Complexidade e paradoxos na história da Igreja.

Por Roberto de Mattei

A nomeação de Dom Víctor Manuel Fernández para prefeito da Congregação da Fé tem um significado simbólico de grande importância e representa em certo sentido o cumprimento do pontificado do Papa Francisco, que no encontro com os membros da Comissão Teológica Internacional, no dia 24 de novembro de 2022, quis dar um sinal claro àqueles que definiu como “os desviados” da Igreja.

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A nomeação de 21 cardeais, incluindo o próprio Fernández, no consistório que precederá em setembro a abertura do Sínodo sobre a sinodalidade, é outro sinal nesse sentido. Francisco quer garantir que a direção que deu à Igreja não seja alterada por seu sucessor, porque “não há como voltar atrás”.

Têm então razão aqueles que estão convencidos de que as últimas escolhas do Papa Francisco são a expressão de uma ruptura radical com os pontificados que o precederam? Francisco é o pior Papa da história, ou talvez, como alguns pensam, até mesmo um antipapa?

Para o historiador, a realidade é mais complexa. Foram muitos os momentos de afastamento da Tradição da Igreja nos últimos sessenta anos, mas a primeira e mais eloquente inversão de perspectiva remonta à alocução Gaudet mater Ecclesia, de João XXIII, que em 11 de outubro de 1962 abriu o Vaticano Concílio II.

O tom da carta do Papa Francisco ao novo prefeito da Congregação para a Fé guarda notáveis ​​semelhanças, em termos de linguagem e conteúdo, com aquele documento. Na passagem central da Gaudet mater Ecclesia, João XXIII explicou que o Vaticano II foi convocado não para condenar erros ou formular novos dogmas, mas para propor o ensinamento tradicional da Igreja em uma linguagem adequada aos novos tempos. João XXII afirmou que “no presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia em vez de empunhar as armas do rigor; pensa que as necessidades de hoje devem ser atendidas, expondo mais claramente o valor do seu ensinamento do que condenando (…). De fato, uma coisa é o depósito da Fé, ou seja, as verdades que estão contidas em nossa venerável doutrina, a forma como são anunciadas é outra, mas sempre no mesmo sentido e no mesmo significado. Grande importância deve ser dada a este método e, se necessário, aplicado com paciência; isto é, deve-se adotar aquela forma de exposição que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é predominantemente pastoral”.

João XXIII atribuiu uma nota específica ao Concílio que se iniciava: seu caráter pastoral. Os historiadores da escola de Bolonha definiram a dimensão pastoral do Vaticano II como “constitutiva”. A forma pastoral tornou-se a forma do Magistério por excelência. A princípio não era óbvio para todos, mas nos meses e anos seguintes ficou claro que a alocução de João XXIII era o manifesto de uma nova eclesiologia. E esta eclesiologia, segundo teólogos progressistas, deveria ter sido o fundamento de uma nova Igreja, oposta à “constantiniana” de Pio XII. Uma Igreja que não é mais militante, não é mais definidora e assertiva, mas itinerante e em diálogo: uma igreja sinodal.

Na nova perspectiva, o Santo Ofício, que durante séculos foi o baluarte da Igreja contra os erros que a atacavam, já não tinha razão de existir, ou pelo menos devia mudar de missão. É nesta perspectiva que se situa o que aconteceu em 8 de novembro de 1963 na sala conciliar (cf. R. de Mattei, Il Concilio Vaticano II. Una storia mai scritta, Lindau, Turim 2011, pp. 346-347).

Naquele dia, o Cardeal Arcebispo de Colônia, Josef Frings (1887-1978), pediu para falar e, para surpresa geral, lançou um violento ataque contra o Santo Ofício, dirigido pelo Cardeal Alfredo Ottaviani (1890-1979). Frings denunciou os “métodos imorais” do Santo Ofício perante todos os bispos da Igreja reunidos sob a presidência do Papa, afirmando que o seu procedimento “já não convém à nossa época, prejudica a Igreja e é objeto de escândalo para muitos”.

O Cardeal Alfredo Ottaviani respondeu com um vibrante discurso no qual defendeu a missão do Santo Ofício. “Sinto-me obrigado a levantar um protesto muito forte contra o que foi dito contra a suprema Congregação do Santo Ofício, da qual o Sumo Pontífice é prefeito. As palavras proferidas demonstram um grave desconhecimento – reverentemente me abstenho de usar outro termo – sobre qual é o procedimento do Santo Ofício”.

O confronto entre Frings e Ottaviani foi, segundo o historiador Mons. Hubert Jedin, “uma das cenas mais comoventes de todo o Concílio” (Chiesa della fede, Chiesa della storia, Morcelliana, Brescia 1972, p. 314). Josef Frings não era apenas o arcebispo de Colônia: ele era o presidente da Conferência Episcopal Alemã e um dos representantes mais autorizados da aliança dos bispos da Europa Central que se opunha ao alinhamento conservador. O Cardeal Ottaviani foi o membro mais eminente da Cúria, à frente de uma Congregação definida, por sua importância primordial, como “a Suprema”, da qual o Papa, e não Ottaviani, era o Prefeito. Mas Paulo VI não defendeu publicamente o Santo Ofício e de fato credenciou a posição de Frings.

Três anos depois, em 1968, o Cardeal Frings encabeçou o protesto dos bispos centro-europeus contra a encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI. O professor padre Joseph Ratzinger, que havia sido o inspirador e escritor fantasma do Cardeal Frings no Concílio, como Dom Victor Fernández o foi do Papa Francisco, desde então começou a se distanciar da ala mais progressista da Igreja, fundando em 1972, com Hans von Balthasar, Henri de Lubac e Walter Kasper, a revista Communio. Após ser nomeado arcebispo de Munique e cardeal, em 1981 foi nomeado por João Paulo II Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que dirigiu por 24 anos. O teólogo do cardeal Frings tornou-se o chefe da Congregação que Frings havia atacado publicamente no Concílio.

Paulo VI encerrou os trabalhos do Concílio Vaticano II em 8 de dezembro de 1965. A “reforma” da Cúria foi a sua primeira iniciativa para implementar a revolução conciliar iniciada por João XXIII. O edifício curial construído ao longo dos séculos pelos Papas anteriores foi sistematicamente demolido por Paulo VI. Para começar, era necessário um evento simbólico, que foi a transformação da Congregação do Santo Ofício, renovada até no nome, às vésperas do encerramento do Concílio, com o motu proprio Integrae servandae. Na tarde de 6 de dezembro de 1965, L’Osservatore Romano publicou o decreto que aboliu o Índice de livros proibidos e transformou o Santo Ofício em Congregação para a Doutrina da Fé, afirmando que “agora parece melhor que a defesa da fé realiza-se mediante o compromisso de promover a doutrina”.

Paulo VI nomeou o teólogo belga Charles Moeller (1912-1986), defensor do progressismo ecumenista, como subsecretário da Congregação para a Doutrina da Fé, enquanto aguardava a renúncia antecipada do Cardeal Ottaviani, a qual chegou em 30 de dezembro de 1967. “Moeller – escreveu o padre Yves-Marie Congar em seu Diário – é 100% ecumenismo, é abertura ao homem, interesse pela sua pesquisa, pela cultura, é diálogo” (Diario del Concílio (1960-1966), Cinisello Balsamo , 2005 , vol. II, pp. 434-435).

Por duas vezes, em 1946 e 1954, o próprio Congar urinou na porta do Santo Ofício, em sinal de desprezo pela instituição suprema da Igreja (Journal d’un théologien (1946-1954), Editions du Cerf, Paris 2000 , pp. 88, 293). Mais tarde, em 26 de novembro de 1994, ele foi elevado ao cardinalato por João Paulo II. Isso demonstra como a história é complexa e às vezes paradoxal, cheia de eventos simbólicos, não menos memoráveis que a nomeação de Dom Fernández pelo Papa Francisco.

Sem doutrina nem fé.

Por FratresInUnum.com, 1° de julho de 2023 – Hoje, Solenidade do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o calendário tradicional, o Papa Francisco nomeou como Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé o seu amigo e ghost-writer, Dom Victor Fernandez, apelidado pelo pontífice carinhosamente como Tucho.

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O prelado é um queridinho de Francisco. Apenas eleito papa, ele o nomeou bispo e reitor da Universidade de Buenos Aires, com dignidade arquiepiscopal, ad personam, e depois o nomeou como sucessor de Dom Hector Aguer, desafeto de Francisco, na Arquidiocese de La Plata.

Tucho desde há muito afastou-se da moral católica. Ele declarou que a Igreja cometeu erros ao tentar classificar comportamentos e pessoas segundo critérios morais. A tal ponto que o Card. Müller, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, classificou Tucho como herege .

Um sacerdote, Rodrigo Vazquez, em áudio vazado, acusou  Tucho de ser “gay e efeminado”. Ele, de fato, apoia o movimento LGBT com bastante convicção!

Em sua própria página do Facebook, Tucho, no dia seguinte à rejeição do Senado Argentino ao aborto, ele se pronunciou dizendo:

“Não ouso sair à rua para festejar o não ao aborto porque creio que nem os legisladores nem a sociedade em geral possam dormir sonos tranquilos”.

O novo Prefeito do Dicastério da Fé outrora escreveu um livro cujo título é “Cura-me com a tua boca – A arte de beijar” e em cujo prefácio escreveu:

“Deixo claro que este livro não está escrito tanto a partir de minha própria experiência, mas a partir da vida das pessoas que beijam. E, nestas páginas, quero sintetizar o sentimento popular que as pessoas sentem quando pensam num beijo, o que experimentam os mortais quando beijam. Para isso, falei longamente com muitas pessoas que têm abundante experiência no tema e também com muitos jovens que aprendem a beijar de seu próprio modo. Além disso, consultei muitos livros, e quis morar como os poetas falam sobre o beijo. Deste modo, tentando sintetizar a imensa riqueza da vida, vieram à luz estas páginas a favor do beijo. Espero que lhe ajudem a beijar melhor, que lhe motivem a liberar o melhor do seu ser em um beijo” (Arcebispo, reitor e beijoqueiro. – Fratres In Unum)

Na carta do Papa Francisco ao novo Prefeito, ele lhe faz recomendações muito interessantes (Novo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. Eis a carta do Papa Francisco – Instituto Humanitas Unisinos – IHU):

– “O Departamento que você presidirá em outros tempos passou a usar métodos imorais. Eram tempos onde, ao invés de promover o conhecimento teológico, perseguiam-se possíveis erros doutrinários. O que espero de você é, sem dúvida, algo muito diferente”.

– “Deve-se acrescentar que se trata de “aumentar a inteligência e a transmissão da fé a serviço da evangelização, para que a sua luz seja critério de compreensão do sentido da existência, sobretudo no face às questões suscitadas pelo progresso da ciência e pelo desenvolvimento da sociedade”.

– “Estas questões, acolhidas num renovado anúncio da mensagem evangélica, «tornam-se instrumentos de evangelização», porque permitem entrar em diálogo com «o contexto atual no que é inédito na história da humanidade»”.

– “Além disso, vocês sabem que a Igreja “tem necessidade de crescer na interpretação da Palavra revelada e na compreensão da verdade” sem que isso implique a imposição de uma única forma de expressá-la”.

– Harmonizar «as diversas linhas de pensamento filosófico, teológico e pastoral, se se deixarem harmonizar pelo Espírito no respeito e no amor, podem também fazer crescer a Igreja». Esse crescimento harmonioso preservará a doutrina cristã com mais eficácia do que qualquer mecanismo de controle.

– É bom que tua lição de casa expresse que a Igreja “estimula o carisma dos teólogos e seu esforço de pesquisa teológica” desde que “eles não se contentem com uma teologia de mesa”, com “uma lógica fria e dura que busca dominar tudo”. Sempre será verdade que a realidade é superior à ideia.

– Nesse sentido, precisamos que a Teologia esteja atenta a um critério fundamental: considerar “inadequada toda concepção teológica que, em última instância, questione a onipotência de Deus e, sobretudo, sua misericórdia”. Precisamos de um pensamento que saiba apresentar de forma convincente um Deus que ama, que perdoa, que salva, que liberta, que promove as pessoas e as chama ao serviço fraterno.

– Sabes muito bem que existe uma ordem harmônica entre as verdades de nossa mensagem, onde o maior perigo ocorre quando as questões secundárias acabam ofuscando as centrais.

Na verdade, a nomeação de Tucho às vésperas do Sínodo sobre a Sinodalidade mostra como isso irá caminhar. Ladaria estava tentando segurar as pontas do Sínodo alemão. Agora, veremos como a coisa irá terminar.

A remoção também acontece para corrigir o intolerável erro de Ladaria, proibir benção de casais gays. A polêmica apareceu nos últimos dias (Papa Francisco versus Papa Francisco? Sobre a proibição de bênção aos casais gays, eis a outra narrativa: o Pontífice não concorda – Instituto Humanitas Unisinos – IHU) e certamente Tucho não cairá nesse mesmo erro.

Entrevista de Cardeal Müller na TV causa espanto.

Chefe doutrinal do Vaticano censura publicação de ‘dubia’, mas alguns críticos afirmam que ele se engana, enquanto surge a informação de que nenhuma das correções da Congregação para a Doutrina da Fé a ‘Amoris Laetitia’ foi aceita. 

Por Edward Pentin, National Catholic Register, 9 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: Cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé [CDF], afirmou em uma entrevista ao vivo de televisão, no domingo, que a “correção fraterna” ao Papa Francisco acerca de sua exortação apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor) “não é possível por ora”, porque a documento não “apresenta perigo para a fé”.

Mas o comentário do cardeal, feito ontem ao correspondente no Vaticano do canal italiano Tgcom24, Fabio Marchese, contrasta com revelações feitas por ao menos dois eminentes oficiais do Vaticano ao Register na semana passada, de que a CDF apresentou um grande número de correções a Amoris Laetitia antes de sua publicação, no último mês de abril, “e sequer uma das correções foi aceita”.

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Surpreso com a divulgação dos dubia

Cardeal Müller afirmou, no domingo, que os cardeais têm “todo direito de escrever uma carta ao Papa”, porém, acrescentou que estava “surpreso de que tenha se tornado público, quase forçando o Papa a dizer ‘sim’ ou ‘não'”.

“Não gosto disso”, disse. “Também, uma possível correção fraterna ao Papa parece-me muito distante; não é possível por ora, porque não se trata de um perigo para a fé, como afirmava Santo Tomás [de Aquino]”.

Ele declarou que sentia ser “uma perda para a Igreja discutir essas coisas publicamente”, acrescentando que Amoris Laetitia é “claríssima em sua doutrina e que podemos interpretar todo a doutrina de Jesus sobre o matrimônio, toda a doutrina da Igreja em 2000 mil anos de história”.

Papa Francisco, concluiu o cardeal, “pede para se discernir a situação dessas pessoas que vivem em uniões irregulares, que não estão de acordo com o ensinamento da Igreja sobre o matrimônio, e para ajudá-las a encontrar um caminho para uma nova integração na Igreja, segundo as condições dos sacramentos,a mensagem cristã sobre o matrimônio”. Ele declarou que não vê “nenhuma oposição: por um lado, temos o ensinamento claro sobre o matrimônio, por outro, a obrigação da Igreja em se preocupar com essas pessoas em dificuldade”.

Todavia, as declarações do cardeal encontraram espanto em Roma, com alguns argumentando que o cardeal perdeu o foco: a questão, dizem, não é se Amoris Laetitia pode ser lida em continuidade com a tradição, mas se é ambígua o bastante de modo que possa ser lida de maneira heterodoxa.

As observações do cardeal também vêm após a divulgação de que a CDF teve claro receio sobre o documento antes de sua publicação — preocupações que nunca foram objeto de consideração. Um bem informado oficial recentemente declaro ao Register que uma comissão da CDF que revisou um rascunho de Amoris Laetitia levantou dubia “similares” àquelas dos quatro cardeais. Esses dubia fizeram parte da correção de 20 páginas [a Amoris Laetitia] da CDF, primeiramente revelada por  Jean-Marie Genois em Le Figaro, de 7 de abril, na véspera da publicação do documento.

Outro experiente oficial foi além, revelando ao Register que, na semana passada, o Cardeal Müller disse-lhe pessoalmente que a CDF “apresentou muitas, muitas correções, e sequer uma das correções foi aceita”. Ele acrescentou que o que afirma o Cardeal na entrevista “é exatamente o contrário de tudo que ele me disse sobre a questão até agora” e que tinha a “impressão de alguém que não falava por si mesmo, mas repetia o que alguém dizia-lhe para dizer”.

Histórico forte

Cardeal Müller frequentemente falou de modo firme em defesa do ensinamento da Igreja sobre o matrimônio e a família nos últimos três anos (ver aqui e aqui). E em um discurso em Oviedo, Espanha, no ano passado, ele enfaticamente afirmou que Amoris Laetitia não abre as portas da Sagrada Comunhão a divorciados, reafirmando o art. 84 da exortação apostólica Familiaris Consortio, de S. João Paulo II, que afirma que os divorciados recasados não podem ser admitidos à Comunhão Eucarística ao menos que estejam aptos a viver em “completa continência”.

Porém, analistas afirmam que ele parece ignorar as preocupações sobre as interpretações divergentes do documento — profundas apreensões que se alega serem compartilhadas por muitos outros além dos quatro cardeais — e suspeitam que após o Papa recentemente remover três colaboradores do cardeai sem apresentar qualquer justificativa, e com uma correção formal possivelmente iminente, ele tenha se sentido compelido, ou foi compelido, a demonstrar ao Papa um inequívoco sinal de lealdade. Outros alegam que o italiano usado pelo cardeal na entrevista é mais matizado do que a tradução inglesa, que ele sabe o que está fazendo, e está tentando defender a ortodoxia e a unidade da Igreja a seu modo.

Um número significativo de conferências episcopais por todo o mundo expressaram suas preocupações ao Papa, averiguou o Register, e, como os quatro cardeais, não receberam resposta. Mesmo antes da publicação do documento,  30 cardeais, tendo lido uma versão antecipada da exortação apostólica, escreveram ao Papa expressando suas reservas, especialmente quanto à questão da Comunhão a divorciados civilmente recasados, advertindo que o documento enfraqueceria os três sacramentos essenciais da Igreja: a Eucaristia, o matrimônio e a confissão. O Papa também nunca respondeu à carta, disse uma fonte do Vaticano ao Register. 

A Sala de Imprensa da Santa Sé declinou comentar sobre a rejeição das correções da CDF a Amoris Laetitia, afirmando, em 2 de janeiro, que ela “não comenta o processo [de redação] dos documentos papais”.

Cardeal Müller também não respondeu, questionado por Register em 9 de janeiro, se está ciente da alegada confusão decorrente das diferentes interpretações de Amoris Laetitia, ou por que ele crê ser desnecessária uma correção formal quando as correções de seu próprio dicastério não foram aceitas.

Papa manda Cardeal Müller demitir 3 padres da Congregação para a Doutrina da Fé.

Por Maike Hickson, OnePeterFive | Tradução: FratresInUnum.com: Marco Tosatti, bem informado e respeitado vaticanista italiano, acaba de revelar um outro desenvolvimento preocupante em Roma. No dia 26 de dezembro, Tosatti relatou em seu próprio website Stilum Curiae que o Papa Francisco tinha acabado de pedir ao prefeito de um dicastério do Vaticano para demitir três de seus sacerdotes, removendo-os de suas funções na Congregação.

Palácio do Santo Ofício
Palácio do Santo Ofício

Minha própria pesquisa mostrou que este incidente ocorreu na Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), e que foi o próprio Cardeal Gerhard Müller, que agora tem que obedecer a estas novas ordens peremptórias. Além disso, eu consegui descobrir que os três padres envolvidos, são respectivamente, um de nacionalidade eslovaca-americano, um francês e um mexicano. (Uma das minhas fontes é um amigo de um desses três teólogos.) No entanto, ao último dos três foi permitido permanecer por algum tempo a mais em sua posição atual na Congregação.

Consideremos agora alguns dos detalhes específicos que o próprio Marco Tosatti perceptivelmente reuniu para nós. Ele começa o artigo com uma referência à repreensão habitual que o Papa Francisco faz à Cúria Romana no seu discurso de Natal e detecta a raiva óbvia do papa em suas palavras e gestos. Ao olhar para a própria Curia, no entanto, Tosatti percebe algo que vai mais além da raiva recíproca presente entre os membros: “Não se trata de sua resistência, mas do seu medo, seu descontentamento, e um tipo de sentimento que pertence a outro contexto completamente diferente.”

Tosatti, em seguida, faz alusão a uma fonte fidedigna que lhe contou vários episódios recentes ocorridos no Vaticano. Dois deles parecem ser de grande importância e podem também dar-nos alguns vislumbres adicionais sobre os métodos autoritários próprios do Papa Francisco, bem como sua maneira um tanto indireta de governar a Igreja. Mas, por ora, devemos primeiramente nos concentrar no caso dos funcionários da Congregação para Doutrina da Fé, que o próprio Tosatti diz que  “decisivamente é o mais triste”:

Um chefe de dicastério recebeu uma ordem para se livrar de três de seus empregados (que trabalham no Vaticano há várias décadas), sem qualquer explicação. Ele recebeu a carta oficial: “Do venerável encargo peço-lhe que para que se demita…”. A ordem era: envie-o de volta à diocese ou à família religiosa à qual ele é afiliado. Ele ficou muito perplexo, porque se tratava de ótimos sacerdotes e pessoas entre as mais capazes profissionalmente. Ele se recusou a obedecer, e pediu audiência ao Papa. Teve, então, que esperar, porque por diversas vezes a audiência foi transferida. Finalmente, ele foi recebido. Ele disse então: Santidade, eu recebi essas cartas, mas eu não fiz nada ainda, porque essas pessoas estão entre as melhores do meu dicastério… o que eles fizeram? A resposta foi: “e eu sou o papa, e não tenho que dar satisfações a ninguém a respeito das minhas decisões. Eu decidi que eles devem ir embora, e tem que ir embora”. Levantou-se e estendeu a mão para  significar que a audiência estava encerrada. Até 31 de dezembro, dois dos três deixarão o dicastério em que trabalharam durante anos, sem ao menos saber o porquê. Para o terceiro, ao que parece, houve uma prorrogação. Mas, há um desdobramento que, se for verdade, como parece ser, é ainda mais desagradável. Um dos dois se expressava livremente, talvez até demais, sobre algumas decisões do Papa. Alguém, muito amigo de um colaborador do Pontífice, ouviu e delatou. A vítima recebeu uma chamada muito dura do número um e depois veio a punição.” [Ênfase adicionada]

Nesta passagem, Tosatti claramente fala sobre uma febre autocrática que parece ter varrido o Vaticano [minha ênfase] E ele conclui sua matéria com as seguintes palavras:

Não é de admirar se o clima, por trás dos muros e palácios, não seja exatamente sereno. É de se perguntar qual crédito podemos dar a toda essa fanfarra sobre misericórdia.. [Ênfase minha]

Assim, Tosatti acrescenta outra peça ao quebra-cabeças que diz muito a respeito dos modos e métodos de governo que o Papa Francisco aparentemente utiliza na remoção ou marginalização de prelados ortodoxos, sacerdotes e leigos das posições de influência formativa no Vaticano.

Além disso, no que diz respeito especificamente à Congregação para Doutrina, outra fonte tinha me dito o seguinte, há um mês atrás:

“Uma fonte em Roma disse que todos aqueles que trabalham para a Santa Sé têm medo de falar sobre qualquer coisa por temor de ser visado devido à presença de informantes em todos os lugares. Chegou a comparar à Rússia stalinista. Ele disse que dois sacerdotes amigos dele, bons homens, foram demitidos da CDF porque foram acusados de serem críticos do Papa Francisco”.

Esta mesma fonte de Roma, que é pessoalmente muito honesta e bem informada, relata que esses dois sacerdotes aqui mencionados (que não parecem ser os mesmos que estão envolvidos nos últimos três casos pessoais) receiam que eles não serão os únicos a serem removidos. Eles vêem sua própria remoção apenas como o início de um “grande expurgo” [grifo meu] dentro da Congregação para a Doutrina da Fé, “não diferente do que aconteceu recentemente na Congregação para o Culto Divino do Cardeal Sarah.” (Aqui podemos lembrar o fato de que o próprio Marco Tosatti já havia chamado estas mudanças recentes na Congregação para o Culto Divino de um verdadeiro expurgo).

Também já havíamos reportado recentemente sobre a decisão anterior do papa de remover os membros da Pontifícia Academia para a Vida, que é amplamente conhecida por sua posição firme em defesa da vida humana. Aqui está o que uma fonte bem-informada relatou-me então sobre este incidente:

No final de 2016, a Academia Pontifícia para a Vida foi fechada e todos os seus membros demitidos. A Academia será reconstituída em 2017, com novos estatutos e será novamente repovoada. O processo para a nomeação dos novos membros da Academia não é conhecido.

Nós também repetidamente temos informado sobre a atmosfera de medo que agora permeia cada vez mais o Vaticano, como igualmente fez uma matéria recente do co-fundador do LifeSiteNews.

Durante este próximo ano de 2017 – centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima – possa a Mãe de Deus ser cada vez mais o nosso auxílio e o nosso refúgio confiável. Que ela nos ajude com aquelas graças necessárias para defender a verdade mais plenamente, bem como manifestar o amor de Cristo, mesmo em face do medo.

​Na mira: a Doutrina da Fé.

Por FratresInUnum.com

As recentes “Dubia” dos quatro cardeais ao Papa Francisco e, para informação, à Congregação para a Doutrina da Fé, ameaçam fortemente o atual establishment na Igreja. Literalmente, eles não têm para onde correr.

Francisco e Stella.
Francisco e Stella (ainda Arcebispo).

Hoje, Papa Bergoglio começa seu movimento de contra-ataque, com a discreta e exclusiva nomeação do Cardeal Beniamino Stella como membro da Congregação para a Doutrina da Fé. Sim, ninguém mais foi nomeado, somente ele.

Para um leitor desatento, essa nomeação parece pouco significativa. Mas, para quem conhece o mistério que paira sobre a sombria figura desse purpurado, é bastante clamorosa a movimentação, tão mais clamorosa quanto silenciosa.

Aliás, o Cardeal Stella nunca aparece na superfície desse pontificado, mas, como publicamos anteriormente, ele é a verdadeira “eminência parda” em exercício, aquele que dá as cartas, aquele que pontifica!

Agora, sua presença na Congregação para a Doutrina da Fé tem a finalidade de encurralar o Cardeal Müller, Prefeito, amigo pessoal de Papa Ratzinger, organizador de sua Opera Omnia, cujas posições contra o “Paradigma Kasper”, que não prevaleceu no Sínodo, mas apenas em “Amoris Laetitia”, são abundantemente conhecidas.

De fato, estamos no governo das sombras! Enquanto o Papa Francisco finge desconhecer as sérias perguntas dos cardeais, reservando aos mesmos apenas indiretas venenosas, não está parado, age! Começa agora o aparelhamento do antigo Santo Ofício! Realmente, a Doutrina da Fé está na mira!

Vaticano apresentará novo documento sobre carisma e hierarquia.

Cidade do Vaticano (RV) – Um novo documento da Congregação para a Doutrina da Fé, a carta “Iuvenescit Ecclesia” aos bispos da Igreja católica, “sobre a relação entre dons hierárquicos e carismáticos na vida e na missão da Igreja”, será publicado terça-feira (14/06) e apresentado em coletiva de imprensa no Vaticano.

Os Cardeais Gerhard Ludwig Mueller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos; Mons. Piero Coda, membro da Comissão Teológica Internacional e Maria del Carmen Aparicio Valls, docente na Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Gregoriana.

A carta “Iuvenescit Ecclesia” (A Igreja se rejuvenesce) estará sob embargo até 12h da data da apresentação, e será publicada em italiano, francês, inglês, alemão, espanhol e português.

Como o cardeal Müller relê o Papa.

IHU – Ponto a ponto, a exegese que o prefeito da Doutrina da Fé faz das palavras de Francisco que mais serviram a equívocos. Sobre a homossexualidade, comunhão aos divorciados em segunda união, Lutero, sacerdócio feminino, celibato do clero.

A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Chiesa.it, 29-03-2016. A tradução é do Cepat.

1zmkw41A expectativa a respeito da exortação apostólica na qual Francisco resumirá o duplo Sínodo sobre a Família é cada vez mais febril. Já estão tomando posição nas respectivas frentes as expectativas que concernem ao documento papal, o que faz prever desde agora as divisões que surgirão após sua publicação.

Por um lado, um triunfante cardeal Walter Kasper, chefe das fileiras dos reformadores, segundo o qual a exortação “será o primeiro passo de uma reforma que fará a Igreja virar a página após um período de 1700 anos” (com uma suposta referência ao Concílio de Niceia, do ano 325, cujo cânon 8, segundo uma atrevida exegese, autorizaria a comunhão aos divorciados em segunda união).

Ao passo que na frente oposta está, por exemplo, o arcebispo Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia e secretário do Papa emérito Bento XVI, segundo o qual a exortação dirá “o que sempre disse o magistério da Igreja”, sem desvios na doutrina ou na prática pastoral.

A sensação difundida é que as duas frentes têm suas razões, em razão da invencível ambiguidade que caracteriza as declarações do Papa Francisco. É fácil prever que qualquer um que desejar poderá descobrir nas mais de 200 páginas do documento a passagem que mais gostar e, como consequência, atuar.

O texto prévio da exortação também foi examinado pela Congregação para a Doutrina da Fé que, segundo algumas indiscrições, foi devolvido ao Papa com muitas propostas de modificação. Não se sabe se e em que medida Francisco levou em consideração as observações da Congregação.

No entanto, sabe-se o que pensa a esse respeito o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal alemão Gerhard L. Müller, que também é um dos treze cardeais que, no início do último sínodo, colocaram em guarda o Papa, com uma carta, acerca do perigo de “resultados predeterminados sobre importantes questões controvertidas”, em ruptura com a tradição, sobretudo no que diz respeito à comunhão aos divorciados em segunda união.

E agora Müller, justamente quando é iminente a publicação da exortação apostólica,  veio novamente à arena pública com um livro-entrevista de amplo alcance, não só a respeito da família, como também sobre outras questões candentes.

O livro saiu há alguns dias, na Espanha, publicado pela Biblioteca de Autores Cristãos, e logo também estará disponível em italiano, inglês, francês e alemão.

O título do livro lembra o do livro-entrevista que o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, publicou em 1985 e que teve um imenso eco em todo o mundo: “Informe sobre a fé”. Ratzinger não é somente o mestre de Müller, também o sucedeu no mesmo cargo na Doutrina da Fé e, além disso, é a pessoa a quem o Papa emérito confiou a publicação de toda a sua obra teológica.

Na sequência, cinco passagens do livro a respeito de um número igual de questões controvertidas.

Do “Informe sobre a esperança”, por Gerhard L. Müller

“Quem sou eu para julgar”

Justamente aqueles que até agora não mostraram nenhum respeito pela doutrina da Igreja, no momento, servem-se de uma frase solta do Santo Padre, “Quem sou eu para julgar?”, retirada do contexto, para apresentar ideias desviadas sobre a moral sexual sob uma suposta interpretação do “autêntico” pensamento do Papa.

A questão homossexual que abriu margem à pergunta realizada ao Santo Padre, já aparece na Bíblia, tanto no Antigo Testamento (cf. Gn 19; Dt 23, 18s; Lv 18, 22; 20, 13; Sb 13-15), como nas cartas Paulinas (cf. Rm 1, 26s; 1Co 6, 9s), tratada como um assunto teológico (com os condicionamentos próprios que comporta a historicidade da Revelação).

Da Sagrada Escritura se deriva a intrínseca desordem dos atos homossexuais, por não proceder de uma verdadeira complementaridade afetiva e sexual. Trata-se de uma questão muito complexa em razão das muitas implicações que emergiram fortemente nos últimos anos. De qualquer modo, a concepção antropológica que é derivada da Bíblia comporta algumas inescapáveis exigências morais e, por sua vez, um escrupuloso respeito à pessoa homossexual. Tal pessoa, chamada à castidade e à perfeição cristã mediante o domínio de si mesmo e, às vezes, com o apoio de uma amizade desinteressada, vive “uma autêntica prova, devendo ser acolhida com respeito, compaixão e delicadeza, evitando-se qualquer sinal de discriminação injusta” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357-2359).

No entanto, para além do problema suscitado com a descontextualização da mencionada frase do Papa Francisco, pronunciada como um sinal de respeito à dignidade da pessoa, parece-me evidente que a Igreja, com seu Magistério, está capacitada para julgar a moralidade de determinadas situações. Esta é uma verdade indiscutível: Deus é o único Juiz que nos julgará no final dos tempos e o Papa e os bispos têm a obrigação de apresentar os critérios revelados para este Juízo Final, que agora já se antecipa em nossa consciência moral.

A Igreja sempre diz “isto é verdadeiro, isto é falso” e ninguém pode interpretar de modo subjetivista os Mandamentos de Deus, as Bem-aventuranças, os Concílios, segundo seus próprios critérios, seu interesse ou inclusive segundo suas necessidades, como se Deus fosse apenas um fundo para a sua autonomia. A relação entre a consciência pessoal e Deus é concreta e real, iluminada pelo Magistério da Igreja. A Igreja goza do direito e da obrigação de declarar que uma doutrina é falsa, exatamente porque essa doutrina desvia as pessoas simples do caminho que conduz a Deus.

Desde a Revolução Francesa, dos sucessivos regimes liberais e dos sistemas totalitários do século XX, o objeto dos principais ataques sempre foi a concepção cristã da existência humana e seu destino.

Quando não se pôde vencer sua resistência, permitiu-se a manutenção de alguns de seus elementos, mas não do cristianismo em sua substância, sendo que este deixou de ser o critério de toda a realidade e foram favorecidas as mencionadas posições subjetivistas. Estas se originam em uma nova antropologia não cristã relativista que prescinde do conceito de verdade: o homem de hoje se vê obrigado a viver perenemente na dúvida. Mais ainda: a afirmação de que a Igreja não pode julgar situações pessoais se assenta sobre uma falsa soteriologia, ou seja, que o homem é seu próprio salvador e redentor.

Submetendo a antropologia cristã a este reducionismo brutal, a hermenêutica da realidade que dela deriva só adota aqueles elementos que interessam ou convêm ao indivíduo: alguns elementos das parábolas, certos gestos bondosos de Cristo ou aquelas passagens que o apresentariam como um simples profeta do social ou um mestre em humanidade.

Por outro lado, censura-se o Senhor da história, ao Filho de Deus que chama à conversão ou ao Filho do Homem que virá para julgar os vivos e mortos. Na realidade, este cristianismo simplesmente tolerado fica vazio de sua mensagem, esquecendo que a relação com Cristo, sem a conversão pessoal, é impossível.

Quem pode receber a Eucaristia

O Papa Francisco diz na “Evangelii Gaudium” (n. 47) que a Eucaristia “não é um prêmio para os perfeitos, mas, sim, um generoso remédio e um alimento para os fracos”. Vale a pena analisar esta frase com profundidade, para não confundir o seu sentido.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que esta afirmação expressa a primazia da graça: a conversão não é um ato autônomo do homem, mas, ao contrário, em si, é uma ação da graça. Porém, disso não se pode deduzir que a conversão seja uma resposta externa de agradecimento pelo que Deus fez em mim, ainda que por sua conta, sem mim. Tampouco posso concluir que qualquer um pode se aproximar para receber a Eucaristia, mesmo que não esteja em graça e não tenha as devidas disposições, só porque é um alimento para os fracos.

Antes de tudo, deveríamos nos perguntar, o que é a conversão? É um ato livre do homem e, ao mesmo tempo, é um ato motivado pela graça de Deus que sempre prevê os atos do homem. É por isso um ato integral, incompreensível se a ação de Deus se separa da ação do homem. […].

No sacramento da penitência, por exemplo, observa-se com toda clareza a necessidade de uma resposta livre por parte do penitente, expressada em sua contrição do coração, seu propósito de reparação, sua confissão dos pecados, sua satisfação. Por isso, a teologia católica nega que Deus faça tudo e que o homem seja puro recipiente das graças divinas. A conversão é a nova vida que nos é dada pela graça e também, ao mesmo tempo, é uma tarefa que nos é oferecida a modo de condição da perseverança na graça. […].

Só há dois sacramentos que constituem o estado da graça: o Batismo e o sacramento da Reconciliação. Quando se perdeu a graça santificante, necessita-se do sacramento da Reconciliação para recuperar esse estado, não como mérito próprio, mas como presente, como um dom que Deus oferece na forma sacramental. O acesso à comunhão eucarística pressupõe certamente a vida de graça, pressupõe a comunhão no corpo eclesial, pressupõe também uma vida ordenada conforme o corpo eclesial para poder dizer “Amém”. São Paulo insiste em que aquele que come o pão e bebe o vinho do Senhor indignamente, será réu do corpo e sangue do Senhor (1Co 11, 27).

Santo Agostinho afirma que “aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (Sermão 169). Deus pede minha colaboração. Uma colaboração que é também presente seu, mas que implica a minha acolhida desse dom.

Se as coisas fossem de outra forma, poderíamos cair na tentação de conceber a vida cristã ao estilo das realidades automáticas. O perdão, por exemplo, seria convertido em algo mecânico, quase em uma exigência, não em um pedido que também depende de mim, pois eu o devo fazer. Eu iria, então, à comunhão sem o estado de graça requerido e sem me aproximar do sacramento da Reconciliação. Inclusive, daria por certo, sem nenhuma evidência para isso a partir da Palavra de Deus, que este me concede privadamente o perdão de meus pecados para essa mesma comunhão. Este é um conceito falso de Deus, é tentar a Deus. Acarreta também um conceito falso de homem, ao desvalorizar o que Deuspode suscitar nele.

Protestantização da Igreja

Estritamente falando, nós, católicos, não temos nenhum motivo para celebrar o dia 31 de outubro de 1517, data que se considera o início da Reforma que conduz à ruptura da cristandade ocidental.

Se estamos convencidos de que a Revelação se conservou íntegra e inalterada através da Escritura e da tradição na doutrina da Fé, nos Sacramentos, na constituição hierárquica da Igreja por direito divino, fundada sobre o sacramento da Ordem sagrado, não podemos aceitar que existam motivos suficientes para se separar da Igreja.

Os membros das comunidades eclesiais protestantes consideram este acontecimento a partir de outra ótica, pois pensam que é a oportunidade adequada para celebrar a redescoberta da “palavra pura de Deus”, supostamente desfigurada através da história por tradições meramente humanas. Os Reformadores protestantes concluíram, há quinhentos anos, que alguns hierarcas da Igreja não só eram moralmente corruptos, como também haviam distorcido o Evangelho e, como consequência, haviam bloqueado o caminho de Salvação dos crentes para Jesus Cristo. Para justificar a separação, acusaram o Papa, supostamente a cabeça deste sistema, de ser o Anticristo.

Como progredir hoje, com realismo, no diálogo ecumênico com as comunidades evangélicas? O teólogo Karl-Heinz Menke está certo quando afirma que a relativização da verdade e a adoção acrítica das ideologias modernas são o principal obstáculo para a unidade na verdade.

Neste sentido, uma protestantização da Igreja Católica a partir de um pensamento secular sem referência à transcendência não nos pode reconciliar com os protestantes, nem sequer pode permitir um encontro com o Mistério de Cristo, pois Nele somos depositários de uma Revelação sobrenatural a qual todos nós devemos, desde a completa obediência do intelecto e da vontade (cf. “Dei Verbum”, 5).

Acredito que os princípios católicos do ecumenismo, tal como foram propostos e desenvolvidos pelo decreto doConcílio Vaticano II, continuam sendo plenamente válidos (cf. “Unitatis Redintegratio”, 2-4). Por outra parte, o documento da Congregação para a Doutrina da Fé “Dominus Iesus”, do Ano Santo de 2000, incompreendido por muitos e injustamente rejeitado por outros, acredito que é, sem nenhum gênero de dúvidas, a carta magna contra o relativismo cristológico e eclesiológico deste momento de tanta confusão.

Sacerdócio Feminino

A pergunta se o sacerdócio feminino é uma questão disciplinar que a Igreja poderia simplesmente mudar não é procedente, porque toca em um tema já decidido.

O Papa Francisco também deixou isto claro, assim como seus predecessores. A esse respeito, recordo que São João Paulo II, no n. 4 da Exortação Apostólica “Ordinatio Sacerdotalis”, de 1994, reforçou com o plural majestático (“declaramus”), no único documento em que este Papa usa esta forma verbal, que é doutrina definitiva ensinada infalivelmente pelo magistério ordinário universal (can. 750 § 2 CIC) que a Igreja não tem a autoridade para admitir as mulheres no sacerdócio.

É competência do Magistério decidir se uma questão é dogmática ou disciplinar. Neste caso, a Igreja já decidiu que esta proposta é dogmática e que, sendo de direito divino, não pode ser mudada, nem sequer pode ser revisada. Poderia ser justificada com muitas razões, como a fidelidade ao exemplo do Senhor ou o caráter normativo da práxis multissecular da Igreja, mas não acredito que este tema deva ser profundamente tratado aqui, pois os documentos que o mencionam expõem suficientemente os motivos para rejeitar esta possibilidade.

Não gostaria de deixar de destacar que há uma igualdade essencial entre o varão e a mulher no plano da natureza e também na relação com Deus pela graça (cf. Gl 3, 28). No entanto, o sacerdócio implica uma simbolização sacramental da relação de Cristo, cabeça ou esposo, com a Igreja, corpo ou esposa. As mulheres podem exercer cargos na Igrejasem mais, sem problema algum. A este respeito, sempre que posso torno público meu agradecimento ao numeroso grupo de mulheres leigas e religiosas, algumas delas com qualificada titulação universitária, que prestam sua indispensável colaboração à Congregação para a Doutrina da Fé.

Contudo, por outro lado, não seria sério realizar propostas a partir de simples cálculos humanos, dizendo, por exemplo, “se abrirmos o sacerdócio às mulheres, superaremos o problema vocacional” ou “se aceitássemos o sacerdócio feminino, apresentaríamos uma imagem mais moderna ao mundo”.

Acredito que esta maneira de conceber o debate é muito superficial, ideológica e, sobretudo, antieclesial, pois é óbvio que se trata de uma questão dogmática já definida por quem tem a responsabilidade por isto e não de um tema meramente disciplinar.

Celibato Sacerdotal

O celibato sacerdotal, tão contestado em certos ambientes eclesiásticos atuais, encontra sua raiz nos Evangelhos como conselho evangélico, mas também tem uma relação intrínseca com o ministério do sacerdote.

O sacerdote é mais que um funcionário religioso ao qual se atribui uma missão independente de sua vida. Sua vida tem a ver com sua missão apostólica e, por isso, claramente, na reflexão paulina e também nos mesmos evangelhos, o conselho evangélico aparece relacionado à figura dos ministros eleitos por Jesus. Os apóstolos, por seguir a Cristo, deixaram todas as seguranças humanas para trás e, em particular, sua esposa. A este respeito, São Paulo nos fala de sua própria experiência em 1Co 7, 7, onde parece considerar o celibato como um carisma singular que ele recebeu.

Atualmente, o vínculo entre celibato e sacerdócio como dom peculiar de Deus mediante o qual os ministros sagrados podem se unir mais facilmente a Cristo, com um coração inteiro (can. 277 & 1 CIC; “Pastores dabo vobis”, 29), acontece em toda a Igreja aniversal, ainda que de forma diversa. Na Igreja oriental, como sabemos, atinge apenas o sacerdócio dos bispos, mas o próprio fato de que se exija destes nos indica que tal Igreja não o concebe como uma disciplina externa.

No antes mencionado ambiente de contestação ao celibato, está muito difundida a seguinte analogia: há alguns anos, teria sido inimaginável que uma mulher pudesse ser soldada e hoje, ao contrário, os exércitos modernos contam com muitas mulheres soldada, plenamente capacitadas para um trabalho considerado tradicionalmente como exclusivamente masculino. Não acontecerá o mesmo com o celibato? Não será um inveterado costume do passado que é necessário revisar?

No entanto, a substância do ofício militar, independentemente de algumas questões de tipo prático, não reivindica um determinado sexo em quem o exercita, enquanto que o sacerdócio está em íntima conexão com o celibato.

O Concílio Vaticano II e outros documentos magisteriais mais recentes ensinam uma conformidade ou adequação interna entre celibato e sacerdócio tal, que a Igreja de rito latino não se sente capacitada para mudar tal doutrina com uma decisão arbitrária que rompa com um desenvolvimento progressivo da regulação canônica que durou longos séculos, a partir de um reconhecimento de tal vínculo interno que é anterior a tal legislação. Nós não podemos romper unilateralmente com toda uma série de declarações de papas e concílios e com a firme e continuada adesão da Igreja Católica à imagem do sacerdote celibatário.

As crises do celibato na Igreja Católica latina foi um tema recorrente em momentos especialmente difíceis na Igreja. Para citar um exemplo, podemos evocar os tempos da Reforma Protestante, os da Revolução Francesa e, mais recentemente, os anos da Revolução Sexual, nos anos 1960 e 1970 do século passado. Porém, se algo podemos aprender do estudo da história da Igreja e de suas instituições é que tais crises sempre demonstraram e consolidaram a bondade da doutrina sobre o celibato.

Roma excomunga responsável por movimento “Nós somos a Igreja”.

Por La Vie | Tradução: Fratres in Unum.com – Esse é o epílogo de um longo impasse entre o movimento Wir sind Kirche (“Nós somos a Igreja”) e o Vaticano. Segundo as informações do Tiroler Tageszeitung (em alemão), Martha Heizer, a responsável austríaca pelo movimento leigo muito crítica em relação a Roma, acaba de ser excomungada pelo Papa Francisco. Seu marido, Gert Heizer, foi igualmente atingido pela medida. De acordo com o diário alemão Die Welt (em alemão), a informação é confirmada “por círculos católicos”.

Martha Heizer

O bispo de Innsbruck, Dom Manfred Scheuer, “apresentou pessoalmente o decreto ao casal na quarta-feira, 21 de maio, à noite”, afirmou a rádio ORF Tirol (em alemão). O bispo leu o conteúdo do decreto aos dois envolvidos, que, em seguida, recusaram o documento. “Nós não aceitamos porque questionamos a integridade de todo o processo”, disse Martha Heizer à rádio austríaca.

Nesta manhã de quinta-feira, ela declara, em um comunicado (em alemão), estar “profundamente chocada ao se encontrar na mesma categoria que os padres pedófilos”. Na sua opinião, “esse procedimento mostra como a que ponto a Igreja Católica precisa de renovação”.

Eucaristias privadas

O motivo das duas excomunhões? Missas privadas celebradas sem padre na residência do casal. Há vários anos, Martha Heizer não esconde que ela e seu marido acolhem em sua casa essas celebrações, às quais alguns fiéis participam regularmente. Simulações de missas que constituem “delicta graviora” (delitos graves) aos olhos da Igreja Católica.

“O caso causou polêmica em 2011”, explica o Tiroler Tageszeitung, com a intervenção do bispo local. A Congregação para a Doutrina da Fé, em seguida, anunciou a criação de uma comissão.

Martha Heizer encabeça o movimento reformista desde 7 de abril passado — um movimento fundado na Áustria em 1995, da qual é uma das fundadoras. Aos 67 anos, Martha Heizer é conhecida por suas posições favoráveis à ordenação de mulheres e a “uma renovação da Igreja através dos leigos”, diz o Die Welt. Desde 2012, ela dirige o International Movement We Are Church (IMWAC), “Movimento Internacional Nós Somos Igreja”.

Com esta decisão, Dom Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, mantém-se fiel à sua posição anterior: em 2009, então chefe da diocese de Regensburg, o prelado alemão havia suspendido Paul Winckler, o responsável alemão da Wir sind Kirche .

Michael Amaladoss, teólogo jesuíta, é censurado pelo Vaticano. Jesuítas minimizam fato.

Michael Amaladoss, teólogo jesuíta, é censurado pelo Vaticano

IHU – O Vaticano está investigando um teólogo jesuíta da Índia por supostamente defender crenças heterodoxas, o que levanta novas questões sobre se o Papa Francisco – o primeiro papa jesuíta – de fato está movendo a Igreja Católica para uma nova direção.

A reportagem é de David Gibson, publicada no sítio Religion News Service, 12-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A notícia da ameaça de censura ao padre Michael Amaladoss, cujo livro mais conhecido é Jesus, o profeta do Oriente (Ed. Pensamento), segue o rastro de um contundente aviso sobre ortodoxia e obediência que o guardião doutrinal do Vaticano, o cardeal Gerhard Müller, entregou a um grupo de religiosas que representam a maioria das irmãs norte-americanas.

O discurso de Müller, no dia 30 de abril, às irmãs da Leadership Conference of Women Religious (LCWR) foi visto como um revés inesperado nas negociações em torno de uma investigação vaticana sobre as freiras que começou um ano antes de Francisco ser eleito. A linha dura de Müller também parecia estar fora de sintonia com o novo estilo de abertura e flexibilidade que tem marcado o jovem papado de Francisco.

Fontes da Igreja dizem que Amaladoss, um especialista altamente renomado em diálogo inter-religioso e cristologia, passou a ser vigiado pelo escritório de Müller pela primeira vez há um ano. Elas disseram que Amaladoss acreditava que as suas respostas iniciais às questões sobre os seus pontos de vista sobre a unicidade de Jesus e a Igreja Católica haviam respondido às objeções vaticanas.

Mas em janeiro o escritório de Müller voltou à tona com uma demanda para que Amaladoss escrevesse um artigo endossando publicamente as opiniões vaticanas, ou enfrentaria o silenciamento. Durante décadas, esse nível de grave sanção foi uma característica marcante do tratamento linha-dura dado aos teólogos sob o cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o Papa Bento XVI.

No início de abril, Amaladoss se encontrou com Müller e outras autoridades da Congregação para a Doutrina da Fé ” e concordou em refazer (…) essas questões à luz do diálogo”, disse o padre Edward Mudavassery, que supervisiona os jesuítas na Índia.

“Eu entendo que foi um encontro aberto e honesto, na tentativa de esclarecer questões objecionáveis”, disse Mudavassery. “Todos sabemos que o Papa Francisco é um homem de diálogo. Parece-me que a Congregação para a Doutrina da Fé também pode seguir esse caminho para resolver as diferenças, porque esses homens sob escrutínio são genuínos e leais à Igreja e aos ensinamentos de Jesus”.

Francisco saberia da investigação, mas não parece muito preocupado que ela irá acabar na punição de Amaladoss, de acordo com jesuítas familiarizados com o caso.

Francisco conhece Amaladoss por causa da sua longa e distinta carreira como jesuíta, tanto como teólogo e autor de centenas de livros e artigos, quanto também como antigo assistente do Padre Geral da Companhia de Jesus. Nessa função, ele viveu vários anos em Roma, na Cúria Geral dos jesuítas.

Amaladoss está viajando ao exterior, disse Mudavassery, e o teólogo não respondeu aos e-mails enviados a ele no Instituto de Diálogo com as Culturas e as Religiões que ele dirige em Chennai.

Mudavassery disse que não sabia de quaisquer restrições impostas a Amaladoss. Mas Amaladoss cancelou todos os compromissos de conferências e textos, enquanto tenta lidar com as preocupações do Vaticano. Fontes jesuítas disseram que Amaladoss disse à sua editora nos EUA, Orbis Books, que interrompessem os trabalhos de uma coleção planejada dos seus escritos. Os responsáveis da Orbis não quiseram comentar o status de qualquer projeto com Amaladoss.

O padre também cancelou uma conferência no Union Theological Seminary, em Nova York, marcada para o dia 8 de abril, intitulada “A teologia na Índia é realmente diferente da teologia no Ocidente?”. Uma nota no site do seminário diz: “A Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano proibiu o Dr. Amaladoss de falar e publicar até que um processo de exame do seu pensamento se conclua com sucesso” (ver reprodução abaixo).

“Amaladoss nos pediu para não comentar sobre as razões específicas desse cancelamento, e nós respeitamos a sua vontade”, acrescentou o porta-voz do seminário, Jeff Bridges.

As investigações da Congregação para a Doutrina da Fé são conduzidas em segredo, e os teólogos visados muitas vezes não sabem que estão sob escrutínio até que a investigação esteja em andamento. Eles geralmente também não sabem quem apresenta as queixas ou quem na Congregação está conduzindo a investigação.

Há muito os teólogos se queixam de que tal sigilo e as oportunidades limitadas que eles têm para responder pessoalmente às acusações têm levado a um sistema coercitivo que reflete negativamente sobre a hierarquia católica.

Durante o quarto de século que Ratzinger dirigiu o escritório sob o Papa João Paulo II, os jesuítas frequentemente eram alvos das sondagens da Congregação para a Doutrina da Fé, em parte porque os jesuítas têm um foco missionário e procuram traduzir as crenças tradicionais para os crentes modernos e para outras culturas religiosas.

O processo de engajamento com as culturas está particularmente avançado na Ásia, onde o cristianismo é uma minoria e onde os jesuítas estabeleceram um porto seguro para o catolicismo. Mas isso também significa que os teólogos que lá trabalham costumam usar formulações não tradicionais para tentar comunicar a fé aos públicos hindus ou budistas que têm pouca compreensão dos pontos de vista ocidentais sobre Deus e Jesus.

O próprio mestre de Amaladoss, o jesuíta belga Jacques Dupuis, enfrentou uma longa e cansativa investigação por parte da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os seus pontos de vista sobre o pluralismo religioso. Seus colegas dizem que o estresse provocado pela sondagem, liderada por Ratzinger, contribuiu para a morte de Dupuis em 2004.

* * *

Jesuítas indianos minimizam censura vaticana a Michael Amaladoss

IHU – O provincial jesuíta do sul da Ásia, o padre Edward Mudavassery, minimizou os relatos generalizados de que o Vaticano lançou uma investigação sobre os escritos do padre Michael Amaladoss (foto), um proeminente teólogo jesuíta indiano.

A reportagem é de Christopher Joseph, publicada pela agência UCA News, 14-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Até onde eu sei, não há nenhuma investigação, e ele não foi impedido de escrever e de lecionar”, disse o padre Mudavassery nessa terça-feira.

Ele acrescentou que a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano convidou o Pe. Amaladoss a Roma na primeira semana de abril para um “diálogo” sobre evangelização, mas insistiu que as conversas com as autoridades da Congregação ocorreram de “forma amigável”.

O Pe. Amaladoss, 77 anos, conhecido mundialmente pelos seus ensinamentos sobre cultura e diálogo inter-religioso na Ásia, estaria atualmente na Europa, em uma visita pessoal, e não pôde ser contatado para mais detalhes.

O teólogo, que pertence à província de Madurai dos jesuítas, trabalhou em Roma de 1983 a 1995 como assistente-geral do superior jesuíta da época, Peter-Hans Kolvenbach, com responsabilidades especiais para as questões de evangelização, inculturação e diálogo inter-religioso.

Uma importante autoridade da província de Madurai, que pediu para não ser identificada, confirmou ao sítio UCANews.com que a correspondência entre a Congregação para a Doutrina da Fé e o Pe. Amaladoss “tem ocorrido há algum tempo, ao menos há dois a três anos”.

As questões que estão sendo discutidas não se referem a “nenhum livro dele em particular, mas sim a como proclamar Jesus a um público asiático”, disse a autoridade.

Desde o Concílio Vaticano II, os teólogos asiáticos – especialmente indianos – têm trabalhado para interpretar a Bíblia e a liturgia nos termos das filosofias e das culturas orientais, a fim de ajudar os asiáticos a compreendê-las.

Não é desconhecido para alguns desses teólogos o fato de estarem sob investigação vaticana, seguida de reprimendas e até mesmo de excomunhão por expressarem opiniões heterodoxas.

Dentre eles, o mais proeminente foi o teólogo Tissa Balasuriya, do Sri Lanka, que foi excomungado em 1997, quando o cardeal Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornou o Papa Bento XVI, chefiava a Congregação para a Doutrina da Fé. A excomunhão foi levantada um ano mais tarde, depois que Balasuriya assinou uma profissão de fé. Ele morreu no ano passado, aos 89 anos.

Papa Francisco e Dom Fellay, o encontro. Mais detalhes.

Andrea Tornielli traz mais detalhes sobre o encontro entre o Papa Francisco e Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

“O encontro teria ocorrido nas primeiras semanas de 2014. Dom Fellay fora convidado para jantar em Santa Marta pelo bispo Guido Pozzo, secretário da Pontíficia Comissão “Ecclesia Dei” e pelo arcebispo Augustin Di Noia, vice-presidente da mesma comissão. Junto ao prelado tradicionalista estiveram presentes o padre Niklaus Pfluger e o padre Marc Nely (primeiro e segundo assistente do superior geral, que naquele dia assistiram à Missa celebrada pelo Papa em Santa Marta [mas não concelebraram], de acordo com o que noticiou a agência IMedia).

O Papa estava à mesa de costume no refeitório da Casa Santa Marta; Fellay, com seus dois assistentes, Pozzo e Di Noia, estavam numa outra mesa. Quando Francisco se levantou ao fim do jantar, o superior da Fraternidade São Pio X fez o mesmo e caminhou em direção ao Papa, ajoelhando-se para pedir uma benção. O encontro foi, portanto, breve, não se tratou de nenhum audiência, nem de um longo colóquio face a face. Viver em Santa Marta permite e facilita ao Papa Bergoglio esse tipo de contato, mais ou menos casul.

Com o retorno, no último mês de agosto, de Dom Pozzo à “Ecclesia Dei, depois de um parêntese de alguns meses na Esmolaria Apostólica, era esperado que se pudesse reatar o diálogo entre a Santa Sé e a Fraternidade São Pio X. Na Congregação para a Doutrina da Fé há, todavia, aqueles que reivindicam– depois de anos de diálogo e depois da não aceitação do preâmbulo doutrinal — um novo ato formal contra os lefebvrianos. No momento, parece, porém, prevalecer a linha de espera.

O jantar com Di Noia e Pozzo, e a benção papal, é um episódio certamente emblemático de acolhimento por Francisco. Seria, no entanto, um erro lhe atribuir excessiva importância em relação a eventuais desenvolvimentos sobre a posição dos lefebvrianos.

[Atualização – 12 de maio de 2014, às 12:35] A página oficial do Distrito da França da FSSPX faz o seguinte esclarecimento – tradução de Fratres in Unum.com:

Os Padres Pfluger e Nély nunca assistiram à missa privada do Papa e os jornalistas que o afirmam teriam muita dificuldade em indicar o dia dessa suposta assistência. Eis os fatos:

Em 13 de dezembro de 2013, Dom Fellay e seus assistentes foram a Roma, a pedido da Comissão Ecclesia Dei, para um encontro informal. Ao fim dessa reunião, Dom Guido Pozzo, Secretário da Comissão, convidou seus interlocutores para almoçar no refeitório da Casa Santa Marta, onde a eles se juntou Dom Augustin Di Noia, secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé. É nesse amplo refeitório que o Papa faz suas refeições diárias, afastado de outros comensais.

Dom Pozzo apresentou Dom Fellay ao Papa no momento em que ele deixava o refeitório. Houve uma breve conversa onde Francisco disse a Dom Fellay, de acordo com a fórmula usual de polidez, “Estou muito feliz em conhecê-lo”; ao que Dom Fellay disse que rezava muito, e o papa lhe pediu para rezar por ele. Este foi o “encontro” que durou alguns segundos.

Na entrevista que concedeu a Rocher (abril-maio de 2014), Dom Fellay havia respondido à seguinte questão: Houve alguma aproximação oficial de Roma para retomar contato desde a eleição do Papa Francisco?  – “Houve uma aproximação ‘não-oficial’ de Roma para retomar contato conosco, mas nada mais e eu não solicitei uma audiência como eu pude fazer após a eleição de Bento XVI. Para mim, atualmente, as coisas são muito simples: nós permanecemos onde estamos. Alguns concluíram dos contatos realizados em 2012, que eu coloquei como princípio supremo a necessidade de um reconhecimento canônico. A preservação da fé e a nossa identidade católica tradicional é primordial e continua sendo nosso primeiro princípio”.