O fim de uma era.

Palavras do discurso do Cardeal Tarcisio Bertone, proferido hoje, dia de sua resignação como Secretário de Estado, diante do Papa Francisco:

Cardeal Bertone em Fátima - 12 de outubro de 2013.
Cardeal Bertone em Fátima – 12 de outubro de 2013.

« (…) O que apaixonou o Papa Bento XVI foi ver a Igreja entender-se como uma comunhão, e ao mesmo tempo capaz de falar para o mundo, para o coração e inteligência com a clareza de doutrina e com elevação de pensamento.

Bento XVI foi um reformador das consciências e do clero, que entregou o ministério petrino como o Senhor o inspirou, depois de uma intensa meditação e uma oração e, especialmente, depois de uma trajetória pontilhada com fortes projetos pastorais e com o sofrimento.

Ele estava profundamente triste pelos males que desfiguram o rosto da Igreja e por isso adotou uma nova legislação, relativa à decisão com o fenómeno vergonhoso de pedofilia entre o clero.

(…) Eu vejo hoje o Papa Francisco como uma continuidade com o Papa Bento XVI , apesar da diversidade de sotaques e segmentos da vida pessoal.

(…) O dom do conselho, espontâneo e inspirado, voltado para o futuro , mas rico em memória, e depois há a devoção mariana, comum aos dois. Não há imagem mais bonita que a fotografia deles, em oração diante da imagem da Virgem Maria, Nossa Senhora de Fátima, em Fátima no Ano Sacerdotal em 2010 – o Papa Bento XVI, e em Roma, na frente da mesma imagem no Ano da Fé – o Papa Francisco. Isto serve para colocar toda a Igreja em estado de penitência e purificação. Parece-me que devemos começar a partir de Fátima.

Que Nossa Senhora ajude o Papa Francisco e o novo secretário de Estado , Mons. Parolin , para desatar os nós que ainda impedem a Igreja de Cristo de estar no coração do mundo».

Créditos ao leitor André.

Fátima: Secretário de Estado do Vaticano diz que «Segredo» mantém atualidade.

Cardeal Tarcisio Bertone evocou sofrimentos da Igreja, na sua primeira intervenção na Cova da Iria.

Fátima, Santarém, 12 out 2013 (Ecclesia) – O Secretário de Estado do Vaticano disse hoje em Fátima que o “Segredo” revelado aos Pastorinhos, em 1917, continua a ser atual e a revelar-se no sofrimento da Igreja e no “mal da incredulidade”.“É impressionante, neste lugar, ver como o coração dos três Pastorinhos bate em uníssono com o coração da Igreja, como amam o Papa, cujos sofrimentos tinham pressentido naquele misterioso cortejo do chamado Segredo de Fátima”, declarou o cardeal Tarcisio Bertone, na saudação inaugural da peregrinação internacional de outubro, na Cova da Iria.

Tendo como pano de fundo a profecia sobre os sofrimentos do Papa, que foi revelada na terceira parte do Segredo de Fátima, publicada em 2000, o cardeal italiano falou num “cortejo que acaba em martírio”.“Apesar do seu cabal cumprimento no século XX, aquele cortejo é uma profecia para todos os tempos. Não terminou o mal da incredulidade; não deixou de correr o sangue dos mártires. Este é o sangue da redenção”, relatou.O colaborador mais direto do Papa trouxe uma “bênção” particular de Francisco e rezou pela “Igreja que sofre”, “em prece pelo futuro de toda a humanidade”.“O mundo do futuro – este mundo novo que penosamente vai nascendo na era da globalização – precisa do tesouro da fé, que os cristãos, há dois mil anos, se esforçam por viver e transmitir”, acrescentou.O secretário de Estado cessante do Vaticano é considerado um especialista na Mensagem de Fátima, tendo sido enviado por João Paulo II para dialogar com a irmã Lúcia acerca da interpretação da terceira parte do ‘segredo’.Segundo D. Tarcisio Bertone, aquilo que move o coração dos mártires “não é a dor, mas o amor”.“Fátima é um apelo ao amor. Olhando o exemplo e confiando na intercessão dos beatos Francisco e Jacinta e da serva de Deus irmã Lúcia, ofereçamo-nos para aceitar as provações que o Senhor nos envia”, apelou.O cardeal italiano vai ser substituído esta terça-feira no cargo de secretário de Estado do Vaticano por D. Pietro Parolin.

“Isso pensa Müller, isso é o que ele pensa”. “Ouso dizer: a Igreja nunca esteve tão bem como hoje”.

Por Sandro Magister | Tradução: Fratres in Unum.com – Durou mais de duas horas o encontro entre o Papa Francisco e os padres da sua diocese de Roma, na Basílica de São João de Latrão, na manhã de segunda, 16 de setembro.

O encontro foi realizada à portas fechadas. E um relato parcial do que o Papa disse foi fornecido algumas horas mais tarde por “L’Osservatore Romano” e pela Rádio Vaticano.

Mas em nenhum dos dois relatos apareceram duas piadas ditas pelo Papa sobre dois altos eclesiásticos.

A primeira foi grave e cortante. A segunda irônica.

Ao formular uma das cinco perguntas direcionadas ao Papa e para falar da centralidade dos pobres na pastoral, um padre se referiu positivamente à teologia da libertação e às posições simpáticas, em relação a esta teologia, do arcebispo Gerhard Ludwig Müller.

Mas ao ouvir o nome do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa Francisco não permitiu concluir a pergunta e disse: “Isso pensa Müller, isso é o que ele pensa”.

A segunda era uma flechada contra o Cardeal Secretário de Estado que está de saída, Tarcisio Bertone.

O Papa Francesco sorriu quando um padre brincou sobre aqueles que colocam na sua cabeça que a Igreja é “una, santa, católica e salesiana”. E adicionou: “Una, Santa, Católica e Salesiana, como diz Cardeal Bertone”.

* * *

Papa Francisco encontra o clero de Roma: “Ouso dizer: a Igreja nunca esteve tão bem como hoje”

E se vocês virem que eu perdi isto, por favor, me digam e se não puderem me dizer privadamente, digam publicamente, mas digam: ‘Olha, converta-te!’

Cidade do Vaticano (RV) – “Mesmo agora que sou Papa me sinto ainda um sacerdote”. Esta é uma das passagens chaves do diálogo que o Papa Francisco teve, na manhã desta segunda-feira, com os sacerdotes da Diocese de Roma, a sua Diocese, reunidos na Basílica São João de Latrão. A acolher o Papa, 20 minutos antes do previsto, foi o Cardeal Vigário Agostino Vallini, que na sua saudação comentou que este encontro foi programado pelo novo Bispo de Roma, logo após ter sido eleito.

“O que é o cansaço para um Sacerdote, para um Bispo e mesmo para o Bispo de Roma?” O Papa Francisco desenvolveu o seu pronunciamento introdutivo, detendo-se neste questionamento. E confiou que a inspiração lhe veio após ler a carta enviada por um sacerdote idoso, que justamente lhe falava sobre este cansaço, um “cansaço no coração”. “Existe – disse o Papa – um cansaço do trabalho e isto todos conhecemos. Chegamos de noite, cansados de trabalhar e passamos diante do Tabernáculo para saudar o Senhor. Sempre – advertiu – é necessário passar pelo Tabernáculo”:

Quando um sacerdote está em contato com o seu povo, se cansa. Quando um padre não está em contato com o seu povo, se cansa, mas mal e para dormir deve tomar um comprimido, não? Ao invés disso, aquele que está em contato com o povo – que de fato o povo tem tantas exigências, tantas exigências! Mas são as exigências de Deus, não? – este cansa realmente e não tem necessidade de tomar comprimidos”.

Existe, porém, um “cansaço final” – prosseguiu Francisco – que se vê antes do “crespúsculo da vida” onde “existe a luz escura e o escuro um pouco luminoso”. É “um cansaço que vem no momento em que deveria existir o triunfo”, mas ao invés disto “vem este cansaço”. Isto – afirmou – acontece quando “o sacerdote se questiona sobre sua existência, olha para trás, ao caminho percorrido e pensa nas renúncias, aos filhos que não teve e se pergunta se não errou, se a sua vida “falhou”. É justamente sobre o “cansaço do coração” de que o sacerdote escrevia na carta.

O Papa citou então, o cansaço em tantas figuras bíblicas, de Elias a Moisés, de Jeremias até João Batista. Este último, afirmou, na “escuridão da prisão” vive o “escuro de sua alma” e manda os seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele é realmente aquele que estão esperando. O que pode fazer então um sacerdote que vive a experiência de João Batista? Rezar, “até dormir diante do Tabernáculo, mas estar ali”. E depois “procurar a proximidade com os outros padres, e sobretudo, com os bispos”:

Nós, Bispos, devemos ser próximos aos sacerdotes, devemos ser caridosos com o próximo e os mais próximos são os sacerdotes. Os mais próximos do Bispo são os sacerdotes. (aplausos). Vale também o contrário, eh! (risos e aplausos): o mais próximo dos padres deve ser o bispo, o mais próximo. A caridade para com o próximo, o mais próximo é o meu bispo. O Bispo diz: os mais próximos são os meus padres. É bonita esta troca, não? Isto, acredito, é o momento mais importante da proximidade, entre o bispo e os sacerdotes: este momento sem palavras, porque não existem palavras para este cansaço”.

A partir deste ponto, iniciou-se o diálogo do Papa Francisco com os sacerdotes, aos quais pediu para sentirem-se livres para perguntar qualquer coisa. Respondendo à primeira pergunta, o Papa Francisco disse que no serviço pastoral, não deve se “confundir a criatividade com fazer alguma coisa nova”. A criatividade – afirmou – “é buscar o caminho para que o Evangelho seja anunciado” e isto “não é fácil”. Criatividade “não é somente mudar as coisas”. É uma outra coisa, vem do Espírito e se faz com a oração e se faz falando com os fiéis, com as pessoas. O Papa, então, recordou uma experiência vivida quando era Arcebispo de Buenos Aires. Com um sacerdote, disse, procurava entender como tornar a sua igreja mais acolhedora:

Ah, se passa tanta gente aqui, talvez seria bonito que a igreja ficasse aberta durante todo o dia…Boa idéia! Também seria bonito que tivesse sempre um confessor à disposição, alí…Boa idéia! E assim foi”.

Esta – acrescentou – é uma ‘corajosa criatividade’. Também em relação aos cursos em preparação ao Batismo “é necessário superar o obstáculo dos pais e das mães que trabalham toda a semana e no domingo gostariam de repousar”. Então, é necessário “buscar novos caminhos”, como uma “missão no bairro” promovida pelos leigos. E esta é a “conversão pastoral”. A Igreja, “também o Código de Direito canônico nos dá tantas, tantas possibilidades, tanta liberdade para buscarmos estas coisas”. É necessário – destacou – procurar os momentos de acolhida, quando os fiéis devem ir à paróquia por um motivo ou outro. E criticou severamente quem, numa paróquia, está mais preocupado em pedir dinheiro por um certificado que pelo Sacramento e assim “afastam as pessoas”. É necessário, ao invés disto, “a acolhida cordial”: “que aquele que venha à igreja se sinta como na sua casa. Se sinta bem. Que não se sinta explorado”:

“Um sacerdote, uma vez – não da minha Diocese, de uma outra -, me dizia: ‘Mas, eu não faço pagar nada, nem mesmo as intenções da Missa. Tenho alí uma caixa e eles deixam aquilo que querem. Mas Padre: tenho quase o dobro do que tinha anteriormente. Porque as pessoas são generosas, e Deus abençoa estas coisas’.

“Se, ao invés disto, a pessoa vê que existe um interesse econômico, então se afasta”, observou Francisco. O Papa então, respondeu a quem lhe perguntava como ele se define agora, visto que, como Arcebispo de Buenos Aires, gostava definir-se simplesmente como ‘sacerdote’:

“Mas, eu me sinto padre, é sério. Eu me sinto padre, sacerdote, é verdade, bispo…Me sinto assim, não? E agradeço ao Senhor por isto. (aplausos) Teria medo de sentir-me um pouco mais importante, não? Isto sim, tenho medo disto, pois o diabo é esperto, eh!, é esperto e te faz sentir que agora tu tem poder, que tu pode fazer isto, que tu podes fazer quilo…mas sempre girando, girando em volta, como um leão – assim diz São Pedro, não! Mas graças a Deus, isto não perdi, ainda, não? E se vocês virem que eu perdi isto, por favor, me digam e se não puderem me dizer privadamente, digam publicamente, mas digam: ‘Olha, converta-te!’, porque está claro, não?” (aplausos)|

Após, o Santo Padre falou sobre os sacerdotes misericordiosos. Um padre enamorado – disse – deve sempre recordar-se do primeiro amor, de Jesus, “retornar àquela fidelidade que permanece sempre e nos espera”. Para mim, isto é “o ponto-chave de um sacerdote enamorado: que tenha a capacidade de voltar à recordação do primeiro amor”. E acrescentou: “uma Igreja que perde a memória, é uma Igreja eletrônica: não tem vida”. Assim, é necessário guardar-se dos padres rigorosos e negligentes. O sacerdote misericordioso – afirmou – é aquele que diz a verdade mas acrescenta: “Não te apavores, o Deus bom te espera, Caminhemos juntos”. A isto acrescentou: “devemos tê-lo sempre sob os olhos: acompanhar. Ser companheiros de caminho”. “A conversão sempre se faz assim – disse – a caminho e não no laboratório”.

“A verdade de Deus é esta verdade, digamos assim dogmática, para dizer uma palavra, ou moral, mas acompanhada do amor e da paciência de Deus, sempre assim”.

“Na Igreja – acrescentou – existem certos escândalos mas também tanta santidade e esta é maior. E existe também esta “santidade cotidiana”, escondida, “aquela santidade de tantas mães e de tantas mulheres, de tantos homens que trabalham todo o dia pela família”. Palavras estas acompanhadas de um encorajadora convicção:

“Eu ouso dizer que a Igreja nunca esteve tão bem como hoje. A Igreja não cai: estou seguro disto, estou seguro!”

O Papa então, voltou ao tema das periferias existenciais, retomando as suas palavra sobre “conventos vazios” e a generosidade para com os mais necessitados. Por fim, refletiu sobre o tema da família, e em particular, sobre a delicada questão da nulidade dos matrimônios e sobre as segundas uniões. “Um problema – recordou – que Bento XVI tinha no seu coração”. “O problema não pode ser reduzido à questão do fazer a comunhão ou não – afirmou – porque quem coloca o problema somente nestes termos não entende qual é o verdadeiro problema”.

“É um problema grave – observou – de responsabilidade da Igreja em relação às famílias que vivem esta situação”. A Igreja – afirmou ainda – neste momento deve fazer alguma coisa para resolver os problemas das nulidades matrimoniais. Um tema sobre o qual falará com o grupo dos 8 Cardeais que se reunirão nos primeiros dias de outubro, no Vaticano. E será tratado também no próximo Sínodo dos Bispos, pois é uma verdadeira “periferia existencial”.

Por fim, o Papa Francisco recordou que no próximo 21 de setembro recorre o 60º aniversário de sua vocação ao sacerdócio. (JE)

Bertone se aposenta. Em seu posto, Parolin.

A IMINENTE SAÍDA DE CENA DO CARDEAL BERTONE

Papa Francisco poderia nomear amanhã o novo Secretário de Estado: o núncio da Venezuela

Por Andrea Tornielli – Vatican Insider | Tradução: Fratres in Unum.com – Papa Francisco poderia receber amanhã as demissões apresentadas há algum tempo pelo Secretário de Estado, Tarcísio Bertone, e, segundo diversas indiscrições, teria decidido nomear em seu lugar o arcebispo Pietro Parolin, núncio apostólico na Venezuela.

Cardeal Tarcisio Bertone.
Cardeal Tarcisio Bertone.

O novo “primeiro ministro” vaticano tem 58 anos e é originário de Schiavon, na província de Vicenza. Sacerdote desde 1980, entrou na diplomacia vaticana em 1986. Em 2002 foi nomeado sub-secretário da Seção para as Relações com os Estados, da Secretaria de Estado – em política, “vice-ministro do Exterior” –, onde colaborou, primeiramente, com o cardeal Sodano e, depois, com Bertone. Em setembro de 2009, Bento XVI, que algumas semanas antes o tinha nomeado núncio na Venezuela, o consagrou bispo. Entre os consagrantes estava, também, Bertone.

O atual Secretário de Estado deixa o cargo já às vésperas de completar os 79 anos, como aconteceu com seu predecessor, o cardeal Angelo Sodano, atual decano do colégio cardinalício. O salesiano Tarcísio Bertone, até então arcebispo de Gênova, foi escolhido pelo Papa Ratzinger como Secretário de Estado em 2006, um ano depois da eleição. Então, a nomeação seguiu o curioso itinerário de um anúncio em junho e de um ingresso no cargo em setembro: o novo “primeiro ministro” vaticano teve de enfrentar logo uma crise, aquela provocada por uma interpretação das palavras pronunciadas por Bento XVI no famoso discurso de Ratisbona.

Dom Pietro Parolin, até agora núncio apostólico na Venezuela.
Dom Pietro Parolin, até agora núncio apostólico na Venezuela.

Na origem da escolha de um prelado não proveniente da diplomacia pontifícia – por outro lado, não totalmente inédita na história da Igreja – havia uma pessoal colaboração e confidência, que tinha se consolidado entre 1995 e 2002, nos anos em que este último tinha sido secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, guiada pelo Prefeito Joseph Ratzinger.

O então chefe do Ex-Santo Ofício tinha apreciado as qualidade operativas e a fidelidade de Bertone. Por isso, não obstante o parecer contrário de diversos curiais, o tinha escolhido e defendido até o fim, não acolhendo as solicitações dos cardeais, que nos últimos anos sugeriam uma mudança.

Bertone, que conserva o cargo de carmelengo da Santa Igreja Romana e, pelo momento, permanece no conselho cardinalício para a superintendência do IOR, já sabia que em qualquer momento, no final do verão, seria substituído. Se lembrarmos o passado recente, entenderemos como a substituição, facilitada pela idade do Secretário de Estado atual, aconteceu em tempos rápidos.

Em outubro de 1958, João XXIII escolheu o secretário de Estado na noite da própria eleição, mas o cargo permaneceu vacante desde 1944, desde quando tinha morrido o cardeal Luigi Maglione e o Papa Pio XII não o tinha substituído, servindo-se dos dois substitutos, Montini e Tardini.

Paulo VI, em junho de 1963, confirmou no cargo o cardeal Amleto Cicognani, já octagenário e já Secretário de Estado do predecessor, mantendo-o por outros seis anos.

João Paulo I e João Paulo II confirmaram o cardeal francês Jean Villot, mesmo que o Papa Wojtyla tenha escrito que um Papa não italiano deveria ter um Secretário de Estado italiano. Villot, que até hoje continua sendo o único Secretário de Estado que serviu três Pontífices, morreu em março de 1979, e em seu posto foi nomeado Agostino Casaroli. A demissão do prelado símbolo da Ostpolitik foram recebidas pelo Papa Wojtyla quando Casaroli completou 76 anos, e Angelo Sodano se tornou Secretário de Estado, chegando a acompanhar por um ano e meio, de abril de 2006 a setembro de 2006, o pontificado de Bento XVI.

Em julho passado, o cardeal Timothy Dolan, acebispo de Nova York, em uma entrevista, se lamentou da demora na nomeação do Secretário de Estado, sobre o qual se tinham adensado críticas durante a discussão do pré-conclave. “Espero que, depois da pausa de verão, se concretize algum sinal a mais relativamente à mudança da gestão”, comentou o purpurado americano, depois de ter dito que esperava a substituição antes do verão, como, aliás, tinha sido prognosticado erroneamente por outros.

Curtinhas do Papa no Brasil.

Braz e Bertone.

Do voo papal ao Rio de Janeiro, dois cardeais mereceram o destaque de Andrea Tornielli. Primeiro, o brasileiro Dom João Braz de Aviz, prefeito para os religiosos, que realizou uma “mini-conferência de imprensa” com os jornalistas brasileiros, dizendo-lhes que “Bento XVI era um intelectual tímido”, enquanto Francisco tem vigor para fazer reformas. Seja-nos permitido dizer, sem que as virgens escandalizadas venham aqui rasgar as suas vestes: o senhor, Dom João, é um ignorante assanhado. Nada mais, nada menos.

Já o outrora todo poderoso Bertone chamou um jornalista num cantinho para falar da possível visita do Papa a Torino, “quando eu não serei mais Secretário de Estado”. Fala-se em Roma que Bertone deixará seu posto nas primeiras semanas de setembro.

Esperança dos progressistas

‹‹ Está sinalizado uma esperança muito concreta de superar os desentendimentos que aconteceram, sobretudo com a expressão de uma teologia que não coincide com a europeia (Teologia da Libertação). Nesse sentido a gente percebe que há uma vontade de reconciliação e muitos teólogos que foram colocados à margem se sentem à vontade para renovar as esperanças de que se possa retomar o impulso renovador do Concílio Vaticano II, que foi empreendido com muito entusiasmo por João XXIII e que nos últimos anos experimentou um arrefecimento. Essa é a esperança maior que se desenha pela frente. Com esse papa se recriaram as condições para passos importantes, também de ordem ecumênica, de maior descentralização da igreja católica, de mais autonomia para dioceses, de mais liberdade para prover as necessidades eclesiais de cada diocese em termos de ordenação de padres, para que haja mais padres mesmo que sejam ordenadas pessoas casadas ›› .

Palavras de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales, SP, ao jornal O Valor. Falta um ano e meio para a aposentadoria de Dom Valentini, o que será um marco para a verdadeira renovação da Igreja no Brasil.

Enquanto isso…

Informa o Brasil pela Vida: ‹‹ Hoje, dia 22 de julho, dia da chegada de SS. o Papa Francisco ao Brasil, às 14:29 hs, foi entregue na Curia Metropolitana do Arcebispado do Rio de Janeiro, o abaixo assinado que foi entregue para que Dom Orani Tempesta, Arcebispo di Rio de Janeiro, peça à SS. que interceda por nós junto à Presidente Dilma, com quem certamente estará, mais de uma vez, e peça-lhe que vete totalmente o PLC 03/2013 que, a pretexto de auxiliar mulheres vítimas de agressão sexual, traz no seu bojo o aborto total e irrestrito ›› .

Dor de cotovelo

De Nelson de Sá, na Folha: ‹‹ Ligada à Universal, a Record repisou exaustivamente as cenas “exclusivas” de um ataque de tubarão em Recife, para não abrir as câmeras ao papa Francisco. Recorreu também a uma interminável viagem de trem por Maranhão e Pará, no “Jornal da Record”. Quando entrou no assunto, afinal, aproveitou para anotar que manifestantes “reclamam do posicionamento da Igreja Católica sobre o aborto”, destacando que no Uruguai, após a legalização, nenhuma mulher morreu do procedimento. Não é a primeira vez que a rede evangélica apela ao aborto para questionar a igreja concorrente ›› .

Gilberto Carvalho, espião

Gilberto Carvalho foi alvo de uma piada papal. Apresentado por Dilma como o responsável pelo elo entre o governo e a igreja, o ministro foi chamado pelo Papa de “espião do Vaticano no governo do Brasil”. Com um espião desses…

Erro grave

Do Globo: ‹‹ Especialistas são unânimes em dizer que o Papa Francisco ficou vulnerável, exposto a riscos desnecessários. O fato de o carro do chefe da Igreja ficar preso no trânsito é considerado um erro grave pelas normas de segurança internacional de autoridades, explicou o coronel do Exército Diógenes Dantas, doutor em Aplicações e Planejamento de Segurança de Grandes Eventos. O consultor internacional de segurança Hugo Tisaka também afirmou que “uma autoridade não pode ficar presa no trânsito como o Pontífice ficou” ›› .

Há um mês…

Padre François Murad era brutalmente martirizado por maometanos na Síria. Não se esqueça de rezar por ele e pelos cristãos perseguidos em todo o mundo.

Lançamento de livro do Prof. Hermes no Rio

Nosso caro amigo Prof. Hermes Rodrigues Nery informa: seu livro “A Igreja é viva e jovem” será lançado na quarta-feira, 24, das 15 às 18 horas, no stand da Editora Loyola, na Expocatólica, no Riocentro.

E se fosse Bento?

Comentário de Damian Thompson, do Telegraph: ‹‹ A imprensa mundial está – compreensivelmente — se focando na visita do Papa Francisco ao Brasil para a Jornada Mundial de Juventude: é bom ver uma cobertura positiva de um papa que merece isso, este é o frescor e o vigor que ele trouxe ao seu papel. Mas eu não posso deixar de pensar que, se Bento XVI estivesse no Brasil, a mídia falaria de celebrações “manchadas” pelas extraordinárias acusações contra Mons. Battista Ricca, o homem designado por Francisco para supervisionar a reforma do Banco Vaticano ›› .

[Atualização – 23 de julho de 2013, às 14:36] Ahhh tá…

“Ele [o Papa] quer receber o meu livro [Igreja: carisma e poder], mandou essa mensagem por uma amiga. Já entreguei a obra ao arcebispo do Rio de Janeiro e espero que o papa receba”, afirmou Leonardo Boff ao jornal O Globo.

Peru: Müller e Grocholewski apoiam a “universidade rebelde”.

A reunião, aparentemente sem a aprovação da Secretaria de Estado, com as autoridades da antiga PUCP.

Por Andrés Beltramo Álvarez | Tradução: Fratres in Unum.com – É a “universidade rebelde” do Peru. Sobre ela pesa uma sanção emitida pela Santa Sé. Por vontade papal, está proibida de ostentar seus títulos de “Pontifícia” e “Católica”. Todos os seus professores de teologia estão desabilitados. Mas nada disso impediu que suas autoridades recebessem o apoio explícito de dois personagens de primeiro nível no Vaticano: os prefeitos das congregações para a Doutrina da Fé e para a Educação Católica, Gerhard Ludwig Müller e Zenon Grocholewski.

Imagem da reunião publicada no site da PUCP.
Imagem da reunião publicada no site da PUCP.

Na última sexta-feira, 22 de fevereiro, a escassos seis dias da conclusão do presente pontificado, ambos os prefeitos receberam em audiência o reitor dessa casa de estudos, Marcial Rubio Correa, e o vice-reitor acadêmico, Efraín Gonzales de Olarte. Estiveram presentes também os secretários da Doutrina da Fé, Luis Francisco Ladaria, e da Educação Católica, Angelo Vincenzo Zani.

O encontro foi publicado no sítio institucional da antiga Pontifícia Universidade Católica do Peru, que difundiu uma fotografia. Mas não esclareceu o conteúdo da “cordial conversa”, como qualificou em um breve comunicado.

O encontro surpreendeu a muitos na Cúria Romana. Tudo parece indicar que foi realizado sem a aprovação da Secretaria de Estado. O que poderia configurar uma clamorosa desobediência. Especialmente depois da reunião de alto nível realizada no início deste mês de fevereiro e da qual saiu muito mal o prefeito Müller.

Tratou-se de uma reunião “interdicasterial” convocada pelo Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, cujo principal objetivo foi analisar a validez de uma carta enviada pelo “guardião da ortodoxia” ao arcebispo de Lima e grão-chanceler da universidade, Juan Luis Cipriani Thorne, no fim de janeiro.

Com esta carta, o prefeito pretendeu derrubar a decisão de Cipriani de não renovar a permissão eclesiástica para lecionar de todos os professores do Departamento de Teologia da antiga PUCP. Mas a carta estava viciada desde sua origem. Pois não respeitou a nenhum dos requisitos de uma comunicação oficial, nem do ponto de vista formal nem do ponto de vista jurídico. Assim, a “interdicasterial” a considerou inválida.

Por isso, e como resultado dessa análise, a Santa Sé mandou ao Peru uma carta que declarou legítima a determinação do arcebispo de não conceder a permissão para o ensino de teologia católica aos professores desse centro universitário.

Tudo baseado em uma sanção aplicada com o aval do Papa, e que mantém sua plena vigência jurídica, pela negação contumaz da Assembléia Universitária de reformar os seus estatutos para aderir à legislação vaticana sobre as instituições de educação superior católicas: a constituição apostólica “Ex Corde Ecclesiae”.

Conforme pôde confirmar Vatican Insider, já há vários meses e desde suas posições no Vaticano, tanto Müller como Grocholewski vêm tentando, por vários meios, reverter a sanção contra a universidade, para lhe conseguir a recuperação do uso de seus títulos. Sobre este tema, os prefeitos tiveram uma contínua comunicação com o prepósito geral da Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas, Adolfo Nicolás Pachón.

Carta do Secretário de Estado a mosteiros contemplativos solicitando orações por Bento XVI e pelo Conclave.

O boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou, hoje, uma carta dirigida pelo eminentíssimo Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado, a vários mosteiros de vida contemplativa espalhados pelo mundo, solicitando fervorosa oração por Bento XVI e pelo Conclave que se aproxima. A seguir, a íntegra da mensagem:

Vaticano, 21 de fevereiro de 2013

Reverenda Madre,
Reverendo Padre,

Dirijo-vos esta mensagem, enquanto a Igreja inteira acompanha com trepidação os últimos dias do luminoso pontificado de Sua Santidade Bento XVI e espera a vinda do Sucessor que os Eminentíssimos Cardeais reunidos em Conclave, guiados pela ação do Espírito Santo, escolherão, depois de terem, juntos, perscrutado os sinais dos tempos da Igreja e do mundo.

O apelo à oração dirigido a todos os fiéis por Sua Santidade Bento XVI, pedindo que O acompanhem no momento da entrega do ministério petrino nas mãos do Senhor e que esperem, confiantes, a vinda do novo Pontífice, faz-se particularmente premente para aqueles membros eleitos da Igreja que são os contemplativos. Sua Santidade Bento XVI tem a certeza de que é de vós, dos vossos Mosteiros – femininos e masculinos – espalhados pelo mundo inteiro, que se pode receber aquele recurso precioso da fé orante que, ao longo dos séculos, acompanha e sustenta o caminho da Igreja. O próximo Conclave poderá, assim, assentar de modo especial sobre a cândida pureza da vossa oração e do vosso louvor.

O exemplo mais significativo desta elevação espiritual, que manifesta a dimensão mais verdadeira e profunda de todo o ato eclesial, a do Espírito Santo que guia a Igreja, é-nos oferecido por Sua Santidade Bento XVI que, depois de ter governado a Barca de Pedro por entre os vagalhões da história, escolheu dedicar-se sobretudo à oração, à contemplação do Altíssimo e à reflexão.

O Santo Padre, a quem comuniquei os sentimentos exarados nesta carta, deu a sua aprovação pedindo-me para vos agradecer e atestar o grande amor e consideração que Ele nutre a vosso respeito.

Com estima cristã, vos saúdo unindo-me à vossa oração.

Tarcisio Card. Bertone
Secretário de Estado de Sua Santidade

Sorry, Müller.

Universidade “rebelde” do Peru e o erro do Prefeito Müller.

O ainda Secretário de Estado convocou uma reunião para avaliar a intervenção do “guardião da ortodoxia católica” junto ao ateneu peruano.

Por Andrés Beltramo Álvarez | Tradução: Fratres in Unum.com

You did it wrong!
You did it wrong!

A universidade “rebelde” do Peru permanecerá sem professores de teologia. Assim determinou a Santa Sé, após uma reunião realizada há alguns dias em Roma. Um encontro de alto nível que lançou por terra a tentativa do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller, de intervir a favor dessa instituição educativa em seu conflito com o Arcebispo de Lima e com o Vaticano. Um apoio que foi tomado como um grave erro do “guardião da ortodoxia católica”.

A reunião interdicasterial foi convocada pelo Secretário de Estado da Sé Apostólica, Tarcisio Bertone. O objetivo? Analisar a validade de uma carta enviada pelo próprio Müller ao arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani Thorne, no fim de janeiro.

Na missiva, o prefeito solicitou ao cardeal peruano explicações sobre a sua decisão de não renovar a permissão eclesiástica para lecionar a todos os professores do Departamento de Teologia da “antiga” Pontifícia Universidade Católica do Peru (ex PUCP). Esta determinação, comunicada às autoridades universitárias em dezembro, foi produto do decreto emitido pela Santa Sé em junho de 2012, que proibiu à entidade ostentar seus títulos de Pontifícia e Católica.

Uma sanção aplicada com o aval do Papa e que mantém sua plena vigência jurídica pela negação contumaz  da Assembléia Universitária em reformar seus estatutos para aderir às normas vaticanas sobre as instituições de educação superior católicas: a constituição apostólica “Ex Corde Ecclesiae”.

O prefeito alemão decidiu atuar em decorrência de uma queixa enviada a Roma por aqueles professores aos quais foram revogados o mandato canônico para lecionar. Eles argumentaram que a revogação foi aplicada por “motivos doutrinais”. Müller levou em conta sua reclamação e ordenou — em sua comunicação — que a universidade continue dando cursos de teologia, enquanto a Santa Sé não resolver o conflito de fundo.

Mas a missiva estava viciada na origem. E, portanto, foi considerada inválida pela [reunião] interdicasterial. Em primeira instância, porque se tratou de uma iniciativa “pessoal” do prefeito, que não cumpriu os requisitos de consulta aos especialistas no tema dentro da Congregação para a Doutrina da Fé.

Ademais, não foi enviada aos canais institucionais da nunciatura apostólica em Lima. No Arcebispado da capital peruana, receberam-na como um simples fax. E, o mais importante, a carta ignorou o Código de Direito Canônico, que confere ao bispo diocesano a autoridade para outorgar e revogar as permissões aos professores de religião ou ciências eclesiásticas em sua circunscrição eclesiástica. ,

O resultado da análise já foi comunicado às partes no Peru através da mala diplomática. A carta de Gerhard Müller não tem validade e se mantém intacta a decisão do arcebispo Cipriani de não conceder as permissões para o ensino da teologia na ex PUCP. O que põe a instituição em sérios apuros para cobrir os cursos obrigatórios dessa matéria no próximo ano letivo.

Por ora, as conclusões da reunião vaticana presidida por Bertone, ainda Secretário de Estado, constituirão um duro revés para o prefeito da Doutrina da Fé e, na Cúria Romana, abrirão a interrogação quanto a sua idoneidade para ocupar um posto de enorme poder que não permite improvisações nem erros, nem de forma, nem de fundo.

O decano e o camerlengo: as duas Igrejas de Sodano e Bertone.

IHU – Nos primeiros meses como secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone (Romano Canavese, 1934) se assomava de vez em quando ao apartamento a ele reservado ao lado dos seus escritórios, no primeiro andar, sob os afrescos de Rafael. Todas as vezes, fumaça preta: o apartamento ainda estava ocupado. O antecessor, cardeal Angelo Sodano (Isola D’Asti, 1927), ainda não havia ido embora. Assim, Bertone se resignava a subir ao seu alojamento provisório, na torre de São João.

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“O senhor tem que demitir o Cardeal Bertone!”

Cardeal Joachim Meisner.
Cardeal Joachim Meisner.

O Cardeal Secretário de Estado não fazia esse papel [de homem de confiança do Papa, tal como Ratzinger foi de João Paulo II]. Durante o caso Williamson, eu, uma vez, em nome de um certo número de cardeais, fui ao Papa e disse: “‘Santo Padre, o senhor tem que demitir o Cardeal Bertone! Ele está no controle’ — como se fosse o ministro responsável em um governo secular. Ele me olhou e disse: ‘Ouça com atenção! Bertone fica! Basta! Basta! Basta!’. Depois disso, eu nunca mais toquei no assunto. Diga-se de passagem, isso é típico: os Ratzingers são leais. Isso faz da vida deles nem sempre fácil. O Papa basicamente levou os seus colaboradores mais próximos da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) para a nova função, Cardeal Bertone, assim como o seu secretário, o agora Arcebispo Gänswein. Mas o antigo prefeito da CDF, Cardeal Levada, não fazia para Ratzinger o papel da forma que ele fez para João Paulo II. E o novo prefeito, Dom Müller, acabou de assumir o cargo e deve descobrir a sua própria função. Ele é um homem esperto, embora diferente do próprio Ratzinger”.

Da interessantíssima entrevista do Cardeal Joachim Meisner, arcebispo de Colônia e amigo muito próximo de Bento XVI, concedida ao Frankfurter Rundschau.