Cardeal Müller: “Em vez de apreciar o cheiro de ovelha, o pastor aqui as golpeia duramente com seu cajado”.

Ninguém pode fechar os olhos para o fato de que até aqueles padres e leigos que celebram a Missa segundo o Missal de São Paulo VI estão sendo agora amplamente condenados como tradicionalistas. Os ensinamentos do Vaticano II sobre a unicidade da redenção de Cristo, a plena realização da Igreja de Cristo na Igreja Católica, a essência da liturgia Católica enquanto adoração a Deus e mediação da graça, a Revelação e sua presença na Escritura e Tradição Apostólica, a infabilidade do magistério, o primado do papa, a sacramentalidade da Igreja, a dignidade do sacerdócio, a santidade e indissolubilidade do matrimônio — tudo isso está sendo hereticamente negado em franca contradição ao Vaticano II pela maioria dos bispos e leigos alemães (mesmo que disfarçadamente sob expressões pastorais).

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Cardeal Gerhard Müller

Apesar de todo o aparente entusiasmo que eles expressam pelo papa Francisco, eles negam categoricamente a autoridade conferida a ele por Cristo como sucessor de Pedro. O documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a impossibilidade de se legitimar atos sexuais do mesmo sexo ou extra-conjugais por meio de uma benção é ridicularizado pelos bispos, padres e teólogos alemães (e não só alemães), como uma mera opinião de sub-qualificados oficiais da cúria. Aqui nós temos uma ameaça à unidade da Igreja na Fé revelada, que evoca a dimensão da separação protestante de Roma no século dezesseis. Dada a desproporção entre a relativamente modesta resposta aos ataques massivos à unidade da Igreja pelo “Caminho Sinodal” alemão (assim como em outras pseudo reformas) e a severa disciplina sobre a minoria do rito antigo, a imagem de um caminhão de bombeiros desorientado vem à mente — ao invés de salvar a casa em chamas, primeiro ele salva o pequeno paiol próximo a ela. 

Sem a menor empatia, ignora-se os sentimentos religiosos dos (frequentemente jovens) participantes das Missas segundo o missal de João XXIII (1962). Em vez de apreciar o cheiro de ovelha, o pastor aqui as golpeia duramente com seu cajado. Também parece injusto abolir as celebrações no rito “antigo” simplesmente porque elas atraem gente problemática: abusus non tollit usum.  

Palavras do Cardeal Gerhard Müller ao site The Catholic Thing sobre o motu proprio Traditionis Custodes.

Cardeal Müller: “O grande erro foi trazer os ídolos para dentro da Igreja, não colocá-los para fora”.

Por LifeSiteNews, WASHINGTON, DC, 24 de outubro de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com – O Cardeal Gerhard Müller lançou uma forte declaração contra a instalação de “ídolos” em uma igreja romana para o Sínodo da Amazônia.

Em um trecho de uma entrevista nesta noite com Raymond Arroyo, em seu programa The World Over, transmitido pela EWTN, o Cardeal Müller afirmou que “trazer os ídolos para uma igreja é um pecado grave, um crime contra a lei divina”.

Müller é ex-Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Os comentários foram feitos após Arroyo mencionar o fato de que pessoas removeram os controversos ídolos pagãos da Igreja de Santa Maria del Traspontina e os jogaram no Rio Tibre, pedindo o comentário do Cardeal.

“O grande erro foi trazer os ídolos para a igreja”, respondeu o cardeal, “não retirá-los, porque segundo a Lei do próprio Deus — o primeiro mandamento –, a idolatria é um grave pecado e não se deve misturar [os ídolos] com a liturgia cristã”.

“Retirá-los”, continou Müller, “jogá-los fora, pode ser contra a lei humana, mas trazer os ídolos para dentro de uma igreja foi um pecado grave, um crime contra a Lei de Deus”.

“É uma diferença profunda”.

Assista ao diálogo: 

O cardeal alemão recentemente fez alguns fortes comentários contra o paganismo que pode ser visto no Sínodo da Amazônia. Em um comentário escrito para LifeSiteNews, ele lamenta que “nem mesmo bispos percebem quando a divisa do velho paganismo foi cruzada”, e explica que a idolatria e a superstição são “pecados contra Deus, porque confundem o Criador com sua criação”.

“A adoração a Deus”, explica ele, “é a verdadeira teologia da libertação do medo, do pavor e da insegurança que nos vem do mundo material e dos homens. E só com a ajuda do Evangelho e da graça de Cristo, uma cultura pode desenvolver suas influências positivas e ser libertada do poder do mal”.

O Cardeal Müller então recordou também as palavras ditas por São Pedro: “Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo”.

Cardeais atacam sínodo e miram o papa Francisco.

Religiosos alemães dizem que evento sobre Amazônia seria uma ‘desculpa’ para tratar de política, abolição do celibato e sacerdócio feminino.

Por José Maria Mayrink, O Estado de S.Paulo, 11 de agosto de 2019 – As críticas de cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia e indiretamente ao papa Francisco deverão tumultuar o encontro em Roma, de 6 a 27 de outubro. A reunião de alguns dos principais nomes da Igreja Católica, já alvo de críticas políticas, também vira palco do confronto interno em relação ao atual pontificado.

O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé (1912-1917), Gerhald Muller, de 71 anos, e seu colega Walter Brundemuller, de 90 anos – um dos signatários da carta Dubia, que pede esclarecimentos sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual se discutem situações como a comunhão dos divorciados -, disseram que o documento sobre o Sínodo contém heresia, estupidez e apostasia.

Papa Francisco

Prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé acusa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja Foto: MAURIZIO BRAMBATTI/EPA/EFE

No livro recém-publicado Römische Begegnungen (Encontros em Roma, em livre tradução), Muller acusa o papa Francisco de trabalhar pela dissolução da Igreja. No texto, há amplas críticas a aproximações com “política” e “intrigas”, além de falas sobre uma secularização da Igreja ao modelo protestante. São amplas as queixas, por exemplo, à celebração dos 500 anos da Reforma (em 2017), que teve em seu final a presença do pontífice.

Marxismo

Em relação ao encontro de outubro, Muller concentra suas objeções aos conceitos de cosmovisão (com acenos a mitos e rituais evocando a “mãe natureza”), ecoteologia, cultura indígena e ministério sacerdotal, com a possibilidade de ordenar padres casados, presente no instrumento de trabalho. “A cosmovisão dos povos indígenas é uma concepção materialista semelhante ao marxismo e não é compatível com a doutrina cristã”, afirmou o cardeal, em entrevista em 17 de julho. Àqueles que por acaso veem nele um defensor do eurocentrismo, Muller afirma que por 15 anos visitou o Peru, em viagens regulares de ao menos três meses. Nessas, manteve contatos constantes com Gustavo Gutierrez, principal teórico da Teologia da Libertação.

O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé adverte que a tarefa dos cristãos não é preservar a natureza como ela é, mas ter a responsabilidade pelo progresso da humanidade, na educação e na justiça social, pela paz. Os homens, incluindo os índios da Amazônia, são assim chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus.

“É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas”, afirmou o cardeal Brundemuller.

O Sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros, sem contar os convidados do papa. Estarão presentes os bispos titulares dos nove Estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os países estrangeiros cortados pela floresta são Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Dom Cláudio

O cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e nomeado pelo papa relator-geral do sínodo, não comentou ao Estado as críticas dos cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho. Mas seu pensamento está em uma entrevista concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, e publicada agora no semanário alemão Stimmen der Zeit.

Para Hummes, o foco da próxima reunião está em criar “uma Igreja indígena para as populações indígenas” e “inculturada”. Ele ainda destaca que o evento responde a um desejo do papa Francisco, sobre o qual conversavam – e “rezavam” – desde 2015.

Francisco diz que ordenação de casados não será tema central

“Absolutamente, não.” Em uma clara resposta a setores da Igreja que levantam dúvidas sobre o sínodo, o papa afirmou esta semana que a possibilidade de ordenar “viri probati” – normalmente idosos, ligados a comunidades amazônicas e de virtude comprovada – não será tema central do encontro. “É simplesmente um ponto do Instrumentum Laboris. O foco são os ministros da evangelização e as diferentes formas de atuação”, disse em entrevista publicada anteontem pelo jornal italiano La Stampa.

Mais diretamente, o pontífice afirmou que essa reunião é filha direta de sua encíclica verdeLaudato Si, na qual expõe o planeta como uma casa comum. “Quem não a leu não entenderá o sínodo”, diz Francisco. O papa defendeu a Amazônia como parte importante a ser preservada, a exemplo dos oceanos. Sua perda, segundo ele, poderia levar à redução da biodiversidade e ao surgimento de doenças mortíferas.

Na entrevista, o chefe da Igreja Católica não fugiu das discussões políticas na região, destacando por exemplo que os governos locais devem responder diretamente sobre “as minas ao ar livre” que envenenam os rios, por exemplo. “A ameaça à vida dessas populações e desse território envolve interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, afirmou.

No texto divulgado na Alemanha, na semana passada, o cardeal d. Cláudio Hummes também afirmou que é necessário confrontar “resistências” existentes “tanto na Igreja quanto fora dela”. Para ele, “ interesses econômicos e o paradigma tecnocrático se opõem a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se impor pela força”. Ele fala ainda de crimes ambientais que ficaram impunes e destaca a necessidade de o encontro tratar de direitos humanos.

Medalha

Uma medalha cunhada especificamente para o sínodo foi apresentada anteontem, na qual aparece uma imagem do trabalho missionário da Igreja na Amazônia via rito do batismo e da eucaristia.

Em seu texto oficial, o Vaticano alega que “o enfoque missionário na Amazônia exige mais do que nunca um magistério eclesial exercido na escuta do Espírito Santo, que seja capaz de assegurar tanto a unidade como a diversidade e, portanto, uma cultura de encontro em harmonia multiforme”.

Cardeal Müller: Falta de sacerdotes não pode ser superada ordenando homens casados.

REDAÇÃO CENTRAL, 29 Jul. 19 / 12:00 pm (ACI).- O Cardeal alemão Gerhard Müller indicou em um recente programa que, embora em algumas regiões haja falta de sacerdotes, isso não significa que o problema possa ser superado apenas “com algumas atitudes práticas”, em referência à ordenação de homens casados ​​que será discutida na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

O estudo sobre a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas em áreas remotas está no Instrumentum laboris, documento de trabalho do sínodo, publicado em 17 de junho de 2019. O encontro dos bispos será realizado em Roma, de 6 a 27 de outubro.

Durante o programa EWTN News Nightly, de 25 de julho, o jornalista Wyatt Goolsby perguntou ao prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé por que é “tão controverso” ordenar homens casados ​​em áreas remotas como a Amazônia, quando a Igreja permite em algumas circunstâncias especiais (como no caso dos anglicanos).

Ao responder a pergunta, o Cardeal Müller disse: “As condições para os sacramentos e especialmente para o sacramento da ordenação são as mesmas em todos os lugares. São necessários aqueles homens que estejam prontos, tenham preparação e estejam dispostos a oferecer sua vida para se converter nos sucessores dos apóstolos, a serviço de um bispo, ou um sacerdote, ou diácono. E, certamente, em algumas regiões há grande falta de sacerdotes, mas não podemos superar isso apenas com algumas atitudes práticas”.

O Prelado disse que o que deve ser feito é “aprofundar a missão e vocação”, porque Jesus “nos disse que nem sempre há operários suficientes nas vinhas do Senhor e devemos rezar para que o Senhor da colheita envie alguns operários para a Igreja neste serviço de bispos e sacerdotes ordenados”.

Durante a entrevista, o Cardeal Müller disse que o próximo sínodo deveria ter como base a “revelação de Deus em Jesus Cristo e a doutrina da Igreja Católica”, no entanto, existem algumas situações que lhe causam preocupação.

“Neste documento, não vi certas doutrinas sobre o Deus Uno e Trino e sobre a Encarnação; fala-se apenas a partir das experiências de pessoas que vivem na região do Amazonas ou das pessoas que falam da região do Amazonas e querem convertê-la em um novo paradigma para toda a Igreja. Isso não pode ser”, assinalou.

Finalmente, o jornalista perguntou ao Cardeal: “O que diria aos críticos que dizem que você deveria promover a unidade na Igreja neste momento e não necessariamente criticar o que o Santo Padre e os outros bispos estão fazendo?”.

O Cardeal Müller foi enfático e indicou que “não critica ninguém”.

“Eu não critico ninguém, mas devo dizer que sou responsável pela Doutrina da Igreja como todos os bispos. Ninguém pode dizer apenas seus próprios pensamentos e dizer que estamos fora de toda crítica possível, porque não temos o positivismo do Magistério, mas estamos dizendo que conta o Concílio Vaticano II, que fez com que toda a teologia, toda doutrina e a missão da Igreja se baseiem na Bíblia, na tradição apostólica e nas definições do Concílio que fizemos há muito tempo na história da Igreja”, concluiu.

Cardeal Müller: documento vaticano sobre a Amazônia contém heresia e estupidez. “Não tem nada a ver com o cristianismo”.

IHU – O cardeal Gerhard Müller juntou-se ao seu colega alemão, o cardeal Walter Brandmüller, para condenar o tão debatido texto de trabalho do Vaticano para o próximo Sínodo da Amazônia, nos termos mais fortes possíveis, chamando-o de uma obra não apenas de heresia, mas também de estupidez.

A reportagem é de Debra Heine, publicada por PJMedia.com, 11-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O cardeal conservador tem soado sinais de alerta sobre o controverso Sínodo de 6 a 27 de outubro, advertindo que seu propósito secreto é modificar o ensino da Igreja sobre a moral sexual e abrir suas portas para a “ecoteologia”.

Instrumentum laboris (ou documento de trabalho) do Vaticano “representa a abertura, de par em par, das portas do Magistério à ‘teologia indígena’ e à ‘ecoteologia’, dois derivados latino-americanos da teologia da libertação, cujos corifeus, depois da derrubada da União Soviética e do fracasso do ‘socialismo real’, atribuem aos povos indígenas e à natureza o papel histórico da força revolucionária em chave marxista”, opinou o autor chileno José Antonio Ureta recentemente.

O ex-editor-chefe do The Catholic HeraldDamian Thompson, chamou o documento, sem meias palavras, de “lixo”.

Em sua entrevista à revista católica La Nuova Bussola QuotidianaMüller pareceu concordar, dizendo que o documento tem “uma visão ideológica que não tem nada a ver com o cristianismo”.

“O Sínodo da Amazônia é um pretexto para mudar a Igreja, e o fato de ser feito em Roma quer enfatizar o início de uma nova Igreja”, disse Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

O prelado alemão disse que os apoiadores do papa já atacaram a ele e a outros por criticarem o documento, em um esforço para reprimir suas críticas.

Mas o Instrumentum laboris, apontou ele, “não tem nenhum valor magisterial”, portanto, “só ignorantes podem dizer que aqueles que o criticam são inimigos do papa”.

Müller continuou:

“Infelizmente, esse é o truque deles para evitar qualquer diálogo crítico. Se você tenta fazer uma objeção, você é imediatamente rotulado como inimigo do papa. Um esclarecimento mais do que apropriado, porque o texto do Instrumentum laboris é desconcertante ao descrever a Amazônia e os povos que a habitam como um modelo para toda a humanidade, um exemplo de harmonia com a natureza, uma síntese perfeita do que se entende por ecologia integral.

“É um documento que apresenta um quadro idílico da Amazônia, incluindo as religiões indígenas, a ponto de tornar inútil o cristianismo, senão para o apoio ‘político’ que ele pode dar para manter esses povos incontaminados e defendê-los dos predadores que querem levar desenvolvimento e ‘roubar’ recursos.”

O cardeal acrescentou que o papa e seus aliados “querem salvar o mundo de acordo com sua ideia, talvez utilizando alguns elementos das Escrituras”, mas as ideias deles são “profanas” e “não têm nada a ver com a Revelação”.

“Não por acaso, embora se fale de Revelação, de Criação, de sacramentos, de relações com o mundo, não se faça quase nenhuma referência substancial aos textos do Concílio Vaticano II que definem esses aspectos: Dei VerbumLumen gentiumGaudium et spes. Não se fala da raiz da dignidade humana, da universalidade da salvação, da Igreja como sacramento de salvação do mundo. Há apenas ideias profanas, sobre as quais se pode discutir, mas que não têm nada a ver com a Revelação.”

Ele citou uma seção do documento em que se fala de “um amplo e necessário campo de diálogo entre as espiritualidadescrenças e religiões amazônicas, que exige uma abordagem cordial das diferentes culturas. (…) A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras desde mesmo credo”.

“Eles tratam o nosso Credo como se fosse a nossa opinião europeia. Mas o Credo é a resposta iluminada pelo Espírito Santo à Revelação de Deus em Jesus Cristo, que vive na Igreja. Não há outros credos. Em vez disso, existem outras convicções filosóficas ou expressões mitológicas, mas ninguém jamais ousou dizer, por exemplo, que a Sabedoria de Platão é uma forma da revelação de Deus. Na criação do mundo, Deus manifesta apenas a Sua existência, o Seu ser um ponto de referência da consciência, do direito natural, mas não há nenhuma outra revelação fora de Jesus Cristo. O conceito de Lógos spermatikòs (as ‘sementes da Palavra’), adotado pelo Concílio Vaticano II, não significa que a Revelação em Jesus Cristo existe em todas as culturas independentemente de Jesus Cristo. Como se Jesus fosse apenas um desses elementos da Revelação.”

Quando perguntado se ele concordava com a avaliação do cardeal Brandmüller de que o documento é uma obra de “heresia”, Müller respondeu: “Heresia? Não só isso, é também estupidez. O herege conhece a doutrina católica e a contradiz. Mas aqui se faz apenas uma grande confusão, e o centro de tudo não é Jesus Cristo, mas eles mesmos, as suas ideias para salvar o mundo”.

No documento, a “cosmovisão” dos povos indígenas é um modelo de ecologia integral, que seria uma concepção na qual espíritos e divindades agem “com e no território, com e em relação com a natureza”.

Müller explicou porque o termo “cosmovisão” é incompatível com a doutrina da Igreja.

“A ‘cosmovisão’ é uma concepção materialista, semelhante à do marxismo, no fim, podemos fazer o que quisermos. Mas nós cremos na Criação, a matéria é a forma da essência da natureza, não podemos fazer o que quisermos. A Criação é para a glorificação de Deus, mas também é um desafio para nós, chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus para todos os homens. A nossa tarefa não é preservar a naturezacomo ela é, mas nós temos a responsabilidade pelo progresso da humanidade, na educação, na justiça social, pela paz.

“É por isso que os católicos constroem escolas, hospitais, essa também é a missão da Igreja. Não se pode idealizar a natureza como se a Amazônia fosse uma zona do Paraíso, porque a natureza nem sempre é amorosa para com o homem. Na Amazônia, existem predadores, existem infecções, doenças. E até mesmo essas crianças, esses jovens têm direito a uma boa educação, a fruir da medicina moderna. Não se pode idealizar, como se faz no documento sinodal, apenas a medicina tradicional.”

Ele também criticou a linguagem “hippie” do documento, como “conversão ecológica” e “Mãe Terra”.

“Devemos rejeitar absolutamente expressões como ‘conversão ecológica’, argumentou Müller. “Há apenas a conversão ao Senhor, e, como consequência, há também o bem da natureza.”

“Não podemos fazer do ecologismo uma nova religião, estamos aqui em uma concepção panteísta, que deve ser rejeitada. O panteísmo não é só uma teoria sobre Deus, mas também um desprezo pelo homem. Deus que Se identifica na natureza não é uma pessoa. Deus criador, ao contrário, criou-nos à Sua imagem e semelhança. Na oração, temos uma relação com um Deus que nos escuta, que entende o que queremos dizer, não um misticismo em que podemos dissolver a identidade pessoal.”

Ele continuou:

“A nossa mãe é uma pessoa, não a Terra. E a nossa mãe na fé é Maria. A Igreja também é descrita como mãe, como a noiva de Jesus Cristo. Mas essas palavras não devem ser infladas. Uma coisa é ter respeito por todos os elementos deste mundo, outra coisa é idealizá-los ou divinizá-los. Essa identificação de Deus com a natureza é uma forma de ateísmo, porque Deus é independente da natureza. Eles ignoram totalmente a Criação.”

Müller também discorda fortemente da crítica feita pelo documento ao antropocentrismo – a visão de que os seres humanos são a entidade mais importante no universo – chamando-a de “uma heresia contra a dignidade humana”.

“É uma ideia absurda pretender que Deus não seja antropocêntrico”, argumentou. “O homem é o centro da Criação, e Jesus se fez homem, não se fez planta.”

“Essa é uma heresia contra a dignidade humana. Pelo contrário, a Igreja deve enfatizar o antropocentrismo, porque Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. A vida do homem é infinitamente mais digna do que a vida de qualquer animal. Hoje já existe uma inversão desse princípio: se um leão é morto na África, é um drama mundial, mas aqui se matam as crianças no ventre da mãe, e está tudo bem. Stalin também defendia que era preciso tirar essa centralidade da dignidade humana; assim, ele podia chamar muitos homens para construir um canal e fazê-los morrer em prol das gerações futuras. É para isso que servem essas ideologias, para fazer com que alguns dominem sobre todos os outros. Mas Deus é antropocêntrico, a Encarnação é antropocêntrica. A rejeição do antropocentrismo vem apenas do ódio a si mesmos e aos outros homens.

“Outro conceito promovido no Instrumentum laboris é a ideia de inculturação, que está intimamente associada à Encarnação, ou ‘o Verbo se fez carne’. De acordo com a doutrina da Igreja, Jesus Cristo, a segunda pessoa da Trindade, era ‘verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem’. Ele foi concebido no ventre de uma mulher, a Virgem Maria, assim, a natureza divina do Filho se uniu, mas não se misturou, com a natureza humana.”

inculturação é a adaptação da liturgia cristã a culturas principalmente não cristãs. O fato de o documento aparentemente usar as palavras em ambos os sentidos incomodou o cardeal imensamente. “Usar a Encarnação quase como um sinônimo de inculturação é a primeira mistificação”, irritou-se.

“A Encarnação é um evento único, irrepetível, é o Verbo que se encarna em Jesus Cristo. Deus não se encarnou na religião judaica, não se encarnou em Jerusalém. Jesus Cristo é único. É um ponto fundamental, porque os sacramentos dependem da Encarnação, são presença do Verbo encarnado. Não se pode abusar de certos termos que são centrais no cristianismo.

Pergunta – Voltemos à inculturação: a partir do documento sinodal, entendemos que devemos adotar todas as crenças dos povos indígenas, seus rituais e seus costumes. Também se faz referência ao modo como o cristianismo primitivo se inculturou no mundo grego. E se diz que, assim como fizemos naquela época, devemos fazer hoje com o povo amazônico.

“Mas a Igreja Católica nunca aceitou os mitos gregos e romanos. Pelo contrário, rejeitou uma civilização que desprezava os homens com a escravidão, rejeitou a cultura imperialista de Roma ou a pederastia típica dos gregos. A referência da Igreja era ao pensamento da cultura grega, que chegara a reconhecer elementos que abriam o caminho para o cristianismo. Aristóteles não inventou as 10 categorias: elas já existem no ser, ele as descobriu.

“Assim como acontece na ciência moderna: não é algo que diga respeito apenas ao Ocidente, mas sim a descoberta de algumas estruturas e mecanismos que existem na natureza. O mesmo vale para o direito romano, que não é um sistema arbitrário qualquer. Em vez disso, é a descoberta de alguns princípios jurídicos, que os romanos encontraram na natureza de uma comunidade. Certamente, outras culturas não tiveram essa profundidade. Mas nós não vivemos na cultura grega, o cristianismo transformou totalmente a cultura grega e romana. Certos mitos pagãos podem ter uma dimensão pedagógica em relação ao cristianismo, mas não são elementos que fundaram o cristianismo.”

Talvez o aspecto mais controverso do Instrumentum laboris seja a sua releitura dos sacramentos, especialmente no que diz respeito às ordens sagradas, sob o pretexto de que há poucos padres em áreas tão remotas.

Müller reclamou que a abordagem “não tem nada a ver com o cristianismo”.

“A Revelação de Deus em Cristo faz-se presente nos sacramentos, e a Igreja não tem nenhuma autoridade para mudar a substância dos sacramentos”, argumentou ele. “Eles não são alguns ritos que nos agradam, e o sacerdócio não é uma categoria sociológica para criar uma relação na comunidade.”

“Qualquer sistema cultural tem os seus ritos e os seus símbolos, mas os sacramentossão meios da Graça divina, de modo que não podemos mudar nem o seu conteúdo nem a sua substância. Também não podemos mudar o rito quando esse rito foi constituído pelo próprio Cristo. Não podemos fazer o batismo com qualquer líquido, nós o fazemos com água natural. Na Última Ceia, Jesus Cristo não tomou qualquer bebida ou comida, ele tomou vinho de uva e pão de trigo.”

Quando perguntado sobre quem ele tinha em mente quando se referia “àqueles que querem mudar a Igreja”, Müller disse que não se trata de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, mas sim a um “sistema” composto voluntariamente por pessoas cegas que acreditam que estão melhorando a Igreja, mas, de fato, a estão destruindo.

“Queremos nos adaptar ao mundo: matrimôniocelibatomulheres sacerdotes, tudo deve ser mudado na convicção de que assim haverá uma nova primavera para a Igreja”, explicou. “Eles não veem que, ao contrário, eles destroem a Igreja, são como cegos que caem na fossa. Mas, se alguém diz alguma coisa, é imediatamente marginalizado, rotulado como inimigo do papa.”

Projeto de reforma da Cúria é ”profundamente falho”, diz cardeal Müller.

IHU – O esboço para a reforma da Cúria Romana, recentemente distribuído às Conferências Episcopais, carece de um conceito coerente de Igreja, disse o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em uma entrevista ao jornal alemão Passauer Neue Presse, no dia 6 de maio.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em The Tablet, 08-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“No atual esboço de ‘A Cúria Romana e seu serviço ao mundo de hoje’, não se pode reconhecer um conceito coerente da origem, da natureza e da missão da Igreja”, defendeu o cardeal Gerhard Müller.

Müller disse que a seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé, em particular, mostra uma “flagrante falta de competência teológica”. A linha seguida pelo rascunho oscila entre uma “espiritualização” do ethos que todos os membros da Cúria têm que abraçar e um “conceito mundano de Igreja, que deve ser administrada como uma corporação internacional”. Como resultado, a Cúria estava em uma espécie de limbo, em um estado flutuante, de incerteza, disse.

O esboço é um conglomerado de ideias individuais subjetivas, de desejos piedosos e de apelos morais com citações isoladas de textos do Concílio e dos escritos ou discursos do papa. Acima de tudo, não consegue distinguir claramente entre a instituição mundana do Vaticano como Estado soberano, a Santa Sé como sujeito de direito internacional e os fundamentos puramente eclesiásticos do primado do papa.

“Como bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro, o papa é o princípio e a base visíveis da unidade de todas as Igrejas locais na fé revelada”, assinalou Müller. As tarefas mundanas da Igreja são secundárias e não vinculadas essencialmente ao papado. Dar prioridade às tarefas mundanas sobre a missão espiritual da Igreja, como acontece hoje, é um erro que deve ser evitado a todo custo, enfatizou.

A seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé mostra uma surpreendente “falta de noção teológica” por parte dos autores. “Conceitos básicos de teologia católica como Revelação, Evangelho, Sagrada Escritura, Tradição Apostólica ou Magistério são usados de forma imprecisa ou errada”, afirmou Müller, e só se pode esperar que toda a seção sobre a Congregação para a Doutrina da Fé seja “reescrita do zero” por um teólogo qualificado e canonista.

Müller detestou o fato de não haver mais uma congregação “suprema”. “O esboço é um plano desorganizado que reúne 16 dicastérios. O serviço de caridade do papa (Esmolaria), por exemplo, precede a Liturgia e os Sacramentos. A evangelização ocupa o primeiro lugar, embora, na verdade, seja uma tarefa para toda a Igreja e não especificamente para o papa”, disse Müller. Infelizmente, nesse esboço, a promulgação da Doutrina da Fé é uma “tarefa arbitrária do papa entre muitas outras tarefas e vem depois de suas outras tarefas”, disse Müller.

Foto da semana.

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O Cardeal Gerhard Muller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, está no Brasil para o lançamento da tradução em Português do primeiro texto da “Opera Omnia”, obra teológica do Papa emérito Bento XVI, intitulado “Teologia da Liturgia, o Fundamento Sacramental da Existência Cristã”. Sua Eminência proferiu conferências em Porto Alegre e São Paulo, e ainda estará em Sorocaba e Aparecida antes de concluir sua viagem.

Na conferência na PUC em São Paulo, Muller fez declarações acerca da liturgia que desagradaram a maioria dos clérigos presentes, com críticas ratzingerianas aos rumos da reforma litúrgica pós-conciliar. A conferência pode ser assistida na íntegra aqui.

O Manifesto do Cardeal Müller. E a íntegra da entrevista.

Publicamos a seguir a íntegra da entrevista, já publicada anteriormente em versão reduzida, concedida pelo Cardeal Gerhard Ludwig Müller ao La Nuova Bussola Quotidiana, bem como a versão portuguesa de sua Declaração de Fé.

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Cardeal Gerhard Müller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Dom Gerhard Müller fala de maneira calma, buscando sempre as palavras corretas em italiano,mas seus juízos chegam claros e nítidos. Apesar de sua figura imponente, tem modos simples e malgrado tenha uma mais que sólida formação teológica (cuida, entre outras coisas, da opera omnia do cardeal Joseph Ratzinger-Bento XVI) tem a capacidade de ser muito claro.

Ele me acolhe cordialmente em seu apartamento, a dois passos da Basílica de São Pedro, que ele manteve apesar de ter sido demitido pelo Papa Francisco, o qual de uma forma um tanto brutal, em julho de 2017, não renovou seu mandato como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas este ano suas intervenções, fronte a confusão crescente que se verifica na Igreja, tiveram sempre o timbre do “guardião da ortodoxia”, uma espécie de Prefeito “sombra” do ex Santo Ofício.

Cardeal Müller, em vinte dias haverá um encontro no Vaticano sobre abusos sexuais, um escândalo que está obscurecendo a imagem da Igreja e que, ao mesmo tempo, causa muitas tensões … 

Creio que antes de mais nada este tema deve ser entendido em sua dimensão real. Embora seja um escândalo grave, é injusto generalizar, pois os abusos dizem respeito, de qualquer forma, a uma forma muito limitada de sacerdotes. E eu me sinto no dever de agradecer a todos os bispos, os sacerdotes e os diáconos e os outros colaboradores da Igreja Católica pelo modo com que se dedicam à missão confiada por Jesus e porque vivem conforme os critérios de nossa espiritualidade cristã. É justo que a opinião pública se dê conta deste bom trabalho e dos sacrifícios que fazem nossos bons pastores, tantos homens que buscam a verdade em suas vidas, que buscam a verdade de Deus em Jesus Cristo.

Em segundo lugar devemos reconhecer que este é um fenômeno que já teve o seu pico nos anos 70 e 80 do século passado, também por efeito da revolução sexual; desde então muito foi feito e hoje os casos diminuíram muito. Além disso é de perguntar-se do motivo pelo qual a opinião pública seja induzida a falar só disto e não de todos os abusos e crimes contra as crianças e os adolescentes que existem no mundo: não só os sexuais, que também na maior parte ocorrem fora da Igreja, mas também outros crimes como o aborto, ou então a possibilidade que a tantos é negada de viver com os próprios pais, mães, irmãos. E assim por diante.

É verdade. No entanto a Igreja se encontra no dever de confrontar-se com um fenômeno inquietante e, como o caso do ex cardeal McCarrick demonstra, ainda tem dificuldade em julgar também o passado.

Claramente é terrível para a Igreja que haja padres envolvidos, homens que em vez de terem vidas exemplares, abusam de sua missão. Representantes de Jesus Cristo, o Bom Pastor, agindo como lobos: é uma perversão de sua missão.

Mas quais são as causas dos abusos em relação aos menores?

Certamente quem abusa não reconhece a dignidade de um menor, que é um homem e como todos os homens tem sua dignidade. Mas é também uma sexualidade não dominada. O homem é chamado a usar sua sexualidade no sentido desejado pelo Criador, como está descrito no início do Gênesis.

A esmagadora maioria dos abusos sexuais cometidos por clérigos são, na verdade, atos homossexuais.

É um fato que mais de 80% das crianças vítimas de abuso são homens e adolescentes. Devemos encarar essa realidade, são estatísticas que não podem ser negadas. Os que  não querem ver esta realidade acusam os que dizem a verdade de aversão aos homossexuais em geral.  Mas os homossexuais enquanto categoria não existem, é uma invenção. É evidente que eles falam para encobrir os seus próprios interesses. Voltemos ao Gênesis: existe uma sexualidade feminina e uma masculina, nada mais. O homem foi criado para a mulher e a mulher foi criada para o homem, como diz São Paulo na Primeira Carta os Coríntios (capítulo ll). Na criação, o conceito de homossexualidade não existe, é uma invenção que não possui nenhum fundamento na natureza humana. As tendências homossexuais não são um fato ontológico, mas de ordem psicológica. Alguns querem tornar a homossexualidade  um dado ontológico.

No Código de Direito Canônico de 1983 desapareceu o cânone que anteriormente estabelecia para os clérigos responsáveis de atos sodomitas a remoção do ofício, a privação de qualquer privilégio e, nos casos mais graves, a redução ao estado laical. O que também hoje torna mais difícil intervir em casos como os do ex cardeal McCarrick. Quem quis cancelar este cânone e por qual motivo?

Não o sei, mas creio que seja fruto da atmosfera geral daquele período: não se quer punir as pessoas, mas apontar para o positivo. Seguramente a intenção é boa, mas não se pode negar a realidade da fraqueza humana. Se adverte as pessoas para ajuda-las a fazer o bem. E sobretudo a Igreja não pode aceitar entre os sacerdotes um mau comportamento contrário à vontade de Deus, assim destrói a própria credibilidade.

Existe infelizmente quem fez própria a ideologia homosexualista, mas se pode aceitar a falsidade do mundo e introduzi-la na Igreja? Devemos alimentar-nos da Palavra de Deus, da Escritura, da Tradição, do Magistério. Estes são os pontos de pensar como um católico. Devemos dar ao tempo moderno a boa resposta que vem de Deus. É o mundo que necessita de salvação, e não Deus que tem necessidade de salvação por parte do mundo.

Nos dias passados foi lançada uma petição justamente para pedir aos padres que participarão na reunião de cúpula no Vaticano em fevereiro de fechar a rede homossexual, e um dos pontos diz respeito justamente a reintrodução do cânone que pune os atos sodomitas.

Creio que a petição é legítima, há quem queira negar a verdade estatística pela qual a grande maioria dos abusos cometidos por sacerdotes sejam atos homossexuais. Não se pode fugir a esta realidade. Quem a nega não quer resolver o problema. Não se devem subvalorizar também os abusos cometidos com seminaristas: é um pecado enorme, um crime contra a dignidade destes homens, mas também no confronto com os genitores que confiam os próprios filhos aos sacerdotes, ao bispo, ao seminário. Um bispo que cai a este nível é um escândalo enorme. Imaginemos o que teria feito Jesus se um dos apóstolos tivesse feito isso com alguns outros discípulos? É um absurdo só em pensá-lo. Mas temo que também estas iniciativas de leigos sejam neutralizadas, acusando-as de uma rebelião contra o Papa.

É uma fixação, também o cardeal Kasper interveio várias vezes nestes dias denunciando um complô para fazer demitir o Papa Francisco.

Infelizmente no Vaticano existe quem explica tudo o que acontece na Igreja com o fato que seriam os inimigos do Papa que estão organizando um complô, através de sites da internet. Da Itália, Estados Unidos, Alemanha, França, todos juntos só para criar problemas ao Papa. É uma loucura. Não conheço todas as motivações dos outros, mas um católico está sempre ao lado do Papa, mesmo quando pode ter opiniões diversas sobre as quais é possível discutir. Os verdadeiros amigos do Papa são os que dizem a verdade, que o ajudam a encontrar o caminho certo, e não os que querem levá-lo na própria direção.

A propósito, o Papa e seus colaboradores mais estreitos quando falam de abusos apontam o dedo contra o clericalismo.

É um termo equívoco. O que é o clericalismo? Quem define este conceito? E quem é clerical? O termo nasceu na França e na Itália no século XIX e servia para atacar a Igreja como inimiga da sociedade moderna. Verdadeiramente querem entrar nesta polêmica contra nós próprios? Ou querem acusar Jesus que instituiu o clero? Clero é o termo grego que encontramos nos Atos dos Apóstolos quando os 11 Apóstolos tiram a sorte para a substituição de Judas e transferem a sua “parte” – cleros – a Matias.

Cleros então não é um grupo de pessoas, mas a participação na autoridade de Jesus Cristo que foi transferida aos Apóstolos e seus sucessores. Não é certamente este clericalismo que pode ser considerado culpado de pecado contra o VI mandamento. Os verdadeiros abusos de poder são a simonia, o carreirismo ou fazer-se cortesão na corte do Papa para receber a mitra, para ser premiado. Quando Maquiavel vale mais do que o evangelho no exercício da política eclesiástica, que é o abuso de poder. Falar de clericalismo ou por sob acusação o celibato é uma falsa estrada que desvia da verdadeira causa do problema.

Com efeito, não são poucos os que põem em discussão o celibato como resposta aos abusos.

Ao contrário, devemos levar a sério o VI mandamento, a castidade como atitude, como virtude. Não é fácil nesta cultura sexualizada, mas é necessário se queremos encontrar uma saída a este desastre, que interessa toda a sociedade. A Igreja indica um caminho, é necessário retomar nossa antropologia. A Igreja não deve ser vista como uma organização que distribui poder e prestígio, é família de Deus que comporta familiaridade entre todos nós, a responsabilidade de um pelo outro, o respeito para com as crianças e os jovens. Nunca ver a outra pessoa como objeto de cupidez. O outro é sempre sujeito, nunca objeto, merece respeito.

Em vista da reunião de cúpula no fim de fevereiro, há já aqueles que querem aproveitar para sustentar que a homossexualidade deve ser aceita: não importa se um padre tem tendências homossexuais, o importante é que ele viva castamente. Na Alemanha, há bispos que já deram declarações neste sentido.

Seria um crime contra a Igreja: instrumentalizar o pecado para estabelecer ou normalizar um pecado contra o VI mandamento, é um crime. Não há forma de legitimar atos homossexuais ou mesmo atos sexuais desordenados. Se cremos em Deus, cremos que os Dez mandamentos são a expressão direta da vontade salvífica de Deus para conosco. Não são mandamentos exteriores como as leis positivas que edita o Estado, são a substância da moralidade do homem e de sua felicidade, são a expressão da vida, da verdade de Deus.

Em suma, arrisca-se derrubar a antropologia cristã…

É o que alguns se predispõem, querem o homem que se define a si próprio. Deus para eles é só um ponto de referência para a própria auto justificação. Algumas pessoas me escreveram que na juventude tiveram certas experiências homossexuais, mas depois superaram tudo e vivem agora felizes num matrimônio. Não são ideias, são experiências verdadeiras de pessoas, que devemos escutar.

Quando se desperta a sexualidade, podem existir momentos de confusão, mas isto não quer dizer que sejam tendências enraizadas. Existem pessoas que querem fazer da homossexualidade um dado ontológico.

Isto nos remete aquele documento sobre a pastoral para com as pessoas com tendências homossexuais publicado pela Congregação para a Doutrina da Fé em 1986, em que já se denunciava uma rede gay no interior e no exterior da Igreja que tem a finalidade de subverter a doutrina católica.

Sim, geralmente não se manifestam publicamente, mas se podem reconhecer por alguns comportamentos estranhos, pelo modo com que se apresentam, por certas opiniões. Se sustentam um ao outro e atacam pessoalmente os que são um obstáculo para a sua agenda, alteram a doutrina da Igreja para seus fins, fazem contínuas polêmicas contra os católicos ortodoxos. Isto os revela. Mas assim destroem não só a doutrina, mas também as pessoas que dizem desejar ajudar. Usam as pessoas que tem tendências homossexuais para fazer vencer sua ideologia: abusam ideologicamente destas pessoas.

Contudo, até o quotidiano dos bispos italianos, Avvenire, sustenta que na Igreja tenha havido uma mudança sobre a homossexualidade, que não há mais reprovação moral, e isto se deduziria da Exortação Apostólica Amoris Laetitia.

Isto não é verdade, mas mesmo se fosse verdade, um documento pontifício não pode mudar a antropologia radicada na criação de Deus. É possível que um documento pontifício ou o Magistério da Igreja não explique bem os dados da Revelação e da Criação, mas o Magistério não constitui a doutrina cristã.

Há um modo de compreender o Magistério que não tem nada que ver com a tradição católica, se trata o Papa como se fosse um oráculo, o que quer que diga torna-se verdade indiscutível. Mas não é assim: muitas coisas são opiniões privadas do Papa, coisas, então, que se podem discutir. Se o Papa hoje dissesse que as partes são mais do que o todo, teríamos mudado as estruturas da matemática, da geometria, um absurdo. Ou se o Papa dissesse hoje que não podemos mais comer a carne dos animais, para nenhum católico seria proibido comer carne.

O senhor quer dizer que se, por pura hipótese, o Papa escrevesse uma encíclica “vegetariana”, esta não vincularia os católicos? Como é isso?

Porque isto não faz parte da materia fidei. A autoridade do Papa é muito limitada. Alguns veem só a sua autoridade pública, o que é referido nos meios de comunicação social e o utilizam segundo os próprios pensamentos, mas na realidade não aceitam a autoridade do Papa assim como está fundamentada em nossa eclesiologia.

A propósito de eclesiologia, recentemente denunciamos na Nuova Bussola Quotidiana, o caso de uma missa ecumênica em Milão, na qual uma pastora batista proclamou o Evangelho, fez a homilia, distribuiu a Eucaristia após permanecer ao lado do padre durante a consagração.  E o pároco explicou que a transubstanciação é só uma forma de compreender a Eucaristia.  Infelizmente este tipo de ecumenismo não é um fato isolado. 

E um bispo deveria intervir, pois infelizmente existe uma crassa ignorância entre sacerdotes, bispos e mesmo cardeais: eles são servidores da Palavra de Deus, mas não a conhecem, bem como desconhecem a doutrina. Se falamos de transubstanciação, o Quarto Concílio de Latrão, o Concílio Tridentino e também o Vaticano II, assim como algumas encíclicas, como Mysterium Fidei (1965) explicaram que com essa expressão a Igreja constata a realidade da verdadeira conversão do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Jesus Cristo.

Os luteranos creem na presença real, mas não no sentido católico, não creem na conversão do pão e do vinho. Não é pequena diferença. Na Inglaterra, no tempo de Eduardo VI e Elizabeth I (século XVI), havia a pena de morte para aqueles que acreditavam na transubstanciação. Muitos católicos foram martirizados e não é que sacrificaram suas vidas só por causa de uma das muitas maneiras de compreender a Eucaristia, mas era pela realidade do sacramento.

Santo Tomás dizia que é um pecado grave se os bispos e os sacerdotes não conhecem a doutrina da Igreja. É dever deles. Seguramente como o sacerdote de Milão terão lido algo em teólogos de terceira categoria, aqueles que escrevem sem conhecer a doutrina e dizem coisas estúpidas. Mas isto não pode justificar um ato quase blasfemo. Os protestantes não aceitam em sua fé o sacramento da ordem, assim não podem estar ao lado de um sacerdote católico. Se o pároco faz assim nega também o sacramento da ordem, se fez protestante. Também com os ortodoxos, de que, no entanto, reconhecemos o sacerdócio sacramental, não é possível concelebrar, pois falta a plena comunhão.

Mas o que um fiel pode fazer se se encontra numa missa dessas?

Deve protestar publicamente.  Têm o direito de sair ou, se é capaz, pode dizer algo: “Eu protesto contra esta dessacralização da Santa Missa”; “Vim aqui para celebrar a missa católica, não para participar de uma construção de um pároco que não conhece nada da fé católica”. O que aconteceu na paróquia de Milão não é um verdadeiro ecumenismo, ao contrário, é um golpe contra o verdadeiro ecumenismo.

Qual é o verdadeiro ecumenismo?

É o decreto do Concílio Vaticano II, Unitatis redintegratio, que nos capítulos 1 e 2 descreve os princípios de um ecumenismo católico. Não existe um ecumenismo em tese, mas o ecumenismo segundo os princípios da fé católica, e os outros tem um ecumenismo segundo seus princípios. Com as outras confissões cristãs não existe só uma diversidade nos conteúdos da fé, mas também na hermenêutica da fé.

Para os católicos os aniversários se tornaram perigosos. Após o Jubileu da Reforma Protestante, com todo o falso ecumenismo que impulsionou, agora temos os 800 anos do encontro entre São Francisco e o Sultão. Já estão acontecendo cursos de Islamismo nas paróquias e imãs estão sendo convidados para irem a igrejas explicar quem é Jesus para o Islã… 

Sim, mas aposto que o pároco não vai numa mesquita explicar o Concílio de Nicéia. Para nós, é uma ofensa dizer que Jesus foi só um homem, que não é o Filho de Deus. Como se pode convidar alguém para vir a uma igreja para fazer-se ofender? Mas hoje há uma má consciência presente no Catolicismo para com a própria fé e se ajoelham sempre diante dos outros. Primeiro o jubileu de Lutero, agora o de São Francisco:  se usam para protestantizar e para islamizar a Igreja. Isso não é verdadeiro diálogo, alguns de nós perdemos a fé e querem se tornar escravos de outros para serem amados.

Qual é o principal problema que a Igreja enfrenta hoje?

A relativização da fé. Parece complicado anunciar a fé católica em sua integridade e com uma consciência reta. Embora o mundo de hoje mereça a verdade e a verdade é a verdade de Deus Pai, é a verdade de Jesus Cristo, a verdade do Espírito Santo. Os falsos compromissos não servem ao homem de hoje. Em vez de propor a fé, educar o povo, ensinar às pessoas, tende-se sempre a relativizar, sempre se diz um pouco menos, menos, menos…

Um exemplo: em vez de tornar claro o sentido do matrimônio, a indissolubilidade, se buscam exceções, se recua; em vez de falar da dignidade do sacerdócio, sua glória, do esplendor da verdade dos sacramentos, se reduz tudo a uma ocasião de estar juntos. Há uma horizontalização do cristianismo, ele é reduzido de forma a agradar os homens de hoje, e assim se engana o povo.

Quando nos encontramos com pessoas de outras religiões, não podemos unir-nos numa fé vaga. Se reduz a fé a uma fé filosófica. Deus a um ser transcendente e depois dizemos que Alá ou Deus pai de Jesus Cristo são a mesma coisa. Assim como o Deus do deísmo não tem nada que ver com o Deus dos cristãos.

O Papa está insistindo muito no conceito de fraternidade universal. Como deve ser entendida, a fim de não confundir as pessoas?

Não me agradaram todos estes grandes louvores dos maçons ao Papa. A fraternidade deles não é a fraternidade dos cristãos em Jesus Cristo, é muito menos. Não podemos tomar como medida da fraternidade aquilo que vem da Revolução Francesa, que é ideologia, como o comunismo. Quem define quem é meu irmão? Somos irmãos entre nós porque somos filhos de Deus, porque aceitamos Cristo, que se fez homem. Este é o fundamento da fraternidade.

  Na base da criação somos todos filhos de Deus. Neste sentido falamos também de fraternidade universal: não se pode matar; também na guerra aquele que mato é meu irmão. Todos temos um Pai no céu, mas este Pai se revelou em Israel, a Moisés, aos profetas e no fim em Jesus Cristo. Se não elevamos a natural fraternidade do homem em direção à fraternidade em Jesus Cristo, jogamos fora a dimensão sobrenatural e naturalizamos a graça.

Uma religião universal não existe, existe uma religiosidade universal, uma dimensão religiosa que conduz todo homem em direção do mistério. Por vezes, circulam ideias absurdas, como a do Papa “chefe de uma religião universal”, mas isso é ridículo. Pedro é Papa por conta de sua confissão ou profissão de fé: “Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Este é o Papa, não o chefe da ONU.

* * *

Declaração de fé

 “Não se perturbe o vosso coração!” (João 14,1)

Ante a crescente confusão no ensinamento da doutrina da fé, muitos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos da Igreja Católica me convidaram a dar testemunho público da verdade da Revelação. É tarefa dos pastores guiar pelo caminho da salvação os homens que lhes foram confiados, e isso só pode acontecer se esse caminho for conhecido e eles o tiverem percorrido primeiro. A tal respeito, admoestava o apóstolo: “Porque sobretudo vos entreguei o que eu também recebi” (1 Cor 15,3). Hoje muitos cristãos não conhecem sequer os ensinamentos básicos da fé, com um perigo crescente de não encontrarem mais o caminho que leva à vida eterna. Mas continua sendo tarefa própria da Igreja conduzir os homens a Jesus Cristo, luz das nações (cf. LG 1). Nesta situação, pergunta-se como encontrar a orientação correta. Segundo João Paulo II, o Catecismo da Igreja Católica representa uma “norma segura para o ensinamento da fé” (Fidei Depositum IV). Ele foi escrito com o objetivo de fortalecer os irmãos e irmãs na fé, uma fé colocada amplamente à prova pela “ditadura do relativismo”[1].

  1. O Deus Uno e Trino, revelado em Jesus Cristo

A personificação da fé de todos os cristãos se encontra na confissão da Santíssima Trindade. Convertemo-nos em discípulos de Jesus, filhos e amigos de Deus pelo batismo no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. A diferença das três pessoas na unidade divina (254) marca uma diferença fundamental em relação às outras religiões na crença em Deus e na imagem do homem. Na confissão de Jesus Cristo os espíritos se dividem. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, gerado segundo sua natureza humana pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria. O Verbo feito carne, o Filho de Deus, é o único redentor do mundo (679) e o único mediador entre Deus e os homens (846). Em consequência, a Primeira Carta de São João descreve como Anticristo àquele que nega sua divindade (1 João 2,22), já que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é desde a eternidade um ser com Deus, seu Pai (663). A recaída em antigas heresias, que viam em Jesus Cristo só um bom homem, um irmão e amigo, um profeta e um moralista, deve ser combatida com clara determinação. Ele é, acima de tudo, o Verbo que estava com Deus e é Deus, o Filho do Pai, que assumiu nossa natureza humana para nos redimir e que deverá julgar os vivos e os mortos. Só ao Ele adoramos como o único e verdadeiro Deus na unidade com o Pai e o Espírito Santo (691).

  1. A Igreja

 

Jesus Cristo fundou a Igreja como sinal visível e instrumento de salvação, que subsiste na Igreja Católica (816). Deu uma constituição sacramental à sua Igreja, que surgiu “do lado de Cristo dormido na Cruz” (766), e que permanece até sua consumação (765). Cristo Cabeça e os fiéis como membros do Corpo são uma pessoa mística (795), por isso a Igreja é Santa, porque o único mediador a estabeleceu e mantém sua estrutura visível (771). Através deles, a obra da redenção de Cristo se faz presente no tempo e no espaço na celebração dos santos sacramentos, especialmente no sacrifício eucarístico, a Santa Missa (1330). A Igreja transmite em Cristo a revelação divina que se estende a todos os elementos da doutrina, “incluindo a doutrina moral, sem a qual as verdades da salvação da fé não podem ser salvaguardadas, expostas ou observadas” (2035).

  1. A ordem sacramental

 

A Igreja, em Jesus Cristo, é o sacramento universal de salvação (776). Ela não se reflete a si mesmo, senão a luz de Cristo que brilha em seu rosto. Isto acontece só quando, não a maioria nem o espírito dos tempos, senão a verdade revelada em Jesus Cristo se converte no ponto de referência, porque Cristo confiou à Igreja católica a plenitude da graça e da verdade (819): Ele mesmo está presente nos sacramentos da Igreja.

A Igreja não é uma associação fundada pelo homem cuja estrutura é votada por seus membros à vontade. É de origem divina. “O mesmo Cristo é a fonte do ministério na Igreja. Ele o instituiu, deu-lhe autoridade e missão, orientação e finalidade” (874). A admoestação do apóstolo segue sendo válida hoje em dia para que quem quer que pregue outro evangelho seja amaldiçoado, “embora sejamos nós mesmos ou um anjo do céu” (Gl 1,8). A mediação da fé está indissoluvelmente ligada à credibilidade humana de seus mensageiros, que em alguns casos abandonaram aos que lhes foram confiados, perturbaram-nos e danificaram gravemente sua fé. Aqui a palavra da Escritura vai dirigida àqueles que não escutam a verdade e seguem seus próprios desejos, que adulam os ouvidos porque não podem suportar o são ensinamento (cf. 2 Tm 4,3-4).

A tarefa do Magistério da Igreja é “proteger o povo dos desvios e das falhas e lhe garantir a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica” (890). Isto é especialmente certo com relação aos sete sacramentos. A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã” (1324). O sacrifício eucarístico, no qual Cristo nos implica em seu sacrifício da cruz, aponta à união mais íntima com Cristo (1382). Por isso, as Sagradas Escrituras, em relação à recepção da Sagrada Comunhão, advertem: “‘quem come do pão e bebe da taça do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor’ (1 Cor 11,27). Quem tem consciência de estar em pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de aproximar-se a comungar” (1385). Da lógica interna do sacramento se desprende que os fiéis divorciados pelo civil, cujo matrimônio sacramental existe diante de Deus, os outros Cristãos, que não estão em plena comunhão com a fé católica, assim como todos aqueles que não estão propriamente dispostos, não recebem a Sagrada Eucaristia de maneira frutífera (1457) porque não lhes traz a salvação. Assinalar isto corresponde às obras espirituais de misericórdia.

A confissão dos pecados na confissão pelo menos uma vez ao ano pertence aos mandamentos da igreja (2042). Quando os fiéis já não confessam seus pecados nem recebem a absolvição, a redenção cai no vazio, já que, acima de tudo, Jesus Cristo se fez homem para nos redimir de nossos pecados. O poder do perdão que o Senhor Ressuscitado conferiu aos apóstolos e aos seus sucessores no ministério dos bispos e sacerdotes se aplica também aos pecados graves e veniais que cometemos depois do batismo. A prática atual da confissão deixa claro que a consciência dos fiéis não está suficientemente formada. A misericórdia de Deus nos é dada para cumprir seus mandamentos a fim de nos converter em um com sua santa vontade, não para evitar o chamado ao arrependimento (1458).

“O sacerdote continua a obra de redenção na terra” (1589). A ordenação sacerdotal “dá-lhe um poder sagrado” (1592), que é insubstituível porque, através dele, Jesus Cristo se faz sacramentalmente presente em sua ação salvífica. Portanto, os sacerdotes escolhem voluntariamente o celibato como “sinal de vida nova” (1579). Trata-se da entrega no serviço de Cristo e de seu reino vindouro. Enquanto à recepção da consagração nas três etapas deste ministério, a Igreja se reconhece a si mesma “vinculada por esta decisão do Senhor. Esta é a razão pela qual as mulheres não recebem a ordenação” (1577). Assumir isto como uma discriminação contra a mulher só mostra a falta de compreensão deste sacramento, que não se trata de um poder terreno, senão da representação de Cristo, o Esposo da Igreja.

 

  1. A lei moral

 

A fé e a vida estão inseparavelmente unidas, porque a fé sem obras está morta (1815). A lei moral é obra da sabedoria divina e conduz o homem à bem-aventurança prometida (1950). Em consequência, “o conhecimento da lei moral divina e natural é necessário para fazer o bem e alcançar seu fim” (1955). Sua observância é necessária para a salvação de todos os homens de boa vontade. Porque os que morrem em pecado mortal sem se haver arrependido serão separados de Deus para sempre (1033). Isto leva a conseqüências práticas na vida dos cristãos, entre as quais se deve mencionar as que hoje se obscurecem com freqüência (cf. 2270-2283; 2350-2381). A lei moral não é uma carga, senão parte dessa verdade liberadora (cf. Jo 8,32) pela qual o cristão percorre o caminho da salvação, que não deve ser relativizada.

 

  1. A vida eterna

 

Muitos se perguntam hoje por que a Igreja, todavia está ali, embora os bispos prefiram desempenhar o papel de políticos em lugar de proclamar o Evangelho como mestres da fé. A visão não deve ser diluída por trivialidades, mas o proprium da Igreja deve ser tematizado. Cada pessoa tem uma alma imortal, que é separada do corpo na morte, esperando a ressurreição dos mortos (366). A morte faz definitiva a decisão do homem a favor ou contra Deus. Todo o mundo deve comparecer ante o tribunal imediatamente depois de sua morte (1021). Ou é necessária uma purificação ou o homem chega diretamente à bem-aventurança celestial e pode ver deus cara a cara. Existe também a terrível possibilidade de que um ser humano permaneça em contradição com Deus até o fim e, ao rejeitar definitivamente o seu amor, “condenar-se imediatamente para sempre” (1022). “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (1847). O castigo da eternidade do inferno é uma realidade terrível, que -segundo o testemunho da Sagrada Escritura- atrai para si todos aqueles que “morrem em estado de pecado mortal” (1035). O cristão passa pela porta estreita, porque “larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela” (Mt 7,13).

Ocultar estas e outras verdades de fé e ensinar ao povo em consequência, é o pior engano do qual o Catecismo adverte enfaticamente. Representa a prova final da Igreja e leva o povo a um engano religioso de mentiras, ao “preço de sua apostasia da verdade” (675); é o engano do Anticristo. “Ele enganará os que se perdem por toda classe de injustiça, porque se fecharam ao amor da verdade, pela qual deviam ser salvos” (2 Tessalonicenses 2,10).

Invocação

Como operários da vinha do Senhor, temos todos a responsabilidade de recordar estas verdades fundamentais aderindo-nos ao que nós mesmos recebemos. Queremos animar o povo a caminhar pelo caminho de Jesus Cristo com decisão, para alcançar a vida eterna obedecendo seus mandamentos (2075).

Peçamos ao Senhor que nos faça saber quão grande é o dom da fé católica, que abre a porta para a vida eterna. “Porque quem se envergonhar de mim e de minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, também o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos” (Mc 8, 38). Portanto, estamos comprometidos a fortalecer a fé, na qual confessamos a verdade, que é o mesmo Jesus Cristo.

Estas palavras também se dirigem em particular a nós, Bispos e sacerdotes quando Paulo, o apóstolo de Jesus Cristo, dá esta admoestação ao seu companheiro de armas e sucessor Timóteo: “Conjuro-te em presença de Deus e de Cristo Jesus que há de vir julgar os vivos e mortos, por sua Manifestação e por seu Reino: “Proclama a Palavra, insiste a tempo e a destempo, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina. Porque virá um tempo em que os homens não suportarão, a sã doutrina, mas sim, arrastados por suas próprias paixões, far-se-ão com um acervo de mestres pelo afã de ouvir novidades; apartarão seus ouvidos da verdade e se voltarão para as fábulas. Tu, pelo contrário, portas-te em tudo com prudência, suporta os sofrimentos, realiza a função de evangelizador, desempenha com perfeição teu ministério.” (2 Tm 4,1-5).

Que Maria, a Mãe de Deus, nos implore a graça de nos aferrar à verdade de Jesus Cristo sim vacilar.

Unido na fé e na oração

Roma, 10 de fevereiro de 2019

Gerhard Cardinal Müller

Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fe, desde 2012/2017

[1] Os números que aparecem no texto correspondem ao Catecismo da Igreja Católica.

A Igreja hoje renunciou a ensinar a verdade integral.

Por Riccardo Cascioli, La Nuova Bussola Quotidiana, 3 de fevereiro de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com

“Falar da crise de abuso sexual de menores, enquanto se ignora o fato de que 80% dos abusos são atos homossexuais, demonstra que não há intenção de resolver o assunto”. “O mais grave problema da Igreja hoje é a tendência de fazer concessões ao mundo e se furtar de proclamar a verdade integral”. O Cardeal Gerhard Müller fala. 

Cardinal Müller

 

Dom Gerhard Müller fala de maneira calma, mas seu juízo vem alta e claramente. Ele me acolhe cordialmente em seu apartamento, a um pulo da Basílica de São Pedro, que ele manteve apesar de ter sido demitido pelo Papa Francisco de uma forma um tanto áspera em julho de 2017, quando não renovou seu mandato como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Cardeal Müller, em vinte dias haverá um encontro no Vaticano sobre abusos sexuais, um escândalo que está obscurecendo a imagem da Igreja e que, ao mesmo tempo, causa muitas tensões internas… 

É terrível para a Igreja que haja padres envolvidos, homens que em vez de terem vidas exemplares, abusam de sua missão. Representantes de Jesus Cristo, o Bom Pastor, agindo como lobos: é a perversão de sua missão.

A esmagadora maioria dos abusos sexuais cometidos por padres são, na verdade, atos homossexuais.

É fato que cerca de 80% das crianças vítimas de abuso são homens e adolescentes. Devemos encarar essa realidade, são estatísticas que não podem ser negadas. Quem quer que ignore os fatos não quer resolver o problema. Fazem acusações contra os que dizem a verdade, ao afirmar que eles têm uma inclinação geral contra os homossexuais. Mas os homossexuais enquanto categoria não existem, é uma invenção. É evidente que eles falam para encobrir os seus próprios interesses. Na criação, o conceito de homossexualidade não existe, é uma invenção que não possui fundamento na natureza humana. Essas tendências não são ontológicas, mas de ordem psicológica. Alguns querem tornar a homossexualidade em um dado ontológico.

Em vista do encontro no fim de fevereiro, há aqueles que querem usá-lo como oportunidade para argumentar que não importa se um padre tem tendências homossexuais, o importante é que ele viva castamente. Na Alemanha, há bispos que já deram declarações neste sentido.

Seria um crime contra a Igreja: explorar o pecado para estabelecer ou normalizar o pecado contra o sexto mandamento, um crime. Não há forma de legitimar atos homossexuais ou mesmo atos sexuais desordenados. Se cremos em Deus, cremos que os dez mandamentos são expressões diretas da vontade salvífica de Deus para conosco, são a substância da moralidade do homem e de sua felicidade, são expressão da vida, da verdade de Deus.

Recentemente, o caso de uma missa ecumênica em Milão foi denunciado, na qual uma pastora batista leu o Evangelho, pregou a homilia e distribuiu a Eucaristia após permanecer o lado do padre durante a consagração. O pároco explicou que a transubstanciação é só uma forma de compreender a Eucaristia. Este tipo de ecumenismo não é um fato isolado. 

Isso equivale a um ato blasfemo. Há uma ignorância grosseira entre os padres, bispos e mesmo cardeais: eles são servos da Palavra de Deus, mas não a conhecem, bem como desconhecem a doutrina. Se falamos de transubstanciação, o Quarto Concílio de Latrão, o Concílio Tridentino e também o Vaticano II, assim como algumas encíclicas, como Mysterium Fidei (1965) explicaram que com essa expressão a Igreja reconhece a verdadeira conversão do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Na Inglaterra, no tempo de Eduardo VI e Elizabeth I (século XVI), havia a pena de morte para aqueles que acreditavam na transubstanciação. Muitos católicos foram martirizados e não sacrificaram suas vidas por causa de uma das muitas maneiras de compreender a Eucaristia, era pela verdade do sacramento.

Mas o que um leigo pode fazer se acabar parando numa missa dessas?

Devem protestar publicamente. Eles têm o direito de sair ou, se se sentirem aptos a falar, devem dizer: “Eu protesto contra a dessacralização da Santa Missa; vim aqui para assistir à Missa Católica, não para participar em alguma construção da missa por um pároco que não conhece nada da Fé Católica”.

Após o aniversário da Reforma Protestante, agora temos os 800 anos do encontro entre São Francisco e o Sultão. Já estão acontecendo cursos de Islã nas paróquias e imãs estão sendo convidados para irem a igrejas explicar quem foi Jesus para o Islã… 

Para nós, é uma ofensa dizer que Jesus foi só um homem, que Ele não é o Filho de Deus. Como se pode convidar alguém para vir a uma igreja ofendê-lo? Há uma má consciência presente hoje no Catolicismo para com a própria fé e, por outro lado, ajoelhamo-nos para os outros. Primeiro o jubileu de Lutero, agora o de São Francisco: é só uma forma de trazer o protestantismo para dentro e de islamizar a Igreja. Isso não é verdadeiro diálogo, alguns de nós perdemos nossa Fé e queremos nos tornar escravos de outros para sermos amados.

Qual é o principal problema que a Igreja enfrenta hoje?

A relativização da Fé. Parece muito complicado anunciar a Fé Católica em sua integridade e de cabeça erguida. Embora o mundo hoje mereça a verdade e a verdade é a verdade de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Acordos falsos não ajudam as pessoas no mundo de hoje. Em vez de propor a Fé e educar o povo, tendemos a relativizar, sempre dizer um pouco menos, menos, menos… O Cristianismo se preocupou com o mundo, reduziu-se para agradar a todos hoje e, consequentemente, o povo está decepcionado.

O Papa constantemente enfatiza o conceito de fraternidade universal. O que se pretende com essa expressão, a fim de não confundir as pessoas?

Não fico nem um pouco satisfeito quando os maçons louvam o Papa. A fraternidade deles não é a fraternidade dos Cristãos em Jesus Cristo, é muito menos. Com base na criação, somos todos filhos de Deus. Temos todos um pai no céu, mas este pai revelou-se em Israel, a Moisés, aos profetas e finalmente em Jesus Cristo. Fraternidade é, certamente, evitar guerras, brigas entre pessoas, mas não podemos reduzi-la a isso. Uma religião universal não existe, há uma religiosidade universal, uma dimensão religiosa que impulsiona a todos em direção ao mistério. Por vezes, circulam ideias absurdas, descrevendo o Papa como chefe de uma esquerda internacional ou chefe de uma religião universal, mas isso é absolutamente contrário à instituição do papado de Jesus Cristo. Jesus instituiu Pedro como o primeiro e princípio de sua sucessão no papado, por conta de sua confissão ou profissão de fé: “Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Esta é a substância do papado, é a voz da profissão de fé da Igreja e não o chefe da ONU.

Cardeal Müller: Católicos não são obrigados a seguir a agenda eco-esquerdista do Papa Francisco.

Por Gloria.tv, 29 de julho de 2018 | Tradução: FratresInUnum.com – Católicos não são obrigados a seguir a agenda eco-esquerdista do Papa Francisco de se opor a combustíveis fosseis e de favorecer acordos acerca de assuntos ambientais, afirmou o Cardeal Gerhard Müller ao jornal australiano The Weekend (27 de julho).

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Cardeal Müller

Müller está em Sydney para discursar na conferência da Confraternidade Australiana do Clero Católico. “Não somos um partido verde”, acrescentou.

“Política ambiental não tem nada a ver com a fé e moral. Esses assuntos são para políticos e para o povo votar no partido ao qual adere”.

“Os bispos não são cientistas, especialistas em meio-ambiente ou políticos”. Müller recomendou que os líderes da Igreja deveriam se concentrar na religião.

Papa deveria combater “cisma”. 

Müller explicou que Francisco e os bispos precisavam “dar clareza, baseada na palavra de Deus” para curar o “cisma” existente entre “conservadores” e “progressitas” na Igreja.

Falsas compreensões de teologia estariam causando confusão doutrinal.

No entanto, as prioridades de Francisco seriam a justiça social e a eliminação da pobreza, acrescentou.

Colegialidade só no papel

Müller afirmou que muitos cardeais que elegerão o sucessor de Francisco encararão o problema de não conhecerem uns aos outros, pois Francisco não convoca um encontro geral entre cardeais há quatro anos.

A falta de tais encontros parecem contradizer o estilo consultivo ostensivamente favorecido por Francisco, que [supostamente] quer uma “abordagem sinodal”.

O Cardeal Müller afirmou que Francisco também ouvia “pseudo amigos, que nem sempre eram amigos”.