pontifícia, sem possibilidade de recurso.

Este procedimento, cada vez mais difundido, certamente não ajuda a acalmar os espíritos numa situação eclesial sujeita a fortes tensões. Mesmo se admitirmos a existência de deficiências humanas em algumas comunidades religiosas, não seria melhor corrigi-las do que destruí-las? O que acontecerá aos jovens sacerdotes e seminaristas que decidiram dedicar suas vidas à Igreja e são privados de seu carisma de referência? Que misericórdia é exercida em relação a eles? O caso dos Franciscanos da Imaculada é emblemático neste sentido.

No caso dos simples sacerdotes, o equivalente à supressão é a sua exclusão do status jurídico clerical, isto é, a chamada redução ao estado laico. Cumpre não confundir o estado clerical – que se refere a uma condição jurídica – com a ordem sagrada, que indica uma condição sacramental e imprime um caráter indelével na alma do sacerdote. A perda do estado clerical é uma medida problemática, especialmente no que diz respeito aos bispos, sucessores dos apóstolos. Muitos bispos, ao longo da História, caíram em pecados graves, cismas e heresias. A Igreja muitas vezes os excomungou, mas quase nunca os reduziu ao estado laical, precisamente por causa da indelebilidade de sua consagração episcopal.

Hoje, pelo contrário, se procede com muita facilidade à redução ao estado laical, e frequentemente não através de um processo judicial, mas usando o processo penal administrativo introduzido pelo novo código de 1983. No processo administrativo há apenas uma instância de julgamento, os poderes discricionários dos juízes são muito amplos, e o réu, a quem às vezes nem sequer se concede advogado de defesa, é privado dos direitos que lhe são atribuídos pelo processo judicial ordinário. O prefeito da congregação competente também tem a possibilidade, como no caso da dissolução de um instituto, de solicitar uma aprovação papal na forma específica, o que torna impossível qualquer recurso.

A consequência é uma praxe justicialista da parte da instituição que, ao longo da história, mais dava garantias aos processados, esquecendo as palavras que Pio XII dirigiu aos juristas: “A função do direito, sua dignidade e o sentimento de equidade, natural ao homem, exigem que a ação punitiva, do começo ao fim, não se baseie na arbitrariedade e na paixão, mas em regras jurídicas claras e fixas […]. Se é impossível estabelecer a culpa com certeza moral, o princípio deve ser aplicado: ‘in dubio standum est pro reo’” (Discurso de 3 de outubro de 1953 aos participantes do Congresso Internacional de Direito Penal, em AAS 45 (1953), pp. 735-737).

Ao contrário da excomunhão, que sugere a ideia de verdade absoluta defendida pela Igreja, a redução ao estado laico é um castigo mais facilmente compreendido por pessoas mundanas, que concebem a Igreja como uma vulgar empresa que pode “demitir” seus empregados, mesmo sem justa causa. Essa concepção funcionalista da autoridade anula a dimensão penitencial dos castigos na Igreja. Ao impor a oração e a penitência aos culpados, a Igreja demonstrava ter em vista acima de tudo suas almas. Hoje, para agradar o mundo, que exige punições exemplares, não há interesse pelas almas dos réus, que são mandados para casa, sem que a Igreja cuide mais deles.

Em artigo publicado pelo Corriere della Sera em 11 de abril de 2019, Bento XVI acusou o “garantismo” como uma das causas do colapso moral da Igreja. Nos anos seguintes à Revolução da Sorbonne, em Maio de 1968, dizia ele, mesmo na Igreja, “os direitos do acusado deviam ser garantidos, a ponto de excluir uma condenação”. O problema, na realidade, não era o de uma garantia excessiva para o acusado, mas de excesso de tolerância para seus crimes, alguns dos quais, como a homossexualidade, deixaram de ser considerados como tais desde os anos do Concílio Vaticano II, que antecedeu aquela Revolução. Foi nos anos do Concílio e do pós-Concílio que uma cultura relativista – na qual a homossexualidade foi considerada moralmente irrelevante e pacificamente tolerada – entrou nos seminários, faculdades e universidades católicas. Bento XVI, que pediu “tolerância zero” contra a pedofilia, nunca invocou a “tolerância zero” contra a homossexualidade, curvando-se, como seu sucessor, às leis do mundo.

Nas últimas semanas foram feitas novas revelações do arcebispo Dom Carlo Maria Viganò a respeito de crimes graves contra a moralidade, cometidos pelo arcebispo Dom Edgar Peña Parra, escolhido pelo Papa Francisco como Substituto na Secretaria de Estado. Por que as autoridades eclesiásticas, que há anos estavam inteiradas dessas acusações, nunca iniciaram investigações, como não as iniciaram pelos crimes cometidos no pré-seminário Pio X, que forma os coroinhas para as cerimônias papais na Basílica de São Pedro? As autoridades têm o dever de iniciar uma investigação: um dever inalienável, depois que as palavras do corajoso arcebispo ressoaram em todo o mundo.

Outra pergunta aguarda resposta. O cardeal George Pell está, desde março passado, em confinamento solitário na penitenciária de segurança máxima de Melbourne, aguardando um novo julgamento, após ter sido condenado em primeira instância. Por que as autoridades eclesiásticas o privam de um processo canônico que estabeleça sua culpa ou inocência não diante do mundo, mas da Igreja? É escandaloso que o Cardeal Pell esteja na prisão e a Igreja esteja em silêncio, aguardando o julgamento do mundo e recusando-se a emitir seu próprio julgamento, possivelmente em contraste com o do mundo.

Do quê a Igreja tem medo? Jesus não veio para vencer o mundo? O direito, que deveria ser um instrumento da verdade, tornou-se um instrumento de poder por parte daqueles que hoje governam a Igreja. Mas uma Igreja na qual o princípio da legalidade se extingue é uma Igreja sem Verdade e uma Igreja sem Verdade deixa de ser Igreja.

Bomba: Viganò expõe ainda mais Francisco e sua corte. Denúncias de acobertamento de abusos e assassinato, parece que nunca se chega ao fundo do poço.

Novo testemunho de Viganò: o Vaticano encobriu alegações de abuso sexual de coroinhas do papa

Por LifeSiteNews, 3 de julho de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com –  Nota do Editor de LifeSiteNews: A entrevista do arcebispo Carlo Maria Viganò ao Washington Post, publicada em 10 de junho, continha uma resposta que o Washington Post decidiu expurgar da entrevista. Esta resposta continha informações importantes sobre as denúncias não tratadas de abuso sexual contra um alto funcionário da Santa Sé, bem como o acobertamento de um ex-seminarista, agora padre, acusado de abuso sexual contra adolescentes pré-seminaristas que serviam como coroinhas do Papa. O texto completo com as respostas inéditas que Viganò deu ao Washington Post, e que foi suprimido, segue abaixo. O texto foi ligeiramente modificado para incluir expressões normalmente usadas em inglês. O nome de um indivíduo foi removido pelo LifeSite porque não foi possível encontrar suporte suficiente para a acusação feita contra ele neste momento.

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O senhor vê algum sinal de que o Vaticano, sob o pontificado do Papa Francisco, está tomando as medidas adequadas para enfrentar as graves questões de abuso? Se não, o que está faltando?

Os sinais que vejo são verdadeiramente sinistros.  O papa não apenas não está fazendo quase nada para punir aqueles que cometeram abusos, mas também não está fazendo absolutamente nada para expor e levar à justiça aqueles que por durante décadas, facilitaram e acobertaram os abusadores. Só pra citar um exemplo, o Cardeal Wuerl, que acobertou os abusos de McCarrick e de outros por décadas seguidas e cujas repetidas e flagrantes mentiras foram manifestadas a todos que têm prestado atenção (para aqueles que não têm prestado atenção, ver http://washingtonpost.com / opiniões / cardeal-wuerl-sabia-sobre-theodore-mccarrick-e-ele-lied-sobre-it), teve que renunciar em desgraça devido à infâmia popular. No entanto, ao aceitar sua renúncia, o Papa Francisco o elogiou por sua “nobreza”. Que credibilidade o papa ainda tem depois desse tipo de declaração?

Mas tal comportamento não é de modo algum o pior. Voltando ao Encontro [ocorrido no Vaticano] e seu foco no abuso de menores, quero agora chamar a sua atenção para dois casos recentes e verdadeiramente aterrorizantes envolvendo alegações de abusos contra menores durante o mandato do papa Francisco. O papa e muitos prelados da cúria estão bem cientes dessas alegações, mas em nenhum dos casos foi permitida uma investigação aberta e minuciosa. Um observador objetivo não pode deixar de suspeitar que atos horríveis estão sendo encobertos.

1. O primeiro alega-se ter ocorrido dentro dos próprios muros do Vaticano, no Pré-Seminário Pio X, que fica a poucos passos da Domus Sanctae Marthae, onde o papa Francisco vive. Esse seminário forma os menores que servem como coroinhas na Basílica de São Pedro e em cerimônias papais.

Um dos seminaristas, Kamil Jarzembowski, colega de quarto de uma das vítimas, afirma ter testemunhado dezenas de incidentes de agressão sexual. Juntamente com outros dois seminaristas, ele denunciou o agressor, primeiramente e pessoalmente aos seus superiores no Pré-Seminário, depois por escrito aos cardeais e finalmente em 2014, novamente por escrito ao próprio papa Francisco. Uma das vítimas era um adolescente, supostamente abusado por cinco anos consecutivos, desde seus 13 anos de idade. O suposto agressor era um seminarista de 21 anos chamado Gabriele Martinelli.

Esse Pré-Seminário está sob a responsabilidade da diocese de Como e é dirigido pela Associação Don Folci. Uma investigação preliminar foi confiada ao vigário judicial de Como, Dom Andrea Stabellini, que encontrou evidências que justificaram investigações posteriores. Eu recebi as informações em primeira mão indicando que seus superiores proibiram que ele continuasse a investigação. Ele pode testemunhar por si mesmo e peço-lhe que vá entrevistá-lo. Eu rezo para que ele encontre a coragem para compartilhar com você o que ele tão corajosamente compartilhou comigo.

Juntamente com o anterior, fiquei sabendo como as autoridades da Santa Sé lidaram com este caso. Após a coleta de evidências feita por Dom Stabellini, o caso foi imediatamente encoberto pelo então bispo de Como, Diego Coletti, juntamente com o cardeal Angelo Comastri, vigário geral do papa Francisco para a Cidade do Vaticano. Além disso, o cardeal Coccopalmerio, então presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, quando foi consultado por Dom Stabellini, exortou-o fortemente a parar com a investigação.

Você pode se perguntar como esse caso horrível foi encerrado. O bispo de Como afastou Dom Stabellini do cargo de vigário judicial; o denunciante, ou seja, o seminarista Kamil Jarzembowski, foi expulso do seminário; seus dois companheiros seminaristas que se juntaram a ele na denúncia deixaram o seminário; e o suposto agressor, Gabriele Martinelli, foi ordenado sacerdote em julho de 2017. Tudo isso aconteceu dentro dos muros do Vaticano e nenhuma palavra sobre o caso saiu durante o Encontro sobre abuso sexual.

O Encontro foi, portanto, terrivelmente decepcionante, pois é hipocrisia condenar os abusos contra menores e alegar simpatizar com as vítimas, recusando-se a encarar os fatos honestamente. Uma revitalização espiritual do clero é mais que urgente, mas acabará sendo ineficaz se não houver disposição para abordar o problema real.

2. O segundo caso envolve o arcebispo Edgar Peña Parra, a quem o papa Francisco escolheu para ser o novo substituto na Secretaria de Estado, fazendo dele a terceira pessoa mais poderosa da cúria. Ao fazê-lo, o papa essencialmente ignorou um terrível dossiê enviado a ele por um grupo de fiéis de Maracaibo, intitulado “Quién es verdaderamente Monseñor Edgar Robinson Peña Parra, Nuevo Sustituto de la Secretaria de Estado do Vaticano?” (“Quem realmente é Monsenhor Edgar Robinson Peña Parra, o novo Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano ”- LifeSite) O dossiê é assinado pelo Dr. Enrique W. Lagunillas Machado, em nome do “Grupo de Laicos de la Arquidiócesis de Maracaibo por una Iglesia e um Clero según o Corazón de Cristo” (“Grupo de Leigos da Arquidiocese de Maracaibo para uma Igreja e um Clero de acordo com o Coração de Cristo ”- LifeSite). Esses fiéis acusaram Peña Parra de terrível imoralidade, descrevendo em detalhes seus supostos crimes. Isso pode até ser um escândalo que supera o caso McCarrick, e não se deve permitir que ele seja coberto pelo silêncio.

Alguns fatos já foram publicados nos meios de comunicação, nomeadamente no semanário italiano L’Espresso (ver espresso.repubblica.it/inchieste/2018/10/18/news/buio-in-vaticano-ecco-l-ultimo-scandalo- 1,327923). Agora vou acrescentar fatos conhecidos pela Secretaria de Estado no Vaticano desde 2002, que fiquei sabendo quando servi como Delegado para Representações Pontifícias.

  • Em janeiro de 2000, o jornalista Gastón Guisandes López, de Maracaibo, fez sérias acusações contra alguns padres da diocese de Maracaibo, incluindo Mons. Peña Parra, envolvendo abuso sexual de menores e outras atividades possivelmente criminosas.
  • Em 2001, Gastón Guisandes López pediu duas vezes para ser recebido pelo arcebispo André Dupuy, núncio apostólico (o embaixador do Papa) na Venezuela, para discutir esses assuntos, mas o arcebispo inexplicavelmente se recusou a recebê-lo. No entanto, ele relatou à Secretaria de Estado que o jornalista havia acusado Mons. Peña Parra de dois crimes muito graves, descrevendo as circunstâncias.

Primeiro, Edgar Peña Parra foi acusado de ter seduzido, em 24 de setembro de 1990, dois seminaristas menores da paróquia de San Pablo, e que deveriam entrar no Seminário Maior de Maracaibo no mesmo ano. O evento teria ocorrido na igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde o reverendo José Severeyn era pároco. Rev. Severeyn foi posteriormente removido da paróquia pelo então arcebispo Mons. Roa Pérez. O caso foi denunciado à polícia pelos pais dos dois jovens e foi tratado pelo então reitor do seminário maior, Rev. Enrique Pérez, e pelo então diretor espiritual, Rev. Emilio Melchor. O Rev. Pérez, quando questionado pela Secretaria de Estado, confirmou por escrito o episódio de 24 de setembro de 1990. Vi esses documentos com meus próprios olhos.

Em segundo lugar, Edgar Peña Parra estaria envolvido, juntamente com [Nome removido], na morte de duas pessoas, um médico e um certo Jairo Pérez, que ocorreu em agosto de 1992, na ilha de San Carlos, no Lago Maracaibo. Eles foram mortos por uma descarga elétrica, e não está claro se as mortes foram acidentais ou não. Essa mesma acusação também está contida no referido dossiê enviado por um grupo de leigos de Maracaibo, com o detalhe adicional de que os dois cadáveres foram encontrados nus, com indícios de encontros lascivos e homossexuais macabros. Essas acusações são, para dizer no mínimo, extremamente graves. No entanto, Peña Parra não só não foi obrigado a encará-los, mas também foi autorizado a continuar no serviço diplomático da Santa Sé.

  • Essas duas acusações foram denunciadas à Secretaria de Estado em 2002 pelo então núncio apostólico na Venezuela, o arcebispo André Dupuy. A documentação pertinente, se não tiver sido destruída, pode ser encontrada tanto nos arquivos do pessoal diplomático da Secretaria de Estado onde ocupei o cargo de Delegado para as Representações Pontifícias, como também nos arquivos da nunciatura apostólica na Venezuela, onde os seguintes arcebispos serviram como núncios, desde Giacinto Berloco, de 2005 a 2009; Pietro Parolin, de 2009 a 2013; e Aldo Giordano, de 2013 até o presente. Todos tiveram acesso aos documentos que levantam estas acusações contra o futuro Substituto, assim como os cardeais Secretários de Estado Sodano, Bertone e Parolin e os Substitutos Sandri, Filoni e Becciu.
  • Particularmente notório é o comportamento do Cardeal Parolin que, como Secretário de Estado, não se opôs à recente nomeação de Peña Parra como Substituto, tornando-o seu colaborador mais próximo. E tem mais: anos antes, em janeiro de 2011, como núncio apostólico em Caracas, Parolin não se opôs à nomeação de Peña Parra como arcebispo e núncio apostólico no Paquistão. Antes de tais nomeações importantes, um rigoroso processo informativo é feito para verificar a idoneidade do candidato, de modo que essas acusações certamente foram trazidas à atenção do Cardeal Parolin.

Além disso, o cardeal Parolin conhece os nomes de vários padres da Cúria que são sexualmente ativos, violando as leis de Deus que eles solenemente se comprometeram a ensinar e praticar, e no entanto ele continua a fazer vistas grossas.

Se as responsabilidades do Cardeal Parolin são graves, mais ainda são as do papa Francisco por ter escolhido para uma posição extremamente importante na Igreja um homem acusado de crimes tão graves, sem antes insistir numa investigação aberta e minuciosa. Há mais um aspecto escandaloso nessa história horrível. Peña Parra está intimamente conectado a Honduras e, mais precisamente, ao cardeal Maradiaga e ao bispo Juan José Pineda. Entre 2003 e 2007, Peña Parra serviu na nunciatura em Tegucigalpa, e enquanto estava ali era muito próximo de Juan José Pineda, que em 2005 foi ordenado bispo auxiliar de Tegucigalpa, tornando-se o braço direito do cardeal Maradiaga. Juan José Pineda renunciou ao cargo de bispo auxiliar em julho de 2018, sem qualquer razão dada aos fiéis de Tegucicalpa. O Papa Francisco não divulgou os resultados do relatório que o Visitador Apostólico, o bispo argentino Alcides Casaretto, entregou diretamente e somente a ele há mais de um ano. Como poderíamos interpretar a firme decisão do Papa Francisco de não falar ou responder a qualquer pergunta sobre esse assunto, exceto como um acobertamento dos fatos e proteção de uma rede homossexual? Tais decisões revelam uma verdade terrível: em vez de permitir investigações abertas e sérias daqueles acusados ​​de graves ofensas contra a Igreja, o papa está permitindo que a própria Igreja sofra.

Voltando à sua pergunta. Você me pergunta se vejo sinais de que o Vaticano sob o Papa Francisco está tomando as medidas adequadas para enfrentar as graves questões de abuso. Minha resposta é simples: o próprio papa Francisco é que está acobertando os abusos agora, como fez com McCarrick. Eu digo isso com grande tristeza. Quando o rei David denunciou o homem rico ganancioso descrito na parábola de Natan, como sendo digno da morte, o profeta disse-lhe sem rodeios: “Tu és esse homem” (2 Sm 12: 1-7). Eu esperava que meu testemunho fosse recebido como o de Natan, mas ao invés disso foi recebido como o de Micaías (1Rs 22: 15-27). Eu oro para que isso mude.

Dom Viganò ao Washington Post: “O Papa Francisco está ocultando deliberadamente as evidências do caso McCarrick”.

Por OnePeterFive, 10 de junho de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com – O arcebispo Carlo Maria Viganò está novamente nos noticiários de hoje, após o lançamento de uma nova entrevista de 8.000 palavras para o Washington Post. De acordo com o Post, a entrevista foi conduzida via e-mail durante um período de dois meses, com o ex-núncio papal nos EUA fornecendo respostas para cerca de 40 perguntas.

Dom Carlo Maria Viganò.
Dom Carlo Maria Viganò.

Aqueles que leram os testemunhos anteriores de Viganò perceberão muitas similaridades na entrevista, mas com maior profundidade. O arcebispo Viganò se recusou a responder perguntas sobre seu status pessoal, que, segundo ele, considera “irrelevante para os sérios problemas que a Igreja enfrenta”.

Ele começa com uma avaliação do Encontro sobre Abuso Sexual realizado em Roma, em fevereiro de 2019, o qual faz eco às preocupações que ele compartilhou com o National Catholic Register antes da abertura do Encontro. 

“Infelizmente”, diz Viganò ao Post, sobre o Encontro, “essa iniciativa acabou se tornando pura ostentação, pois não vimos nenhum sinal de uma disposição genuína de endereçar as causas reais da crise atual”. Ele destacou a falta de credibilidade do cardeal Cupich, que foi escolhido para ser um líder no Encontro, depois dele ter se referido às acusações de Viganò sobre o acobertamento dos abusos sexuais, como uma espécie de  “buraco de coelho”. Ele também lamentou a falta de transparência para com os jornalistas que procuravam informações sobre casos específicos.

Só pra citar um exemplo, o arcebispo [Charles] Scicluna, pego de surpresa com uma pergunta sobre o fato do papa ter acobertado o caso escandaloso do bispo Argentino Gustavo Zanchetta – “Como podemos acreditar que esta é de fato a última vez que vamos ouvir “não mais acobertamentos” quando, no final das contas, o próprio papa Francisco acobertou alguém na Argentina que tinha pornografia gay envolvendo menores? “-  acabou dando esta resposta embaraçosas:” Sobre esse caso, eu não, eu não, você sabe, eu não estou autorizado … ”. A resposta inepta de Scicluna deu a impressão de que ele precisava ser autorizado – o que levanta outra interrogação: autorizado por quem pra dizer a verdade? Alessandro Gisotti, o diretor do escritório interino de imprensa do Vaticano,  interveio rapidamente para assegurar aos repórteres que uma investigação havia sido iniciada e que, uma vez concluída, eles seriam informados dos resultados. É de se questionar se os resultados de uma investigação honesta e minuciosa serão realmente divulgados, e em tempo hábil”.

Viganò observa que um dos problemas-chave do Encontro foi a maneira pela qual “se concentrou exclusivamente no abuso de menores”.

“Esses crimes são de fato os mais horríveis”, acrescenta ele, “mas as recentes crises nos Estados Unidos, no Chile, na Argentina, em Honduras e em outros lugares têm muito mais a ver com abusos cometidos contra jovens adultos, inclusive seminaristas, não apenas nem principalmente contra menores. De fato, se o problema da homossexualidade no sacerdócio fosse honestamente reconhecido e devidamente tratado, o problema do abuso sexual seria muito menos severo ”.

Viganò ataca o papa Francisco, que segundo ele , “não apenas não está fazendo quase nada para punir aqueles que cometeram abusos”, mas também “não está fazendo absolutamente nada para expor e levar à justiça aqueles que, durante décadas, facilitaram e acobertaram os abusadores”.  Ele cita o exemplo do Cardeal Wuerl, que, não obstante as mentiras e acobertamentos dos abusos de “McCarrick e de outros por décadas”, sobre os quais ele só ofereceu “mentiras repetidas e descaradas”  e foi forçado a renunciar em desgraça,  ainda assim foi elogiado pelo papa por sua “nobreza”.

“Que credibilidade o papa ainda tem depois desse tipo de declaração?”, pergunta Viganó.

Sobre a questão da laicização de McCarrick, Viganò questiona por que isso só veio acontecer cinco anos depois que ele passou a informação ao Papa Francisco sobre McCarrick e por que isso só foi feito, “depois de mais de sete meses de silêncio total”, através de um procedimento administrativo e não judicial.

Viganò observa que, devido à natureza do procedimento, McCarrick foi “privado de qualquer oportunidade de recorrer da sentença” e foi privado do devido processo legal. “Ao tornar a sentença definitiva”, acrescenta Viganò, “o papa tornou impossível conduzir qualquer investigação adicional, o que poderia revelar quem na Cúria e em outros lugares sabia dos abusos de McCarrick, quando eles ficaram sabendo e quem o ajudou a ser nomeado arcebispo de Washington e, eventualmente, cardeal. A propósito, notem que os documentos deste caso, cuja publicação foi prometida, nunca foram produzidos ”.

“A linha de fundo”, diz Viganò, “é esta: o papa Francisco está deliberadamente ocultando as evidência do caso McCarrick”.

Sobre a questão da incomum intervenção da Santa Sé no encontro da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA em novembro passado, na qual o papa ordenou que os bispos reunidos não votassem em duas medidas contra o abuso sexual que haviam sido preparadas, Viganò diz que a Santa Sé estava tentando impedir um exame dos “problemas da corrupção episcopal, acobertamentos episcopais e falsidade, crimes sexuais do episcopado, tanto relacionados com menores como com adultos – qualquer um dos quais implicaria e embaraçaria intoleravelmente a Santa Sé”.

Questionado sobre a “notável falta de desmentidos” sobre o seu testemunho original – a pergunta foi feita antes de Francisco finalmente vir a público negando que ele sabia de alguma coisa, e que Vigano já havia declarado anteriormente ser “uma mentira” – o arcebispo argumenta que as acusações não podem ser desmentidas porque elas são verdadeiras. “Os cardeais e arcebispos que eu citei os nomes não querem ser pegos na mentira, e eles aparentemente acham que são tão poderosos e permanecerão intocáveis ​​se ficarem quietos e não levantarem polêmica”, disse ele.

Em um adendo à entrevista, depois que a longa e tardia negação feita pelo papa no mês passado foi divulgada, Viganò diz que as declarações do papa não podem ser reconciliadas entre si. “Ele primeiro diz que já respondeu várias vezes; segundo, que ele não sabia nada, absolutamente nada sobre McCarrick, e terceiro, que ele se esqueceu da minha conversa com ele. Como essas afirmações podem ser afirmadas e sustentadas juntas ao mesmo tempo? Todas essas três são mentiras descaradas ”, diz ele.

Sobre a mais óbvia alegação falsa feita pelo papa – de que ele havia respondido ao testemunho “várias vezes” – Viganò pergunta: “Durante nove longos meses ele não disse uma só palavra sobre meu testemunho, e até mesmo se gabou e continua a fazê-lo sobre seu silêncio, comparando-se a Jesus. Então, ele falou ou ficou em silêncio? Qual das duas opções é verdadeira?”

“Estamos em um momento verdadeiramente sombrio para a Igreja universal”, lamenta Viganò. “O Sumo Pontífice agora está mentindo descaradamente para o mundo inteiro para encobrir seus feitos perversos! Mas a verdade acabará por vir à tona, sobre McCarrick e todos os outros acobertamentos, como já aconteceu no caso do cardeal Wuerl, que também “não sabia de nada” e tinha “um lapso de memória”. Aqui o arcebispo se refere à revelação de que Wuerl sabia sobre as atividades sexuais ilícitas de seu antecessor, McCarrick, mesmo depois de muitas negações.

Além de sua tristeza pela desonestidade do papa, Viganò parece mais preocupado com o fato dos jornalistas falharem em investigar a fundo a história que ele colocou diante deles. “Não consigo imaginar que eles [os meios de comunicação] teriam sido tão tímidos se o papa em questão fosse João Paulo II ou Bento XVI”, diz ele, acrescentando: “É difícil não concluir que esses meios de comunicação relutam em fazê-lo porque eles apreciam a abordagem mais liberal do Papa Francisco em relação às questões de doutrina e disciplina da Igreja, e não querem comprometer sua agenda”.

Sobre a questão da homossexualidade no sacerdócio, Viganò sinaliza sua descrença de que a conexão está sendo ignorada. “Homens heterossexuais, obviamente, não escolhem meninos e homens jovens como parceiros sexuais de sua preferência, e aproximadamente 80% das vítimas são do sexo masculino, a grande maioria dos quais são homens pós-puberes.”

“Não são pedófilos, mas padres gays predadores atacando garotos pós-púberes e levando várias dioceses à falência nos EUA”, acrescenta ele.

“Dada a esmagadora evidência, é incompreensível que a palavra ‘homossexualidade’ não tenha aparecido uma só vez, em nenhum dos recentes documentos oficiais da Santa Sé, incluindo os dois Sínodos sobre a Família, o da Juventude e o recente Encontro sobre abuso sexual em fevereiro passado.”

Viganò segue afirmando que a chamada “máfia gay” na Igreja está “unida não pela intimidade sexual compartilhada, mas por um interesse comum em proteger e promover um ao outro profissionalmente e sabotar todos os esforços de reforma”. Ele diz que embora o papa Bento XVI  tenha iniciado uma investigação sobre os seminários, nada de novo foi descoberto, “aparentemente porque vários poderes juntaram forças para ocultar a verdadeira situação”.

“Será que existe um único bispo nos EUA que admita ser ativamente homossexual? Claro que não. O trabalho deles é constitucionalmente clandestino”.

Sobre a questão, se ele poderia vir a se reconciliar com o Papa Francisco, Viganò responde:

A premissa da sua pergunta está incorreta. Não estou lutando contra o Papa Francisco, nem o ofendi. Eu simplesmente falei a verdade. O Papa Francisco precisa se reconciliar com Deus e toda a Igreja, já que ele acobertou McCarrick, se recusa a admitir e agora está acobertando várias outras pessoas. Sou grato ao Senhor porque Ele me protegeu de ter quaisquer sentimentos de raiva ou ressentimento contra o Papa Francisco, ou qualquer desejo de vingança. Eu rezo por sua conversão todos os dias. Nada me faria mais feliz do que o Papa Francisco reconhecer e acabar com os acobertamentos e confirmar seus irmãos na fé.

Há muito mais na entrevista com o arcebispo Viganò que eu não toquei aqui. Leia na íntegra no The Washington Post.

Projeto de reforma da Cúria é ”profundamente falho”, diz cardeal Müller.

IHU – O esboço para a reforma da Cúria Romana, recentemente distribuído às Conferências Episcopais, carece de um conceito coerente de Igreja, disse o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em uma entrevista ao jornal alemão Passauer Neue Presse, no dia 6 de maio.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em The Tablet, 08-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“No atual esboço de ‘A Cúria Romana e seu serviço ao mundo de hoje’, não se pode reconhecer um conceito coerente da origem, da natureza e da missão da Igreja”, defendeu o cardeal Gerhard Müller.

Müller disse que a seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé, em particular, mostra uma “flagrante falta de competência teológica”. A linha seguida pelo rascunho oscila entre uma “espiritualização” do ethos que todos os membros da Cúria têm que abraçar e um “conceito mundano de Igreja, que deve ser administrada como uma corporação internacional”. Como resultado, a Cúria estava em uma espécie de limbo, em um estado flutuante, de incerteza, disse.

O esboço é um conglomerado de ideias individuais subjetivas, de desejos piedosos e de apelos morais com citações isoladas de textos do Concílio e dos escritos ou discursos do papa. Acima de tudo, não consegue distinguir claramente entre a instituição mundana do Vaticano como Estado soberano, a Santa Sé como sujeito de direito internacional e os fundamentos puramente eclesiásticos do primado do papa.

“Como bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro, o papa é o princípio e a base visíveis da unidade de todas as Igrejas locais na fé revelada”, assinalou Müller. As tarefas mundanas da Igreja são secundárias e não vinculadas essencialmente ao papado. Dar prioridade às tarefas mundanas sobre a missão espiritual da Igreja, como acontece hoje, é um erro que deve ser evitado a todo custo, enfatizou.

A seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé mostra uma surpreendente “falta de noção teológica” por parte dos autores. “Conceitos básicos de teologia católica como Revelação, Evangelho, Sagrada Escritura, Tradição Apostólica ou Magistério são usados de forma imprecisa ou errada”, afirmou Müller, e só se pode esperar que toda a seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé seja “reescrita do zero” por um teólogo qualificado e canonista.

Müller detestou o fato de não haver mais uma congregação “suprema”. “O esboço é um plano desorganizado que reúne 16 dicastérios. O serviço de caridade do papa (Esmolaria), por exemplo, precede a Liturgia e os Sacramentos. A evangelização ocupa o primeiro lugar, embora, na verdade, seja uma tarefa para toda a Igreja e não especificamente para o papa”, disse Müller. Infelizmente, nesse esboço, a promulgação da Doutrina da Fé é uma “tarefa arbitrária do papa entre muitas outras tarefas e vem depois de suas outras tarefas”, disse Müller.

A Igreja está “cega pelo mistério da iniquidade”, afirma Cardeal Sarah em novo livro.

Por LifeSiteNews, 19 de março de 2019 | Tradução: FratresInUnum.comEm seu último livro,  Le soir approche et déjà le soir baisse (“Já é tarde e a noite vem chegando”, citação do episódio dos peregrinos de Emaus, no Evangelho de São Lucas), o Cardeal Robert Sarah decidiu “se manifestar” para os “católicos desorientados” atingidos pela profunda crise pela qual passa a Igreja.

Sarah

“Não consigo mais ficar em silêncio. Eu não posso mais ficar em silêncio”, escreveu o Cardeal Sarah em seu parágrafo inicial. Ele fez uma análise ampla da “noite escura” da Igreja e de que ela “está envolvida e cega pelo mistério da iniquidade”.

Diante antes da publicação do livro na França, em 20 de março, uma introdução foi publicada online, dando o aperitivo de um texto verdadeiramente arrebatador que aborda os problemas atuais de frente: abusos sexuais, mas também relativismo doutrinal, ativismo social e falta de oração, falsas acusações de homossexualidade e hipocrisia generalizadas, e as dúvidas dos fiéis que vêem os inimigos da Igreja em seu próprio meio.

O Cardeal Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, não oferece estratégias, diz ele. Pelo contrário, ele anuncia as respostas atemporais sem as quais todos os esforços são inúteis — uma vida profundamente arraigada de oração, fidelidade ao ensinamento transmitido pela Igreja, ao invés de subestimar a doutrina católica como “muitos pastores” estão fazendo, caridade fraterna e amor a Pedro.

Mas as suas palavras não são, de forma alguma, do suplício pelo qual a Igreja está passando.

O Cardeal Sarah não hesita em falar — nas palavras de Paulo VI — da “fumaça de Satanás” que invadiu a Igreja, apontando abertamente os “traidores” que, como Judas Iscariotes, tornaram-se “agentes do Mal”. “Eles buscaram profanar as puras almas dos pequeninos. Humilharam a imagem de Cristo presente em cada criança”, ao mesmo tempo em que humilharam e traíram a tantos padres fiéis, escreveu.

“A Igreja está passando pelo mistério da flagelação” pelas mãos daqueles que “deveriam amá-la e protege-lá”, advertiu o Cardeal.

Mas a causa do escândalo dos abusos sexuais, ele acrescentou, só pode ser encontrada em traições anteriores: “A crise pela qual o clero, a Igreja e o mundo estão passando é radicalmente uma crise espiritual, uma crise de fé”.

O cardeal africano recorda que o “mistério de Judas” — palavras tomadas do Papa Francisco — reside em se distanciar do ensinamento de Jesus, e pode, portanto, ser comparado ao mistério do mal em nosso tempo.

“Jesus o chamou tal como os outros apóstolos. Jesus o amava! Ele o enviou para anunciar a Boa Nova. Mas, pouco a pouco, o coração de Judas foi sendo tomado pelas dúvidas. Sem perceber, ele começou a julgar o ensinamento de Jesus. Ele disse a si mesmo: esse Jesus é muito exigente, e não eficiente o bastante. Judas queria fazer o reino de Deus vir à terra imediatamente, por meios humanos e de acordo com seus planos pessoais”. Ele deixou de rezar com Jesus e “buscou refúgio nas coisas do mundo, provavelmente murmurando em seu coração ‘não servirei’ quando Jesus lavou seus pés na última ceia”, escreveu o Cardeal Sarah.

“Ele recebeu a comunhão quando seus planos já estavam completos. Foi a primeira comunhão sacrílega da história. E ele traiu”.

Segundo o Cardeal Sarah, as mesmas faltas, as mesmas traições, são cometidas hoje: “Nós abandonamos a oração. O mal do ativismo eficiente se infiltrou em todo lugar. Nós buscamos imitar a organização das grandes empresas. Esquecemo-nos que só a oração é o sangue que irriga o coração da Igreja… Aquele que não reza já traiu. Já está preparado para toda concessão ao mundo. Ele segue os passos de Judas”.

O cardeal tem palavras duras quanto ao abandono da doutrina católica. Eis onde ele vê a causa dos atuais escândalos de abusos sexuais:

“Nós toleramos qualquer questionamento. A doutrina católica é desafiada e, em nome de posturas pretensamente intelectuais, teólogos sentem prazer em desconstruir o dogma e em esvaziar a moral de seu conteúdo profundo. O relativismo é a máscara de Judas disfarçada de intelectual. Como podemos nos surpreender de que tantos padres rompem os seus compromissos? Nós depreciamos o significado do celibato, nós exigimos o direito a uma vida privada, o que é oposto à missão sacerdotal. Alguns vão tão longe, a ponto de reivindicar o direito ao ato homossexual. Um escândalo segue o outro, envolvendo padres e bispos”.

O Cardeal Sarah prossegue, advertindo seus irmãos padres de que todos serão prejudicados por acusações que são verdadeiras apenas para uma minoria. Mas “não se inquiete os seus corações”, acrescentou, recordando que o próprio Cristo foi atingido pelas palavras “Crucifica-O!” e pede-lhes que não se inquietem por “investigações tendenciosas” que apresenta os pastores no topo da Igreja como “clérigos irresponsáveis com uma vida interior anêmica”.

“Padres, bispos e cardeais sem moral não vão, de maneira alguma, manchar o testemunho luminoso de mais de 400 mil padres no mundo que, todos os dias, leal, alegre e santamente servem ao Senhor. Apesar da violência dos ataques que ela suporta, a Igreja não morrerá. Esta é a promessa do Senhor, e Sua palavra é infalível”.

Dirigindo-se especificamente aos católicos que são levados à duvidas, ele falou do “sutil veneno de Judas” da traição. O demônio “quer nos ver (a Igreja) como uma organização humana em crise” quando ela é “Cristo perpetuando-Se”. Satanás leva os fiéis à divisão e ao cisma “ao nos fazer crer que a Igreja traiu”. “Mas a Igreja não trai. A Igreja, cheia de pecadores, é, ela mesma, sem pecado. Sempre haverá luz suficiente nela para aqueles que buscam a Deus”.

O Cardeal Sarah advertiu os fiéis católicos contra a tentação de “resolver as coisas com nossas próprias mãos” — uma tentação que levaria à divisão através da crítica e divisão. “Não hesitemos (…) em denunciar o pecado, a começar pelos nossos próprios”.

“Eu tremo com a ideia de que a túnica inconsútil de Cristo possa uma vez mais ser despedaçada. Jesus sofreu a agonia ao ver antecipadamente as divisões dos cristãos. Não O crucifiquemos novamente”, implorou o cardeal.

Sarah não está procurando popularidade ou sucesso, ele insistiu. “Este livro é um pranto de minha alma! Um pranto de amor a Deus e a meus irmãos. Eu devo a vós, cristãos, a única verdade que salva. A Igreja está morrendo porque os pastores têm medo de falar com toda a verdade e clareza. Estamos com medo da mídia, da opinião pública, de nossos próprios irmãos. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”.

Aos católicos confusos a quem se dirige, o Cardeal Sarah exorta, especialmente aos padres, à oração: “Quem não reza se condena”, escreveu, citando Santo Afonso. “Não é uma questão de acumular devoções. É uma questão de guardar silêncio e adorar, de estar de joelhos, de entrar com temor e respeito na liturgia. É a obra de Deus, não um teatro”.

E ele prossegue sua meditação: “Caros amigos, querem colocar a Igreja em seu devido lugar? Caiam de joelhos! É o único caminho! Se fizer diferente, o que fizer não será de Deus (…) Se não encostarmos nossas cabeças, como São João, no Coração de Cristo, não teremos forças para segui-lO até a Cruz. Se não tivermos tempo de ouvir as batidas do Coração de nosso Deus, nós O abandonaremos, nós O trairemos como os apóstolos fizeram”.

Junto com as orações, na atual crise, é necessária a fidelidade à doutrina. O Cardeal Sarah está claramente consciente das razões da confusão dos dias de hoje. “Como podemos aceitar que conferências episcopais contradigam uma a outra? Onde reina a confusão, Deus não está!, escreveu.

“A unidade de fé supõe a unidade do magistério no espaço e no tempo. Quando um novo ensinamento nos é dado, deve ser sempre interpretado em coerência com o ensinamento que o precedeu. Se nós introduzimos rupturas e revoluções, rompemos a unidade que governa a Santa Igreja pelos séculos”, insistiu. “Aqueles que bradam em voz alta a mudança e ruptura são falsos profetas. Eles não procuram o bem do rebanho”.

Fidelidade à verdade significa aceitar a Cruz, escreveu o Cardeal Sarah, acrescentando que Cristo exige aquela fidelidade mais uma vez.

“Ele nos olha diretamente nos olhos e pergunta a cada um de nós: você me abandonará? Você renunciará o ensinamento da fé em toda sua plenitude? Terá coragem de pregar minha presença real na Eucaristia? Terá coragem de convidar os jovens à vida consagrada? Quando você terá força para dizer que sem a confissão frequente, a comunhão sacramental corre o risco de perder seu sentido? Você terá a audácia de recordar a verdade sobre a indissolubilidade do matrimônio? Terá a caridade de fazer o mesmo àqueles que ameaçam culpá-lo por isso? Você prefere o sucesso ou me seguirá? Queira Deus que respondamos com São Pedro, cheios de amor a humildade, ‘Senhor, a quem iremos? Só vós tendes palavras de vida eterna’. (João 6:68).”

Tudo isso exige “amor a Pedro”, escreveu o Cardeal Sarah. “O mistério de Pedro é um mistério de fé. Jesus escolheu confiar sua Igreja a um homem. Não nos esqueçamos, Ele permitiu a este homem trair três vezes à frente de todos, antes de lhe entregar as chaves de Sua Igreja. Nós sabemos que a barca da Igreja não foi confiada a um homem por causa de suas habilidades extraordinárias. Mas sabemos que este homem seria sempre assistido pelo Divino Pastor, a fim de guardar a regra da fé”.

Essa é a razão pela qual não devemos ter medo, acrescentou, falando do “fio de ouro das definições infalíveis dos pontífices, sucessores de Pedro” em oposição ao “fio negro dos atos humanos e imperfeitos dos Papas, sucessores de Simão”, nos quais ainda “sentimos a pequena agulha guiada pela mão invisível de Deus”.

Na mesma direção de sua introdução, Sarah deixou claro que não se espera que os católicos sejam cegos:

“Queridos amigos, os seus pastores estão cobertos de faltas e imperfeições. Mas não é desprezando esse fato que se construirá a unidade da Igreja. Não tenham medo de pedir a eles a fé católica, os sacramentos da vida divina. Lembrem-se das palavras de Santo Agostinho: ‘Quando Pedro batiza, é Jesus que batiza. Quando Judas batiza, ainda é Jesus que batiza!”.

E prosseguiu: “Se você pensa que seus padres e bispos não são santos, seja santo por eles. Faça penitência, jejum para reparar as faltas e covardia. É a única maneira de carregar o fardo do outro”.

A quarta exortação do cardeal é sobre a “caridade fraterna”, refletindo sobre a Igreja como mãe que abre seus braços a nós: “Em seu seio, nada pode nos ameaçar. Cristo abriu Seus braços de uma vez por todas na Cruz para que a Igreja pudesse abrir os seus a fim de nos reconciliar com ela, com Deus e conosco mesmo”, um chamado contra a divisão que “persegue a Jesus”.

Em resumo, o Cardeal Sarah está chamando os fiéis a reconhecer “a grandeza e a transcendência de Deus”, a quem devemos amar até a morte — a única condição que pode nos permitir ouvir as palavras ditas por São Francisco de Assis: “Vai e reconstrói a minha Igreja”. Ainda afirmou o Cardeal: “Vai, reconstrói pela sua fé, esperança e caridade. Vai e reconstrói pela sua o oração e fidelidade. Graças a você, minha Igreja novamente se tornará minha casa”.

Essas palavras foram assinadas em 22 de fevereiro, durante o encontro sobre abusos sexuais no Vaticano, no momento em que acusações horríveis começaram a se acumular contra a Igreja, especialmente contra aqueles membros mais fiéis a seu ensinamento perene.