Vós estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Chegará o tempo em que aquele que vos matar, julgará prestar culto a Deus.
Por Padre Antônio Mariano – FratresInUnum.com, 11 de dezembro de 2021: Os institutos religiosos e similares chamados tradicionais foram entregues ao Cardeal Braz de Aviz. Ao lobo foi entregue o cuidado das ovelhas.
A primeira coisa que se precisa ter em mente é que Francisco deseja, e está usando todos os meios para, destruir não a chamada “Missa Tradicional”, mas a Igreja Católica tal como a compreendemos.
Recordo-me de no meu tempo de Seminário, tínhamos a Missa em latim, com um Missal dado pessoalmente pelo Papa Paulo VI ao nosso Bispo. Nas primeiras páginas do Missal estava escrito à mão pelo nosso Bispo: “Presente Pessoal do Papa Paulo VI” e logo abaixo escrito em latim uma frase de S. Jerônimo: “E o mundo gemeu ao acordar e ver-se ariano”. Demorei alguns anos para compreender o que aquele velho missionário redentorista queria dizer com aquela frase.
O problema é que naquela época eu me contentava com migalhas de catolicismo verdadeiro. Como um cão debaixo da mesa, eu buscava faminto a missa “nova” em latim, os paramentos antigos que milagrosamente não foram queimados no seminário em que estudei (enquanto que, em torno da catedral, os moradores de rua andavam vestidos de sobrepelizes, dalmáticas e tunicelas, que o pároco jogara no lixo). Encontrava essas migalhas particularmente em instituições consideradas conservadoras, como o Opus Dei. E nas recordações de padres e bispos idosos que de vez em quando nos falavam de uma Missa, de uma Igreja, de uns Papas que nos pareciam tão distantes…
Um dia fomos arrumar o porão e percebemos que lá havia caixas com mitras cheias de pedras, luvas e uma estola minúscula que não tínhamos ideia de que para que serviria. Era o manípulo. “Coisa velha”, era a resposta geral para tudo.
Algumas leituras que fazíamos pareciam ser em outra língua. As penitências do Cura de Ars, a descrição da Missa de certos santos pareciam ser para nós coisas de uma outra religião. Mas, tínhamos aqui ou ali, alguma migalha.
Ouvimos então falar de um bispo rebelde, que não gostava do Papa e que era um herege cismático e excomungado: Mons. Lefebvre.
Mas a proximidade geográfica com Campos nos revelou que aquela Igreja, que nos parecia morta, estava viva. Que as migalhas que caíam da mesa eram de uma maravilhosa refeição que ainda era servida. De modo geral nossom comportamento com os padres de Campos (da então União Sacerdotal S. João Maria Vianney) ou com os monges de Friburgo era como se excomunhão fosse algo contagioso, e claro, eles eram todos excomungados.
Não havia internet. Nós tínhamos alguns livros e revistas que compartilhávamos como se fosse um pecado: “Ontem Hoje e Sempre”, “Sim, sim. Não, Não”, “Catolicismo”, “Permanência”… A imagem de Nossa Senhora de Fátima que chorou era proibida, mesmo em nossos quartos. A graça de Deus, a junção de algumas migalhas e um pouco de inteligência nos fazia chegar à brilhante conclusão de que havia vida antes do Concílio Vaticano II, e não só vida, santidade.
O nosso bispo dizia que gostava que usássemos batina. E o reitor dizia que não devíamos usar batina porque alguns padres não usavam sequer camisa clerical. Um dia, a mãe de um seminarista fez um barrete bonito. Era o que dava… De algum modo a notícia vazou… e o reitor, numa homilia (que Evangelho justificaria essa frase?), dizia que no Seminário ele não queria nem barrete nem porrete.
Mas, e as fotos de Dom Bosco? E o solidéu na cabeça de S. Vicente? Não se falava tanto da juventude e dos pobres? É claro que era algo externo, mas se aquela aparência não afastava nem os jovens nem os pobres, por que agora afastariam?
Depois nos ensinaram algo que deveria a grande norma de vida: nunca esteja mais alinhado que o bispo. Hoje compreendo o ridículo. Estávamos de batina, o bispo chegava de camisa clerical, correria… e se durante a refeição o bispo desabotoasse o botão da camisa clerical e tirasse o colarinho, parecia uma coreografia ensaiada ou um desfile militar da Coréia do Norte.
O fim do pontificado de João Paulo II trouxe o reconhecimento dos Arautos do Evangelho, a criação da Administração Apostólica, a canonização de S. Josemaría e os anos do Rosário e da Eucaristia com os documentos referentes. Um franciscano simplesmente nos disse certa vez que o Papa estava maluco e que essa gente era tudo farinha do mesmo saco. E nós sabíamos que não havia muita amizade entre essas pessoas.
Aliás o que mais ouvíamos dos religiosos de modo geral eram críticas ao Papa. E isso era considerado bom, porque assim é a Igreja: “Unidade na Diversidade”.
O pontificado de Bento XVI começou com uma frase de um sacerdote professor de uma universidade católica que o pudor me impede de reproduzir nesse artigo.
Bento XVI, com o Motu Proprio Summorum Pontificum, que apenas afirmava o que S. Pio V já tinha afirmado, explicita que nenhum sacerdote poderia ser proibido de celebrar a Santa Missa de acordo com o Missal promulgado pelo Concílio de Trento com as alterações feitas até 1962. Por uma graça imensa de Deus, foi nesse Rito que celebrei a minha primeira Missa. Mas não bastava a Missa. A Missa de S. Pio V exigia um tipo de sacerdote que eu ainda não era, com uma doutrina que ainda me faltava e com uma vida que eu ainda teria que adquirir.
Eu precisaria compreender que eu não era um presidente, mas um sacrificador.
Um santificador e não um animador.
E, graças ao apostolado de muitos leigos e alguns padres, surgiram as providenciais leituras, cursos, vídeos, sites… É claro que não daria certo colocar todo mundo na mesma sala, mas a internet nos possibilitava aprender a Missa com a Fraternidade S. Pio X, comprar paramentos com as irmãs da Administração Apostólica e aprender o catecismo com o Prof. Fedeli.
E, foram surgindo ou aparecendo comunidades, institutos, associações tradicionais. Nem sempre muito coerentes, mas era o que acontecia.
E o Pontificado de Bento XVI se desfaz com uma nebulosa renúncia.
E veio Francisco.
Francisco é o Papa que tomou posse do Papado.
Ele não se considera servo do Papado, mas o Papado é o modo com o qual ele pretende destruir o que ainda resta de católico.
E não se pode mais negar um fato sem cair na mentira ou na loucura.
E o mundo chorou ao se ver ariano…
Aquele ancião redentorista, como um outro ancião espiritano, percebeu o que vinha, o que já estava em curso. Mas cada um tomou um caminho diferente. Um caiu no golpe de mestre de Satanás: usar a obediência para destruir a Igreja; o outro compreendeu que resistir é o maior ato de veneração para com o Papa, se este caminha na direção oposta do que a Igreja sempre ensinou.
O golpe que Francisco desferiu na Missa Católica, foi um golpe desferido sobre a Igreja.
É claro que esse golpe foi preparado.
De uma hora para outra, tudo que conserva a Tradição na Igreja, mesmo que esporadicamente, se tornou “desconfiável”, abusos de qualquer ordem (geralmente variando entre sexual ou financeiro, ou ambos) começaram a pulular nesses Institutos, visitas apostólicas, supressões, expulsões se tornaram o pão nosso de cada dia de quem simplesmente quis conservar o que recebeu ou guardar o tesouro que encontrou.
E para muitos clérigos ou religiosos, o simples fato de saber que “o Papa não gosta” já é o suficiente para fazer o que reprovariam há menos de uma década, não por um ato de inteligência, mas por simples covardia, porque seria uma blasfêmia chamar isso de devoção.
E o machado cai até sobre instituições que estavam começando, frágeis, necessitadas de apoio e proteção. Foram crianças recém-nascidas abandonadas na noite fria da apostasia justamente por aqueles que deveriam ser seus protetores.
Aqui surge então a coragem de tantos leigos que, chegando a pôr em risco a própria vida, estão denunciando os erros desses apóstatas que se sentam em muitas sedes episcopais.
Mas esses bispos não sabem desses erros? Dessas corrupções, muitas vezes das mais abjetas, em seu clero aparentemente fiel e dentro da lei?
Sabem.
E o que fazem? Buscam corrigir esses erros? Ao menos fazem pesar com o mesmo peso a mão sobre eles como quando fazem conosco? Não. A resposta desses bispos covardes, a quem o nome bispo é uma profanação, é ameaçar os padres que não suportariam uma suspensão de ordens mesmo sabendo que é injusta, caso os leigos corajosos, para o bem da Igreja, exponham a chaga de seus falsos pastores.
Os leigos lutam contra os passaportes sanitários, enquanto que ontem em importante igreja dedicada à Imaculada, só se podia entrar com o comprovante de vacinação para venerar a Santíssima Virgem.
Senhor, o que mais nos aguarda?
Senhora, vencereis. Nós sabemos. Mas tende piedade de nós e não tardeis em esmagar com vossos níveos pés a serpente infernal.