Legionários de Cristo: MM, de Maria Madalena e… de Marcial Maciel.

Legionários de Cristo profanam Maria Madalena. E o papa se insurge

IHU – Quando o Papa Francisco soube, parece que ele pulou na cadeira. Santa Maria Madalena comparada a um padre pedófilo em série? Inaceitável sob todos os pontos de vista. O rumor de mais este “papelão”, à beira da provocação, que levou um dos membros da cúpula dos Legionários de Cristo a comparar a figura de Maria Madalena ao fundador dessa ordem religiosa, o padre Marcial Maciel Degollato, punido pelo Papa Ratzinger em 2006 por ter estuprado dezenas de seminaristas e até mesmo abusado de dois dos seus filhos naturais, além de ter enganado, corrompido e semeado joio na Cúria, reabriu velhas feridas na Igreja. Feridas ainda não curadas, apesar de já se terem passado seis anos desde o falecimento do padre Maciel, um sacerdote mexicano com um cursus honorum de bastidores tão ímpio e criminoso a ponto de ser comparado ao diabo, a um dos piores delinquentes da história, ao mal.

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 02-09-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A aproximação entre Maciel e Santa Maria Madalena feita pelo padre legionário Juan Solana só poderia dar origem a uma sequência de polêmicas e reações assustadas. Como é possível tolerar tal comparação? As cartas de denúncia começaram a afluir ao Vaticano sinalizando o episódio.

O clima de férias que ainda habita nos escritórios do outro lado do Tibre não impediu uma intervenção de cima. O “papelão” feito por uma das principais ordens religiosas da América Latina, muito influente especialmente durante o pontificado de Wojtyla, foi enfrentada de peito aberto.

Poucos dias depois da publicação do livreto contendo a inaceitável comparação, veio a advertência, e o padre Solana foi obrigado a recuar, a engolir tudo o que anteriormente havia escrito (isto é, que “as iniciais Marcial Maciel são MM, as mesmas de Maria Madalena, que teve um passado problemático antes da sua conversão. Nisso – escreveu – existe um paralelo. O nosso mundo tem um padrão duplo quando se entra no campo da moral. Alguns têm uma vida formal e pública, mesmo que, nos bastidores, tenham outra. Quando acusamos alguém e jogamos pedras contra ele, devemos nos lembrar que todos nós temos problemas e defeitos. É fácil matar a reputação de alguém. Devemos ser mais prudentes e menos julgadores”).

Poucos dias depois, com as cinzas sobre a cabeça, os legionários emitiram um comunicado para pedir desculpas. “Estou profundamente arrependido pelo que eu escrevi no livreto publicado neste verão pelo Magdala Center em Jerusalém, administrado pela Legião”.

Provavelmente, padre Solana não imaginava tanta repercussão; talvez não tivesse lido sequer uma das proibições desejadas por Ratzinger para livrar a Legião de Cristo do seu diabólico fundador. E isso que as regras eram precisas: ninguém, no futuro, jamais poderia fazer menção a Maciel, nem citá-lo em um documento, nem publicizá-lo.

Em relação aos comportamento indignos de Maciel, os legionários continuaram afirmando que não tinham conhecimento, até depois da sua morte, em 2008. Ratzinger, no entanto, não estava convencido disso, já que, em torno de Maciel, havia se constituído um sistema de poder e de defesa que talvez ainda sobrevive.

Francisco não quis almoçar com os Legionários de Cristo.

Em novo gesto de austeridade, o Papa cancelou, de última hora, um almoço no Centro Notre Dame, que os Legionários administram em Jerusalém. O motivo teria sido evitar o luxo e optar por algo “mais simples”, comer com os franciscanos.

Por Infovaticana | Tradução: Fratres in Unum.comO Papa Francisco decidiu fugir da programação prevista — segundo a qual devia almoçar no Centro Notre Dame de Jerusalém — para ir almoçar com os franciscanos no convento de São Salvador, localizado dentro da cidade velha, “como um outro frade”.

O vigário da Ordem Custódia da Terra Santa, o frade franciscanos Artemio Vítores, explica a Europa Press que foi uma verdadeira surpresa. “Nos avisaram de que hoje a refeição seria às 13 horas; e meia hora antes, nos disseram que o Papa viria almoçar”, recordou. “Um espetáculo”, sublinhou.

Segundo esclareceu, é “a primeira vez na história que um Papa come no convento de São Salvador” e o almoço foi “muito simples”: espaguete, purê com carne, salada, melancia e, como novidade para a ocasião, sorvete e um doce.

O Pontífice chegou à casa às 14:30 e os cem frades presentes, em sua maioria jovens, o receberam “aplaudindo sem parar”, segundo relatou o frade, e isso “deixou [Francisco] muito contente”.

Os frades e o Papa começaram a comer por volta das 14:30, já que os atos prévios haviam gerado algum atraso em relação ao programa. Por isso, teve que ser rápido, explica. Ademais, acrescenta que fora havia mais de cem policiais.

Conforme destacou Frei Artemio, o Papa lhes disse que se sentia “muito feliz” por poder compartilhar desse momento com os frades e lhes contou uma piada, de que quando na Argentina caminhava pela rua e se encontrava com um cura, lhe diziam para ir trabalhar, mas que quando se encontrava com um frade sempre recebia um sorriso de volta.

Já sozinho com o frade espanhol, Francisco contou que após a sua eleição alguém lhe interpelou que ele, sendo argentino, que são “o mais, o melhor”, havia escolhido o nome de Francisco, podia ter escolhido o de Jesus II. Ainda, neste ambiente descontraído, o frade lhe presenteou com seus últimos livros. “Com Francisco, me sentido um frade melhor”, observa.

Sobre as razões pelas quais o Pontífice decidiu sair do itinerário e almoçar com os franciscanos, o padre Artemio apontou que “talvez tenha sentido que era luxo demais” e preferiu algo mais simples. E é assim que, dessa forma, o Papa se une à crítica que tantos cristãos da Terra Santa fazem à Legião de Cristo, que converteu, dizem, um centro pontifício em um lugar para poucos afortunados.

Abaixo, algumas imagens do local:

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O que Francisco fará com os Legionários de Cristo?

Alguns se perguntam por que o tratamento dispensado aos Legionários de Cristo não é tão rápido e rigoroso como aquele dado aos Franciscanos da Imaculada…

IHU – Primeiro, uma das mais altas autoridades dos Legionários de Cristo saiu abruptamente da ordem devido à lentidão com que se processam as mudanças. Depois, os sacerdotes facultaram aos protegidos e sócios do fundador caído em desgraça, Marcial Maciel, para que elegessem o novo líder.

A reportagem está publicada no sítio Religión Digital, 13-12-2013. A tradução é de André Langer.

Durante o mês passado houve vários retrocessos no processo dos legionários para se reformarem mediante a eleição de um novo dirigente, com o que terminará a supervisão do Vaticano, que durou três anos. Mas, embora osLegionários de Cristo queiram mostrar uma nova cara, seus mais altos dirigentes seguem falando com nostalgia e veneração de Maciel, que violou vários seminaristas, tinha três filhos e foi definido como alguém “carente de escrúpulos e autêntica vocação religiosa” pelos investigadores designados pelo Vaticano para indagar os abusos dos quais estavam sendo acusados.

Isso significa que se reduzem as possibilidades de sucesso de uma reforma drástica dos Legionários de Cristo como deseja o Vaticano e colocam a seguinte pergunta: o que o Papa Francisco fará com a outrora poderosa e abastada congregação, uma vez que terminar o mandato do enviado papal?

O antecessor de Francisco, Bento XVI, encarregou-se dos Legionários em 2010 e nomeou um cardeal para dirigi-los depois que os investigadores viram que a ordem necessitava “purificar-se” da influência de Maciel. Na realidade, oVaticano conhecia os crimes de Maciel há décadas, mas os ignorou, impressionado com sua habilidade para arrecadar milhões de dólares e oferecer milhares de seminaristas à Igreja.

A incapacidade de Roma para detê-lo é o caso mais atroz da indiferença para com as vítimas de abusos sexuais que mancharam o legado do Papa João Paulo II, que será canonizado em abril de 2014, porque ele apresentou osLegionários de Cristo como modelo a seguir para os fiéis.

Sem dúvida, houve alguns progressos durante a regência vaticana sobre a ordem. Os Legionários reescreveram seus estatutos, divulgaram estatísticas sobre os casos de abusos sexuais e sacerdotes respeitados pediram perdão às vítimas de Maciel por ignorá-los e difamá-los. Mas as eleições recentes demonstraram que os membros da congregação votaram a favor da ordem tradicional.

Essa mentalidade provocou que dezenas de sacerdotes desiludidos e centenas de seminaristas e consagrados saíssem dos Legionários: no sábado , 14 de dezembro, foram ordenados 31 novos ministros, a metade dos que eram ordenados há três anos.

No mês passado, Deomar de Guedes, o conselheiro governante de orientação reformista, anunciou não apenas que renunciava ao seu cargo, mas que abandonaria a congregação, um golpe duro que ocorre antes da assembleia de 8 de janeiro, na qual se aprovarão os estatutos e se elegerá um novo superior.

Em sua carta de demissão, De Guedes disse que não tinha forças para continuar, mas o porta-voz dos Legionários, o sacerdote Benjamín Clariond, disse que muitas vezes De Guedes estava em “minoria”, que pedia mudanças mais rápidas e profundas e que isso era uma fonte de “tensão” para ele.

“Sabemos que a reforma foi lenta até agora”, disse Clariond em um correio eletrônico. “Isso se deve a que tratamos de fazer mudanças que não sejam apenas cosméticas, mas que resolvam as causas dos conflitos. Isso leva tempo”.

Mas após a assembleia, quando terminar o mandato do delegado papal, o cardeal Velasio de Paolis, fará várias perguntas que o Papa Francisco deverá responder. Os Legionários abandonaram as práticas de culto que os bispos franceses denunciaram recentemente em uma carta às vítimas de abuso sexual? Francisco aprovará os estatutos e dará aos Legionários um visto de aprovação? Fará algum tipo de cláusula que prolongue a supervisão do Vaticanouma vez que De Paolis sair?

Francisco disse que a assembleia dos Legionários de Cristo não é o fim da reforma, mas um “passo” a mais.

A renúncia do nº 2 dos Legionários de Cristo.

Da perfil no Facebook do Reverendíssimo Pe. Deomar de Guedes:

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1383562_10153387668220716_640143801_nInformações de Religión Digital: ‹‹ É o número 2 dos Legionários de Cristo. Foi o responsável maior pela congregação durante anos na Espanha. Tinha tudo para ser o líder da congregação fundada pelo pederasta Marcial Maciel a partir do próximo mês de janeiro. Porém, Deomar de Guedes, segundo Conselheiro Geral da congregação, abandonará a congregação para incardinar-se na diocese de Brasília. Segundo confirmação ao site Religión Digital, de fontes próximas ao religioso, De Guedes renunciará após constatar que “não há esperanças de mudanças” nos Legionários. “O que se está fazendo é tentar agradar a uns e outros para deixar tudo como era antes”. Essas fontes afirmam que a figura do cardeal De Paolis foi deixada em segundo plano pelos superiores da congregação. “Os 70% daqueles que eram superiores antes que se conhecesse o escândalo continuam em seus postos”, denunciam tais fontes ›› .

A seguir, a carta do Cardeal Velasio de Paolis:

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Legionários de Cristo: reforma, contradições e êxodo.

Por Andrés Beltramo Álvarez | Tradução: Fratres in Unum.com* – A reforma interna dos Legionários de Cristo avança em meio a grandes tribulações. Velasio de Paolis, o “interventor” designado por Bento XVI para purificar a congregação, quer fechar este capítulo o mais rápido possível. Parece interessado apenas na criação de novos estatutos e em manter um certo equilíbrio interno, ainda que frágil. Porém, nos últimos 4 anos, a Legião perdeu 20 por cento de seus membros, resultado de uma crise fadada a se aprofundar.

Na manhã de segunda-feira, dia 27 de maio, o cardeal De Paolis se encontrou com Francisco durante 45 minutos. Pela 1ª vez, o novo Papa recebeu um relatório pormenorizado sobre o processo de renovação neste instituto religioso. Um programa que começou em 2010, depois de uma auditoria imposta por Ratzinger e  que levou a Santa Sé a reconhecer a nefasta influência exercida por Marcial Maciel Degollado, fundador imoral responsável por abusos sexuais a menores.

A Jorge Mario Bergoglio, o purpurado ofereceu sua versão: os superiores herdeiros de Maciel foram exonerados, as perdas de membros foram limitadas (e inevitáveis, considerada a situação) e o novo quadro de comando seria fruto de uma “operação de limpeza”. Porém, os fatos não acompanham essa visão adocicada.

Nos últimos 5 anos a Legião tem sofrido um êxodo sistemático de integrantes. As estatísticas oficiais o confirmam. Desde o final de 2008, aproximadamente 123 sacerdotes deixaram  a congregação de maneira definitiva, enquanto outros 48 estão fora de suas comunidades em diversas etapas de discernimento. Uma perda relativa de 171 homens, equivalente a 18 por cento de um total de 953 padres legionários.

A diminuição se manifestou em todos os níveis de formação, porém, o fato mais preocupante se refere ao êxodo de sacerdotes. Ao final de 2008, o total de integrantes (incluindo seminaristas menores e maiores) eram de 3389, enquanto que, no início deste ano, era de 2830, 559 a menos. Se a isto subtraírem-se os 48 “exclaustrados”, os integrantes reais seriam 2782.

Tratam-se de cifras destinadas a se reduzirem ainda mais, porque as últimas estatísticas datam 31 de dezembro de 2012 e não incluem os primeiros 3 meses de 2013. Ainda que a explicação oficial dos superiores tente minimizar a amplitude da crise, os dados não mostram um aumento de vocações, e sim o contrário. Em apenas 4 anos, mais de mil membros abandonaram a congregação, uma tendência difícil de reverter a curto prazo.

O capítulo dos superiores tem provocado não poucas tensões. É certo que já não se encontram no vértice da congregação os diretores impostos por Maciel em 2005, quando o Vaticano o obrigou a renunciar a seu posto de diretor geral. Porém nenhum deles foi exonerado. Muito pelo contrário,  eles tiveram saídas mais que decorosas. O superior Álvaro Corcuera obteve um “ano sabático” por problemas de saúde e o vigário Luis Garza Medina foi transferido para o posto de responsável para a América do Norte.

Não poucos legionários se queixaram, interna e externamente, da lentidão com que trabalhou Velasio de Paolis. Eles foram taxados de “dissidentes” e condenados ao ostracismo. A maioria já está fora. Agora sorriem quando ouvem falar de “operação limpeza”.

Apesar das dificuldades, muitos tem preferido permanecer, esperançosos por uma reforma de verdade. Eles tem sido envolvidos em discussões sistematizadas sobre cada um dos pontos que contemplam os novos estatutos. Durante meses, houveram debates em pequenas comunidades e suas conclusões foram submetidas a uma comissão.

Este grupo analisará as propostas e redigirá as novas Constituições. Um documento que deverá ser aprovado em um capítulo geral previsto para o início de 2014. Uma vez aprovado o texto, De Paolis apresentará sua renúncia e deixará, finalmente, um cargo que tem lhe dado uma enorme dor de cabeça.

Enquanto isso, os superiores acabam de mandar uma carta a todos os membros tanto da Legião, como do Regnum Christi.  Nela, reconheceram que somente a reforma dos estatutos não basta. Encorajaram a “transformar as mentes e corações”,  a “fazer  a verdade sobre nossas vidas”, a “ir ao encontro daqueles que se sentem feridos” e a cultivar “o desejo de aprender a perdoar e a humildade de pedir perdão para não viverem presas do rancor”.

* O Fratres agradece a uma pequena amiga e leitora que, graciosamente, realizou esta tradução para o blog.

Vatileaks, novo capítulo.

France Presse – A publicação de uma série de cartas confidenciais do papa Bento 16 sobre temas como as intrigas do Vaticano e os escândalos sexuais do padre mexicano Macial Maciel, provocou desconforto na Itália diante de um vazamento de informações sem precedentes.

Um resumo do livro, que estará a venda no sábado em toda a Itália com o título “Sua Santidade, cartas secretas do Papa”, escrito por Gianluigi Nuzzi, autor do best-seller “Vaticano SA”, sobre as finanças da Santa Sé, foi publicado nesta sexta-feira pelo jornal “Il Corriere della Sera”.

Baseado em cartas confidenciais destinadas ao papa Bento 16 e ao seu secretário pessoal, Georg Gaenswein, o livro descreve manobras e confabulações dentro do Vaticano e inclui relatórios internos enviados para o Papa sobre políticos italianos como Silvio Berlusconi e o presidente da República Giorgio Napolitano.

Também relata os confrontos com a chanceler alemã Angela Merkel sobre aqueles que negam o Holocausto, e as confissões do secretário do fundador da Congregação Mexicana Legionários de Cristo, Marcial Maciel, acusado de abusar de crianças e de ter uma vida dupla com duas esposas e filhos.

Fontes

Nuzzi teve acesso, possivelmente através de funcionários da Secretaria de Estado, a centenas de documentos, incluindo alguns que levam o selo “Reservado”, que foram elaborados pelo mesmo secretariado.

Este é o maior vazamento de documentos na história recente do Vaticano, que até agora não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.

Entre as informações vazadas, figuram diretrizes específicas para tratar de questões com o Estado italiano por ocasião da visita presidencial em 2009.

“Devemos evitar qualquer equivalência entre a família fundada sobre o matrimônio e outros tipos de uniões”, diz o texto.

Disputas

De acordo com trechos publicados pelo “Il Corriere della Sera” no suplemento especial “Sette”, o secretário do papa recebeu por fax todos os detalhes do chamado “escândalo Boffo”, a operação para desacreditar o editor do jornal “Avvenire”, jornal da “Conferência Episcopal italiana”, mediante acusações falsas de assédio homossexual e homossexualidade contra o jornalista Dino Boffo.

Tais cartas resumem o clima recente de guerra ocultada pelo poder dentro do governo central do Vaticano, a influente Cúria Romana, que minou a credibilidade da Igreja.

O nome do atual secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, mão direita do Papa e número dois da Santa Sé, está presente em muitos dos documentos e é afetado de forma negativa, sendo possível que o livro seja uma operação midiática para atacá-lo.

O jornal italiano “Libero” também publicou comentários sobre o livro. Nuzzi chegou a comentar sobre o difícil ano vivido com os “corvos” do Vaticano, que lhe passaram os documentos entre “silêncios, longas esperas e precauções maníacas”.

O jornalista confessou que não manteve mais contato com este “grupo informal” de informantes desde que o Papa nomeou uma comissão de inquérito, em março passado, para investigar os vazamentos, conhecidos como “Vatileaks”.

Tristemente Degollados.

Padre Willians, autor de “Diferenciando o certo do errado: um guia cristão para a consciência”.
Padre Williams, autor de “Diferenciando o certo do errado: um guia cristão para a consciência”.

A semana que passou foi atribulada para os Legionários de Cristo. O Vaticano está investigando sete padres da problemática congregação religiosa por abusos sexuais de menores e outros dois padres legionários por violações sacramentais, envolvendo direções espirituais que teriam culminado em relações não apropriadas com mulheres. A natureza de pelo menos um dos abusos, de acordo com uma das vítimas, o senhor Aaron Loughrey, é idêntica ao abuso feito pelo Padre Maciel contra seus seminaristas. O senhor Patrício Cerda, membro de uma associação para as vítimas da Legião de Cristo, afirmou que os casos de abuso já eram conhecidos pelos superiores legionários a mais de 5 anos.

Outro grande escândalo para a Legião de Cristo foi a divulgação de que um proeminente Padre americano, Thomas Williams, assumiu ter tido uma relação sexual com uma mulher e ter gerado um filho, atualmente com 10 anos, escrevendo mais um capítulo dos crescentes escândalos que cercam esta controversa ordem religiosa.

De acordo com o Padre Williams, “por respeito à privacidade da mulher e do filho dela” [e não dele?!], ele se recusou a identificá-la ou a fornecer quaisquer outros detalhes, além do fato dele já ser um Legionário quando a relação aconteceu.  Williams é, desgraçadamente, professor de Teologia Moral.

A acusação contra o Padre Williams foi feita pela Associação para Ajuda aos Afetados pelos Legionários de Cristo e,  somente quando a Legião de Cristo foi confrontada com a denúncia jornalística feita pela Associated Press, a congregação veio a público reconhecer o fato. Isso mostra, nas palavras de Patrício Cerda, que “a cultura de acobertamento permanece na Legião e que somente um processo de reescrita das constituições está acontecendo, e não uma reforma verdadeira”.

O Padre Williams, que pede desculpas e vai passar um ano na casa dos pais para reflexão, é palestrante e autor de vários livros, entre eles: “Diferenciando o certo do errado: um guia cristão para a consciência”.

Sugestão de Rorate-Caeli: se há na imprensa uma sanha de rotular os membros e fiéis da Fraternidade São Pio X de Lefebvristas, nada mais apropriado que os legionários sejam designados como Degollados.

Padre Legionário ao antigo Núncio do México: “Continuam ensinando impunemente aos seminaristas em Roma que Maciel foi um profeta…”.

Para Sua Excelência Justo Mullor
(ex Núncio Papal para o México)
Piazza della Minerva, 74,
00186, Roma, Itália

22 de abril de 2012.

Caro Monsenhor Justo,

Cheio de vergonha li a recente entrevista onde o senhor descreve as calúnias e as mentiras as quais foi submetido pelas mãos de minha congregação religiosa, a Legião de Cristo. Apesar de eu ser somente um membro qualquer, meu pedido de perdão talvez não tenha muito valor, mas, de qualquer maneira, lhe peço desculpas pelo que o senhor padeceu por culpa do padre Maciel e de seus colaboradores.

Apesar dos esforços do papa, do Monsenhor De Paolis e de um pequeno grupo de legionários, não conseguimos banir o macielismo da congregação e aqueles que cometeram todo o tipo de abusos, de difamações, de irregularidades canônicas e administrativas continuam a ser encobertos. De fato, a maioria da cúpula macielista segue governando a Legião, usando os mesmos truques aprendidos com o fundador: eleições falsificadas, meias verdades, esclarecimentos fraudulentos às autoridades Vaticanas, falta de transparência nas questões econômicas e, sobretudo, uma cegueira com relação a todos os que foram feridos pelos crimes deste homem e de seu séqüito.

No entanto, continuam ensinando impunemente aos seminaristas em Roma que Maciel foi um profeta, continua a existir um voto de “humildade” onde os religiosos juram diante de Deus que delatarão seus irmãos [que ousam duvidar ou criticar].

Pediu-se à Secretaria de Estado, numa carta de 3 de novembro de 2010, que se estabelecesse uma comissão da verdade para que, de uma vez por todas, se investigasse as maldades do macielismo e se fizesse justiça aos que foram prejudicados. Esperava-se que aqueles que acobertaram Maciel dentro da congregação e dentro do Vaticano fossem destituídos. Infelizmente, a sugestão não foi considerada oportuna e a maioria dos signatários da carta abandonou a congregação. Assim, casos como o do senhor e de outros legionários e eclesiásticos caluniados não serão esclarecidos.

Finalmente, Monsenhor Justo, só me resta agradecer ao senhor por ter tido o valor de enfrentar a corrupção de Maciel, por haver escutado as vítimas e por ter trazido o maior escândalo da Igreja Católica à luz. Compreendo que o senhor tenha pago um preço alto por sua lealdade à Igreja. Esperamos que a história e Ele, que é a “Luz do Mundo”, reconheçam e premiem o senhor abundantemente.

“Ex Igne Lux”.

Afetuosamente em Cristo,

Padre Peter Byrne, LC.

Original aqui. Tradução: Fratres in Unum.com

A sombra de Marcial Maciel na visita Pontifícia ao México.

Da matéria de Andrés Beltramo Alvarez para o Vatican Insider:

México - Cristo Rei de Cubilete.
México - Cristo Rei de Cubilete.

O bispo de Roma permanecerá no territorio mexicano por três dias, mas sua agenda será muito reduzida, sendo previsto apenas cinco atos públicos. Descansará em boa parte do tempo, para se recuperar da viagem de 14 horas que fará na sexta-feira, 23 de março, quando o avião papal deixará a capital italiana com destino ao estado central de Guanajuato.

Não seria difícil, então, encontrar um momento livre no qual se poderia inserir um breve encontro com as vítimas do fundador da Legião de Cristo, uma obra religiosa que por muitos anos gozou de grande prestígio. Mas os obstáculos a este gesto do pontífice são muitos, e de grande peso.

Entre os que sofreram os ataques de Maciel há diversas posições [sobre a ausência do encontro], emboras todas críticas. Alguns ex-legionários pensaram ser possível que o Papa recebesse as vítimas, mas rapidamente se decepcionaram. No entanto, outros rechaçaram qualquer possibilidade de se encontrar com ele.

“A verdade é que era algo esperado. Eu interpretei a recente viagem ao México do delegado pontifício (para a reforma da Legião, Cardeal Velasio de Paolis), que não se reuniu com as vítimas, como uma resposta oficial de um não encontro com o Papa”, disse ao Vatican Insider Patricio Cerda, membro da congregação por 17 anos e atualmente um dos  propulsores da Associação de Ajuda às Vítimas da Legião de Cristo.

“Para mim, por um lado, é triste, porque de Bento XVI se espera mais do que o politicamente correto, se espera que seja verdadeiramente um pastor. Por outro, estão em jogo interesses de vários cardeais, inclusive o primaz do México (Cardeal Norberto Rivera Carrera), que defendeu Maciel até o fim. As vítimas diretas do fundador tampouco querem ser parte de um mero jogo midiático”, acrescentou.

E criticou ainda as palavras de [Padre Federico] Lombardi [porta-voz da Santa Sé], segundo o qual este problema não seria “sentido pela sociedade”. “Os casos reconhecidos de pederastia clerical, como o do fundador dos Leginários, foram de alcance mundial e continuam perseguindo a Igreja e a mesma instituição”, ponderou.

Com efeito, o caso de Marcial Maciel Degollado é emblemático, um escândalo de grande envergadura. Não só pelos abusos do sacerdote contra seus oito ex-alunos que, em 1998, tiveram a coragem de denunciá-lo publicamente e receberam, em troca, uma campanha de descrédito de alto impacto. Mas porque, durante anos, várias personalidades da Igreja mexicana e também do Vaticano tiveram conhecimento das acusações, mas simplesmente as ignoraram.

O caso está longe de se tratar de um simples episódio de pederastia. O sacerdote teve uma vida dupla, e até tripla. Por um lado, construiu uma congregação religiosa modelo e adquiriu o apoio de altos prelados, enquanto, por outro, cometeu diversos abusos sexuais, fez uso sistemático de drogas e teve amantes com as quais teve filhos.

Foi um verdadeiro choque quando, em maio de 2010, o Vaticano declarou que “os gravíssimos e objetivamente imorais comportamentos do padre Maciel, confirmados por testemunhos inquestionáveis, representam, em alguns casos, verdadeiros crimes e manifestam uma vida sem escrúpulos nem autêntico sentimento religioso”.

O reconhecimento formal dos abusos do sacerdote mexicano se converteu na conclusão simbólica do processo iniciado em 1998, quando um jornal do sul dos Estados Unidos difundiu pela primeira vez o testemunho das vítimas.

Desde aquele momento, e durante os anos seguintes, o caso Maciel foi motivo de divisão, a pedra de escândalo para a Igreja no México. Uma sombra que se estendeu até a Santa Sé e até mesmo a João Paulo II. Atualmente, interpela o próprio Bento XVI que, em maio de 2006, obrigou o sacerdote a se retirar em “uma vida de oração e penitência, afastado de todo ministério público”.

Nem depois desta sanção e da morte de “Nuestro Padre” (como o chamavam seus seguidores) os bispos mexicanos pronunciaram um claro “mea culpa”. Nem sequer aqueles que o defenderam. Pelo contrario, sua figura se tornou inconveniente, embaraçosa. Por outro lado, as vítimas se converteram, lentamente, nos principais acusadores – duríssimos – da Igreja.

Encabeçadas por José Barba Martín, agora se preparam para dar um novo golpe, em plena visita papal ao México. No sábado, 24 de março, enquanto Bento XVI descansa na residência do Colégio Miraflores de León, eles apresentarão na mesma cidade o livro “A vontade de não saber”. Trata-se de uma compilação de 212 documentos supostamente em poder da Congregação para os Religiosos da Santa Sé e que demonstrariam o acobertamento institucional dos delitos do fundador dos Legionários.

Excluindo da agenda papal no México o possível encontro com os abusados por Marcial Maciel, a Sé Apostólica deixará nas mãos deles mesmos o “monopólio” de um assunto capaz de criar numerosos problemas. E perderá a oportunidade de sair definitivamente de baixo da sombra do indigno fundador. Porque no futuro todos poderão reclamar que o Papa ignorou as vítimas. E terão razão.

A viagem do Papa ao México e Cuba. Fidel Castro sim, vítimas do Padre Marcial Maciel não.

Cubanos rezam em preparação para a viagem do Papa.
Cubanos rezam em preparação para a viagem do Papa.

“Fidel Castro sim, vítimas do Padre Marcial Maciel não”. Assim Giacomo Galeazzi inicia sua coluna do último sábado no La Stampa, tratando da próxima viagem do Papa Bento XVI a Cuba e México, de 23 de 28 de março.

O encontro com o líder revolucionário cubano apresentaria menos problemas à Santa Sé do que com as vítimas do Padre fundador dos Legionários de Cristo, um “falso profeta, que levava uma vida imoral e deformada”, como qualificou o próprio Bento XVI.

O episcopado do México, onde Marcial fundou e consolidou sua obra, não programou nenhum encontro entre as vítimas e o Papa, como já se tornou habitual nos países visitados pelo sucessor de Pedro mais afetados pelo escândalo de homossexualismo e pedofilia entre clérigos.

O que testemunha o embaraço criado no México por conta do assunto, depois de décadas de poder ilimitado da ordem graças a ligações com expoentes da cúria romana, como os Cardeais Sodano e Dziwisz, e com milionários como Carlos Slim e Orio Muñoz. “Os Legionários ‘esvaziaram’ a América Latina da teologia da libertação e agora apresentam a conta à hierarquia eclesiástica local”, comenta-se com tristeza em Roma.

Falando aos jornais sobre a viagem papal, o porta-voz da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, SJ, informou que pode sim haver um encontro entre o Papa e Fidel Castro, antigo aluno de colégio de jesuítas, enquanto é quase certo que não haverá nenhum contato com os dissidentes cubanos e, seguramente, no México, nenhum momento com as vítimas de Marcial Maciel.

Sobre um encontro com os dissidentes políticos, que na última semana chegaram inclusive a invadir a Catedral de Havana para reivindicar um encontro com o Papa, Lombardi esclarece: “não está no programa e não o prevejo: nem mesmo João Paulo II teve encontros do gênero”.

Já um encontro com Castro “é uma eventualidade, algo possível”. Não está na programação, mas, se Fidel assim o quiser, “o Santo Padre estará disponível”.

Com relação às vítimas de Maciel, Lombardi é taxativo: “Não está previsto, os bispos não o pediram. Nos outros países em que esses encontros aconteceram, os bispos solicitaram porque o problema era sentido na sociedade e na Igreja. Neste caso não, não está no programa e não se deve esperá-lo”.

Segundo Lombardi, o Papa “está muito bem [de saúde], como demonstra essa fatigante viagem”.

Por sua vez, os grupos criminosos de Guanajuato, no México, declararam uma “trégua” virtual para o período em que o Papa Bento XVI estiver passando pelo estado.  Jornais locais afirmam que alguns dos integrantes das quadrilhas teriam sido convidados a participarem das fileiras que cuidarão da segurança do Papa, o que não foi confirmado nem pelas autoridades civis e muito menos pela Arquidiocese de León.

A programação da viagem:

A Basílica de Nossa Senhora de Guanajuato, León, México.
A Basílica de Nossa Senhora de Guanajuato, México, onde o Papa abençoará as crianças no dia 24.

23 de março: Chegada a León, Guanajuato, México;

24 de março: Benção das crianças de Guanajuato;

25 de março: Missa no Parque Bicentenário de León;

26 de março: Cuba – Missa em Santiago;

27 de março: Em Havana, encontro com Raul Castro;

28 de março: Encerramento da viagem com Missa em Havana.