“E o mundo gemeu ao acordar e ver-se ariano”.

Vós estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Chegará o tempo em que aquele que vos matar, julgará prestar culto a Deus.

Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 11 de dezembro de 2021: Os institutos religiosos e similares chamados tradicionais foram entregues ao Cardeal Braz de Aviz. Ao lobo foi entregue o cuidado das ovelhas.

A primeira coisa que se precisa ter em mente é que Francisco deseja, e está usando todos os meios para, destruir não a chamada “Missa Tradicional”, mas a Igreja Católica tal como a compreendemos.

Recordo-me de no meu tempo de Seminário, tínhamos a Missa em latim, com um Missal dado pessoalmente pelo Papa Paulo VI ao nosso Bispo. Nas primeiras páginas do Missal estava escrito à mão pelo nosso Bispo: “Presente Pessoal do Papa Paulo VI” e logo abaixo escrito em latim uma frase de S. Jerônimo: “E o mundo gemeu ao acordar e ver-se ariano”. Demorei alguns anos para compreender o que aquele velho missionário redentorista queria dizer com aquela frase.

O problema é que naquela época eu me contentava com migalhas de catolicismo verdadeiro. Como um cão debaixo da mesa, eu buscava faminto a missa “nova” em latim, os paramentos antigos que milagrosamente não foram queimados no seminário em que estudei (enquanto que, em torno da catedral, os moradores de rua andavam vestidos de sobrepelizes, dalmáticas e tunicelas, que o pároco jogara no lixo). Encontrava essas migalhas particularmente em instituições consideradas conservadoras, como o Opus Dei. E nas recordações de padres e bispos idosos que de vez em quando nos falavam de uma Missa, de uma Igreja, de uns Papas que nos pareciam tão distantes…

Um dia fomos arrumar o porão e percebemos que lá havia caixas com mitras cheias de pedras, luvas e uma estola minúscula que não tínhamos ideia de que para que serviria. Era o manípulo. “Coisa velha”, era a resposta geral para tudo.

Algumas leituras que fazíamos pareciam ser em outra língua. As penitências do Cura de Ars, a descrição da Missa de certos santos pareciam ser para nós coisas de uma outra religião. Mas, tínhamos aqui ou ali, alguma migalha.

Ouvimos então falar de um bispo rebelde, que não gostava do Papa e que era um herege cismático e excomungado: Mons. Lefebvre.

Mas a proximidade geográfica com Campos nos revelou que aquela Igreja, que nos parecia morta, estava viva. Que as migalhas que caíam da mesa eram de uma maravilhosa refeição que ainda era servida. De modo geral nossom comportamento com os padres de Campos (da então União Sacerdotal S. João Maria Vianney) ou com os monges de Friburgo era como se excomunhão fosse algo contagioso, e claro, eles eram todos excomungados.

Não havia internet. Nós tínhamos alguns livros e revistas que compartilhávamos como se fosse um pecado: “Ontem Hoje e Sempre”, “Sim, sim. Não, Não”, “Catolicismo”, “Permanência”… A imagem de Nossa Senhora de Fátima que chorou era proibida, mesmo em nossos quartos. A graça de Deus, a junção de algumas migalhas e um pouco de inteligência nos fazia chegar à brilhante conclusão de que havia vida antes do Concílio Vaticano II, e não só vida, santidade.

O nosso bispo dizia que gostava que usássemos batina. E o reitor dizia que não devíamos usar batina porque alguns padres não usavam sequer camisa clerical. Um dia, a mãe de um seminarista fez um barrete bonito. Era o que dava… De algum modo a notícia vazou… e o reitor, numa homilia (que Evangelho justificaria essa frase?), dizia que no Seminário ele não queria nem barrete nem porrete.

Mas, e as fotos de Dom Bosco? E o solidéu na cabeça de S. Vicente? Não se falava tanto da juventude e dos pobres? É claro que era algo externo, mas se aquela aparência não afastava nem os jovens nem os pobres, por que agora afastariam?

Depois nos ensinaram algo que deveria a grande norma de vida: nunca esteja mais alinhado que o bispo. Hoje compreendo o ridículo. Estávamos de batina, o bispo chegava de camisa clerical, correria… e se durante a refeição o bispo desabotoasse o botão da camisa clerical e tirasse o colarinho, parecia uma coreografia ensaiada ou um desfile militar da Coréia do Norte.

O fim do pontificado de João Paulo II trouxe o reconhecimento dos Arautos do Evangelho, a criação da Administração Apostólica, a canonização de S. Josemaría e os anos do Rosário e da Eucaristia com os documentos referentes. Um franciscano simplesmente nos disse certa vez que o Papa estava maluco e que essa gente era tudo farinha do mesmo saco. E nós sabíamos que não havia muita amizade entre essas pessoas.

Aliás o que mais ouvíamos dos religiosos de modo geral eram críticas ao Papa. E isso era considerado bom, porque assim é a Igreja: “Unidade na Diversidade”.

O pontificado de Bento XVI começou com uma frase de um sacerdote professor de uma universidade católica que o pudor me impede de reproduzir nesse artigo.

Bento XVI, com o Motu Proprio Summorum Pontificum, que apenas afirmava o que S. Pio V já tinha afirmado, explicita que nenhum sacerdote poderia ser proibido de celebrar a Santa Missa de acordo com o Missal promulgado pelo Concílio de Trento com as alterações feitas até 1962. Por uma graça imensa de Deus, foi nesse Rito que celebrei a minha primeira Missa. Mas não bastava a Missa. A Missa de S. Pio V exigia um tipo de sacerdote que eu ainda não era, com uma doutrina que ainda me faltava e com uma vida que eu ainda teria que adquirir.

Eu precisaria compreender que eu não era um presidente, mas um sacrificador.

Um santificador e não um animador.

E, graças ao apostolado de muitos leigos e alguns padres, surgiram as providenciais leituras, cursos, vídeos, sites… É claro que não daria certo colocar todo mundo na mesma sala, mas a internet nos possibilitava aprender a Missa com a Fraternidade S. Pio X, comprar paramentos com as irmãs da Administração Apostólica e aprender o catecismo com o Prof. Fedeli.

E, foram surgindo ou aparecendo comunidades, institutos, associações tradicionais. Nem sempre muito coerentes, mas era o que acontecia.

E o Pontificado de Bento XVI se desfaz com uma nebulosa renúncia.

E veio Francisco.

Francisco é o Papa que tomou posse do Papado.

Ele não se considera servo do Papado, mas o Papado é o modo com o qual ele pretende destruir o que ainda resta de católico.

E não se pode mais negar um fato sem cair na mentira ou na loucura.

E o mundo chorou ao se ver ariano…

Aquele ancião redentorista, como um outro ancião espiritano, percebeu o que vinha, o que já estava em curso. Mas cada um tomou um caminho diferente. Um caiu no golpe de mestre de Satanás: usar a obediência para destruir a Igreja; o outro compreendeu que resistir é o maior ato de veneração para com o Papa, se este caminha na direção oposta do que a Igreja sempre ensinou.

O golpe que Francisco desferiu na Missa Católica, foi um golpe desferido sobre a Igreja.

É claro que esse golpe foi preparado.

De uma hora para outra, tudo que conserva a Tradição na Igreja, mesmo que esporadicamente, se tornou “desconfiável”, abusos de qualquer ordem (geralmente variando entre sexual ou financeiro, ou ambos) começaram a pulular nesses Institutos, visitas apostólicas, supressões, expulsões se tornaram o pão nosso de cada dia de quem simplesmente quis conservar o que recebeu ou guardar o tesouro que encontrou.

E para muitos clérigos ou religiosos, o simples fato de saber que “o Papa não gosta” já é o suficiente para fazer o que reprovariam há menos de uma década, não por um ato de inteligência, mas por simples covardia, porque seria uma blasfêmia chamar isso de devoção.

E o machado cai até sobre instituições que estavam começando, frágeis, necessitadas de apoio e proteção. Foram crianças recém-nascidas abandonadas na noite fria da apostasia justamente por aqueles que deveriam ser seus protetores.

Aqui surge então a coragem de tantos leigos que, chegando a pôr em risco a própria vida, estão denunciando os erros desses apóstatas que se sentam em muitas sedes episcopais.

Mas esses bispos não sabem desses erros? Dessas corrupções, muitas vezes das mais abjetas, em seu clero aparentemente fiel e dentro da lei?

Sabem.

E o que fazem? Buscam corrigir esses erros? Ao menos fazem pesar com o mesmo peso a mão sobre eles como quando fazem conosco? Não. A resposta desses bispos covardes, a quem o nome bispo é uma profanação, é ameaçar os padres que não suportariam uma suspensão de ordens mesmo sabendo que é injusta, caso os leigos corajosos, para o bem da Igreja, exponham a chaga de seus falsos pastores.

Os leigos lutam contra os passaportes sanitários, enquanto que ontem em importante igreja dedicada à Imaculada, só se podia entrar com o comprovante de vacinação para venerar a Santíssima Virgem.

Senhor, o que mais nos aguarda?

Senhora, vencereis. Nós sabemos. Mas tende piedade de nós e não tardeis em esmagar com vossos níveos pés a serpente infernal.

Profanações.

Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 17 de outubro de 2021: Nos últimos dias, chegaram várias notícias cujo pano de fundo é o mesmo: a profanação.

A Catedral de Toledo, uma Igreja Paroquial em Manaus, uma Basílica Romana… E esses foram os que se tornaram públicos. 

A picture of corals as part of art projection featuring images of humanity and climate change of Artistic rendering by Obscura Digital is projected onto the faade of St. Peter's Basilica at the Vatican

E não foram poucos os que manifestaram perplexidade diante desses eventos, que, num olhar atento, desgraçadamente não são tão raros.

A que ponto chegamos? Ver nossas Igrejas cedidas para clipes que incentivam o pecado, particularmente o pecado contra a natureza que brada ao céu, ou ver uma paródia sacrílega da Pietà composta por dois homens nús, onde recordamos de um dos pecados contra o Imaculado Coração de Maria que é a falta de respeito para com suas sagradas imagens!

Cada vez mais somos obrigados a reconhecer um espírito profético em certos homens que compreenderam para onde se dirigia a Igreja com as inovações do Concílio Vaticano II, um deles chegou a afirmar que ao começar a celebrar a missa em mesas seria a vitória de Lutero.

E é exatamente isso.

Tudo começa na dessacralização do Santo Sacrifício da Missa.

Se fizéssemos uma entrevista com a maioria dos que vão à Missa atual, perguntando qual a razão de irem à Missa, ou se reconhecem na Santa Missa um autêntico sacrifício as respostas fariam chorar os anjos.

O altar tornado mesa de copa, o sacrário relegado a um canto obscuro, as imagens inexistentes, o sacerdote que outrora era um sacrificador anônimo e que tornou-se um animador de auditório, o templo tornado espaço celebrativo… vitória de Lutero.

Recordo-me de uma vez em que fui venerar algumas relíquias de S. João Bosco que estavam encerradas numa belíssima imagem jacente e enquanto rezava, um padre celebrava a missa e explicando o que era “aquele boneco” contou a história do Rei Midas…

Dessacralização.

As coisas sagradas perderam completamente o valor para essas pessoas. Não há transcendência. Não há sagrado.

E se não há, qual o valor de uma Missa, ou de uma imagem, ou de uma Igreja?

Porque não ceder para outros usos? Uma reunião sindical? Um museu? Um expositório de obras bizarras? Um clipe gay? Qual o problema de fazer um barquinho e pôr ali a Pacha Mama e atravessar a nave da Basílica Vaticana com essa abominação?

Se – como já acontece em não poucos lugares – um grupo quisesse destruir uma Igreja, ou um monumento católico, como o Cristo Redentor, talvez houvesse alguma reação dos católicos. Mas mostrar o Cristo de máscara, refletir animais na Basílica Vaticana não parecem tão agressivos, afinal devemos ser uma Igreja em diálogo…

Vitória de Lutero.

Mas o Senhor não disse: “Ide e dialogai”, mas “Ide e ensinai”. Mais ainda, diz o Espírito Santo, “aquele que destruir o templo de Deus, Deus o destruirá”.

É porque não se reza mais nas Igrejas que essas profanações acontecem. É porque não se visita mais o Santíssimo Sacramento como o Divino Prisioneiro que chegamos a esse ponto!

É preciso resistir!

É preciso lutar! Queremos nossas Igrejas de volta! Queremos nossos monumentos católicos respeitados, mais ainda, venerados! Queremos a Missa Católica!

Mas não conseguiremos isso se ficarmos parados. Será que não percebemos que estamos em guerra como nos recordou o Apóstolo na Epístola de hoje?

Católicos, levantem-se! Levantem-se pela glória de Deus, pela santidade de seu templo! Levantem-se gritando o nome de Maria que sozinha vence todas as heresias. Façam do Credo o seu estandarte de batalha. Do Santo Sacrifício da Missa a jóia engastada em seus corações. Lutem.

Vitória de Deus.

* * *

Pe. Antonio Mariano está recebendo intenções para o Dia de Finados. Envie para profidelibusdefunctis@gmail.com.

Os novos santos compensam a Missa nova?

Por  Peter Kwasniewski, OnePeterFive.com | Tradução: João Pedro de Oliveira -FratresInUnum.com — Como se pode esperar em qualquer época, não importando o quão podres sejam as circunstâncias, o Senhor continua a suscitar homens e mulher com traços de santidade. Dois exemplos bem conhecidos são a Beata Chiara Badano (1971–1990) e o Beato Carlo Acutis (1991–2006). O fato de eles terem vivido exclusivamente dentro da esfera do Novus Ordo poderia contar como uma rejeição dos tradicionalistas, os quais sustentam que a liturgia reformada — ou melhor, deformada — prejudica a vida espiritual?

Não, não poderia, assim como a salvação dos que não são membros visíveis da Igreja Católica tampouco derruba o dogma de que extra Ecclesiam nulla salus, isto é, “fora da Igreja não há salvação”. No meu livro Reclaiming Our Roman Catholic Birthright [n.d.t.: ainda sem trad. portuguesa], eu faço a seguinte observação:

O fato de que houve alguns santos após e sob o Novus Ordo não prova que ele seja igual, em seu poder santificador, à Missa latina tradicional, assim como o fato de que alguns demônios podem ser expulsos pelo novo rito de exorcismo não contradiz o consenso geral entre os exorcistas de que o rito latino tradicional de exorcismo é muito mais efetivo. No máximo, o que tais coisas provam é que Deus não pode ser frustrado pelos homens de igreja ou por suas reformas. Como ensinam os teólogos, Deus não está limitado por suas próprias ordens: Ele pode santificar as almas fora do uso dos sacramentos, ainda que nós estejamos moralmente obrigados a usar os sacramentos que Ele nos deu. De modo análogo, Ele pode santificar uma alma que o ama mesmo através de uma liturgia deficiente em tradição, em reverência, em beleza e em outras qualidades que, pela lei natural e pela lei divina, deveriam estar presentes nela, ainda que no curso normal das coisas as almas devessem servir-se desses poderosos auxílios à santidade (p. 12). 

Dois outros pensamentos vêm à mente.

Primeiro, é certamente possível que um leigo se torne bastante santo em um campo de concentração na Sibéria, sem acesso algum aos sacramentos. É possível que um padre prisioneiro nesse campo se torne bastante santo, celebrando Missa com uma migalha de pão e um dedal de vinagre. Essa não é, no entanto, a norma que Deus pensou para nós, e é provável que o tratamento num campo de concentração não desenvolva a santidade da maior parte das pessoas. Alguns seriam levados ao desespero, outros à loucura, outros à apostasia e outros ainda a comportamentos bestiais. Não nos esqueçamos que, para cada mártir cristão que era feito pelos antigos romanos, havia muitos outros que apostatavam, entregavam os livros sagrados aos inimigos e queimavam um pitada de incenso ao “divino” imperador.

Segundo, precisamos ampliar o horizonte de nosso olhar e perguntar que frutos de santidade foram produzidos ao longo dos mais de 50 anos passados desde a reforma litúrgica. Certamente, houve alguns bons frutos, pois em qualquer época durante a qual as pessoas procurarem viver pelas virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, sobreditos frutos não faltarão jamais. Mas será que o último meio século tem condições de se comparar a qualquer outro período de 50 anos da história da Igreja Católica, se usarmos como termos de comparação as vidas dos santos e as obras-primas da bela arte cristã (os dois critérios que Joseph Ratzinger identificava como provas indiscutíveis da verdade do Evangelho)? A resposta é óbvia a quem quiser ver. A era da reforma litúrgica está marcada por uma apostasia sem precedentes da fé, uma sangria massiva de fiéis e uma dissipação e dissolução da identidade católica que superam até mesmo o estrago feito pela Revolta Protestante. A tendência no Ocidente, onde o Reno lançou-se no Tibre, é de franca decadência — exceto dentro do movimento tradicionalista [1].

Permita-me fazer uma comparação diferente: a democracia, em seu sentido moderno, vige há cerca de 250 anos. Desde então, quase ninguém com reputação de santidade emergiu de suas classes governantes. Contraste isso com as monarquias europeias de antigamente: dúzias e mais dúzias de santos. Conceda-se, é quase como comparar laranjas com maçãs, mas o ponto é que a Missa antiga é o ambiente sadio da cristandade, e a nova Missa é o ambiente malsão da “Bugninilândia” [Bugniniville] (que não pode competir jamais com a vila das margaridas [Margaritaville]). De uma grandes e abundantes frutos advieram; da outra, não muito grandes, nem muitos. A expectativa é que vejamos contrastes similares aos que existem entre as sociedades pré-democráticas, hierárquicas e tradicionais e as democráticas, igualitárias e seculares.

Se alguém retrucasse dizendo: “Tudo bem: é bom que vocês, tradicionalistas, estejam produzindo alguns santos bem admiráveis, então!”, eu responderia: “Sim, nós estamos trabalhando nisso — mas não nos esqueçamos que, embora nossos números positivos estejam crescendo de modo desproporcional (número de casamentos, batismos, vocações religiosas e sacerdotais etc.), nós representamos algo em torno de 1 a 5% da população católica. Assim, ao menos sejamos justos nos ajustes estatísticos.”

A partir de uma leitura superficial da vida do novo beato Carlo Acutis [2], é possível dizer que ele respondeu com tremenda generosidade ao chamado divino. Ele era profundamente devotado à adoração eucarística, a qual tem o poder de transformar vidas. Não há razão particular para ficar perturbado com sua beatificação ou veneração; ela não está sobrecarregada com os muitos problemas que têm, por exemplo, a beatificação e a canonização de Paulo VI. Como o prisioneiro na Sibéria, Carlo tirou o máximo da Presença Real do Senhor, em meio aos retalhos de tradição e fragmentos de sentido que a Igreja italiana moderna lhe poderia oferecer. Em espírito, ele foi elevado sobre as limitações de sua época e de sua terra. Se Dom Athanasius Schneider se sente confortável invocando a intercessão dele, eu sinto o mesmo.

Devemos ter cautela, todavia, com a tendência do Vaticano de hoje de utilizar os dons de Deus para seus próprios fins perversos. As beatificações e canonizações têm se tornado ferramentas para a promoção da agenda modernista. Devemos distinguir entre o que a vida de um santo realmente exemplifica e o que o Vaticano tem sobreposto a isso. Por exemplo, apareceu um artigo em francês da agência Zenit associando os carismas particulares de Carlo às encíclicas Laudato si e Fratelli tutti, do Papa Francisco, porque, afinal, o Beato Carlo amava os animais e a natureza, e queria ajudar os sem-teto. É a oportunidade perfeita de transformar o menino em garoto-propaganda da era Francisco.

Em geral, eu sou bastante simpático à ideia de normalmente esperar cinquenta anos (ou, em todo caso, um bom período de tempo) para iniciar uma causa de beatificação ou canonização, sem falar de sua conclusão. É sábio “deixar a poeira baixar” e ver, entre outras coisas, se há evidência constante de um forte cultus popular à figura em questão. A falta de veneração popular — ou a necessidade de a estimular artificialmente, como numa espécie de campanha por candidatos políticos — é um dos aspectos mais perturbadores das beatificações e canonizações recentes. É como se a hierarquia da Igreja não mais acreditasse que os fiéis católicos, por um instinto de fé, podem reconhecer a santidade e reagir a ela quando a encontram. Se pararmos para pensar, o Vaticano tem boas razões para temer, pois, se deixasse falar o sensus fidelium, Dom Marcel Lefebvre acabaria na mesa da Congregação para as Causas dos Santos. Ele tem recebido dez mil vezes mais veneração popular do que Paulo VI, que o condenou, jamais recebeu ou receberá.

Vale fazer, ainda, uma outra e mais abrangente nota de advertência. No que tange aos santos que viveram sob a nova barbárie cultural de nossos tempos, devemos tomar o cuidado de não “canonizar”, junto com a santidade deles, algo incidental a respeito de suas vidas modernas. Isso vai acontecer com bastante frequência de agora em diante. “Ah, o Beato Betinho gostava tanto de música pop! Não é maravilhoso? A música pop agora faz parte da santidade! Não importa o que você escuta ou dança!”, ou: “A Santa Carol amava sair por aí de moletom e com camiseta rosa fluorescente! Acredito que não importa mais como você se veste quando o assunto é ser santo”. É possível imaginar todos os tipos de cenários e falsas inferências como essas.

O modo de contornar esse problema — que, para ser justo, tem paralelos em toda época da Igreja; por exemplo, os santos da Idade Média tinham notavelmente uma má higiene, mas ninguém, ao meu conhecimento, sugere que os devamos imitar nesse aspecto — é lembrar a relação, e a distinção, entre fé e razão, natureza e graça. Um homem notável por sua santidade pode não o ser nos argumentos que apresenta de teologia; uma mulher de santidade indiscutível pode não ter bom gosto em matéria de arte. Como discípulos do Doutor Comum da Igreja, Santo Tomás de Aquino, precisamos ser capazes de fazer distinções e imitar o que merece ser imitado, desculpando, ao mesmo tempo, o que pode ser desculpado, ou ignorando o que é melhor que seja ignorado.

Considere o seguinte: se fosse necessário escolher, melhor seria dedicar-se à oração e ouvir música medíocre, ou vestir-se de modo medíocre, do que ser um egoísta mentiroso com gosto impecável em abotoaduras e gravatas-borboleta; mas o melhor é ser, ao mesmo tempo, santo e bem educado, piedoso e inteligente, porque isso representa uma perfeição mais completa da humanidade tal como Deus a pensou. Graças sejam dadas a Ele por podermos alcançar a bem-aventurança apesar de certos defeitos nossos, mas nem por isso eles se tornam admiráveis ou dignos de imitação.

O sobredito traz à baila, ainda, uma outra questão: a de como devemos retratar santos de décadas recentes em estátuas, vitrais ou pinturas. Minha posição enfática é de que seria um erro tremendo apresentá-los de jeans e tênis, e ostentando um violão. É como “baixa Cristologia” [n.d.t.: isto é, uma Cristologia que tende a humanizar demais Jesus, em detrimento de sua divindade]: Jesus com um taco na mão, pronto para ajudar o Tiaguinho no jogo de beisebol. Não. Quando retratamos os santos, estamos retratando aqueles que nos precedem na glória. Eles fazem parte, agora, da nuvem de testemunhas celestes; não estão mais em casa fazendo as mesmas coisas de sempre. Essa é a diferença entre uma fotografia de um álbum do passado e um ícone que se abre para o reino escatológico. Uma certa estilização é necessária para qualquer santo, mas especialmente para aqueles dos quais temos fotos. Tenho visto exemplos bem sucedidos de santos modernos como Santa Teresinha, São Maximiliano Kolbe e São John Henry Newman, mas também já vi alguns absolutamente deploráveis. David Clayton tem escrito ótimos insights a esse respeito, assim como outros mestres em iconografia

Esses assuntos precisam ser discutidos com caridade e paciência, abertamente. Desde João Paulo II, tem havido um esforço orquestrado para se beatificar e canonizar figuras contemporâneas com a maior rapidez possível. Ainda que não necessariamente haja intenções maliciosas por trás dessa tendência, ela inevitavelmente levará cada vez mais à percepção, sem dúvida desejada pelos propagandistas, de que a situação eclesiástica atual está “ótima”, já que a Igreja ainda produz santos! Na realidade, é Deus sozinho que produz os seus santos no ventre da Santa Mãe Igreja. Às vezes os santos nascem de parto normal — catequese, liturgia, devoções e teologia tradicionais — e às vezes eles nascem de uma cesariana de emergência, isto é, através de uma intervenção de Deus numa situação que seria, de outro modo, desesperadora. O fato de isso acontecer não o torna normativo ou ideal. 

É digno e justo, sempre será digno e justo, que os católicos rezemos e trabalhemos pela restauração de nossa tradição, ao mesmo tempo que nos esforçamos para ser os santos que Deus nos está chamando a ser.

Notas

  1. É verdade que a Igreja tem crescido há décadas na África e na Ásia, mas ninguém em sã consciência ousaria atribuir esse crescimento ao Vaticano II ou à reforma litúrgica.
  2. É possível ler sobre ele em muitos lugares na internet; por exemplo, aqui, aqui e aqui.

A Carta de São Judas: uma resposta à atual crise da Igreja.

A clamorosa atualidade da Carta de São Judas. O que faremos diante da crise atual da Igreja? São Judas nos responde. 

Por Eric Sammons, OnePeterFive.com, 19 de novembro de 2019 | Tradução: FratresInUnum.com* Nos dias atuais, muitos católicos estão desesperados para ouvir palavras de encorajamento e orientação por parte dos bispos, sucessores dos Apóstolos. Mas, e se eu lhe disser que essas palavras já nos foram dirigidas por um dos doze Apóstolos?

A Carta de São Judas é escrita pelo mais desconhecido dos autores do Novo Testamento. A carta em si também é pouco conhecida, escondida no Novo Testamento entre as três cartas do apóstolo João e seu livro do Apocalipse. Ela nunca é incluída nas leituras de domingo nos calendários da Forma Ordinária ou da Extraordinária, e é incluída apenas uma vez a cada dois anos nas leituras dos dias da semana na Forma Ordinária (mais precisamente, no sábado da 8.a Semana do Tempo Comum, no ano par). Portanto, você está perdoado se não estiver familiarizado com essa epístola.

Apesar disso, a breve Carta de São Judas parece ter sido escrita hoje por um bispo preocupado, abordando a crise atual da Igreja. E, em certo sentido, podemos dizer que é sim, pois toda a Escritura é atemporal, e o Espírito Santo a inspira de tal maneira que é sempre aplicável aos nossos tempos. Podemos ver que esse mistério é abundantemente claro no caso da Carta de São Judas.

Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos eleitos bem-amados em Deus Pai e reservados para Jesus Cristo. Que a misericórdia, a paz e o amor se realizem em vós copiosamente. Caríssimos, estando eu muito preocupado em vos escrever a res­peito da nossa comum salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a lutar pela fé, confiada de uma vez para sempre aos santos. Pois certos homens ímpios se introduziram furtivamente entre nós, os quais desde muito tempo estão destinados para este julgamento; eles transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor (1, 1-4).

Nessa breve carta, São Judas não perde tempo, vai logo ao que interessa. Parece que ele originalmente queria escrever uma carta mais teológica, porém, em vez disso, as circunstâncias exigiam que ele exortasse seu público a “lutar pela fé” contra os “homens ímpios”. Essa fé não é fruto de uma invenção; antes, foi “confiada” à Igreja. Em outras palavras, não podemos mudar ou moldar a fé à nossa própria imagem, mas devemos lutar para proteger o depósito revelado da fé.

Essa também é a luta de hoje. Certas forças estão oprimindo a Igreja, exigindo a rejeição dos ensinamentos que nos foram revelados, e somos chamados a lutar pela fé contra elas.

É importante ressaltar que o perigo contra o qual São Judas está advertindo não vem de fora da Igreja, mas de seu interior. São os membros da Igreja que obtiveram a admissão “furtivamente” (mas que estão “destinados para… julgamento”) que representam o evidente perigo dos dias atuais. Como eles se tornaram perigosos? Transformando “a graça de nosso Deus em libertinagem”. Em outras palavras, eles ostentam a misericórdia de Deus a fim de justificar todas as formas de imoralidade (isso lhe soa familiar?). Ao fazer isso, eles “negam Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor”.

Quisera trazer-vos à memória, embora saibais todas estas coisas: o Senhor, depois de ter salvo o povo da terra do Egito, fez em seguida perecer os incrédulos. Os anjos que não tinham guardado a digni­dade de sua classe, mas abandonado os seus tronos, Ele os guardou com laços eternos nas trevas para o julgamento do Grande Dia. Da mesma forma, Sodoma, Gomor­ra e as cidades circunvizinhas, que praticaram as mesmas impurezas e se entregaram a vícios contra a natureza, jazem lá como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno (Jd 1, 5-7).

Como nos diz o Eclesiastes, “não há nada de novo sob o sol” (Ecl 1, 9). Ao longo da história da salvação, até que o Senhor volte, haverá aqueles que o negam e procuram enfraquecer o seu povo. No entanto, o que São Judas quer deixar claro aos seus leitores é que Deus irá intervir. E a intervenção divina será contundente: aqueles que se opõem a Ele enfrentarão a “pena do fogo eterno”.

Embora, em nossos dias, muitas pessoas recuem diante dessa linguagem, deve ser um conforto, para aqueles que são fiéis a Deus, saber que a justiça chegará, no devido tempo, àqueles que o rejeitaram.

Assim também estes homens, em seu louco desvario, contaminam igualmente a carne, rejeitam a autoridade divina e maldizem os que estão na glória (Jd 1, 8).

Os homens ímpios que se infiltraram na Igreja “contaminam a carne”. Essa é uma referência clara à imoralidade sexual, que está sempre em voga, embora haja momentos — como o de São Judas e o nosso — em que ela está difundida na cultura. Hoje, tal imoralidade se manifesta na homossexualidade generalizada entre o clero, incluindo crimes horríveis de abuso cometidos por muitos padres e até bispos.

Da mesma forma, os ímpios “rejeitam a autoridade”. Outra tradução pode ser “escarnecer” ou “desprezar” a autoridade. Ou seja, eles não respeitam a autoridade de Deus ou de seus ministros. E nos casos em que são os próprios ministros, eles desprezam a autoridade que lhes foi confiada por Deus e abusam de seus desígnios — assim como também abusam da autoridade divina. Os bispos atuais que falham em seu dever de defender e promover a fé estão rejeitando a própria autoridade, e serão cobrados por isso.

Esses homens ímpios também “maldizem os que estão na glória”. Não se contentam apenas em apoiar a imoralidade; mas também zombam e insultam aqueles que são fiéis a Deus. Talvez eles os chamem de “rígidos” por aderir aos mandamentos de Deus?

Ora, quando o arcanjo Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não ousou fulminar contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: “Que o próprio Senhor te repreenda” (Jd 1, 9).

Como podemos resistir a esses ímpios? Voltando-se para o Senhor. São Miguel Arcanjo, que lutou contra o diabo, não confiou em seu próprio poder — por mais considerável que fosse — para derrotar Satanás, mas primeiro pediu ao Senhor que o repreendesse. Da mesma forma, ao enfrentar os homens ímpios na Igreja, nosso primeiro passo não deve ser recorrer às redes sociais para discutir com eles, mas apelar à oração e à mortificação, pedindo o auxílio do Senhor. Porém, lembre-se de que, no final, São Miguel lutou contra Satanás; então, a oração e a mortificação não são o último passo, mas o primeiro, na luta contra nossos inimigos.

Estes, porém, falam mal do que ignoram. Encontram eles a sua perdição naquilo que não conhecem, senão de um modo natural, à maneira dos animais destituídos de razão. Ai deles, porque andaram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro caíram no erro de Balaão e pereceram na revolta de Coré (Jd 1, 10-11).

Os ímpios “falam mal do que ignoram”. Eles desconhecem a beleza de mortificar a carne; e não entendem a liberdade que resulta da submissão à autoridade espiritual legítima; por isso, criticam. Hoje, vemos isso nos constantes insultos e condenações contra práticas e devoções mantidas pelos católicos há séculos, como se essas coisas que antes eram enaltecidas pela Igreja agora pudessem ser rejeitadas por eles.

Qual é o erro de Balaão referido por São Judas? No Apocalipse, São João nos diz que Balaão instigou os filhos de Israel a “comer alimentos sacrificados a ídolos e praticar a imoralidade” (Ap 2, 14). Tais ações continuam a ser feitas hoje, com a tolerância e, talvez, até com a participação de membros da alta hierarquia da Igreja, como, por exemplo, na idolatria pagã realizada no Sínodo da Amazônia e na imoralidade sexual desenfreada entre os clérigos. Tais erros não se limitaram a Balaão. São Judas diz ainda que os ímpios serão como Coré, que se rebelou contra Moisés e foi consumido pelo fogo divino (Cf. Nm 16, 1–40).

Esses fazem escândalos nos vossos ágapes. Banqueteiam-se convosco despudorada­mente e se saciam a si mesmos. São nuvens sem água, que os ventos levam! Árvores de fim de outono, sem fruto, duas vezes mortas, desarrai­gadas! (Jd 1, 12-13).

Quando esta carta foi escrita, o “ágape” era uma refeição comunitária entre os cristãos, que provavelmente ocorria ao final da celebração da Eucaristia. São Judas está justamente condenando aqueles que eram altamente despudorados durante os Mistérios Sagrados. Infelizmente, o despudor é comum na liturgia de hoje, com o sacrifício da Missa tornando-se um momento em que se contam piadas, tratando as rubricas com desinteresse e até hostilidade, ou seja, um desrespeito geral pelos mistérios celebrados.

Também Henoc, que foi o oitavo patriarca depois de Adão, profetizou a respeito deles, dizendo: Eis que veio o Senhor entre milhares de seus santos, para julgar a todos e confundir a todos os ímpios por causa das obras de impiedade que praticaram, e por causa de todas as palavras injuriosas que eles, ímpios, têm proferido contra Deus. Estes são murmuradores descontentes, homens que vivem segundo as suas paixões, cuja boca profere palavras soberbas e que admiram os demais por interesse (Jd 1, 14-16).

Embora possa não parecer, o Senhor irá “julgar” todos os que se opõem a Ele. Nenhum ato de impiedade será esquecido, e todos receberão sua justa recompensa. Quando vemos corrupção e imoralidade em todos os níveis da Igreja, tenhamos presente que Deus não está cego para isso.

A descrição de São Judas sobre os vícios nos quais estão afundados os inimigos de seu tempo parece-nos bastante familiar:

  • “murmuradores descontentes”: aqueles que se queixam dos ensinamentos “difíceis” da Igreja, querendo relativizar os mandamentos divinos a fim de satisfazer os prazeres terrenos.
  • “homens que vivem segundo as suas paixões”: basta olharmos para a homossexualidade predominante no clero.
  • “cuja boca profere palavras soberbas”: embora rejeitem a lei natural e a revelação divina, eles falam em linguagem teológica de forma fluente e sem escrúpulos.
  • “admiram os demais por interesse”: são favoráveis aos poderosos deste mundo, ansiosos para serem aceitos por eles. Em quantos coquetéis um bispo comum atende a políticos pró-aborto sem dizer uma palavra de repreensão?

Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: “No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo as suas ímpias paixões (Jd 1, 17-18);

Em tempos de crise, pode parecer que o Senhor esqueceu-se de seu povo. No entanto, Jesus Cristo advertiu que esses tempos de provação chegariam. Quando vemos clérigos e prelados zombando do catolicismo tradicional e abraçando os costumes mundanos, podemos saber que este não é um caso de Deus nos abandonando, mas um tempo de provações e tribulações.

[…] homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito (Jd 1, 19).

Se há uma coisa verdadeira sobre a situação atual da Igreja, é que ela está dividida. Ao zombar das verdades de fé e práticas tradicionais, os inimigos de Deus estabelecem divisões na “unidade” da Igreja. Eles tratam aqueles que são fiéis ao depósito da fé como marginais, indignos de serem ouvidos, dividindo, pois, profundamente a Igreja.

 

Mas vós, caríssimos, edificai-vos mutua­mente sobre o fundamento da vossa santíssima fé. Orai no Espírito Santo. Conservai-vos no amor de Deus, aguardando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna (Jd 1, 20-21).

 

Novamente, São Judas volta a tratar sobre o que podemos fazer diante da heresia e da corrupção na Igreja: “edificai-vos mutua­mente sobre o fundamento da vossa santíssima fé” através da oração e do amor de Deus. A situação pode parecer desesperadora, porém, com Deus ao nosso lado, sempre há esperança.

Para com uns exercei a vossa misericórdia, repreendendo-os, e salvai-os, arrebatando-os do fogo. Dos demais tende compaixão, repassada de temor, detestando até a túnica manchada pela carne (Jd 1, 22-23).

Embora existam os “homens ímpios” que rejeitam os ensinamentos da Igreja, há também muitas pessoas que são influenciadas por eles e acabam questionando a própria fé. Junto a essas pobres pessoas, precisamos agir para amenizar suas dúvidas a fim de que possam ser salvas. Os católicos comuns não são os “homens ímpios” sobre os quais São Judas está advertindo — mas são aqueles que precisamos salvar da miséria causada pelos ímpios.

 

Àquele que é poderoso para nos preservar de toda queda e nos apresentar diante de sua glória, imaculados e cheios de alegria, ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam dadas glória, magni­ficência, império e poder desde antes de todos os tempos, agora e para sempre. Amém. (Jd 1, 24-25).

 

Por fim, em todas as coisas — incluindo as provações — devemos dar glória a Deus. Na crise atual da Igreja, Deus permitiu, com sua vontade condescendente, que a corrupção e a heresia ocorressem de forma desenfreada. Mas devemos lembrar-nos de duas coisas: i) essa não é uma situação nova, pois os fiéis sempre estiveram em prontidão contra os lobos que estão dentro do rebanho; ii) mesmo nessa situação, Deus deve ser glorificado, por termos a oportunidade de amadurecer a nossa fé através de provações e tribulações.

 

Nos tempos difíceis de hoje, podemos encontrar, na Carta de São Judas, conselhos que nos guiarão enquanto lutamos pela fé contra os homens ímpios, regozijando-nos porque, através dessas provações e pela graça de Deus, podemos crescer em santidade.

 

São Judas, rogai por nós!

* Nosso agradecimento a um caro amigo pela gentileza de nos fornecer sua tradução.

Os próximos agraciados no Ano da Misericórdia.

o-beijo-de-judasDom Rogelio Livieres ✔

Dom Robert Finn ✔

Dom Mario Oliveri

Dom Antonio Carlos Altieri ✔

Dom Tomé Ferreira da Silva…

Dom Aldo Di Cillo Pagotto…

Não, nosso propósito não é generalizar os casos dos bispos acima citados. Cada um tem suas virtudes e defeitos. Também não são exatamente da mesma “orientação político-eclesiástica”, todavia, são todos mais conservadores que a média do clero pós-conciliar. Grosso modo, representam a Igreja de João Paulo II e Bento XVI, dos apegados mais à letra do Concílio Vaticano II que a seu “espírito”, em contraposição à Igreja dita aberta e reformada de João XXIII e Paulo VI. O crime maior que lhes é atribuído é o de fechar as janelas para os ventos da mudança.

Há alguns meses, escrevíamos:

Em tempos de Francisco, o roteiro é quase sempre o mesmo: um bispo, mais ou menos conservador, que se indisponha com seu clero ultra progressista tem os dias contados. A quadrilha liberal, muito bem articulada, nessas horas torna-se inclusive moralista e, bradando a quatro ventos os supostos pecados (aqueles que nas saletas de confissão eles dizem não existir) do ordinário, pedem sua cabeça… Ao que a Santa Sé, através da Nunciatura Apostólica, mui ciosa da “comunhão” do presbitério da diocese, envia um visitador que elabora um relatório, cujo resultado culminará quase que invariavelmente sugerindo a renúncia do bispo. Se ele se recusar a renunciar, é bem provável que seja removido sem dó nem clemência — e nem audiência de misericórdia com o bispo de Roma, como ocorreu a Dom Rogelio Livieres.

Você, caro leitor, tem um bispo um tiquinho só mais conservador, com um mínimo de piedade e zelo? Pois, então, coloque sua barba de molho.

Pois bem, os próximos agraciados neste Ano da Misericórdia devem ser Dom Tomé Ferreira da Silva e Dom Aldo Di Cillo Pagotto, bispo e arcebispo, respectivamente, de São José do Rio Preto e da Paraíba.

Os erros e desvios de que são acusados podem ser, e às vezes são, reais. A investigação sobre Dom Aldo, a exemplo da visitação desencadeada sobre os Franciscanos da Imaculada, teve seu ponta-pé inicial ainda sob Bento XVI, com o conservador Cardeal Piacenza, então Prefeito da Congregação para o Clero. O visitador da Arquidiocese da Paraíba foi ninguém menos que o também conservador Dom Fernando Guimarães, ordinário dos militares no Brasil.

Os bons não são imunes ao erro, nem impecáveis, e não devem, portanto, estar acima da lei.

O que é questionável é o fato de, nos tempos da misericórdia de Francisco, a lei ser aplicada exclusivamente sobre alguns. E, quase sempre, aplicação movida por questões políticas, como demonstra claramente a matéria abaixo:

paraiba

Em suma: “divisão na Igreja” causada pela “postura do arcebispo”; o clero descontente tem “saudade dos antecessores” — ninguém menos que os ultra-progressistas da Teologia da Libertação; um dos gravíssimos pecados de Dom Aldo é formar rapazes conservadores, que só pensam em liturgia…

Dentre outros erros imperdoáveis, Dom Aldo também falou abertamente contra o PT, por ocasião das eleições de 2010, e recentemente suspendeu um padre de seu clero deputado por esse partido. Para piorar, ousou redigir um opúsculo questionando a tese Kasper, aquele que, segundo Francisco, faz teologia de joelhos e mereceu por ele ser elogiado publicamente mais de uma vez.

Enfim, para defenestrar seus inimigos, os progressistas não abrem mão dos métodos mais sórdidos, o que não é novo. Acusam, inclusive, de pecados contra o sexto mandamento — aquele pecado que o Papa desculpou publicamente no vôo em que proferiu a frase mais célebre de seu pontificado, justificando a manutenção em seu posto de um de seus colaboradores mais próximos.

A novidade consiste em que, agora, em Roma, os modernistas têm quem dispense a seus desafetos o golpe final de misericórdia: a renúncia ou a destituição.

Editora Ecclesiae lança best-seller de Michael Rose em português: “Adeus, homens de Deus”.

A editora Ecclesiae lança um livro polêmico que trata do aparelhamento nos departamentos vocacionais dentro da Igreja Católica dos EUA. Existem evidências que durante três décadas, candidatos verdadeiramente vocacionados foram rejeitados enquanto dissidentes dos ensinamentos católicos foram privilegiados.

Fratres pergunta: mas não é exatamente o que foi feito nos seminários brasileiros? Não se poderia falar de uma estratégia quiçá global de destruição das vocações católicas, substituindo-as por pseudo-religiosos ativistas dos direitos do homem, dentre os quais incluem o gayzismo e tudo o mais que já recorrentemente foi condenado pela Igreja?

Uma boa resenha da obra pode ser lida aqui.

Adeus, Homens de Deus – Como Corromperam a Igreja Católica nos EUA

Michael S. Rose

Pesquisei e escrevi este livro ao longo dos últimos dois anos, entrevistando mais de 150 pessoas, enquanto jornalista investigativo profissional para a imprensa católica. Fato é que diversos candidatos qualificados ao sacerdócio foram excluídos por razões políticas ao longo das últimas três décadas. Uma discriminação ideológica sistemática veio sendo praticada contra seminaristas que apoiam o ensinamento católico quanto a sexualidade e outros assuntos; e dissidentes dos ensinamentos católicos – inclusive quanto ao tema da homossexualidade – foram privilegiados.

Em resumo, diversas pessoas sequestraram o sacerdócio com o objetivo de transformar a Igreja Católica desde dentro.

O problema nos departamentos vocacionais e nos seminários é um profundo conflito espiritual, uma doença de proporções catastróficas. Portanto, este livro busca, em primeiro lugar, identificar essa doença, ou pelo menos parte dela, esperando que seu agente causador possa ser expurgado, e o corpo, curado.

Ficha Técnica:
Número de Páginas: 290
Editora: Ecclesiae
Idioma: Português
ISBN: 978-85-84910-144
Dimensões do Livro: 16 x 23 cm

Carta a um jornal diocesano (dito católico).

Carta enviada à redação do Jornal Diocese em Foco da Diocese de Tubarão, SC, a respeito da afirmação do Pe. Agenor Briguenti, referindo-se à Igreja pré conciliar como Igreja-massa e caduca.

Laguna, 02 de junho de 2015

Não posso deixar de expressar minha indignação às palavras do pe. Agenor Brighenti no Jornal Diocese em Foco, edição 49, nº 361, junho de 2015. Diz esse padre na página 11 do referido jornal que o Vaticano II foi um resgate de uma ‘Igreja-comunidade’ e a consequente superação do velho e caduco modelo de uma Igreja-massa. Lendo essas coisas hilárias deste doutor em teologia, fico a imaginar por que todos os santos, inclusive os mártires, entregaram suas vidas por este modelo caduco.

Por que será que Santa Teresinha do Menino Jesus, formada neste modelo caduco da Igreja-massa, continua sendo fonte de inspiração para todos os católicos nascidos pós Concílio Vaticano II? Como explicar isso? Não consta sequer uma palavra que esta santa tenha se revoltado contra esse modelo! Como explicar que todos os padroeiros e padroeiras de nossas paróquias também beberam desta “caduquice” e todos os anos o povo continua festejando suas palavras e atos?

Ainda em relação a isso, não vou muito longe: por que nossa Diocese lutou para beatificar Albertina, sabendo que ela havia sido doutrinada no modelo caduco? As virtudes desta filha de Deus vieram de onde? Aprendeu com seus pais, diriam alguns, mas onde os pais desta jovem foram doutrinados? Incrível, não? A pergunta que não cala: Poderia este modelo velho e caduco, conforme o pe. Agenos Brighenti, suscitar a santidade nesta menina tão invocada pelo nosso povo?

Das duas uma: ou todos os santos doutores e papas estavam errados e o Dr. Brighenti está certo, ou vice-versa. Afinal, pode-se perguntar:  toda esta gente que viveu antes de 62 não conseguiu ver que a Igreja estava caduca e mofada e precisava de ares novos? Será que todos esses homens e mulheres estavam também caducos? Será que todos os Concílios realizados antes de 62 não perceberam estas coisas? Pode a caduquice durar mais de dois mil anos?  Não é muito tempo para se sustentar a caduquice?

Pe. Brighenti se ufana de que os primeiros cristãos se reuniam nas casas. Afinal, o que tem de mais nisso? Jesus não era assim um ferrenho opositor dos templos de pedra, ao contrário, chegou mesmo a defende-lo com chicotes contra os mercadores, dizendo claramente que ali era um lugar de oração.

Fazendo uma analogia com a medicina, sabemos que nos primeiros tempos as pessoas eram tratadas em casa, mas hoje recorre-se aos estabelecimentos de saúde. Tenho a mais absoluta certeza de que o Dr. Brighenti e seus apoiadores não recusarão um tratamento especializado num destes locais, caso venham a necessitá-lo, em detrimento de serem tratados em casa com orações e ervas, como acontecia nas primeiras comunidades.

Quando os expoentes e propagadores da Nova Teologia dizem que a Igreja precisa “voltar às origens”, é como se estivessem dizendo nas entrelinhas que o Espírito Santo esteve ausente nesses dois mil anos de história. Assim, não se consegue entender o que motivou Santa Teresa de Ávila a fundar tantos conventos com a ajuda de São João da Cruz. Teria sido para fomentar a caduquice da Igreja? Impressionante que esses dois luminares da Igreja, em razão do que disseram e fizeram foram aclamados como doutores. Santa Teresa, inclusive, foi feita doutora por Paulo VI, um dos papas que ajudou a Igreja a sair da “caduquice”. Como explicar tudo isso, se esta santa mulher viu no protestantismo uma ameaça em oposição aos doutores de hoje que, na contramão, aclamam Lutero e aguardam festejar os quinhentos anos da reforma que já gerou mais de 35 mil denominações diferentes pelo mundo?

É muito fácil encher as páginas dos jornais com afirmações genéricas e assim desmontar todo um trabalho construído ao longo dos séculos, como se tudo não passasse de um castelo de cartas. Não se quer dizer com isso que não tenha havido erros, mas querer chamar as práticas da Igreja de caducas e grupos de massa, é de uma insensibilidade e ignorância a toda prova. Não vejo uma linha escrita por este doutor enaltecendo alguma coisa de bom neste longo período. Será que não houve nada?

Pergunto: qual das duas Igrejas é melhor? A que produziu uma beata Albertina ou esta que exibe um padre cowboy de calças justas que tem levado mulheres e homens ao delírio, ou alguns desses padres televisivos que possuem comunicação direta com Deus usando para isso uma língua estranha, chamada Xandari…cantari, la, la chanta cantari, la, la, la e tudo isso embaixo da marquise da CNBB.

Termino estas considerações perguntando ao pe. Agenor Brighenti, se ele teria coragem de expor na imprensa que a educação que recebeu de seus pais na infância também não passava de um modelo ultrapassado e caduco e se a sua família era uma “família-massa”. É lamentável que textos como esses possam ser impressos, pois afinal de contas, fazem com que os católicos sintam vergonha do passado da Igreja.  Por outro lado, quem irá contrapor este padre, uma vez que ele é doutor formado em Roma e perito de conferências?

Seja como for, talvez seja melhor morrer caduco do que bailar nas noitadas “evangelizadoras” patrocinadas por esses padres que foram resgatados da “caduquice” e salvos pelo gongo do Concílio Vaticano II.

Ir. Bonifácio

Laguna, SC

A “Igreja em saída” da Arquidiocese de Natal!

Uma leitora nos escreve:

Gostaria de contar com a ajuda da Equipe do Fratres in Unum para divulgar um lastimável ocorrido em nossa Arquidiocese e convidar os fieis de todo o Brasil a um ato de desagravo ao Coração Chagado de Nosso Senhor, que foi profanado no Santíssimo Sacramento.

Um sacerdote de nossa Arquidiocese, Padre Tomas Silveira Neto, da Paróquia Beato Mateus Moreira, no bairro de Cidade Verde, iniciou a preparação para a grande Solenidade de Corpus Christi com um “Tríduo Eucarístico” em que fieis leigos estão levando a cada noite Nosso Senhor em mini-ostensórios para suas casas e lá realizam celebrações, como indicado no link abaixo (site da própria paróquia). Algumas imagens postadas na página do facebook da paróquia estão anexas a esta mensagem.

paroquia

http://paroquiamateusmoreira.com.br/materia.asp?idMateria=142

É um ato de gravíssima profanação e banalização da presença real e verdadeira de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, como indicam inúmeros documentos da Santa Mãe Igreja.

Que os fieis sejam convidados a uma verdadeira reparação por esse e tantos outros sacrilégios dos quais Nosso Senhor é vítima.

Conto com a ajuda e o apoio dos senhores.

Fraternalmente,

Comentário de FidesPress:

A Paróquia do Beato Mateus Moreira, arquidiocese de Natal, teve uma idéia fantástica: Que tal permitir que o Santíssimo Sacramento fizesse rolezinho nas casas dos fiéis?

Segundo a REDEMPTIONIS SACRAMENTUM: “Ninguém leve a Sagrada Eucaristia para casa ou a outro lugar, contra as normas do direito. Deve-se considerar, além disso, que roubar ou reter as sagradas espécies com um fim sacrílego, ou jogá-las fora, constitui um dos «graviora delicta» (atos graves), cuja absolvição está reservada à Congregação para a Doutrina da Fé.” ( C.F 132.)

Cân. 935 — A ninguém é permitido conservar a Santíssima Eucaristia em casa ou levá-la consigo em viagem, a não ser por necessidade pastoral urgente e observadas as prescrições do Bispo diocesano.

* * *

Vale registrar o seu repúdio às autoridades:

ARQUIDIOCESE NATAL

Excelência Reverendíssima Dom Jaime Vieira Rocha

Arcebispo de Natal
Rua Santo Antonio, 683,
Natal, RN – CEP: 59025-520
arcebispo@arquidiocesedenatal.org.br
Tel.(84) 3615-2800

NUNCIATURA APOSTÓLICA

Excelência Reverendíssima Dom Giovanni D’Aniello, Núncio Apostólico
Av. das Nações, Quadra 801 Lt. 01/ CEP 70401-900 Brasília – DF
Cx. Postal 0153 Cep 70359-916 Brasília – DF
Fones: (61) 3223 – 0794 ou 3223-0916
Fax: (61) 3224 – 9365
E-mail: nunapost@solar.com.br

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

Eminência Reverendíssima Dom Robert Sarah
Piazza Pio XII, 10
00120 CITTÀ DEL VATICANO – Santa Sede – Tel. 06-6988-4316 Fax: 06-6969-3499
e-mail: cultidiv@ccdds.vavpr-sacramenti@ccdds.va

SECRETARIA DE ESTADO DA SANTA SÉ:

Eminência Reverendíssima Dom Pietro Parolin
Palazzo Apostolico Vaticano
00120 Città Del Vaticano – ROMA
Tel. 06.6988-3438 Fax: 06.6988-5088
1ª Seção Tel. 06.6988-3014
2ª Seção Tel. 06.6988-5364
e-mail: vati026@relstat-segstat.vavati023@genaff-segstat.va ; vati032@relstat-segstat.va

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Eminência Reverendíssima Dom Gerhard Ludwig Müller
Palazzo del Sant’Uffizio, 00120 Città del Vaticano
E-mail: cdf@cfaith.va – Tel. 06.6988-3438 Fax: 06.6988-5088

CONGREGAÇÃO PARA O CLERO

Eminência Reverendíssima Dom Beniamino Stella
Piazza Pio XII, 3 00193 – Città del Vaticano – ROMA
Tel: (003906) 69884151, fax: (003906) 69884845
Email: clero@cclergy.va (Secretário)

SUPREMO TRIBUNAL DA ASSINATURA APOSTÓLICA

Excelência Reverendíssima Dom Dominique Mamberti
Piazza della Cancelleria, 1 – 00186 ROMA
Tel. 06.6988-7520 Fax: 06.6988-7553

Carta aberta de um Arcebispo sobre a crise na Igreja.

“É difícil acreditar que o Papa Bento XVI renunciou livremente ao seu ministério como sucessor de Pedro.”

“Eu sou forçado a recorrer a este meio de expressão público porque receio que qualquer outro método seria recebido com um muro de silêncio e indiferença.”

“… Fica cada vez mais evidente que o Vaticano, através da sua Secretaria de Estado tomou a estrada do “politicamente correto”.  

Por Rorate-Caeli | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: Rorate Caeli obteve uma cópia exclusiva da versão inglesa de uma rara carta aberta de um Arcebispo sobre a crise da Igreja.

A carta, escrita por Sua Excelência Dom Jan Pawel Lenga, bispo emérito da Diocese de Karaganda, Cazaquistão, esperamos que sirva como um mais que providencial alerta para os católicos que enterraram a cabeça na areia por tanto tempo.

Oremos para que mais outros irmãos seus no episcopado tenha a fé e a coragem de se levantar e fazer ouvir suas vozes antes que não haja mais nada o que defender.

* * *

Reflexões sobre alguns problemas da crise atual da Igreja Católica

Eu tive a experiência de viver com os sacerdotes que estiveram nas prisões e campos Stalinistas e que, no entanto, permaneceram fiéis à Igreja. Durante o tempo de perseguição, eles cumpriram com amor o seu dever sacerdotal de pregar a doutrina Católica levando assim uma vida digna na imitação de Cristo, seu Mestre celestial.

Eu completei meus estudos sacerdotais em um Seminário clandestino na União Soviética. Fui ordenado sacerdote secretamente durante a noite por um bispo piedoso que sofreu pessoalmente por causa da fé. No primeiro ano de meu sacerdócio, passei pela experiência de ser expulso do Tadzhikistão pela KGB.

Subsequentemente, durante meus trinta anos de estadia no Cazaquistão, servi 10 anos como sacerdote, cuidando do povo fiel em 81 localidades. Então, eu servi 20 anos como bispo, inicialmente como bispo de cinco estados da Ásia Central numa área total de cerca de quatro milhões de quilômetros quadrados.

Em meu ministério como bispo, tive contato com o Papa São João Paulo II, com muitos bispos, sacerdotes e fiéis de diferentes países e nas mais diferentes circunstâncias. Eu fui membro de algumas assembleias do Sínodo dos Bispos no Vaticano, que abrangeu temas como: “Ásia” e “A Eucaristia”.

Esta experiência, bem como os outras, deram-me a base para expressar minha opinião sobre a crise atual da Igreja Católica. Estas são as minhas convicções e elas são ditadas pelo meu amor à Igreja e pelo desejo de sua autêntica renovação em Cristo. Sou forçado a recorrer a este meio público de expressão porque receio que qualquer outro método seria recebido com um muro de silêncio e indiferença.

Estou ciente de possíveis reações à minha carta aberta. Mas, ao mesmo tempo, a voz da minha consciência não me permite permanecer em silêncio enquanto a obra de Deus está sendo vilipendiada. Jesus Cristo fundou a Igreja Católica e nos mostrou em palavras e atos como se deve cumprir a vontade de Deus. Os apóstolos, a quem Ele conferiu autoridade na Igreja, cumpriram com zelo o dever que lhes foi confiado, sofrendo por amor à verdade, a qual tinha que ser pregada,  já que eles “obedeciam a Deus ao invés dos homens.”

Infelizmente, em nossos dias, está ficando cada vez mais evidente que o Vaticano, por meio da Secretaria de Estado, tomou a estrada do politicamente correto. Alguns Núncios tornaram-se propagadores do liberalismo e do modernismo. Eles se tornaram especialistas no princípio “Sub secreto Pontifício”, através do qual manipulam e calam as bocas dos bispos. E assim o que diz-lhes o Núncio fica parecendo como o que seria quase certamente o desejo do Papa. Com tais estratagemas, separam os bispos uns dos outros de modo que os bispos de um país não falam mais a uma só voz no espírito de Cristo e Sua Igreja na defesa da fé e da moral. Isso significa que, a fim de não cair em desgraça com o Núncio, alguns bispos aceitam suas recomendações, que às vezes são baseadas em nada mais do que em suas próprias palavras. Em vez de zelosamente propagar a fé, pregando com coragem a doutrina de Cristo, sendo firmes na defesa da verdade e da moral, as reuniões das Conferências Episcopais, frequentemente, lidam com questões que são estranhas à natureza do ofício dos sucessores dos apóstolos.

Pode-se observar em todos os níveis da Igreja uma diminuição evidente do espírito  do “sacrum”. O “espírito do mundo” alimenta os pastores. Os pecadores é que dão à Igreja as instruções de como ela tem que servi-los. Constrangidos, os Pastores se calam sobre os problemas atuais e abandonam o rebanho, enquanto cuidam de alimentar apenas a si mesmos. O mundo é tentado pelo demônio e se opõe à doutrina de Cristo. Não obstante, os pastores são obrigados a ensinar toda a verdade sobre Deus e os homens “em bons tempos e maus tempos”.

Todavia, durante o reinado dos últimos Papas, podemos observar a Igreja na maior desordem no que diz respeito à pureza da doutrina e a sacralidade da liturgia, onde não se dá a Jesus Cristo a honra que lhe é devida. Em não poucas Conferências Episcopais, os melhores bispos se tornaram “persona non grata”. Onde estão os apologetas dos nossos dias, que teriam a coragem de anunciar aos homens de maneira clara e compreensível a ameaça do risco de se perder a fé e a salvação?

Em nossos dias, a voz da maioria dos bispos se assemelha ao silêncio dos cordeiros diante de lobos furiosos, os fiéis são abandonados como ovelhas sem defesa. Cristo foi reconhecido pelos homens como alguém que falava e agia em uníssono, que tinha poder e é este poder que Ele concedeu a Seus apóstolos. No mundo de hoje, os bispos precisam se libertar de todos os laços mundanos e – depois de terem feito penitência – converterem-se novamente a Cristo, para que fortalecidos pelo Espírito Santo possam anunciar Cristo como o único Salvador. Em última análise, deve-se prestar contas a Deus por tudo o que foi feito e por tudo o que não foi feito.

Na minha opinião, a voz fraca de muitos bispos é uma conseqüência do fato de que, no processo de nomeação de novos bispos, os candidatos não são suficientemente examinados quanto à sua indiscutível firmeza e destemor na defesa da fé, e também no que diz respeito à sua fidelidade às tradições seculares da Igreja ou sua piedade pessoal. Na questão da nomeação de novos bispos e até cardeais, está se tornando cada vez mais evidente que, muitas vezes, a preferência é dada para aqueles que compartilham de uma ideologia em particular ou para alguns grupos que são estranhos à Igreja mas que tenham recomendado a nomeação de um determinado candidato em particular. Além disso, parece que estão levando em consideração certo favoritismo por parte da mídia que frequentemente ataca e zomba de santos candidatos pintando uma imagem negativa deles, enquanto os candidatos que possuem em menor grau o espírito de Cristo são elogiados como abertos e modernos . Por outro lado, os candidatos que se destacam por seu zelo apostólico, que têm coragem de anunciar a doutrina de Cristo e demonstrar amor por tudo o que é santo e sagrado, são deliberadamente eliminados.

Um núncio certa vez me disse: “É uma pena que o Papa [João Paulo II] não participe pessoalmente na nomeação dos bispos. O Papa tentou mudar algo na Cúria Romana, no entanto, ele não foi bem sucedido. Ele foi ficando mais velho e as coisas retomaram seu antigo curso normal”.

No início do pontificado do Papa Bento XVI, eu escrevi uma carta a ele na qual supliquei-lhe para que nomeasse santos bispos. Eu relatei a ele a história de um leigo alemão que em face da degradação da Igreja em seu país, após o Concílio Vaticano II, permaneceu fiel a Cristo e reuniu jovens para adoração e oração. Este homem estava à beira da morte e quando ele ficou sabendo da eleição do novo Papa, ele disse: “Quando o Papa Bento XVI usar Seu pontificado exclusivamente para nomear bispos dignos, bons e fiéis, ele terá cumprido a sua tarefa”.

Infelizmente, é óbvio que o Papa Bento XVI, muitas vezes, não foi bem sucedido nesta questão. É difícil acreditar que o Papa Bento XVI tenha renunciado livremente seu ministério como sucessor de Pedro. O Papa Bento XVI era o cabeça visível da Igreja; sua corte, no entanto, raramente traduziu seus ensinos da teoria para a prática, ignorando-os ou silenciosamente desobedecendo-os e, em muitos casos, obstruindo todas suas iniciativas para uma autêntica reforma da Igreja, da liturgia, da maneira de se administrar a Santa Comunhão. Diante de um grande segredo que existe no Vaticano, para muitos bispos era realisticamente impossível ajudar o Papa em seu dever como chefe e governador de toda a Igreja.

Não seria supérfluo lembrar aos meus irmãos no episcopado de uma afirmação feita por uma loja maçônica italiana a partir por volta do ano de 1820: “Nosso trabalho é um trabalho de uma centena de anos. Deixemos de lado as pessoas mais velhas e vamos nos concentrar na juventude. Os seminaristas se tornarão sacerdotes com as nossas ideias liberais. Não devemos nos lisonjear com falsas esperanças. Nós não vamos conseguir fazer um Papa franco-maçom. No entanto, bispos liberais, que irão trabalhar na comitiva papal, irão propor a ele, na tarefa de governar a Igreja, pensamentos e idéias que são vantajosas para nós e para o Papa irá implementá-las na prática. Esta intenção do Franco-maçons está sendo implementada cada vez mais e de forma aberta, não só graças aos inimigos declarados da Igreja, mas com a conivência de algumas falsas testemunhas que ocupam altos cargos na Igreja hierárquica. Não é sem razão que o beato Paulo VI disse: “por alguma fresta da Igreja, o espírito de Satanás penetrou no interior da Igreja.” Acho que este tipo de fenda se tornou nos nossos dias bastante ampla e o diabo usa todas as forças a fim de subverter a Igreja de Cristo. Para evitar isso, é necessário retornar à proclamação precisa e clara do Evangelho em todos os níveis do ministério eclesiástico, pois a Igreja possui todo o poder e graça que Cristo deu a ela: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações. Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eu estarei sempre com vocês até o fim do mundo “(Mt 28: 18-20),” a verdade vos libertará “(Jo 8, 32) e” deixe sua palavra ser Sim, sim; Não, não, pois tudo que passar disso vem do maligno”(Mt 5, 37). A Igreja não pode adaptar-se ao espírito do mundo, mas deve transformar o mundo com o espírito de Cristo.

É óbvio que, no Vaticano, há uma tendência de se entregar mais e mais ao barulho da mídia. Não é raro que, em nome de uma incompreensível calma e tranquilidade, os melhores filhos e servos são sacrificados para apaziguar os meios de comunicação de massa. Os inimigos da Igreja, no entanto, não entregam ou denunciam seus servos mais fiéis, mesmo quando suas ações são evidentemente más.

Quando nós quisermos permanecer fiéis a Cristo em palavras e atos, Ele mesmo vai encontrar os meios de transformar os corações e as almas dos homens e do mundo, e ambos serão transformados no momento propício.

Em tempos de crise da Igreja, Deus muitas vezes utiliza para sua verdadeira renovação, os sacrifícios, as lágrimas e as orações daqueles filhos e servos da Igreja que, aos olhos do mundo e da burocracia eclesiástica, são considerados insignificantes ou são perseguidos e marginalizados por causa da sua fidelidade a Cristo. Eu acredito que nesse nosso tempo difícil, esta lei de Cristo está se realizando e que a Igreja se renovará graças à renovação interior e fidelidade de cada um de nós.

01 de janeiro de 2015, Solenidade da Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus.