Padre ortodoxo em protesto incomoda Papa em visita à Grécia.

Por The Independent: O papa Francisco foi interpelado por um padre ortodoxo grego idoso no sábado ao chegar para um encontro com o chefe da Igreja Ortodoxa do país, evidência da desconfiança persistente entre alguns ortodoxos e católicos 1.200 anos depois que o cristianismo foi dividido ao meio.

“Papa, você é um herege!” o padre gritou três vezes quando Francisco chegou à residência do arcebispo Ieronymos na capital grega de Atenas. O manifestante caiu no chão quando a polícia o levou embora, e Francisco pareceu não notar quando ele entrou na residência para seu encontro privado com o Líder ortodoxo.

O incidente ocorreu após pequenos protestos contra o papa em sua parada anterior, a ilha de Chipre, que também é predominantemente cristã ortodoxa.

Durante a viagem de Francisco, os líderes de duas igrejas renovaram a promessa de superar séculos de desconfiança e competição por influência. Em contraste com o padre solitário e intrometido, Ieronymos acolheu Francisco “com um sentimento de honra e fraternidade”.

A visita de Estado de Francisco à Grécia ocorre 20 anos depois de São João Paulo II ter feito a primeira visita desse tipo desde o Grande Cisma, e aproveitou a ocasião para se desculpar pelos pecados “por ação ou omissão” cometidos pelos católicos contra os ortodoxos ao longo dos séculos.

Francisco renovou o pedido de desculpas no sábado diante de Ieronymos e outros prelados ortodoxos, dizendo que estava envergonhado pelas ações dos católicos que, por causa de uma “sede de vantagem e poder, debilitaram gravemente nossa comunhão”.

Católicos e ortodoxos se dividem por causa de uma série de questões, incluindo a primazia do papa.

Ieronymos, por sua vez, disse a Francisco no sábado que compartilhava a visão do papa de criar laços fortes para enfrentar os desafios globais como a crise migratória e as mudanças climáticas.

Uma carta de um missionário ao Papa Francisco.

Missionário no Tibet ao Papa. Proselitismo? Enviaste-me aqui para converter pagãos, hereges e cismáticos. 

Por Marco Tosatti, 31 de outubro de 2016 | Tradução: FratresInUnum.com: O site Adelante la Fe publicou uma carta que um missionário no Oriente teria enviado ao Papa, da sua missão no Himalaia, em 5 de Outubro de 2016. É uma carta muito longa, que aconselhamos a todos que leiam o original em espanhol, mas, que achamos por bem reportar alguns trechos porque tocam em temas quentes, mesmo hoje, o dia da visita à Suécia: conversão, missão e “proselitismo”, temas que parecem cativar neste momento, a atenção do Pontífice reinante.

“Estando em uma missão, pela graça de Deus, na cordilheira do Himalaia e a ponto de comemorar os quatro anos da minha ordenação sacerdotal, decidi escrever-lhe esta carta, tornando-a pública porque o seu conteúdo é da mesma natureza”, escreve o padre Federico Juan, S.E.

Tendo sido enviado há algum tempo como um missionário para o Extremo Oriente,  escreve o religioso (“uma enorme graça celestial para mim com a minha alma pecadora”), no entanto, “meu espírito sofre uma extrema desolação ao ler as repetidas investidas de Sua Santidade contra aquilo que de um modo pejorativo e sem distinção chama de proselitismo. E, particularmente, a dor que me causou ter lido que o Vigário de Cristo, sem esclarecer o sentido, disse que o ‘proselitismo é um absurdo solene e que não faz sentido’. Poderíamos até dizer que esta frase é o resultado de uma transcrição infiel por parte de um jornalista ateu, mas a sua publicação na página oficial da Santa Sé torna essa defesa improvável”.

Continua, assim, a carta do missionário. “E cresceu ainda mais a minha angústia quando Sua Santidade perguntou retoricamente: ‘Eu vou convencer alguém para que se torne Católico?’, e em seguida vem a resposta: ‘Não, não, não’. (Mensagem de vídeo para a Festa de São Caetano). Essa tripla negação do papa atual trouxe-me à mente aquela do primeiro”.

Padre Fernando recorda que a Santa Madre Igreja, por meio dos superiores religiosos, e “também por meio de Sua Santidade – que, pessoalmente, ordenou-me para ser um missionário no Extremo Oriente”, enviou-o para terras distantes para evangelizá-los.

“Eu não recebi nenhum mandato como assistente social, como socorrista em emergências, alfabetizador, distribuidor de polenta ou dialogante em série; mas fui enviado pelo Pai celeste e pela Santa Igreja como o arauto da Santa Fé Católica, para tentar ganhar para Cristo o maior número de almas, pregando oportuna e inoportunamente”.

O missionário disse que está feliz de “empenhar-se até a morte para ganhar para a Igreja Católica tantas almas quanto seja possível”,  certo de que assim alcançarão o Paraíso e convencido de que este trabalho de “difundir a Igreja de Deus em terras pagãs, terras de heresia e de idolatria é uma obra sagrada de misericórdia”, superiora a todos bens corporais ou benefícios temporais. O exemplo que o inspira é São Francisco Xavier, Jesuíta assim como o Pontífice.

“Em espanhol, podemos bem dizer que é Deus encarnado que, em pessoa, nos mandou ‘proselitar’ a todas as nações … e se alguém simplesmente pensa que o proselitismo é um absurdo, solenemente responderemos que a sabedoria de Deus é loucura para o mundo”.

O missionário se sente impulsionado a “manifestar o profundo mal-estar que invade a alma ao constatar as repetidas condenações daquelas obras que Sua Santidade define com o termo socialmente pejorativo de proselitismo”. O termo em espanhol é extremamente ambíguo e pode ser usado para definir manobras covardes e ao mesmo tempo o sacrifício apostólico dos missionários “que se consomem e morrem para converter pagãos, hereges e cismáticos à única e verdadeira Igreja”. O religioso recorda alguns textos famosos das missões, em que o termo é usado em um sentido positivo. Mas sofre quando vê que o Pontífice “omite em citar ” o sentido bom do termo: “esta omissão é muito dolorosa para o meu espírito, porque se não é esclarecido o outro valor, é quase obrigatório interpretar essas condenações papais como uma repreensão fulminante contra o trabalho de cada missionário, inclusive o subscrito, que ousou fazer aquilo pelo qual foi enviado pela própria Igreja, ou seja, a conversão dos infiéis”.

“Beijando os seus digníssimos pés”,  padre Federico pede ao Pontífice uma bênção, e que esta carta o impulsione a “esclarecer o significado das suas declarações, e, portanto, reivindicar a importância e a urgência de trabalhar incansavelmente para a conversão à fé Católica de todos os pagãos, hereges e cismáticos “.

“Como pode uma celebração da revolta trazer unidade?”.

Enquanto o Papa se unia a Protestantes em Lund, na Suécia, para recordar os 500 anos da revolução protestante, Católicos faziam uma procissão pelas ruas da cidade. Em seus cartazes, frases como: “Como pode uma celebração da revolta trazer unidade?”, “A verdadeira paz vem do céu, ouça Nossa Senhora de Fátima” e “Não esconda a verdade Católica”. No sábado, 30 de outubro, o grupo entregou o panfleto “Deveriam os Católicos celebrar Martinho Lutero?” na porta da única paróquia Católica da cidade.

Cardeal Cañizares abençoa projeto ecumênico “Catedral da Natureza”.

O “pequeno Ratzinger”, como costumava ser chamado, adaptou-se e agora também é “pequeno Bergoglio”.

Por CNA, 21 de janeiro de 2016 | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com: O arcebispo de Valência (Espanha), o cardeal Antonio Cañizares, inaugurou na quarta-feira passada o projeto “Catedral da Natureza”, uma área de 10 hectares para oração e diálogo inter-religioso e inter-confessional.

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Catedral Antonio Cañizares abençoa projeto “Catedral da Natureza” em Valência. Foto: Arquidiocese de Valência.

Esse projeto faz parte da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, para o qual o cardeal Cañizares presidiu um momento de oração ecumênica dedicado ao cuidado com a terra.

Junto a um grupo de leigos e sacerdotes, bem como vários imigrantes africanos, o cardeal abençoou um pequeno monumento dedicado à encíclica “Laudato Sii” do Papa Francisco.

O cardeal afirmou  que “é uma grande alegria estarmos todos reunidos em torno do Pai que nos deu esta casa comum”. Ele também pediu a Deus que “nos conceda a unidade que vem do amor, caridade e misericórdia” e que “juntos com os preferidos de Deus, os mais necessitados e as diferentes confissões, o Espírito Santo faça com que a nossa fé seja reavivada e que assim nos reconcilie com o mundo e nossa casa comum, que é a natureza”.

A “Catedral da Natureza” é um projeto ecumênico e inter-religioso que incluirá a construção de um templo ecumênico na área conhecida como Pinar dels Sants, em Valência. Haverá também uma sinagoga, uma mesquita e um ágora, “todos os espaços ao ar livre que já hospedam orações e celebrações.”

Atualmente, os locais onde esses templos serão localizados “estão marcados e delimitados por elementos naturais, como pedras, troncos, madeira, telas e outras peças de arte de cerâmica de Valência”, explica o padre Jesus Belda, um dos promotores da iniciativa .

Outro destaque do projeto centra-se no apoio, acolhimento e formação de imigrantes africanos que precisam de integração, por isso contará com o apoio da Caritas.

Moscou dá um gelo no Papa.

Quem pensava que o abraço entre o Pontífice Argentino e o Patriarca Kyrill teria como resultado imediato uma primavera de relações entre Roma e Moscou vai ficar desapontado ao ler uma comunicado de imprensa muito duro, publicado pela agência oficial Interfax. Nesse comunicado foi citada a Declaração assinada pelo Papa, onde se fala de “uniatismo”, termo usado usado pejorativamente contra a Igreja da Ucrânia greco-católica. As belas fotos já estão se desbotando no álbum de recordações, mas os documentos assinados, infelizmente, permanecem.

Por Marco Tosatti – La Stampa, 12 de março de 2016 | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com:  “Apesar do entendimento registrado sobre muitos problemas vitais da modernidade – escreve o Patriarcado de Moscou -, profundas diferenças permanecem entre os cristãos Ortodoxos e Católicos, especialmente sua visão sobre a história comum cheia de acontecimentos trágicos

A declaração foi assinada por Hilarion de Volokolamsk, chefe do Departamento de Relações Exteriores de Moscou.

Hilarion acusa a Igreja greco-católica da Ucrânia, que ele define depreciativamente como “Uniata”, de ser a pedra de tropeço no diálogo entre Roma e Moscou. “Esta pedra contínua arruinando as tentativas de se estabelecer um diálogo, de incrementar a compreensão recíproca e de se chegar a um denominador comum. Eventos do passado recente – a destruição de três dioceses Ortodoxas por Uniatas na Ucrânia Ocidental no início dos anos 90 e a tomada de várias centenas de igreja, e os eventos do passado distante o provam“.

Faz-se necessário a esse ponto recordar que a Igreja Greco-Católica foi simplesmente deletada com uma canetada por Stalin em 1946; a qual, com a cumplicidade ou pelo menos a conivência dos Ortodoxos de Moscou, teve as suas propriedades confiscadas e seus fiéis transferidos para o Patriarcado de Moscou; que leigos, padres, bispos e religiosos fiéis a Roma e ao Papa foram presos, torturados e mortos em grande número; e que não obstante a dura perseguição, muitos permaneceram leais ao Papa até o colapso do comunismo. Quando, enfim, nasceu a Ucrânia independente, os greco-católicos puderam sair das catacumbas.

Os Ortodoxos reclamam ainda da destruição das três dioceses no Oeste da Ucrânia, a mudança de Lviv para Kiev como sede dos greco-Católicos, o pedido destes, ainda não atendido por Roma, de obter para a Igreja um status de Patriarcado (Schevchuk ainda é Arcebispo-Mor, mas não patriarca dos greco-católicos) e “a proliferação de missões Uniatas ao sul e leste, terras tradicionalmente ortodoxas, o apoio dos Uniatas aos cismáticos” (NDR: os Ortodoxos das Igrejas independentes da Ucrânia). E o que Roma fez com a Declaração assinada foi oferecer munição ao ataque do Patriarcado de Moscou.

Não é por acaso que na declaração de Hilarion, o texto da Declaração conjunta assinada pelo Papa e Kirill é citado no ponto em que se diz: “Hoje é claro que o método do ‘uniatismo’ o passado, entendido como a união de uma comunidade com a outra, desligando-se da sua Igreja [originária], não é um modo que permite restaurar a unidade. Todavia, as comunidades que surgiram nestas circunstâncias históricas têm o direito de existir e empreender tudo o que é necessário para satisfazer as necessidades espirituais dos seus fiéis, buscando ao mesmo tempo viver em paz com seus vizinhos. Greco-Católicos e Ortodoxos precisam se reconciliar e encontrar formas mutuamente aceitáveis de convivência“.

O fato de que a Declaração fala de “uniatismo”, um termo não aceito pelos Greco-Católicos e usado pejorativamente pelos Ortodoxos, evidencia um problema. Ou seja, que Roma talvez deveria ter consultado primeiramente os Greco-Católicos antes de levar o Papa a assinar qualquer coisa que vai contra uma Igreja que pagou com sangue e sofrimento por sua fidelidade a Pedro. Isso infelizmente não aconteceu; e talvez há que se perguntar quem aconselhou o Papa neste caso.

As belas fotos já estão se desbotando no álbum de recordações, mas os documentos assinados, infelizmente, permanecem.

O “histórico encontro” entre Francisco e Kirill.

Por Roberto de Mattei| Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: Entre os muitos sucessos atribuídos pela mídia ao Papa Francisco, está o “histórico encontro” realizado no dia 12 de fevereiro em Havana com o patriarca de Moscou, Kirill. Um acontecimento, escreveu-se, que viu cair o muro que há mil anos dividia a Igreja de Roma daquela do Oriente. A importância do encontro, nas palavras do próprio Francisco, não está no documento, de caráter meramente “pastoral”, senão no fato de uma convergência rumo a uma meta comum, não política ou moral, mas religiosa. O Papa Francisco parece querer substituir o Magistério tradicional da Igreja, expresso através de documentos, por um neomagistério transmitido por eventos simbólicos. A mensagem que o Papa pretende dar é de um giro na história da Igreja. Mas é precisamente através da história da Igreja que devemos começar a compreender o significado do evento. As imprecisões históricas entretanto são muitas e devem ser corrigidas, porque é justamente sobre falsificações históricas que muitas vezes se constroem os desvios doutrinários.

Em primeiro lugar, não é verdade que mil anos de história dividiam a Igreja de Roma do Patriarcado de Moscou, uma vez que este nasceu apenas em 1589. Nos cinco séculos precedentes, e ainda antes, o interlocutor oriental de Roma era o Patriarcado de Constantinopla.

Durante o Concílio Vaticano II, em 6 de janeiro de 1964, Paulo VI reuniu-se em Jerusalém com o patriarca Atenágoras, para iniciar um “diálogo ecumênico” entre o mundo católico e o mundo ortodoxo. Esse diálogo não pôde ir adiante por causa da milenar oposição dos ortodoxos ao Primado de Roma. O próprio Paulo VI admitiu-o em um discurso ao Secretariado para a Unidade dos Cristãos de 28 de abril de 1967, afirmando: “O Papa, sabemo-lo bem, é sem dúvida o maior obstáculo no caminho do ecumenismo” (Paulo VI , Insegnamenti, VI, pp. 192-193).

O Patriarcado de Constantinopla constituía uma das cinco sedes principais da Cristandade estabelecidas pelo Concílio de Calcedônia de 451. Os patriarcas bizantinos sustentavam, no entanto, que após a queda do Império Romano, Constantinopla, sede do renascido Império Romano do Oriente, deveria tornar-se a “capital”  religiosa do mundo. O cânon 28 do Concílio de Calcedônia, revogado por São Leão Magno, contém em germe todo o cisma bizantino, porque atribui à supremacia do Romano Pontífice um fundamento político, e não divino. Por isso, em 515, o Papa Santo Hormisdas (514-523) fez os bispos orientais subscrever uma Fórmula de União, com a qual reconheciam a sua submissão à Cátedra de Pedro (Denz-H, n. 363).

Entre os séculos V e X, enquanto no Ocidente se afirmava a distinção entre a autoridade espiritual e o poder temporal, nascia entrementes no Oriente o chamado “cesaropapismo”, no qual a Igreja era de fato subordinada ao Imperador, que se considerava o chefe, como delegado de Deus, tanto no campo eclesiástico quanto no secular. Os patriarcas de Constantinopla foram na verdade reduzidos a funcionários do Império Bizantino e continuaram a alimentar uma aversão radical à Igreja de Roma.

Depois de uma primeira ruptura, causada pelo patriarca Fócio no século IX, o cisma oficial ocorreu em 16 de julho de 1054, quando o patriarca Miguel Cerulário declarou que Roma caiu em heresia, devido ao Filioque no Credo e outros pretextos. Os legados romanos depuseram então contra ele, no altar da igreja de Santa Sofia em Constantinopla, a sentença de excomunhão. Os príncipes de Kiev e de Moscou, convertidos ao Cristianismo em 988 por São Vladimir, seguiram os patriarcas de Constantinopla no cisma, reconhecendo sua jurisdição religiosa.

As discórdias pareciam insuperáveis, mas um fato extraordinário ocorreu em 6 de julho de 1439 na catedral florentina de Santa Maria del Fiore, quando o Papa Eugênio IV anunciou solenemente, com a bula Laetentur Coeli (“que os céus se rejubilem”), a bem-sucedida recomposição do cisma entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente.

Durante o Concílio de Florença (1439), do qual haviam participado o Imperador do Oriente João VIII Paleólogo e o Patriarca de Constantinopla José II, chegou-se a um acordo sobre todos os problemas, do Filioque ao Primado de Roma. A Bula pontifícia concluía com esta solene definição dogmática, assinada pelos Padres gregos: “Definimos que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o universo; que o mesmo Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e autêntico Vigário de Cristo, chefe de toda a Igreja, pai e doutor de todos os cristãos; que Nosso Senhor Jesus Cristo transmitiu a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro, o pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, como é atestado nos atos dos concílios ecumênicos e nos cânones sagrados” (Conciliorum Oecumenicorum Decreta, Centro Editorial Dehoniano, Bolonha, 2013, pp. 523-528). Este foi o único abraço histórico verdadeiro entre as duas igrejas durante o último milênio.

Entre os participantes mais ativos do Concílio de Florença estava Isidoro, metropolita de Kiev e de toda a Rússia. Assim que ele retornou a Moscou, anunciou de público a reconciliação ocorrida sob a autoridade do Romano Pontífice. Mas o príncipe de Moscou, Basílio o Cego, declarou-o herege e o substituiu por um bispo submisso a ele. Esse gesto marcou o início da autocefalia da igreja moscovita, independente não só de Roma, mas também de Constantinopla.

Pouco depois, em 1453, o Império Bizantino foi conquistado pelos turcos, e arrastou em seu colapso o Patriarcado de Constantinopla. Nasceu então a ideia de que Moscou deveria assumir o legado de Bizâncio e tornar-se o novo centro da Igreja cristã ortodoxa. Após o casamento com Zoe Paleólogo, sobrinha do último Imperador do Oriente, o Príncipe de Moscou Ivan III deu-se a si mesmo o título de Czar e introduziu o símbolo da águia bicéfala. Em 1589 foi estabelecido o Patriarcado de Moscou e de toda a Rússia. Os russos se tornaram os novos defensores da “ortodoxia”, anunciando o advento de uma “Terceira Roma”, após a católica e a bizantina.

Face a esses acontecimentos, os bispos daquela área, que então se chamava Rutênia e que hoje corresponde à Ucrânia e a uma parte da Bielorrússia, reuniram-se, em outubro de 1596, no Sínodo de Brest e proclamaram a união com a Sé Romana. Eles são conhecidos como uniatas, por causa de sua união com Roma, ou greco-católicos, porque, embora submetidos ao Primado romano, conservaram a liturgia bizantina. Os czares russos empreenderam uma perseguição sistemática à Igreja uniata que, entre os muitos mártires, contou com João (Josafá) Kuncevitz (1580-1623), arcebispo de Polotzk, e o jesuíta Andrea Bobola (1592-1657), apóstolo da Lituânia. Ambos foram torturados e mortos por ódio à fé católica e hoje são venerados como santos. A perseguição tornou-se ainda mais cruenta sob o império soviético. O cardeal Josyp Slipyj (1892-1984), deportado por 18 anos nos campos de concentração comunistas, foi o último intrépido defensor da Igreja Católica ucraniana. Hoje os uniatas constituem o maior grupo de católicos de rito oriental e são um testemunho vivo da universalidade da Igreja Católica. É mesquinho afirmar, como o faz o documento de Francisco e Kirill, que o “método do uniatismo”, se entendido “como a união de uma comunidade à outra separando-a da sua Igreja [originária]”, “não é uma forma que permita restabelecer a unidade”, e que “por isso, é inaceitável o uso de meios desleais para incitar os crentes a passar de uma Igreja para outra, negando a sua liberdade religiosa ou as suas tradições”.

O preço que o Papa Francisco teve que pagar por essas palavras exigidas por Kirill é muito alto: a acusação de “traição” lançada aos católicos uniatas, sempre fidelíssimos a Roma. Mas o encontro de Francisco com o patriarca de Moscou vai muito além daquele de Paulo VI com Atenágoras. O abraço de Kirill tende sobretudo a acolher o princípio ortodoxo da sinodalidade, necessário para “democratizar” a Igreja Romana. No que diz respeito não à estrutura da Igreja, mas à substância da sua fé, o evento simbólico mais importante do ano será contudo a comemoração por Francisco do 500º aniversário da Revolução protestante, prevista para outubro próximo em Lund, Suécia. (Roberto de Mattei)

Declaração conjunta. Fala o patriarca greco-católico.

O Arcebispo-Mor de Kiev-Halytch, Dom Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Católica, fala sobre a declaração conjunta entre o Papa Francisco e o chefe da Igreja Ortodoxa Russa. 

Sviatoslav tem o título patriarca outorgado por seu próprio povo, embora, por razões ecumênicas, não o tenha reconhecido pelo Vaticano. 

Os greco-católicos, chamados pejorativamente de “uniatas” por terem reconhecido a primazia Papal, pagam um alto preço por sua fidelidade – além de massacrados na Ucrânia por Putin, agora se mostram decepcionados com o Papa Francisco . 

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Por Opus Publicum | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com: Sua Beatitude Sviatoslav, Patriarca de Kyev-Halych e Toda Russia, emitiu uma declaração oficial sobre a Declaração Conjunta assinada ontem pelo Papa Francisco e o Patriarca Kirill, em Havana, Cuba. O texto completo das declarações do Patriarca -em ucraniano – está disponível a partir do site oficial da Igreja Greco-Católica ucraniana. «Зустріч, яка не відбулася?» – Блаженніший Святослав

Enquanto Sviatoslav oferece palavras de elogio à Declaração Conjunta, esse louvor é diminuído pelo fato de que ele não foi consultado sobre o texto, apesar de ser membro do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Novembro de 2013: o Arcebispo Maior dos Greco Católicos é recebido pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro.
Novembro de 2013: o Arcebispo Maior dos Greco Católicos é recebido pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro.

Padre Atanásio McVay, um padre católico-grego, gentilmente concedeu-nos permissão para postar no Opus Publicum a sua tradução dos três parágrafos finais da declaração de Sua Beatitude Sviatoslav. Além disso, acrescentou as referências bíblicas no final. Esperamos que uma tradução completa das palavras do Patriarca Sviatoslav estejam disponíveis em breve.

“Sem dúvida, este texto está causando profunda decepção entre muitos dos fiéis de nossa Igreja e entre os cidadãos conscientes da Ucrânia. Presentemente, muitos me contataram sobre isso e disseram que se sentem traídos pelo Vaticano, desapontados com as meias-verdades contidas neste documento, e até mesmo chegam a vê-lo como apoio indireto da Sé Apostólica à agressão russa contra a Ucrânia. Certamente, eu posso entender esses sentimentos.

Não obstante, eu procuro encorajar os nossos fiéis a não dramatizar muito sobre essa declaração e não exagerar sua importância para a vida da Igreja. Nós já passamos pela experiência de mais do que uma declaração desse tipo e sobrevivemos a todas. Nós sobreviveremos a essa também. Precisamos lembrar que nossa unidade e comunhão plena com o Santo Padre, o Sucessor do Apóstolo Pedro, não é o resultado de um acordo político ou compromisso diplomático, ou que se deve à clareza do texto de uma declaração conjunta. Esta unidade e comunhão com o Pedro de hoje é uma característica essencial da nossa fé. É a ele, o papa Francisco, e a cada um de nós hoje, que Cristo dirige aquelas palavras do Evangelho de Lucas: ” Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos…”

É por esta unidade com a Sé Apostólica de Roma que os mártires e confessores da fé da Igreja do século XX deram as suas vidas e selaram o seu sangue. Precisamente na comemoração do 70º aniversário da Pseudo-Sínodo de Lviv compartilhamos a força do testemunho, de seu sacrifício que, em nossos dias, muitas vezes parece ser uma pedra de tropeço – A pedra que os construtores das relações internacionais muitas vezes rejeitaram.

Mas é o Cristo, a rocha estabelecida na fé de Pedro, que o Senhor colocou como pedra angular para o futuro de todos os Cristãos. E vai ser “uma maravilha aos nossos olhos.” (Salmo 118: 22; Mt 21:42; Lc 20: 17L Act 04:11; Ep 02:20; 1 Pedro 2: 7)

Diocese de Helsinki adverte aos bispos luteranos que eles não podem comungar em Missa Católica.

Em vista da participação, e possível comunhão, de Samuel Salmi, bispo luterano de Oulu, Finlândia, em uma missa católica celebrada na Basílica de São Pedro no Vaticano, após ser recebido pelo papa Francisco, o diretor do Centro de Informações da diocese [Católica] de Helsinki emitiu um comunicado no qual recorda que somente os Católicos em estado de graça podem receber o sacramento Católico da Eucaristia.

Fonte: InfoCatólica | Tradução: Teresa Maria Freixinho – FratresInUnum.comComunicado da diocese de Helsinki:

A Eucaristia na Igreja Católica não mudou

Uma informação da agência de notícias Kotimaa 24 (19 de janeiro de 2016) afirma que Samuel Salmi [bispo luterano de Oulu, Finlândia] participou de uma missa católica celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Sem dúvida, a notícia está redigida de uma forma que poderia causar mal-entendidos. Meu objetivo é esclarecer algumas questões relativas à recepção da Eucaristia na Igreja Católica.

  1. Somente os membros da Igreja Católica em estado de graça podem receber o sacramento Católico da Eucaristia ou Sagrada Comunhão. Há algumas exceções muito particulares a essa regra. Porém, em qualquer caso, para receber a Eucaristia é necessário aceitar a doutrina Católica a esse respeito e cumprir as condições necessárias para recebê-la (por exemplo, viver em uma relação diversa de um verdadeiro matrimônio sacramental cristão é um impedimento).
  2. Atualmente, em alguns países, principalmente, no norte da Europa, existe o costume de receber uma benção do sacerdote durante a Missa no momento da Comunhão. Geralmente, este gesto é feito colocando a mão direita sobre o ombro esquerdo. Essa prática não é muito conhecida em outros lugares. Portanto, é aconselhável que as pessoas permaneçam em seus lugares durante a Comunhão caso não saibam se o ministro da Comunhão está familiarizado com ela. Se, por ignorância, o ministro da Comunhão lhes oferecer a Comunhão, elas podem recusá-la educadamente.
  3. Contrariamente às especulações de Samuel Salmi, não se pode concluir que o Vaticano tem uma «nova atitude ecumênica», baseada na ocorrência de um erro que se deu na distribuição da Comunhão. Não houve nos últimos anos ou décadas mudança da doutrina e da prática da Igreja Católica com relação a quem pode receber a Sagrada Comunhão. Se tivesse mudado, não seria «na prática», mas sim através de uma alteração da lei da Igreja e dos ensinamentos referentes aos sacramentos da Igreja Católica.
  4. A notícia também menciona que, durante a visita ecumênica a Roma, os bispos de Helsinki, Teemu Sippo SCJ (católico), Ambrosius (ortodoxo) e Irja Askola (luterano), haviam «celebrado» uma «Missa ecumênica» juntos na festa de Santo Enrique (de Uppsala). Não é bem assim. Em anos alternados, há uma missa católica na qual participam representantes de outras igrejas em espírito ecumênico, por exemplo, fazendo pregações. Nos outros anos, o que se celebra é uma Ceia do Senhor luterana, na qual pregam um bispo ou um sacerdote católico. A celebração, portanto, segue sempre a tradição e a prática da igreja correspondente. Deve-se ressaltar inclusive que nessas missas se respeita o doloroso fato de que não há Comunhão entre as igrejas.
  5. «A nova maneira de pensar» de Francisco, mencionada no artigo, não é um sinal de que a Igreja Católica vai alterar a sua prática referente à distribuição da Sagrada Eucaristia. Pelo contrário, para nós os católicos, isso é um sinal de que também devemos examinar mais detalhadamente as nossas consciências à luz do magistério da Igreja e, em seguida, discernir com sinceridade se reunimos nesse momento os requisitos para receber a sagrada Comunhão.

Em suma, devo acrescentar que para os católicos a Eucaristia é «fonte e ápice» de nossa vida cristã. Ela é, por assim dizer, o nosso credo. Preparemo-nos cuidadosamente para receber a Comunhão, confessemos nossos pecados graves e jejuemos (embora por pouco tempo) antes de recebê-la. Ajustemos nossas vidas para poder receber a Comunhão dignamente, sabendo que «Portanto, o aquele que come o pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor» (1Co 11,27).

Apesar do que foi dito anteriormente, nem todas as pessoas que administram a Comunhão conhecem cada ponto do magistério e da prática da Igreja, e é possível que se cometam erros. A intenção de criar comunhão (entre as igrejas) baseando-se na própria autoridade, em todo caso, dificulta ainda mais os esforços autênticos das igrejas para se aproximarem. Portanto, seria bom respeitar o enfoque de cada igreja a respeito desse assunto.

Marko Tervaportti

Diretor do Centro de Informação Católica

Ecumenismo: Papa Francisco participará de celebração de 500 anos da Reforma na Suécia.

Papa Francisco visita a Suécia no mês de outubro

Rádio Vaticano – Está confirmado: o Papa Francisco visitará a Suécia no próximo mês de outubro. A informação foi confirmada nesta segunda-feira dia 25 de janeiro pelo Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, o padre Federico Lombardi.

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Francisco e uma “bispa”: Sugestiva foto escolhida pela Rádio Vaticano para ilustrar a matéria.

No centro desta visita, agendada para a cidade de Lund no dia 31 de outubro, estará uma celebração conjunta entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial no âmbito dos 500 anos da Reforma.

A Federação Luterana explica numa nota que o Papa Francisco, o Bispo Munib A. Younan e o Reverendo Martin Junge, Presidente e Secretário Geral da Federação, respetivamente, vão presidir juntos à celebração ecuménica. Uma celebração que dará destaque aos “progressos ecuménicos entre católicos e luteranos”.

Recordemos que foi recentemente publicado um guia litúrgico católico-luterano com o nome “Oração em Comum”.

O Papa Francisco seguirá o exemplo de S. João Paulo II que no Verão de 1989 visitou a Suécia e também a Noruega, a Islândia, a Finlândia e a Dinamarca.

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Benção conjunta – Papa, ortodoxo e anglicano

Ontem, 25 de janeiro de 2016, por ocasião da Festa da Conversão de São Paulo, o Santo Padre celebrou vésperas na Basílica de S. Paulo fora de Muros juntamente com representantes ortodoxos, anglicanos e de outras confissões cristãs que passaram a Porta Santa Jubilar com o Papa Francisco. Ao fim, o bispo de Roma convidou os representantes ortodoxo e anglicano para dar junto com ele a benção (ver aos 2:45 do vídeo):

Convém recordar que, após diligente estudo e reflexão, o Papa Leão XIII, em sua Encíclica Apostolicae Curae, declarou, infalivelmente, serem inválidas as ordenações anglicanas:

“Por isto, e aderindo estritamente, neste caso, aos decretos dos pontífices, nossos predecessores, e confirmando-os mais completamente, e, como o foi, renovando-os por nossa autoridade, de nossa própria iniciativa e de conhecimento próprio, pronunciamos e declaramos que as ordenações conduzidas de acordo com o rito Anglicano foram, e são, absolutamente nulas e totalmente inválidas.” (Papa Leão XIII, encíclica Apostolicae Cureae, 36)