Cardeal Orani Tempesta responde à proposta de Dom Demétrio Valentini.

Tem voltado à tona alguns debates sobre a questão do sacerdócio ministerial. Falou-se sobre a possibilidade de haver a consagração do pão e do vinho por parte de leigos, especialmente onde faltam sacerdotes válida e licitamente ordenados. Aqui não estaria se tratando dos assim chamados “viri probati”, ou seja, da ordenação de homens casados, mas sim de cristãos leigos sem ordenação sacerdotal. Na última Assembleia da CNBB emitimos um documento muito importante sobre os cristãos leigos e sua missão na Igreja. A presença do laicato na Igreja e, como Igreja, no mundo tem uma grande área de atuação, mas o sacerdócio comum dos fiéis não se confunde com o sacerdócio ministerial.
Mas, quais são os documentos da Tradição da Igreja nessa área? Essa ideia que parece, à primeira vista, simpática e solucionadora do problema da falta de vocações sacerdotais não é nova nem tão simples. As fontes utilizadas foram, de um modo especial a Carta Sacerdotium Ministeriale (citada aqui como SM), da Congregação para a Doutrina da Fé, de 6 de agosto de 1983, e o Curso de Eclesiologia, de D. Estêvão Bettencourt, OSB. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1996, p. 181-197.

Continuar lendo

J’Accuse!

Por Dom Orani João Cardeal Tempesta – Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

O título acima está em francês e não é novo. Vem ele de 13 de janeiro de 1898 quando Emile Zola publicou na primeira página do jornal L’Aurora o artigo que traduzido para o português quer dizer “Eu acuso!”. Sim, em forma de carta ao presidente francês Felix Faure, Zola acusa a todos os que defenderam Dreyfus. Afinal, a sociedade francesa e a de outros países esperava uma condenação desse senhor por crimes de guerra, mas o tribunal arbitrariamente inocentara um verdadeiro culpado.

Pois bem, no dia 29 de novembro próximo passado, recebemos consternados, pela imprensa, a notícia segundo a qual a maioria da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que um aborto cometido até o 3º mês de gestação não é crime, inocentando uma clínica clandestina de aborto. Uma violência cometida num estado tão cheio de violência! Isso poderá dar a outros juízes base para agirem de igual modo em suas respectivas Comarcas. Seria como dizer “Eu acuso, ao menos potencialmente, com pena de morte todos os nascituros inocentes e indefesos no ventre materno, caso alguém decida matá-los antes dos três meses de gestação”. Porém nesta semana, no próximo dia 7 de dezembro, poderá ainda o STF julgar (está na pauta) o caso de das crianças por nascer de mães que se contaminaram com algumas doenças. Querem também condenar à morte essas crianças. Como trabalhar pela paz em nosso país com tantas situações violentas condenando inocentes?

Aqui começam as nossas reflexões – jurídicas, biológicas e morais – junto aos nossos prezados(as) irmãos(as) a respeito desse tema tão polêmico por várias razões que tentaremos aclarar abaixo, a fim de que todos possam melhor entendê-lo a contento e, dentro da lei e da ordem, reagir. Tal medida descabida e inconstitucional há de ser frustrada pelos nossos nobres legisladores eleitos com o voto do povo, cuja esmagadora maioria é a favor da vida e contra o homicídio no ventre materno.

Com essa ação do STF, agindo em contrário à Constituição Federal que a todos garante o direito à vida como cláusula pétrea (art. 5º caput), caímos em uma tremenda insegurança jurídica, pois a Corte Suprema se dá o direito não só de legislar – papel exclusivo do Poder Legislativo, como bem lembrou o presidente da Câmara dos Deputados – mas até de reformar ou deformar a Constituição. Para onde iremos?

Isso, aliás, há alguns anos, já preocupava o renomado jurista Dr. Ives Gandra da Silva Martins ao escrever o seguinte: “Pela Lei Maior brasileira, a Suprema Corte é a ‘guardiã da Constituição’ – e não uma ‘Constituinte derivada’”. No entanto, no Brasil, não tem faltado coragem para que o Supremo legisle no lugar do Congresso Nacional, mas isso é preocupante, diz o Dr. Ives. E o que o assusta? – “A questão que me preocupa é este ativismo judicial, que leva a permitir que um Tribunal eleito por uma pessoa só substitua o Congresso Nacional, eleito por 130 milhões de brasileiros, sob a alegação de que além de Poder Judiciário, é também Poder Legislativo, sempre que imaginar que o Legislativo deixou de cumprir as suas funções. Uma democracia em que a tripartição de poderes não se faça nítida, deixando de caber ao Legislativo legislar, ao Executivo executar e ao Judiciário julgar, corre o risco de se tornar ditadura, se o Judiciário, dilacerando a Constituição, se atribua poder de invadir as funções de outro. E, no caso do Brasil, nitidamente  o constituinte não deu ao Judiciário tal função”.

Que poderia o Congresso Nacional fazer no caso? – Poderia tomar a decisão, baseada no artigo 49, inciso XI, da CF, que lhe permite sustar qualquer invasão de seus poderes por outro poder, (artigo 142 “caput”) para garantir-se nas funções usurpadas. (http://anajus.jusbrasil.com.br/noticias/2687189, acessado em 30/11/16). É de se esperar que o Congresso Nacional não desaponte a milhões de brasileiros defensores da vida.

Não obstante a isso, há quem diga – erroneamente, é claro –, que o aborto no Brasil é legal em dois casos: (I) quando não há outro meio – que não o aborto – para salvar a vida da gestante; e (II) quando a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante. Isso, porém, não é real. O que o Código Penal textualmente diz é o seguinte: em duas hipóteses o crime do aborto “não se pune”: “Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.

Portanto, o crime permanece, apenas há a chamada escusa absolutória, ou seja, a lei deixa de ser aplicada ao errante, tal como é o caso de um filho que furta os pais (art. 181, Código Penal) ou de uma mãe que esconde seu filho malfeitor da polícia (art. 348, § 2º, Código Penal). Sempre há o crime, porém não se aplica a punição da lei. Aliás, se uma lei brasileira infraconstitucional autorizasse o aborto estaria fulminada de inconstitucionalidade e não teria valor algum frente à Constituição Federal.

Cabe, no entanto, dizer uma palavra ainda sobre a razão pela qual os casos de abortos vão parar no Judiciário. E fazemo-lo a partir de declarações insuspeitas de uma das grandes defensoras do aborto na Colômbia, a advogada Mónica Roa. Diz ela que os defensores do homicídio no ventre materno usaram de três diferentes técnicas para implantar o aborto naquele país. Primeiro fugiram do debate moral e religioso levando o caso para o campo da saúde pública e da ideologia de gênero. Mesmo mudando de foco nunca era demais recordar o que segue: “deixe a Igreja fora, ela tem argumentos irrefutáveis. Para ganhar a batalha é preciso tirar a Igreja da jogada” (cf. Alfredo Mac Hale inPe. David Francisquini. Catecismo contra o aborto: porque devo defender a vida humana. São Paulo: Artpress, 2009, p. 61).

No âmbito legislativo, cinco ou seis projetos de lei tinham fracassado – os políticos têm medo de perder votos dos fiéis participantes das Missas nos finais de semana, sobretudo se os Bispos forem firmes na defesa do Evangelho da vida. Levou-se, então, o caso à Suprema Corte colombiana e lá conseguiram seu intento (idem, p. 71-73).

Questiona-se, no entanto, que provas temos de que há vida desde a concepção? – perguntam alguns. A prova da Ciência, da própria Lógica ou do próprio bom-senso humano. Vejamos isso com base no livro A favor da vida a ser publicado em breve: A maneira mais simples (e óbvia) de provar que o nascituro é vivo se dá mediante a seguinte observação: o óvulo da mulher e o espermatozoide do homem são células vivas e se unem dando origem a um ser vivo da mesma espécie humana.

A prova de que há vida é que essas duas células, logo que se fundem (é uma nova vida), se reorganizam, crescem e continuam a ter todas as propriedades de uma célula viva. Portanto, contra a tese abortista, o bebê está vivo. Ele não é nem morto (se fosse morto, o organismo feminino o expeliria pelo aborto espontâneo ou daria sinais de mal-estar e levaria a mulher a buscar ajuda médica) e nem é inanimado/inorgânico (se fosse, nunca poderia nascer vivo).

Mais: um ser morto ou inanimado não realiza divisão celular. Ora, os bebês, além de nadarem e se locomoverem no útero da mãe vivenciam uma taxa bem alta de divisão celular (41 das 45 divisões que ocorrem na vida de um indivíduo). Por tudo isso que acabamos de expor, vê-se que o bebê é um ser vivo e defender o aborto é promover o homicídio.

O renomado geneticista francês Jérôme Lejeune, que muito trabalhou com os portadores da Síndrome de Down, depois de ter ele mesmo descoberto que essa síndrome era causada por um cromossomo a mais na pessoa especial, declarou com todas as letras e mais de uma vez o seguinte: “Não quero repetir o óbvio. Mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos transportados pelo espermatozoide se encontram com os 23 cromossomos da mulher [no óvulo], todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para a frente qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato” (Pergunte e Responderemos n. 485, nov. 2002, p. 462-468).

Lejeune fala mais: “A vida tem uma longa história, mas cada um de nós tem um início muito preciso, que é o momento da concepção. A vida começa no momento em que toda a informação necessária e suficiente se encontra reunida para definir o novo ser. Portanto, ela começa exatamente no momento em que toda a informação trazida pelo espermatozoide é reunida à informação trazida pelo óvulo. Desde a penetração do espermatozoide se encontra realizado o novo ser. Não um homem teórico, mas já aquele que mais tarde chamarão de Pedro, de Paulo, de Tereza ou de Madalena.”

“Se o ser humano não começa por ocasião da fecundação, jamais começará. Pois de onde lhe viria uma nova informação? O bebê de proveta o demonstra. Aceitar o fato de que, após a fecundação, um novo ser humano chegou à existência já não é questão de gosto ou de opinião.”

Sobre o aborto, o geneticista francês diz que “em nossos dias, o embrião é tratado como o escravo antes do Cristianismo; podiam vendê-lo, podiam matá-lo… O pequeno ser humano, aquele que traz toda a esperança da vida, torna-se comparável ao escravo de outrora. Uma sociedade que mata seus filhos perdeu, ao mesmo tempo, sua alma e sua esperança” (E. Bettencourt. Problemas de Fé e Moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2007, p. 176).

Por fim, o questionamento é: que deve o fiel católico fazer ante essa dramática situação? – Duas atitudes são básicas: 1) Organizar-se dentro da lei e da ordem a fim de incentivar os congressistas a defenderem a vida e não a morte, sustando os efeitos do STF na pretensão de legislar, e ainda movimentar para que no próximo dia 7 de dezembro não se comenta outro crime contra as crianças e contra a constituição brasileira; 2) A quem trabalha diretamente na área da saúde toca o grave dever da objeção de consciência frente a ordens que mandem executar o homicídio de um ser humano indefeso e inocente no ventre materno, conforme ensinou o Papa São João Paulo II na Encíclica Evangelium Vitae: “73. O aborto e a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Leis deste tipo não só não criam obrigação alguma para a consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se a elas através da objeção de consciência. Desde os princípios da Igreja, a pregação apostólica inculcou nos cristãos o dever de obedecer às autoridades públicas legitimamente constituídas (cf. Rm 13,1-7; 1 Ped 2,13-14), mas, ao mesmo tempo, advertiu firmemente que ‘importa mais obedecer a Deus do que aos homens’ (At 5,29)”.

“74. Recusar a própria participação para cometer uma injustiça é não só um dever moral, mas também um direito humano basilar. Se assim não fosse, a pessoa seria constrangida a cumprir uma ação intrinsecamente incompatível com a sua dignidade e, desse modo, ficaria radicalmente comprometida a sua própria liberdade, cujo autêntico sentido e fim reside na orientação para a verdade e o bem. Trata-se, pois, de um direito essencial que, precisamente como tal, deveria estar previsto e protegido pela própria lei civil. Nesse sentido, a possibilidade de se recusar a participar na fase consultiva, preparatória e executiva de semelhantes atos contra a vida, deveria ser assegurada aos médicos, aos outros profissionais da saúde e aos responsáveis pelos hospitais, clínicas e casas de saúde. Quem recorre à objeção de consciência deve ser salvaguardado não apenas de sanções penais, mas ainda de qualquer dano no plano legal, disciplinar, econômico e profissional.”

Com essas palavras exorto a todos os diocesanos e demais pessoas de boa vontade a quem este escrito chegar para que não se entreguem à cultura da morte, não se conformem com esse descaminho em nossa querida pátria já tão cheia de violências, mas vençam a morte com a Vida que é o próprio Cristo Jesus, Nosso Senhor.

Nota de esclarecimento da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Reação da Arquidiocese do Rio de Janeiro ao manifesto de “católicos” com Freixo.

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, diante da manifestação pública de alguns membros do clero e do laicato, esclarece que não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca. As pessoas podem se manifestar pessoalmente e arcar com as consequências, mas não podem falar por quem não foram autorizadas. Tampouco têm autorização da autoridade diocesana para indicar qualquer candidato aos cargos públicos, como aconteceu nessa recente manifestação, na qual indicam um candidato para o segundo turno das eleições municipais da cidade do Rio de Janeiro.

A Arquidiocese reafirma sua posição de organismo apartidário, que defende os princípios da Igreja Católica de acordo com as orientações que assumidas pelo Regional Leste 1 da CNBB e das quais foi dada ampla divulgação. Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas.

Portanto, o voto do católico só poderá assim ser considerado se os programas dos candidatos merecedores desse voto também estiverem em comunhão com os princípios humano-cristãos.

Diante da perplexidade gerada por tal manifestação já divulgada pelas mídias sociais, ocasionando o escândalo da desunião, a Arquidiocese de São Sebastião Rio de Janeiro pede a união de todos no Senhor Jesus e a contínua disponibilidade para a missão evangelizadora numa Igreja em saída, que caminha junto com seus pastores.

Da Cúria Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, aos 25 de outubro de 2016.

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

+ Antônio Augusto Dias Duarte Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ

+ Roque Costa Souza Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ.

+ Luiz Henrique da Silva Brito Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ.

+ Assis Lopes Bispo Auxiliar Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ.

+ Karl Josef Romer Bispo Auxiliar Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ.

Padre Cláudio dos Santos

Vigário Episcopal Norte

Padre Felipe Lima Pires

Vigário Episcopal Oeste

Padre Henrique Jorge Diegues

Vigário Episcopal Sul

Padre Jorge Pereira Bispo

Vigário Episcopal Santa Cruz

Padre Nivaldo Alves dos Junior

Vigário Episcopal Suburbano

Padre Robert Josef Chrszcs

Vigário Episcopal Jacarepaguá

Padre Wagner Toledo Moreira

Vigário Episcopal Urbano

Padre Alberto Gonzaga de Almeida

Vigário Episcopal Leopoldina

D. Roberto Lopes

Vigário Episcopal para os Institutos Vida Consagrada

Monsenhor Joel Portella Amado

Coordenador Arquidiocesano de Pastoral

Cônego Marcos William Bernardo

Vigário Episcopal para a Comunicação Social e Cultura

Cônego Manuel de Oliveira Manangão

Vigário Episcopal para a Caridade Social

Celebração de batismo de bebês gerados por um “casal” gay no Santuário do Cristo Redentor: um retrato vivo da crise de Fé na Igreja pós-conciliar.

Por Maria Clara B. Gomes – Fratres in Unum.com:  Li com perplexidade a notícia publicada no dia 1º deste mês no site do jornal O Dia, cuja manchete dizia: “Igreja abençoa filhos biológicos de Casal Gay”. Devo dizer que como mulher católica a primeira coisa que me chamou a atenção na matéria foi a foto dos dois lindos bebezinhos deitados em um rico berço acolchoado. São crianças inocentes, pensei. Que culpa teriam do grau de confusão a que chegamos nas últimas décadas?

Aos pés do Cristo Redentor, o batizado foi acompanhado por parentes, amigos e turistas. Foto: Álbum de família – Jornal O Dia.

Como bem disse o popularesco padre que as batizou: “O batismo é para todos. A Igreja não nega o batismo a ninguém. Ao contrário, é mandato de Cristo que todos sejam batizados”.

Não, não foi o fato de duas crianças inocentes terem recebido a imensa graça do Batismo que me causou tamanha perplexidade, mas todo o contexto e aparato que cercaram o evento, especialmente, o reconhecimento implícito por parte de um sacerdote católico — com alto grau de prestígio na Arquidiocese do Rio de Janeiro – do chamado “casamento gay”, além da desorientação geral dos fiéis no tange os temas da moral católica.

“O IMPORTANTE É SER FELIZ”, A VIDA ETERNA NÃO TEM PRESSA

Logo no início da matéria aparece o relato de Roberto, um dos genitores biológicos dos bebês, que, aos 20 anos, quando se reconheceu homossexual, procurou um sacerdote para se confessar e ouviu o seguinte conselho: “Você tem que ser feliz.” Como assim? Existe acaso verdadeira felicidade no pecado mortal? Nossa felicidade não mais consiste em viver para agradar a Deus, buscando, com a Sua Graça e a Intercessão da Virgem Santíssima, a vida de santidade e a fuga de todo pecado? Teria o entrevistado omitido algum conselho adicional que nos permita supor que um sacerdote católico possa ocultar um ensinamento fundamental para a salvação da alma de um fiel penitente? Infelizmente, a julgar por nossas próprias experiências, temos que admitir que conselhos ambíguos ou heterodoxos não raro são dados nos confessionários do mundo inteiro e que a teologia da “Opção Fundamental” tem grassado na formação de muitos sacerdotes. Assim, não me surpreende que um fiel católico ao confessar seu drama pessoal realmente ouça conselho tão simplista quanto espiritualmente perigoso. 

O RITO DO BATISMO

Mas, comecemos pelo início. Afinal, o que se pede no Batismo e para que serve?

No belíssimo rito tradicional do Sacramento do Batismo, após indagar o nome da criança, o sacerdote pergunta ao padrinho: “O que vens pedir à Igreja de Deus?” A resposta é uma só: “a Fé”. Ato contínuo, o ministro prossegue: “E para que te serve a Fé?” Ao que o padrinho responde: “Para ganhar a vida eterna.” Às respostas claras e objetivas do padrinho, que fala em nome da criança, o conselho sacerdotal é mais claro ainda: “Então, se queres possuir a vida eterna, tens de cumprir os mandamentos: ‘Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento; e amarás ao teu próximo como a ti mesmo'”.

Esse diálogo impressionante nos recorda que a Fé é a porta de entrada para ganharmos a Vida Eterna, mas que esta Fé não existe desvinculada dos mandamentos de Deus. Cumprir os mandamentos e amar a Deus com todo o nosso coração, alma e entendimento, assim como amar o nosso próximo como a nós mesmos são reflexos e prova da Fé que professamos. Pelo Batismo nos tornamos Filhos de Deus e membros da Igreja. Saímos do paganismo para o cristianismo, abandonamos costumes mundanos e damos o primeiro passo em direção ao Céu. Isso significa que devemos buscar a vida conforme a Vontade de Deus, pois como batizados estamos no mundo, mas não somos do mundo.

Então, o que dizer de toda a avalanche de informações bizarras contidas na mesma matéria?

Após a revelação de Roberto sobre o conselho estapafúrdio no confessionário (ou, muito provavelmente, na “sala de reconciliação”), Marco, seu companheiro, conta que ao telefonar para a capela, a fim de marcar o batizado das crianças, uma senhorinha não estranhou em nada quando este lhe contou que os bebês eram filhos de dois pais. Sem especular o que pode ter passado pela cabeça da tal senhorinha (quem sabe até mesmo uma mudez emocional), a pergunta que não quer calar é: e o tal “curso preparatório para o Batismo, tão ferrenhamente exigido em nossas paróquias?” Existiriam locais na Arquidiocese do Rio onde se possa burlar essa fase de preparação? Se houve, será que o sacerdote ou catequista não lhes tentou alertar sobre os riscos espirituais da vivência ativa da sodomia e sua incompatibilidade na formação de crianças ou ainda o escândalo que uma celebração pública do batismo de crianças por um par gay poderia causar?

Em seguida, outra informação desvairada: os dois, “católicos praticantes”, seja lá o que isso signifique, recorreram à barriga de aluguel e à inseminação artificial. Trocando em miúdos, encomendaram óvulos de uma jovem branca de olhos azuis, que, após serem devidamente inseminados, foram transportados para a barriga de outra mulher, que gestou as crianças por 8 meses.

Antes de tudo, é preciso admitir que muitos casais heterossexuais católicos também estão recorrendo à prática da inseminação artificial, aparentemente, sem qualquer noção de que esse procedimento é intrinsecamente desordenado e contra a moral católica.

Sem entrar no mérito da compra ou venda de gametas alheios para satisfazer desejos pessoais, ainda que se trate de casais heterossexuais, a inseminação artificial desvincula o ato procriativo (aberto à possibilidade de geração de filhos) do unitivo (para o bem dos esposos), razão pela qual é incompatível com a moral católica, atentando, claramente, contra a natureza das coisas, conforme determinou o Criador em suas criaturas — e não é necessário nos delongarmos sobre a malícia de como o material genético é coletado. Em suma: atos imorais que implicariam em cometer vários pecados mortais (meio mau) para alcançar um objetivo desejado (ter um filho).

Por outro lado, existe também outro aspecto da inseminação artificial igualmente condenável. Como o processo todo é muito dispendioso, o comum é que se inseminem vários óvulos e depois se escolha os mais viáveis e perfeitos para a implantação no útero. Em geral, não mais de quatro óvulos são implantados por vez. Os embriões sobressalentes vão para o freezer por tempo indeterminado ou são simplesmente descartados. Em alguns casos são doados. Porém, por tudo o que se lê na literatura pertinente, conclui-se que o processo de inseminação artificial resulta no abandono ou assassinato de seres humanos em seu estágio inicial. Não há que amenizar essa realidade.

Mas, voltemos ao nosso tema principal. Sem dúvida, podemos nos indagar de que maneira essas crianças poderiam se beneficiar do augusto Sacramento do Batismo, visto que são inocentes e, como todas as crianças, destinatárias do Evangelho.

No entanto, a concessão do Batismo a crianças pressupõe o compromisso dos pais e padrinhos de as educarem na fé que eles devem exemplarmente professar e viver. A Igreja exige, por assim dizer, as condições mínimas para que a semente da Fé, plantada no batismo (a graça), encontre as condições para desabrochar e florescer (natureza). A graça pressupõe a natureza. Caso tais condições não existam, o Batismo deve ser postergado, evidentemente, sob pena de colocar a própria criança, em decorrência do meio que a envolve, em risco de não desfrutar da Visão Beatífica — assim entende, sabiamente, o Código de Direito Canônico, que reflete pura e simplesmente o bom senso católico.

E aí está o “x” da questão: os progressistas fazem questão de apagar essas pré-condições que são fundamentais para a própria razoabilidade do ato. Afinal, se os pais e padrinhos não vivem aquilo que vão pedir à Igreja para as suas crianças, em que consistiria a cerimônia, senão em um mero circo, uma palhaçada teatral de banal inserção de um indivíduo em uma comunidade ou círculo social?

É o completo esvaziamento do sentido sobrenatural do batismo para, ao fim, reinterpretá-lo como um rito de pacificação de consciências, atormentadas, ao fim e ao cabo, pelo peso do pecado. Pacificação que consiste em sentir-se aceito pela “comunidade”, deixando para trás aquela Igreja malévola de outrora com seu dedo em riste que acusava a malícia do pecado e exigia a mudança de vida do pecador.

O escândalo é inevitável. Doravante, muitos católicos incautos ou mal formados passarão a aceitar não apenas batizados públicos de crianças adotadas ou geradas por “casais” gays, mas, sobretudo, a ideia de que crianças podem tranquilamente ser adotadas ou criadas por duplas homossexuais e que estes têm todo o direito de se apresentar como tal nos sacramentos católicos ou até mesmo que existam “famílias diferentes”, em que a presença de um pai e uma mãe seja apenas uma dentre várias possibilidades. 

INDAGAÇÕES NECESSÁRIAS

Em vista de tamanha desorientação, cabe-nos indagar:

Quem dirá a esses rapazes que, para ganharmos a vida eterna, temos que seguir os Mandamentos, vendermos tudo [isto é, renegarmos a nós mesmos e a nossas aspirações] e seguirmos a Jesus (Mc 10, 17 -21)?

Quem lhes dirá para abandonar a prática homossexual e, com a Graça de Deus e ajuda da Virgem Maria, dos santos e anjos buscarem a castidade para almejar a vida eterna?

Quem lhes dirá que todos somos pecadores e que temos sempre que lutar contra a carne, o demônio e o mundo?

E, finalmente, quem dirá a esse pobre padre Omar Raposo, mergulhado em uma profunda crise de identidade, que se recorde do seu primeiro amor — aquele que, queremos crer, ele tinha nos tempos de seminarista – e abandone de vez as atitudes incompatíveis com a fé que diz professar, populistas e mundanas, e busque tão somente a glória de Deus e a salvação das almas?

Quem dirá aos nossos bispos que não emudeçam em face aos temas polêmicos da moral católica?

Por ora, aqui na Arquidiocese do Rio já ouvimos o suficiente sobre JMJ, paz, concórdia, unidade e fraternidade. Agora precisamos ouvir mais sobre a Fé Católica e sua bela doutrina, moral e liturgia. O momento é grave. O mundo quer nos devorar a cada dia e nos forçar a aceitar sua agenda globalista e anticatólica. Não podemos nos dar ao luxo de ignorá-lo e fugir desse embate.

Senhores bispos, os senhores são nossos pastores e mestres na Fé. Como sucessores dos Apóstolos, cabe aos senhores de maneira especialíssima a sublime tarefa de transmitir a Fé, de maneira clara, ortodoxa e constante. Cabe aos senhores falar sobre o que é necessário fazer para ganharmos a Vida Eterna e o que devemos evitar para não perdê-la.

Apresentar o ensinamento da moral católica sobre temas como sodomia, inseminação artificial, descarte de embriões, “casamento” gay, adoção de crianças por pares gays, união civil entre pessoas do mesmo sexo e aborto não é exatamente algo que atraia a simpatia do mundo. Porém, esses são temas que não podem ser omitidos em tempos de confusão.

Auxilium Christianorum, ora pro nobis!

Arquidiocese do Rio de Janeiro: diálogo com as culturas, concessão ao PT… E a Fé, onde fica?

Por Catarina Maria B. de Almeida | Fratres in Unum.com – Ainda na sequência da lamentável reversão da medida tomada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro de proibir o uso da Imagem do Cristo Redentor para um filme secular que incluía conteúdo desrespeitoso à Fé Católica, várias notícias conflitantes têm circulado na imprensa e nas redes sociais nos últimos dias.

o-padre-omar-raposo-reitor-do-santuario-do-cristo-redentor-informou-nesta-sexta-feira-17-que-a-mao-direita-da-estatua-simbolo-do-rio-de-janeiro-foi-danificada-por-raios-o-negocio-foi-feio-ontem-la-1389986406957_956x500Recentemente, publicamos a matéria do jornalista Merval Pereira, do jornal O Globo, sobre a ameaça que a Ministra de Cultura Marta Suplicy teria feito de retirar da Igreja Católica a tutela sobre a imagem do Cristo Redentor. Mais tarde, o mesmo articulista escreveria que tanto a Ministra quanto o Cardeal do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta o teriam contatado cordialmente para dizer que não era bem assim, e que não havia qualquer ameaça nesse sentido.

Por outro lado, em seu perfil de Facebook, a própria Ministra da Cultura publicou a seguinte Nota de Esclarecimento:

Não procedem e nem são verdadeiros os fatos relatados na coluna do jornalista Merval Pereira no jornal O Globo de hoje. Jamais existiu nenhum tipo de ação ou pressão que tenha envolvido o governo brasileiro seja através do Ministério da Cultura ou de qualquer outra instância governamental, frente à questão da imagem do Cristo Redentor.

O único contato que mantive com o Cardeal Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, foi há três semanas quando lhe telefonei para saber como estava a situação sobre o uso da imagem do Cristo em filme do cineasta José Padilha. O Cardeal disse que já estava tudo resolvido, e toda conversa foi de forma amistosa. Marta Suplicy

Que conclusões poderíamos tirar de todas essas informações e contrainformações?

A primeira delas é que se essa nota no perfil de Facebook da ministra data de 1º de agosto e ela afirma que seu único contato com o Cardeal Orani Tempesta havia se dado há três semanas, temos um problema matemático sério e relativamente simples: a liberação do uso de imagem para o filme ocorreu no dia 21 de julho, conforme o comunicado da assessoria de imprensa da Conspiração Filmes. Três semanas equivaleria a apenas 1 ou 2 dias após a veemente proibição do uso da imagem, publicada no dia 9 de julho no site da Arquidiocese e atualizada no dia 10 de julho. Teria a Arquidiocese mudado da água para o vinho em apenas dois dias? Ou algo, digamos, muito convincente…, teria feito a Cúria mudar de ideia?

Em segundo lugar, assim como o jornalista Merval Pereira do O Globo checou suas fontes em Brasília, Fratres in Unum.com está em condições de afirmar que:

Algo entendido como uma ameaça vinda da Ministra Marta Suplicy teria efetivamente circulado pelo edifício João Paulo II, sede da Cúria Arquidiocesana. Podemos inclusive confirmar a ocorrência de uma reunião, convocada em caráter de emergência, na parte da tarde daquele dia 1º, dia da publicação da matéria de Merval Pereira. Dela teriam participado o Cardeal Dom Orani João Tempesta, grande parte de seus Bispos auxiliares, a assessoria de imprensa da Mitra e quatro padres que assessoram o alto clero do Rio. Um dos itens da agenda teria sido a investigação sobre a origem do vazamento de informações, ou seja, se ela tinha ocorrido nas dependências da Cúria ou em Brasília.

Afinal, o que haveria por trás dessa bizarra manobra para reverter decisões tomadas há tão pouco tempo e, em seguida, desmentir rumores de pressões por parte de um governo de comprovada inimizade com os interesses da Igreja Católica, sobretudo, na figura de uma ministra que sempre foi defensora ardorosa do aborto, do “casamento gay” e de toda sorte de perversões morais? Como pode a inteligência média entender que aquilo que no dia 9 de julho era um “atentado contra a Fé Católica e caracterizava crime de vilipêndio” deixa de sê-lo em cerca de apenas dez dias? Seria preciso um enorme malabarismo mental para compreender tamanha contradição, o que está fora do alcance de nossas pobres mentes. Ainda mais quando a Arquidiocese não faz questão alguma de explicar as razões de sua mudança.

E em meio a tanto caos, nos deparamos com um esdrúxulo editorial do jornal arquidiocesano Testemunho de Fé, de autoria do bispo auxiliar Dom Edson de Castro Homem, que transcrevemos abaixo integralmente:

“A polêmica, o diálogo, a balela

Não só o diálogo é frutuoso para o conhecimento e a existência. Também a polêmica. Inclusive para o debate cultural, filosófico e até religioso. Há quem viva dele e para ele.

Parece fácil definir a polêmica. Ao grosso modo, é o debate oral e escrito. Portanto, discursivo. Supõe e até exige controvérsia e questionamento. O mínimo de inteligência. Muitas vezes, réplica e tréplica, e por aí vai. Há quem polemize a vida toda até morrer. Com a morte, o silêncio.

É possível definir o diálogo, mesmo sem o recurso ao dicionário, enquanto fala ou escrita entre dois. É também discursivo. Sempre em conversação ou forma teatral. Difícil é o diálogo que coresponda à verdade em si, ou dos fatos, ou das intenções. Na filosofia parece que, desde o posicionamento dialogal platônico, se quer alcançar à presunção da verdade, seja ela qual for, através da polêmica. Dialogar não passaria de método dialético de expressão. Na conversação, até os sofistas são postos.

O século 20 foi marcado por duas grandes guerras e outras menores, inclusive a guerra fria. A primeira a cem anos atrás. Convivemos com duas ideologias que se opuseram e até influenciaram a Igreja Católica pós-conciliar, gerando sofrimentos. A do conflito a qualquer preço, baseada nas diversas formas de pensamento hegeliano e marxista e a do diálogo a todo custo, movida pelo ideal cooperativista. “A Igreja no Concílio Vaticano II optou pelo diálogo, motivada pelo Evangelho e o chamado “sinal dos tempos”. O problema é que o próprio amor é gerador de conflitos. Que o diga Jesus, profeta da paz, considerado “sinal de contradição” (Lc 2, 34), cuja mensagem é cheia de paradoxos linguísticos, nem sempre dialogantes, Ele disse: “Penais que vim para estabelecer a paz sobre a Terra? Não, eu vos digo, mas a divisão” (Lc 12, 49). Também suas atitudes foram polêmicas ou provocadoras. Geraram conflitos de interpretações. Em parte, conduziram-no à morte de cruz.

Tais reflexões ocorrem diante da polêmica, mais uma vez envolvendo a arquidiocese, o Cristo Redentor do Corcovado e a liberdade de expressão artística e cultural. Não precisamos entrar em detalhes conhecidos. Necessitamos, sim, ilustrar o que para muitos é ainda desconhecido. A Igreja, de fato, decidiu escolher o diálogo como atitude pastoral. Entretanto, só possui cerca de 50 anos de prática dialogante. Engatinha. O próprio diálogo, dentro e fora da Igreja, enquanto conteúdo teórico e prático ainda está se construindo. É pouco para uma instituição de dois mil anos. Isso explica, mas não justifica. Erros e acertos, idas e vindas, no ato de dialogar e até no modo de polemizar, quando precisa.

Verdade seja dita: antes do Concílio, a Igreja oficial polemizava contra os erros do mundo moderno. Sua posição era de ataque e de defesa. Apologética. Por usa vez, o mundo moderno inaugurara a polêmica contra ela, em todas as frentes de combate, desde o século das Luzes.

Houve quem estivesse determinado em destruí-la. A rejeição se tornara sistemática e implacável. Portanto, o estranhamento se fizera recíproco. Entende-se por que, quando hoje se discorda de ensinamentos da Igreja ou de atitudes de alguns de seus líderes, logo há quem se volte aos fatos de intolerância reprováveis de sua história, sem considerar o quanto a ela se deve de civilizatório e de humanitário.

Em muitos setores, no mundo contemporâneo retornam as suspeitas contra a Igreja, que se comprovam quando há discordâncias.  Abrem-se as feridas. O diálogo que ela propõe parece, então, ser mais estratégico do que verdadeiro. No entanto, a pastoral eclesial não vive de estratégias, mas de verdade de intenções e de ações, ainda que dependam do preparo, despreparo e limitação das pessoas. Quanto à polêmica, é claro que para o artista e o homem contemporâneo, a arte não pode ser censurada. É fina a sensibilidade do criador diante da obra. O belo toca e é tocado pelo sublime. Exige reverência, mais que aplauso. Também o religioso toca e é tocado pelo belo, sem o qual a mediação do Sagrado, que é inefável, ofusca-se. Pior, emudece. A beleza do Cristo resplandece também na arte sacra e litúrgica e devocional. Em Maria, nos anjos e santos. Na sagrada liturgia. Pela sutil diferença entre o artista e o religioso, é possível o reencontro no diálogo do mútuo reconhecimento desejável. Além da polêmica e a tempo. O resto é pura discussão e balela.” (Edição 856 do jornal Testemunho de Fé de 27/07/14 – os grifos são nossos)”

Caro leitor, você entendeu o que a Arquidiocese do Rio de Janeiro quer nos dizer com essas linhas? Que “fatos de intolerância reprováveis de sua história” seriam esses que o senhor bispo menciona? Seriam acaso os esforços missionários de incansáveis padres, religiosos e leigos que gastaram suas vidas na evangelização durante vinte séculos? Teria a Santa Igreja Católica errado ao condenar os erros do mundo moderno antes do Concílio? Será que a Igreja Dialogante dos últimos cinquenta anos é a única que conta? Não somos mais a Igreja Militante, que luta pela instauração do Reinado de Cristo em todos os âmbitos, defendendo nossa fé, nossos símbolos e valores religiosos em uma sociedade cada vez mais secularizada e materialista?

Questionamos ainda: a Arquidiocese do Rio, quando proibiu o uso da imagem do Cristo, promoveu a polêmica? Pouquíssimo tempo depois, converteu-se ao diálogo? Ou tudo isso é pura balela de gente que se move conforme interesses mesquinhos e mundanos, antepondo privilégios a Cristo e escondendo debaixo da bandeira do “diálogo” a sua própria pusilanimidade?

Roguemos ao Bom Deus, por intercessão de São João Maria Vianney e São Domingos de Gusmão, cujas festas celebramos neste mês, que nos dê pastores santos, corajosos e coerentes, que não tenham medo de denunciar os lobos e chamá-los pelo que realmente são, conduzindo-nos pelas veredas da fé e da verdade. Que o monumento do Cristo Redentor não seja reduzido a um mero ponto de encontro para o “diálogo entre culturas, religiões e diversidades”, mas continue sendo um belo e imponente símbolo de nossa fé, digno de respeito e proteção.

 

Cúria quase perde Cristo.

Por Merval Pereira – O Globo, 1 de agosto de 2014

Chega de Brasília uma informação que pode ser considerada bizarra, mas que também pode ter implicações mais graves. No impasse acerca do filme de José Padilha sobre o Rio, que a Cúria Metropolitana vetou inicialmente por considerar que a figura do Cristo Redentor havia sido desrespeitada, mas depois liberou, a ministra da Cultura Marta Suplicy fez chegar ao cardeal Dom Orani Tempesta uma ameaça de, através de um decreto presidencial que já estaria pronto, retirar da Igreja Católica a tutela sobre a imagem que está implantada no Parque Nacional da Tijuca, sob o controle da União.

Ministra da Cultura Marta Suplicy – Foto: Clayton de Souza / AE

O monumento foi erigido em área cedida pela União à Arquidiocese do Rio na década de 1930, mas o acesso à estátua é realizado pelo Parque Nacional da Tijuca, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Recentemente, a imagem do Cristo Redentor foi eleita, em votação pela internet no mundo todo, uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que também atuou para liberar o filme, disse que chegou a conversar com Dom Orani tentando mostrar que a imagem do Cristo Redentor é um ícone da cidade do Rio, e que como tal também deveria ser tratada e não apenas como um santuário religioso. Mas garante que em nenhum momento soube de qualquer tentativa de retirar da Igreja Católica os direitos sobre a imagem.

Os direitos de uso comercial do Cristo no Corcovado pertencem desde 1980 à Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, e em outubro de 2006, para comemorar seus 75 anos, a estátua foi transformada num santuário católico. Há também, na base do monumento, uma capela católica devotada a Nossa Senhora Aparecida.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro não autorizou o uso da imagem do Cristo no filme Inútil paisagem, dirigido por José Padilha, por considerá-lo inicialmente desrespeitoso. Ele é um dos dez curtas que compõem o longa-metragem Rio, eu te amo, da franquia Cities of love .

Em uma sequência do curta, o personagem interpretado por Wagner Moura, durante um voo de asa-delta, conversa com a estátua do Cristo reclamando da vida, dos seus dissabores e da violência da cidade que ele deveria proteger.

O filme foi enviado para a apreciação da arquidiocese em março, tendo sido vetado. Segundo a assessoria de imprensa da Arquidiocese do Rio na ocasião, há cenas no filme em questão que foram consideradas ofensivas à imagem do Cristo e, consequentemente, à casa dos católicos. É uma prática absolutamente normal da Arquidiocese a não autorização de qualquer produto audiovisual que avance nesse caminho .

Dias depois, diante da reação negativa à decisão, considerada uma censura artística, o Vicariato para a Comunicação Social e a Assessoria de Imprensa da Arquidiocese anunciaram em nota a reversão da medida, pois haviam chegado à conclusão de que o episódio não visou interesse religioso no trato à imagem do Cristo Redentor, e portanto não houve desrespeito ao Cristo ou à religião católica .

O excesso de zelo dos encarregados pela imagem do Cristo, sem levar em conta o lado icônico não religioso da estátua que representa a cidade do Rio de Janeiro no mundo, pode levar a uma excessiva intervenção governamental que seria muito bem recebida em setores da sociedade contrários a esse controle da Igreja Católica sobre o monumento.

Depois de Dom Steiner, Dom Orani.

Leia também: Secretário geral da CNBB diz que uniões entre pessoas do mesmo sexo precisam de amparo legal.

Intolerância e discriminação são mote de campanha da Igreja no Rio

O Globo – Um dia depois de o secretário-geral e porta-voz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, defender o amparo legal para pessoas do mesmo sexo que decidam viver juntas, a Igreja, a Organização das Nações Unidas (ONU) e diversas ONGs lançaram ontem aos pés do Cristo Redentor uma campanha contra a discriminação e a intolerância.

Preconceito de gênero, raça, idade e sexualidade estão entre os temas abordados pela campanha Zero Discriminação. À frente do encontro, o cardeal do Rio, Dom Orani Tempesta, lamentou que a discriminação prejudique até opções religiosas. Dentro da Igreja Católica, o debate sobre a união homossexual ainda é tímido, mas, segundo ele, fundamentado no respeito aos gays.

Orani defendeu o discurso de Leonardo Steiner.

— Dom Leonardo falou sobre o respeito a outras pessoas, à não-discriminação, e que, como qualquer outra associação civil, (os homossexuais) devem ter seus direitos garantidos — ressaltou Tempesta. — O que ele disse é o que tem sido sempre falado pela Igreja, que uma coisa (a união civil gay, do ponto de vista legal) não se confunde com matrimônio, mas que ao mesmo tempo deve haver respeito.

Para o cardeal, o preconceito ganhou força na sociedade, mesmo com o avanço do conhecimento humano.

Secretário-geral adjunto da ONU e diretor-executivo adjunto do Unaids, Luiz Loures alertou que a epidemia da Aids levantou muitos preconceitos, além da discriminação ao portador do HIV.

— A Aids mostrou diversos tipos de discriminação, como aquelas ligadas a gênero, raça, sexualidade, além da xenofobia — assinalou. — A única forma de responder a esta crise é em conjunto, porque a discriminação passa de uma minoria às outras.

Dois netos do líder sul-africano Nélson Mandela também participaram do evento.

— A discriminação, seja ela contra pobres, mulheres, negros, homossexuais ou soropositivos, segue o mesmo princípio: o do medo e da falta de conhecimento — afirmou Ndaba Mandela, coordenador da ONG Africa Rising Foundation.

Kweku Mandela, produtor de filmes, acrescentou:

— A discriminação por classe social é ainda mais grave.

‘Igreja de Francisco não é mais aquela que só se defendia’, diz dom Orani.

Folha de São Paulo – D. Orani Tempesta, 65, já tirou as medidas da roupa que vai usar no dia 22 de fevereiro, na Basília de São Pedro.

Nesse dia, sob as bençãos do papa Francisco, ele se tornará o mais novo cardeal brasileiro e passará a fazer parte do restrito grupo de 120 homens que, além de serem responsáveis por discutir os rumos da Igreja, têm o poder de escolher o ocupante do cargo máximo na hierarquia católica.

Anfitrião do papa em sua primeira viagem internacional – a ida ao Rio para participar da Jornada Mundial da Juventude, em junho de 2013– dom Orani diz que a Igreja mudou em menos de um ano de pontificado de Francisco.

“Ele procurou tornar a Igreja mais proativa, que toma a iniciativa. Não é mais aquela que só se defendia, respondendo às questões, mas sim a que propõe as questões”. Afirma também que as dívidas de cerca de R$ 90 milhões deixadas pela Jornada estão equacionadas e promete que em breve todos os fornecedores do evento serão pagos.

“A Jornada mostra que o bem que a Igreja faz vai além do interesse econômico. Fazemos o bem, mesmo que tenhamos que pagar por isso.”

Folha – Como o senhor recebeu a notícia de que seria cardeal?
Dom Orani – Tinha celebrado a missa das oito na TV Brasil e ia visitar várias paróquias. No celular tenho um aplicativo para seguir o papa. Estava no carro escutando o papa Francisco no aplicativo. Ele começou a falar do consistório [reunião de cardeais com o papa] e percebi que ele ia anunciar os novos cardeais. Ouvi meu nome e me deu um calafrio. ‘Meu Deus do céu, onde eu fui parar agora?’. É uma responsabilidade muito maior. Foi um dia inteiro de repórteres andando atrás de mim, subindo e descendo as ladeiras do Pavão-Pavãozinho [favela íngreme em Ipanema]. Dei uma canseira em todo mundo naquele dia.

Mas sua nomeação era tida como certa há algum tempo…
Falam desde que vim para o Rio [em 2009], por causa da tradição de se ter um cardeal na Arquidiocese. Mas o papa é livre para nomear quem ele quiser. Não é porque a cidade é sede cardinalícia, ou porque alguém já é bispo há muito tempo. Isso quem resolve é o papa, ainda mais o papa Francisco.

O que mudou na igreja nesse quase um ano do pontificado de Francisco?
É natural termos agora um papa mais aberto para o mundo. Bento 16 foi um professor, aprofundando questões teológicas. Agora temos um latino americano, jesuíta até no modo de falar, e que, imagino, esteja colocando em prática muitas coisas que ouviu no consistório e que a Igreja não sabia como fazer. Bento 16 teve um trabalho muito importante de reflexão e a Igreja precisa desse aprofundamento. Nesse ponto ele é imbatível. Já o papa Francisco, sem deixar de olhar a teologia, é mais da proximidade. Ele fala e faz. Fala dos problemas sociais e vai a Lampedusa ver os prófugos; chama o mundo inteiro para jejuar para que não se joguem mais bombas na Síria. Lida com as questões da Igreja e começa a atuar para sua reformulação, também com atitudes, como simplificar onde vai morar, o carro que vai usar…
O que ele põe em prática é o que está no documento da 5ª Conferência da Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) [a conferência aconteceu em Aparecida, em 2007, e o então cardeal Bergoglio foi o coordenador do texto final]. Foi esse documento que ele entregou para a presidente Dilma. Aliás, ela me contou que o papa entregou uma cópia para ela toda marcada com clipes e disse que ela não precisava ler tudo, só os pedacinhos marcados. Só não sei quais pedacinhos ele marcou.

A dedicação de Bento 16 às questões teológicas não tornou a Igreja mais distante dos católicos?
O papa Francisco procurou tornar a igreja mais proativa, que toma a iniciativa. Não é mais aquela que se defende respondendo às questões, mas sim a que propõe as questões. Quando vamos evangelizar, o primeiro anúncio, como chamamos, é o anúncio alegre, de perdão, de misericórdia, de que Deus te ama. Em qualquer curso de evangelização o esquema é esse. Bento 16, como teólogo, já tinha uma coisa mais fechada, de pensar nas questões teológicas, mas o papa Francisco tem um jeito mais pastoral, da Igreja que quer levar uma boa notícia para as pessoas. Uma vez que a pessoa percebe o quanto é amada por Deus, se começa a mudar a vida. Aí podem surgir os novos conceitos. Francisco pegou esse esquema de evangelização; Bento nem falava disso. É uma questão de jeito. Em seus escritos Bento 16 dizia a mesma coisa, mas ele é um intelectual e apresenta isso de outra forma.

A Jornada Mundial da Juventude, no Rio, foi o ponto de partida para essa mudança na forma de ação?
A Jornada foi uma apresentação do papa, de seu programa, para o mundo e para a Igreja. O que ele falou aqui para os bispos sobre teologia, para a sociedade sobre questões sociais, foram as linhas principais do que depois surgiu no documento que escreveu [“Alegria do Evangelho”, divulgado em novembro de 2013]

Antes de o papa chegar ao Rio, houve vários problemas relativos à Jornada, como a mudança do lugar, a discussão sobre sua segurança…
Se você soubesse o trabalho que deu para convencer todo mundo que ele podia vir de carro sem blindagem, que podia andar com o papamóvel… Meu Deus do céu, não foi fácil. Diziam que ele não podia andar de carro aberto porque alguém em um prédio podia dar um tiro. Mas para ser do jeito que eles queriam, sem ver o povo, nem adiantava vir. Foi uma luta. Só conseguimos porque o papa quis assim e se responsabilizou. E quando ele chega, deu aquilo, por erro da Polícia Federal.

O sr. estava no carro com o papa quando ele foi cercado por populares no centro do Rio?
Estava no carro atrás. Não vi direito o que acontecia e não entendia porque, se tinha uma via livre no meio, enfiaram a gente no meio daquele povo todo. Quando o comboio parou, achei que o papa tinha pedido, mas meu celular começou a tocar e as pessoas diziam para eu mandar o papa fechar a janela. Que janela? O que está acontecendo? Ali foi o batismo. Depois daquilo, não precisava ter medo de mais nada. Imagina só, na apresentação do papa ao mundo me acontece um negócio daquele! Mas o papa tirou de dez a zero.

E naquela noite ainda houve uma manifestação violenta na porta do Palácio Guanabara, onde ele era recebido pela presidente Dilma e outras autoridades. Quais foram as impressões do papa?
Lá dentro não tínhamos dimensão do que acontecia, então queríamos que o papa fosse cumprimentar o pessoal lá fora. Mas a segurança brasileira não deixou. Quando voltamos para o Sumaré [residência oficial da Arquidiocese do Rio], ele estava muito contente, ria contando como o povo quase entrou pela janela do carro. Ele viu como uma bela manifestação, não como um erro da polícia. Então, por circunstâncias não pensadas e não desejadas tudo deu certo.

A interdição da área de Guaratiba por causa das chuvas e a transferência para a praia de Copacabana está nesse caso?
Claro que depois do fato concretizado ficou bonito, mas na cabeça da gente Guaratiba seria um apogeu, tudo muito planejado. Em Copacabana tivemos que arrumar tudo de última hora. Se tivesse dado muito certo em Guaratiba seria uma glória nossa, mas como foi em Copacabana, o que ficou foi que Deus fez as coisas porque não tínhamos planejado e pensado [dom Orani ri].

O evento deixou uma dívida em torno de R$ 90 milhões…
Quando planejamos tudo direitinho, não ficaria nenhuma dívida

O que causou a dívida, então?
Primeiro, a mudança do local inicialmente previsto, a Base Aérea de Santa Cruz, para Guaratiba. Na Base não teríamos que fazer terraplenagem, asfaltar. Mas por questões da presidência da República tivemos que mudar de lugar. Depois, tínhamos muita gente -no último dia eram 3,5 milhões de pessoas na praia-, mas o número de inscrições foi menor que o de Madri [em 2011]. Lá foram 500 mil inscritos, aqui tivemos pouco mais de 300 mil. Terceiro, tivemos que transferir tudo para Copacabana. A dívida está sendo negociada, mais um pouco e terminamos de pagar todos os fornecedores. Já pagamos todos os funcionários. Ainda estamos fazendo campanhas e o dinheiro está pingando. Quando chegar o dinheiro do papa [que doou R$ 11 milhões para ajudar a saldar a dívida], vamos ver quanto ainda fica faltando.

O papa já demonstrou ser muito preocupado com as finanças da Igreja. Ele deu algum puxão de orelha na Arquidiocese por causa do déficit da JMJ?
Não.

Como se chegou à decisão de ele contribuir?
Por iniciativa dele. Ainda aqui ele disse que queria contribuir porque a Jornada era um trabalho para o mundo inteiro. Dissemos que assim que tivéssemos uma visão de como ficariam as coisas, repassaríamos para ele. Quando a CNBB esteve lá, ele cobrou. Mandamos um relatório e ele nos disse que ia contribuir.

Como são as cobranças dele? Ele já ligou alguma vez para o sr.?
Não. A não ser que ele tenha ligado e eu não tenha atendido, como aconteceu com as freiras [no início do ano Francisco ligou para um convento. Não foi atendido e deixou um recado na secretária eletrônica].

O sr. é arcebispo de uma cidade que enfrentou um ano difícil, com uma série de manifestações violentas. Qual sua avaliação sobre esses movimentos?
Ao mesmo tempo que é positivo as pessoas se manifestarem, há grupos que nem sempre tem um objetivo. Um movimento que não tem uma cabeça e está cheio de ideias corre o risco de infiltrações. Reivindicação tem que ser feita de forma que se respeite o outro.

Nas missas o sr. fala sobre isso?
Dependo do tema que a palavra de Deus me coloca, não posso inventar um tema a meu bel prazer. Mas a palavra de Deus pode ser atualizada. Tem que falar da violência, da desagregação, saúde, transporte, habitação, mas não basta só ter bem estar social, é preciso amar um ao outro, cuidar da parte religiosa. Precisamos partir do amor ao próximo para ter um mundo diferente e a Jornada mostrou isso. Tivemos problemas, grupos que queriam cometer violências, blasfemaram contra imagens. Houve fila para ônibus, para comer, um frio danado Mas não houve violência. Claro que vamos lutar por questões sociais, mas é preciso desarmar os corações. A gente passa tão rápido pelo mundo, daqui a pouco somos só um monte de ossos, por que não passar para fazer o bem?

O que o sr. diria para os jovens que simularam atos sexuais e quebraram imagens sacras durante a Jornada?
Que, apesar do que fizeram, Deus os ama. O que eles fizeram é contra eles mesmos. No que essas imagens atrapalham a vida deles? Sabemos que são só representações, mas o que eles diriam se alguém pegasse a imagem da mãe ou do pai de um deles e fizesse a mesma coisa? Lamento que eles tenham perdido tempo fazendo isso. Tem tanta coisa importante para fazer no mundo.

O papa Francisco tem feito uma “faxina” no Vaticano, não só em questões financeiras, mas também com relação a problemas ligados a suspeitas de pedofilia, homossexualismo. O sr. enfrentou problemas semelhantes no Rio em algum momento?
Todo lugar onde chegamos tem sempre muita coisa para fazer. E quando eu deixar, quem vier também terá muito o que fazer. Nunca se chega à perfeição.

Qual a situação financeira da cúria, que mesmo tendo vários imóveis não parece passar por um momento confortável?
As pessoas misturam as coisas. O patrimônio não é da Arquidiocese. Tem as irmandades, casas religiosas que têm propriedades. Nem tudo que falam que é da Igreja é da Arquidiocese. Estamos fazendo levantamento para saber quais são nossos imóveis, como estão sendo
cuidados.

Mas a situação é difícil, péssima ou boa?
É equilibrada.

A Jornada foi um bom negócio?
Financeiro, não. Isso mostra que o bem que a Igreja faz vai além do interesse econômico. Fazemos o bem, mesmo que tenhamos que pagar por isso.

Qual sua avaliação sobre a substituição de dom Odilo Scherer na comissão que supervisiona o Banco do Vaticano?
Não vejo isso como nada contra dom Odilo ou sua capacidade. É como em qualquer empresa: você pode ser um ótimo chefe, mas mesmo assim resolvem trocar para mudar algum outro aspecto. De vez em quando é bom deixar que outras pessoas sintam o peso.

*

RAIO-X: DOM ORANI TEMPESTA

IDADE 65 anos

TRAJETÓRIA Bispo da diocese de São José do Rio Preto (1997-2004), arcebispo de Belém (2004- 2009) e do Rio (desde 2009)

FORMAÇÃO Filosofia no Mosteiro de São Bento e teologia no Instituto Pio 11, em São Paulo

Segundo Mônica Bergamo, Dom Orani teria almoçado com José Dirceu para pedir conselhos sobre dívidas da JMJ. De acordo com Veja, “Gilberto Carvalho também está se movimentando para ajudar a Igreja”.

Dívidas da Jornada Mundial da Juventude: A articulada colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo e da Band News FM, afirma que Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio, contactou inclusive o lobista consultor (de grandes empresas que dependem do governo) José Dirceu, condenado à prisão por sua atuação no caso do Mensalão, para pedir ajuda. Seria importante que a Arquidiocese viesse a público esclarecer este fato.

Por dívidas, organizadores da Jornada Mundial da Juventude venderão cemitério

Por Mônica Bergamo | Folha de São Paulo – Depois de se desfazer do prédio do hospital Quinta D’Or, no Rio, para saldar dívidas da visita do papa Francisco ao Brasil, os religiosos que organizaram a Jornada Mundial da Juventude preparam outra tacada: vão colocar à venda o cemitério do Catumbi, na mesma cidade.

PAPA
O espaço é de uma ordem religiosa, que espera arrecadar cerca de R$ 80 milhões com o negócio. Os recursos seriam repassados como empréstimo para o Instituto Jornada Mundial da Juventude. Estima-se que o rombo da festa estrelada pelo pontífice ultrapasse os R$ 100 milhões.

PAPA 2
A venda do cemitério deve esbarrar em alguns percalços na atração de investidores. O local tem muitos jazigos eternos. E ainda precisa de autorização para construir crematório e cemitério vertical.

PAPA 3
O aperto é tão grande que dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, pediu ajuda até a José Dirceu para resolver os problemas. O religioso é amigo de Evanise Santos, ex-mulher do petista, com quem almoçou recentemente e também conversou sobre o assunto. O ex-ministro aconselhou os religiosos justamente a vender patrimônio, escapando de juros de empréstimos bancários.

* * *

[Atualização – 6 de setembro de 2013, às 15:23]

José Dirceu e o vermelho da Igreja

Por Lauro Jardim – Veja | Além de José Dirceu, conforme Mônica Bergamo revelou hoje na Folha de S. Paulo, Gilberto Carvalho também está se movimentando para ajudar a Igreja, que tem dívidas de 100 milhões de reais deixadas pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Entre os encontros que Dirceu teve para ajudar a  tirar o vermelho da JMJ, um foi com o advogado Sérgio Bermudes e outro com dom Orani Tempesta.