Fraternidade São Pio X, há 30 anos da ruptura com Roma. Entrevista com Bernard Fellay.

IHU – No dia 29 de junho, completaram-se 30 anos desde que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada em 1970 pelo arcebispo Marcel Lefebvre, separou-se de Roma.

A reportagem é de Regina Einig, publicada em Tagespost e republicada em Settimana News, 01-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

0760d-mgr_fellay_itv_1_bisDe acordo com os dados fornecidos pela própria fraternidade (em 1º de janeiro de 2018), hoje ela está assim constituída:

– 1 casa generalícia;
– 6 seminários;
– 6 casas de formação;
– 14 distritos;
– 4 casas autônomas;
– 167 priorados;
– 772 igrejas, capelas e centros de missa;
– 2 institutos universitários;
– mais de 100 escolas;
– 7 casas de repouso;
– 4 (-1) bispos;
– 637 sacerdotes;
– 204 seminaristas;
– 56 pré-seminaristas;
– 123 frades;
– 195 freiras;
– 79 oblatos;
– 4 carmelitas;
– 19 irmãs missionárias no Quênia.

Fraternidade está presente em 37 países e atende a 35 outros, desempenhando seu apostolado, no total, em 72 países ao redor do mundo. Inúmeras ordens de rito latino e de rito oriental estão conectadas a ela.

Desde 1994, quem está à frente da Fraternidade é Dom Bernard Fellay, que espera poder chegar a uma reconciliação com Roma. Mas com quais condições?

Sobre essa questão e sobre os fatos dos 30 anos de separação, o jornal semanal católico alemão Tagespost, na quinta-feira passada, 28 de junho, publicou a seguinte entrevista.

Eis a entrevista.

Excelência Dom Fellay, como o senhor entendeu, há 30 anos, a consagração episcopal? Para o senhor, foi uma separação definitiva por parte da Fraternidade São Pio X em relação a Roma, ou uma etapa intermediária do conflito em vista de uma reconciliação?

Se tivesse se tratado de uma separação de Roma, eu não estaria aqui hoje. O arcebispo (Lefebvre) não teria me consagrado por essa razão, e eu também a teria rejeitado. De fato, não se tratava de uma separação da Igreja, mas sim de um afastamento do espírito moderno, dos frutos do Concílio. Agora, também há outros que admitem que se tratou de algo que se desenvolveu de maneira equivocada. Muitas considerações e muitos aspectos que combatemos no passado e que combatemos hoje também são confirmados por outros atualmente. Nunca dissemos que o Concílio afirmou diretamente heresias. Mas sim que foi removido o muro de defesa contra o erro, e, desse modo, permitiu-se que ele entrasse. Os fiéis precisam de proteção. Nisso consiste a luta constante da Igreja para defender a fé.

Mas nem todos aqueles que criticam o “Concílio das mídias”, incluindo o Papa Emérito Bento XVI, pensam em um conflito até a excomunhão. Por que vocês não fortaleceram as fileiras daqueles que são fiéis à tradição na Igreja e combatem pela verdade em união com Roma?

Isso se deveu em parte à história da França. A partir da Revolução Francesa, uma boa parte dos católicos franceses combate contra o erro do liberalismo. Por isso, aqui, os acontecimentos, durante e após o Concílio, foram percebidos de maneira muito mais sensível e atenta do que na Alemanha. Não se tratava de erros evidentes, mas sim de tendências, de abertura de portas e janelas. As reformas que se seguiram demonstraram isso mais claramente do que o próprio Concílio. O problema se condensou sobre a nova missa. Em Roma, disse-se ao arcebispo Lefebvre aut aut: “Se o senhor celebrar a nova missa, está tudo bem”. Os nossos argumentos contra a nova missa não importavam nada. Enquanto isso, o missal de Paulo VI foi composto com a colaboração de teólogos protestantes. Se somos forçados a celebrar essa missa, então realmente surge um problema. E nós fomos levados a fazer isso.

A recusa de vocês em relação à nova missa reforçou no senhor e também no arcebispo Lefebvre a convicção de que a separação de Roma é vontade de Deus?

Insisto em dizer: nós nunca nos separamos da Igreja.

Mas o fato da excomunhão fala por si só. Por que o Papa Bento XVI teria que removê-la?

No direito católico de 1917, a consagração episcopal sem mandato do papa não é considerada um cisma, mas apenas um abuso de poder e sem excomunhão. Toda a história da Igreja tem outra visão do problema da consagração episcopal sem mandato do papa. Isso é muito importante.

Por que é tão importante? Em 1988, já estava em vigor o novo código da Igreja – e o Código de Direito Canônico de 1917 também obriga o bispo à fidelidade à Santa Sé.

Estávamos em um estado de necessidade, porque Roma havia nomeado um bispo para nós. No encontro entre o cardeal Ratzinger e o arcebispo Lefebvre, em 5 de maio de 1988, havia-se falado da data da consagração. O arcebispo Lefebvre e o cardeal Ratzinger não conseguiram chegar a um acordo. O arcebispo Lefebvre tinha uma proposta. Tenho certeza de que se, na época, o cardeal Ratzinger tivesse confirmado o dia 15 de agosto como data, sem mudar o candidato, o arcebispo teria aceitado. Mas a data permaneceu em aberto. Quando o arcebispo perguntou ao cardeal: “Por que não no fim do ano?”, ele recebeu esta resposta: “Não sei, não posso dizer”. O arcebispo pensou que estavam brincando com ele. Certamente, foi um ponto de desconfiança. E a desconfiança permaneceu até hoje como uma palavra-chave da nossa história. Nós trabalhamos para superá-la, e então sempre surge algo – é realmente cansativo.

(Nota da redação do Tagespost: o papa emérito informou a redação do Tagespost que não se lembra mais dos detalhes, mas que tem certeza de que os problemas pessoais desempenharam apenas um papel secundário. João Paulo IItinha consentido claramente com uma consagração episcopal. Mas, acrescentou o então cardeal Ratzinger, definir uma data não era tarefa sua. Ao término do colóquio, o arcebispo Lefebvre tinha assinado o protocolo que – se tivesse permanecido no “sim” – teria significado o acordo. Um colaborador da Congregação para a Doutrina da Fé, no dia seguinte, como combinado, tinha ido ao encontro de Lefebvre em Albano para retirar o documento. Para o pânico de todos, Lefebvredeclarou que não havia dormido toda a noite e que tinha chegado à conclusão de que queriam se usar do acordo para destruir a sua obra.)

Por que o cardeal Ratzinger, grande especialista e defensor da Tradição católica e amigo da missa tradicional, não conseguiu tranquilizar a desconfiança do arcebispo?

Ele não entendeu como eram profundas as razões do arcebispo e a desorientação dos fiéis e dos padres. Muitos não aguentavam mais escândalos e desconfortos pós-conciliares, e também o modo em que a nova missa era celebrada. Se o cardeal Ratzinger tivesse nos compreendido, ele não teria agido isso. E acho que ele se arrependeu. Por isso, como papa, tentou reparar os danos com o motu proprio e remover a excomunhão. Somos-lhe realmente gratos pelas suas tentativas de reconciliação.

Mas o cardeal Ratzinger, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, também teve que ter em mente as reações dos outros fiéis. Por exemplo, irritava que os membros da Fraternidade São Pio X contradissessem pontos tão importantes quanto o problema da validade da missa. Muitos de seus membros pensam que, ao participar da nova missa, considerada por eles como “herética”, não cumprem a obrigação dominical.

Eu nego isso decisivamente. Nós já falamos da invalidez de muitas missas. Mas dizer que todas as missas são inválidas não corresponde à linha da Fraternidade. É algo que nunca dissemos. Na discussão com Roma, sempre enfatizamos que reconhecemos a validade da nova missa, se for celebrada de acordo com os livros e a intenção de fazer aquilo que a Igreja tem o mandato de cumprir. A esse respeito, é preciso distinguir entre válido e bom.

Onde está a diferença na sua opinião?

nova missa tem lacunas e esconde perigos. Naturalmente, nem toda nova missaconstitui diretamente um escândalo, mas a celebração repetida da nova missa leva a uma fé fraca e até à sua perda. Vemos como todos os dias são cada vez menos os padres que ainda acreditam na presença real. Na velha missa, a liturgia alimenta a fé. Vamos à rocha, somos fortalecidos nessa fé. Algumas ações nos levam ainda mais à fé, por exemplo, a fé na presença real, no sacrifício – somente ajoelhando-nos, através do silêncio, a atitude do padre. Na nova missa, a pessoa precisa levar a fé consigo, ela não a recebe diretamente do rito. O rito é insípido.

Mas, mesmo antes da reforma litúrgica, havia padres com uma fé fraca, modernistas e heréticos. Aqueles a quem o senhor chama de Padres conciliares liberais cresceram todos com a velha missa e foram consagrados de acordo com o velho rito. O senhor acha que as conversões que ocorrem hoje, mesmo através da nova missa – pense nos Nightfevers –, são um autoengano?

Não, não digo isso. Digo apenas isto: se você recebe o presidente de um Estado, na escolha entre um trompete de prata e um de latão, pega o de latão? Seria uma ofensa: uma coisa que não se faz. E as melhores novas missas também são como um trompete de latão em comparação com a velha liturgia. Pelo bom Deus, é preciso escolher o melhor.

Recentemente, o senhor disse em um sermão: “Como vocês podem ousar celebrar uma missa tão pobre, tão vazia e insípida? Não se honra a Deus desse modo”. Mas a nova missa para os católicos é ainda hoje o tesouro mais precioso das suas vidas, e ainda hoje a Igreja gera mártires e santos. Por que o senhor não ressalta isso na pregação?

Concordo que, na discussão teológica, é preciso distinguir. Mas, em um sermão, não se pode apresentar tudo de forma tão teológica. Também é preciso um pouco de retórica para sacudir um pouco os ânimos e para abrir os olhos das pessoas.

O Papa Francisco quer estender a mão à Fraternidade Sacerdotal para uma reconciliação. O senhor ainda pensa em um acordo ou este kairós é uma oportunidade perdida?

Eu sou otimista. Mas não posso antecipar a hora de Deus. Se o Espírito Santo é capaz de influenciar o atual pontífice, então ele também fará o mesmo com o próximo. Foi o que efetivamente aconteceu. Também com o Papa Francisco. Quando ele foi eleito, pensei: agora chegará a excomunhão. Em vez disso, um caso contrário foi o cardeal Müller, que queria que a excomunhão chegasse, mas o Papa Francisco recusou. Ele me disse pessoalmente: “Não quero condená-lo”. A reconciliação chegará. A nossa Mãe Igreja está atualmente dilacerada de maneira incrível. Os conservadores nos querem e também disseram isso à Congregação para a Doutrina da Fé. Os bispos alemães, ao contrário, não nos querem de modo algum. Roma deve levar em conta todos esses elementos – podemos entender isso. Se nós fôssemos assim, simplesmente, haveria uma guerra na Igreja. Existe o medo de que possamos triunfar. O Papa Francisco disse aos jornalistas: “Cuidarei para que não haja nenhum triunfo”.

Mas as tensões e os medos também existem entre os membros da Fraternidade São Pio X. Na França, muitos padres e leigos se separaram da Fraternidade, porque as negociações com o Vaticano já suscitaram desconfiança. Como os irmãos de São Pio X poderiam aceitar uma reconciliação com Roma?

Isso dependerá do que Roma quiser de nós. Sigamos em frente assim e demo-nos garantias – então ninguém irá embora. A desconfiança está no medo de ter que acolher o novo. Se nos pedirem para percorrer estradas novas, então ninguém vai nos seguir.

O que lhe dá tanta certeza de que todos poderão lhes seguir? Bastou o anúncio dos diálogos para despertar uma forte inquietação e para provocar saídas significativas. Que conclusão poderia tranquilizar os seus membros? Mesmo depois de um acordo, a desconfiança não desapareceria.

É verdade. Existe uma atitude amigável, existe benevolência. Há anos, trabalhamos com Roma para restabelecer a confiança. E fizemos grandes progressos, apesar de todas as reações. Se chegarmos a um acordo razoável com condições normais, serão muito poucos os que irão embora. Eu não temo uma nova cisão na tradição, se for encontrada a solução justa com Roma. Nós devemos questionar certos pontos do Concílio. Os nossos interlocutores em Roma nos disseram: os pontos principais – liberdade de consciênciaecumenismonova missa – são problemas em aberto. Trata-se de um progresso incrível. Até agora se dizia: vocês devem obedecer. Agora, os colaboradores da Cúria dizem: vocês deveriam abrir um seminário em Roma, uma universidade para a defesa da tradição. Não é mais tudo preto e branco.

Como deveria ser uma solução razoável?

Uma prelazia pessoal.

Se a forma jurídica já foi encontrada e os diálogos com Roma correram bem, por que razão faltou o passo decisivo até agora?

No ano passado, o arcebispo Pozzo nos disse que a Congregação para a Doutrina da Fé havia aprovado o texto que deveríamos assinar. Devíamos estar de acordo com uma prelazia pessoal. Um mês e meio depois, o cardeal Müller decidiu rever o texto e pedir uma aceitação mais clara do Concílio e da legitimidade da santa missa. Primeiro, tinham aberto canais de discussão para nós. Depois, foram fechados. O que realmente se quer de nós? Aqui o diabo está no meio. É uma luta espiritual.

Pessoalmente, o senhor tem confiança no Papa Francisco?

Temos uma relação muito boa. Quando lhe informamos que nos encontramos em Roma, a sua porta está aberta. Ele sempre nos ajuda através de pequenos passos. Por exemplo, ele nos disse: “Tenho problemas quando faço algo de bom para vocês. Eu ajudo protestantes e anglicanos – por que não posso ajudar católicos?”. Existem vários que querem impedir o acordo. Nós somos um fator de perturbação na Igreja. E o papa se encontra no meio disso.

Dom Bernard Fellay, superior da FSSPX: Pouco a pouco, Roma nos está dando tudo o que precisamos para a reconciliação.

Em uma longa entrevista ao Register [ver vídeos legendados aqui], o líder da Fraternidade Sacerdotal tradicionalista detalha como Papa Francisco abriu a porta para a plena integração da FSSPX à Igreja.

Por Edward Pentin, National Catholic Register, 19 de maio de 2016 | Tradução: FratresInUnum.comMenzingen, Suíça – A reconciliação entre a Fraternidade São Pio X e Roma parece ser iminente, já que o principal obstáculo – oposição a certos aspectos do Concílio Vaticano II – não mais seria uma causa para uma separação contínua da Igreja.

Dom Bernard Fellay
Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade São Pio X.

Dom Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade São Pio X, disse ao Register no dia 13 de maio que ele está “persuadido, pelo menos em parte, de uma abordagem diferente”, segundo a qual ele acredita que o Papa Francisco está colocando menos peso sobre o Concílio e mais ênfase em “salvar almas e encontrar uma maneira de fazê-lo”.

Essa mensagem foi reforçada esta semana quando o próprio Papa Francisco sugeriu que uma reconciliação poderia estar próxima, ao declarar ao jornal católico francês La Croix, em 16 de maio, que os membros da FSSPX são “católicos a caminho da plena comunhão” e que um “bom diálogo e um bom trabalho estão em andamento”.

De acordo com Dom Fellay, o Vaticano está dizendo à Fraternidade, por meio de palavras cheias de nuances, que agora é possível questionar os ensinamentos do Concílio sobre a liberdade religiosa, o ecumenismo e a reforma litúrgica “e permanecer católicos”.

“Isso significa, também, que os critérios que eles impõem sobre nós, para provarmos para eles que somos católicos, não mais serão necessários , disse ele. “Isso, para nós, seria muito importante”.

Em 1970, o Arcebispo Marcel Lefebvre, dos Padres do Espírito Santo, fundou a fraternidade internacional para formar e apoiar sacerdotes destinados a espalhar a fé católica pelo mundo inteiro.

Mas a sua oposição a alguns ensinamentos do Concílio Vaticano II no tocante ao ecumenismo, a liberdade religiosa e aspectos da reforma litúrgica veio à tona em 1988, quando Dom Lefebvre sagrou quatro bispos em 1988 contra a vontade expressa do Papa João Paulo II. Todos os cinco incorreram em excomunhão automática, e a fraternidade permaneceu em uma situação canonicamente irregular desde então.

Dom Lefebvre morreu em 1991 e o Vaticano e a FSSPX começaram a trabalhar por uma reconciliação desde o ano 2000.

Bento XVI procurou melhorar as relações, em primeiro lugar, em 2007, confirmando que os sacerdotes podem celebrar a missa em latim segundo o Missal Romano de 1962 (oficialmente chamado de forma extraordinária da Liturgia) e salientando que ele jamais havia sido revogado, e em seguida anulando as excomunhões dos quatro bispos vivos da FSSPX em 2009.

Ele também abriu colóquios de reconciliação formais com a FSSPX em 2011, mas tais colóquios posteriormente fracassaram porque o Vaticano, aparentemente em contraste com os próprios desejos de Bento XVI, elevou suas exigências sobre a questão central: que a fraternidade deveria aceitar a validade de todos os ensinamentos do Concílio, incluindo os textos sobre liberdade religiosa e direitos humanos, que a FSSPX rejeita como erros teológicos.

A última inovadora e surpreendente concessão sobre esta questão tem, portanto, o poder de trazer a FSSPX à beira da regularização,  que segundo algumas fontes, poderá acontecer em questão de semanas ou meses.

Papa Francisco recebeu Dom Fellay, pela primeira vez em audiência privada no mês passado, sinalizando uma intenção clara da parte do Santo Padre, o qual deseja que a fraternidade seja regularizada. “Dom Fellay é um homem com quem se pode dialogar “, disse Francisco ao La Croix.

O Papa também anunciou que confissões da FSSPX seriam válidas e lícitas tanto durante como após o Ano Jubilar da Misericórdia. Até então, Roma as considerava como inválidas porque faltava-lhes a jurisdição necessária.

Acredita-se agora que a FSSPX está com um rascunho de um acordo do Vaticano para assinar e formalizar a regularização, mas quer ter certeza de que tem garantias seguras. “A bola está na quadra deles”, disse uma fonte do Vaticano ao Register do dia 12 de maio. “Queremos que eles a toquem pra frente.”

A mensagem de Menzingen

Dom Fellay sentou-se para uma longa entrevista com o Register numa chuvosa e tempestuosa sexta-feira de maio, festa de Nossa Senhora de Fátima, na Casa Geral da FSSPX em Menzingen, perto de Zurique, Suíça.

O edifício modesto, uma ex-pousada suíça, cercada por campos agrícolas ao sopé dos Alpes, está passando por uma reforma. Cerca de 25 padres e freiras vivem lá; e devido às abundantes vocações da FSSPX, eles estão contemplando a busca por instalações maiores em breve. Em uma mesa repousa um jarro de estanho único, rodeado por várias pequenas canecas, cada uma gravada com um momento chave da vida de Dom Lefebvre.

Apesar de uma agenda lotada e cansativa marcada por longas viagens, Dom Fellay chegou de bom humor e falou livre e abertamente em inglês. Ele está bem ciente do quão surpreendente e estranho parece ser o fato de que uma reconciliação estaria tão perto, sob o pontificado de um papa considerado como sendo muito mais preocupado com outros assuntos.

“[A situação] é realmente paradoxal, porque nós não mudamos nada, e nós continuamos a denunciar o que está acontecendo”, disse ele. “No entanto, você vê esse movimento a nosso favor, dentro de Roma.” Ele disse que tem notado que quanto mais tempo as negociações tomam, mais leniente Roma se torna.”

Mas ele também observou duas abordagens diferentes em Roma para a questão da FSSPX. “Temos de distinguir a posição do Papa, que é uma coisa, e, em seguida, a posição do CDF”, explicou ele, fazendo referência ao órgão doutrinário do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal Gerhard Müller, que está oferecendo maiores concessões para a regularização. “Eles não têm a mesma abordagem, mas têm a mesma conclusão, que é: vamos acabar com o problema dando o reconhecimento para a fraternidade”.

De acordo com o líder da FSSPX, a Congregação para a Doutrina da Fé tem uma “nova perspectiva” sobre a fraternidade, e, contrariamente às observações feitas pelo cardeal Müller em 2014, ele já não vê o grupo como cismático.

“Isso significa que os pontos que nós defendemos não tocam naqueles pontos que separariam a fraternidade da Igreja, quer seja no nível do cisma ou pior, quer seja no nível de heresia, contra a fé”, disse Dom Fellay. “Eles [CDF] ainda estimam que algo deveria ser esclarecido sobre a questão da percepção do que é o magistério. Mas nós alegamos que são eles que o fazem confuso”.

Em uma entrevista à Zenit, em fevereiro, Dom Guido Pozzo, secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, encarregado da regularização da FSSPX, disse que a Santa Sé quer mais “esclarecimentos” sobre as críticas da Fraternidade ao Concílio, mas isso poderia ter lugar “mesmo depois da plena reconciliação.” Ele disse que a FSSPX deve também afastar-se de “confrontos polêmicos e antagônicos.” Uma fonte do Vaticano revelou que a Fraternidade já “baixou o tom em alguns de seus escritos, entrevistas e publicações”.

Confirmando o que fontes em Roma disseram ao Register, Dom Fellay implicitamente deixou claro que é o Vaticano que se aproximou da FSSPX, em vez do contrário, mesmo porque a Fraternidade vê a reconciliação como um direito e porque seria uma “injustiça não dá-la a nós”. De acordo com o líder do grupo, o Arcebispo Lefebvre nunca quis romper com Roma, e a Fraternidade sempre insistiu que nunca estiveram em cisma.

Dom Fellay disse que alguns no Vaticano vêem a FSSPX como vindo para o “resgate” da Igreja e por outros como vindo em auxílio da Igreja e revelou que isso é mencionado no documento de conciliação que lhes fora oferecido para assinar. Uma fonte informou disse que Roma está dando à fraternidade “tudo” o que precisam para a plena reconciliação.

Mas alguns ligados à FSSPX – incluindo o ex-bispo da FSSPX Richard Williamson, que foi expulso da fraternidade em 2012, alegadamente por ter semeado dissidência dentro da FSSPX e aconselhado contra a reconciliação com o Vaticano – acusam Dom Fellay de estar buscando a reconciliação a qualquer custo e com isso a fraternidade corre o risco de ficar sob a influência do que o bispo Williamson chama de “loucos modernistas” que ocupam o Vaticano.

Dom Fellay rejeita essa posição como “totalmente errada”, insistindo: “Nós não vamos fazer concessões que firam a fé ou a disciplina da Igreja”. Em vez disso, declarou: “estamos pedindo de Roma garantias de que nós podemos continuar da forma como fazemos”.

“Roma está, pouco a pouco, concedendo o que vemos como uma necessidade e o que eles começam a ver como uma necessidade, dada a situação da Igreja”, disse ele.

Uma prelazia pessoal semelhante à do Opus Dei seria a estrutura canônica mais provável e, já com relação à questão sensível das nomeações episcopais, a FSSPX concordou que seja o Papa a escolher um candidato de uma lista de três candidatos propostos pela Fraternidade.

Dom Fellay disse que o Papa Francisco o deixa perplexo mas que é alguém com quem ele pode finalmente lidar a nível pessoal. “O modo normal de julgar alguém é decorrente de suas ações e concluir que ele está agindo assim porque é assim que ele pensa”, explicou. “Com o atual Papa, você fica totalmente confuso, porque um dia ele faz ou diz alguma coisa e no dia seguinte ele faz ou diz, quase o contrário.”

Diálogo com o Papa Francisco

Mas o franco-suiço líder da FSSPX aprendeu a se comunicar com este Papa, reconhecendo que Francisco muitas vezes parece ver a doutrina como um obstáculo para levar as pessoas até Jesus. Para o Papa, disse Dom Fellay: “o que é importante é a vida, é a pessoa, e assim ele tenta olhar para a pessoa, e é nisso, se assim posso dizer, é que ele é muito humano.”

Quanto aos motivos do Papa, Fellay acredita que Francisco é alguém que quer ver todos salvos, assim “como alguém que trabalha com resgate, ele desamarra a corda, que é a sua segurança, e colocar-se em uma situação de risco para tentar chegar às outras pessoas”, e “que é provavelmente o que ele está fazendo com a gente”.

Ao ser perguntado se ele achava que as condenações frequentes do Papa contra os “doutores da lei” e “fundamentalistas” foram parcialmente dirigidas a ele e à Fraternidade, ele riu, dizendo que as pessoas em Roma lhe disseram que nem eles mesmos sabem a quem o Papa se refere. “A resposta que mais obtive foi “os conservadores americanos”! Ele riu. “Então, realmente, francamente, eu não sei.”

No tocante à visão geral do Papa em relação à FSSPX, Dom Fellay falou que a sua familiaridade com a FSSPX em Buenos Aires ajuda. Na verdade, em sua entrevista com La Croix, Francisco disse que “muitas vezes falou” com os membros da FSSPX em Buenos Aires. “Eles me cumprimentavam, me pediam de joelhos uma bênção”, disse Francisco.

O Papa vê que “nós nos preocupamos com as pessoas”, disse o Bispo Fellay.

“Certamente ele não concorda com a gente sobre estes pontos do Concílio, que estamos atacando. Definitivamente, ele não concorda. Mas, para ele, como a doutrina não é tão importante – e sim o homem, as pessoas, que são importantes – então já demos prova suficiente de que somos Católicos”.

“Ele vê que somos genuínos – ponto final”, afirmou Dom Fellay. “Ele certamente vê as coisas em nós com as quais discorda, coisas que ele gostaria de ver-nos mudar, mas para ele, isso não é o que é importante. O que é importante é amar a Jesus, e só isso”.

Preocupações internas
Dom Fellay falou antes de sua preocupação de que a fraternidade poderia “se desintegrar,” ao invés de ser “integrada”, caso venha a ser regularizada. Será então que ele teme que o Papa pode estar cortejando-os com  uma “plena comunhão”, a fim de neutralizá-los?
“Essa não é sua perspectiva”, disse ele. “Eu diria o contrário. Ele seria alguém que vê vantagem em criar controvérsia… Assim eu preferiria vê-lo como alguém querendo que sejamos nós a controvérsia para provocar e criar uma nova situação, a qual talvez, de uma forma hegeliana, traria uma situação melhor. Claro, somos contra uma tal abordagem dialética, mas poderia ser isso”.

Ainda assim, a FSSPX está tentando inserir garantias de sua identidade em qualquer acordo com Roma. E sentem-se confiantes de que podem continuar a criticar a Igreja pós-conciliar e o Concílio se for necessário, em grande parte porque muitas outras vozes agora estão fazendo o mesmo. “Vamos manter a urgência de fazer correções, e eu diria que, em parte, eles [Roma] estão começando a reconhecer essa urgência”, disse o Bispo Fellay.

E se estas “correções” não vierem? “Bem, nós vamos ser pacientes”, disse ele, antes de abrir um largo sorriso. “Elas virão.”

Mas, dadas as preocupações expressas sobre aspectos da Igreja pós-conciliar de hoje, com destaque para a recente controvérsia sobre a Exortação Apostólica Amoris Laetitia, a FSSPX pode ter certeza do apoio dos fiéis da FSSPX para a reconciliação?

Esta parece ser uma das incógnitas mais significativas e um grande desafio para a Fraternidade. “Vai ser uma grande tarefa, e vai levar tempo para sermos capazes de fazer com que os fiéis compreendam esta nova fase na história da Igreja, esta nova realidade,” Dom Fellay concedeu. Mas, acrescentou, “não avançar porque as coisas estão ruins de maneira alguma é o que Deus, Nosso Senhor, está solicitando de Seus apóstolos.”

“Eu vejo isso como um passo”

Dom Fellay é mais seguro sobre a situação da Igreja, que ele vê como inevitavelmente se agravando:

“A situação da Igreja, quando olhamos agora, vai se transformar em uma situação realmente muito confusa”, disse ele, acrescentando que “todos os católicos” devem fazer a sua parte para fortalecer a Igreja. A regularização canônica da Fraternidade não será uma solução, afirmou, porque o problema “está na Igreja” e no que está acontecendo agora, “que é a confusão em todos os níveis, moral e doutrinário.”

Então será que ele vê a mão estendida do Vaticano como uma recompensa por tudo pelo que a FSSPX  lutou e defendeu ao longo das últimas décadas?

“Eu vejo isso como um passo”, disse Dom Fellay: “o que prova o quão certos estivemos e que de maneira alguma significa o fim”.

Edward Pentin é correspondente em Roma do Register.

Dom Fellay: Declaração a propósito do relatório final do Sínodo sobre a família.

O Relatório final da segunda sessão do Sínodo sobre a família, publicado no dia 24 de outubro de 2015, longe de manifestar um consenso entre os padres sinodais, é a expressão de um compromisso entre posições profundamente divergentes. São recordados alguns pontos doutrinais sobre o matrimônio e a família católica, mas o texto apresenta também omissões e ambiguidades lamentáveis, especialmente as lacunas abertas na disciplina em nome de uma misericórdia pastoral relativista. A impressão geral que emerge do documento é a de uma confusão que não deixará de ser explorada em forma contrária ao ensinamento constante da Igreja.

Por isso consideramos necessário reafirmar a verdade recebida de Cristo sobre a função do papa e dos bispos (1) e sobre a família e o matrimônio (2). Fazemo-lo com o mesmo espírito que nos levou a apresentar uma súplica ao Papa Francisco antes da segunda sessão deste Sínodo.

1 – A função do papa e dos bispos[1]

Como filhos da Igreja Católica, cremos que o bispo de Roma, sucessor de São Pedro, é Vigário de Cristo e cabeça de toda a Igreja. Seu poder é uma jurisdição em sentido próprio, por cuja razão tanto os pastores como os fiéis das Igrejas particulares, considerados individualmente ou em conjunto, inclusive quando estão reunidos em concílio, sínodo ou conferências episcopais, estão submetidos a ele por um dever de subordinação hierárquica e de verdadeira obediência.

Deus assim dispôs as coisas para que, ao guardar com o bispo de Roma a unidade da comunhão e da profissão da mesma fé, a Igreja de Cristo fosse um só rebanho sob um só pastor. A Santa Igreja de Deus foi divinamente constituída como uma sociedade hierárquica, na qual a autoridade que governa os fiéis vem de Deus por meio do papa e dos bispos que lhe estão submetidos.[2]

Quando o Magistério pontifício supremo indica a expressão autêntica da verdade revelada, tanto em temas dogmáticos como em matérias disciplinares, não cabe aos organismos eclesiásticos dotados de uma autoridade inferior, como as conferências episcopais, introduzir modificações.

O sentido dos dogmas sagrados, que deve ser conservado perpetuamente, é aquele que o magistério do papa e dos bispos estabeleceu definitivamente e do qual nunca é lícito apartar-se. Portanto, a pastoral da Igreja, no exercício da misericórdia, deve primeiramente remediar a miséria da ignorância, dando às almas a expressão da verdade que as salva.

Na hierarquia estabelecida dessa forma por Deus, em matéria de fé e de magistério, as verdades reveladas foram confiadas como um depósito divino aos apóstolos e a seus sucessores, o papa e os bispos, para que as guardem fielmente e as ensinem com autoridade. Esse depósito está contido como em suas fontes nos livros das Sagradas Escrituras e nas tradições não escritas que, recebidas pelos apóstolos da boca do próprio Cristo ou transmitidas como de mão em mão pelos apóstolos sob a inspiração do Espírito Santo, chegaram até nós.

Quando a Igreja docente declara o sentido dessas verdades contidas na Escritura e na Tradição, Ela o impõe com autoridade aos fiéis para que o creiam como revelado por Deus. E seria falso afirmar que a função do papa e dos bispos é a de ratificar aquilo que lhes sugere o sensus fidei ou a experiência comum do Povo de Deus.

Como já escrevemos em nossa Súplica ao Santo Padre: “Nossa preocupação brota da condenação que São Pio X fez, na encíclica Pascendi, do alinhamento do dogma a supostas exigências contemporâneas. Pio X e vós, Santo Padre, receberam a plenitude do poder de ensinar, santificar e governar em obediência a Cristo, que é a cabeça e o pastor do rebanho em todo tempo e em qualquer lugar, e de quem o papa deve ser o verdadeiro vigário na terra. O objeto de uma condenação dogmática não pode se converter, com o tempo, em uma prática pastoral autorizada.”

Isso foi o que motivou Dom Marcel Lefebvre a escrever em sua Declaração de 21 de novembro de 1974: “Nenhuma autoridade, nem sequer a mais alta na hierarquia, pode obrigar-nos a abandonar ou a diminuir a nossa fé católica, claramente expressa e professada pelo magistério da Igreja durante dezenove séculos.‘Ainda que alguém, diz São Paulo, nós ou um anjo baixado do céu, vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.’ [3]”

2 – O matrimônio e a família católica

A propósito do matrimônio, Deus teve como fim proporcionar o crescimento do gênero humano por meio da instituição do matrimônio, que é a união estável e perpétua de um homem e uma mulher [4]. O casamento dos batizados é um sacramento, porque Cristo o elevou a essa dignidade; o matrimônio e a família são, portanto, de instituição divina e natural.

O primeiro fim do casamento é a procriação e a educação dos filhos, fim que nenhuma vontade humana pode excluir por meio de ações que sejam contrárias a ele. O fim secundário do casamento é a ajuda mútua que os cônjuges se proporcionam, além do remédio à concupiscência.

Cristo estabeleceu que a unidade do matrimônio fosse definitiva, tanto para os cristãos como para os demais homens. Essa unidade goza de indissolubilidade que jamais pode ser quebrada, nem pela vontade de ambas as partes, nem por uma autoridade humana: “Não separe o homem o que Deus uniu”.[5] No caso do matrimônio sacramental dos batizados, a unidade e a indissolubilidade são entendidas ainda mais profundamente porque são signo da união de Cristo com sua Esposa.

Tudo o que os homens possam fazer ou decretar contra a unidade ou a indissolubilidade do matrimônio não corresponde nem às exigências da natureza nem ao bem da sociedade humana. Além disso, os fiéis católicos têm o grave dever de não se unirem pelo simples vínculo de um casamento civil sem ter em conta o casamento religioso prescrito pela Igreja.

A recepção da eucaristia (ou comunhão sacramental) requer o estado de graça santificante e a união com Cristo pela caridade; ela aumenta essa caridade e significa ao mesmo tempo o amor de Cristo pela Igreja, que está unida a Ele como sua única Esposa. Portanto, aqueles que deliberadamente vivem juntos em uma união concubinária ou inclusive adúltera, contra as leis de Deus e da Igreja, pelo fato de darem um mau exemplo de falta de justiça e de caridade, não podem ser admitidos à comunhão eucarística e são considerados como pecadores públicos: “Aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.” [6]

Para receber a absolvição de seus pecados no âmbito do sacramento da penitência, é necessário ter o firme propósito de não pecar mais e, portanto, aqueles que se recusam a por um fim à sua situação irregular não podem receber uma absolvição válida.[7]

De acordo com a lei natural, o homem só tem o direito de usar sua sexualidade em um matrimônio legítimo e respeitando os limites determinados pela moral. Portanto, a homossexualidade contradiz o direito divino natural. As uniões realizadas fora do casamento, sejam concubinárias, adúlteras ou inclusive homossexuais, são um desordem contrário às exigências da lei divina natural e constituem, portanto, um pecado. Não é possível reconhecer nelas qualquer parte de bondade moral, inclusive diminuída.

Diante dos erros atuais e das legislações civis contrárias à santidade do matrimônio e à pureza dos costumes, a lei natural não admite exceções, porque Deus, em sua infinita sabedoria, ao dar essa lei, previu todos os casos e todas as circunstâncias, ao contrário dos legisladores humanos. Também não podemos aceitar uma chamada moral de situação em que se propõe adaptar as regras de conduta ditadas pela lei natural às circunstâncias variáveis das diferentes culturas. A solução dos problemas de ordem moral não deve estar sujeita somente à consciência dos esposos ou dos pastores e, além disso, a lei natural se impõe à consciência como uma regra de ação.

A solicitude do Bom Samaritano a respeito do pecador se manifesta por uma misericórdia que não pactua com o seu pecado, assim como o médico que quer ajudar eficazmente um doente a recuperar a saúde não faz pacto com sua doença, mas o ajuda a livrar-se dela. Não podemos abandonar o ensinamento evangélico em nome de uma pastoral subjetivista que, enquanto o recorda universalmente, o abole nos casos particulares. Não se pode conceder aos bispos o direito de suspender a lei da indissolubilidade do matrimônio ad casum, sem expor ao enfraquecimento a doutrina do Evangelho e à fragmentação a autoridade da Igreja. Porque, nessa perspectiva errônea, o que é afirmado doutrinalmente poderia ser negado pastoralmente e o que é proibido de jure poderia ser autorizado de facto.

Nessa extrema confusão, cabe agora ao papa, de acordo com seu cargo e dentro dos limites estabelecidos por Cristo, repetir com clareza e firmeza a verdade católica quod semper, quod ubique, quod ab omnibus [8] e impedir que essa verdade universal seja contradita na prática e de acordo com os lugares.

Seguindo o conselho de Cristo: Orate et vigilate, rezamos pelo papa: Oremus pro pontifice nostro Francisco, e permanecemos vigilantes: non tradat eum in manus inimicorum ejus[9], para que Deus não o entregue ao poder de seus inimigos. Suplicamos a Maria, Mãe da Igreja, que lhe alcance as graças que lhe permitam ser um administrador fiel dos tesouros de seu divino Filho.

Menzingen, 27 de outoubro de 2015
+ Bernard Fellay
Superior geral da Fraternidade São Pio X

Fonte: DICI

[1] Concílio de Trento, 4ª sessão; Concílio Vaticano I, constituição Dei Filius; decreto Lamentabili, n° 6.
[2] Mt, 16, 18-19; Jo, 21, 15-17; constituição Pastor aeternus do Concílio Vaticano I.
[3] Gal. 1, 8.
[4] Gn 2, 18-25
[5] Mt 19, 6.
[6] Mt 19,9
[7] Leão XIII, Arcanum divinae sapientiae ; Pio XI, Casti connubii.
[8] Vicente de Lérins, Commonitorium
[9] Oratio pro summo Pontifice

Dom Bernard Fellay escreve ao Papa Francisco.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Santíssimo Padre,

Fellay080814É com grande preocupação que constatamos ao nosso redor a degradação gradual do matrimônio e da família, origem e fundamento de toda a sociedade humana. Esta dissolução está se acelerando com força, sobretudo através da promoção legal dos comportamentos mais imorais e mais depravados. A lei de Deus, mesmo simplesmente natural, é hoje pisoteada publicamente, os pecados mais graves se multiplicam de modo dramático e clamam vingança ao Céu.

Santíssimo Padre,

Não podemos negar que a primeira parte do Sínodo dedicado aos “desafios pastorais da família no contexto da evangelização” nos deixou profundamente alarmados. Temos ouvido e lido, de grandes autoridades eclesiásticas – que se atribuem vosso respaldo, sem serem desmentidas – afirmações tão contrárias à verdade, tão opostas à doutrina clara e constante da Igreja sobre a santidade do matrimônio, que nossa alma tem ficado profundamente perturbada. Todavia, o que mais nos preocupa são algumas das suas palavras que dão a entender que poderia haver uma evolução da doutrina para responder às novas necessidades do povo cristão. Nossa preocupação brota da condenação que São Pio X fez, na encíclica Pascendi, do alinhamento do dogma a supostas exigências contemporâneas. Pio X e vós, Santo Padre, receberam a plenitude do poder de ensinar, santificar e governar em obediência a Cristo, que é a cabeça e pastor do rebanho em todo tempo e em qualquer lugar, e de quem o Papa deve ser o verdadeiro Vigário na terra. O objeto de uma condenação dogmática não pode se converter, com o tempo, em uma prática pastoral autorizada.

Deus, autor da natureza, estabeleceu a união estável entre homem e mulher com vistas a perpetuar a espécie humana. A Revelação do Antigo Testamento nos ensina de modo claríssimo que o matrimônio, único e indissolúvel, entre um homem e uma mulher, foi estabelecido por Deus, e que suas características essenciais foram subtraídas à livre escolha dos homens para permanecer sob a proteção divina particular: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Ex 20, 17).

O evangelho nos ensina que o próprio Jesus, em virtude de sua autoridade suprema, restaurou definitivamente o casamento, alterado pela corrupção dos homens, em sua pureza primitiva: “O que Deus uniu, o homem não separa”(Mt 19: 6).

É glória da Igreja Católica ao longo dos séculos ter defendido contra “ventos e marés”, apesar das solicitações, ameaças e tentações, a realidade humana e divina do matrimônio. Ela sempre carregou bem alta – ainda que homens corruptos a abandonavam apenas por este motivo – a bandeira da fidelidade, da pureza e da fecundidade que caracterizam o verdadeiro amor conjugal e familiar.

Agora que se aproxima a segunda parte deste Sínodo dedicado à família, acreditamos, em consciência, que é nosso dever expressar à Santa Sé apostólica a mais profunda angústia que toma conta de nós ao pensar nas “conclusões” que poderão ser propostas nesta ocasião, se por grande infortúnio elas forem um novo ataque contra a santidade do matrimônio e da família, um novo enfraquecimento da sociedade conjugal e dos lares. Esperamos de todo coração, no entanto, que o Sínodo fará obra de misericórdia recordando, para o bem das almas, a doutrina salvífica integral referente ao matrimônio.

Temos plena consciência, no atual contexto, que as pessoas que se encontram em situações matrimoniais irregulares devem ser acolhidas pastoralmente, com compaixão, a fim de lhes mostrar o rosto misericordioso do Deus de amor que a Igreja dá a conhecer.

Entretanto, a lei de Deus, expressão do Seu amor eterno para com os homens, constitui em si mesma a suprema misericórdia para todos os tempos, todas as pessoas e todas as situações. Rezamos, pois, para que a verdade evangélica do matrimônio, que deveria proclamar o Sínodo, não seja contornada mediante múltiplas “exceções pastorais” que distorcem seu verdadeiro sentido, ou por uma legislação que aboliria quase infalivelmente seu real alcance. Quanto a isto, não podemos esconder que as recentes disposições canônicas do Motu proprio Mitis Iudex Dominus Iesus, quer permitem declarações de nulidade aceleradas, abrirão, de fato, as portas a um processo de “divórcio católico” sem levar o nome de tal, apesar das referências à indissolubilidade do matrimônio que o acompanham. Estas disposições vão na direção da evolução dos costumes contemporâneos, sem tratar de retificá-las de acordo com a lei divina; como, então, não ficar abalado com o destino dos filhos nascidos desses casamentos anulados de modo expresso, que serão as tristes vítimas da “cultura do descarte”?

No século XVI, o Papa Clemente VII recusou a Henrique VIII o divórcio solicitado por ele. Diante da ameaça do cisma anglicano, o papa manteve, contra todas as pressões, o ensinamento inalterável de Cristo e de sua Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio. Veremos agora esta decisão desaprovada por um “arrependimento canônico”?

Nestes últimos tempos, em todo o mundo, numerosas famílias se mobilizaram corajosamente contra as leis civis que minavam a família natural e cristã, e incentivam publicamente os comportamentos infames, contrários à moralidade mais elementar. A Igreja pode abandonar aqueles que, por vezes em detrimento próprio e sempre sob zombaria e ataques, conduziram este combate necessário, porém difícil? Isso constituiria um contra-testemunho desastroso, e seria para essas pessoas uma fonte de desgosto e desalento. Os homens da Igreja, pelo contrário, por sua própria missão, devem oferecer-lhes um apoio firme e motivado.

Santo Padre,

Pela honra de nosso Senhor Jesus Cristo, pela consolação da Igreja e todos os fiéis católicos, pelo bem da sociedade e de toda a humanidade, neste momento crucial, nós vos suplicamos, pois, que façais ressoar no mundo uma palavra da verdade, de clareza e de firmeza, em defesa do matrimônio cristão, e até mesmo o simplesmente humano, em apoio ao seu fundamento, ou seja, a diferença e a complementaridade dos sexos, em apoio à sua unicidade e à sua indissolubilidade.

Confiamos esta humilde súplica ao patrocínio de São João Batista, que conheceu o martírio por ter defendido publicamente, contra uma autoridade civil comprometida com um “recasamento” escandaloso, a santidade e a unicidade do matrimônio; suplicando ao Precursor para conceder a Vossa Santidade a coragem de recordar ao mundo inteiro a verdadeira doutrina sobre o matrimônio natural e cristão.

Na festa de Nossa Senhora das Dores, 15 de setembro de 2015

+ Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Entrevista com D. Fellay: “Uma obra da Igreja”.

entretien_fellay_une_oeuvre_d_eglise_present_150627Fonte: La Porte Latine / Tradução: Dominus Est

Foi durante a cerimônia de bênção dos sinos da capela da escola Saint-Michel de La Martinerie, em Châteauroux, que Dom Fellay fez um balanço ao “Présent” sobre a situação da Fraternidade São Pio X, da qual ele é o Superior geral.

P: Em uma entrevista concedida ao Fideliter em 2001, vossa excelência mencionava “o movimento de profunda simpatia do jovem clero em relação à Fraternidade”. Este movimento cresceu, particularmente em razão do motu proprio de 2007?

R: Sem dúvida alguma! Esse movimento recebeu um novo fôlego com o motu proprio. Aliás, convém insistir sobre o interesse de Bento XVI pela liturgia de um modo geral. Ele realmente quis colocar à disposição dos padres e fiéis toda a liturgia tradicional, não somente a missa, o que não ocorreu até aqui por causa de numerosíssimas oposições. Contudo, a juventude, justamente porque essa liturgia se situa fora do tempo, se encontra nela. A Igreja vive na eternidade. A liturgia também, e é por isso que ela é sempre jovem. Próxima de Deus, ela não pertence ao tempo. Logo, não é de se admirar que o caráter batismal faça ressoar essa harmonia, mesmo nas almas que nunca a conheceram. Aliás, o modo como reagem os jovens padres que descobrem essa liturgia é comovente: eles têm a impressão de que lhes esconderam um tesouro.

P: Na Argentina, a Fraternidade foi reconhecida oficialmente como católica pelo Estado com a ajuda do cardeal Bergoglio, tornado em seguida o papa Francisco. Isto tem apenas uma importância administrativa ou é mais revelador?

R: Em primeiro lugar, encontramos aqui um efeito jurídico, administrativo, sem implicação sobre o estado das relações gerais da Fraternidade com, digamos para simplificar, a Igreja oficial. Todavia, o segundo efeito é difícil de ser avaliado corretamente. Não há nenhuma dúvida sobre o fato de que o papa Francisco, então cardeal Bergoglio, tinha prometido ajudar a Fraternidade a obter o reconhecimento pelo Estado argentino de nossa sociedade como católica, e de que ele manteve sua promessa. Isso força a pensar que ele nos considera sim como católicos.

P: Na mesma ordem de ideias, o senhor foi nomeado juiz de primeira instância pelo Vaticano para o processo de um padre da Fraternidade. Não podemos ver aí um sinal de benevolência?

R: Isto não é novidade, mas existe faz mais de dez anos. Trata-se efetivamente de uma marca de benevolência, e de bom senso. É o que se observa na Igreja romana através de sua história: seu realismo, capaz de superar problemas canônicos, jurídicos, para encontrar soluções para problemas bem reais.

P: Vossa excelência menciona, em vossa carta aos amigos e benfeitores, “mensagens contraditórias” que vêm de Roma. O que o senhor entende por isso?

R: Penso no modo pelo qual uma sociedade que estava a caminho de uma aproximação rumo à Tradição foi tratada – ou maltratada: os franciscanos da Imaculada. Ou nos diversos modos cujos nos tratará uma instância romana em relação a outra: a Congregação dos religiosos, por exemplo, ainda nos considera como cismáticos (em 2001, ela declarou como excomungado um padre que se juntou a nós), enquanto esse não é o caso de outras congregações, ou do próprio papa, como dissemos.

P: “Pessimista”, “fechado aos outros”, “que pensa que somente os fiéis da Fraternidade serão salvos”: às vezes o senhor é evocado assim. O que o senhor responde? O que é para o senhor o espírito missionário?

R: Não me reconheço nestes insultos. Uma firmeza na doutrina é, certamente, necessária, pois não se negocia a fé. A fé é um todo dado pelo Bom Deus e não se tem o direito de escolher entre as verdades reveladas. Recordar essas exigências hoje não é aceito, aliás, como mais ou menos sempre aconteceu. A expressão “combate da fé” faz parte da história da Igreja. Naturalmente, o missionário deverá fazer ressoar essa voz da fé externamente, buscando fortificar aqueles que já a tem. Não é possível se dirigir apenas aos fiéis da Fraternidade. A chama ilumina o mundo, a luz da fé irradia, com calor. A fé deve ser levada pela caridade: é assim que vejo o missionário.

P: Há algumas semanas, alguns seminários da Fraternidade receberam a visita de enviados do Vaticano, o cardeal Brandmüller, Dom Schneider. Essas visitas constituem um vínculo público com a “Igreja oficial. Ele não é vital?

R: O vínculo com a Igreja é vital. A manifestação dessa ligação pode variar. As datas e os locais dessas visitas foram deixadas à minha escolha, e o Vaticano propôs os nomes. Escolhi os seminários, o que parecia para mim, para os bispos, mais eloquente e representativo.

P: Quais foram as reações “ao vivo” destes bispos?

R: Eles se mostraram muito satisfeitos. “Vocês são normais”, disseram-nos eles… o que demonstra a reputação que fizeram de nós! Eles nos felicitaram pela qualidade de nossos seminaristas. Não há dúvida alguma de que eles concluíram desse primeiro contato próximo que seríamos uma obra da Igreja.

P: O senhor tem contato com alguns bispos, que vos apoiam discretamente?

R: Claro! Se se vê que hoje alguns padres se aproximam de nós, têm contato conosco, pode-se facilmente concluir com isso que deve haver quase a mesma coisa no escalão superior…

P: Na entrevista já mencionada de 2001, o senhor declarava: “Se há uma chance, uma única, de que contatos com Roma possam fazer trazer de volta um pouco mais de Tradição na Igreja, penso que devemos agarrar a oportunidade”. Essa ainda é a vossa linha?

R: Essa permanece a nossa linha, ainda que não se possa dizer que seja fácil, especialmente por causa das dissensões abertas no seio do próprio Vaticano. Estas relações são delicadas, mas este ponto de vista permanece válido e confirmado pelos fatos. Trata-se de um trabalho discreto, no meio de oposições bastante fortes. Alguns trabalham num sentido, outros no sentido contrário.

P: O papel de contrapeso da Fraternidade exatamente dentro da Igreja não é importante?

R: Este papel não é novo, Dom Lefebvre deu início a ele e o continuamos. Se vê bem isso ao se constatar a irritação dos modernistas diante dos passos dados por Bento XVI.

P: Onde está a Fraternidade hoje? Quais são seus pontes fortes, seus pontos fracos? Como o senhor vê seu futuro?

R: Vejo seu futuro serenamente. É uma obra depositada no Sagrado Coração e no Coração Imaculado de Maria, o importante é ser fiel à sua Vontade. Essa Igreja é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que continua sendo seu chefe e não permitirá sua destruição. As fraquezas da Fraternidade? O risco de separação, que é grave. Veja, por exemplo, a caricatura da Tradição que se intitula “Resistência”: trata-se de um espírito não católico, quase sectário, do qual não queremos, um movimento que permanece fechado em si mesmo, com pessoas que pensam que elas são as únicas boas, as únicas justas sobre a face da terra: isso não é católico. Trata-se de um perigo objetivo, mas relativo. A maior parte da Fraternidade é saudável e não quer se afundar nestas ilusões. Isso nos impele a nos apoiarmos nos meios sobrenaturais. O que o Bom Deus quer de nós, Ele no-lo mostrará, Ele falará através das circunstâncias. Os pontos fortes? A fidelidade, viva, que gera frutos e mostra ao mundo de hoje que a vida católica, com todas as suas exigências, é possível. Mas – outro ponto fraco – somos pessoas desta época, e pretender estarmos imunes contra toda a influência do mundo moderno é quimérico. Para ser mais exato, é preciso evitar o perigo de uma caricatura, de desejar ver aqui na terra a Igreja sem ruga nem mancha: não é o que o Bom Deus nos prometeu sobre esta terra. Não é o que significa “Igreja santa”, isso quer dizer que ela é capaz de santificar pelos meios dados por Nosso Senhor: os sacramentos, a fé, a disciplina, a vida religiosa, a vida de oração.

P: O que o senhor acha da proposta do cardeal Sarah de introduzir o ofertório tradicional na missa nova?

R: Esta ideia não é nova, faz uma dezena de anos que ela circula em Roma. Fico feliz de que ela seja retomada. Alguns criticam esta abordagem dizendo que seria misturar o sagrado ao profano. Pelo contrário, numa perspectiva de recuperação da Igreja, penso que isso constituiria um grandiosíssimo progresso, porque o ofertório é um resumo dos princípios católicos da missa, do sacrifício expiatório oferecido à Santíssima Trindade, dirigido a Deus em reparação dos pecados, pelo padre, acompanhado pelos fiéis. E isso reconduziria gradualmente os fiéis à missa tradicional que eles perderam.

P: Excelência, como o senhor deseja concluir?

R: Para mim, estamos na véspera de acontecimentos graves sem poder defini-los bem. Apelo à oração e quero concluir com um olhar para o Bom Deus, o que nos permite sempre manter a esperança.

Entrevista de Dom Bernard Fellay, superior da FSSPX, sobre o Papa Francisco.

Mons. Fellay sobre Francisco: «Este não é um homem de doutrina»

Traduzido do original francês por Carlos Wolkartt – Blog Renitência

Esta entrevista foi realizada em vídeo pelo site dici.org, no qual também está disponível a gravação em áudio. Apresentamos a seguir a transcrição completa, onde o estilo oral foi mantido.
A chegada de um novo Papa
Mons. Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, em entrevista ao portal DICI (novembro de 2013).
Mons. Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, em entrevista ao portal DICI (novembro de 2013).

A chegada de um novo Papa é como recomeçar a contar do zero. Especialmente com um Papa que se distingue de seus predecessores por sua forma de atuar, falar e intervir, com grande contraste. Isso pode fazer com que esqueçamos o pontificado anterior, e é basicamente isso que está acontecendo. Pelo menos em relação a certas linhas conservadoras ou reformistas marcadas pelo Papa Bento XVI. É certo que as primeiras intervenções do Papa causaram muita confusão e inclusive quase contradição, em todo caso, uma oposição em relação a essas linhas reformistas.

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Cardeal Pell responde a Dom Fellay. Sobre Vaticano II: “Você não tem que aceitar todo ‘pingo’ ou ‘til’ dele”.

Da entrevista concedida pelo Cardeal Pell, arcebispo de Sydney e um dos oito membro do conselho de Cardeais do Papa, a Gerard O’Connell, do La Stampa:

Cardeal George Pell.
Cardeal George Pell.

Q: Dom Fellay denunciou o Papa Francisco como “um genuíno modernista” e acusou que, enquanto a Igreja estava “um desastre” antes de sua eleição, ele está tornando-a “10.000 vezes pior”. O que o senhor diz disso?

Para responder educadamente, creio que isso seja uma absoluta besteira. Francisco afirmou ser um leal filho da Igreja, e sua história o demonstra. Ele é muito, muito preocupado com a vida do dia-a-dia do povo e com aqueles que sofrem, aqueles em dificuldades financeiras e aqueles em situações difíceis. Ele é um expoente completamente fiel dos ensinamentos de Cristo e da tradição da Igreja.

Q. Então as pessoas como Fellay têm interpretado mal o Papa Francisco? 

A. Sim, uma má interpretação gigantesca! Na realidade, os lefebvristas — muitos deles — têm interpretado mal a situação por décadas. Para grande crédito de Bento XVI, ele tentou se reconciliar com eles, mas eles não responderam. Agora, a Igreja hoje aceita o Concílio Vaticano II. Você não tem que aceitar todo “pingo” ou “til” dele, mas ele faz parte da vida da Igreja atualmente, não há meia-volta nisso.

Fonte: Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com 

Dom Fellay: “Damos graças a Deus por havermos sido preservados de qualquer gênero de acordo no ano passado”.

Traduzido do original francês por Carlos Wolkartt

Durante o congresso da Angelus Press, realizado nos dias 11 e 12 de outubro de 2013, Mons. Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, deu uma conferência e um sermão dominical. Nesta ocasião, falou da situação da Igreja e do Papa Francisco. No portal Catholic Family News, John Vennari fez um resumo destas interversões sob o seguinte título: “Mons. Fellay fala do Papa Francisco: «Temos diante de nós um verdadeiro modernista!»”. Apresentamos a seguir a tradução em português desta síntese da conferência de 12 de outubro, cuja gravação integral está disponível em inglês no site DICI.

Mgr-FellayMons. Bernard Fellay alertou, em 12 de outubro: “A situação da Igreja é uma verdadeira catástrofe, e o atual Papa faz que seu estado seja dez mil vezes pior”. Declarou isto em uma alocução durante o Congresso da Angelus Press, que aconteceu nos dias 11 e 12 de outubro passado, em Kansas City.

Mons. Fellay, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, deu uma longa conferência sábado à tarde, dedicada ao Terceiro Segredo de Fátima e à profecia que parece encontrar-se nele, relativa a um castigo material e uma grande crise na Igreja.

Nosso sumário retomará alguns dos aspectos mais importantes de sua conferência de sábado, dia 12.

Monsenhor Fellay citou detalhadamente a Irmã Lúcia, os que leram o Terceiro Segredo e os que o conheceram. Observou que Irmã Lúcia havia dito que se quiséssemos conhecer o conteúdo do Terceiro Segredo, bastava ler os capítulos 8 a 13 do Apocalipse.

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