Carta aberta ao Papa Francisco de um judeu convertido.

Fonte: Adelantelafe.com | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com

Sua Santidade, o Papa Francisco

Cidade do Vaticano
janeiro 2016

Estimado Santo Padre,

Eu sou judeu. E assim como  Menachem Mendel Schneerson de Crown Heights, Brooklyn, tenho certeza que sou descendente direto do rei Davi por parte do meu pai (minha mãe, segundo me asseguraram era descendente de Hillel).

Tenho 74 anos. Me converti à Igreja Católica Romana com a idade de 17 anos no último ano do pontificado do Papa Pio XII. Eu fiz isso porque eu estava sob a convicção de que eu tinha que aceitar e ter fé que Jesus Cristo era meu Salvador, e eu acreditei. E eu acreditei que tinha que ser batizado como um membro de Sua igreja para ter uma chance de salvação. Então eu me converti, fui batizado na Igreja Católica e, em seguida, fui confirmado.

Ao longo dos anos, eu contribuí com dezenas de milhares de dólares tanto para o Óbolo de São Pedro (tesouro próprio do papa com o qual você deve estar muito familiarizado), como com minha própria paróquia e diocese.
Durante esse tempo eu participei de milhares de missas, centenas de horas santas e novenas, recitei milhares de rosários e fiz centenas de viagens ao confessionário.

Agora em 2015 e 2016, eu li as suas palavras e aquelas da sua “Comissão Pontifícia”. Agora você ensina que porque eu sou raça judaica, a Aliança de Deus comigo jamais foi rompida e não pode ser rompida. Nem sequer menciona no seu ensino e de modo específico qualquer coisa que eu pudesse fazer que poderia ameaçar a Aliança que você diz que Deus tem comigo só porque sou judeu. O que você ensina é que essa é uma Aliança impossível de ser rompida. Nem sequer diz que depende de que eu seja uma boa pessoa. Logicamente falando, se a Aliança de Deus comigo é inquebrável, então um judeu de raça como eu pode fazer o que quiser porque mesmo assim Deus manterá a sua Aliança comigo, e eu vou para o Céu.

Sua Pontifícia Comissão escreveu em dezembro passado: “A Igreja Católica nem conduz ou apoia qualquer trabalho de missão institucional específica dirigida aos judeus … de nenhuma maneira significa que os judeus estão excluídos da salvação de Deus, por não crerem em Jesus Cristo como Messias de Israel e como o Filho de Deus”.

Você é o Pontífice. Eu creio que a sua Comissão ensina sob a sua bandeira e sob o seu nome, e naquilo que você disse durante sua visita à sinagoga em janeiro. Como resultado, já não vejo nenhum sentido em me levantar a cada domingo pela manhã para ir à missa, rezar rosários ou ir para o rito da reconciliação na tarde de sábado. Todas essas coisas são supérfluas para mim. Com base em seus ensinamentos, agora que eu sei que tudo se deve à minha superioridade racial aos olhos de Deus, não vejo mais a necessidade de nada disso.

Agora não vejo nenhuma razão pela qual fui batizado em 1958. Não havia nenhuma necessidade para mim de ser batizado. Aliás tampouco vejo nenhuma necessidade para Jesus ter vindo à terra,  ou que ele pregasse para os judeus filhos de Abraão em seus dias. Como você menciona, eles já estavam salvos como resultado de sua descendência racial dos patriarcas bíblicos. Para que necessitariam Dele?

À luz do que você e sua Comissão Pontifícia ensinaram-me, parece que o Novo Testamento é uma fraude, pelo menos no que se aplica aos judeus. Todas aquelas pregações e disputas com os judeus não tiveram propósito algum. Jesus tinha que saber disso, e todavia prosseguiu causando um monte de problemas para os judeus, insistindo que tinham que nascer de novo, tinham que acreditar que ele era o Messias, tinham que parar de seguir as tradições dos homens, e que eles não poderiam chegar ao céu, a menos que eles acreditassem que Ele era o Filho de Deus.

Sua Santidade, você e sua Comissão me instruíram no verdadeiro caminho para a minha salvação: a minha raça. É tudo que eu preciso e tudo que eu sempre precisei. Deus tem uma Aliança com os meus genes. São os meus genes que me salvam. Meus olhos estão abertos agora.

Consequentemente, chegarão até vossa Santidade notícias de meu advogado. Eu vou mover um processo contra o Papado e a Igreja Católica Romana. Eu quero o meu dinheiro de volta e com juros, e eu estou buscando indenizações compensatórias e punitivas pelos danos psicológicos que a sua Igreja me causou, ao fazer com que eu cresse que precisava de algo além da minha alta identificação racial para poder ir para o céu depois que eu morrer .

Também estou litigando por causa do tempo que eu perdi, quando eu poderia tê-lo usado trabalhando nos meus negócios ao invés de desperdiçá-la adorando um Jesus, o qual sua igreja agora diz que eu não preciso para minha salvação. Seus prelados e clérigos me disseram algo muito diferente em 1958. Fui roubado!

Atenciosamente,

Pinchus Feinstein

2617646 Ocean View Ave.
Miami Beach, Florida 33239

Non possumus.

Em 26 de janeiro de 1904, Theodor Herzl foi recebido em audiência pelo Papa São Pio X no Vaticano, a fim de procurar apoio para a causa sionista de estabelecer um estado judaico na Palestina. Ele anotou seu relato do encontro em seu diário. Fonte: Raphael Patai,The Complete Diaries of Theodor Herzl, traduzido por Harry Zohn (New York/London: Herzl Press, Thomas Yoseloff, 1960), 1601-1605.  Tradução para português de Fratres in Unum.com. “Lippay” a quem se refere é o Conde Berthold Dominik Lippay, um retratista papal austríaco, a quem Herzl encontrou em Veneza e que organizou a audiência com o Papa.

São Pio X.
São Pio X.

Ontem estive com o Papa. O itinerário já era familiar, já que eu o havia repassado com Lippay várias vezes.

Passadas a guarda suíça, que pareciam clérigos, e clérigos que pareciam guardas, os secretários e a corte papal.

Cheguei 10 minutos mais cedo e sequer tive que esperar.

Fui conduzido por numerosas salas até o Papa.

Ele me recebeu de pé, estendendo sua mão, a qual não beijei.

Lippay dissera-me que o fizesse, mas não o fiz.

Creio desagradei ao Papa por isso, pois todos que o visitam se ajoelham e ao menos beijam sua mão.

Esse beijo causou-me muita preocupação. Alegrei-me quando, finalmente, ficou para trás no caminho.

Ele se sentou em uma poltrona, um trono para ocasiões menores. E depois, convidou-me a sentar próximo a ele, sorrindo em amigável antecipação.

Comecei:

Ringrazio Vostra Santità per il favore di m’aver accordato quest’udienza” [Agradeço a Vossa Santidade pela delicadeza de me haver concedido esta audiência]”.

È un piacere [É um prazer],” disse ele com uma gentil desaprovação.

Pedi desculpas por meu pobre italiano, porém, ele afirmou:

No, parla molto bene, signor Commendatore [Não, comendador, falas muito bem]”.

Pois eu havia colocado pela primeira vez – a conselho de Lippay – minha fita da Ordem de Medjidié, consequentemente, o Papa sempre se dirigia a mim como Comendador.

Ele é um grosseiro bom padre de aldeia, a quem o cristianismo permanece algo vivo mesmo no Vaticano.

Coloquei brevemente meu pedido a ele. No entanto, possivelmente contrariado com minha recusa de lhe beijar a mão, respondeu rígida e resolutamente:

Noi non possiamo favorire questo movimento. Non potremo impedire gli Ebrei di andare a Gerusalemme—ma favorire non possiamo mai. La terra di Gerusalemme se non era sempre santa, è santificata per la vita di Jesu Christo (ele não pronuncia Gesu, mas Yesu, com sotaque veneziano). Io come capo della chiesa non posso dirle altra cosa. Gli Ebrei non hanno riconosciuto nostro Signore, perciò non possiamo riconoscere il popolo ebreo [Nós não podemos aprovar este movimento. Não podemos impedir os judeus de irem a Jerusalém – mas nunca poderemos favorecê-lo. A terra de Jerusalém, se não foi sempre santa, foi santificada pela vida de Jesus Cristo. Eu, como chefe da Igreja, não posso dizer outra coisa. Os judeus não reconheceram Nosso Senhor, por isso não podemos reconhecer o povo judeu].

Teodor Herzl
Theodor Herzl

Logo, o conflito entre Roma, representada por ele, e Jerusalém, representada por mim, estava novamente aberto.

No início, de fato, tentei ser conciliador. Recitei minha pequena nota sobre a extraterritorialização, res sacrae extra commercium [os lugares santos fora de negócio]. Não fez mais que uma impressão. Gerusalemme, disse ele, não deve cair nas mãos dos judeus.

“E o estado atual, Santo Padre?”

“Eu sei, não agrada ver os turcos na posse dos Lugares Santos. Nós simplesmente temos que nos conformar com isso. Mas apoiar os judeus na conquista dos Lugares Santos, isso não podemos”.

Disse que nosso ponto de partida fora somente o sofrimento os judeus e que desejávamos evitar as questões religiosas.

“Sim, mas nós, e eu, como chefe da Igreja, não podemos fazer isso. Há duas possibilidades. Ou os judeus se agarrarão a sua fé e continuarão a esperar o Messias que, para nós, já chegou. Neste caso, eles estarão negando a divindade de Jesus e nós não podemos ajudá-los. Ou eles irão para lá sem qualquer religião e, então, muito menos ainda poderemos favorecê-los.

“A religião judaica foi o fundamento da nossa; mas ela foi substituída pelos ensinamentos de Cristo e nós não podemos lhe conceder qualquer validade. Os judeus, que deveriam ter sido os primeiros a reconhecer Jesus Cristo, não o fizeram até hoje”.

Estava na ponta da minha língua para dizer, “É o que acontece em toda família. Ninguém acredita em seus próprios parentes”, mas, pelo contrário, disse: “O terror e a perseguição podem não ter sido os melhores maios para esclarecer os judeus”.

Mas ele respondeu, e dessa vez ele foi grandioso em sua simplicidade:

“Nosso Senhor veio sem poder. Era povero [era pobre]. Veio in pace [em paz]. Ele não perseguiu ninguém, antes, foi perseguido.

Ele foi abbandonato [abandonado] até por seus apóstolos. Somente depois ele cresceu em estatura. Foram três séculos para a Igreja desabrochar. Os judeus, portanto, tiveram tempo para reconhecer sua divindade sem qualquer pressão. Mas eles não o fizeram até hoje”.

“Mas, Santo Padre, os judeus estão em terríveis apuros. Não sei se Vossa Santidade tem ciência de toda a extensão dessa triste situação. Precisamos de uma terra para essas pessoas perseguidas”.

“E tem que ser Gerusalemme?”

“Não estamos pedindo por Jerusalém, mas pela Palestina – apenas a terra secular”.

“Não podemos ser favoráveis a isso”.

“Vossa Santidade conhece a situação dos judeus?”

“Sim, da minha época em Mântua. Há judeus vivendo lá. E eu sempre tive boas relações com judeus. Há apenas algumas noites dois judeus estavam aqui para me visitar. No fim das contas, há outros vínculos além dos da religião: cortesia e filantropia. Isso nós não negamos aos judeus. De fato, nós também rezamos por eles: que suas mentes sejam esclarecidas. Hoje mesmo a Igreja está celebrando a festa de um incrédulo que, a caminho de Damasco, converteu-se miraculosamente à verdadeira fé. Então, se fores a Jerusalém e estabeleceres teu povo ali, teremos igrejas e padres prontos para batizar todos vós”.

Jovens rezam o terço e interrompem cerimônia inter-religiosa na Catedral de Buenos Aires. Papa Francisco lamenta “fanatismo”.

Um grupo de jovens católicos argentinos, formado principalmente por fiéis da Fraternidade São Pio X, repetiu o ato ocorrido em 2010 na Catedral de Paris e interrompeu, no último dia 12, uma liturgia inter-religiosa entre católicos e judeus na Catedral Buenos Aires. A cerimônia recordava a Kristallnacht e ocorre há mais de uma década na capital argentina, sendo, até o ano passado, organizada sob o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio. As informações são de Página Católica – tradução de Fratres in Unum.com

Anúncio da cerimônia de 2012.
Anúncio da cerimônia de 2012.

Quando o padre Fernando Gianetti, guru e executor há quinze anos do projeto que agora chega ao seu cume, dirigia as palavras de início da liturgia comemorativa da Kristallnacht, começou-se a ouvir suave, mas firmemente, o desfiar das contas do Santo Rosário nas vozes de cinquenta jovens situados na parte central da Catedral da Santíssima Trindade.

Dois quase garotos se dirigiram até o presbitério, onde oito líderes religiosos (dois a mais do que no ano passado), estavam de pé, à direita e à esquerda do arcebispo de Buenos Aires, D. Mario Aurelio Poli.

Após fazer uma genuflexão, um deles deles lhe entregou um papel e ambos fizeram que o mesmo chegasse aos demais.

Os gestos de agradável surpresa que ao receber o escrito tomavam as faces, foram se transformando em sorriso nervoso na medida que o sentido da visão informava ao cérebro o conteúdo da missiva. 

Nesse instante, uma pessoa subiu ao presbitério e, colocando-se próximo aos microfones, dirigiu a seguinte mensagem:

“Pedimos a todos, por favor, que tenham em consideração que este é um tempo católico e que este é um ato de profanação que deve ser evitado. Não temos problemas com as recordações históricas que se realizam em locais históricos. No templo santo de Deus, onde vive o Santíssimo, não pode haver uma profanação; e os que conhecem (aqui o microfone foi cortado) as religiões sabem que as profanações ofendem o mundo e a Deus… Diante do Nazareno e diante do Crucificado. Vão [embora] e acabem com esta profanação. Não é possível. Rezem o rosário e honrem a Deus”.

O arcebispo pediu, através do padre Gianetti, que os jovens que estavam rezando o Rosário se retirassem. O que gerou um aplauso, a partir do qual o ruído intenso se instalou dentro da catedral e que durou quase meia hora. Era o ruído das repreensões e diatribes dirigidas aos jovens que rezavam sem revidar.

Algumas pessoas encostavam nos jovens orantes, alguns para tentar convencê-los a ceder em seu empenho, outros para insultá-los com os mais duros epítetos: loucos, fundamentalistas, reacionários, nazistas.

Outro chegando à agressão física, como um devoto de quipá que hostilizou longamente pelas costas a um dos sacerdotes que acompanhavam o grupo:

Mas pareceu particularmente surpreendente o furor demonstrado pelo deputado Eduardo Amadeo, que dizem ser pertencente à Comunidade de Santo Egídio, que realizou atos que podem ser considerados intimidatórios, como tirar repetidas fotografias a poucos centímetros de cada rosto, gritar com uma criança, ao mais caro estilo dos serviços de inteligência: “De que colégio são, de que colégio são?”, ou gritar a alguns adolescentes: “Miseráveis nazistas”. Como é possível que um homem que ocupa tão elevado cargo chegue a esse extremo?

[…]

Pois é necessário advertir aqui que os convidados, tanto cristãos dissidentes como judeus, caíram sem querer no meio de uma discussão interna da Igreja. Debate tão intenso e agudo que está chegando à configuração de dois “partidos”, com doutrinas e liturgias diferentes, que são cada vez mais estranhos um ao outro. Um é o da Igreja das promessas, e outro é o da “igreja” da publicidade, como as chamou há muitos anos o padre Meinvielle, mestre do atual arcebispo de Buenos Aires.

Uma acredita, como acreditou invariavelmente desde o início, que o único caminho de salvação é o Batismo; pois o mesmo Mestre o ensinou infalivelmente: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todos os homens. Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer se condenará” (Mt: 16, 15).

Apesar destas palavras, contra as quais nada há a fazer, e do dogma antes referido, “fora da Igreja não há salvação”, a igreja da publicidade desenvolveu nos fatos a doutrina não escrita das múltiplas vias de salvação. Cada um se salva em sua religião e ainda, por que não, sem crer em Deus. O que é absolutamente condenado pela doutrina católica.

Os convidados do Arcebispo de Buenos Aires mereciam ser recebidos com respeito e cordialidade; mas o erro consistiu em convidá-los para a realização de uma liturgia acatólica, que de modo algum pode ser celebrada em uma Igreja, a não ser que pertença… à igreja da publicidade.

É certo que um judeu ortodoxo compreenderia muito bem que um católico não aceite uma liturgia inter-religiosa, pois ele tampouco a aceitaria. Mas a maioria dos convidados do sr. Arcebispo pertenciam ao reformismo judeu, que pensa diferente.

Seria conveniente desculpar-se junto a eles pelo mal pedaço, tentando fazer-lhes compreender que, in extremis, o respeito aos direitos de Deus está acima dos respeitos humanos.

Continuando a nossa crônica, os jovens da Catedral terminaram o Santo Rosário, apesar da pressão ao seu redor, e depois, se retiraram por iniciativa própria, e não pela força policial, como disseram alguns meios.

Ocorreu inclusive o milagre de que o Pe. Gianetti, pedindo a paz aos presentes desde o ambão da catedral, rezasse algumas Ave Marias no microfone, o que não estava previsto na Liturgia de Comemoração.

Esta liturgia, já o dissemos, é evidentemente religiosa, com o acréscimo de que nela subjaz a idéia herética de que o holocausto pode ser equiparado ao Sacrifício da Cruz, um para a salvação dos judeus e outro para a dos cristãos; por isso alguns pensadores a chamam de heresia Judaico-Cristã.

Idéia que se evidencia na análise dos textos empregados, mas que nem todos podem captar. Não nos equivocaríamos demais se pensássemos que a maioria das pessoas que estavam na Catedral não são conscientes desta realidade, que torna totalmente inaceitável essa realização litúrgica no lugar santo.

Ao retomar a cerimônia, após a oração do Rosário rebelde, o Arcebispo de Buenos Aires disse que a celebração da liturgia “é o que quer o Papa”. 

Em declarações divulgadas hoje pelo diário argentino La NacionClaudio Epelman, diretor executivo do Congresso Judeu Latino-americano, relatou as palavras do Papa Francisco em encontro do qual participou, ontem, no Vaticano, juntamente com líderes das principais religiões na América Latina. Segundo Epelman, o Papa “citou o ocorrido na Catedral como um ato de fanatismo. Disse que a agressão não pode ser um ato de fé e que a pregação da intolerância é uma forma de militância que deve ser desterrada”. O líder judeu contou que, após a apresentação de cada um, “o Papa tomou a palavra e se referiu à importância do trabalho inter-religioso e logo ao fundamentalismo religioso, e recordou o episódio da Catedral Metropolitana”. E relatou as seguintes palavras do Papa: “A única coisa com que devemos ser intolerantes é com a cultura do paganismo em termos de modernidade”, e citou o valor que se dá ao dinheiro. Esteve presente também no encontro o Cardeal brasileiro Dom Raymundo Damasceno Assis.

São Vicente Ferrer, um proselitista anti-conciliar.

Apresentamos a tradução de um texto do historiador dominicano Vicente Beltrán de Heredia sobre o costume medieval de se pregar nas sinagogas e realizar controvérsias com rabinos nos tempos de São Vicente Ferrer, um santo acusado de judeufobia, e que, se vivesse hoje, dificilmente receberia um doutorado honoris causa nas universidades ditas católicas.

S. Vicente Ferrer.
S. Vicente Ferrer.

A Chamada do Santo Pregador [Vicente Ferrer] pelo papa Luna [ndr: então anti-papa Bento XIII] obedecia à urgência em prover um sucessor ao rei Dom Martin de Aragão. Naquele mesmo ano de 1412, com o voto decisivo de São Vicente, foi nomeado Dom Fernando de Antequera [como sucessor de Dom Martin]. Tanto ele como Luna eram ferrenhos defensores de levar a cabo, por todos os meios lícitos, a conversão dos judeus. O dominicano, em suas andanças naquele ano e no ano seguinte, inclusive quando se dirigia a Caspe para assistir à famosa reunião do Compromisso, pregava nas sinagogas com abundante fruto. As últimas investigações assinalam sua passagem por Zaragoza, Teruel, Ainsa, Maella, Alcorisa, Castellote, Alcañiz, etc.

Mas este trabalho era demasiado lento e todos tinham pressa em levá-lo a cabo.

Para isso, Bento XIII, sem dúvida de acordo com o rei, decidiu convocar os rabinos de Aragão para um congresso de conferências que ocorreria em Tortosa; e onde uns e outros, mestres cristãos e judeus, teriam de discutir sobre suas diferenças religiosas.

O santo tomou parte ativa nelas [nas conferências]. Ele mesmo colaborou na composição de um tratado Adversus Judaeos, que versa acerca da vinda do Messias e da divindade de Jesus Cristo, tema sobre o qual costumava pregar nas sinagogas.

Compareceram nas conferências catorze dos mais doutos rabinos de Aragão e uma infinidade de representantes da comunidade judaica. O forte da discussão por parte dos cristãos repousou em Jerônimo de Santa Fé, um rabino convertido pelo dominicano valenciano, o qual, por ter profundos conhecimentos do Talmud, era o mais indicado para dissipar os erros contidos nele. Sua eloquência e a força de raciocínio surpreenderam os rabinos ali presentes, que ao fim de vários meses de discussão começaram a vacilar. Isso reconhece o citado Amador de los Ríos, que escreve: “Os mais sábios mestres da lei mosaica, chamados a Tortosa com o anseio de sair em sua defesa [da lei mosaica], sentiam nascer e crescer a dúvida em seus corações na medida em que se aferrava o debate. A inspirada oratória do converso dissipava, ao fim, as trevas do espírito, e eles creram na vinda do Messias verdadeiro e adoraram como Cristãos o Filho do Homem”. Somente dois dos rabinos presentes permaneceram obstinados.

As conversões em algumas comunidades foram numerosas. Calcula-se que, entre Aragão e Castilla, houve, nestes anos, umas 200.000 [conversões]. Humilhado o orgulho judaico, que nos anos de prosperidade achava na Espanha pretexto para perseverar em seus erros, alegando que a profecia de Jacó, «Non auferetur sceptrum de Juda», se verificava nela, onde tinham o centro do domínio e do governo, se creu conveniente estender a Aragão as normas restritivas adotadas em Castilla.

Por sua parte o papa Luna publicou em 1415 a bula Etsi doctoribus, em que, como medida profilática para afastar os judeus do trato com os cristãos, freia ainda mais a ousadia dos israelitas na propaganda de suas doutrinas, no exercício de suas profissões, na ostentação de seu culto, na prática da usura, mandando que três vezes ao ano se pregue em suas sinagogas sobre a vinda do Messias, o cumprimento das profecias e a concordância do Antigo com o Novo Testamento.

Toda esta política, ordenada a reprimir a demasiada liberdade e os excessos que a sua sombra  haviam cometido os judeus da Espanha durante o século XIV, e a impedir seu proselitismo entre os conversos, foi então e segue sendo hoje duramente censurada pelos mestres da seita [judaica]. Suas recriminações recaem em primeiro lugar sobre o pontífice Luna, o rei dom Fernando de Antequera e a rainha Catalina de Lancaster, e alcançam também aos conversos Jerónimo de Santa Fé e Pablo de Santa María, e, desde logo, a nosso Santo [Vicente Ferrer], como causadores principais de sua ruína. Na realidade, quase todas essas medidas estavam já acordadas em concílios anteriores, particularmente no provincial de Zamora de 1313 e nas Cortes de Castilla, “se bem que, pela grande influência judaica sobre nossos monarcas, não se cumpriram [as medidas]”.

Tampouco tiveram grande eficácia. Porque deposto, pouco depois, o Papa Luna, suas ordens perderam toda a força. E, no que diz respeito às ordens da rainha Catalina, uma testemunha, Alonso de Espina, que escrevia em 1460, diz que tampouco se cumpriam, já que os judeus compraram sua liberdade.

Mas interessa, de modo particular, defender o nosso Santo da acusação de antissemita, acusação feita pelos antigos e que, em nossos dias, é repetida pelo historiador rabínico Baer, apresentando como prova a Quaresma pregada por ele em Valencia no ano de 1413. O autorizado hebraísta Millás e Vallicrosa recordou esta acusação; e previa uma dupla leitura da referida Quaresma: “Cremos que nosso bom amigo, o professor Baer, equivocou-se ao descobrir intenções manifestamente antissemitas nestes sermões quaresmais. O problema judaico, um dos mais difíceis que pairava no horizonte espanhol, está absolutamente ausente, na forma e no conteúdo, em tais sermões”. E, voltando depois ao tema acrescenta que, longe de aparecer ali tendências antissemitas, encontra-se a mais resoluta condenação dos que a promoviam e patrocinavam.

E assim tinha que ser. As diretrizes deste apostolado vicentino eram as mesmas que havia ditado em seu tempo São Raimundo, ou seja, a persuasão, para que venham à Igreja, não forçados, mas convencidos de seu erro. O mesmo reconhece também o israelita Samarián, reproduzindo como evidência vários textos dos sermões catalães.

Concluamos, pois, que nosso Santo nessa campanha de apostolado pelas sinagogas foi fiel continuador daqueles que, tomados por um zelo de caridade, procuraram desinteressadamente a salvação de Israel. A crítica partidista de seus inimigos de sempre não pode privar-lhe desse mérito e dessa glória.

Fonte: Infocaótica

Pe. Lombardi: Magistério da Igreja e Concílio dizem que judeus não são inimigos da Igreja.

MASSIMO PERCOSSI/ANSA

Rádio Vaticano | Cidade do Vaticano – “Uma tradição magisterial de dezenas de anos por parte dos Papas e da Igreja, unida a seu compromisso com o diálogo inter-religioso, demonstra que de nenhuma forma é possível falar dos judeus como `inimigos da Igreja´”. Foi o que afirmou o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, respondendo ao apelo de jornalistas para que fizesse algum comentário sobre as declarações de Mons. Fellav (sic), superior da comunidade São Pio X.

Sem entrar no mérito das declarações de Mons. Fellav (sic), Padre Lombardi preferiu destacar como a Igreja Católica expressa sua relação com os judeus, de maneira particular no documento do Concílio Vaticano II Nostra Aetate, e como os Papas tem demonstrado frequentemente, com palavras e gestos, a grande importância atribuída ao diálogo com os judeus.

Padre Lombardi também recordou as significativas visitas dos dois últimos Pontífices a diversas sinagogas e ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. O Papa Bento XVI, em particular, visitou a Sinagoga de Colônia em 2005, uma Sinagoga em Nova York em 2008 e a Sinagoga de Roma em 2010.(JE)

O Papa dos judeus.

Por Francisco Panmolle

pioFratres in Unum.com – Após a leitura do artigo O dilema moral de Pio XII, escrito pelo grande homem e (por necessidade lógica) grande católico Hermes Rodrigues Nery, questionei-me (e não só a mim) acerca do conhecimento, por vezes parco, que nós temos dos grandes homens do passado. Dentre estes, destaca-se o Santo Padre Pio XII, de veneranda memória, sobre o qual se propagam “fábulas e reconstituições históricas bastante grosseiras” [1] que já constituem uma verdadeira lenda negra. Esta apareceu, há pouco mais de uma década (1999), travestida de “séria investigação” conquanto não fosse senão o vômito requentado dos fautores do mal: “O Papa de Hitler – A história secreta de Pio XII” do jornalista John Cornwell. Esse foi o livro que motivou não só o supracitado artigo mas, também, o livro do vaticanista Andrea Tornielli: “Pio XII – O Papa dos Judeus”.

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Atentado ao único dogma moderno, o diálogo: Isso não se faz, “irmão mais velho”…

Membro do Parlamento israelense rasga Bíblia e joga livro no lixo

Para Michael Ben-Ari, o presente seria ‘uma provocação da Igreja’

Membro do parlamento israelense rasga bíblia enviada de presente.
Membro do parlamento israelense rasga bíblia enviada de presente.

O Globo | JERUSALÉM — Ao receber uma Bíblia de presente, o membro do Parlamento israelense Michael Ben-Ari (da União Nacional) rasgou o Novo Testamento em pedaços e, em seguida, jogou o livro católico no lixo. De acordo com o site israelense NRG, os exemplares foram distribuídos aos 120 membros da Knesset por Victor Kalish, diretor-executivo de uma editora cristã especializada na distribuição de textos religiosos em Israel.

Kalish enviou as Bíblias juntamente com uma carta explicando que se tratava de uma nova edição com 90 mil referências. “Este é um precioso fruto da cooperação entre as Sagradas Escrituras e entre os crentes ao redor do mundo, que lança luz sobre o Antigo Testamento e ajuda a compreendê-lo”.

A reação causou alvoroço. De acordo com o site, Ben-Ari teria dito que “o livro abominável promoveu o assassinato de milhões de judeus durante a Inquisição”.

– Essa é uma provocação missionária muito feia da Igreja. Não há dúvida de que o livro e seus remetentes pertencem ao lixo da história – afirmou.

Com a reação violenta, Tzipi Hovotely, membro do partido governista do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, enviou um pedido ao presidente da Knesset instando-o a proibir a distribuição de materiais missionários.

Liga Anti-Difamação: Salvem o Vaticano II!

Abraham H. Foxman, diretor da Liga Anti-Difamação.
Abraham H. Foxman, diretor da Liga Anti-Difamação.

A Liga Anti-Difamação [Anti-Defamation League], uma organização não governamental sediada nos Estados Unidos, cujo objetivo principal é combater o anti-semitismo, decidiu se pronunciar novamente sobre assuntos internos da Igreja Católica.

Depois de imiscuir-se na política eclesial por ocasião da promulgação do motu proprio Summorum Pontificum e polemizar sobre a nova oração pelos judeus na liturgia católica da Sexta-Feira Santa, agora ela vem defender a integridade do Concílio Vaticano II diante dos propósitos dos tradicionalistas — aparentemente acolhidos, ao menos em parte, pela Santa Sé — que visam relativizar o teor de seus documentos.

Após o encontro de 14 de setembro entre o Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e o Superior Geral da Fraternidade São Pio X, Dom Bernard Fellay, a Liga Anti-Difamação publicou em seu sítio um artigo em que

“encoraja o Vaticano a assegurar que a seita católica separada que ensina o anti-judaísmo seja obrigada a aceitar os ensinamentos positivos oficiais da Igreja sobre os judeus e o judaísmo, antes de ser plenamente aceita de volta na Igreja Católica Romana”.

Declarou Abraham H. Foxman, diretor da Liga Anti-Difamação:

Estamos confiantes de que o Papa Bento XVI continuará a exigir da Fraternidade São Pio X, que sustenta opiniões anti-semitas e anti-judaicas, a aceitar publicamente os ensinamentos positivos da Igreja sobre os judeus e o judaísmo desde o Concílio Vaticano II, de 1965, antes de aceitá-los de volta na Igreja Católica Romana.

Por sua vez, o Rabino David Rosen, presidente do Comitê Judeu Americano para Assuntos Inter-religiosos e velho expoente do diálogo católico-judaico, disse estar preocupado pelo gesto de acolhimento por parte do Vaticano e espera esclarecimentos:

“Se ‘Nostra Aetate’ e ‘Lumen Gentium’ não são considerados doutrinas fundamentais da Igreja, e for possível questioná-las sem desafiar a autoridade da Igreja, então nós (e não só as relações judaico-católicas) estamos indo por um caminho muito difícil”.

Diversos grupos judeus tiveram papel importantíssimo na redação da declaração Nostra Aetate. Clérigos influentes, sob a proteção especial do Cardeal Augustin Bea, SJ, então responsável pela unidade dos cristãos e pelo diálogo com os judeus, beneficiando-se de suas posições, reuniam informações de dentro do Concílio e as divulgavam para a imprensa secular e grupos de pressão judeus, que, por sua vez, usavam-nas para influenciar e constranger os padres conciliares — particularmente os progressistas, preocupados com o diálogo inter-religioso. Comissões foram formadas, e a própria Liga Anti-Difamação, fundada pela B’nai B’rith, organização para-maçônica exclusiva para judeus, foi consultada.

A influência judaica se estendeu a encontros de lideranças com João XXIII, para as quais as maiores fontes de discriminação contra os judeus seriam os ensinamentos da Igreja Católica. Foram realizados também encontros “discretos” entre o Cardeal Bea e organizações judaicas em Nova Iorque; chegaram à desfaçatez de elaborar uma oração, atribuindo-a falsamente João XXIII, em que se fazia um mea culpa pelos erros passados da Igreja contra os judeus.

Enfim, apesar da intromissão, a preocupação judaica com a integridade do Vaticano II não pode ser considerada surpreendente por quem conhece as obscuras histórias dos corredores conciliares.

Cruz de Cristo, escândalo para os judeus. Local onde rasgam as vestes: L’Osservatore Romano.

Assis: polêmica entre judeus e cristãos sobre símbolos religiosos.

No “L’Osservatore Romano” se inflama o debate entre o Cardeal Koch e Ricardo di Segni. O rabino rechaça a comparação entre a Cruz e o Yom Kippur.

Vatican Insider – Tradução: Fratres in Unum.com

Bento XVI e o rabino Di Segni. Em janeiro de 2010, este mesmo rabino declarou: “Se a paz com os lefebvristas significa renunciar às aberturas do Concílio, a Igreja tem que decidir: ou eles ou nós!”
Bento XVI e o rabino Di Segni. Em janeiro de 2010, este mesmo rabino declarou: “Se a paz com os lefebvristas significa renunciar às aberturas do Concílio, a Igreja tem que decidir: ou eles ou nós!”

« Se os termos do diálogo são os de indicar aos judeus o caminho da Cruz, não se entende por que o diálogo nem o porque de Assis », escreveu em “L’Osservatore Romano” o rabino mais importante de Roma, Riccardo Di Segni, advertindo que os que apoiam o diálogo entre católicos e judeus devem evitar recorrer a símbolos não compartilhados.

A comparação que fez o Cardeal Kurt Koch, diretor do dicastério vaticano para o diálogo ecumênico, entre a cruz cristã e a festividade judia da expiação, o Yom Kippur, não agradou ao rabino de Roma, Riccardo Di Segni.

O debate surgiu com o artigo de 7 de julho publicado pelo Cardeal Koch no periódico da Santa Sé sobre o significado da Jornada Inter-religiosa da Oração pela Paz em Assis, do próximo 27 de outubro, no qual o purpurado suíço escreveu que a cruz de Jesus « se levanta sobre nós como o permanente e universal Yom Kippur », e « por isso a cruz de Jesus não é um obstáculo para o diálogo inter-religioso; antes, indica o caminho decisivo que sobretudo judeus e cristãos […] deveriam tomar, em uma profunda reconciliação interior, tornando-se fermento para a paz e a justiça no mundo ».

Segundo Di Segni, estas palavras « inspiradas pela fraternidade e boa vontade, se não forem melhor explicadas, podem evidenciar os limites de uma certa forma de dialogar da parte dos cristãos ». Di Segni se queixa em particular da proposta que Koch « faz ao interlocutor judeu para que se deixe guiar por símbolos que este não compartilha. Sobretudo quando estes símbolos são apresentados como substituições, com o valor agregado dos ritos e dos símbolos do crente com que se dialoga».

« O crente cristão – explica o rabino de Roma – pode, sem dúvida, pensar que a Cruz substitui de maneira permanente e universal o dia de Kippur, mas se deseja dialogar sincera e respeitosamente com o judeu, para quem o Kippur mantém seu valor permanente e universal, não tem que lhe propor suas crenças e suas interpretações cristãs como sinais do ‘caminho decisivo’».

« Pois então há o risco – prossegue – de se entrar na teologia da substituição e a Cruz se converte em obstáculo. O diálogo judaico-cristão corre inevitavelmente este risco, porque a idéia do cumprimento das promessas judaicas é a base da fé cristã; assim, o afirmar-se desta fé implica sempre uma idéia implícita de integração, se não de superação da fé judaica ».

De Segni continua: « a língua do diálogo deve ser comum e o projeto deve ser compartilhado. Se os termos do diálogo são baseados em cristãos indicando aos judeus o caminho da Cruz, não se entende o porque do diálogo nem o porque de Assis ».

Em sua réplica, o Cardeal Koch explica que « não se trata de substituir o Yom Kippur hebraico pela cruz de Cristo, embora os cristãos vejam na cruz de Cristo o permanente e universal Yom Kippur ». A questão, de toda forma, « não é um obstáculo para o fato de que cristãos e hebreus, dentro do recíproco respeito pelas respectivas convicções religiosas, se empenhem na promoção da paz e da reconciliação, caminhando juntos para Assis ».

(Destaques do original)

O ecumenismo segundo o Cardeal Kurt Koch.

Um segundo aspecto é a grande mudança que está criando raízes no pensamento da comunidade reformada: eles não vêem como fim do movimento ecumênico a unidade visível na fé, nos sacramentos e no ministério, mas reclamam a permanência de uma pluralidade de Igrejas que se reconheçam umas às outras, cuja totalidade produziria, finalmente, a Igreja de Cristo. Algo como uma espécie de lar adotivo, de onde de tempos em tempos sai um convite aos vizinhos para alguma festividade. Essa posição não agrada católicos e ortodoxos. Este não é o único e indiviso Corpo de Cristo, não corresponde à oração de Jesus para que todos os discípulos sejam um, como são o Pai, o Filho e Espírito Santo.

[…]

A Igreja de Jesus Cristo não é uma idéia abstrata, que ainda não existe, mas está na Igreja Católica, entendida enquanto sujeito histórico. E isso não implica dizer, de modo algum, que os católicos são cristãos melhores do que outros, mas apenas que na Igreja Católica existem os meios de salvação. É um fato objetivo. Assim, quando ouço dizer que há fiéis protestantes que desejam se tornar católicos, digo-lhes: “Vocês não devem deixar nada, mas sim receber algo a mais”, isto é, os meios de salvação presentes da Igreja Católica. Que não são um mérito da Igreja, mas um dom do Senhor. Com isso, já está implício que também em outras Comunidades eclesiais existem meios de salvação.

[…]

Os cristãos acreditam na universalidade da salvação em Jesus Cristo, por outro lado se diz que uma missão para com os judeus é absolutamente impossível. Como podem essas duas afirmações não ser  incompatíveis? Eis também o motivo por que a nova oração da Sexta-feira Santa tem levantado tantas discussões. Gostaria de compreender melhor o que significa para um judeu a fé cristã e as relações entre judeus e cristãos. O diálogo do Papa Bento XVI com o rabino Neusner, no primeiro livro Jesus de Nazaré, é importante para mim, é exatamente o diálogo teológico que imagino. E sobre a missão sistemática em direção aos judeus… a Igreja não a procura. Mas nós cristãos confessamos a fé em Jesus e a colocamos gratis perante à liberdade do outro.

Da entrevista concedida pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, Dom Kurt Cardeal Koch, à revista 30Giorni – março de 2011.