Por que a pressa?

Protesto de jornalista na Coletiva de Imprensa para a apresentação de Prædicate Evangelium.

Por FratresInUnum.com, 23 de março de 2022 – Depois da apresentação do documento, um jornalista de La Croix fez um protesto, aclamado com palmas, na sequência, por todos os jornalistas presentes:

“Antes de iniciar as perguntas, em nome do coletivo que representa os jornalistas creditados junto à Santa Sé, queria exprimir brevemente o nosso estupor pela modalidade de publicação desta Constituição.

A publicação de um texto tão importante, que foi anunciado já há diversos anos, ao meio-dia de um sábado, sem anúncio prévio ou distribuição “sob embargo” nos deixa perplexos. Sem falar do fato de que o texto está somente em italiano, coisa que parece estar em contradição com a universalidade que é promovida pelo próprio texto.

A organização desta Coletiva de Imprensa, 48h depois, infelizmente, não resolve o problema. Antes, talvez, mostra ignorância das exigências do nosso trabalho e prejudica profundamente a nossa capacidade de fazer referências a este texto de modo adequado.

Compreendemos todos muito bem que se trata de um documento muito delicado e que poderia existir riscos de vazamentos de notícias. Mesmo levando isso tudo em conta, havia outras possibilidades, como dar-nos duas horas de aviso antecipado para a publicação de um texto tão importante ou mesmo dar uma Coletiva na tarde do próprio sábado.

Eminência, digo-o diante do Sr. e diante do Secretário do Conselho dos Cardeais, em oração: por favor, leve esta nossa perplexidade ao Santo Padre”.

Como se vê, o texto foi publicado às pressas, sem nenhum tipo de revisão, tradução ou mesmo respeito pelos jornalistas. O que será que moveu tamanha pressa na publicação?

A Cúria Romana como a Companhia de Jesus. Papa Francisco revoluciona a estrutura de Sisto V.

Por FratresInUnum.com, 20 de março de 2022Artigo de Maria Antonieta Calabro em Huffpost –Ao entrar no décimo ano de seu pontificado, Francisco publicou a Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”, que mudará a face do governo central da Igreja Católica por muitas décadas.

Francisco à Cúria Romana, na apresentação dos augúrios natalinos de 2017

Foi um, senão o principal, “compromisso” exigido pelo Conclave que o elegeu Papa: a reforma da Cúria Romana, que mudará a face do governo central da Igreja Católica ao longo de muitas décadas, abolindo a “Bonus Pastor” de João Paulo II (1988), que havia sido promulgada centralizando as características da Cúria como era desde os tempos de Sisto V (há quinhentos anos). Muitas mudanças individuais, com Francisco, já haviam entrado em vigor, graças aos “Motu Proprio” papais ou a outras intervenções legislativas. Mas é certamente impressionante ver claramente que a nova estrutura segue a da Companhia de Jesus, os Jesuítas, onde todos os gabinetes estão ao serviço do Superior Geral da Companhia de Jesus.

A começar pelo fato de que o primeiro Dicastério (comparável a um superministério) não é mais a Secretaria de Estado, que se reduz – também pelos escândalos financeiros dos quais esteve no centro – a um “Secretariado Papal”. Basta dizer que o Secretário de Estado não precisa ser um cardeal. A Secretaria de Estado já não interpreta mais, de maneira única, a vontade do Papa, como fez com João Paulo II. E as nomeações serão de cinco anos, rotativamente. Não só isso, mas, a partir de 5 de junho, dia em que a reforma entrará em vigor, o primeiro dicastério deixará de ser a Congregação para a Doutrina da Fé (dentro da qual, aliás, a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores será incorporado com autonomia própria), mas o Dicastério para a Evangelização, que será presidido diretamente pelo Papa.

Na nova Cúria Romana desenhada pela constituição apostólica “Prædicate Evangelium” nasce um novo “Dicastério para o Serviço da Caridade”, também chamado Esmolaria Apostólica, “uma expressão especial da misericórdia e, partindo da opção pelos pobres, os vulneráveis e os excluídos, realiza a obra de assistência e socorro a eles em qualquer parte do mundo, em nome do Romano Pontífice, que em casos de particular pobreza ou de outra necessidade providencia pessoalmente a ajuda a ser concedida”. O Dicastério, na qualidade de prefeito, será dirigido pelo esmoleiro de Sua Santidade, a quem o Papa Francisco há muito deu a dignidade de cardeal (atualmente o polonês Konrad Krajewski).

Uma escolha clara das prioridades de governo. A isso se soma o fato de que leigos e mulheres poderão dirigir os departamentos do Vaticano, porque os leigos e as mulheres podem fazer a Igreja compreender os sinais dos tempos. E, também, cabe a eles serem missionários. Esta será a Igreja do futuro, a Igreja do Terceiro Milênio. Uma Igreja missionária, “em saída”. Não se pode deixar de sublinhar outro fato. A reforma foi realizada enquanto, sobretudo no front conservador, dentro e fora do Vaticano, havia quem há meses vinha ressaltando a lentidão do processo de implementação da nova estrutura.

Claro que há muitas racionalizações, fusões para evitar duplicidade e, também, para obter economias e revisões de gastos. Mas também se destaca um trabalho metódico e cinzelado sobre as várias habilidades. O papel central do Conselho da Economia e da Secretaria de Economia estende-se à escolha do pessoal (anteriormente chefiado pela Secretaria de Estado). Ao mesmo tempo, a APSA (que administra o imenso patrimônio da Sé Apostólica) que também recebeu o patrimônio da Terza Loggia (ndt: departamento da Secretaria de Estado), deve necessariamente funcionar através do Instituto de Obras de Religião (o IOR, o chamado banco do Vaticano) e não contar com intermediários bancários fora dos Muros Leoninos, como aconteceu com a Secretaria de Estado, que há décadas realiza transações com bancos italianos e suíços. Além dos investimentos, após os desastres acumulados, ficarão nas mãos de uma Comissão especial prevista no artigo 127, e na área econômica haverá uma Comissão especial para tratar de assuntos confidenciais.

Reforma da Cúria Romana – Novidades iniciais.

Por FratresInUnum.com, 19 de março de 2022, com informações de Catholic Sat – Com nove anos de construção, o Papa Francisco realiza o ato mais significativo do seu pontificado com a completa revisão e reforma da Cúria Romana, com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, publicada hoje, entrando em vigor no domingo de Pentecostes.

Algumas iniciais reflexões sobre a Reforma:

1. Embora diga expressamente que todos os dicastérios da Cúria são iguais, o Secretário de Estado supera ainda a Congregação para a Doutrina da Fé em eminência e cresce em poder.

2. Todas as Constituições Apostólicas, Decretos Pontifícios, Carta Apostólica, etc. são agora elaborados pelo Secretário de Estado, sem menção da revisão costumeira e dos comentários pela Congregação para a Doutrina da Fé, como era o caso anteriormente.

3. O Papa é agora Prefeito do Dicastério para a Evangelização, Propaganda Fide.

4. O papel da Congregação para a Doutrina da Fé é promover e proteger a integridade da doutrina católica em questões de fé e moral, valendo-se do depósito da fé e também buscando uma compreensão cada vez mais profunda diante de novas questões.

5. O novo dicastério para o serviço da Caridade terá como Prefeito o Esmoleiro Pontifício.

6. O Dicastério para as Igrejas Orientais parece permanecer inalterado, com exceção de não ser mais uma ‘Congregação’, mas um ‘Dicastério’, como todos os outros escritórios da Cúria Romana.

7. A Forma Extraordinária do Rito Romano, abolida há menos de um ano por Traditionis Custodes, contraditoriamente, está de volta como frase oficial do Vaticano, como se nada tivesse acontecido, e seu regulamento está sob a competência do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

8. O Dicastério para as Causas dos Santos parece estar inalterado na estrutura.

9. O processo de nomeação dos Bispos envolverá os membros do Povo de Deus da respectiva diocese. O que isso significa na prática, teremos que esperar para ver.

10. O Dicastério para o Clero parece inalterado em estrutura e competência, assim como o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada.

11. Não se sabe o que fez ou qual era o propósito da Congregação para os Leigos, a Família e a Vida, e ainda não tenho certeza qual seja, na realidade, o propósito do Dicastério para os Leigos, Família e Vida.

12. O Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos continua sua missão de 50 anos pelo ecumenismo, implementando o Vaticano II e o Magistério pós-conciliar na mencionada missão.

13. O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso passa agora a ser um Dicastério que regula as relações com os membros de religiões não cristãs, com exceção do judaísmo, cuja competência pertencerá ao Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos (sic!).

14. Cultura e Educação foram fundidas em um Dicastério. Parece bastante forçado. A regulamentação da educação católica está firmemente na alçada dos bispos, conferências episcopais etc., com o apoio deste Dicastério.

15. O Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral já não tem uma seção específica para os Refugiados, que passa a fazer parte integrante da sua competência.

16. Dicastério para os Textos Legislativos parece inalterado em estrutura e competência.

17. O Dicastério para a Comunicação se envolverá mais em nível educativo com a divulgação dos próprios aspectos teológicos e pastorais da ação comunicativa da Igreja.

18. O Prefeito da Secretaria de Economia torna-se o Ministro de fato das Finanças do Estado da Santa Sé.

19. O Ofício do Camerlengo permanece inalterado.

O livro que quer transformar a Igreja em Sodoma.

Por FratresInUnum.com, 7 de março de 2019: Sodoma é o nome da cidade bíblica cujo fim está ligado ao castigo divino pela difusão do pecado sexual contra a natureza com pessoas do mesmo sexo (cf. Gen. XIX,1-26). Por isso, Frédéric Martel escolheu “Sodoma” como nome de seu livro acerca da homossexualidade no Vaticano, pois, segundo ele, a Igreja se tornou como que um refúgio para homossexuais.

Em recente entrevista, porém, Martel deixou bastante claros alguns de seus pressupostos, sem os quais seria impossível chegar a essa conclusão. Apresentaremos, primeiro, os pontos principais da entrevista e, em seguida, faremos uma análise crítica. Pedimos ao leitor a paciência de ler calmamente o nosso texto.

Análise dos principais pressupostos do livro

Em primeiro lugar, ele afirma que “a castidade é profundamente contranatura”. Este é o pressuposto central e principal para todas as conclusões a que chega o autor.

Além disso, Martel afirma que a Igreja é “um ambiente homoerótico e as pessoas heterossexuais não querem ir para lá, querem se casar” e que, portanto, “as figuras na Igreja mais fervorosamente a favor da castidade e do celibato são muitas vezes os padres homossexuais”.

Aqui, o autor mostra muito bem que a finalidade do seu escrito é, primeiramente, lançar sob suspeita todos os padres que preguem a castidade, que defendam o celibato e que, portanto, tenham atitudes mais espirituais, místicas e doutrinais.

Ademais, ele afirma claramente que “para mim um cardeal ou um bispo ser gay não é problema. Há um problema, sim, com a vida dupla, com a hipocrisia”. Em outras palavras, o autor, que é um homossexual confesso, declara que a homossexualidade em si não é um problema, mas, como todos os que a atacam, segundo ele, são homossexuais enrustidos, isto é uma hipocrisia da qual a Igreja tem que libertar os seus clérigos, pois, “a homossexualidade, quando é reprimida, quando a pessoa se odeia a si própria e se flagela, acaba por tornar-se um problema que vem à superfície”.

Deste modo, Martel afirma que a homossexualidade no clero é um fenômeno cuja abrangência é enorme, mas não é um problema em si — o problema é combatê-la.

Um último detalhe digno de nota é que ele se apresenta como grande defensor de Francisco, diz que, para escrever o seu livro, ficou hospedado no Vaticano (na residência Santa Marta, que é a única hospedagem intra muros, lugar onde, por mera coincidência, reside o pontífice argentino), mas se defende, negando que “foi o Papa que encomendou este livro e que foi por isso que a sua entourage me deu acesso ao Vaticano”. Teriam razão os antigos, quando afirmavam que “quem muito se defende, muito se acusa”?…

Passemos à análise crítica dos pressupostos declarados pelo autor em sua entrevista.

A castidade contranatura?

O pilar principal de todo o livro é que a “castidade é contranatura” e, portanto, que toda pregação acerca da castidade só pode ser sinal de hipocrisia ou de repressão, a qual depois explodiria sob a forma de abusos sexuais.

É óbvio que só uma pessoa que não pratica a castidade pode pensar que é impossível que alguém a pratique por pura virtude e também por graça de Deus, através de uma profunda vida de oração. Hoje, em um mundo tão erotizado e tiranizado pela luxúria, talvez seja mais raro encontrarmos pessoas espontaneamente castas, mas isso não era muito raro até alguns anos atrás. Fica fácil, portanto, enganar o leitor: toma-se uma espécie de clichê mental compartilhado socialmente como se fosse um absoluto inquestionável, ao qual o próprio autor se nega a comprovar, aliás, porque é totalmente falso.

A verdade é o contrário do que diz o autor, pois o ser humano é essencialmente dotado de razão e, portanto, capaz de dominar o seu instinto sexual pela razão, e é nisso que consiste a virtude da castidade. Nada mais conveniente à natureza humana…

A castidade é uma virtude extremamente humanizante, equilibradora da psique, tranquilizadora, elevada. O celibato é a verdadeira marca da consagração completa do sacerdote católico, totalmente absorvido na sua missão apostólica e desinteressado por qualquer outro bem que não o seu crescimento espiritual para a salvação das almas. É plenamente acessível a qualquer pessoa o testemunho de tantos cristãos que são felizes por praticar a castidade ainda hoje e o número imenso de celibatários que sempre foram a coroa da Igreja Católica.

No entanto, desde o início da modernidade, as sociedades ocidentais se tornaram vítimas de um violento processo de implosão da razão e hiper-estimulação das paixões, especialmente da libido, da pulsão sexual. São séculos de esforços para corromper a consciência das pessoas e tornar cada dia mais impossível o acesso à luz da razão e, portanto, totalmente inacessível a luz da fé, que é muito superior e mais sutil.

Chegamos ao ponto de que, como bem ilustra Martel, tornou-se quase impossível para muitos imaginar que existe um mundo para além dos limites tão estreitos da libido. O prazer venéreo tornou-se o único viés pelo qual estas pessoas enxergam o universo e, portanto, qualquer coisa que exista fora disso se lhes apresenta como hipócrita, ilógica, inexistente. Martel chega ao ponto de distorcer de tal modo a realidade que, para ele, se um padre se apresentar como celibatário e casto, espiritual e conservador, deve-se por força concluir que é um homossexual perigoso!

O mais incrível, porém, é como se conseguiu que os próprios sacerdotes da Igreja sucumbissem a esta desgraça e se tornassem materialistas práticos. Não é raro que encontremos padres que pensem exatamente como Martel, partindo do princípio de que a castidade é desumana e que a prática do sexo é como que um cume da vida do homem.

O Pe. Luís Correa Lima, jesuíta, por exemplo, escreveu há um ano um artigo intitulado “A fraternidade e a superação da violência contra LGBT”, no qual a única opção que lhe parecia razoável na pastoral da Igreja com pessoas homossexuais é a aceitação irrestrita das suas práticas sexuais. Ele raciocina como se a castidade não existisse, como se não fosse humanamente integradora, chegando a dizer que tem razão quem busca “almejar construir um mundo em que as pessoas possam viver e respirar dentro da sua própria sexualidade”. O Pe. James Martin, também jesuíta e predileto da corte de Papa Francisco, fez considerações muito similares durante o Encontro Mundial das Famílias. Estes são apenas dois exemplares de um cenário desolador.

A Igreja, um ambiente homoerótico?

Martel afirma que a Igreja é um ambiente homoerótico e que os heterossexuais não querem saber de castidade, mas querem se casar e ter filhos, e que, por fim, o clero superpopulou-se de gays que se escondem por trás de suas batinas.

A afirmação de Martel é tão evidentemente verdadeira do ponto de vista estatístico que chega a confundir o leitor, visto que o número de padres homossexuais é gritantemente enorme.

Contudo, Martel toma como pertencente à essência do sacerdócio celibatário aquilo que é apenas uma anormalidade das últimas décadas. Qualquer pessoa um pouco mais velha sabe que, embora hoje haja um número tão assustador de homossexuais no clero, há cinquenta anos a Igreja simplesmente não era assim. É verdade que sempre existiram casos de padres que praticaram a homossexualidade, mas eram a exceção e não a regra.

Os padres antigos eram desbravadores, conhecidos por sua virilidade e coragem de sua pregação, tiravam do nada Igrejas pujantes, eram homens de reputação ilibada, venerados pela população, influentes desde o ponto de vista político e respeitados moral e intelectualmente. Quanto mais os bispos e cardeais!…

Foi nas últimas décadas que a prática da homossexualidade tornou-se tão generalizada no clero católico. Mas, antes, não era assim. Como chegamos a este ponto?

A homossexualização do clero católico: um projeto de corrupção

É preciso dizer os fatos com clareza: os seminários católicos sofreram a infiltração sistemática de agentes externos que disseminaram homossexuais por toda a estrutura da Igreja com o fim de destruí-la, e isso em todos os graus da hierarquia.

Neste sentido, o estudo de Michael Rose, “Adeus Homens de Deus” (Editora Ecclesiae, Campinas: 2015) apresenta uma vasta documentação que não deixa margem para dúvidas. Temos o testemunho confesso da principal agente desta trama. O livro precisa ser lido para que todos entendamos a monstruosa operação realizada para corromper a Igreja.

No Brasil, tivemos um caso bastante similar, cujos bastidores foram revelados por um infiltrado de uma sociedade secreta na Igreja Católica muito conhecido nas décadas de 70 e 80, chamado Neymar de Barros. Os seus dois livretes, A verdade sobre Neymar de Barros, volumes I e II (Editora Exodus, São Paulo: 1987), contam como ele forjou sua conversão para recolher dados do clero a fim de que a sociedade secreta que lhe contratara difundisse a homossexualidade entre os padres. Ele chega mesmo a apresentar uma pesquisa que realizaram acerca da porcentagem de homossexuais no clero brasileiro por volta do ano de 1978 (vol. II, p. 70).

Em todo caso, os elementos principais para a difusão do homossexualismo no clero foram a perseguição sistemática dos seminaristas heterossexuais, católicos devotos, com princípios morais claros e com doutrina segura; e a promoção de homossexuais declarados, a destruição da dogmática, da moral e, sobretudo, da espiritualidade, com a completa propagação do liberalismo total nos costumes, que serviu como uma espécie de oxigênio moral para os homossexuais no clero, e da construção de uma apologia teológica da homossexualidade que chegou a constituir aquilo que hoje em muitos grupos se chama de homo-heresia, uma reinterpretação completa da doutrina católica em termos homossexuais, que se tornou o oxigênio intelectual para esse disparate.

Aos poucos, construiu-se aquilo que Michael Vorris chama de “A rede” (The Network), uma verdadeira organização comunista e homo-herética que ocupou a Igreja Católica em todos os níveis. O próprio Martel deixa muito claro em sua entrevista que não há problema nenhum em ser padre gay, nem muito menos em ter um amante – ele diz que acha isso lindo! –, mas que o problema é ser um padre gay de direita, embora ele mesmo faça a distinção de um sub-grupo, ao qual ele chama de homófilos, que são os homossexuais não praticantes no clero católico – com essa distinção, Martel apenas está mencionando os eventuais homossexuais não militantes, ou seja, aqueles que não são membros de “A Rede”.

“A Rede” é constituída por clérigos homossexuais ostensivos, que se protegem e se “reproduzem”, atraindo para os seminários gays de todas as proveniências possíveis, e que se auto-promovem para os cargos de maior expressão na Igreja, tentando manipular a sua doutrina e teologia em seu próprio favor.

Em outras palavras, o livro de Martel, na tentativa de colocar um sinalizador sobre os padres conservadores, o que faz é colocar um sinalizador sobre os membros de “A Rede”. Agora, ficou muito fácil identificá-los. Ele mesmo protegeu a identidade de todos os seus entrevistados, que não são outros que os próprios entrevistados de “A Rede”, de Vorris. Nunca “A Rede” foi tão longe, nunca se exprimiu tão claramente e nunca os seus objetivos ficaram tão claros. Martel disse que suas gravações explodiriam com o Vaticano. Não! Explodiriam apenas com “A Rede”.

Entretanto, não deixa de ser curioso como “A Rede” conseguiu atingir tão alta influência.

Papa Francisco, o Papa de “A Rede”

Martel apresenta o pontífice argentino como uma espécie de Gorbatchev, que tenta salvar o sistema e, para isso, mudá-lo. Ele defende Francisco contra todo o “complô” que ele diz ter se instado para persegui-lo. No final, defende-se contra a acusação de ser um marionete de Bergoglio e chega a falar demais, reclamando de que alguns digam que o livro foi encomendado pelo papa.

De fato, não temos como saber se o livro foi pessoalmente encomendado por Francisco. Contudo, é evidente que ele protege de modo muito claro os membros de “A Rede” e toda a sua linha de ação é muito coerente com a intenção de “Sodoma”. O próprio Martel o reconhece, mostrando a conexão de tudo isso com o sínodo sobre as famílias, que criptograficamente abriu a comunhão aos divorciados recasados e também não mencionou com letras claras nenhuma condenação às práticas homossexuais e às uniões gays. É evidente que as observações de Martel vão na mesma linha das ações de Papa Francisco: de um lado, visam a plena cidadania gay na Igreja Católica e, de outro, a ordenação de homens casados, que garantiria o coeficiente heterossexual no clero, segundo os princípios homossexualistas do autor.

Em todo caso, Papa Francisco é o papa sob medida para “A Rede” e os seus planos manipuladores. Assim como as Fundações internacionais usam o aborto para corromper as mulheres e destruir, assim, as sociedades; “A Rede” está usando o homossexualismo para corromper o clero e, assim, destruir a Igreja. Isso não é propriamente uma novidade.

No início do século XIX, as forças secretas na Itália publicaram um conhecido documento chamado “Instrução permanente para a Alta Venda”. Ali, eles afirmam:

– “O Papa, quem quer que seja, jamais virá às Sociedades secretas; cabe às Sociedades secretas dar o primeiro passo em direção à Igreja, com o objetivo de vencer os dois”.

– “Não pretendemos ganhar os Papas para a nossa causa, fazê-los neófitos dos nossos princípios, propagadores das nossas ideias… O que devemos pedir, o que devemos procurar e alcançar, assim como os judeus esperam do Messias, é um papa segundo as nossas necessidades. Alexandre VI, com todos os seus crimes privados, não nos conviria, porque jamais errou nas matérias religiosas”.

– “Esmagai o inimigo, qualquer que ele seja, esmagai o poderoso à força de maledicências ou de calúnias: mas, sobretudo esmagai-o no ovo. É preciso ir à juventude; é ela que precisamos seduzir, é ela que devemos arrastar, sem que o perceba, sob a bandeira das Sociedades Secretas”.

– “Ora, pois, para garantir-nos um Papa nas proporções exigidas, trata-se inicialmente de moldar para ele uma geração digna do reino com o qual sonhamos. Deixai de lado a velhice e a idade madura; ide à juventude e, se for possível, até à infância… Uma vez estabelecida vossa reputação nos colégios, nos ginásios, nas universidades e nos seminários, uma vez que tiverdes captado a confiança dos professores e dos estudantes, fazei com que principalmente aqueles que se comprometem com a milícia clerical gostem de procurar vossas conversas”.

– “Essa reputação permitirá o acesso das nossas doutrinas ao seio do clero jovem, assim como ao fundo dos conventos. Em alguns anos, esse clero jovem terá, pela força das coisas, invadido todas as funções; ele governará, administrará, julgará, formará o conselho do soberano, será chamado a escolher o Pontífice que deverá reinar, e esse Pontífice, como a maioria dos nossos contemporâneos, estará necessariamente mais ou menos imbuído dos princípios humanitários que iremos começar a pôr em circulação; é um pequeno grão de mostarda que confiamos à terra; mas o sol das justiças desenvolvê-lo-á até ao mais alto poder, e vereis um dia que rica colheita esse pequeno grão produzirá”.

Alguém ignorará que Francisco é este papa não apenas esperado, mas preparado por décadas de infiltração? Fingiremos que a publicação do livro de Martel no primeiro dia do encontro sobre o abuso sexual de menores no Vaticano é uma mera coincidência? Não se trata de um diagnóstico sobre “Sodoma”, mas de sua apologia, implantação e apogeu na Igreja.

Já é hora de acordar. A Igreja está quase completamente tomada pelos seus inimigos. Corromperam a maior parte do clero e, agora, querem expelir a pequena porção ainda saudável que mantém a Igreja em pé…

Ficaremos parados? Cruzaremos os braços? Não! A Promessa da Santíssima Virgem é clara! Como leigos, resistiremos a esse massacre e o enfrentaremos nem que seja à custa de morte. A esta “Rede” maligna opomos outra rede, a rede dos consagrados à Santíssima Virgem! É hora de reagir!

Assim como da primeira vez, sobre “Sodoma” cairá o fogo do céu! A Igreja, como a família do justo Lot, não toma parte nesta iniquidade e não recuará nenhum milímetro. São duas cidades em luta: de um lado, Sodoma; doutro lado, a Jerusalém Celeste! Reconheceremos estes prevaricadores onde estiverem e os denunciaremos. Se eles não temem mais a Igreja, temerão o povo!

Continuaremos fieis à virtude, conservaremos a fé, manteremos íntegra a observância do celibato e teremos inteiramente inabalável o fogo da nossa entrega, pois sabemos que, como disse Nossa Senhora em Fátima: “no fim o meu Imaculado Coração triunfará”!

Suprimida a Comissão ‘Ecclesia Dei’ — suas tarefas passam à Doutrina da Fé.

Com informações de VaticanNews – Com uma Carta Apostólica sob forma de “Motu proprio”, Papa Francisco estabeleceu neste sábado (19/01) a supressão da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, instituída em 2 de julho de 1988 por São João Paulo II com a “tarefa de colaborar com os Bispos e com os Dicastérios da Cúria Romana, a fim de facilitar a plena comunhão eclesial dos sacerdotes, seminaristas, comunidades ou de cada religioso ou religiosa até agora ligados de diversos modos à Fraternidade de fundada por Mons. Lefebvre, que desejem permanecer unidos ao sucessor de Pedro na Igreja Católica, conservando as próprias tradições espirituais e litúrgicas”.

Tarefas da Comissão passam à Congregação para a Doutrina da Fé

“As tarefas da Comissão são integralmente atribuídas à Congregação para a Doutrina da Fé, dentro da qual será instituída uma Seção especial comprometida em continuar a obra de vigilância, de promoção e de tutela até então controlada pela suprimida Pontifícia Comissão Ecclesia Dei”.

Condições mudadas

O Papa explica esta sua decisão pelas “condições mudadas” que tinham levado o santo Pontífice João Paulo II à instituição da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei”. De fato, Francisco constata “que os Institutos e as Comunidades religiosas que habitualmente celebram na forma extraordinária, hoje encontraram a própria estabilidade de número e de vida” e toma ato “que as finalidades e as questões tratadas pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, são de ordem prevalentemente doutrinais”. Com este Motu Proprio deseja “que tais finalidades se tornem cada vez mais evidentes à consciência das comunidades eclesiais”.

Summorum Pontificum de Bento XVI

Por mais de 30 anos – escreve Papa Francisco – a Comissão Ecclesia Dei “realizou com sincera solicitude e louvável premura” a sua tarefa. E recorda dois documentos de seu “Venerável Predecessor Bento XVI”: com o Motu proprio Summorum Pontificum, de 7 de julho de 2007, a Pontifícia Comissão tinha “ampliado a autoridade da Santa Sé sobre os Institutos e Comunidades religiosas, que tinham aderido à forma extraordinária do Rito Romano e tinham assumido as precedentes tradições da vida religiosa, vigiando na observância e na aplicação das disposições estabelecidas”.

Questões de natureza primariamente doutrinais

Dois anos depois, o Motu proprio Ecclesiae unitatem, de 2 julho de 2009, reorganizou a estrutura da Comissão, “com o objetivo de torná-la mais adequada à nova situação criada com a retirada da excomunhão dos quatro Bispos consagrados sem mandato pontifício”. Além disso – acrescenta o Papa Francisco – considerando que depois deste ato de graça, as questões tratadas pela Comissão “fossem primariamente de natureza doutrinal”, Bento XVI a tinha ligado “diretamente à Congregação para a Doutrina da Fé, conservando ainda as finalidades iniciais, mas modificando sua estrutura”.

Depois de “muita reflexão”

A decisão de hoje – explica Francisco – chegou “depois de muita reflexão” e depois de algumas medidas: na reunião de 15 de novembro de 2017, a Congregação para a Doutrina da Fé solicitou a condução direta do diálogo entre a Santa Sé e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X “por se tratarem de questões de caráter doutrinal”, o Papa aprovou este pedido em 24 de novembro seguinte e esta proposta foi acolhida pela Sessão Plenária do Dicastério em janeiro deste ano.

Vaticano. Uma notícia ambígua, uma indiscrição e uma informação que esperamos que não seja confirmada sobre Mons. Gänswein.

Vêm do Vaticano uma notícia, uma indiscrição e algumas informações, que esperamos que não sejam confirmadas. Mas vamos por partes.

Por Marco Tosatti, 1º de dezembro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com: Como podem ver pelas fotos postadas no Facebook da Rádio Spada, no fascículo 10/2016 de Acta Apostolicæ Sedis foi publicada a carta privada que o Pontífice enviou as bispos argentinos, depois que eles promulgaram diretrizes para a aplicação do capítulo 8 (aquele das famosas novidades acerca da comunhão aos divorciados recasados) de Amoris Lætitia. Diretrizes que, como se percebeu e sublinhou, são qualquer coisa, menos claras.

A publicação da carta nos Acta é acompanhada por uma breve nota do Secretário de Estado, o Cardeal Pietro Parolin, que, com um “Rescriptumi ex audientia SS.mi” de junho de 2017, dá a notícia de que foi o próprio Papa que quis que os dois documentos – as linhas guias e a carta – fossem publicados no site eletrônico dos Acta Apostolicæ Sedis.

A notícia não pode senão alimentar ulteriormente a confusão e a incerteza em torno da controversa exortação apostólica e ao modo de agir do Pontífice, que aparece, de novo, longe da clareza e da precisão que muitos fiéis esperam dele. Não se dá uma resposta aos cardeais sobre os Dubia, não se dá uma resposta a carta, petições e outras iniciativas de estudiosos, teólogos e simples fiéis desorientados pela deliberada ambiguidade do documento. Mas, ao mesmo tempo, se oferece uma dose de oficialidade a uma carta dirigida a um membro de uma conferência episcopal.

Com qual objetivo? Para obrigar todos a um religiosum obsequium para com um magistério expresso de formas oblíquas e ambíguas, ou para responder sem se comprometer em uma resposta direta, que exporia o Pontífice de, maneira inequívoca, aos duvidosos e aos perplexos? Como simples fiel, isso tudo dá uma sensação de aversão por um comportamento que se poderia definir pretesco (ndt: hipocrisia típica de certos padres), no pior sentido do termo.

E, se for verdade o que soubemos de duas fontes diversas, talvez seja este um mal-estar também compartilhado no Vaticano. Um Cardeal de grande renome, ex diplomata e com um currículo importante à frente de Congregações e ofícios de relevo na Secretaria de Estado, teria repreendido o papa pela sua ação, dizendo-lhe em boa substância: Nós te elegemos para fazer as reformas, não para destruir tudo. A notícia se espalhou no Vaticano, porque a conversa, se é que isto pode ser chamado de conversa, se elevou a níveis altos de decibéis (eles gritaram), a ponto de superar as frágeis barreiras das portas e dos muros. O purpurado em questão foi um daqueles que apoiaram a candidatura de Jorge Mario Bergoglio no conclave de 2013 [o site Gloria.tv sugere que o envolvido seria o Cardeal Leonardo Sandri, argentino, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais].

Por fim, uma informação que esperamos que não seja confirmada. No próximo 7 de dezembro, o arcebispo Georg Gänswein, já secretário do papa Bento XVI, cumpre os seus cinco anos como Prefeito da Casa Pontifícia. E, segundo as indiscrições de boa fonte, poderia não ser confirmado. Como, além disso, já aconteceu, como sabemos, ao Cardeal Müller. Com base na regra dos cinco anos, que dispara sobretudo e especialmente se o interessado não faz parte da corte do Pontífice. Nas últimas semanas, Mons. Gänswein esteve fora de Roma por algum problema de saúde, mas já voltou. Se a informação for verdadeira, restaria o problema de sua nomeação. É improvável a hipótese de uma Diocese na Alemanha: ele é católico demais! Talvez a secretaria de uma Congregação em Roma. Ou, como Müller, um “ficar à disposição”. Esperamos, porém, que a nossa fonte esteja errada [além de Mons. Gänswein, outro que parece estar com os dias contados é Mons. Guido Marini].

Testes para o conclave, Parolin na “pole position”.

Por Sandro Magister, 8 de outubro de 2017 | Tradução: Marcos Fleurer – FratresInUnum.com: São três os candidatos a papa, que são sussurrados dentro e fora do Vaticano. Um é asiático, o outro africano e o terceiro europeu, e mais especificamente, italiano. O terceiro é o único que tem uma possibilidade mínima de ser escolhido em um futuro e hipotético conclave.

Dom Pietro Parolin.
Dom Pietro Parolin

O asiático é o arcebispo de Manila, Luis Antonio Gokim Tagle, filipino de mãe chinesa e com estudos cursados nos Estados Unidos. Para os defensores do Papa Francisco é o candidato ideal para continuar seu legado.

Em 2015, Jorge Mario Bergoglio o nomeou presidente da Caritas Internationalis, depois que ele também presidiu o sínodo dos bispos sobre a família. E em abril de 2016, quando foi publicada a exortação “Amoris laetitia” em que o Papa abriu o caminho para a comunhão dos divorciados que se casaram novamente, Tagle foi o primeiro de todos os bispos do mundo a dar uma interpretação extensiva.

Para aqueles que se opõem ao fato de que o magistério líquido do Papa Francisco tem mais dúvidas do que certezas, sua resposta é que: “é bom se confundir de vez em quando, porque se as coisas são sempre claras, já a vida não seria verdadeira”.

[No que diz respeito à Igreja nos tempos atuais, suas ideias são muito claras: com o Concílio Vaticano II, a Igreja rompeu com seu passado e marcou um novo começo. É a tese historiográfica da chamada “escola de Bolonha”, fundada por Giuseppe Dossetti e hoje capitaneada por Alberto Melloni, e da qual Tagle faz parte. Na verdade, ele assinou um dos capítulos-chave do livro da história do Concílio mais lido no mundo, sendo o capítulo sobre a “semana negra” do outono de 1964. Interpretação que está nas antípodas (posição oposta) de que Bento XVI deu, e ainda magnanimamente o nomeou cardeal].

No entanto, deve ser excluído que ele seja eleito Papa. Muito parecido com Bergoglio, será derrotado, devido às múltiplas reações ao presente pontificado que, sem dúvida, sairão à luz em um futuro conclave. Além disso, há o obstáculo da idade. Tagle tem 60 anos e, portanto, poderia reinar muito tempo, tempo demasiado para ser escolhido.

O africano é o cardeal Robert Sarah, de 72 anos, da Guiné. Um indomável testemunho da fé sob o sangrento regime marxista de Sekou Touré, ele só não foi executado apenas porque o tirano morreu de repente em 1984. Crescido na Savana, ele recebeu excelentes estudos na França e em Jerusalém. Nomeado bispo com apenas 33 anos por Paulo VI, o Papa João Paulo II o chamou para Roma, onde foi mantido por Bento XVI, com quem a sintonia era, e é, total.

São dois livros escritos por sua mão, e traduzidos para várias línguas, aqueles que tornaram Sarah conhecido mundialmente: “Deus ou nada” em 2015 e “A Força do Silêncio” este ano. Há um abismo entre sua visão da missão da Igreja e a do Papa jesuíta, tanto em conteúdo quanto em estilo. Para Sarah, como para Joseph Ratzinger, a prioridade absoluta é levar Deus ao coração da civilização, especialmente onde sua presença foi obscurecida.

Ele é, portanto, o candidato ideal para os adversários do Papa Francisco em nome da grande tradição da Igreja. Mas, em um colégio cardinalício em que a metade das nomeações são bergoglianas, é impensável que ele obtenha dois terços dos votos necessários para a eleição.
No entanto, permanece o fato de que Sarah é, na história da Igreja, a primeira verdadeira, se simbólica, candidatura de um Papa Negro-Africano.

Não simbólico, mas muito real, é a terceira candidatura, a de Pietro Parolin, o cardeal secretário de Estado.

É necessário voltar para o conclave de 1963, para descobrir que, com Paulo VI, foi eleito um eclesiástico que cresceu no coração da cúria vaticana e com uma reconhecida capacidade de governo, após um pontificado, como foi o caso de João XXIII que deu início ao Concílio, mas que o deixou em meio a uma tempestade e ainda não havia produzido nenhum documento. Paulo VI conseguiu, embora ele tenha terminado, sem merecer isso, no livro negro de quem é acusado de trair a revolução.

Hoje, a tarefa que um número crescente de cardeais confiaria a Parolin é governar a barca da Igreja na tempestade desencadeada pelo Papa Francisco, corrigindo seus desvios sem trair seu espírito.

Como Secretário de Estado, ele mostrou as qualidades, também em relação a dossiês intrincados como o da China ou da Venezuela, porque ele sabe como conter a impaciência e as atribuições que Bergoglio adora fazer por si mesmo.

Além disso, Parolin tem um perfil de pastor, com uma sólida formação teológica, o que é raro encontrar em um diplomata de grande valor. Sua recente viagem a Moscou tem sido uma prova muito clara disso, pois em colóquios no mais alto nível político, alternaram-se em reuniões religiosas com os chefes da Igreja Ortodoxa Russa, como em uma viagem papal bem organizada.

Mas que tudo isso seja uma antecipação do futuro, sendo pura hipótese enquanto Francisco reine.

Edward Pentin: Papa Francisco convocou reservadamente para audiência o Grão-mestre da Ordem de Malta e pediu que escrevesse sua renúncia na hora. E que declarasse ter sido influenciado por Burke.

Papa Francisco declara todos os atos recentes de Festing como “nulos e inválidos”.

Declaração feita em uma carta do Cardeal Parolin à Ordem de Malta, enquanto vão surgindo os detalhes sobre o que aconteceu durante o encontro do Papa com o Grão-Mestre.

Por Edward Pentin, National Catholic Register, 26 de janeiro de 2017 | Tradução: FratresInUnum.com – O Papa Francisco declarou que todas as ações tomadas pelo chefe da Ordem de Malta e seu Conselho de Administração, desde a demissão de Boeselager no mês passado, são “nulas e sem efeito”, incluindo a eleição do substituto de Boeselager.
Escrevendo em nome do Papa aos membros do Conselho de Governo da Ordem, no dia 25 de janeiro, o secretário de Estado do Vaticano Cardeal Pietro Parolin, afirmou que o Santo Padre, “com base em evidências que emergiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todas as ações tomadas pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, são nulas e sem efeito”.
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Burke – o alvo.

Ele acrescentou: “O mesmo é verdadeiro para aqueles do Soberano Conselho, como a eleição do Grão-chanceler interinamente.” O Conselho elegeu  Fra ‘John Critien como substituto temporário de Boeselager.

Cardeal Parolin começa sua carta ressaltando que o Grão-comandante, Ludwig Hoffmann von Rumerstein, está agora encarregado da Ordem, acrescentando que “no processo de renovação que é visto como necessário”, o Papa “nomearia seu delegado pessoal com poderes que ele mesmo vai definir no ato de sua nomeação”

O Grão Mestre Fra ‘Matthew Festing apresentou sua renúncia no dia 24 de janeiro, de acordo com uma declaração do Vaticano, de 25 de janeiro. O Vaticano acrescentou ainda no comunicado que no dia seguinte “o Santo Padre aceitou a sua demissão.”

Além disso, o Vaticano disse que o governo da Soberana Ordem passaria a ser administrado pelo “Grão-comandante interino enquanto se aguarda a nomeação do Delegado Pontifício”.

O Papa convocou Fra’Festing ao Vaticano no dia 24 de janeiro, dando-lhe instrução rigorosa para não deixar que ninguém viesse a saber sobre a audiência – um modus operandi que tem sido usado com frequência durante este Pontificado, mas que Register tomou conhecimento. Durante o encontro, Francisco pediu a Fra ‘Festing para que ele se demitisse imediatamente, algo com o qual o Grão-Mestre teve que concordar. O Papa, então, ordenou-lhe para escrever sua carta de demissão ali mesmo no local, de acordo com fontes bem informadas.

O Register também tomou conhecimento de que o Papa disse a Fra ‘Festing que a razão pelo qual estava pedindo sua renúncia foi a convicção do pontífice de que ele tem que fazer uma nova “investigação mais profunda” da Ordem, e que tal  investigação seria “mais facilmente conduzida se o grão-mestre renunciasse.”

Também foi revelado ao Register, que o Papa então fez Fra ‘Festing incluir em sua carta de renúncia, que o Grão-Mestre havia pedido a demissão de Boeselager “sob a influência” do Cardeal Raymond Burke, o patrono da Ordem. No entanto, como patrono, o Cardeal não tem nenhum poder de governo na Ordem, podendo apenas aconselhar o Grão-Mestre, o que significa que a decisão de demitir o Grão-chanceler pertence exclusivamente ao Grão-Mestre.

Perguntado se poderia confirmar esta versão dos acontecimentos envolvendo o encontro de Fra ‘Festing com o Papa, o Vaticano respondeu ao Register no dia 26 de janeiro, que não fornece “nenhum comentário sobre conversas privadas.”

Se o Grão-Mestre foi pressionado a renunciar, alguns dentro da Ordem estão especulando sobre a validade de sua renúncia, já que essa foi exigida imediatamente, sem dar-lhe tempo para sequer considerar o assunto. Eles também estão preocupados com o que se parece prenúncio de um expurgo futuro na Ordem.

Além disso, alguns estão se perguntando que, se todos os atos do Grão-Mestre desde 6 de dezembro são nulos, como o Cardinal Parolin afirmou em sua carta, isso também incluiria o ato de renúncia de Fra ‘Festing ao Papa.

No sábado, o Conselho Soberano reúne-se para votar se a aceitam ou não a renúncia do Grão-Mestre.

Segue abaixo a tradução da carta do Cardeal Parolin:

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“Distintos Membros do Conselho Soberano, 

Gostaria de informar-lhes que S.A.E. Fra ‘Matthew Festing, Grão-Mestre da Ordem, na data de 24 de Janeiro de 2017, entregou sua demissão nas mãos do Santo Padre Francisco, o qual a aceitou.  

Como a Constituição da Ordem prevê no Art. 17 § 1, o Grão-comendador assumirá a responsabilidade de governo interinamente. Nos termos do Art. 143 do Código Maltense, ele providenciará de informar aos Chefes de Estado com os quais a Ordem mantém relações diplomáticas e as diferentes organizações ligadas à Ordem. 

Para ajudar a Ordem no processo de renovação que é visto como necessário, o Santo Padre irá nomear seu delegado pessoal com poderes que ele vai definir no próprio ato de sua nomeação. 

O Grão-comendador, em seu papel de tenente interino, exercerá os poderes previstos no Art. 144 do Estatuto da Ordem até o Delegado Pontifício ser nomeado. 

O Santo Padre, com base em evidências que surgiram a partir de informações que ele reuniu, determinou que todos os atos realizados pelo Grão-Mestre depois de 6 de dezembro de 2016, sejam nulos e inválidos. O mesmo é verdadeiro para aqueles atos do Conselho Soberano, como a eleição ad interim do Grão-chanceler

O Santo Padre, reconhecendo os grandes méritos da Ordem na realização de muitas obras em defesa da fé e no serviço aos pobres e doentes, expressa sua preocupação pastoral para com a Ordem e espera a colaboração de todos neste momento delicado e importante para o futuro. 

O Santo Padre abençoa a todos os membros, voluntários e benfeitores da Ordem e lhes sustenta com suas orações.

Pietro Paraolin

Secretário de Estado

Uma demissão, uma demolição: eis a nova Cúria Romana.

IHU – A reforma da Cúria vaticana que o Papa Francisco está implementando é realizada em parte sob a luz do sol e em parte na sombra. Entre os procedimentos tomados recentemente na sombra, há dois emblemáticos.

A nota é de Sandro Magister, publicada no seu blog Settimo Cielo, 11-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Sobre o primeiro, quem levantou o véu foi o vaticanista Marco Tosatti, no dia 26 de dezembro, quando deu a notícia da ordem dada pelo papa a um chefe de dicastério de demitir imediatamente três dos seus oficiais, ordem dada sem explicações e sem aceitar objeções.

Hoje, sabe-se que o dicastério em questão não é de segunda categoria, é a Congregação para a Doutrina da Fé. E os três demitidos gozavam da plena apreciação do seu prefeito, o cardeal Gerhard L. Müller, por sua vez objeto de repetidos atos de humilhação, em público, por parte do papa.

Mas quem é, dos três depostos, o oficial que Francisco em pessoa – como relatado por Tosatti – repreendeu duramente por telefone por ter expressado críticas contra ele, que chegaram aos ouvidos do papa por obra de um delator?

É o sacerdote Christophe J. Kruijen, 46 anos, holandês, em serviço na Congregação para a Doutrina da Fé desde 2009, teólogo de reconhecido valor, premiado em 2010 pela Embaixada de França junto à Santa Sé com o prestigiado Prix Henri De Lubac, conferido a ele por unanimidade por um júri que incluía os cardeais Georges Cottier, Albert Vanhoye e Paul Poupard, pela sua tese teológica intitulada “Salvação universal ou duplo êxito do juízo: esperar por todos? Contribuição ao estudo crítico de uma opinião teológica contemporânea relativa à realização da condenação”, defendida na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, sob a orientação do teólogo dominicano Charles Morerod, depois reitor da mesma universidade e hoje bispo de Lausanne, Genebra e Friburgo.

Os “novíssimos”, isto é, a morte, o juízo, o inferno, o paraíso, são o assunto preferido dos estudos de Kruijen. Mas dele também se aprecia um excelente ensaio sobre a filósofa judia e, depois, monja carmelita Edith Stein, morta em Auschwitz em 1942 e proclamada santa em 1998: “Bénie par la Croix. L’expiation dans l’oeuvre et la vie d’Edith Stein”.

Nos escritos e nos discursos públicos do Mons. Kruijen não há uma única palavra de crítica a Francisco. Mas bastou uma delação arrancada de uma conversa privada dele para fazê-lo cair em desgraça com o papa, que fez o machado cair.

Também disso é feita a reforma da Cúria, sob as ordens e com o estilo de Jorge Mario Bergoglio.

O segundo procedimento implementado na sombra diz respeito à Congregação para o Culto Divino, da qual é prefeito o cardeal Robert Sarah, ele também objeto de repetidas humilhações públicas por parte do papa e já condenado a presidir os escritórios e os homens que remam contra ele.

Dirigida pelo secretário da congregação, o arcebispo inglês Arthur Roche, foi instituída, por vontade de Francisco, dentro do dicastério, uma comissão cujo objetivo não é a correção das degenerações da reforma litúrgica pós-conciliar – ou seja, aquela “reforma da reforma” que é o sonho do cardeal Sarah –, mas precisamente o contrário: a demolição de um dos muros de resistência aos excessos dos liturgistas pós-conciliares, a instrução Liturgiam authenticam, emitida em 2001, que fixa os critérios para a tradução dos textos litúrgicos do latim às línguas modernas.

Com Bento XVI, esses critérios foram ainda mais reforçados, em particular pela vontade daquele papa de manter firme o “pro multis” do Evangelho e do missal latino nas palavras da consagração do sangue de Cristo, contra o “por todos” de muitas traduções correntes.

Mas Francisco deixou logo claro que isso o deixava indiferente. E agora, com a instituição dessa comissão, ele vai ao encontro das ideias de modernização da linguagem litúrgica, defendidas, por exemplo, pelo liturgista Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Sant’Anselmo e muito apreciado na Casa Santa Marta:

Há quem tema que, depois da demolição da Liturgiam authenticam, o próximo objetivo dessa ou de outra comissão seja a correção do Summorum pontificum, o documento com que Bento XVI liberou a celebração da missa no rito antigo.

Müller e Napier. A confusão continua.

Escreve-nos Agostino Pecci, desde Itália:

Bom dia!

Como saberá, o Cardeal Gerhard Ludwing Müller, Prefeito da Conregação para a Doutrina da Fé, interveio ontem durante a transmissão [do programa]  “Stanze Vaticane”,da  Tgcom24, acerca dos “dubia” levantados pelos 4 cardeais. Além de não concordar com a publicação da carta, ele também afirmou: “Uma correção fraterna ao Papa parece-me distante, neste momento não é possível porque não há nenhum perigo para a fé”…

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Cardeal Müller

Um comentário que me surge espontaneamente do coração: ABSOLUTAMENTE INCREDITÁVEL!

Enquanto isso, a confusão das interpretações aumentam… até mesmo a intervenção do cardeal Napiero revela claramente.

O que pensar disso tudo?

Estive relendo nesses dias as aparições de Nossa Senhora (do Bom Sucesso) à venerável Madre Mariana de Jesús Torres, de Quito (Ecuador)… talvez ali se possa encontrar resposta…

Uma cara saudação e que a Estrela do Mar nos conceda um Bom Sucesso na navegação neste mar sempre mais tempestuoso.

* * *

A sexta “dubia” do Cardeal Napier, em seu twitter:

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“Se os ocidentais em situações irregulares podem receber a Comunhão, devemos nós dizer a nossos polígamos e outros ‘desajustados’ que a eles também é permitido?”